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Nestes contratos, temos uma espécie de figura “tridimensional”, pois para além dos
dois contraentes “habituais”, passamos a ter um outro interveniente, que se designa como beneficiário, que é
o destinatário de uma vantagem, mas não pode ser considerado um contraente.
Assim, para além dos contraentes A e B, temos um terceiro C, que não se pode considerar como um dos
contraentes, mas sim como um beneficiário. Exemplo deste tipo de contrato a favor de terceiro são alguns
contratos de seguros, a favor de terceiro, sendo que o terceiro vai ser o beneficiário da apólice de seguro.
Deixamos de ter uma linha reta, para passar a ter uma relação triangular, em que ao terceiro são prometidos
direitos (não são parte no contrato de seguro, mas são beneficiários dele).
Exemplos:
► O beneficiário de um contrato de seguro, adquire, por força da celebração daquele contrato, o direito a exigir
a prestação devida por força do contrato do seguro.
FIGURAS AFINS
≠ No contrato autorizativo da prestação a terceiro – também temos um beneficiário de uma prestação que
tem por fonte um contrato de que ele, beneficiário, não é parte. No entanto, o beneficiário não adquire o direito
a exigir a vantagem – e é precisamente isto que distingue o contrato autorizativo de prestação a terceiro do
contrato a favor de terceiro.
Exemplo: A compra um ramo de flores na loja de B, para B entregar a C – C é beneficiário deste contrato de
que ele não é parte, no entanto não adquire o direito a exigir da loja de B a entrega, quem pode exigir essa
entrega é A.
NOTA FUNDAMENTAL:
É isto que nos permite distinguir este contrato em favor de terceiro do contrato autorizativo da prestação a
terceiro – neste também temos o beneficiário da vantagem, de um contrato que não faz parte, no entanto, aqui
não adquire o direito a exigir esta vantagem.
≠ Contratos com efeitos reflexos sobre terceiro – são aqueles em que o terceiro é beneficiário de uma relação
contratual que não é parte, mas, embora não tenha direito a exigir os deveres de prestar, tem direito a exigir o
cumprimento de certos deveres acessórios de conduta. Mais uma vez, a posição de terceiro nos contratos a
favor de terceiro, não é mero destinatário, mas antes titular de um direito subjetivo ao próprio dever de prestar
(aos deveres primários e secundários de prestar), não beneficia apenas de deveres acessórios de conduta.
≠ Representação – na representação, temos uma figura triangular: o representante A celebra um contrato com
um B (contraparte), em nome do representado, C – tudo se passa como se fosse o próprio representado a
celebrar aquele contrato. Ora, desde o início, o representante não é parte do contrato, é um “terceiro” que
representa o representado, e tudo se passa como se fosse o representado a celebrar o contrato, a emitir a
declaração de vontade.
≠ Mandato sem representação – aqui, temos o mandatário que emite uma declaração de vontade, celebrando
o contrato, em seu próprio nome, mas por conta de outra pessoa, o mandante (que inicialmente não é parte do
contrato, passa a sê-lo quando o mandatário lhe transmite os efeitos jurídicos decorrentes da celebração do
contrato). O mandante. Isto significa, portanto, que este mandante que, à partida, assume a posição de terceiro
ao contrato, deixa de o ser no momento em que o mandatário transmite para a esfera jurídica do mandante os
efeitos jurídicos decorrentes da celebração do contrato. Já no contrato a favor de terceiro, o terceiro é sempre
estranho face à relação contratual, nunca se poderá tornar em contraente.
≠ Contrato de prestação por terceiro – neste, o terceiro, que nunca é parte do contrato, é ele que irá realizar
a prestação, e não sendo ele o beneficiário da realização dessa prestação por outra pessoa (como sucede no
contrato a favor de terceiro).
