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Poder Judiciário

JUSTIÇA FEDERAL
Seção Judiciária do Rio de Janeiro
28ª Vara Federal do Rio de Janeiro
AV RIO BRANCO, 243, ANEXO II - 13º ANDAR - Bairro: CENTRO - CEP: 20040-009 - Fone: (21)3218-8284 -
www.jfrj.jus.br - Email: 28vf@jfrj.jus.br

MANDADO DE SEGURANÇA Nº 5094087-24.2019.4.02.5101/RJ


IMPETRANTE: CARLOS ALBERTO DA SILVA
IMPETRADO: DIRETOR - MARINHA DO BRASIL - RIO DE JANEIRO

DESPACHO/DECISÃO

CARLOS ALBERTO DA SILVA, pessoa física qualificada e representada nos


autos, impetra mandado de segurança, com pedido de liminar, contra ato atribuído ao
DIRETOR DO ARSENAL DE MARINHA DO RIO DE JANEIRO - AMRJ, pretendendo a
concessão de aposentadoria especial no regime de previdência dos servidores públicos
federais, a contar de 27.07.2019, sem a perda dos direitos à integralidade e à
proporcionalidade, ou, alternativamente, a conversão do tempo prestado em condições
especiais em tempo comum para fins previdenciários.

Alega que é servidor público federal, desde 21.03.1994, ocupante do cargo de


Agente de Serviço de Engenharia no AMRJ, e que sempre trabalhou em condições insalubres,
de modo habitual e permanente, exposto a ruído e calor acima dos limites de tolerância,
por mais de 25 anos, fazendo jus à aposentadoria especial na forma do art. 57 da Lei nº
8.213/1991, aplicado analogicamente em função da Súmula Vinculante nº 33.

Alternativamente, pleiteia tão somente a direito à conversão do tempo especial


em tempo comum, uma vez que a concessão de uma aposentadoria sem direito à paridade e à
integralidade, na forma oferecida pela Administração, não é do seu interesse.

O impetrante emenda a inicial e atribui à causa o valor de R$103.580,88 (cento


e três mil, quinhentos e oitenta reais e oitenta e oito centavos), e recolhe as custas judiciais
(ev. 9).

É o relatório. Decido.

Primeiramente, recebo a petição e documentos constantes do ev. 9 como


emenda à inicial. Anote-se o novo valor da causa, qual seja, R$103.580,88 (cento e três
mil, quinhentos e oitenta reais e oitenta e oito centavos).

A concessão de medida liminar em sede de mandado de segurança exige a


presença, concomitante, da plausibilidade jurídica da alegação apresentada pelo impetrante e
do fundado receio de que o ato impugnado possa tornar ineficaz o provimento jurisdicional
final pleiteado, nos termos do art.7º, III, da Lei nº 12.016/09:

“Art. 7º Ao despachar a inicial, o juiz ordenará:


III - que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido, quando houver fundamento relevante e
do ato impugnado puder resultar a ineficácia da medida, caso seja finalmente deferida, sendo
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facultado exigir do impetrante caução, fiança ou depósito, com o objetivo de assegurar o
ressarcimento à pessoa jurídica.”

Pois bem. Objetiva o impetrante a concessão de aposentadoria especial,


indeferida na via administrativa.

DOS FATOS

O impetrante é servidor público estatutário, operador de máquinas no Arsenal


da Marinha (AMRJ), ainda na ativa, onde ingressou em 21.03.1994, mediante concurso
público.

A Administração Pública Militar reconhece que o impetrante completou o


tempo para aposentadoria especial a partir de 31 de março de 2019, com base no artigo 57 da
Lei 8.213/91, Súmula Vinculante 33 e ON 16/13, tanto assim que lhe paga, desde aquela data,
o abono de permanência.

