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Elementos de Conexão no Direito Internacional Privado

Conference Paper · April 2016

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Luiz Paula
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)
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ELEMENTOS DE CONEXÃO
Luiz Gonzaga Modesto de Paula*

Sumário
ELEMENTOS DE CONEXÃO ................................................................................................. 1

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 1

1. A SOBERANIA ................................................................................................................. 2

2. A TERRITORIALIDADE DAS LEIS ............................................................................... 3

3. A APLICAÇÃO DA NORMA NO ESPAÇO.................................................................... 4

3.1 AS RELAÇÕES COMERCIAIS .................................................................................. 4

3.2 OS CONTRATOS CIVIS ............................................................................................. 6

3.3 OS ATOS ILÍCITOS .................................................................................................... 6

4 OS ELEMENTOS DE CONEXÃO .................................................................................... 7

4.1 REGRAS DE DIREITO MATERIAL: ........................................................................ 7

4.2 REGRAS DE DIREITO PROCESSUAL .................................................................. 10

CONCLUSÕES .................................................................................................................... 10

INTRODUÇÃO

Um casal de dinamarqueses procurou um advogado no Rio de Janeiro, onde


desembarcou de um cruzeiro marítimo realizado em um transatlântico de bandeira italiana,
arredando para um armador grego, para processar uma camareira indiana, que em águas
internacionais era suspeita de ter subtraído quinhentos dólares do cofre da cabine por eles
ocupada.
Um fabricante de chocolates de Gramado-RS vendeu para um comerciante argentino
quinhentos quilos de chocolate para serem entregues em Lima, no Peru, para outro comerciante

*
Mestre em Direito Empresarial pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, professor de Direito
Comercial do Curso de Direito e de Economia e Administração da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Advogado em São Paulo.
2

peruano que efetuaria o pagamento, mas não pagou apesar de nada ter reclamado da entrega
das mercadorias.
Uma jovem boliviana residente em São Paulo-SP., resolveu se casar com um americano
residente em Madrid, e o casal teve um filho, nascido na França. Em virtude de vários
desentendimentos o casal resolveu se divorciar e discutem a guarda da criança e a divisão dos
bens adquiridos na Espanha e no Brasil.
Esses casos hipotéticos, até ingênuos, tem em comum a necessidade de se saber qual
seria a legislação aplicável ao problema e qual jurisdição seria competente para resolver o
conflito. É importante se observar que o primeiro caso é de natureza penal, o segundo de
natureza comercial e o terceiro de natureza civil. Antes da solução de cada um desses casos
existe a necessidade de se escolher a jurisdição competente para a solução da controvérsia e a
definição da legislação aplicável, a cada um dos casos.
No mundo acadêmico existe o conceito de Direito Internacional, que por sua vez se
subdivide em dois ramos: “temos o Direito Internacional Público voltado às questões das
relações entre os Estados e/ou Organismos Internacionais, e de outro lado, temos o Direito
Internacional Privado se ocupando das relações jurídicas celebradas entre os particulares.”
(Guimarães, 2013)
Compete ao direito internacional privado o estudo das questões preliminares, ou, como
diz (Baptista, 2011)” determinar o sistema jurídico a que se vinculam.” Ou, “o conjunto de
normas que regula o conflito de leis no espaço a serem aplicadas em relações jurídicas que
estejam em contato com mais de um ordenamento jurídico estatal (pátrio).” (Guimarães, 2013)

1. A SOBERANIA

A questão de ser necessário se utilizar de recursos externos para o encaminhamento da


solução dos conflitos decorre do conceito jurídico de soberania e a consequente territorialidade
dos sistemas jurídicos. Nem sempre foi assim. No campo do direito civil e do direito penal,
prevalecia o “ius gentium” dos romanos, que dominaram o mundo inteiro conhecido desde o
final das guerras púnicas (146 a.C.) até a queda do Império Romano do Ocidente (476 a. D.)
Ao mesmo tempo, o direito comercial, abandonado pelos romanos, era em grande parte, dado
o seu caráter globalizado, regido pela denominada lex mercatoria.
Após a queda do Império Romano do Ocidente se ampliou o recurso aos usos e costumes
dos comerciantes para dirimir os seus conflitos, principalmente pelo aparecimento das cidades
3

