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INTRODUÇÃO E PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL 1

CONCEITO DE DIREITO PENAL 2

MISSÃO DO DIREITO PENAL 3


MISSÃO MEDIATA/INDIRETA 3
MISSÃO IMEDIATA 3

CATEGORIAS DO DIREITO PENAL 3


DIREITO PENAL SUBSTANTIVO x DIREITO PENAL ADJETIVO 3
DIREITO PENAL OBJETIVO x DIREITO PENAL SUBJETIVO 3
DIREITO PENAL DO FATO X DIREITO PENAL DO AUTOR 4
DIREITO PENAL DE EMERGÊNCIA x DIREITO PENAL PROMOCIONAL / POLÍTICO / DEMAGOGO 4
DIREITO PENAL SIMBÓLICO 4
“NOMORREIA” PENAL OU PAN-PENALISMO 4
DIREITO PENAL SUBTERRÂNEO 4
DIREITO PENAL PARALELO 5
DIREITO PENAL QUÂNTICO 5
DIREITO DE INTERVENÇÃO (Winfried Hassemer) 5
DIREITO PENAL COMO PROTEÇÃO DE CONTEXTOS DA VIDA EM SOCIEDADE (Günther Stratenwerth)4 5
DIREITO PENAL GARANTISTA (Luigi Ferrajoli) 5

LIMITES DO DIREITO DE PUNIR ESTATAL 6

"PRIVATIZAÇÁO" DO DIREITO PENAL 6

VELOCIDADES DO DIREITO PENAL (Jesús-MarIa Silva Sánchez) 7

FONTES DO DIREITO PENAL 7

INTERPRETAÇÃO DO DIREITO PENAL 10


QUANTO AO SUJEITO 10
QUANTO AOS MEIOS OU MÉTODOS 10
QUANTO AO RESULTADO (IMPORTANTE) 11

PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO PENAL 12


PRINCÍPIOS RELACIONADOS COM A MISSÃO DO DIREITO PENAL 12
PRINCÍPIOS RELACIONADOS COM O FATO DO AGENTE 23
PRINCÍPIOS RELACIONADOS COM O AGENTE DO FATO 24
PRINCÍPIOS RELACIONADOS COM A PENA 25

INTRODUÇÃO AO DIREITO PENAL


A manutenção da paz social demanda a existência de normas destinadas a estabelecer diretrizes. Quando violadas
as regras, surge para o Estado o dever de aplicar sanções (civis ou penais).

1
Assim, quando a conduta atenta contra bens jurídicos especialmente tutelados, merece reação mais severa por
parte do Estado, valendo-se do Direito Penal.
Com isso, pode-se dizer que o que diferencia a norma penal das demais é a espécie de consequência jurídica
(cominação das penas e medidas de segurança).

CONCEITO DE DIREITO PENAL1


​ Aspecto Formal / Estático: Direito Penal é o conjunto de normas que qualifica certos comportamentos
humanos como infrações penais, define os seus agentes e fixa sanções a serem-lhes aplicadas.
​ Aspecto Material: O Direito Penal refere-se a comportamentos considerados altamente reprováveis ou
danosos ao organismo social, afetando bens jurídicos indispensáveis à própria conservação e progresso
da sociedade.
​ Aspecto Sociológico / Dinâmico: O Direito Penal é mais um instrumento de controle social, visando
assegurar a necessária disciplina para a harmônica convivência dos membros da sociedade.
Aprofundando:
- A manutenção da paz social demanda a existência de normas destinadas a estabelecer diretrizes.
- Quando violadas as regras de conduta, surge para o Estado o dever de aplicar sanções (civis ou
penais). Nessa tarefa de controle social, atuam vários ramos do direito, como o Direito Civil, Direito
Administrativo, etc. O Direito Penal é apenas um dos ramos do controle social.
- Quando a conduta atenta contra bens jurídicos especialmente tutelados merece reação mais severa
por parte do Estado, valendo-se do Direito Penal. O que diferencia a norma penal das demais é a
espécie de consequência jurídica, ou seja, PPL.
- O Direito Penal é norteado pelo princípio da intervenção mínima, só atuando quando os outros
ramos do direito falham.

ASPECTO SOCIOLÓGICO /
ASPECTO FORMAL / ESTÁTICO ASPECTO MATERIAL
DINÂMICO

Comportamentos considerados
Conjunto de normas altamente reprováveis ou Instrumento de controle social
danosos ao organismo social

CRIMINOLOGIA POLÍTICA CRIMINAL


DIREITO PENAL
(CIÊNCIA PENAL) (CIÊNCIA POLÍTICA)

Analisa os fatos humanos Ciência empírica que estuda o Trabalha as estratégias e os


indesejados, define quais devem crime, o criminoso, a vítima e o meios de controle social da
ser rotulados como crime ou comportamento da sociedade. criminalidade.
contravenção, anunciando as
penas.

Ocupa-se do crime enquanto Ocupa-se do crime enquanto Ocupa-se do crime enquanto

1
Cunha, Rogério Sanches. Manual de direito penal: parte geral (arts. 1° ao 120) /Rogério Sanches Cunha. - 8. ed. rev., ampl. e atual. -
Salvador: JusPODIVM, 2020, pag. 29

2
norma. fato social. valor.

ex.: define como crime lesão no ex.: quais fatores contribuem ex.: estuda como diminuir a
ambiente doméstico e familiar. para a violência doméstica e violência doméstica e familiar.
familiar

MISSÃO DO DIREITO PENAL


​ MISSÃO MEDIATA/INDIRETA
- Controle Social (controle do cidadão);
- Limitar o poder punitivo do Estado (Controle do Estado).

Assim, se de um lado o Estado controla o cidadão, impondo-lhe limites, de outro é necessário também
limitar seu próprio poder de controle, evitando a hipertrofia da punição.

​ MISSÃO IMEDIATA
Neste ponto temos uma conhecida divergência.
1ªCORRENTE: Teria por missão proteger bens jurídicos indispensáveis à convivência em sociedade (Roxin
– funcionalismo teleológico)..

2ªCORRENTE: Teria por missão assegurar o ordenamento jurídico, assegurar a vigência da norma (Jakobs
– funcionalismo sistêmico).

FUNCIONALISMO TELEOLÓGICA FUNCIONALISMO SISTÊMICO


ROXIN JAKOBS

Proteger bens jurídicos essenciais Assegurar o ordenamento jurídico

CATEGORIAS DO DIREITO PENAL2


​ DIREITO PENAL SUBSTANTIVO x DIREITO PENAL ADJETIVO

DP SUBSTANTIVO DP ADJETIVO

Corresponde ao DP material (crime e pena) Corresponde ao Dir. Processual Penal


(processo e procedimento).
Não existe mais DP adjetivo, pois o Dir.
Processual Penal passou a ser um ramo
autônomo do Direito.

2
SANCHES (2020), pág. 33.

3
​ DIREITO PENAL OBJETIVO x DIREITO PENAL SUBJETIVO

DP OBJETIVO DP SUBJETIVO

Traduz o conjunto de leis penais em vigor no Refere-se ao direito de punir do Estado.


país. DP Subjetivo Positivo: capacidade de criar e
Ex.: CP, Lei de Drogas; Lei de Organização executar normas penais. Cumpre ao Estado.
Criminosa. DP Subjetivo Negativo: poder de derrogar
normas penais ou restringir seu alcance.
Controle judicial das normas (STF – controle
concentrado de constitucionalidade)

​ DIREITO PENAL DO FATO X DIREITO PENAL DO AUTOR

DP DO AUTOR DP DO FATO

Dp voltado ao autor do crime, devendo-se DP voltado ao fato, punindo o agente pelo que
punir a pessoa pelo que é (juízo de fez, e não pelo que é.
periculosidade)

​ DIREITO PENAL DE EMERGÊNCIA x DIREITO PENAL PROMOCIONAL / POLÍTICO / DEMAGOGO

DP DE EMERGÊNCIA DP PROMOCIONAL / POLÍTICO / DEMAGOGO

Atendendo as demandas de criminalização, o O Estado, visando a consecução dos seus


Estado cria normas de repressão ignorando objetivos políticos, emprega leis penais
garantias do cidadão. desconsiderando o princípio da
intervenção mínima.

Finalidade: devolver o sentimento de Finalidade: usar o direito penal para


tranquilidade para a sociedade. transformação social

Ex: lei dos crimes hediondos – sequestro do Ex: Estado criando contravenção penal de
Abílio Diniz (pressão da mídia). mendicância (revogada) para acabar com os
mendigos ao invés de melhorar políticas
públicas.

