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05.11.2020
Caso Prático 1
In casu:
Direito substantivo – direito de crédito que Alberto invoca (direito este que está regulado
no CCivil – para alguém ter direito a uma indemnização é necessário que outra seja
condenada a título de responsabilidade civil extracontratual).
Direito processual – para que o Alberto possa ver satisfeita aquela sua pretensão, e veja
o seu direito de crédito (direito à indemnização) efetivado, ele tem o “Direito de Ação”,
consagrado no art. 2.º do CPC, que pode invocar perante os tribunais judicias, e que se
exercer contra o Estado.
A relação jurídica substantiva que existe entre Alberto e Bernardo é diferente da relação
jurídica processual em que estes intervêm, pois esta ultima tem carácter “triangular”, pois
desenvolve-se entre:
- Autor (Alberto)
- Réu (Bernardo)
- Estado (representado através dos tribunais judiciais)
Direito de requerer ao tribunal que resolva o conflito em causa.
Sob o ponto de vista legal, ao nível da ação declarativa, existem 3 tipos fundamentais de
atividades:
AÇÃO DECLARATIVA
- Ação Declarativa de simples apreciação
Pede-se ao tribunal que este apenas esclareça determinada dúvida que se instalou, isto é,
se o autor tem ou não tem razão, se existe ou não um dado direito, se ele existe ou
determinada situação de facto.
- Ação Declarativa constitutiva
Aqui não impõe nada ao réu, não se impõe que este faça alguma coisa. O que difere em
relação à ação condenatória é que aqui o tribunal altera a situação jurídica que existia
entre partes, modifica aquilo que antes existia.
A ação de que se lança mão para exercer direito potestativos (direitos que se impõem
inelutavelmente na esfera jurídica de outrem pera simples vontade do titular destes
direitos).
- Ação Declarativa condenatória
Pede-se, nestes casos, ao tribunal que este declare a existência ou inexistência de um dado
direito ou situação.
Quando falamos em tipos de ações falamos do tipo de atividade que se pode pedir ao
Tribunal.
Atividade judicial essa composta por um conjunto de atos, por uma sequência de atos
articulados entre si → que é o processo civil.
Arts. 552.º e ss. CPC→ vamos aqui estudar apenas o processo comum.
Existem ainda as formas de processo especiais (arts. 878.º e ss. CPC).
Vimos que nos termos da lei, a todo o direito corresponde uma ação, no entanto para
que um processo tenha início é necessário um requerimento, um pedido nesse
sentido, dirigido ao Tribunal → vigora, no âmbito do processo civil, o Princípio do
pedido. – art. 3.º/1 CPC.
CONCLUSÃO: A serem verdadeiros os factos por ele alegados, ele tem em primeiro
lugar um direito de crédito (direito substantivo decorrente da responsabilidade civil
extracontratual), sendo que, para exercer esse direito, tem ainda o direito de ação (tendo,
neste âmbito, direito a todas fases processuais). No caso concreto, a ação que tem de pedir
em tribunal será uma ação declarativa condenatória.
12.11.2020
RESPOSTA:
Foi abandonado um sistema de justiça pública, portanto temos, desde logo, de referir que
Carlos não pode recorrer à força, empregar a força para
Teria, portanto, de informar Alberto que lhe assiste o direito de ação, consagrado no artigo
2.º do CPC, isto é, de intentar uma ação judicial perante o Estado, que atua por meio de
um tribunal judicial.
Que tipo de ação pode interpor? -> artigo 10.º CPC
Alberto tem de intentar uma: Ação Declarativa Condenatória.
Não está em causa uma simples apreciação judicial de um direito ou existência de uma
situação de facto ou de direito.
Há aqui, ainda assim, uma incerteza que tem de ser definida, mas ainda há um pedido de
condenação do réu – o autor pretende que o tribunal imponha/condene o réu numa
ação ou numa omissão (a fazer ou a não fazer algo).
Quando falamos de ações declarativas de simples apreciação, condenatórias ou
constitutivas, estamos a falar da tutela processual principal. A par desta temos, ainda,
uma tutela processual cautelar- destina-se a “prestar apoio” numa ação principal.
A justiça é constituída por duas dimensões:
- Só há justiça se se proferir a decisão certa, justa.
- Para que não haja uma ausência de efeito útil da decisão do tribunal, no âmbito
da ação principal, é necessário, muitas vezes, meios de auxílio do procedimento
processual principal.
Visa-se, assim, acautelar o efeito útil da decisão a proferir na ação principal.
«Periculum in mora» = “perigo na demora” da ação principal
Se a decisão da ação principal for proferida num momento futuro em que a decisão já não
terá efeito útil, é requerida uma tutela cautelar.
Existem vários procedimentos cautelar:
- Procedimento Cautelar Comum
- Procedimento Cautelar Especificados (foram pensados para casos concretos bem
definidos e bem recortados) -> sempre que a situação que se quer acautelar se inserir num
destes procedimentos especificados na lei, é a estes que se recorre. Se não se subsumir
em nenhum deles, então irá haver lugar ao procedimento cautelar comum.
Para que a decisão possa ser rápida, o tribunal não vai fazer uma análise profunda, mas
sim uma análise mais superficial, pelo que há aqui um risco mais elevado de erro por
parte do juiz na sua decisão.
Como há uma maior probabilidade de erro, o legislador fixa margens de riscos. PORÉM:
quando as desvantagens que possam resultar da concessão da providencia cautelar para o
requerido forem desproporcionalmente superiores às vantagens da concessão dessa
providencia para o requerente → não deve o juiz conceder tal providência cautelar.
Em cada procedimento cautelar, o juiz tem de considerar:
- As vantagens que a providencia representa para o requerente
- As desvantagens que a concessão da providencia representa para o requerido
IN CASU…
Para além da ação declarativa condenatória, Alberto deve requerer uma tutela cautelar,
pôr em marcha um procedimento cautelar.
