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O Código do Procedimento Administrativo (CPA) apresenta, logo no nº 1 do seu artigo 1º, uma
noção de procedimento administrativo: «a sucessão ordenada de atos e formalidades relativos à
formação, manifestação e execução da vontade dos órgãos da Administração Pública». Na
doutrina portuguesa, uma noção de procedimento administrativo, não muito distinta da do CPA, foi
apresentada por ROGÉRIO SOARES: «um conjunto de atos funcionalmente ligados com vista a
produzir um certo resultado, um efeito único».
Além disso, tem como fim a formação, manifestação e execução da vontade dos órgãos da
Administração Pública. O procedimento procura preparar e exteriorizar a prática de um ato da
Administração Pública (o que engloba várias categorias: atos administrativos, regulamentos e
contratos administrativos) ou a respetiva execução. Da perspetiva de ROGÉRIO SOARES, o
procedimento visa produzir «um certo resultado, um efeito único», que é a tomada da decisão.
Tese processualista: visto que «a cada uma das funções do Estado corresponde um tipo
de processo através do qual ela se desenvolve» (ALBERTO XAVIER), o procedimento
administrativo é um autêntico processo, embora diferente do processo judicial;
Tese antiprocessualista: o procedimento não é um processo; procedimento administrativo
e processo (judicial) não são duas espécies de um mesmo género, mas sim dois géneros
diferentes, irredutíveis um ao outro (ROGÉRIO SOARES).
FREITAS DO AMARAL concorda que o procedimento administrativo e o processo judicial são muito
diferentes entre si. Contudo, considera que é possível reconduzir ambos ao conceito jurídico
de processo, que será a «sucessão ordenada de atos e formalidades tendentes à formação ou à
execução de uma vontade funcional». Deste modo, o procedimento administrativo será um
processo, através do qual o poder administrativo é concretizado numa série de atos e factos
sucessivos (BENVENUTI).
Por sua vez, FERNANDA PAULA OLIVEIRA e JOSÉ FIGUEIREDO DIAS adotam a distinção entre
duas conceções para a natureza do procedimento administrativo: a conceção substantiva e a
conceção adjetiva. Para estes autores, a primeira conceção encontra-se hoje em dia ultrapassada
e é em geral a segunda que é seguida atualmente.
Por outro lado, para a conceção adjetiva do procedimento, os atos instrumentais que se
relacionam no procedimento são vistos como etapas de um percurso ou caminho ordenado
racionalmente, tendo em vista a prática de um ato último e desejado. Cada um dos atos ou
momentos do procedimento tem um fim imediato próprio e estes só mediatamente concorrem para
atingir a finalidade do ato principal, o resultado jurídico unitário que será o objetivo de todo o
procedimento.
A nível legislativo, foi a Lei de Meios para 1962 que prometeu, pela primeira vez, a elaboração do
que então se chamava «código de processo administrativo gracioso»; promessa essa que nunca foi
cumprida antes do 25 de Abril de 1974 (cfr. FREITAS DO AMARAL). Para JOÃO CAUPERS, as
origens e antecedentes do Código do Procedimento Administrativo mergulham na Parte II do
Projeto de Código Administrativo do Ultramar (1968), da autoria de RUI MACHETE, ao qual se
sucedeu depois o Projeto do Código de Processo Administrativo Gracioso de 1969, da autoria de
OSVALDO GOMES.
Independentemnte das posições doutrinárias, certo é que só em 1991 é que o primeiro Código do
Procedimento Administrativo viria a ser aprovado pelo DL nº 442/91, de 15 de novembro,
elaborado por uma comissão presidida por DIOGO FREITAS DO AMARAL desde 1989 e inspirado
em anteriores projetos codificadores, tais como os da autoria de RUI MACHETE (de 1980 e 1982)
sobre o Processo Administrativo Gracioso. A entrada em vigor do CPA verificou-se em 16 de maio
de 1992. Depois, em 1996, foi feita a revisão do CPA, através de algumas dezenas de alterações,
pelo DL nº 6/96, de 31 de janeiro.