​ DIREITO PENAL SIMBÓLICO3


​ É aquele norteado com finalidade meramente aparente, sem produção de resultados efetivos, tendo a
função de conferir uma sensação de proteção da ordem pública aos membros da coletividade. Ensina
Cleber Masson que a função penal simbólica do Direito Penal: manifesta-se, comumente, no direito penal
do terror, que se verifica com a inflação legislativa (Direito Penal de emergência), criando-se
exageradamente figuras penais desnecessárias, ou então com o aumento desproporcional e injustificado
das penas para os casos pontuais (hipertrofia do Direito Penal) (MASSON, 2014, p. 11).

3
Biffe Junior, João Concursos públicos : terminologias e teorias inusitadas / João Biffe Junior, Joaquim Leitão Junior. – Rio de Janeiro:
Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017, pag. 72.

4
​“NOMORREIA” PENAL OU PAN-PENALISMO3
​Proliferação de normas penais como mecanismo de controle social por parte do Poder Público, visando
atender a interesses políticos.

​ DIREITO PENAL SUBTERRÂNEO3


​ é o exercido pelas agências que compõem o sistema punitivo formal do Estado, mas que passam a atuar
de forma arbitrária, à margem da lei, contando, muitas vezes, com a complacência dos demais órgãos que
compõem o sistema punitivo.

​ DIREITO PENAL PARALELO3


​ é exercido por agências que não fazem parte do controle punitivo formal, mas que, da mesma forma,
exercem tal poder.

​ DIREITO PENAL QUÂNTICO3


​ é aquele que não se contenta com a mera relação de causalidade (relação física de causa e efeito),
contendo, ainda, elementos indeterminados, tais como o nexo normativo e a tipicidade material, a serem
aferidos pelos operadores do direito diante da análise do caso subjacente aos autos.

​ DIREITO DE INTERVENÇÃO (Winfried Hassemer)4


​ situado entre o direito penal e o direito administrativo, parte da premissa de que o Direito Penal não deve
ser alargado, mas utilizado apenas na proteção de bens jurídicos individuais (vida, integridade física,
liberdade individual, honra, propriedade etc) e daquelas que causem perigo concreto. Assim, infrações
difusas ou coletivas, causadoras de perigo abstrato, seriam tuteladas pela Administração Pública.

​ DIREITO PENAL COMO PROTEÇÃO DE CONTEXTOS DA VIDA EM SOCIEDADE (Günther Stratenwerth)4


​ o Direito Penal deve-se voltar à proteção dos interesses difusos, da coletividade, protegendo-se futuras
gerações, devendo-se relegar ao segundo plano a proteção de interesses meramente individuais.

​ DIREITO PENAL GARANTISTA (Luigi Ferrajoli)5


​ Segundo André Estefam, prega um modelo de Direito Penal voltado ao respeito intransigível aos direitos
fundamentais eà Constituição. Assevera que “o garantismo penal resulta num Direito Penal Mínimo, em
que a Constituição figura como limite intransponível à atuação punitiva do Estado”.

AXIOMA6 PRINCÍPIO CORRELATO

Nulla poena sine crimine; Princípio da retributividade ou da consequencialidade da


pena em relação ao delito

Nullum crimen sine lege; Princípio da legalidade

4
SANCHES (2020), pág. 36.
5
Estefam, André ; Gonçalves, Victor Eduardo Rios Direito penal esquematizado® – parte geral / André Estefam; Victor Eduardo Rios
Gonçalves. – Coleção esquematizado ® / coordenador Pedro Lenza - 9. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2020. pág. 83
6
SANCHES (2020), pág. 39

5
Nulla lex (poenalis) sine necessitate; Princípio da necessidade ou da economia do direito penal

Nulla necessitas sine injuria; Princípio da lesividade ou da ofensividade do evento

Nulla injuria sine actione; Princípio da materialidade ou da exterioridade da ação

Nulla actio sine culpa; Princípio da culpabilidade

Nulla culpa sine judicio; Princípio da jurisdicionariedade

Nullum judicium sine accusatione; Princípio acusatório

Nulla accusatio sine probatione; Princípio do ônus da prova ou da verificação

Nulla probatio sine defensione. Princípio da defesa ou da falseabilidade

LIMITES DO DIREITO DE PUNIR ESTATAL

​ QUANTO AO MODO: O direito de punir deve respeitar direitos e garantias fundamentais.

​ QUANTO AO ESPAÇO: Em regra, aplica-se a lei penal aos fatos ocorridos no território.

​ QUANTO AO TEMPO: O direito de punir não é eterno (exemplo: prescrição).

O direito de punir é monopólio do Estado, não podendo ser exercido por particulares em detrimento do órgão
estatal, sob pena de exercício arbitrário das próprias razões.

Mas, CUIDADO, Há um caso que o Estado permite a punição privada paralela à punição estatal. É o caso do
Estatuto do índio (Lei nº 6.001/73):

Art. 57. Será tolerada a aplicação, pelos grupos tribais, de acordo com as instituições
próprias, de sanções penais ou disciplinares contra os seus membros, desde que não
revistam caráter cruel ou infamante, proibida em qualquer caso a pena de morte.

"PRIVATIZAÇÁO" DO DIREITO PENAL7


Segundo Sanches, a expressão utilizada para destacar o papel da vítima no âmbito criminal.
No sistema jurídico brasileiro, temos a seguinte evolução quanto ao tema:
- Art. 74 (composição civil dos danos) e art. 89 (suspensão condicionar do processo) da Lei 9099/95.
- Art. 45, §1° do CP, que criou como pena alternativa à prisão a prestação pecuniária, tendo como
destinatários a vítima ou seus descendentes.
- Art. 387, IV do CPP, autorizou juiz a fixa quantum mínimo indenizatório para reparar os danos causados pela
infração penal.

7
SANCHES (2020), pág.39/41.

6
- art. 4° e ss da Lei 12850/13, que se refere à colaboração premiada.
- art. 28-A do CPP, que se refere ao acordo de não-persecução penal.

​JUSTIÇA CONSENSUAL8
​Forma de resolução de conflitos com a peculiaridade de ao fim o conflito ser resolvido pela concordância entre os
envolvidos quanto ao desfecho.
​MODELO REPARADOR: tem o objetivo de reparar os danos e pode ser observado na conciliação
​MODELO PACIFICADOR OU RESTAURATIVO: é a chamada justiça reparativa, além da reparação do dano o
objetivo é a pacificação interpessoal e social do conflito.
​MODELO DE JUSTIÇA NEGOCIADA: tem como base a confissão do delito e a realização de entre a acusação e
defesa para definir a penalidade a ser aplicada
​MODELO DE JUSTIÇA COLABORATIVA: cujo o alvo é obter a colaboração do acusado, materializado pela
colaboração premiada.

Segundo Sanches, a Justiça Consensual caracteriza-se como uma nova perspectiva na solução do conflito
instaurado pela violação da norma penal, pondo em evidência a reparação como uma das funções da pena
(“terceira via”).

VELOCIDADES DO DIREITO PENAL (Jesús-MarIa Silva Sánchez)


Trabalha com o TEMPO que o Estado leva para punir o autor do fato. Assim, quanto mais grave, mais lento.
​ ª VELOCIDADE: crimes mais graves punidos com pena privativa de liberdade. Assim, o procedimento será mais
1
demorado e observando-se todos os direitos e garantias. (exemplo: crime doloso contra a vida)

​ ª VELOCIDADE: crimes menos graves com a possibilidade de aplicação de penas alternativas. Assim, o
2
procedimento pode ser mais célere, flexibilizando os direitos e garantias. (exemplo: crimes de menor potencial
ofensivo e procedimento sumaríssimo)

​ ª VELOCIDADE: pena privativa de liberdade em decorrência de crimes graves, mas com procedimento
3
flexibilizado. Um exemplo desta velocidade está presente na lei de organizações criminosas. O DP do Inimigo é
uma das manifestações da 3a V.

DIREITO PENAL DO INIMIGO9: Segundo Guilherme de Souza Nucci (NUCCI, 2014, Capítulo XXI). “é um
modelo de direito penal, cuja finalidade é detectar e separar, dentre os cidadãos, aqueles que devem
ser considerados os inimigos (terroristas, autores de crimes sexuais violentos, criminosos organizados,
dentre outros). Estes não merecem do Estado as mesmas garantias humanas fundamentais, pois,
como regra, não respeitam os direitos individuais dos membros da sociedade civilizada. As punições
devem ser severas e, se necessário, desproporcionais à gravidade do delito. O mais importante é
segregar aqueles que estão em constante guerra contra o Estado.”