Neste caso, o procedimento cautelar mais adequado não seria procedimento cautelar
especificado da “restituição provisória da posse” (art. 377.º CPC), ainda que, à partida,
pudesse parecer que fosse esse, porque há aqui uma particularidade, é que esse
procedimento cautelar só se aplica quando haja violência, quando privação da posse
tenha ocorrido mediante a aplicação de violência.
Alberto, além de propor a ação principal – que seria uma ação declarativa condenatória -
teria, portanto, de dar inicio a um procedimento cautelar comum, em ordem a obter a
restituição provisória da posse do apartamento que diz ser seu. Sabendo que este
procedimento se daria na dependência da ação principal, sabendo ainda que o
procedimento cautelar é um procedimento urgente e que a decisão que venha a ser
proferida no procedimento cautelar não vincula o juiz na ação principal: ou seja, até pode
ser ordenada a restituição da posse na providencia cautelar, mas depois vir a ser
considerada improcedente a ação principal, tal como pode ser considerada improcedente
o pedido de concessão de medida cautelar, mas depois ser concedida procedência na ação
principal.
Sabendo tambem que tal providencia só será concedida se se verificarem,
cumulativamente os requisitos necessários para que seja concedida uma medida cautelar:
- Fumus Boni Juris → ou seja, Alberto tem de conseguir demonstrar
minimamente que é titular do direito de propriedade sobre aquele imóvel
- Periculum in mora → tem ainda de demonstrar que o facto de ficar a aguardar
pela decisão da ação principal retiraria o efeito útil (total ou parcialmente) na decisão da
ação principal.
- Princípio da proporcionalidade → seria, por fim, necessário ainda que os
danos que para o requerido resultassem da concessão da providencia não fossem
consideravelmente superiores aos danos que para o requerente resultariam da não
concessão da providência.
19.11.2020
CASO PRÁTICO
● Tutela cautelar:
Procedimento cautelar comum
Procedimento cautelar especificados
In casu, justifica-se o recurso à tutela cautelar visto que o devedor (Ernesto) está a dissipar
o seu património, o que poderá inviabilizar a possibilidade de o credor, Daniel, vir a
executar o património de Ernesto, de forma a ver satisfeita a sua dívida.
RESPONDENDO AO CASO…
O credor-requerente, para que lhe seja concedida a providencia cautelar de arresto, tem
de provar:
1. Que é credor – se o arresto se destina a assegurar a conservação do património
do devedor para satisfação de um crédito, então é conveniente que se comece por
demonstrar que existe um crédito de que se é titular.
CASO PRÁTICO
«João e Isabel são casados e residem num apartamento integrado num edifício constituir em
propriedade horizontal.
Na qualidade de condóminos estão vinculados a pagar anualmente o valor total de 4500€.
Sucede, porém, que em 2019 e em 2020, João e Isabel não procederam a esse pagamento,
pelo que o condomínio do prédio onde residem intentou contra eles uma ação declarativa no
sentido de garantir a realização do pagamento.
Sucede também que o condomínio tomou, entretanto, conhecimento de que João e Isabel
não têm quaisquer outros bens para além do referido apartamento, e se encontram em vias
de proceder à sua venda.
1. O condomínio consulta-o no sentido de saber se a sua iniciativa processual é
suficiente para adequada tutela da sua posição jurídica. Que lhe diria?
2. Pronuncie-se quanto aos termos de exercício do contraditório, por João o Isabel na
eventualidade de entender ser de requerer alguma providencia cautelar.
3. O condomínio pergunta-lhe se, no âmbito da tutela cautelar, existe alguma
possibilidade de o procedimento decorrer sem se encontrar na dependência de uma
ação principal. Que lhe diria?»
Pressupostos processuais
Relativamente às partes
1. PERSONALIDADE JUDICIÁRIA
Suscetibilidade de ser parte. Quem pode figurar como autor e como réu numa ação
judicial (no fundo, é a possibilidade de ser parte).
❖ Critério suplementar
O legislador processual foi mais generoso do que o legislador substantivo porque atribuiu
esta possibilidade de alguém figurar como parte numa ação, não só a quem tenha
personalidade jurídica, mas também a outros entes (extensão da personalidade
judiciária).
Pode afirmar-se, nos dias de hoje, que a personalidade jurídica é a base da personalidade
judiciária, mas não tem a personalidade jurídica como medida, pois a medida da
personalidade judiciária é maior, é mais extensa (há, de facto, uma extensão da
personalidade judiciária).
A relação entre a personalidade jurídica e a personalidade judiciária resulta do artigo 11.º
do CPC.
Artigo 11.º do CPC - «Conceito e medida da personalidade judiciária».
Artigo 12.º CPC – «Extensão da personalidade jurídica»
Herança Jacente - é uma herança/património cujo titular já faleceu, mas que ainda não
está encabeçado em pessoa jurídica (quando o herdeiro seja desconhecido ou porque os
herdeiros legítimos ou testamentários tenham renunciando à herança, após requerimento
— artigos 1039.º a 1041 do CPC).
2. CAPACIDADE JUDICIÁRIA
3. LEGITIMIDADE
4. PATROCÍNIO JUDICIÁRIO
5. INTERESSE EM AGIR
IN CASU:
Ora, no nosso caso, estende-se, ao abriga do artigo 12.º/al. e) do CPC, a personalidade
judiciária ao condomínio.
Condomínio = propriedade comum (em conjunto).
➔ O condomínio é, portanto, uma estrutura organizativa que, apesar de não ter
personalidade jurídica, visa administrar o património comum (celebração de
contratos de celebração de serviços: para assistência dos elevadores, limpeza dos
espaços comuns, serviços de segurança etc.), uma vez que seria absurdo pensar
numa administração feita em conjunto por cada condómino, pelo que é importante
conceder-lhe a possibilidade de ser parte em juízo
CONCLUSÃO:
O condomínio beneficia da qualidade de ser parte e tem personalidade judiciária, ou seja,
pode figurar como parte na ação.
Posto isto, desde que estivessem preenchidos todos os outros pressupostos processuais, o
juiz já podia avançar e conhecer do mérito do pedido, do mérito, da substância (da
matéria) da ação.
