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Luiz Paula
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)
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All content following this page was uploaded by Luiz Paula on 18 April 2016.
Sumário
ELEMENTOS DE CONEXÃO ................................................................................................. 1
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 1
1. A SOBERANIA ................................................................................................................. 2
CONCLUSÕES .................................................................................................................... 10
INTRODUÇÃO
*
Mestre em Direito Empresarial pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, professor de Direito
Comercial do Curso de Direito e de Economia e Administração da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Advogado em São Paulo.
2
peruano que efetuaria o pagamento, mas não pagou apesar de nada ter reclamado da entrega
das mercadorias.
Uma jovem boliviana residente em São Paulo-SP., resolveu se casar com um americano
residente em Madrid, e o casal teve um filho, nascido na França. Em virtude de vários
desentendimentos o casal resolveu se divorciar e discutem a guarda da criança e a divisão dos
bens adquiridos na Espanha e no Brasil.
Esses casos hipotéticos, até ingênuos, tem em comum a necessidade de se saber qual
seria a legislação aplicável ao problema e qual jurisdição seria competente para resolver o
conflito. É importante se observar que o primeiro caso é de natureza penal, o segundo de
natureza comercial e o terceiro de natureza civil. Antes da solução de cada um desses casos
existe a necessidade de se escolher a jurisdição competente para a solução da controvérsia e a
definição da legislação aplicável, a cada um dos casos.
No mundo acadêmico existe o conceito de Direito Internacional, que por sua vez se
subdivide em dois ramos: “temos o Direito Internacional Público voltado às questões das
relações entre os Estados e/ou Organismos Internacionais, e de outro lado, temos o Direito
Internacional Privado se ocupando das relações jurídicas celebradas entre os particulares.”
(Guimarães, 2013)
Compete ao direito internacional privado o estudo das questões preliminares, ou, como
diz (Baptista, 2011)” determinar o sistema jurídico a que se vinculam.” Ou, “o conjunto de
normas que regula o conflito de leis no espaço a serem aplicadas em relações jurídicas que
estejam em contato com mais de um ordenamento jurídico estatal (pátrio).” (Guimarães, 2013)
1. A SOBERANIA
Fizeram incluir na Carta da Organização das Nações Unidas (ONU) o artigo 2.4 cuja
redação é: “Todos os membros deverão evitar em suas relações internacionais a ameaça ou o
uso da força contra a integridade territorial ou independência política de qualquer Estado, ou
qualquer outra ação incompatível com os Propósitos das Nações Unidas.” Essa regra é
conhecida como o Princípio da Não Intervenção e se fundamenta no direito da integridade
territorial e na independência política dos Estados signatários.
A integridade territorial e a independência política dos Estados, elementos decorrentes
do conceito de soberania, abriga o denominado Princípio da Territorialidade, cuja expressão é
a delimitação da área geográfica dessa mesma soberania, conhecido como território. O território
é, pois, a área geográfica, compreendendo a terra firme, as águas internas ( rios e lagos), o mar
territorial, o subsolo, a plataforma continental, bem como o espaço aéreo correspondente, onde
o Estado exerce a sua soberania. O território nacional delimita o âmbito de validade da norma
jurídica criada por este Estado e a circunscrição da sua respectiva jurisdição.
4
“International Rules for interpretation of Trade Commercial Terms”. Sua criação se deu pelo International
Chamber of Commerce (ICC) em 1936, tendo sido revisadas em 1953, 1967, 1976, 1980, 1990, 2000 e 2010.
5
Regulam as relações entre vendedor e comprador estabelecendo regras claras quanto ao critical point (transferência
da responsabilidade) nos contratos comerciais internacionais
6
“Os contratos serão internacionais por características específicas que incluem a sua
estrutura, as cláusulas que contêm, o modo como são negociadas, e o fato de que é necessário
localizá-los, isto é, determinar o sistema jurídico a que se vinculam. ” (Baptista, 2011)
A determinação do foro competente para os contratos ou negócios jurídicos de natureza
não comercial, ou seja, que não estejam sujeitos à obrigatoriedade de arbitragem, é o objeto
específico dos “elementos de conexão”.
“Regras de conexão são as normas indiretas de indicam o direito aplicável as diversas
situações jurídicas, quando ligadas a mais de um sistema legal.” (Araújo, 2011)
§ 2° Quando o último ato de execução for praticado fora do território nacional, será
competente o juiz do lugar em que o crime, embora parcialmente, tenha produzido ou devia
produzir seu resultado.