​4ª VELOCIDADE: ligada ao Direito Penal Internacional, mirando suas normas proibitivas contra aqueles que
exercem (ou exerceram) chefia de Estados e, nessa condição, violam (ou violaram) de forma grave tratados

8
https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-processual-penal/justica-penal-consensual-e-o-processo-penal-brasileiro/
9
Biffe Junior, João Concursos públicos : terminologias e teorias inusitadas / João Biffe Junior, Joaquim Leitão Junior. – Rio de Janeiro:
Forense; São Paulo: MÉTODO, 2017, pág. 120.

7
internacionais de tutela de direitos humanos. Para tanto, foi criado, pelo Estatuto de Roma, o Tribunal Penal
Internacional. Trata-se da primeira instituição global permanente de justiça penal internacional, com competência
para processar e julgar crimes que violam as obrigações essenciais para a manutenção da paz e da segurança da
sociedade internacional em seu conjunto.

FONTES DO DIREITO PENAL


Conforme Rogério Sanches, é o lugar de onde vem e como se exterioriza o Direito Penal.

​ MATERIAL: É a fonte de produção da norma. Assim, compete à União Federal legislar em caráter privativo
sobre Direito Penal, com a ressalva consignada no §1º do Art. 22, CF, que diz ser possível autorizar o Estado
a legislar sobre questões específicas.

​ FORMAL: Instrumento de exteriorização do Direito Penal, o modo como as regras são reveladas; fontes de
conhecimento.

DOUTRINA CLÁSSICA DOUTRINA MODERNA

Imediata: LEI Imediatas: Lei, CF, TIDH, Jurisprudência,


Princípios, Atos Administrativos

Mediatas: Costumes e PGD Mediata: Doutrina

​Imediatas (Doutrina Moderna)


a) LEI: única fonte formal capaz de criar crime e cominar penas.
b) CONSTITUIÇÃO FEDERAL: não pode criar crime ou cominar penas, mas é fonte formal
imediata, prevendo, p.ex., a humanização das penas. A CF serve de limite ao legislador ordinário
e de fundamento do Direito Penal.

Se a CF é superior a lei, porque ela não pode criar infrações penais ou cominar sanções?
Em razão do seu processo rígido de alteração (2C, 2T, 3/5). Muito embora não possa criar infrações
penais ou cominar sanções, a CF nos revela o Direito Penal estabelecendo patamares mínimos
(mandado constitucional de criminalização) abaixo dos quais a intervenção penal não se
pode reduzir.

MANDADO CONSTITUCIONAL DE CRIMINALIZAÇÃO: Estabelece patamares a serem


observados pelo legislador no momento de criar crime e cominar pena. O legislador fica vinculado
à determinação constitucional.
Dos mandados constitucionais de criminalização decorre a diminuição da liberdade de
conformação do legislador e de interpretação do julgador, no sentido de evitarem normas ou
interpretações que ensejam insuficiente promoção dos deveres de proteção do Estado, justamente
em razão do princípio da proporcionalidade, em sua vertente do garantismo positivo (proibição da
proteção deficiente).

8
EXEMPLOS DE MANDADOS CONSTITUCIONAIS DE CRIMINALIZAÇÃO EXPLÍCITOS:
“Art. 5º, XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades
fundamentais.”
“Art. 5º, XLII, CF - A prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à
pena de reclusão (patamares mínimos), nos termos da lei;” (a lei é quem cria o crime de
racismo e comina a sua pena).
“Art. 5º, XLIII, CF - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a
prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos
como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que,
podendo evitá-los, se omitirem.”
“Art. 5º, XLIV, CF - Constitui crime inafiançável e imprescritível (patamares mínimos) a ação de
grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático;”

MANDADOS CONSTITUCIONAIS DE CRIMINALIZAÇÃO IMPLÍCITOS


De acordo com a doutrina majoritária, existem mandados implícitos com a finalidade de
evitar a intervenção deficiente do Estado (são imperativos de tutela). Decorre do nosso
sistema jurídico de proteção dos direitos humanos. Ex: O legislador não poderia retirar o crime
de homicídio do ordenamento jurídico, porque a CF/88 garante o direito à vida.

MANDADOS CONSTITUCIONAIS DE CRIMINALIZAÇÃO E O STF

1.1. Mandados constitucionais de criminalização: A Constituição de 1988 contém


significativo elenco de normas que, em princípio, não outorgam direitos, mas que,
antes, determinam a criminalização de condutas (CF, art. 5º, XLI, XLII, XLIII, XLIV; art.
7º, X; art. 227, § 4º). Em todas essas é possível identificar um mandado de
criminalização expresso, tendo em vista os bens e valores envolvidos. Os direitos
fundamentais não podem ser considerados apenas proibições de intervenção
(Eingriffsverbote), expressando também um postulado de proteção (Schutzgebote).
Pode-se dizer que os direitos fundamentais expressam não apenas uma proibição do
excesso (Übermassverbote), como também podem ser traduzidos como proibições de
proteção insuficiente ou imperativos de tutela (Untermassverbote). Os mandados
constitucionais de criminalização, portanto, impõem ao legislador, para seu devido
cumprimento, o dever de observância do princípio da proporcionalidade como proibição
de excesso e como proibição de proteção insuficiente. (STF, HC 102087)

C) TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS: Assim como a CF, devem funcionar


como limite e fundamento para o legislador no processo de criminalização.
Podem ingressar no nosso ordenamento jurídico de 2 formas:
- Status constitucional – TIDH aprovado com quórum de EC.
- Status supralegal – quórum comum.

9
Segundo ressalta Sanches, os tratados e convenções não são instrumentos hábeis à criação de
crimes ou cominação de penas para o direito interno (apenas para o direito internacional).10

Mandados convencionais de criminalização: Segundo Rogério Sanches, os tratados


estabelecem de forma explícita a obrigação de tipificar penalmente, no ordenamento jurídico
interno, determinadas condutas, como ocorre com a tortura, a pornografia infantil, a violência
contra a mulher, o genocídio e o crime organizado.

D) JURISPRUDÊNCIA: Revela DP, podendo, inclusive, ter caráter vinculante (SV).

E) PRINCÍPIOS: Não raras às vezes, os Tribunais absolvem ou reduzem penas com fundamento em
princípios. Ex.: princípio da insignificância.

F) ATOS ADMINISTRATIVOS: É fonte formal imediata quando complementam norma penal em


branco. Ex.: lei de tráfico – a definição de drogas está na Portaria 348 do Ministério da Saúde
(ANVISA).

​ Mediata (Doutrina Moderna)


a) DOUTRINA

​ INFORMAL
A) COSTUMES: Segundo Sanches11, “são comportamentos uniformes e constantes
(elemento objetivo) pela convicção de sua obrigatoriedade (elemento subjetivo).”
Costumes criam infrações penais? Não. Vedado costume incriminador.
Costumes revogam infrações penais? Não. Somente lei pode revogar outra lei.

INTERPRETAÇÃO DO DIREITO PENAL


​QUANTO AO SUJEITO
​Cuida-se do sujeito ou órgão que realiza a interpretação, classificando-se em autêntica, judicial e doutrinária.
a) Autêntica ou legislativa: Cleber Masson a define como sendo aquela de que se incumbe o
próprio legislador, quando edita uma lei com o propósito de esclarecer o alcance e o significado de outra. É
chamada de interpretativa e tem natureza cogente, obrigatória, dela não podendo se afastar o
intérprete12. Cuidado, pois ela possui eficácia retroativa ainda que seja mais gravosa ao réu;

b) Doutrinária ou científica: é a interpretação exercida pelos doutrinadores, escritores e


articulistas.
ATENÇÃO: A Exposição de Motivos do Código Penal deve ser encarada como interpretação
doutrinária, e não autêntica, por não fazer parte da estrutura da lei;

10
SANCHES (2020), pag. 59.
11
SANCHES (2020), pag. 560
12
MASSON, Cleber. Direito Penal: parte geral (arts. 1º a 120), V.1. 14ª ed. Rio de Janeiro: Forense, São Paulo: MÉTODO, 2020, p.103

10
c) Judicial ou jurisprudencial: Realizada pelos Tribunais. Observa Cleber Masson13 que, em regra,
não tem força obrigatória, salvo em três casos: (a) na situação concreta, em virtude da formação da coisa
julgada material; (b) quando constituir súmula vinculante (CP, art. 103 A); e (c) nas demais hipóteses
previstas no art. 927 do Código de Processo Civil.