No caso:
O condomínio tomou conhecimento de que João e Isabel não teriam no seu património
qualquer outro bem, a não ser o apartamento onde residem. Para além disso, tomaram
conhecimento de que João e Isabel estão a negociar a venda do apartamento, pelo que a
qualquer momento ele pode ser alienado, deixando assim de fazer parte do património, e,
consequentemente, o condomínio perdia a garantia patrimonial do seu crédito, a única
possibilidade de ver satisfeito o pagamento da dívida.
Ora, enquanto advogada, aconselharia o condomínio a requerer uma providência
cautelar de arresto, nos termos dos artigos 391.º e ss. do CPC.
EM SUMA: a tutela principal deveria aqui ser complementada pela tutela cautelar de
arresto.
2. Pronuncie-se quanto aos termos de exercício do contraditório, por João o Isabel
na eventualidade de entender ser de requerer alguma providencia cautelar.
Na maioria dos demais casos é o juiz que faz uma avaliação quanto ao contraditório.
Assim, quando se procede ao contraditório diferido, aquilo que verdadeiramente se quis
foi adotar a providencia sem que o requerido pudesse impedir a sua eficácia. Ora, após
decretada a decisão do juiz, é ouvido o requerido para se perceber se realmente a
providencia conferida é ou não fundada. Contudo, mostrava-se necessário “prevenir” e
por isso se decretou a providencia antes mesmo de ouvido o requerido.
Ou seja, depois de decretada a providência cautelar, procede-se ao contraditório (audição
do requerido) e, posteriormente, há uma nova decisão, que revoga o arresto ou a
restituição provisória da posse, caso, em sede de contraditório, se reúnam provas de que
afinal a providencia cautelar não era fundada, no caso.
1. Porque, apesar de concordar com a decisão que fora tomada pelo juiz perante os
elementos que tinha, isto é, que lhe foram fornecidos pelo requerente, ele detém
agora novos elementos que podem dar origem à formulação de uma nova e
diferente decisão judicial. → Neste caso, aquilo que o requerido deduz a sua
oposição (art. 372.º/1/b) CPC).
2. Porque, de facto, não concorda com a decisão que foi tomada: casos em que o
requerido entende que o juiz não soube desempenhar adequadamente as suas
funções. → Nesta situação, o que o requerido faz é interpor recurso da decisão,
vai recorrer do despacho que decretou a providencia cautelar (artigo 372.º/1/a)
CPC).
Ora, em rigor, o recurso não é uma forma de contraditório, mas antes uma forma de influir
na construção da decisão.
Em suma: trata-se de um caso, no âmbito do arresto, em que o diferimento do
contraditório é obrigatório e, portanto, em que o juiz primeiramente decretaria o arresto
(caso entendesse que estavam verificados os pressupostos para tal), João e Isabel seriam
depois notificados da decisão e aí poderiam reagir contra ela: a) deduzindo oposição se
tivessem novos dados/elementos relevantes para a decisão em causa, ou b) não tendo
novos elementos, mas discordando da decisão poderiam lançar mão da interposição de
recurso de apelação.
O objetivo dos procedimentos cautelares é assegurar o efeito útil da ação principal, então
a sua razão de ser gira em torno da existência desta ação, pois o fim da providencia
cautelar não é resolver o litigio em si, o qual será resolvido no âmbito da ação principal.
Ora, o artigo 364.º/1, 2.ª parte do CPC consagra em si o caráter dependente do
procedimento cautelar.
A afirmar e a sublinhar esse carater dependente da providencia cautelar (medida cautelar
decretada) temos o artigo 373.º/1, a) do CPC, nos termos do qual, a providencia cautelar
decretada caduca quando se esteja no âmbito de um procedimento cautelar preliminar, no
prazo de 30 dias, pois se não houver propositura da ação principal, então o procedimento
cautelar em si perde a sua razão de ser, uma vez que é, em regra, dependente da ação
principal.
PORÉM, há um caso em que, pontualmente, o legislador admitiu a possibilidade de a
providencia subsistir por si só, independentemente de qualquer ação principal.→ é o caso
da INVERSÃO DO CONTENCIOSO (artigo 369.º CPC).
Neste caso, a providencia cautelar (e o procedimento que lhe subjaz) têm caráter
independente.
Assim, se o juiz formar convicção segura acerca da existência do direito do requerente
da providencia cautelar, decretando, portanto, a providencia requerida e dispensando o
autor de propor a ação principal (a providencia cautelar vai como que “servir” de ação
principal, em que a pretensão do requerente fica completamente satisfeita com o
decretamento da providencia cautelar).
Pode haver inversão do contencioso em que aquele que era aqui réu tem 30 dias para
propor, ele próprio (que antes era réu e agora aparece na veste de autor) uma ação
autónoma em que pede que o direito acautelado daquele que anteriormente era autor seja
destruído, para impugnar a existência do direito acautelar. → Só tem lugar esta inversão
do contencioso quando se trate de providencias cautelares antecipatórias.
Por força do artigo 376.º/4 do CPC, a inversão do contencioso é aplicável aos seguintes
procedimentos cautelares:
- Restituição provisória da posse
- Suspensão de deliberações sociais
- Alimentos provisórios
- Embargo de obra nova
Logo, por exclusão de partes, não pode haver inversão do contencioso quanto:
- Arresto
- Arrolamento
- Arbitramento de reparação provisoria
- Quanto aos procedimentos cautelares comuns, depende do tipo de providencia
que seja requerida: se for uma providencia suscetível de compor definitivamente o litigio,
é admitida a inversão do contencioso, se não for, então não se admite a inversão do
contencioso.
REQUISITOS
• Necessidade de requerimento - Tem de haver pedido de uma providencia
cautelar referente a algum dos procedimentos elencados no artigo 376.º/4 CPC
(esse requerimento pode ser apresentado até que a audiência final encerre).
• É ainda necessário que o juiz possa formar uma convicção segura quanto à
existência do direito.