§ 3° Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições, ou quando
incerta a jurisdição por ter sido a infração consumada ou tentada nas divisas de duas ou mais
jurisdições, a competência firmar-se-á pela prevenção.
4 OS ELEMENTOS DE CONEXÃO
a) LEX PATRIAE: Aplica-se a lei da nacionalidade da pessoa física. No direito brasileiro não
há a adoção desse critério;
b) LEX DOMICILII: Aplica-se a lei do domicílio para a capacidade jurídica da pessoa física.
No direito brasileiro esse elemento de conexão foi adotado pelos art. 7º, pelo § 2º do art. 8º e
pelo art. 10 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro:
Art. 7o - A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo
e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família. (§ 8o Quando a
pessoa não tiver domicílio, considerar-se-á domiciliada no lugar de sua residência ou
naquele em que se encontre.)
Art. 8o - Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a
lei do país em que estiverem situados.
§ 2o - O penhor regula-se pela lei do domicílio que tiver a pessoa, em cuja posse se
encontre a coisa apenhada.
Art. 10. A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que
domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos
bens.
e) LEX LOCI CONTRACTUS: Aplica-se a lei do local onde o contrato foi firmado.
No direito brasileiro esse elemento de conexão foi adotado pelo § 2º do art. 7º, da Lei
de Introdução às Normas do Direito Brasileiro:
§ 2o - O casamento de estrangeiros poderá celebrar-se perante autoridades diplomáticas
ou consulares do país de ambos os nubentes.
f) LEX LOCI SOLUCIONIS: Aplica-se a lei do local onde as obrigações deverão ser cumpridas
No direito brasileiro esse elemento de conexão foi adotado pelo art. 12 da Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro:
Art. 12. É competente a autoridade judiciária brasileira, quando for o réu domiciliado no
Brasil ou aqui tiver de ser cumprida a obrigação.
h) LEX LOCI DELICTI: Aplica-se a lei do local onde o delito foi cometido:
No direito brasileiro esse elemento de conexão foi adotado como regra básica pelo
Direito Penal, como se vê da redação do art. 5° do Código Penal (Decreto lei n°. 2.848/40):
Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de
direito internacional, ao crime cometido no território nacional. (Redação dada pela Lei
nº 7.209, de 1984).
j) LEX REI SITAE: Aplica-se a lei do local onde a coisa litigiosa está localizada
No direito brasileiro esse elemento de conexão foi adotado pelo art. 8° e pelo § 1º do
art.12, da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro:
Art. 8o - Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a
lei do país em que estiverem situados.
(Art. 12. É competente a autoridade judiciária brasileira, quando for o réu domiciliado no
Brasil ou aqui tiver de ser cumprida a obrigação.)
§ 1o - Só à autoridade judiciária brasileira compete conhecer das ações relativas a
imóveis situados no Brasil.
l) LEX LOCI CELEBRATIONES: Aplica-se a lei do local onde o casamento foi realizado,
como previsto no § 1º do art. 7º da LINB:
§ 1o - Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto aos
impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração.
m) PROPER LAW: Significa que deve ser aplicada a lei do local mais significativo de um
contrato. O direito brasileiro não adotou a regra.
n) LEX MONETAE: Significa que deve ser aplicada, na solução do conflito, a lei do país de
cuja moeda a dívida será paga. Também não adotado pela legislação brasileira.
o) LEX LOCI EXECUCIONIS: Significa que deve ser aplicada a lei do local onde se executa
a obrigação. No direito brasileiro, a regra foi adotada pelo § 1º do art. 9º da LINB.
§ 1o - Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de forma
essencial, será esta observada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto
aos requisitos extrínsecos do ato.
p) LEX FORI: Significa que deve ser aplicada a lei do foro designado por tratado, ou convenção
internacional. É a designação genérica de um dos mais importantes princípios contratuais, muito
embora não tenha sido reproduzida pelo direito positivo de maneira clara, prevalecendo o
entendimento de que é um princípio que deve ser sempre adoado na interpretação dos contratos
internacionais onde há a designação do foro competente para dirimir eventuais controvérsias
surgidas na execução do acordo.