O CPA de 1991 viria, em 2015, e na sequência de uma lei de autorização legislativa (Lei nº
42/2014, de 11 de julho), a ser substituído por um novo Código do Procedimento
Administrativo, que foi aprovado pelo DL nº 4/2015, de 7 de janeiro, tendo entrado em vigor no
dia 7 de abril de 2015. Na opinião de PAULO OTERO, o novo CPA de 2015, «alegadamente
influenciado pelos contributos da doutrina e da jurisprudência portuguesas (...) e do Direito da
União Europeia, revela-se tendencialmente descaracterizador do sistema administrativo português,
adotando uma postura de colonização científica estrangeira e de retrocesso garantístico dos
cidadãos».
4) Tipos de procedimento
Os procedimentos decisórios podem ainda ser de primeiro grau (incidem pela primeira vez sobre
uma situação da vida; preparam a prática de um ato primário) ou de segundo grau (incidem sobre
uma decisão administrativa anteriormente tomada; visam preparar a prática de atos secundários,
tais como a reclamação, o recurso hierárquico ou o recurso tutelar).
Princípio da preferência pela utilização dos meios eletrónicos: A instrução dos procedimentos
deve ser feita, preferencialmente, através de meios eletrónicos [artigo 61º/1 CPA], visando um
aumento das garantias, uma melhor acessibilidade, mais eficiência e maior celeridade. A
tramitação do procedimento administrativo através de um balcão único eletrónico obedece às
regras estabelecidas no artigo 62º CPA.
Princípio da cooperação leal com a União Europeia: Tendo a sua fonte no artigo 4º/3 TUE, o
princípio da cooperação leal com a União Europeia surge no artigo 19º CPA, vinculando a
Administração Pública portuguesa a relacionar-se com a Administração dos outros Estados-
membros e com a Administração da própria União Europeia. A cooperação leal pode envolver a
prestação de informações, a apresentação de propostas ou quaisquer outras formas de
colaboração entre as Administrações públicas da União e dos restantes Estados.
1. Fase inicial: É a fase em que se dá início ao procedimento, o qual pode ser desencadeado pela
Administração ou por um particular interessado, à luz do artigo 53º CPA. Se for a Administração a
iniciar o procedimento, deverá comunicá-lo às pessoas cujos direitos e interesses legítimos possam
ser lesados no decurso do procedimento [artigo 110º/1 CPA]. Se, por outro lado, é o particular que
toma a iniciativa, deverá apresentar um requerimento escrito, ou enviado por correio eletrónico, do
qual constem as várias menções indicadas no nº1 do artigo 102º CPA. Da fase inicial pode ainda
fazer parte a tomada de medidas provisórias, nos termos do artigo 89º CPA.
3. Fase da audiência dos interessados: Encontra-se nos artigos 121º a 125º CPA e é uma das
mais importantes faces do princípio da colaboração da Administração com os particulares [artigo
11º/1 CPA] e o princípio da participação [artigo 12º CPA]. A audiência prévia, como refração do
princípio da democracia participativa [artigo 2º CRP], tem dignidade constitucional e merece
mesmo uma menção expressa no nº5 do artigo 267º da CRP. Trata-se da fase na qual é
assegurado aos interessados num procedimento o direito de participarem na formação das
decisões que lhes digam respeito e apenas pode ser dispensada nos termos que constam no artigo
124º CPA. A audiência poderá ser escrita ou oral, competindo ao diretor do procedimento decidir,
em cada caso, se a audiência prévia dos interessados deve ser escrita ou oral [artigo 122º/1 CPA].
5. Fase da decisão: O procedimento encaminhou-se para o seu fim principal, a decisão. E termina
com ela, ou com qualquer outro dos factos previstos no CPA [artigo 93º]. Salvo se outra coisa
resultar da lei ou da natureza das relações a estabelecer, o procedimento pode terminar com a
prática de um ato administrativo ou pela celebração de um contrato [artigo 126º CPA]. De um modo
geral, aplicam-se as regras constantes na Parte IV do CPA, correspondente aos artigos 135º e
seguintes.