Entretanto, embora reconheça o direito à aposentadoria especial, em razão de


incontroverso trabalho em condições adversas, nega-lhe integralidade e paridade com o
pessoal da ativa, sustentando que a aposentadoria, caso deferida, será paga com base na
média das contribuições (80% de todo o período trabalhado) e sem paridade (será corrigida
pelo mesmo índice do RGPS), de acordo com o artigo 3º da Orientação Normativa nº 16/2013

O autor deixa claro que não tem intenção em ser aposentado sem
integralidade nem paridade, pois isso ele já alcançou perante a Administração.

DO DIREITO

A Constituição de 1988, em seu artigo 40, parágrafo 4º, em regra excepcional,


assegura aposentaria especial aos servidores públicos que exercem seus cargos em atividades
de risco:

§ 4º É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de


aposentadoria aos abrangidos pelo regime de que trata este artigo, ressalvados, nos termos
definidos em leis complementares, os casos de servidores: (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 47, de 2005)

I - portadores de deficiência; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 47, de 2005)

II - que exerçam atividades de risco; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 47, de 2005)

III cujas atividades sejam exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a
integridade física”.

Diante da ressalva, é forçoso reconhecer que o legislador infraconstitucional


tem o dever de prever requisitos e critérios diferenciados para a concessão de aposentadoria
aos servidores portadores de deficiência, os que exercem atividade de risco, bem como
àqueles que as exercem sob condições tais que prejudiquem sua saúde ou integridade física.
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Nada obstante, a efetividade do direito à aposentadoria especial dos servidores
públicos foi severamente comprometida pela omissão deliberada do legislador
infraconstitucional em regulá-lo. Diante dessa omissão, o Poder Judiciário vem sendo
sistematicamente provocado a intervir, normalmente através de mandados de injunção.

A história do mandado de injunção no ordenamento jurídico nacional passou


por várias fases. Na primeira, tinha o mesmo valor de uma mera notificação da mora do
legislador, para que desse início ao processo legislativo.

A partir de 2003, sob forte crítica doutrinária, e diante da inércia dos poderes
públicos de promoverem a integração da Constituição, o STF, a partir do julgamento do MI
283, da Relatoria do Ministro Sepúlveda Pertence, fixou prazo para purgação da mora
legislativa. Se não fosse regulado naquele prazo, a questão seria resolvida em perdas e danos.

A partir de 2006, o STF evoluiu no seu entendimento, ao julgar conjuntamente


os MI 712/PA (Relator Min. Eros Grau) e MI 670/ES (Relator Min. Gilmar Mendes), que
tinham por objeto a regulamentação do direito de greve dos servidores públicos. Até então o
entendimento predominante era de que o direito de greve dos servidores públicos não poderia
ser exercido antes que o Congresso Nacional aprovasse lei complementar.

Quando apresentou seu voto no MI 670, o Ministro Gilmar Mendes lembrou


que a mora legislativa perdurava por longos 17 (dezessete) anos, desde a promulgação da
Constituição, e apesar das anteriores admoestações do STF em MIs anteriores (20 e 485).
Propôs que o STF assumisse um protagonismo legislativo, exercendo a função de legislador
positivo, sem o que estaria chancelando a omissão judicial e total ineficácia da garantia
constitucional, que estava sendo inviabilizada pela inoperância do legislador
infraconstitucional. Neste julgamento o Ministro Eros Grau votou no sentido de determinar a
aplicação da Lei 7.783/89, que regulamentava o direito de greve na iniciativa privada, até que
fosse sanada a omissão legislativa. Este julgamento mudou a natureza do mandado de
injunção, que a partir de então passou a ter natureza objetiva.

Leciona Gilmar Ferreira Mendes: “interessante ressaltar, ainda a extensão


possível dos efeitos advindos de decisão em mandado de injunção. O que se evidencia é a
possibilidade de as decisões nos mandados de injunção surtirem efeitos não somente para os
impetrantes, mas também para os casos idênticos ou semelhantes. Assim, em regra, a decisão
em mandado de injunção, ainda que dotada de caráter subjetivo, comporta uma dimensão
objetiva, com eficácia ‘erga omnes’, que serve para tantos quantos forem os casos que
demandem a superação de uma omissão geral do Poder Público, seja em relação a uma
determinada conduta, seja em relação a uma determinada lei” (MENDES, Gilmar Ferreira.
Curso de Direito Constitucional, 9ª edição, São Paulo, Saraiva, 2014, pp. 1217).