Em regra, basta que se prove o fumus boni juris, isto é, que se demonstre a elevada
probabilidade de existência do direito, mas não é necessário que o juiz forme um
convicção segura, basta uma convicção mais leve), porém, para se compor
definitivamente o litigio através da providencia cautelar, é necessária uma convicção mais
“forte”, uma convicção segura – artigo 369.º/1 CPC.
Há, portanto, inversão do contencioso quando o juiz declara que a providencia que decreta
tem natureza independente, isto é, que regulará definitivamente o litígio, a não ser que a
ação principal seja proposta pelo requerido. No fundo, inverte-se o ónus de quem tem o
ónus de propor a ação principal, isto é, inverte a posição dos sujeitos da ação
Quando há inversão do contencioso, há uma declaração de definitividade condicional,
porque se, uma vez notificado da decisão, o requerido se conformar com ela, então a
providencia cautelar decretada assume natureza definitiva. Pelo contrário, se o requerido
não concordar com a providencia conferida, então este pode requerer a ação principal
(fica com o ónus de propor a ação principal).
A decisão cautelar (objeto da inversão do contencioso) é definitiva, salvo se o requerido
der ele próprio início a uma ação principal para impugnar o direito acautelado com tal
providencia cautelar, nos 30 dias subsequentes à notificação, sob pena de a providencia
decretada se consolidar como composição definitiva do litigio.– artigo 371.º/1 do CPC.
CASO PRÁTICO
«Dalila tem 15 anos e é proprietária de um prédio rústico sito em Anadia. No mês passado,
Ernesto e Fernanda, casados entre si sob o regime de comunhão de bens, invadiram o
referido prédio e nele iniciaram a prática agrícola alegando serem proprietários do mesmo.
Perante tal conduta, Dalila intentou contra Ernesto uma ação declarativa condenatória
requerendo a condenação deste a abandonar o imóvel em causa e a abster-se de qualquer
prática agrícola ou de outra natureza no mesmo.
1. Pronuncie-se quanto à regularidade da instância.
2. 15 dias depois da propositura dessa ação, Ernesto e Fernanda iniciaram a construção
de um edifício no referido prédio, tendo a autora tomado conhecimento desse facto
no passado fim de semana. Dalila Consulta-o perguntando-lhe se existe alguma via
processual de reação contra este comportamento.
Na resposta às questões antecedentes tome em consideração o facto de o prédio ter o valor
de 40.000€.»
RESPOSTA:
1.
Está aqui em causa a questão dos pressupostos processuais, desde logo, quanto às partes.
Entre eles, temos os pressupostos da personalidade e da capacidade judiciária.
Personalidade judiciária é, nos termos do artigo 11.º/1 CPC, a suscetibilidade de ser
parte em juízo. Já a capacidade judiciária consiste na suscetibilidade/idoneidade para se
estar/sr parte em juízo, por si só, autonomamente.
Sabemos que, por força do artigo 11.º/2 do CPC (que estabelece uma equiparação),,
quem tem personalidade jurídica tem necessariamente personalidade judiciária (já o
contrário não é verdade, pois há uma extensão da personalidade judiciária – artigo 12.º
CPC).
➔ Assim, nos termos do artigo 66.º do CC, Dalila tem personalidade jurídica,
pois teve um nascimento completo e com vida, pelo que pode ser titular de direitos
e deveres. Deste modo se conclui que, efetivamente, Dalila pode ser proprietária
daquele prédio rústico.
Por seu turno, sabemos que, por ser menor, Dalila não tem capacidade para o exercício
de direitos, não tem capacidade jurídica.
➔ Ora, sendo que, nos termos do artigo 15.º/2 CPC, só tem capacidade judiciária
quem tem capacidade jurídica, então conclui-se que Dalila não tem capacidade
judiciária.
Para além disso, sendo suscetível de ser titular de direitos, então Dalila também pode
propor a ação em causa, pode, portanto, ser autora, o que não pode é fazê-lo por si só,
autonomamente, pois, carecendo de capacidade jurídica, não tem capacidade judiciária.
– Só tem capacidade judiciária quem tem capacidade jurídica, logo a capacidade jurídica
é simultaneamente a base e a medida da capacidade judiciária.
Posto isto, deve ter-se em conta que a primeira forma de suprir a incapacidade
judiciária é, nos termos do artigo 16.º CPC, é através dos seus representantes. → Assim,
Dalila, que é menor sujeita a representação, pode suprir a sua falta de capacidade
judiciária.
Verificamos, portanto, que falta este pressuposto processual. Ora, sendo os pressupostos
processuais as condições sem as quais o juiz não poderá conhecer do mérito da ação, o
juiz irá proferir um despacho no sentido de convidar os pais a intervirem na ação
em representação da menor (Dalila), deixando esta questão de ser um impedimento
quanto ao conhecimento do fundo, do mérito da ação.
Do lado passivo…
Dalila só intentou ação contra Ernesto, porém, sendo este casado com Fernanda pelo
regime de comunhão de bens, então o prédio rústico em causa pertencendo a Ernesto,
também pertencerá a Fernanda.
É, neste âmbito, de notar que não basta que a ação seja proposta contra quem tem
personalidade e capacidade judiciária, é ainda necessário que a ação seja intentada contra
a pessoa que figura e que faz parte da versão da história que o autor conta e consagra no
pedido.
Há casos em que a lei impõe que a ação seja proposta contra mais do que uma pessoa –
litisconsórcio passivo necessário – artigo 33.º CPC. Nestes casos, o autor não é
livre de propor a ação apenas contra um réu, pois impõe-se que a ação seja proposta contra
mais que um réu.
RESPOSTA:
Poderia ser aqui requerida uma providencia cautelar conservatória, nomeadamente, o
“embargo de obra nova”, nos termos dos artigos 397.º e ss. do CPC, pois Ernesto e
Fernanda começaram a construir um edifício no prédio rústico pertencente a Dalila –
Dalila possui sobre aquele prédio, um direito de propriedade que é o direito mais intenso
dentro dos direitos reais de gozo.