feudais e o caráter “internacional” do comércio e a prevalência dos usos e costumes sobre a


incipiente legislação feudal. A normatização civil e a penal tomaram outro rumo durante a idade
média, sofrendo influência marcante do direito canônico e do “Corpus Juris Civilis” de
Justiniano. (529 a 534 a.D.), com nítido caráter internacional.
O conceito de soberania, já existente na história da humanidade antes mesmo da dominação
romana, se agudiza no final da Guerra dos Cem anos (1453) quando a França unificou seu
território e se completou em 1789 quando a Revolução Francesa unificou a sua jurisdição,
acabando com os tribunais eclesiásticos e os tribunais do comércio.
“Com a entrada em vigor do Código Comercial francês em 1807 o poder dos comerciantes
de estabelecer a qual lei seguir entra em declínio, pois o estado exigia de sus cidadãos que
estivessem sob o manto de leis próprias. As legislações nacionais se fortaleceram nesse período,
ocorrendo uma incompatibilidade entre as leis estatais e a lex mercatoria. O Estado soberano e
suas leis estavam colidindo com a lei supranacional com seus usos e costumes comerciais. ”
(Furtado, 2013)

2. A TERRITORIALIDADE DAS LEIS

Fizeram incluir na Carta da Organização das Nações Unidas (ONU) o artigo 2.4 cuja
redação é: “Todos os membros deverão evitar em suas relações internacionais a ameaça ou o
uso da força contra a integridade territorial ou independência política de qualquer Estado, ou
qualquer outra ação incompatível com os Propósitos das Nações Unidas.” Essa regra é
conhecida como o Princípio da Não Intervenção e se fundamenta no direito da integridade
territorial e na independência política dos Estados signatários.
A integridade territorial e a independência política dos Estados, elementos decorrentes
do conceito de soberania, abriga o denominado Princípio da Territorialidade, cuja expressão é
a delimitação da área geográfica dessa mesma soberania, conhecido como território. O território
é, pois, a área geográfica, compreendendo a terra firme, as águas internas ( rios e lagos), o mar
territorial, o subsolo, a plataforma continental, bem como o espaço aéreo correspondente, onde
o Estado exerce a sua soberania. O território nacional delimita o âmbito de validade da norma
jurídica criada por este Estado e a circunscrição da sua respectiva jurisdição.
4

Em outras palavras: os efeitos de norma ou conjunto de normas de um Estado são


válidos e eficazes tão somente dentro dos limites territoriais no qual esse Estado exerce a sua
soberania.

3. A APLICAÇÃO DA NORMA NO ESPAÇO

Como a soberania e a territorialidade limitam o alcance das normas jurídicas e da jurisdição,


e os conflitos entre pessoas de diferentes nacionalidades em diferentes territórios necessitam de
solução jurídica, essas questões internacionais precisam ser equacionadas de conformidade com
parâmetros universais a serem adotados pelos sistemas jurídicos nacionais.
“O direito internacional privado, ao contrário do direito chamado intertemporal, o qual tem
por escopo a solução de conflitos de lei no tempo, cuida da solução dos conflitos de lei no
espaço, ou seja, a possibilidade de aplicação de dois ou mais ordenamentos jurídicos para a
regulamentação de determinado caso concreto. ” (Amaral, 2004)
Os parâmetros a serem adotados pelos sistemas jurídicos, a fim de possibilitarem a
solução de conflitos interespaciais, são denominados “elementos de conexão”.
“Elementos de conexão são aspectos de fato de uma relação jurídica que estabelecem uma
ligação com o foro. ” (Baptista, 2011)
“Elementos de conexão são expressões legais de conteúdo variável, de efeito indicativo,
capazes de permitir a determinação do direito que deve tutelar a relação jurídica em questão”
(Strenger, 1991).