A jurisprudência da Suprema Corte foi se consolidando e, diante de reiteradas


decisões sobre a matéria (v.g. MI 2492 e MI 795), culminou com a aprovação da Súmula
Vinculante 33:

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“Aplicam-se ao servidor público, no que couber, as regras do regime geral da previdência
social sobre aposentadoria especial de que trata o artigo 40, § 4º, inciso III da Constituição
Federal, até a edição de lei complementar específica”.

Observe-se que a SV 33/STF se restringe ao inciso III do artigo 4º, parágrafo 5º,
da CF/88, mas não ao inciso II do mesmo dispositivo. Em outras palavras, aquele verbete só
vincula as decisões do Poder Judiciário, e do Poder Executivo, nas situações em que o
servidor público é submetido a situações especiais de trabalho insalubres, como no caso
concreto.

Embora não haja lei em sentido estrito regulando a matéria, esta anomia
normativa infralegal não é óbice ao exercício do direito do autor, uma vez que é perfeitamente
possível adotar-se a legislação previdenciária do regime comum e, no limite, e a
própria Orientação Normativa nº 16, do MPOG, baixada para regular a SV 33. Para tanto,
entretanto, necessário se faz um breve resgate da legislação previdenciária na parte que nos
interessa.

EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO PREVIDENCIÁRIA DO RGPS

Em seus primórdios, a legislação previdenciária brasileira assegurava


aposentadoria especial por categoria profissional. Na época da vigência do artigo 31 da Lei
3.807/60, em regra bastava que a categoria fosse listada em decreto do Presidente da
República, o qual apontava aquelas consideradas insalubres, penosas ou perigosas.

Depois, durante o período de vigência das Leis nº 5.890/73 (artigo 9º) e


8.213/91 (artigo 58 na redação original), era o legislador, exclusivamente, quem descrevia
quais seriam as categorias aquinhoadas com a aposentadoria especial. Estando prevista em lei
como categoria especial, em regra não cabia ao segurado cumprir qualquer outra exigência
para obter o benefício da aposentadoria especial (salvo para elemento ruído), ou para fazer jus
à conversão do tempo especial em comum, obedecidos aos prazos legais de tempo de serviço.

Convergente com o que dispunha a legislação anterior, o artigo 57 caput e seu §


3º, da Lei nº 8.213/91, em suas redações originais, previa a aposentadoria especial por
categoria profissional, bem como a possibilidade da conversão do tempo em atividade
prejudicial à saúde, considerado especial, para tempo de serviço comum majorado, de acordo
com critérios de equivalência estabelecidos pelo MTb:

“Art. 57. A aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a carência exigida nesta
lei, ao segurado que tiver trabalhado durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco)
anos, conforme atividade profissional, sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde
ou a integridade física.

§ 1º. A aposentadoria especial, observado o disposto na Seção III deste capítulo,


especialmente no art. 33, consistirá numa renda mensal de 85% (oitenta e cinco por cento) do
salário de benefício, mais 1% (um por cento) deste, por grupo de 12 (doze) contribuições, não
podendo ultrapassar 100% (cem por cento) do salário de benefício. (...)

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§ 3º O tempo de serviço exercido alternadamente em atividade comum e em atividade
profissional sob condições especiais que sejam ou venham a ser consideradas prejudiciais à
saúde ou à integridade física será somado, após a respectiva conversão, segundo critérios de
equivalência estabelecidos pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social, para efeito de
qualquer benefício.”