​QUANTO AOS MEIOS OU MÉTODOS


a) Gramatical: Busca o sentido literal das palavras. É a mais precária, em face da ausência de técnica
científica;
b) Lógica ou teleológica: Busca a finalidade da lei. O que buscou o legislador ao
prever determinada conduta. É mais profunda e, consequentemente, merecedora de maior grau de
confiabilidade.

​QUANTO AO RESULTADO (IMPORTANTE)


a) Declarativa: A letra da lei corresponde exatamente àquilo que o legislador quis dizer, nada
suprimindo, nada adicionando. O resultado que se alcança é o que está escrito no texto. O legislador não
precisou criar alcances à norma.

b) Restritiva: Aquela que reduz o alcance das palavras da Lei para corresponder à vontade do texto.
É preciso reduzir o alcance das palavras da lei. Legislador disse mais do que queria.

c) Extensiva: Amplia-se o alcance para que corresponda à vontade do texto. o legislador disse
menos do que queria. Logo, o alcance da norma será ampliado.

​INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA: Esta interpretação é INTRALEGEM (existe lei a ser aplicada). Nela, o
legislador dá exemplos e, geralmente, encerra de forma genérica permitindo ao juiz encontrar outros
casos.
É o que acontece com o disposto no Art. 121, §2º, I onde o legislador diz que é qualificado o homicídio
cometido mediante paga ou promessa de recompensa, OU POR OUTRO MOTIVO TORPE. Perceba que o
legislador dá exemplos de como pode o crime ser praticado e encerra o tipo de forma aberta para que
o magistrado possa, no caso concreto, aferir outra hipótese não prevista em lei, mas que se adéque no
dispositivo.

​INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA: Segundo Cleber Masson, é a que se destina a corrigir uma fórmula legal
excessivamente estreita. A lei disse menos do que desejava (minus dixit quam voluit). Amplia-se o texto
da lei, para amoldá-lo à sua efetiva vontade14. Afirma o mencionado autor:

Por se tratar de mera atividade interpretativa, buscando o efetivo alcance da lei, é


possível a sua utilização até mesmo em relação àquelas de natureza incriminadora.

13
MASSON, Cleber. Direito Penal: parte geral (arts. 1º a 120), V.1. 14ª ed. Rio de Janeiro: Forense, São Paulo: MÉTODO, 2020, p.103
14
MASSON, Direito Penal, 2020, p. 104

11
Exemplo disso é o art. 159 do Código Penal, legalmente definido como extorsão mediante
sequestro, que também abrange a extorsão mediante cárcere privado.
É a posição consagrada em sede doutrinária. Deve ser utilizada em concursos que
esperam do candidato uma posição mais rigorosa, tais como do Ministério Público,
Polícia Civil e Polícia Federal (MASSON, Direito Penal, 2020, p. 104).

Admite-se interpretação extensiva contra o réu?


1ª CORRENTE: É indiferente se a interpretação extensiva beneficia ou prejudica o réu, pois a tarefa
do intérprete é evitar injustiças. Nesse ponto, a CF/88 não proíbe, sequer implicitamente, a
interpretação extensiva contra o réu.

2ª CORRENTE: É defendida por Luiz Flávio Gomes, socorrendo-se do princípio do in dubio pro reo,
não admite este tipo de interpretação (na dúvida, o juiz deve interpretar em seu benefício).
Estatuto de Roma (Art. 22.2): “em caso de ambiguidade, a norma será interpretada a favor da
pessoa objeto do inquérito, acusada ou condenada”.

3ª CORRENTE: Defendida por ZAFFARONI. Em regra, não cabe esta interpretação, SALVO quando
interpretação diversa resultar num escândalo por sua notória irracionalidade.

​ANALOGIA: é forma de INTEGRAÇÃO do ordenamento jurídico e não de interpretação. Pressupõe-se


lacuna normativa, aplicando-se LEI DIVERSA.
São pressupostos de aplicação da analogia no direito penal:
a) Certeza de que sua aplicação será favorável ao réu (in bonan partem); e
b) Existência de uma efetiva lacuna a ser preenchida (omissão involuntária)

O exemplo claro é o do Art. 181, I do CP, no qual temos uma omissão involuntária da figura do
companheiro, cabendo a aplicação da analogia:
Art. 181. É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em
prejuízo:
I – do cônjuge, na constância da sociedade conjugal.

ATENÇÃO: Não cabe analogia na omissão voluntária do legislador (silêncio eloquente).

PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO PENAL15


​ PRINCÍPIOS RELACIONADOS COM A MISSÃO DO DIREITO PENAL
1. Princípio da EXCLUSIVA PROTEÇÃO DOS BENS JURÍDICOS: O direito penal deve servir apenas
para proteger bens jurídicos relevantes, garantir a harmônica convivência em sociedade.

15
SANCHES (2020), págs. 72/124

12
Conforme Rogério Sanches, bem jurídico é um bem material ou imaterial de titularidade
individual ou metaindividual, essencial para a coexistência e o desenvolvimento do
homem em sociedade.
Percebe-se uma EXPANSÃO DA TUTELA PENAL para abranger bens jurídicos de caráter
metaindividual, difuso, coletivo, ensejando o que a doutrina tem chamado de espiritualização /
desmaterialização / dinamização / liquefação do bem jurídico. Como exemplo temos o direito penal
tutelando o meio ambiente.
Como bem lembra Cleber Masson:

Direito Penal se destina à tutela de bens jurídicos, não podendo ser utilizado para
resguardar questões de ordem moral, ética, ideológica, religiosa, política ou semelhantes.
Com efeito, a função primordial do Direito Penal é a proteção de bens jurídicos
fundamentais para a preservação e o desenvolvimento do indivíduo e da sociedade
(MASSON, 2020, p.51).

Como já decidido pelo Supremo Tribunal Federal:

Pelo que é possível extrair do ordenamento jurídico brasileiro a premissa de que toda
conduta penalmente típica só é penalmente típica porque significante, de alguma
forma, para a sociedade e a própria vítima. É falar: em tema de política criminal, a
Constituição Federal pressupõe lesão significante a interesses e valores (os chamados
“bens jurídicos”) por ela avaliados como dignos de proteção normativa (HC 111.017/RS,
rei. Min. Ayres Britto, 2.a Turma, j. 07.02.2012).

CUIDADO: O princípio da exclusiva proteção do bem jurídico não se confunde com o princípio da
alteridade, que veda a incriminação de conduta que não ofende nenhum bem jurídico.

2. Princípio da INTERVENÇÃO MÍNIMA: O direito penal só deve ser aplicado quando estritamente
necessário, de modo que sua intervenção fica condicionada ao fracasso das demais esferas de
controle (caráter subsidiário), observando somente os casos de relevante lesão ou perigo de lesão
ao bem jurídico tutelado (caráter fragmentário).
Segundo o Supremo Tribunal Federal:

O sistema jurídico há de considerar a relevantíssima circunstância de que a privação da


liberdade e a restrição de direitos do indivíduo somente se justificam quando
estritamente necessárias à própria proteção das pessoas, da sociedade e de outros
bens jurídicos que lhes sejam essenciais, notadamente naqueles casos em que os
valores penalmente tutelados se exponham a dano, efetivo ou potencial, impregnado de
significativa lesividade. O direito penal não se deve ocupar de condutas que produzam
resultado, cujo desvalor – por não importar em lesão significativa a bens jurídicos
relevantes - não represente, por isso mesmo, prejuízo importante, seja ao titular do
bem jurídico tutelado, seja à integridade da própria ordem social (HC 92.463/RS, rei.
Min. Celso de Mello, 2ª Turma, j. 16.10.2007).

13
​ PRINCÍPIO DA FRAGMENTARIEDADE (ou caráter fragmentário do Direito Penal): estabelece
que nem todos os ilícitos configuram infrações penais, mas apenas os que atentam contra
valores fundamentais para a manutenção e o progresso do ser humano e da sociedade. Em
razão de seu caráter fragmentário, o Direito Penal é a última etapa de proteção do bem jurídico.
Deve ser utilizado no plano abstrato, para o fim de permitir a criação de tipos penais somente
quando os demais ramos do Direito tiverem falhado na tarefa de proteção de um bem jurídico.
Refere-se, assim, à atividade legislativa.