Contexto histórico:
O contrato a favor de terceiro, não existia no direito romano, estes recusaram o mesmo, porque a contraparte
do contrato a favor de terceiro, não era verdadeiramente, beneficiário da prestação, porque o terceiro que seria
o beneficiário, não gozava da actio relativa a uma obrigação assumida no contexto deste contrato. Este
terceiro, não sendo contraente, não gozava desta actio de ser beneficiário da prestação.
Passou a existir em termos muito limitados no Código de Seabra.
► Relação de valuta
É a relação que se estabelece entre promissário e terceiro (beneficiário).
Dr. Antunes Varela revela a importância da adesão (como sinónimo de aceitação), uma vez que o contrato
a favor de terceiro atribui uma vantagem a um terceiro, assumindo o promitente o dever de atribuir a vantagem
a um terceiro beneficiário, que não é parte no contrato. Ora, este terceiro pode ou não aceitar esta vantagem,
sendo que esta não lhe deve ser imposta – note-se, esta aceitação não é condição da existência na esfera
jurídica do terceiro de um direito à vantagem, pois pelo mero facto da conclusão do contrato a favor de
terceiro, o terceiro já é titular de um direito à vantagem, mesmo que ainda não tenha aceitado.
No entanto, a “aceitação” não deixa de ser importante, porque, apesar de o terceiro já ser titular de um direito
mesmo antes de aceitar, o promissário pode revogar a promessa por se ter arrependido.
➔ Ou seja, enquanto o terceiro não aceitar, pode haver revogação da vantagem patrimonial por
parte do promissário, sendo importante que o terceiro aceite e o comunique essa aceitação ao
promissário, porque a partir do momento em que ele aceite, consolida-se o direito à vantagem na esfera
do terceiro, e o promissário deixa de poder revogar a atribuição da vantagem.
É também importante que o beneficiário comunique a aceitação ao promitente, que é quem vai atribuir a
vantagem ao beneficiário, porque a partir do momento em que o beneficiário o comunique, o promitente já
pode ser constituído em mora – vence-se o dever atribuir a vantagem.
➔ Assim: depois desta comunicação, o promitente fica vinculado a terceiro, a deveres acessórios de
conduta, que não estaria adstrito antes da vinculação.
Dois efeitos essenciais da aceitação:
(1) A partir do momento em que o beneficiário aceite, o promissário não poderá revogar a promessa.
(2) E, assim que comunique ao promitente, se este não lhe atribuir a vantagem, fica constituído em mora.
► Se o terceiro não aceitar, destrói os efeitos que já foram constituídos, repristinando-se a situação em que
existia antes da celebração do contrato a favor de terceiro, tudo se passando como se não tivesse sido atribuída
a vantagem ao terceiro.
É o contrato pelo qual uma parte reserva a faculdade/poder de designar/nomear outra pessoa, para que esta
assuma a sua posição na relação contratual (para a substituir), como se o contrato tivesse sido celebrado com
ela.
Este contrato encontra-se previsto e regulado nos artigos 452.º e ss. do CC.
“como se o contrato tivesse sido celebrado com ela esta última parte” → Significa isto que o contrato para
pessoa a nomear produz efeitos retroativos.
FIGURAS DISTINTAS
► Distingue-se de contrato a favor de terceiro
No contrato de pessoa a nomear, temos dois contraentes, no princípio, um dos quais deixa de o ser para ser
substituído por outro, os contraentes originários não serão sempre os mesmos, um deles irá ser substituído por
uma pessoa que ele irá nomear, em lugar da pessoa que o nomeou.
Este distingue-se do contrato a favor de terceiro, porque no contrato a favor de terceiro, o terceiro nunca é
contraente, o promitente e o promissário são sempre os contraentes, de início ao fim.
► Distingue da representação
No contrato para pessoa a nomear, temos dois contraentes, um dos quais deixa de o ser para que um outro
tome o seu lugar.