3.1 AS RELAÇÕES COMERCIAIS

As relações comerciais internacionais têm um tratamento jurídico diverso das relações


jurídicas civis e das relações jurídicas decorrentes da prática de ato ilícito (penais), no que tange
à utilização dos denominados “elementos de conexão” para a definição da competência do foro.
Isto porque, a globalização econômica fez surgir uma nova lex mercatoria constituída, não só
de usos e costumes internacionais, como da aplicação de normas supranacionais editadas por
organismos internacionais sem poder jurisdicional, mas acatada pelos agentes dessa nova
ordem econômica. Exemplo disso são as INCOTERMS., a GAFTA Grain and Feed Trade


“International Rules for interpretation of Trade Commercial Terms”. Sua criação se deu pelo International
Chamber of Commerce (ICC) em 1936, tendo sido revisadas em 1953, 1967, 1976, 1980, 1990, 2000 e 2010.
5

Association, a London Rubber Trade Association, a London Copra Association, a


ASTA- Americam Spice Trade Association, entre outras.
Além da nova lex mercatoria, as relações comerciais internacionais se pautam pela
solução de litígios pela arbitragem. A Convenção sobre o Reconhecimento e a Execução de
Sentenças Arbitrais Estrangeiras de 1958, conhecida como Convenção de Nova York, ampliou
as regras estabelecidas pela Convenção de Genebra de 1927, que também tratava do
reconhecimento da arbitragem como meio legítimo de solução de controvérsias no campo
empresarial, que por sua vez, foi enriquecida pela Convenção do Panamá de 1975. São tratados
internacionais dos quais o Brasil é signatário (Decreto n°. 4.311/2002). Além disso, no âmbito
interno convém citar a Lei Federal n°. 9.307/96 com a nova redação dada pela Lei Federal n°.
13.129 de 2015.
O art. 34 da lei nacional reza:
“Art. 34. A sentença arbitral estrangeira será reconhecida ou executada no Brasil de
conformidade com os tratados internacionais com eficácia no ordenamento interno e, na sua
ausência, estritamente de acordo com os termos desta Lei.
Parágrafo único. Considera-se sentença arbitral estrangeira a que tenha sido proferida
fora do território nacional.
Art. 35. Para ser reconhecida ou executada no Brasil, a sentença arbitral estrangeira está
sujeita, unicamente, à homologação do Superior Tribunal de Justiça. ”
Assim, “A lex mercatoria pressupõe a existência de uma comunidade de operadores do
comércio internacional que possui interesses próprios e que encontra na arbitragem comercial
internacional o mecanismo adequado para a aplicação de normas aptas a resolver as pendências
instauradas quanto aos contratos celebrados, no âmbito dessa comunidade, pelas partes
respectivas. A jurisprudência arbitral integra, por sua vez, o conteúdo da lex mercatoria, a qual,
mesmo sem constituir ordem ou sistema, tende a se institucionalizar, cada vez mais, superando
a insuficiência do método de conflitos (de leis e de jurisdição) do direito internacional privado.
” (Guerreiro, 1993)
Não nos esqueçamos da lição lembrada por Luiz Olavo Baptista: “É preciso que o
contrato internacional esteja ligado a uma ordem jurídica que dê eficácia jurídica à vontade das
partes e permita preencher eventuais lacunas que elas, por mais prudentes que tenham sido, não

Regulam as relações entre vendedor e comprador estabelecendo regras claras quanto ao critical point (transferência
da responsabilidade) nos contratos comerciais internacionais
6

conseguiram evitar.” (Quaderni di Giurisprudenza Commerciale n. 14, Milão, Ed. Giuffré,


1978).
3.2 OS CONTRATOS CIVIS

“Os contratos serão internacionais por características específicas que incluem a sua
estrutura, as cláusulas que contêm, o modo como são negociadas, e o fato de que é necessário
localizá-los, isto é, determinar o sistema jurídico a que se vinculam. ” (Baptista, 2011)
A determinação do foro competente para os contratos ou negócios jurídicos de natureza
não comercial, ou seja, que não estejam sujeitos à obrigatoriedade de arbitragem, é o objeto
específico dos “elementos de conexão”.
“Regras de conexão são as normas indiretas de indicam o direito aplicável as diversas
situações jurídicas, quando ligadas a mais de um sistema legal.” (Araújo, 2011)