FRAGMENTARIEDADE ÀS AVESSAS: situações em que um comportamento inicialmente típico


deixa de interessar ao Direito Penal, sem prejuízo da sua tutela pelos demais ramos do
Direito.

ATENÇÃO: O princípio da insignificância é desdobramento lógico da fragmentariedade.

​ PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE: a atuação do Direito Penal é cabível unicamente quando os


outros ramos do Direito e os demais meios estatais de controle social tiverem se revelado
impotentes para o controle da ordem pública. Assim, o Direito Penal funciona como um
executor de reserva (ultima ratio), entrando em cena somente quando outros meios estatais
de proteção mais brandos, e, portanto, menos invasivos da liberdade individual não forem
suficientes para a proteção do bem jurídico tutelado. Projeta-se no plano concreto, isto é, em
sua atuação prática o Direito Penal somente se legitima quando os demais meios disponíveis já
tiverem sido empregados, sem sucesso, para proteção do bem jurídico. Guarda relação,
portanto, com a tarefa de aplicação da lei penal.

​ PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA: O princípio da insignificância nasce com Roxin, em 1964, em


razão de um vislumbrar de uma proporcionalidade entre a conduta e a pena comunidade para
uma conduta.
Este princípio, como aponta Masson (MASSON, 2020, p. 25), está fundamentado em valores de
política criminal e destina-se a realizar uma interpretação restritiva da lei penal.
Para o Supremo Tribunal Federal:

O princípio da insignificância é vetor interpretativo do tipo penal, tendo por escopo


restringir a qualificação de condutas que se traduzam em ínfima lesão ao bem
jurídico nele (tipo penal) albergado. Tal forma de interpretação insere se num quadro
de válida medida de política criminal, visando, para além da descarcerização, ao
descongestionamento da Justiça Penal, que deve ocupar-se apenas das infrações tidas
por socialmente mais graves. Numa visão humanitária do Direito Penal, então, é de se
prestigiar esse princípio da tolerância, que, se bem aplicado, não chega a estimular a
ideia de impunidade. Ao tempo que se verificam patentes a necessidade e a utilidade do
princípio da insignificância, é imprescindível que aplicação se dê de maneira criteriosa,
contribuindo sempre tendo em conta a realidade brasileira, para evitar que a atuação
estatal vá além dos limites do razoável na proteção do interesse público (HC 104.787/RJ,
rei Min. Ayres Britto, 2ª Turma, j. 26.10.2010)

14
NATUREZA JURÍDICA: causa de exclusão da tipicidade.
Conforme o Supremo Tribunal Federal:

O princípio da insignificância qualifica-se como fator de descaracterização material da


tipicidade penal. O princípio da insignificância - que deve ser analisado em conexão com
os postulados da fragmentariedade e da intervenção mínima do Estado em matéria penal
- tem o sentido de excluir ou de afastar a própria tipicidade penal, examinada na
perspectiva de seu caráter material (RHC 122.464/BA, rei. Min. Celso de Mello, 2.3 Turma,
j. 10.06.2014)

REQUISITOS DA INSIGNIFICÂNCIA
​REQUISITOS OBJETIVOS (STF):
a) mínima ofensividade da conduta;
b) ausência de periculosidade social da ação;
c) reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; e
d) inexpressividade da lesão jurídica.

Para a incidência do princípio da insignificância, devem ser relevados o valor do objeto do


crime e os aspectos objetivos do fato, tais como, a mínima ofensividade da conduta do
agente, a ausência de periculosidade social da ação, o reduzido grau de reprovabilidade
do comportamento e a inexpressividade da lesão jurídica causada (RHC 118.972/MG, rei.
Min. Gilmar Mendes, rei. p/ acórdão Min. Cármen Lúcia, 2.a Turma, j. 03.06.2014).

​REQUISITOS SUBJETIVOS: dizem respeito ao agente ou à vítima do fato.


a) Condições pessoais do agente:
​ REINCIDENTE: A reincidência não impede, por si só, que o juiz da causa reconheça a
insignificância penal da conduta, à luz dos elementos do caso concreto. Apesar disso,
na prática, observa-se que, na maioria dos casos, o STF e o STJ negam a aplicação do
princípio da insignificância caso o réu seja reincidente ou já responda a outros
inquéritos ou ações penais. De igual modo, nega o benefício em situações de furto
qualificado. STF. Plenário. HC 123108/MG, HC 123533/SP e HC 123734/MG, Rel. Min.
Roberto Barroso, julgados em 3/8/2015 (Info 793).

​ CRIMINOSO HABITUAL: Conforme Cleber Masson (MASSON, 2020, p. 28), criminoso


habitual é aquele que faz da prática de delitos o seu meio de vida. A ele não se
permite a incidência do princípio da insignificância, pois a lei penal seria inócua se
tolerada a reiteração do mesmo crime, seguidas vezes.

Para se afirmar que a insignificância pode conduzir à atipicidade é indispensável,


portanto, averiguar a adequação da conduta do agente em seu sentido social amplo,
a fim de apurar se o fato imputado, que é formalmente típico, tem ou não relevância
penal. Esse contexto social ampliado certamente comporta, também, juízo sobre a

15
contumácia da conduta do agente. Não se pode considerar atípica, por
irrelevante, a conduta formalmente típica, de delito contra o patrimônio,
praticada por paciente que é costumeiro na prática de crimes da espécie (RHC
118.014/ES, rel. Min. Gilmar Mendes, rel. p/ acórdão Min. Teori Zavascki, 2ª Turma, j.
12.11.2013).

Aplicação excepcional em caso de criminoso habitual


A Segunda Turma deu provimento a agravo regimental para conceder a ordem de
“habeas corpus” a fim de absolver paciente da acusação de furto qualificado [CP, art.
155, § 4°, IV] em face da aplicação do princípio da insignificância. Para o colegiado,
como regra, a habitualidade delitiva específica é um parâmetro que afasta a
análise do valor do bem jurídico tutelado para fins de aplicação do princípio da
bagatela. Excepcionalmente, no entanto, as peculiaridades do caso concreto
podem justificar a exclusão dessa restrição, com base na ideia da
proporcionalidade em sentido concreto. Essa é justamente a situação dos autos, de
furto de um galo, quatro galinhas caipiras, uma galinha garnisé e três quilos de feijão,
bens avaliados em pouco mais de cem reais. O valor dos bens é inexpressivo e não
houve emprego de violência. Enfim, é caso de mínima ofensividade, ausência de
periculosidade social, reduzido grau de reprovabilidade e inexpressividade da lesão
jurídica. Mesmo que conste em desfavor do paciente outra ação penal instaurada por
igual conduta, ainda em trâmite, a hipótese é de típico crime famélico. A
excepcionalidade também se justifica por se tratar de hipossuficiente. Não é razoável
que o Direito Penal e todo o aparelho do Estado-polícia e do Estado-juiz movimente-se
no sentido de atribuir relevância a estas situações (STF, HC 141.440 AgR/MG, rei. Min.
Días Toffoli, 2ª Turma, j. 14.08.2018, noticiado no Informativo 911).

A jurisprudência desta Quinta Turma reconhece que o princípio da insignificância não


tem aplicabilidade em casos de reiteração da conduta delitiva, salvo
excepcionalmente, quando as instâncias ordinárias entenderem ser tal medida
recomendável diante das circunstâncias concretas do caso. STJ. 5ª Turma. AgRg no
AREsp 1517800/TO, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 20/02/2020.

ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL: MASSON nos diz que no tocante ao acordo
de não persecução penal, cumpre destacar que a conduta criminal habitual,
reiterada ou profissional, não impede a celebração da avença entre o Ministério
Público e o investigado, acompanhado pelo seu defensor, se as infrações penais
pretéritas forem insignificantes (MASSON, 2020, p. 29).

b) Condições da vítima: Segundo Masson (MASSON, 2020, p. 30), a análise da extensão


do dano causado ao ofendido é imprescindível para aquilatar a pertinência do princípio da
insignificância. O valor sentimental do bem para a vítima impede a utilização da
insignificância, ainda que o objeto material do crime não apresente relevante aspecto
econômico.

16
O STJ já afastou a aplicação do princípio no caso de furto de uma máquina
de cortar cerâmica que a vítima utilizava para exercer o seu trabalho (HC
241.713/DF).