Posteriormente, a Lei nº 9.032/95 alterou significativamente o art. 57 da Lei nº


8.213/91, suprimindo a expressão “conforme a atividade profissional”. Inovou, ainda, com
seus parágrafos 3º, 4º e 5º, estabelecendo a necessidade de comprovação das condições
insalubres experimentadas pelo segurado e sua exposição a agentes nocivos. Transcreve-se a
redação atual do art. 57, e seus § § 3º, 4º e 5º, dada pela Lei nº 9.032/95:

“Art. 57. A aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a carência exigida nesta
Lei, ao segurado que tiver trabalhado sujeito a condições especiais, que prejudiquem a saúde
ou a integridade física, durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, conforme
dispuser a lei.

§ 3º A concessão da aposentadoria especial dependerá de comprovação pelo segurado,


perante o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), do tempo de trabalho permanente, não
ocasional nem intermitente, em condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade
física, durante o período mínimo fixado.

§ 4º O segurado deverá comprovar, além do tempo de trabalho, exposição aos agentes nocivos
químicos, físicos, biológicos ou associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade
física, pelo período equivalente ao exigido para a concessão do benefício.

§ 5º O tempo de trabalho exercido sob condições especiais que sejam ou venham a ser
consideradas prejudiciais à saúde ou à integridade física será somado, após a respectiva
conversão ao tempo de trabalho exercido em atividade comum, segundo critérios estabelecidos
pelo Ministério da Previdência e Assistência Social, para efeito de concessão de qualquer
benefício.”

Assim, a partir da Lei nº 9.032/95 o legislador retirou o direito assegurado aos


profissionais insertos numa categoria profissional, que efetivamente não atuavam sob
condição de risco à saúde ou à integridade física, por exemplo, aqueles que desempenhavam
sua função em escritórios ou em áreas diversas de exposição a agentes agressivos.

A previdência, no início, dispensava a prova da presença de agente nocivo,


presumindo tal ocorrência a certas categorias profissionais. Entretanto, em adequação as
novas exigências sociais, alterou-se tal critério, imputando ao segurado a comprovação da
efetiva exposição aos agentes nocivos químicos, físicos, biológicos ou associação de agentes
prejudiciais à saúde ou à integridade física. É de se ressaltar que o recebimento de adicional
de insalubridade, periculosidade ou por trabalho penoso, por si só, não tem o condão de
comprovar o trabalho sob as condições previstas na lei como ensejadoras do direito à
conversão de tempo de serviço especial em comum.

Com a Lei nº 9.528/97, secundada pela Lei 9.732/98, que alteraram o art. 58 da
Lei 8.213/97, delegou-se ao Poder Executivo dispor sobre a relação dos agentes nocivos à
saúde, considerados para fins de concessão da aposentadoria especial. Dispôs, ainda, acerca

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da exigência de laudos técnicos a serem entregues aos trabalhadores, pelas empresas:

“Art. 58. A relação dos agentes nocivos químicos, físicos e biológicos ou associação de
agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física considerados para fins de concessão da
aposentadoria especial de que trata o artigo anterior será definida pelo Poder Executivo.

§ 1º A comprovação da efetiva exposição do segurado aos agentes nocivos será feita


mediante formulário, na forma estabelecida pelo Instituto Nacional do Seguro Social -
INSS, emitido pela empresa ou seu preposto, com base em laudo técnico de condições
ambientais do trabalho expedido por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do
trabalho nos termos da legislação trabalhista. (Redação dada pela Lei nº 9.732, de 11.12.98)

§ 2º Do laudo técnico referido no parágrafo anterior deverão constar informação sobre a


existência de tecnologia de proteção coletiva ou individual que diminua a intensidade do
agente agressivo a limites de tolerância e recomendação sobre a sua adoção pelo
estabelecimento respectivo. (Redação dada pela Lei nº 9.732, de 11.12.98)

O Decreto 3.048/99 elencou, em seu Anexo IV, a relação dos agentes nocivos
químicos, físicos e biológicos, ou associação destes, agressivos à integralidade física do
trabalhador, para o fim de concessão de aposentadoria especial (artigo 68). Também previu,
com redação dada pelo Decreto 8.123/13, que a empresa deveria comprovar a efetiva
exposição do segurado aos agentes nocivos mediante formulário (DSS 8030 ou SB-40), a ser
elaborado com base em laudo técnico de condições ambientais, expedido por médico do
trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho (artigo 68 parágrafo 3º do Decreto
3.048/99).