3.3 OS ATOS ILÍCITOS

A solução da questão no que tange à prática de atos ilícitos em âmbito internacional é


mais simples porque todas as legislações nacionais definem a sua aplicabilidade pelo princípio
da
“LEX LOCI ACTUS” ou “LOCI REGIT ACTUS” ou do “LEX LOCI DELICTI” (local onde
o ilícito foi cometido).
No direito brasileiro esses princípios estão positivados nos arts. 5°, e 6° do Código Penal
e no art. 70 do Código de Processo Penal:
Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito
internacional, ao crime cometido no território nacional.
Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no
todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.
Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a
infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução.
§ 1° Se, iniciada a execução no território nacional, a infração se consumar fora dele, a
competência será determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no Brasil, o último ato de
execução.
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§ 2° Quando o último ato de execução for praticado fora do território nacional, será
competente o juiz do lugar em que o crime, embora parcialmente, tenha produzido ou devia
produzir seu resultado.
§ 3° Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições, ou quando
incerta a jurisdição por ter sido a infração consumada ou tentada nas divisas de duas ou mais
jurisdições, a competência firmar-se-á pela prevenção.

4 OS ELEMENTOS DE CONEXÃO

Muito embora os elementos de conexão sejam princípios jurídicos adotados


universalmente pelas nações independentes e soberanas, o direito brasileiro positivou a maioria
dessas regras, como veremos adiante.
Em virtude da natureza dessas regras e de seu caráter universal elas são escritas também
em linguagem jurídica universal, herdada do Corpus Juris Civilis de Justiniano (Flavius Petrus
Sabbatius Justinianus, 483-565 a.D.).

4.1 REGRAS DE DIREITO MATERIAL:

a) LEX PATRIAE: Aplica-se a lei da nacionalidade da pessoa física. No direito brasileiro não
há a adoção desse critério;
b) LEX DOMICILII: Aplica-se a lei do domicílio para a capacidade jurídica da pessoa física.
No direito brasileiro esse elemento de conexão foi adotado pelos art. 7º, pelo § 2º do art. 8º e
pelo art. 10 da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro:
Art. 7o - A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo
e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família. (§ 8o Quando a
pessoa não tiver domicílio, considerar-se-á domiciliada no lugar de sua residência ou
naquele em que se encontre.)
Art. 8o - Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a
lei do país em que estiverem situados.
§ 2o - O penhor regula-se pela lei do domicílio que tiver a pessoa, em cuja posse se
encontre a coisa apenhada.
Art. 10. A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que
domiciliado o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos
bens.

c) LEX LOCI ACTUS: Aplica-se a lei do local da realização do ato jurídico.


No direito brasileiro esse elemento de conexão foi adotado pelo § 1º do art. 7º, da Lei
de Introdução às Normas do Direito Brasileiro:
8

§ 1o - Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto aos


impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração.

d) LOCUS REGIT ACTUS: Aplica-se a lei do local quanto às formalidades do ato.


No direito brasileiro esse elemento de conexão foi adotado pelo art. 9º, da Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro:
Art. 9o - Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se
constituírem.

e) LEX LOCI CONTRACTUS: Aplica-se a lei do local onde o contrato foi firmado.
No direito brasileiro esse elemento de conexão foi adotado pelo § 2º do art. 7º, da Lei
de Introdução às Normas do Direito Brasileiro:
§ 2o - O casamento de estrangeiros poderá celebrar-se perante autoridades diplomáticas
ou consulares do país de ambos os nubentes.

f) LEX LOCI SOLUCIONIS: Aplica-se a lei do local onde as obrigações deverão ser cumpridas
No direito brasileiro esse elemento de conexão foi adotado pelo art. 12 da Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro:
Art. 12. É competente a autoridade judiciária brasileira, quando for o réu domiciliado no
Brasil ou aqui tiver de ser cumprida a obrigação.

g) LEX VOLUNTATIS: Prevalece a lei escolhida pelas partes.


No direito brasileiro esse elemento de conexão foi adotado pelo art. 2° da Lei Federal
n°. 9.307/96 (Lei da Arbitragem):
Art. 2º A arbitragem poderá ser de direito ou de equidade, a critério das partes.
§ 1º Poderão as partes escolher, livremente, as regras de direito que serão aplicadas na
arbitragem, desde que não haja violação aos bons costumes e à ordem pública.

h) LEX LOCI DELICTI: Aplica-se a lei do local onde o delito foi cometido:
No direito brasileiro esse elemento de conexão foi adotado como regra básica pelo
Direito Penal, como se vê da redação do art. 5° do Código Penal (Decreto lei n°. 2.848/40):
Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de
direito internacional, ao crime cometido no território nacional. (Redação dada pela Lei
nº 7.209, de 1984).