REQUISITOS
Requisitos de natureza objetiva
o Tem de ter início uma obra, um trabalho ou um serviço novo. – artigo 397.º/1, 2.ª
parte do CPC.
o É ainda necessário que esta atividade se revele passível de causar prejuízo.
o Para além disso, esse prejuízo tem de o ser relativamente a alguém que se julgue
ofendido no seu direito de propriedade, ou em qualquer outro direito real ou
pessoal de gozo ou da sua posse. – artigo 397.º/1, 1.ª parte.
Dentro da categoria ampla dos direitos reais de gozo, a propriedade é o direito mais
intenso, que importa mais faculdades.
Neste caso, o possuidor (Ernesto e Fernanda) não é titular de um direito de propriedade
ou de qualquer outro direito real de gozo, mas comporta-se como se fosse e com a
convicção de o ser – a posse consiste precisamente nestes dois elementos: o animus e o
corpus.
Requisitos subjetivos
1. Requisito negativo – Não é possível o recurso a este tipo de providencia se estiver
em causa o Estado ou outras pessoas coletivas publicas, pois estas entidades só
podem recorrer a esta forma de procedimento cautelar especificado se não tiverem
competência para decretar o embargo administrativo. Neste âmbito o recurso ao
processo civil é subsidiário. – artigo 398.º/1 CPC
Objetivo desta providencia cautelar – suspensão da obra que está a ser realizada (artigo
397.º/1, in fine CPC).
Isto é importante, porque o procedimento cautelar de embargo de obra nova só se aplica
nos casos em que a obra ou trabalhos ainda não tiverem sido concluídos, porque se assim
não for já não haverá nada a embargar.
Ora, para isso, o requerente (aquele que realizou o embargo extrajudicial) tem, nos termos
do artigo 397.º/3 do CPC o prazo de 5 dias para requerer a ratificação judicial, isto é,
para comunicar ao tribunal que houve embargo extrajudicial e para requerer que o tribunal
declare se, de facto, o embargo se deve manter ou não. Isto é, para que o tribunal declare
se concorda com a medida adotada ou não.
Assim:
➢ Se o tribunal decidir em sentido oposto, aquele que se encontrava a realizar a obra,
pode dar continuidade à obra.
➢ Já se o tribunal concluir que o particular efetuou bem o embargo, ratifica-o e,
portanto, a obra permanece suspensa, ou seja, o requerido não pode dar
continuidade à obra.
❖ Embargo judicial
Se o requerente optar por um embargo de obra nova judicial, ou seja, se lançar mão deste
procedimento cautelar junto do tribunal, tudo se passa nos termos gerais.
Ora, quando, nos procedimentos cautelares especificados não existem normas que
respondam a perguntas que relevem quanto a eles, aplicam-se subsidiariamente as regras
que valem quanto ao procedimento cautelar comum (artigo 376.º/1, 2.ª parte do CPC).
- Dá-se, então, o início do processamento, nos termos do artigo 365.º/1 do CPC,
com uma petição que oferece prova.
O artigo 365.º/3 CPC esclarece que aos é subsidiariamente aplicável aos
procedimentos cautelares o disposto nos artigos 293.º a 295.º.
- Ou seja, o requerente solicita ao tribunal a concessão da providência cautelar de
embargo de obra nova e o requerido será, em princípio, notificado para deduzir
oposição (exercer o contraditório). → Haverá também, em princípio audiência de
julgamento, sendo que o tribunal se pronuncia, depois, quanto à concessão ou não
da providencia cautelar.
- Se o tribunal decidir conceder a providencia cautelar requerida (com base nos
requisitos e nos termos baixo indicados), há também lugar à elaboração daquele
auto.
Para que o tribunal conceda o embargo ou o ratifique, tem de verificar se se encontram
ou não reunidos os requisitos para a concessão de uma providencia cautelar: fumus boni
juris e periculum in mora.
1. Fumus boni juris – o juiz tem de formar uma convicção, ainda que perfunctória
(superficial), quanto à existência do direito de propriedade invocado pelo
requerente.
2. Periculum in mora – o juiz tem ainda de verificar a existência de periculum in
mora, isto é, de que pode haver perigo na demora” da ação principal, isto é, de
que, no caso, há perigo de que, sendo a decisão da ação principal for proferida
num momento futuro, essa decisão já não ter efeito útil.
Quanto ao requisito da proporcionalidade (artigo 368.º/2 CPC), este vale apenas
quanto ao procedimento cautelar comum e não quanto aos procedimentos cautelares
específicos (artigo 376.º/1, 1.ª parte do CPC). Assim, para os procedimentos cautelares
especificados apenas valem os requisitos fumus boni juris e do periculum in mora.
No entanto, há alguns procedimentos cautelares especificados relativamente aos quais
vale um juízo de proporcionalidade próprio – é o caso do embargo de obra nova.
O tribunal pode conceder/ordenar o embargo da obra, porém, o requerido, depois de
embargada a obriga, pode fazer um pedido especial ao tribunal para que autorize a
continuação da obra – o requerido tem o ónus de requerer ao tribunal que autorize a
continuação da oba.
Ou seja, pode suceder que o requerido venha, então, solicitar a continuação da obra, com
base num dos seguintes fundamentos, previstos no artigo 402.º do CPC:
➔ Se o tribunal concluir que a demolição da obra restitui o embargante ao estado
anterior,
➔ Ou quando se apure que o prejuízo resultante da paralisação da obra é
consideravelmente superior ao prejuízo que pode advir da sua continuação → Ora,
é precisamente aqui que reside aquele juízo de proporcionalidade próprio.
Assim:
1. Se o juiz concluir que, ainda que a obra continue, se na ação principal se vier a
dar razão ao requerente, a obra pode ser demolida e essa demolição coloca o
requerente na situação em que se encontrava antes (não é perigoso permitir que a
obra continue, pois mesmo que ela continue, pois a situação do requerente pode
vir a ser restituída através da demolição da obra). É preciso que o juiz se convença
que o ato de continuação da obra, não prejudica o requerente, pois este, mais tarde,
pode ver a sua situação reconstituída através da demolição.