Já na representação isto não sucede, porque o representado celebra o contrato com uma outra pessoa, em nome
do representante, mas desde o princípio quem é parte do contrato é o representante, desde o e a outra pessoa,
e não o representado (que nunca é parte) – ou seja, na representação as partes são sempre as mesmas, pois o
representado nunca assume ser parte do contrato.
► Distingue do contrato-promessa
O contrato para pessoa a nomear é um contrato definitivo, é ele já o contrato querido, enquanto que o contrato
promessa é instrumental, culminando com a celebração de um contrato num momento futuro, este sim
definitivo.
Dr. Antunes Varela, diz-nos que quanto ao regime deste contrato, que o mais importante é a nomeação e
ratificação.
NOMEAÇÃO
► Se o contrato para pessoa a nomear é o contratopelo qual alguém se reserva a faculdade de nomear/indicar
outra pessoa, que não é parte naquele contrato originariamente, é necessário que haja esta
designação/nomeação, que deve ser feita mediante declaração por escrito ao outro contraente, e deve ser feita
no prazo de 5 dias a contar da celebração do contrato para pessoa a nomear (a não ser que isto tenha sido
ponto convencionado noutro sentido) – artigo 453.º/1 do CC.
RATIFICAÇÃO
► A nomeação tem de incluir também um instrumento de ratificação, pelo qual o nomeado, se aceitar (também
por escrito) adquire, ab initio, desde o momento anterior em que o contrato foi celebrado, todos os poderes
que tinham sido atribuídos ao contraente originário.
Tudo se passa como se fosse, ab initio, o nomeado a celebrar o contrato.
Se o nomeado não aceitar a nomeação, então mantém-se e cristaliza-se como parte contratual a parte que
reservara para si a faculdade de nomeação.
Exemplos: não há exemplos típicos; este é um exemplo possível, alguém que celebra o contrato de compra e
venda relativo à aquisição de um quadro e esse contrato é celebrado por A e B, mas A quer nomear alguém,
A celebra ele próprio o contrato, adquirindo o bem por preço mais baixo, do que fosse C a celebrar o contrato.
A nomearia, depois de celebrado o contrato, C.
Já saímos dos contratos, porque todo o contrato é um negócio bilateral. Os negócios unilaterais estão previstos
e regulados nos artigos 457.º e ss. do CC.
Qual a regra quanto aos negócios unilaterais?
Em princípio, uma declaração de vontade, por si só, não vincula o seu autor, pois, à partida uma declaração
unilateral é livremente revogável – assim determina o artigo 457.º CC.
Os negócios unilaterais só vinculam o seu autor nos termos previsto na lei, e é livremente revogável. →
Entende-se esta solução legal, pois se tiver havido apenas uma declaração unilateral, sem mais, em princípio,
nenhumas expectativas haverá a frustrar, porque ainda nenhumas expectativas foram formadas a propósito
daquela declaração unilateral.
➔ Ou seja, não existem aqui expectativas de uma contraparte a proteger, porque não há aqui ma
contraparte. Assim, a declaração unilateral será, em princípio, unilateral. Portanto, só nos casos
expressamente previsto na lei é que a declaração unilateral vincula e obriga quem a emite.
Há uma taxatividade relativamente aos negócios unilaterais, ao contrário da liberdade contratual que é
facultada aos negócios bilaterais. Os negócios unilaterais estão, portanto, sujeitos ao princípio da
taxatividade.
Uma pessoa não estará, em princípio, vinculada a uma declaração de vontade sua, de que ela seja autora,
porque não existem expectativas de uma contraparte a proteger, porque nenhum inconveniente daí deriva. Por
isso, só nos casos previstos na lei, é que o negócio unilateral vincula o seu autor.
Assim, fora os negócios unilaterais instrumentais/auxiliares de um contrato (denúncia ou resolução de um
contrato, que encontram a sua justificação num contrato já existente) só há promessa pública. Temos outros
negócios unilaterais (resolução e denúncia) mas não tem autonomia em relação a um contrato, a sua existência
é justificada com base noutra relação, não a título próprio.