Em 2003 houve um significativo avanço nesta matéria, quando foi instituído o


Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP). Foi um marco importante, pois promoveu
celeridade e simplicidade para o segurado, bem como segurança e transparência para a
previdência social numa matéria complexa, que exige análise detalhada de matéria submetida
a inúmeras variáveis fáticas e científicas. O PPP é elaborado com base no laudo técnico de
condições ambientais do trabalho, elaborado por profissional habilitado, conforme previsto no
artigo 58 da Lei 8.213/91, antes transcrito. Tem por escopo, entre outros, prover o trabalhador
de meios de prova perante a previdência social. Atualmente é a IN INSS/PRES nº 77/2015
que regula a matéria, vinculando as agências da previdência social.

Desta forma, a partir de 1º de janeiro de 2004, o PPP emitido regularmente,


respeitando as normas previdenciárias, supre a necessidade de apresentação de quaisquer
outros documentos, em especial formulários laudos técnicos antigamente exigidos (DSS
8030, SB-40 e LTCAT). O artigo 258 desta IN 77/13 é claro e didático ao sintetizar,
observando a legislação vigente antes dela, o que pode ou não pode ser exigido do segurado,
e suas alternativas:

Art. 258. Para caracterizar o exercício de atividade sujeita a condições especiais o segurado
empregado ou trabalhador avulso deverá apresentar, original ou cópia autenticada da
Carteira Profissional - CP ou da Carteira de Trabalho e Previdência Social - CTPS,
observado o art. 246, acompanhada dos seguintes documentos:

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I - para períodos laborados até 28 de abril de 1995, véspera da publicação da Lei nº 9.032,
de 28 de abril de 1995:

a) os antigos formulários de reconhecimento de períodos laborados em condições especiais


emitidos até 31 de dezembro de 2003, e quando se tratar de exposição ao agente físico ruído,
será obrigatória a apresentação, também, do Laudo Técnico de Condições Ambientais do
Trabalho - LTCAT; ou

b) Perfil Profissiográfico Previdenciário - PPP emitido a partir de 1º de janeiro de 2004;

II - para períodos laborados entre 29 de abril de 1995, data da publicação da Lei nº 9.032, de
1995, a 13 de outubro de 1996, véspera da publicação da MP nº 1.523, de 11 de outubro de
1996:

a) os antigos formulários de reconhecimento de períodos laborados em condições especiais


emitidos até 31 de dezembro de 2003, e quando se tratar de exposição ao agente físico ruído,
será obrigatória a apresentação do LTCAT ou demais demonstrações ambientais arroladas
no inciso V do caput do art. 261; ou

b) Perfil Profissiográfico Previdenciário - PPP emitido a partir de 1º de janeiro de 2004;

III - para períodos laborados entre 14 de outubro de 1996, data da publicação da MP nº


1.523, de 11 de outubro de 1996 a 31 de dezembro de 2003, data estabelecida pelo INSS em
conformidade com o determinado pelo § 3º do art. 68 do RPS:

a) os antigos formulários de reconhecimento de períodos laborados em condições especiais


emitidos até 31 de dezembro de 2003 e, LTCAT para exposição a qualquer agente nocivo ou
demais demonstrações ambientais arroladas no inciso V do caput do art. 261...