Se, se verificarem prejuízos para o requerente m com a demolição o legislador impõe que,
para que o juiz possa autorizar a continuação da obra, o requerido/embargado tem ainda
de prestar caução que cubra o valor da demolição total, para o caso de ela vir a ser
necessária (artigo 401.º/1.ª parte do CPC).
2. Se o juiz concluir que os prejuízos resultantes para o requerido da paralisação da
obra são consideravelmente superiores aos prejuízos que podem advir da sua
continuação para o requerente, então o juiz pode autorizar a continuação da
realização
Só será autorizada a continuação da obra, se o requerido prestar caução que cubra os
prejuízos que possam advir para o requerente com a continuação da obra (artigo 401.º/2.ª
parte CPC).
Caução – destina-se a salvaguardar a posição do requerente.
Incumprimento da providência cautelar
No caso de o embargo da obra ser concedido ou ratificado, sendo a obra
suspensa/embargada, e o requerido não cumprir a ordem contida na providência de
embargo, então é o beneficiário da providência que tem o ónus de comunicar o
incumprimento do ónus ao tribunal.
➔ O requerente tem de demonstrar que a obra efetivamente, através da comparação
da situação em que a obra se encontrava no momento em que o embargo foi
concedido e o momento em que o interessado – ora, esta comparação é possível
mediante o recurso ao auto que foi realizado (quer no âmbito do embargo judicial,
quer do embargo extrajudicial).
Assim, se se demonstrar que o embargado inovou indevidamente a obra, então o
tribunal irá ordenar a destruir a parte inovada, a que ele deu continuidade após ter sido
notificado para suspender as obras – artigo 402.º/1 do CPC.
Se, mesmo assim, o requerido não demolir voluntariamente aquilo que inovou, ou seja,
se mesmo assim o requerido continuar a não cumprir, será necessário recorrer a meios
coercitivos, ou seja, será necessário recorrer a uma ação de execução: neste caso, um
terceiro irá, por ordem do tribunal – que designa um terceiro para destruir as inovações
realizadas indevidamente na obra – artigo 402.º/2 CPC.
17.12.2020
CASO PRÁTICO
Dalila circulava no passado dia 3 de janeiro na A1, quando numa área territorial de
Coimbra um veículo que circulava á sua frente se despistou, vindo a embater no seu
veículo, nele causando danos que importam em não menos de 5 mil euros. O veículo
lesante era conduzido por Fernando, também seu proprietário. Dalila reside no Porto e
Fernando reside em Lisboa.
1- Identifique o tipo de ação declarativa adequada para tutela da posição jurídica de Dalila.
2- Identifique o tribunal competente para efeitos de conhecimento da presente ação.
3- Admitindo que a ação foi proposta por Dalila contra Fernando, pronuncie-se quanto á
regularidade da instância.
RESPOSTA:
1- Identifique o tipo de ação declarativa adequada para tutela da posição jurídica de Dalila.
➢ O critério geral consta dos artigos 80.º e 81.º do CPC – quando estejam em
causa pessoas singulares – Tribunal de Domicílio do Réu – quando estejam em
causa pessoas coletivas – Tribunal da Sede da pessoa coletiva.
Primeiramente, devemos verificar os critérios especiais, que são os que antecedem o
artigo 80º; caso não encontremos nenhum critério especial, aplicaremos o critério geral –
do artigo 80º (se estiver em causa uma pessoa singular) – o artigo 81º, caso esteja em
causa uma pessoa coletiva.
3- Admitindo que a ação foi proposta por Dalila contra Fernando, pronuncie-se quanto
á regularidade da instância.
Interesse processual – Este pressuposto processual tem uma característica especial, pois
não está mencionado no CPC. Existe interesse em agir (interesse processual) quando há
uma situação de carência de tutela jurídica. A falta deste pressuposto processual dá
igualmente lugar a uma exceção dilatória (artigo 577.º CPC onde diz “entre outras”). No
caso, pelas razões supramencionadas, é possível concluir que Dalila tem interesse
processual.
Ora, o patrocínio judiciário apenas é obrigatório nos casos previstos e indicados no artigo
40.º/1 do CPC:
a) Nas causas de competência de tribunais com alçada, em que seja admissível
recurso ordinário.
Alçada – Valor até ao qual o tribunal decide sem admissibilidade de recurso.
Nos casos em que o valor da causa seja inferior à alçada do tribunal que profere a
sentença, então a decisão do juiz do tribunal em causa será a última decisão sobre o litígio
em causa, pois não há admissibilidade de mais recursos.
Se o valor da ação for até 5.000€, isso significa que o valor da ação não supera o valor da
alçada, pelo que, nesse caso, o patrocínio judiciário não é obrigatório.
Artigo 44.º/1 da Lei n.º 62/2013 (LOSJ).
c. Há casos em que a interposição de recurso é sempre obrigatório,
independentemente do valor da causa. – artigo 629.º/2 e 3 CPC.
d. Em sede de recurso, e nas causas que sejam propostas nos tribunais superiores, o
patrocínio judiciário é sempre obrigatório (artigo 40.º/1/al. c) CPC).
Assim, no presente caso prático é-nos dito que os danos decorridos do acidente não foram
inferiores a 5 mil euros, este é um conceito indeterminável passível de duas soluções,
conforme seja o caso em causa:
- O valor dos danos pode ter sido igual a 5.000€
- Ou foi de valor a 5.000€
➢ Se não tivesse excedido os 5.000€ → então o valor da causa não excede o valor
da alçada do tribunal → pelo que o patrocínio judiciário não seria obrigatório.
Já se fosse Fernando a não constituir advogado, sendo obrigatório, esclarece o artigo 41.º
do CPC que o juiz convidaria Fernando a constituir advogado. No entanto, na
circunstância de, mesmo assim, Fernando não constituir advogado, apesar de a
consequência regra da falta de pressuposto processual ser a absolvição do réu da instância,
a verdade é que, neste caso, a defesa ficaria sem efeito, pois se bastasse simplesmente
não constituir advogado para que fosse absolvido o réu da instância, então ele
simplesmente não constituiria advogado. Assim, a solução neste caso é que, mesmo que
o réu conteste, tudo se passa como se ele não contestasse – assim determina o artigo 41.º,
in fine CPC.