i) LEX DAMNI: Aplica-se a lei do local das consequências do delito:


No direito brasileiro esse elemento de conexão foi adotado pelo Direito Penal, como se
vê da redação do art. 6° do Código Penal (Decreto lei n°. 2.848/40, com a redação dada pela Lei
Federal n°. 7.209/84):
Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no
todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.
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j) LEX REI SITAE: Aplica-se a lei do local onde a coisa litigiosa está localizada
No direito brasileiro esse elemento de conexão foi adotado pelo art. 8° e pelo § 1º do
art.12, da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro:
Art. 8o - Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a
lei do país em que estiverem situados.
(Art. 12. É competente a autoridade judiciária brasileira, quando for o réu domiciliado no
Brasil ou aqui tiver de ser cumprida a obrigação.)
§ 1o - Só à autoridade judiciária brasileira compete conhecer das ações relativas a
imóveis situados no Brasil.

k) MOBILIA SEQUUNTUR PERSONAM: Aplica-se a lei do local do domicílio do


proprietário de coisa móvel.
No direito brasileiro esse elemento de conexão foi adotado pelo §1º do art. 8º. da Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro:
§ 1o - Aplicar-se-á a lei do país em que for domiciliado o proprietário, quanto aos bens
moveis que ele trouxer ou se destinarem a transporte para outros lugares.

l) LEX LOCI CELEBRATIONES: Aplica-se a lei do local onde o casamento foi realizado,
como previsto no § 1º do art. 7º da LINB:
§ 1o - Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto aos
impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração.

m) PROPER LAW: Significa que deve ser aplicada a lei do local mais significativo de um
contrato. O direito brasileiro não adotou a regra.

n) LEX MONETAE: Significa que deve ser aplicada, na solução do conflito, a lei do país de
cuja moeda a dívida será paga. Também não adotado pela legislação brasileira.

o) LEX LOCI EXECUCIONIS: Significa que deve ser aplicada a lei do local onde se executa
a obrigação. No direito brasileiro, a regra foi adotada pelo § 1º do art. 9º da LINB.
§ 1o - Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de forma
essencial, será esta observada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto
aos requisitos extrínsecos do ato.

p) LEX FORI: Significa que deve ser aplicada a lei do foro designado por tratado, ou convenção
internacional. É a designação genérica de um dos mais importantes princípios contratuais, muito
embora não tenha sido reproduzida pelo direito positivo de maneira clara, prevalecendo o
entendimento de que é um princípio que deve ser sempre adoado na interpretação dos contratos
internacionais onde há a designação do foro competente para dirimir eventuais controvérsias
surgidas na execução do acordo.
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4.2 REGRAS DE DIREITO PROCESSUAL

Além das regras de conexão relativas ao direito material e que coordenam a escolha do
foro competente para dirimir as questões surgidas na relações jurídicas, temos, ainda, regras de
competência de foro específicas:

a) FORUM REI SITAE: Quer dizer que é competente para dirimir as controvérsias o foro do
local onde se situa a coisa litigiosa. No direito brasileiro encontramos sua assertiva no §1º do
art. 12 do LINB:
§ 1o - Só à autoridade judiciária brasileira compete conhecer das ações relativas a
imóveis situados no Brasil.

b) FORUM OBLIGATIONIS: Significa que o foro competente para dirimir a questão é o foro
do local onde a obrigação deve ser cumprida. No direito brasileiro, essa regra é encontrada na
letra do art. 12 da LINB e no inciso II do art. 88 do Código de Processo Civil.
Art. 12. É competente a autoridade judiciária brasileira, quando for o réu domiciliado no
Brasil ou aqui tiver de ser cumprida a obrigação.
Art. 88. É competente a autoridade judiciária brasileira quando:
......................................................
II - no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação;

c) FORUM DELICTI: Significa que é competente o foro do local onde ocorreu o delito. No
direito brasileiro a regra encontra eco no art. 70 do Código de Processo Penal:
Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a
infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de
execução.
§ 1o - Se, iniciada a execução no território nacional, a infração se consumar fora dele, a
competência será determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no Brasil, o último
ato de execução.
§ 2o - Quando o último ato de execução for praticado fora do território nacional, será
competente o juiz do lugar em que o crime, embora parcialmente, tenha produzido ou
devia produzir seu resultado.

d) FORUM DAMNI: Significa que o foro competente para solucionar a questão é o foro do
local onde a vítima sofreu prejuízo. No direito brasileiro a regra foi estabelecida pelo inciso III
do art. 88 do Código de Processo Civil:
Art. 88. É competente a autoridade judiciária brasileira quando:
............................................................
III - a ação se originar de fato ocorrido ou de ato praticado no Brasil.