10
Além das regras de conexão relativas ao direito material e que coordenam a escolha do
foro competente para dirimir as questões surgidas na relações jurídicas, temos, ainda, regras de
competência de foro específicas:
a) FORUM REI SITAE: Quer dizer que é competente para dirimir as controvérsias o foro do
local onde se situa a coisa litigiosa. No direito brasileiro encontramos sua assertiva no §1º do
art. 12 do LINB:
§ 1o - Só à autoridade judiciária brasileira compete conhecer das ações relativas a
imóveis situados no Brasil.
b) FORUM OBLIGATIONIS: Significa que o foro competente para dirimir a questão é o foro
do local onde a obrigação deve ser cumprida. No direito brasileiro, essa regra é encontrada na
letra do art. 12 da LINB e no inciso II do art. 88 do Código de Processo Civil.
Art. 12. É competente a autoridade judiciária brasileira, quando for o réu domiciliado no
Brasil ou aqui tiver de ser cumprida a obrigação.
Art. 88. É competente a autoridade judiciária brasileira quando:
......................................................
II - no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação;
c) FORUM DELICTI: Significa que é competente o foro do local onde ocorreu o delito. No
direito brasileiro a regra encontra eco no art. 70 do Código de Processo Penal:
Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a
infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de
execução.
§ 1o - Se, iniciada a execução no território nacional, a infração se consumar fora dele, a
competência será determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no Brasil, o último
ato de execução.
§ 2o - Quando o último ato de execução for praticado fora do território nacional, será
competente o juiz do lugar em que o crime, embora parcialmente, tenha produzido ou
devia produzir seu resultado.
d) FORUM DAMNI: Significa que o foro competente para solucionar a questão é o foro do
local onde a vítima sofreu prejuízo. No direito brasileiro a regra foi estabelecida pelo inciso III
do art. 88 do Código de Processo Civil:
Art. 88. É competente a autoridade judiciária brasileira quando:
............................................................
III - a ação se originar de fato ocorrido ou de ato praticado no Brasil.
CONCLUSÕES
11
A extraterritorialidade da lei é uma ficção jurídica criada pelo art. 7° do Código Penal, pela qual o delito pode
ser punido pela lei brasileira, muito embora cometido no exterior.
Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro:
I - os crimes:
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de
empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público;
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço;
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil;
II - os crimes:
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir;
b) praticados por brasileiro;
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território
estrangeiro e aí não sejam julgados.
§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no
estrangeiro.
§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições:
a) entrar o agente no território nacional;
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição;
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena;
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a
lei mais favorável.
§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se,
reunidas as condições previstas no parágrafo anterior:
a) não foi pedida ou foi negada a extradição;
b) houve requisição do Ministro da Justiça.
Existe a extraterritorialidade incondicionada, conforme o §1° do citado art. 7°, na qual se aplica a lei brasileira,
ainda que tribunal estrangeiro já tenha conhecido o fato e condenado, ou absolvido, o seu autor. E a
extraterritorialidade condicionada quando a aplicação da lei nacional exige a implementação das condições
previstas no §2.º do art. 7.º do Código Penal, acima transcrito..
12
Referências
Amaral, Antônio Carlos Rodrigues do, (2004). Direito do Comércio Internacional. São Paulo:
Aduaneiras.
Araújo, Nádia de, (2011). Direito Internacional Privado. Rio de Janeiro: Renovar.
Baptista, Luiz Olavo. (2011). Contratos Internacionais. São Paulo: Lex Magister.
Furtado, Rogério Dourado, (2013). A Antiga e a Nova Lex Mercatoria. Em Direito do Comércio
Internacional - Estudos em homenagem ao Prof. Dr. Geraldo José Guimarrães da Silva
(p. 327/334). São Paulo: Lex.
Guerreiro, José Alexandre Tavares, (1993). Fundamentos da Arbitragem do Comércio
Internacional. São Paulo: Saraiva.
Guimarães, Antônio Marcio da Cunha, e Guimarães, Arianna Stagni (2013). Direito do
Comércio Internacional - Relação entre matérias. Em Direito do Comércio
Internacional - Estudos em homenagem ao Prof. Dr. Geraldo José Guimarães da Silva
(p. 62). São Paulo: Lex.
Strenger, Irineu, (1991). Direito Internacional Privado. São Paulo: RT.