O facto de Fernando ser francês, cria aqui um nexo da relação material controvertida com
uma ordem jurídica estrangeira.
Quando uma relação jurídica só tem conexão com o território português, não haverá
qualquer dúvida de que será um tribunal português a julgar o litígio.
O problema da competência internacional surge quando entram em questão outros
Estados (países).
Assim, sendo Fernando Francês, põe-se um problema de competência internacional, de
saber se não terão aqui também os tribunais judiciais franceses competência para
conhecer desta questão ou se serão competentes os tribunais portugueses. Põe-se,
portanto, um problema de competência internacional.
Nestes casos, há que mobilizar:
• Regulamento europeu (no caso de ser aplicável ao caso)
• Artigo 59.º CPC
• Artigo 62.º CPC (é o mais relevante)
• Artigo 63.º CPC
Só lançamos mão dos artigos 62.º e 63.º se na situação jurídica em causa não for
convocável uma norma de fonte não interna, como sucede com os regulamentos europeus,
pelo que o CPC é, a este nível, uma fonte subsidiária.
Organização do regulamento
Artigos 4.º a 6.º → critérios gerais de atribuição de competência.
o Artigo 5.º → as pessoas domiciliadas num Estado-Membro só podem ser
demandadas nos tribunais de outro estado-membro nos termos das regras
enunciadas nas secções 2 a 7 do presente capítulo.
Em regra: serão competentes os tribunais do lugar do domicílio do réu.
Regras especiais relativas à competência (artigos 7.º e ss. do Regulamento).
No nosso caso, Fernando, apesar de ser francês, está domiciliado em Portugal, não
estando, portanto, em causa nenhum Estado que não pertença à União Europeia. →
Aplica-se, assim, o Regulamento (UE) n.º 1215/2012.
Assim, de acordo com a regra geral do artigo 4.º, de acordo com o domicílio do réu,
competentes, seriam aqui os tribunais portugueses.
Regra especial aqui aplicável – artigo 7.º/2 do Regulamento, porque se trata de uma
ação em que está em causa matéria extracontratual.
Assim, de acordo com este artigo o ordenamento jurídico competente para julgar a causa
seria o português porque o facto danoso ocorreu em Portugal (o acidente em causa
ocorreu em Portugal).
Quando existe um problema de competência internacional, a resposta só nos permite
concluir se os tribunais portugueses são competentes ou não. Concluindo ser competente
um tribunal português, há que apurar a competência interna, em razão da hierarquia, da
matéria, do território e do valor e forma da causa.
➢ Conclui-se assim ser competentes para conhecer da causa, os tribunais
portugueses – têm aqui jurisdição os tribunais portugueses.
Neste caso, já não estaria em causa um Estado membro da União Europeia, porque o réu
já não residiria num Estado da União Europeia.
Ora, não sendo aplicável o regulamento europeu, aplica-se a fonte normativa subsidiária,
ou seja, o artigo 62.º do CPC (por força do que determina o artigo 59.º do CPC).
• Alínea a) – Princípio da coincidência
• Alínea b) – Princípio da causalidade
• Alínea c) – Princípio da necessidade
Nos termos do artigo 95.º CPC as partes podem, de facto, convencionar as regras da
competência interna apenas em certos casos e de acordo com determinados critérios – são
os chamados pactos de competência. Assim, não se pode afastar, por vontade das partes,
as regras de competência relativas à:
RESPOSTA:
Tribunais Estaduais
- Tribunais Judiciais
- Julgados de Paz
Tribunais Privados
Que são os Tribunais arbitrais – são constituídos por pessoas que não são juízes
estaduais.
Mas a Constituição e o legislador ordinário reconhece aos tribunais arbitrais o poder de
julgar em termos praticamente iguais aos tribunais estaduais.
JULGADOS DE PAZ
Lei 78/2001, de 13 de junho
Âmbito de competência
Âmbito de competência dos julgados de paz é delimitado quer do ponto de vista objetivo,
quer do ponto de vista quantitativo, visto que os julgados de paz conhecem apenas de
alguns domínios do direito e não de todos – artigo 9.º/1 Lei.
Mesmo dentro conjunto limitado de matérias, o julgado de paz só pode conhecer da ação
se ela tiver um valor que não ultrapasse os 15.000€ - artigo 8.º Lei.
Estas limitações, em razão da matéria e do valor, são cumulativas. Ou seja, para sabermos
se um determinado conflito pode ou não ser julgado por um Julgado de Paz temos de
verificar se se cumprem os dois requisitos em simultâneo.
TRAMITAÇÃO
É outra especificidade dos julgados de paz, desde logo, porque esta tramitação obedece a
regras muito próprias que vão no sentido da maior simplicidade e celeridade do processo
a observar.
► Estes tribunais são, desde logo, concebidos e orientados por princípios de simplicidade,
adequação, informalidade, oralidade e absoluta economia processual.
Ora, os princípios enunciados de forma geral no artigo 2.º/2 da LJP encontram
concretização na tramitação processual regulada nos artigos 41.º e ss.
No que respeita ao artigo 43.º da LJP que regula o início do processo, através da
apresentação de um requerimento, no n.º 2 deste artigo prevê-se que o requerimento possa
ser apresentado verbalmente ou por escrito. → Já nos tribunais judiciais o requerimento
tem SEMPRE de ser apresentado por escrito.
► Não é admitida a citação edital (o que não sucede, em regra, nos tribunais judiciais) –
artigo 46.º/2 LJP.
► Não é admitida reconvenção (que é uma forma de contestação).