CONCLUSÕES
11

Elementos de conexão são princípios jurídicos de caráter universal adotados pelas


legislações nacionais para possibilitar a definição da competência jurisdicional de foro na
solução de conflitos que possam ser submetidos à mais de um sistema jurídico.
Quando uma relação humana conflituosa pode ser analisada sob prismas diferentes, em
função da possibilidade de estar submetida a diferentes regimes jurídicos, lança-se mão de
recursos universais, não para solucionar o conflito, mas para decidir quem poderá validamente
solucioná-lo.
Essa necessidade decorre diretamente do conceito de soberania e da impossibilidade de ser
a norma jurídica de aplicação extraterritorial. Ou seja, só excepcionalmente a lei brasileira


A extraterritorialidade da lei é uma ficção jurídica criada pelo art. 7° do Código Penal, pela qual o delito pode
ser punido pela lei brasileira, muito embora cometido no exterior.
Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro:
I - os crimes:
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de
empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público;
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço;
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil;
II - os crimes:
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir;
b) praticados por brasileiro;
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território
estrangeiro e aí não sejam julgados.
§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no
estrangeiro.
§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições:
a) entrar o agente no território nacional;
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição;
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena;
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a
lei mais favorável.
§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se,
reunidas as condições previstas no parágrafo anterior:
a) não foi pedida ou foi negada a extradição;
b) houve requisição do Ministro da Justiça.
Existe a extraterritorialidade incondicionada, conforme o §1° do citado art. 7°, na qual se aplica a lei brasileira,
ainda que tribunal estrangeiro já tenha conhecido o fato e condenado, ou absolvido, o seu autor. E a
extraterritorialidade condicionada quando a aplicação da lei nacional exige a implementação das condições
previstas no §2.º do art. 7.º do Código Penal, acima transcrito..
12

poderá ser aplicada sobre um fato delitivo ocorrido em território estrangeiro. A


extraterritorialidade real é a impossibilidade de um tribunal estrangeiro aplicar a lei brasileira
para a solução de conflitos ocorridos em seu território.
Os elementos de conexão são, assim, functores deônticos para os tribunais na solução de
conflitos possivelmente submetidos à mais de um sistema jurídico, especialmente no campo
civil e penal. A matéria comercial, como se viu, dado o seu natural estado globalizado e
universal, substitui a aplicação dos elementos de conexão na solução de seus conflitos, pela
prévia adoção da arbitragem nos contratos mercantis e societários. No campo comercial apenas
raramente, no caso de omissão ou lacunas nos respectivos contratos, se utilizam dos recursos
aos elementos de conexão para a solução de controvérsias.

Referências
Amaral, Antônio Carlos Rodrigues do, (2004). Direito do Comércio Internacional. São Paulo:
Aduaneiras.
Araújo, Nádia de, (2011). Direito Internacional Privado. Rio de Janeiro: Renovar.
Baptista, Luiz Olavo. (2011). Contratos Internacionais. São Paulo: Lex Magister.
Furtado, Rogério Dourado, (2013). A Antiga e a Nova Lex Mercatoria. Em Direito do Comércio
Internacional - Estudos em homenagem ao Prof. Dr. Geraldo José Guimarrães da Silva
(p. 327/334). São Paulo: Lex.
Guerreiro, José Alexandre Tavares, (1993). Fundamentos da Arbitragem do Comércio
Internacional. São Paulo: Saraiva.
Guimarães, Antônio Marcio da Cunha, e Guimarães, Arianna Stagni (2013). Direito do
Comércio Internacional - Relação entre matérias. Em Direito do Comércio
Internacional - Estudos em homenagem ao Prof. Dr. Geraldo José Guimarães da Silva
(p. 62). São Paulo: Lex.
Strenger, Irineu, (1991). Direito Internacional Privado. São Paulo: RT.

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