Só temos a promessa pública verdadeiramente, como negócio unilateral previsto no Código Civil dentro do
livro das obrigações – 457º e seguintes. Mas ainda temos, por exemplo, o testamento (só que este já não está
no livro das obrigações).
Promessa pública
É a declaração unilateral (há uma só declaração de vontade ou várias no mesmo sentido) que é pública quanto
à forma como é feita, pois é feita por anúncio divulgado entre os interessados, pela qual o seu autor se vincula
promete a dar uma recompensa ou uma gratificação a quem se encontre em determinada situação
(desaparecimento de um cão – dada recompensa – é uma promessa pública), ou partindo de um certo facto
positivo ou negativo.
"No que toca à regulamentação do contrato promessa, aplica-se ao contrato promessa as disposições legais
relativas ao contrato prometido. Há, no entanto, duas exceções neste Art. 410º/1: Excetuadas as relativas à
forma e as que, por sua razão de ser, não se devam considerar extensivas ao contrato-promessa. Ou seja, as
regras de forma do contrato prometido não se aplicam; Há certas regras do contrato prometido que não se vão
aplicar, porque tem por base uma ratio que não é extensível ao contrato promessa (Art. 892º , a razão de ser
da proibição de venda de coisa alheia não se estende à promessa de venda alheia, porque não produz efeitos
translativos que justifiquem a proibição)
Em suma, vamos aplicar ao contrato promessa as mesmas regras que aplicaríamos ao contrato prometido.
Exceções quanto à forma, e as regras pela sua razão de ser sejam privativas do contrato privativo e não se
estendem ao contrato promessa. (Ex. da compra e venda).
Afinal há exceções à exceção (restrição à exceção), o nº 2, que nos diz que o contrato promessa tem que ter
estar sujeito a uma determinada forma: Os casos em que o contrato prometido exige para a sua celebração
válida documento autêntico ou particular, tem de ser reduzido a documento assinado por quem se vincula. Por
exemplo, como o contrato de compra e venda (Art. 875º) exige um documento particular ou autenticado, o nº
2 exige um documento assinado por ambas as partes (quem se vincula). E quando esta forma não é observada?
Calvão da Silva expõe duas situações:
- O que fazer de uma promessa bilateral reduzida a documento escrito em que só um dos promitentes assinou?
À partida seria nulo (Art. 220º). No entanto, nestas situações, parte do contrato promessa respeita os requisitos
de forma do Art. 410º/2 (negócio parcialmente válido). Calvão da Silva defende a redução, a uma promessa
unilateral, divisibilidade objetiva ou abstrata, porque a promessa bilateral pode ser dividida em duas promessas
unilaterais (uma de compra, e uma de venda), permitindo subtrair uma delas e a sobrevivência de uma delas.
Mas o facto de ser objetivamente, não quer dizer que o seja subjetivamente. (Ver Art. 292º CC)- Ou seja,
reduz-se a não ser que o promitente que assinou demonstre que o negócio nunca seria concluído sem a parte
viciada, ou seja, nunca teria celebrado a promessa enquanto promessa unilateral de venda. [Art. 293º- O
negócio é totalmente nulo, sendo que a parte que estivesse interessada na sobrevivência de promessa unilateral
teria que fazer prova de que ambos teriam querido o contrato como promessa unilateral, face ao fim do
mesmo].
Se se tratar de uma promessa unilateral (410º/2), mas em que a parte que não está vinculada é devedora de um
preço de promessa (preço de imobilização). O beneficiário da promessa, que nada promete, fica vinculado
àquilo que se chama de preço da promessa/preço da imobilização, ou seja, caso não queira celebrar o contrato
definitivo fica vinculado a uma determinada prestação (quantia pecuniária, por regra). Mesmo nestes casos,
não deixa de haver unilateralidade da promessa."