► MEDIAÇÃO – Posteriormente à contestação do réu, abre-se aqui um período através
do qual se pretende obter um acordo das partes – pretende-se que as partes sejam
colocadas num contexto que lhes permita adotar uma solução consensual para evitar que
o conflito seja resolvido por um juiz de paz – isto acontece através do chamado “processo
de mediação”.
Note-se, porém, que as partes não são obrigadas a adotar o processo de mediação.
Artigo 31.º - Requisitos para que se possa ser mediador de paz (são menos exigentes do
que para se ser juiz de paz).
PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
Artigos 10.º a 14.º → Regras de competência territorial
Se as partes chegarem a acordo, esse acordo vai ser reduzido a forma escrita, assinado
por todos os intervenientes e será submetido a homologação pelo juiz de paz → uma vez
homologada a decisão, esta passa a ter o valor de sentença.
Caso as partes não cheguem a acordo, ou só cheguem a acordo parcialmente, então o
conflito não ficou resolvido ou não ficou totalmente resolvido – pelo que o mediador vai
comunicar essa frustração da tentativa de acordo ao juiz de paz, que marcará audiência
para julgamento, a realizar-se no prazo máximo de 10 dias (celeridade e economia
processual).
Artigo 57.º e ss. → Regulam o julgamento.
3 objetivos fundamentais da audiência de julgamento:
1. Audição das partes
2. Obtenção de provas (artigo 59.º)
3. Prolação da sentença
► As partes não podem ter mais do que 5 testemunhas, enquanto que nos tribunais
judiciais a regra é das 10 testemunhas.
► A realização da prova pericial atrasa muito a realização do processo, e, como este é
um processo especialmente célere, se o juiz de paz entender que a prova pericial é
realmente pertinente, manda remeter os autos para o tribunal judicial. E só depois de
produzida a prova é que os autos voltam a ser remetidos para o Julgado de paz para a
realização do julgamento – artigo 59.º/3 da Lei.
►A sentença é proferida na própria audiência, o que, por regra, não sucede no âmbito
dos tribunais judiciais, que é decidida depois da audiência de julgamento e notificada às
partes.
IN CASU
• No que diz respeito à matéria trata-se de matéria prevista no artigo 9.º/1/al. i) da
LJP.
• Quanto ao valor, a ação não ultrapassa os 15.000€.
Como se verificam cumulativamente os requisitos relativos à competência em razão da
matéria e quanto ao valor, podemos concluir que estamos perante uma ação de
competência do Julgado de Paz de Coimbra, visto que toda a relação contratual tem
conexão com Coimbra.
Porém, Eva pode querer intentar a ação num tribunal judicial de Coimbra e não num
Julgado de Paz. Será obrigatório intentar esta ação num Julgado de Paz? – Ac. 11/2007
STJ, publicado no DR n.º 142/2007, na 1.ª séria (25 de Julho de 2007) → decidiu que a
competência dos julgados de paz não é obrigatória, mas antes meramente
alternativa/facultativa.
Portanto, Eva, seguindo o entendimento ditado por este acórdão, tem aqui a possibilidade
de escolher entre um Tribunal de Judicial ou um Julgado de Paz.
Dr. Remédio Marques – entende que os Julgados de paz foram criados com o objetivo
de aliviar a carga dos tribunais judiciais. Ora, se é dada a parte a possibilidade de escolher,
então a parte fica com o poder de afastar aquele que é o objetivo da criação deste tipo de
tribunais.
COMPETÊNCIA
No que diz respeito à competência não há qualquer limite de valor. Mas só podem decidas,
no âmbito da arbitragem, questões/litígios respeitantes a interesses de natureza
patrimonial (os interesses têm natureza patrimonial quando as partes possam celebrar
transação sobre o direito controvertido, isto é, quando possam chegar a acordo quanto a
essa matéria) – artigo 1.º/ 1 e 2da Lei da Arbitragem Voluntário.
No entanto, isto não basta, sendo ainda necessário que as partes tenham chegado a acordo
quanto a essa forma de resolução do conflito – acordo este que toma a designação de
«Convenção de Arbitragem».
Convenção de arbitragem –é um negócio jurídico processual celebrado entre as partes,
que pode assumir uma de duas formas:
• Compromisso arbitral – o compromisso arbitral é um negócio jurídico que surge
depois do conflito surgir, ou seja, há um compromisso arbitral quando já existe
um litígio. – artigo 1.º/3 da LAV
TRAMITAÇÃO
Independentemente de a competência do tribunal arbitral surgir de um acordo ou de outro,
a tramitação processual no âmbito dos tribunais arbitrais obedece a regras diferentes dos
tribunais judiciais, porque nestes as regras de tramitação processual já estão determinadas
legalmente, podendo, porém, o juiz, em alguns casos, ao abrigo do princípio da gestão
processual e da adequação formal, proceder a uma adaptação da tramitação ou até criar
uma tramitação nova se assim achar adequado.
► Já no âmbito da arbitragem, podem ser as partes a criar uma tramitação processual
própria, dentro de certos limites (não são absolutamente livres de o fazer): há que
assegurar o núcleo essencial previsto no artigo 30.º/1 da LAV.
Conjunto de regras fixada a título supletivo, para a hipótese de as partes não fixarem elas
mesmas a tramitação do processo – artigo 34.º/1 LAV (por exemplo).
IN CASU
Para que possa haver recurso à arbitragem é necessário:
o Tem de estar em causa um interesse patrimonial – no caso, este requisito está
cumprido.
o Para além disso, as partes têm de ter chegado a um acordo quanto à entidade que
vai decidir o conflito, ou seja, têm de ter acordado que o ente competente para a
resolução do litígio será um tribunal arbitral.
- Esse acordo pode constar do próprio contrato de compra e venda celebrado entre
Eva e Fernando, através de uma cláusula compromissória reduzida a escrito (nos
termos amplos que a lei da arbitragem voluntária permite).
- Ou, ainda que não tivessem incluído essa clausula no contrato de compra e venda,
depois de ter surgido o conflito, se as partes acordassem que os litígios deveria ser
resolvido nos tribunais arbitrais e não nos tribunais judiciais, então celebrariam um
compromisso arbitral.