Já do ângulo da vítima, o exame da relevância ou irrelevância penal deve


atentar para o seu peculiarmente reduzido sentimento de perda por
efeito da conduta do agente, a ponto de não experimentar revoltante
sensação de impunidade ante a não incidência da norma penal que, a
princípio, lhe favorecia (STF, HC 111.017/RS, rei. Min. Ayres Britto, 2.a
Turma, j. 07.02.2012)

APLICABILIDADE:
​ O princípio da insignificância é aplicável não só aos crimes patrimoniais, mas a qualquer
delito que seja compatível.

​ O STF não admite a incidência do princípio da insignificância no furto qualificado (HC


123.108/MG, rel. Min. Roberto Barroso, Plenário, j. 03.08.2015, noticiado no informativo
793). Já para o STJ, “A despeito da presença de qualificadora no crime de furto possa, à
primeira vista, impedir o reconhecimento da atipicidade material da conduta, a análise
conjunta das circunstâncias pode demonstrar a ausência de lesividade do fato
imputado, recomendando a aplicação do princípio da insignificância. STJ. 5ª Turma. HC
553.872-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 11/02/2020 (Info 665).”16

​ É possível a aplicação do princípio da insignificância em face de réu reincidente e


realizado no período noturno. Na espécie, trata-se de furto de R$ 4,15 em moedas,
uma garrafa pequena de refrigerante, duas garrafas de 600 ml de cerveja e uma de 1
litro de pinga, tudo avaliado em R$ 29,15. STF. 2ª Turma. HC 181389/SP, Rel. Min. Gilmar
Mendes, julgado em 14/04/2020 (Info 973)

furto de pequeno valor Furto insignificante


(art. 155, § 2º)17

Pequeno valor do bem subtraído Valor insignificante do bem subtraído

Se o bem furtado é de até 1 (um) Não há um parâmetro objetivo, mas,


salário-mínimo por óbvio, deve ser menor que 1 (um)
salário-mínimo.

Caracteriza furto privilegiado (se o Exclui o crime.


criminoso for primário).

16
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Em regra, não se aplica o princípio da insignificância ao furto qualificado, salvo quando presentes
circunstâncias excepcionais que recomendam a medida. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/ab4c389364232588a6680ad92ec170c7>
17
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. É possível aplicar o princípio da insignificância para furto de bem avaliado em R$ 20,00 mesmo que
o agente tenha antecedentes criminais por crimes patrimoniais. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/31c23973a376c90940f5f5ff2118b5d2>.

17
Se a coisa furtada é de pequeno valor e Se o valor da coisa furtada é
o condenado é primário, o juiz pode insignificante, o juiz irá absolver o réu
substituir a pena de reclusão pela de por falta de tipicidade material.
detenção, diminuí-la de 1/3 a 2/3, ou
aplicar somente a pena de multa.

Ex: furto de um relógio que custa R$ Ex: furto de um relógio que custa R$
800,00. 80,00.

​ Há delitos que são incompatíveis com o princípio da insignificância como o exemplo dos
hediondos e equiparados, do racismo e na ação de grupos armados.

​ NÃO SE APLICA EM CRIMES COM VIOLÊNCIA OU GRAVE AMEAÇA À PESSOA: Não há


como aplicar, ao crime de roubo, o princípio da insignificância, pois, tratando-se de
delito complexo, em que há ofensa a bens jurídicos diversos (o patrimônio e a
integridade da pessoa), é inviável a afirmação do desinteresse estatal à sua repressão
(HC 60.185/MG, rel. Min. Laurita Vaz, 5ª Turma, j. 03.04.2007)

​ CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA18

STJ STF

Não admite Admite

Súmula 599- STJ: “O princípio da No STF, há julgados admitindo a


insignificância é inaplicável aos aplicação do princípio mesmo em
crimes contra a Administração outras hipóteses além do descaminho,
Pública”. como foi o caso do HC 107370, Rel. Min.
Gilmar Mendes, julgado em 26/04/2011
e do HC 112388, Rel. p/ Acórdão Min.
Cezar Peluso, julgado em 21/08/2012.

Exceção: A jurisprudência é pacífica em Segundo o entendimento que prevalece


admitir a aplicação do princípio da no STF a prática de crime contra a
insignificância ao crime de Administração Pública, por si só, não
descaminho (art. 334 do CP), que, inviabiliza a aplicação do princípio da
topograficamente, está inserido no insignificância, devendo haver uma
Título XI do Código Penal, que trata análise do caso concreto para se
sobre os crimes contra a Administração examinar se incide ou não o referido
Pública postulado.

​ CRIMES PREVISTOS NA LEI 11.343/2006 - LEI DE DROGAS

18
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. In(aplicabilidade) do princípio da insignificância aos crimes contra a Administração Públicaa.
Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/cc638784cf213986ec75983a4aa08cdb>

18
PORTE DE DROGA PARA CONSUMO PESSOAL19

STJ STF

Não é possível aplicar o princípio da Possui um precedente isolado, da 1ª


insignificância . Turma, aplicando o princípio: HC
O crime de posse de drogas para 110475 , Rel. Min. Dias Toffoli, julgado
consumo pessoal (art. 28 da Lei nº em 14/02/2012.
11.343/06) é de perigo presumido ou
abstrato e a pequena quantidade de “O sistema jurídico há de considerar a
droga faz parte da própria essência do relevantíssima circunstância de que a
delito em questão, não lhe sendo privação da liberdade e a restrição de
aplicável o princípio da insignificância direitos do indivíduo somente se
(STJ. 6ª Turma. RHC 35920 -DF, Rel. Min. justificam quando estritamente
Rogerio Schietti Cruz, julgado em necessárias à própria proteção das
20/5/2014. Info 541). pessoas, da sociedade e de outros bens
jurídicos que lhes sejam essenciais,
notadamente naqueles casos em que
os valores penalmente tutelados se
exponham a dano, efetivo ou potencial,
impregnado de significativa lesividade.
O direito penal não se deve ocupar de
condutas que produzam resultado cujo
desvalor - por não importar em lesão
significativa a bens jurídicos relevantes
- não represente, por isso mesmo,
prejuízo importante, seja ao titular do
bem jurídico tutelado, seja à
integridade da própria ordem social ”

TRÁFICO DE DROGAS20

Não se aplica ao tráfico de drogas, visto se tratar de crime de perigo abstrato ou


presumido, sendo, portanto, irrelevante a quantidade de droga apreendida. STJ.
5ª Turma. HC 318936/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 27/10/2015. STJ. 6ª
Turma. EDcl-HC 463.656/SP , Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 24/10/2018. STF.
1ª Turma. HC 129489, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 17/09/2019.

Observação: a 2ª turma do STF reconheceu, recentemente, a possibilidade de


aplicação do princípio da insignificância ao tráfico de drogas para absolver
mulher flagrada com 1 grama de maconha.
Para o Min. Relator Gilmar Mendes, se não houver uma clara comprovação da
possibilidade de risco de dano da conduta, o comportamento não deverá

19
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Porte de droga para consumo pessoal. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/68b1fbe7f16e4ae3024973f12f3cb313
20
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Tráfico de drogas: é possível a aplicação do princípio da insignificância?. Buscador Dizer o Direito,
Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/522a9ae9a99880d39e5daec35375e999>

19
constituir crime, ainda que o ato praticado se adéque à definição legal. STF. 2ª
Turma. HC 127573/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 11/11/2019.

​ DESCAMINHO E CRIMES TRIBUTÁRIOS FEDERAIS: Entendimento do STF e do STJ - é


insignificante o crime contra a ordem tributária quando o valor do tributo sonegado não
ultrapassa R$ 20.000,00. ATENÇÃO: O limite imposto pelo art. 20 da Lei 10.522/2002,
alcança somente os tributos federais.

​ CONTRABANDO21

REGRA EXCEÇÃO

É inaplicável o princípio da A importação de pequena


insignificância ao crime de quantidade de medicamento
contrabando, uma vez que o bem destinada a uso próprio denota a
juridicamente tutelado vai além do mínima ofensividade da conduta do
mero valor pecuniário do imposto agente, a ausência de periculosidade
elidido, alcançando também o interesse social da ação, o reduzidíssimo grau de
estatal de impedir a entrada e a reprovabilidade do comportamento e a
comercialização de produtos proibidos inexpressividade da lesão jurídica
em território nacional. Trata-se, assim, provocada, tudo a autorizar a
de um delito pluriofensivo. STJ. 5ª excepcional aplicação do princípio da
Turma. AgRg no REsp 1744739/RS, Rel. insignificância. STJ. 5ª Turma. EDcl no
Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em AgRg no REsp 1708371/PR, Rel. Min. Joel
02/10/2018. STJ. 6ª Turma. AgRg no Ilan Paciornik, julgado em 24/04/2018.
REsp 1717048/RS, Rel. Min. Nefi
Cordeiro, julgado em 11/09/2018. STF.
1ª Turma. HC 133958 AgR, Rel. Min. Luiz
Fux, julgado em 06/09/2016.