No caso concreto o próprio Arsenal da Marinha do Rio de Janeiro, através do


seu Núcleo de Gestão da Segurança e Saúde Ocupacional, providenciou a confecção do
Laudo Técnico das Condições Ambientais do Trabalho - LTCAT juntado aos autos, e que
concluiu que o impetrante, que sempre trabalhou como operador de máquinas, esteve sujeito
a ambiente insalubre:

"De acordo com os resultados das avaliações dos agentes ambientais, na área de trabalho do
Grupo Homogênico de risco a que pertence o Agente de Serviços de Engenharia (Operador de
Máquinas), atestamos que o mesmo é exposto de modo habitual e permanente, não ocasional
nem intermitente aos agentes ambientais Ruído e Calor acima dos limites de tolerância
previstos na NR15. Face o exposto, a atividade laboral do servidor em questão é considerada
insalubre de grau médio conforme a NR15 (Referências Técnicas) e ao Art. 12 da Lei 8.270/91
(Aspecto Legal)." (evento 1, anexo8).

Concluo, ainda de forma provisória própria do momento processual em que se


encontra o processo, que o impetrante reuniu condições de se aposentar de forma especial a
partir de março de 2019.

Quanto à integralidade, entendo verossímil suficiente o fato dela estar


expressamente ressalvada no artigo 3ª, parágrafo único, da EC 47/5 (ver abaixo), bem como
ndo disposto no artigo 57, parágrafo 1º da Lei 8.213/91, o qual prevê que a aposentadoria
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especial será concedida em equivalência a 100% do salário de benefício:

Art. 57. A aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a carência exigida nesta Lei,
ao segurado que tiver trabalhado sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a
integridade física, durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos, conforme
dispuser a lei.

§ 1º A aposentadoria especial, observado o disposto no art. 33 desta Lei, consistirá numa


renda mensal equivalente a 100% (cem por cento) do salário-de-benefício.

Também não há que se falar em idade mínima, pois ela é incompatível com a
própria ideia de aposentadoria especial. Ora, seu eu concedo a aposentadoria especial com
menos tempo de contribuição, e ao mesmo tempo obrigo o servidor a permanecer no serviço
público (insalubre ou perigoso) até atingir determinada idade mínima, seria como eu desse
com uma mão e tomasse com outra.

Esta situação ficou bem clara no voto do Ministro Luiz Fux durante sua
explanação na sessão de aprovação do texto da Súmula Vinculante nº 33. Sua excelência
explicou que a exigência do tempo de serviço e da idade “são incompatíveis com a
aposentadoria especial, porque a pessoa que tem direito de se aposentar pela aposentadoria
especial muito provavelmente terá menos de 60 anos, se homem, e menos de 55 anos, se
mulher, e terá contribuído por menos de 35 anos, se homem, e menos de 30 anos, se mulher
(...) O objetivo realmente da aposentadoria especial é reduzir a idade e o tempo de
contribuição”.

Resta apreciar se também há verossimilhança na pretensão de manutenção da


paridade, que é o direito a ter seus proventos de aposentadoria reajustados, ou também
alcançados por benefícios gerais, na mesma proporção e na mesma data em que houver
concessão dos mesmos aos servidores em atividade.

O autor, que ingressou no serviço público antes de 1988 e reuniu as condições


de aposentadoria também antes da entrada em vigor da Emenda Constitucional 103, que
revogou a EC 47/05, que previa regra de transição para servidores que ingressaram antes de
1988:

Art. 3º Ressalvado o direito de opção à aposentadoria pelas normas estabelecidas pelo art. 40
da Constituição Federal ou pelas regras estabelecidas pelos arts. 2º e 6º da Emenda
Constitucional nº 41, de 2003, o servidor da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, que tenha ingressado no serviço público
até 16 de dezembro de 1998 poderá aposentar-se com proventos integrais, desde que
preencha, cumulativamente, as seguintes condições:

I trinta e cinco anos de contribuição, se homem, e trinta anos de contribuição, se mulher;

II vinte e cinco anos de efetivo exercício no serviço público, quinze anos de carreira e cinco
anos no cargo em que se der a aposentadoria;

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III idade mínima resultante da redução, relativamente aos limites do art. 40, § 1º, inciso III,
alínea "a", da Constituição Federal, de um ano de idade para cada ano de contribuição que
exceder a condição prevista no inciso I do caput deste artigo.

Parágrafo único. Aplica-se ao valor dos proventos de aposentadorias concedidas com base
neste artigo o disposto no art. 7º da Emenda Constitucional nº 41, de 2003, observando-se
igual critério de revisão às pensões derivadas dos proventos de servidores falecidos que
tenham se aposentado em conformidade com este artigo.

Por derradeiro, lembro que, em recente decisão, o STF sufragou o entendimento


que não só os servidores podem se aposentar de forma especial em razão de condições de
trabalho adversas, como também podem converter o tempo de serviço assim prestado em
tempo comum majorado, com o que, de uma forma ou de outra, sobeja verossimilhança nas
alegações do impetrante. Confira-se:

Tema 942 - Possibilidade de aplicação das regras do regime geral de previdência social para
a averbação do tempo de serviço prestado em atividades exercidas sob condições especiais,
nocivas à saúde ou à integridade física de servidor público, com conversão do tempo especial
em comum, mediante contagem diferenciada.

Relator: MIN. LUIZ FUX

Leading Case: RE 1014286

Há Repercussão?
Sim

Até a edição da Emenda Constitucional nº 103/2019, o direito à conversão, em tempo comum,


do prestado sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física de
servidor público decorre da previsão de adoção de requisitos e critérios diferenciados para a
jubilação daquele enquadrado na hipótese prevista no então vigente inciso III do § 4º do art.
40 da Constituição da República, devendo ser aplicadas as normas do regime geral de
previdência social relativas à aposentadoria especial contidas na Lei 8.213/1991 para
viabilizar sua concretização enquanto não sobrevier lei complementar disciplinadora da
matéria. Após a vigência da EC n.º 103/2019, o direito à conversão em tempo comum, do
prestado sob condições especiais pelos servidores obedecerá à legislação complementar dos
entes federados, nos termos da competência conferida pelo art. 40, § 4º-C, da Constituição da
República

Assim, mesmo que não fosse o fato da concessão da aposentadoria especial


aparentemente já reunir condições, no caso concreto, de ser integral e paritária, teria direito o
impetrante a converter os 25 anos de serviço especial em mais de 35 anos de serviço comum
(25 x 1,4 = 35).

Não deferida a liminar, o impetrante continuará trabalhando em condições


adversas, com prejuízo de sua saúde e integridade física, razão pela qual entendo presente o
perigo da demora.

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JUSTIÇA FEDERAL
Seção Judiciária do Rio de Janeiro
28ª Vara Federal do Rio de Janeiro
ANTE O EXPOSTO, presentes os pressupostos autorizadores, DEFIRO o
pedido de liminar para DETERMINAR ao DIRETOR DO ARSENAL DE MARINHA DO
RIO DE JANEIRO - AMRJ que conceda ao impetrante aposentadoria especial com
integralidade e paridade, com efeitos a partir de 27 de julho de 2019, data do requerimento
administrativo.

Notifique-se a autoridade impetrada para que cumpra a liminar e preste


informações, em dez dias, nos moldes do artigo 7º, inciso I, da Lei nº 12.016/2009.

Intime-se a União (AGU) para ciência do feito, facultado seu ingresso na lide,
na forma do art. 7º, II, da Lei nº 12.016/2009.

Ouça-se o MPF.

Por fim, voltem-me conclusos para sentença.

Documento eletrônico assinado por ROGÉRIO TOBIAS DE CARVALHO, Juiz Federal na Titularidade Plena, na
forma do artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 2ª Região nº 17, de 26 de
março de 2018. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico
https://eproc.jfrj.jus.br, mediante o preenchimento do código verificador 510002372644v39 e do código CRC 1c68febc.

Informações adicionais da assinatura:


Signatário (a): ROGÉRIO TOBIAS DE CARVALHO
Data e Hora: 7/9/2020, às 6:49:12

5094087-24.2019.4.02.5101 510002372644 .V39

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