​ CRIMES AMBIENTAIS: Segundo STF e STJ, em regra é possível aplicar o princípio da


insignificância aos crimes ambientais.
Exceção: O princípio da bagatela não se aplica ao crime previsto no art. 34,
caput c/c parágrafo único, II, da Lei 9.605/98. STF. 1ª Turma. HC 122560/SC,
Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 8/5/2018 (Info 901).

​ CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA: Não se aplica o princípio da insignificância para crimes


contra a fé pública, como é o caso do delito de falsificação de documento público. STF. 2ª
Turma. HC 117638, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 11/03/2014.22

​ CRIMES NO ESTATUTO DO DESARMAMENTO

21
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Contrabando: não se aplica o princípio da insignificância. Buscador Dizer o Direito, Manaus.
Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/36a16a2505369e0c922b6ea7a23a56d2>.
22
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Falsificação de documento público: não se aplica o princípio da insignificância. Buscador Dizer
o Direito, Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/731c83db8d2ff01bdc000083fd3c3740>

20
PORTE E POSSE ILEGAL DE MUNIÇÃO23

REGRA EXCEÇÃO

Não se aplica. Os delitos de posse e de O STF e o STJ, a depender do caso


porte de arma de fogo são crimes de concreto, reconhece a possibilidade de
perigo abstrato de forma que, em aplicação do princípio da insignificância
regra, é irrelevante a quantidade de para o crime de posse ou porte ilegal
munição apreendida. de pouca quantidade de munição
desacompanhada da arma.

Para o STJ, a apreensão de pequena


quantidade de munição,
desacompanhada da arma de fogo,
permite a aplicação do princípio da
insignificância ou bagatela. STJ. 5ª
Turma. AgRg no HC 517.099/MS, Rel.
Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em
06/08/2019.

O STJ, alinhando-se ao STF, tem


entendido pela incidência do princípio
da insignificância aos crimes previstos
na Lei nº 10.826/2003 (Estatuto do
Desarmamento), afastando a tipicidade
material da conduta quando
evidenciada flagrante
desproporcionalidade da resposta
penal. STJ. 6ª Turma. HC 473.334/RJ, Rel.
Min. Nefi Cordeiro, julgado em
21/05/201

TRÁFICO INTERNACIONAL DE ARMA DE FOGO OU MUNIÇÃO24

Mostra-se irrelevante, no caso, cogitar-se da mínima ofensividade da conduta


(em face da quantidade apreendida), ou, também, da ausência de
periculosidade da ação, porque a hipótese é de crime de perigo abstrato, para o
qual não importa o resultado concreto da ação, o que também afasta a
possibilidade de aplicação do princípio da insignificância. STF. 1ª Turma. HC
97777, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 26/10/2010

​RÁDIO PIRATA: Súmula 606-STJ: "Não se aplica o princípio da insignificância a casos de


transmissão clandestina de sinal de internet via radiofrequência, que caracteriza o fato

23
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Posse ou porte de munição de arma de fogoo. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível
em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/d91d1b4d82419de8a614abce9cc0e6d4>.
24
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Tráfico internacional de arma de fogo ou munição: não se aplica o princípio da insignificância.
Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/a26398dca6f47b49876cbaffbc9954f9>

21
típico previsto no art. 183 da Lei 9.472/1997″. Para o STF, é possível, em situações
excepcionais, o reconhecimento do princípio da insignificância desde que a rádio
clandestina opere em baixa frequência, em localidades afastadas dos grandes centros e
em situações nas quais ficou demonstrada a inexistência de lesividade. STF. 2ª Turma.
HC 138134/BA, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 7/2/2017 (Info 853).25

​ATOS INFRACIONAIS: aplica-se. Segundo Sanches (2020, pag. 92/3), “Negar a aplicação
do princípio da insignificância é insistir na pregação da Teoria da Situação Irregular do
Código de Menores de 1979, abolida pela Constituição Federal e pelo Estatuto da Criança
e do Adolescente, que considerava os infantes como meros objetos de interesse.” E
ressalta que “Qualquer interpretação em sentido diverso ofende as premissas que
regem o moderno Direito da Criança e do Adolescente, para o qual deve prevalecer o
Postulado Normativo do Superior Interesse da Criança, sempre amparado aos
Metaprincípios da Proteção Integral e da Prioridade Absoluta.

​VIOLÊNCIA DOMÉSTICA OU FAMILIAR CONTRA A MULHER: Súmula 589-STJ: “É


inaplicável o princípio da insignificância nos crimes ou contravenções penais
praticados contra a mulher no âmbito das relações domésticas”.

​APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA: para o STF e o STJ, não se aplica.

​ESTELIONATO PREVIDENCIÁRIO: para o STF e o STJ, não se aplica.

​ESTELIONATO ENVOLVENDO FGTS: Segundo o STF, não se aplica.

​ESTELIONATO ENVOLVENDO SEGURO-DESEMPREGO: Segundo o STF, não se aplica.

​MOEDA FALSA: STJ não admite a aplicação, visto que o bem violado é a fé pública.

​CRIMES MILITARES: a posição majoritária é no sentido de que não se aplica o princípio


da insignificância aos crimes militares, sob pena de afronta à autoridade, hierarquia e
disciplina, bens jurídicos cuja preservação é importante para o regular funcionamento
das instituições militares. 26

​VIOLAÇÃO DE DIREITO AUTORAL: Segundo o STJ, não se aplica.

​FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO: Segundo o STF, não se aplica.

25
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Manter rádio comunitária clandestina. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/d6723e7cd6735df68d1ce4c704c29a04>
26
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Crimes militares. Aplica-se o princípio da insignificância?. Buscador Dizer o Direito, Manaus.
Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/03f544613917945245041ea1581df0c2>

22
​LESÃO CORPORA: A violência física é incompatível com os vetores da insignificância. STJ.
5ª Turma. AgRg no AREsp 19042/DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
14/02/2012.27

BAGATELA PRÓPRIA X BAGATELA IMPRÓPRIA28

INFRAÇÃO BAGATELAR IMPRÓPRIA =


INFRAÇÃO BAGATELAR PRÓPRIA =
PRINCÍPIO DA IRRELEVÂNCIA PENAL DO
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
FATO

A situação já nasce atípica. A situação nasce penalmente relevante.


O fato é atípico por atipicidade material. O fato é típico do ponto vista formal e
material.
Em virtude de circunstâncias envolvendo o
fato e o seu autor, constata-se que a pena se
tornou desnecessária.

O agente não deveria nem mesmo ser O agente tem que ser processado (a ação
processado já que o fato é atípico. penal deve ser iniciada) e somente após a
análise das peculiaridades do caso concreto, o
juiz poderia reconhecer a desnecessidade da
pena.

Não tem previsão legal no direito brasileiro. Está previsto no art. 59 do CP.

BAGATELA X ADEQUAÇÃO SOCIAL29:

BAGATELA /INSIGNIFICÂNCIA ADEQUAÇÃO SOCIAL

Limita o Direito penal (causa de atipicidade Limita o Direito penal (causa de atipicidade
material) material)

Considera a irrelevância da lesão ao bem Considera a aceitação da conduta pela


jurídico. sociedade.

​ PRINCÍPIOS RELACIONADOS COM O FATO DO AGENTE

1) princípio da EXTERIORIZAÇÃO OU MATERIALIZAÇÃO DO FATO: O Estado só pode incriminar


condutas humanas voluntárias, isto é, fatos. O direito incrimina fatos, é vedado o direito penal do autor,
pois não pune estilos de vida.

27
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Lesão corporal. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/46072631582fc240dd2674a7d063b040>
28
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Súmula 589-STJ589-STJ. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/fa3dade3a49305f27f64203452ac954c>
29
SANCHES (2020), 94/95

23
ATENÇÃO Veda-se o Direito Penal do autor: consistente na punição do indivíduo baseada em seus
pensamentos, desejos e estilo de vida. Conclusão: O Direito Penal Brasileiro segue Direito Penal do
Fato.

2) PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
Art. 5º , II, C.F. – “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;”
Art. 5º, XXXIX, C.F. – “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal;”
Art. 1º, C.P. - “Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.”

DESDOBRAMENTOS DO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE:


a) não há crime ou pena sem lei (medida provisória não pode criar crime, nem cominar pena)
b) não há crime ou pena sem lei anterior (princípio da anterioridade)
c) não há crime ou pena sem lei escrita (proíbe costume incriminador)
d) não há crime ou pena sem lei estrita (proíbe-se a utilização da analogia para criar tipo incriminador -
analogia in malam partem).
e) não há crime ou pena sem lei certa (Princípio da Taxatividade ou da determinação; Proibição de
criação de tipos penais vagos e indeterminados)
f) não há crime ou pena sem lei necessária (desdobramento lógico do princípio da intervenção mínima)

FUNDAMENTOS DO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE


- JURÍDICO: taxatividade, certeza ou determinação.
- POLÍTICO: garantia contra a devida ingerência no Estado na vida particular.
- HISTÓRICO: Magna Carta (1215)
- DEMOCRÁTICO: separação dos poderes

3) Princípio da OFENSIVIDADE ou LESIVIDADE: Exige que do fato praticado ocorra lesão ou perigo
de lesão ao bem jurídico tutelado.
Somente condutas que causem lesão (efetiva/potencial) a bem jurídico, relevante e de terceiro, podem
estar sujeitas ao Direito Penal.
-CRIME DE DANO: ocorre efetiva lesão ao bem jurídico. Ex: homicídio.
-CRIME DE PERIGO: basta risco de lesão ao bem jurídico. Ex.: embriaguez ao volante; porte de arma.
a) Perigo abstrato: o risco de lesão é absolutamente presumido por lei.
b) Perigo concreto:
De vítima determinada: o risco deve ser demonstrado indicando pessoa certa em perigo.
De vítima difusa: o risco deve ser demonstrado dispensando vítima determinada.

​ PRINCÍPIOS RELACIONADOS COM O AGENTE DO FATO


1) Princípio da RESPONSABILIDADE PESSOAL: Proíbe-se o castigo pelo fato de outrem. Está
vedada a responsabilidade penal coletiva.

24
DESDOBRAMENTOS:
a) Obrigatoriedade da individualização da acusação: é proibida a denúncia genérica, vaga ou
evasiva. O Promotor de Justiça deve individualizar os comportamentos.

DENÚNCIA GENÉRICA DENÚNCIA GERAL

Aponta fato incerto e imprecisamente Há acusação da prática de fato específico


descrito atribuído a diversas pessoas, ligadas por
circunstâncias comuns, mas sem a
indicação minudente da responsabilidade
interna e individual dos imputados

Segundo o STF, “2. Não há abuso de acusação na denúncia que, ao tratar de crimes de autoria
coletiva, deixa, por absoluta impossibilidade, de esgotar as minúcias do suposto cometimento do
crime. 4. Nos casos de denúncia que verse sobre delito societário, não há que se falar em inépcia
quando a acusação descreve minimamente o fato tido como criminoso.” (HC 118891),

b) Obrigatoriedade da individualização da pena: é mandamento constitucional, evitando


responsabilidade coletiva.

2) PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE SUBJETIVA: Não basta que o fato seja materialmente


causado pelo agente, ficando a sua responsabilidade condicionada à existência da voluntariedade
(dolo/culpa). Está proibida a responsabilidade penal objetiva, isto é, sem dolo ou culpa.
Temos doutrina anunciando CASOS DE RESPONSABILIDADE PENAL OBJETIVA (autorizadas
por lei):
1- Embriaguez voluntária
Crítica: a teoria da actio libera in causa exige não somente uma análise pretérita da imputabilidade, mas
também da consciência e vontade do agente.
2- Rixa Qualificada
Crítica: só responde pelo resultado agravador quem atuou frente a ele com dolo ou culpa, evitando-se
responsabilidade penal objetiva.
3- RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA NOS CRIMES AMBIENTAIS

3) Princípio da CULPABILIDADE: Postulado limitador do direito de punir.


Só pode o Estado impor sanção penal ao agente imputável, isto é, penalmente capaz, com potencial
consciência da ilicitude (possibilidade de conhecer o caráter ilícito do comportamento), quando dele
exigível conduta diversa.

4) Princípio da ISONOMIA: A isonomia que se garante é a isonomia substancial. Deve-se tratar de


forma igual o que é igual, e desigualmente o que é desigual.
Foi com base neste princípio que o STF em sede de ADC afirmou a constitucionalidade da
Lei Maria da Penha.

25
5) Princípio da PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA: Conforme Renato Brasileiro30, “esse princípio pode
ser definido como o direito de não ser declarado culpado senão após o término do devido processo
legal, durante o qual o acusado tenha se utilizado de todos os meios de prova pertinentes para a sua
defesa (ampla defesa) e para a destruição da credibilidade das provas apresentadas pela acusação
(contraditório)”. O Renato Brasileiro extrai desse princípio duas grandes regras:

​ Regra probatória: IN DUBIO PRO REO: A acusação tem o ônus de demonstrar a culpabilidade
do acusado e não o acusado de provar a sua inocência. Lembre-se que essa regra probatória
deve ser utilizada sempre que houver dúvida sobre fato relevante para a decisão do processo.
Renato Brasileiro ressalta que:

O in dubio pro reo só incide até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.
Portanto, na revisão criminal, que pressupõe o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória ou absolutória imprópria, não há falar em in dubio pro reo, mas sim em in
dubio contra reum. O ônus da prova quanto às hipóteses que autorizam a revisão
criminal (CPP, art. 621) recai única e exclusivamente sobre o postulante, razão pela qual,
no caso de dúvida, deverá o Tribunal julgar improcedente o pedido revisional (LIMA,
2020, p. 48).

​ Regra de tratamento:
i) Vedação de prisões processuais automáticas ou obrigatórias;
ii) Impossibilidade de execução provisória ou antecipada da sanção penal

ATENÇÃO: O STF pacificou o entendimento de que se deve aguardar o trânsito em julgado da


sentença, e com o art. 283 do CPP, que, mesmo após o advento do Pacote Anticrime (Lei n.
13.964/19), só admite, no curso da investigação ou do processo – é dizer, antes do trânsito em
julgado de sentença condenatória –, a decretação da prisão cautelar por ordem escrita e
fundamentada da autoridade judiciária competente (LIMA, 2020, p. 53).

​ PRINCÍPIOS RELACIONADOS COM A PENA


1) Princípio da DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA: A ninguém pode ser imposta pena ofensiva à dignidade
da pessoa humana, vedando-se a sanção indigna, cruel, desumana e degradante.

2) Princípio da INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA: A individualização da pena deve ser observada em 3


momentos:
1- FASE LEGISLATIVA: observada pelo legislador no momento da definição do crime e na cominação de
sua pena. Pena abstrata.
2- FASE JUDICIAL: observada pelo juiz na fixação da pena. Pena concreta.
3- FASE DE EXECUÇÃO: garantindo-se a individualização da execução penal (art. 5°, LEP).

30
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 8ª ed. Salvador: Ed. JusPodivm, 2020, p.
47.

26
3) Princípio da PROPORCIONALIDADE: Trata-se de princípio constitucional implícito (desdobramento da
individualização da pena).
Dupla face do princípio da proporcionalidade (Lenio Streck):
1a Face: IMPEDIR A HIPERTROFIA DA PUNIÇÃO; GARANTISMO NEGATIVO (Ferrajoli); Garantia do
indivíduo contra o Estado.

2a Face: Evitar a insuficiência da intervenção do Estado (EVITAR PROTEÇÃO DEFICIENTE);


Imperativo de tutela; GARANTISMO POSITIVO (Ferrajoli); Garantia do indivíduo em ver o Estado
protegendo bens jurídicos com eficiência.

4) Princípio da PESSOALIDADE: “Artigo 5º, XLV CF – nenhuma pena passará da pessoa do condenado,
podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei,
estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido.”

5) Princípio da VEDAÇÃO DO “BIS IN IDEM”: Veda-se segunda punição pelo mesmo fato.
Exceção: Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime,
quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas – possibilidade do sujeito ser processado
duas vezes pelo mesmo fato.

27

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