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PUCGOIÁS

Curso de Direito — Jur.


Disciplina: DIREITO DO TRABALHO lI
Prof.: Milton I. Heinen
Texto 06

PRESCRIÇÃO NO DIREITO DO TRABALHO

1. NOÇÕES GERAIS (art. 7º,XXIX da CF, com redação da EC n. 28/00; art. 11 da CLT.)

A prescrição tem sua justificativa na necessidade de certeza das relações


jurídicas. Segundo a posição majoritária da doutrina, as relações jurídicas não
podem se manter indefinidas e o Estado não poderia tolerar a perpetuação de
situações dúbias. Esta posição está em consonância com a realidade brasileira?
De fato, os cidadãos em geral têm condições de pleitear a garantia de seus
direitos dentro do lapso de tempo que lhe é estabelecido para requerer a
prestação jurisdicional?

Há diferença sensível entre prescrição e decadência. A prescrição refere-


se ao direito de exigir de alguém o cumprimento de uma prestação, ou o direito do
titular de exigir de outrem uma ação ou abstenção. Já, a decadência diz respeito,
em geral, aos direitos potestativos, que conferem ao titular o poder de influir, com
sua manifestação de vontade, sobre a condição jurídica de outrem, sem o
concurso da vontade deste. Estes não se dirigem contra uma prestação. Os
direitos potestativos não podem ser lesados por ninguém. Quando os direitos
potestativos se exercitam com a necessária intervenção do juiz, este profere uma
sentença constitutiva. Na prescrição, a sentença é de natureza condenatória.

Ë possível dizer que, na decadência, mesmo tendo o direito nascido, este


não se tornou efetivo pela falta de exercício, enquanto que na prescrição o direito
se efetivou, foi lesado e pereceu pela falta de proteção da ação (deixando o titular
do direito violado transcorrer o prazo legal de forma inerte).

Exemplo típico de decadência no Direito do Trabalho é o do inquérito


judicial para a dissolução do contrato do empregado estável, conforme disposto
no artigo 853 da CLT (30 dias para apurar falta grave através de inquérito).

Diz-se, ainda, que decadência é a extinção do direito pelo não exercício do


mesmo no prazo legal ou convencional. Prescrição, como meio de defesa, é
assim considerado como perda do direito de ação.

2. ELEMENTOS QUE INTEGRAM A PRESCRiÇÃO:

- existência de ação exercitável;


- inércia do titular da ação pelo não exercício do seu direito;
- transcurso de certo lapso de tempo no qual o titular da ação se mantêm inerte

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- ausência de fato ou ato ao qual a lei atribui a eficácia impeditiva, suspensiva
ou interruptiva do curso prescricional.

3. CAUSAS QUE IMPEDEM A PRESCRIÇÃO no Dir. do Trabalho:

As causas impeditivas da prescrição são aquelas que não permitem que o


prazo prescricional comece a correr, ou a fluir.

Causas:
- Art. 440 da CLT — contra menores de 18 anos não corre nenhum prazo de
prescrição.
- A incapacidade civil absoluta também é causa impeditiva (ver art. 3º e 198 do
C.C.).
- Não corre a prescrição pendendo condição suspensiva, ou não estando
vencido o prazo.

4. CAUSAS SUSPENSIVAS DA PRESCRIÇÃO:

Causas suspensivas são aquelas que criam um obstáculo momentâneo à


continuidade do prazo que já estava fluindo. Não existindo mais a causa
suspensiva, prossegue a contagem do prazo, contando-se o tempo anterior e
prosseguindo-se a contagem pelo tempo que faltar.

Causas:
- a tentativa de conciliação, perante a Comissão de Conciliação Prévia (art. 625-
G da CLT).
- Ausência do titular, quando este está fora do Brasil em serviço público da
União,
Estado ou Município;
- O tempo de serviço prestado na armada ou no Exército em tempo de guerra (art.
198,ll e III do CC).

Se o nascimento do direito de ação ocorre durante o tempo de ausência,


as causas podem se transformar em impeditivas, porque não permitem que o
prazo prescricional comece a fluir.

5. CAUSAS INTERRUPTIVAS DA PRESCRIÇÃO:

São aquelas que, em aparecendo, anulam o prazo prescricional até então


em curso (isto é em plena contagem). Isto significa dizer que, uma vez cessada a
causa da interrupção, começa a fluir novo prazo, esquecendo-se o prazo
transcorrido anteriormente. As principais causas interruptivas estão no art. 202 do
Código Civil, entre as quais, a citação do devedor, protesto judicial, ato judicial
que constitua o devedor em mora, ato inequívoco de reconhecimento do direito
pelo devedor.

Contudo, no Direito do Trabalho, ocorrem algumas situações específicas,


mesmo que não trate claramente das situações impeditivas, suspensivas e

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interruptivas da prescrição, além do indicado no art. 444.

No Direito do Trabalho, a citação (notificação) é feita automaticamente,


sem necessidade de despacho do juiz (art. 841 da CLT), pelo que a interrupção
da prescrição ocorre pelo simples ajuizamento da reclamação. Mesmo ocorrendo
o arquivamento da reclamação, é predominante o entendimento que ela tem a
capacidade de interromper a prescrição.

6. INÍCIO DA PRESCRIÇÃO ( repercussões):

A primeira exigência para que se processe o início da prescrição, ou o


início da contagem do prazo prescricional, é a ciência (conhecimento), por parte
do titular, de seu direito violado.

O termo inicial da prescrição é o momento em que o direito poderia ser


exercitado.
O prazo prescricional da execução é o mesmo da ação de cognição,
levando-se em conta que a ação de execução é nova ação, é novo poder jurídico
do autor.

Até 5/10/88, o art. 11 da CLT estabelecia o prazo prescricional de 2 anos


para reclamar verbas trabalhistas. A CF/88 (art. 7º, inciso XXIX) ampliou este
prazo, substituindo, automaticamente o prazo definido pela CLT. Desta forma, o
inciso II do art. 11 da CLT não se aplica mais.

A – Prescrição na Constituição Federal de 1988 (art. 7º,XXXI): de intensos


debates, resultou inserido na CF/88 uma diferenciação de prazos prescricionais
entre urbanos e rurais. A proposta inicial discutida a partir da Subcomissão dos
Direitos dos Trabalhadores, era no sentido de que, no decorrer da relação
contratual não fluísse a prescrição. No entanto, em razão da composição de
interesses no Congresso Constituinte (e não uma Assembléia Constituinte livre e
soberana), prevaleceu a tese da prescrição quinquenal, até dois anos após a
extinção do contrato, para os empregados urbanos, enquanto que, para os rurais
o prazo prescricional, com as devidas justificativas, apenas fluía a partir da data
da extinção do contrato de emprego e no prazo de dois anos.

Ocorre que, pela Emenda Constitucional nº 28, de 25/05/2000,


unificaram-se os prazos prescricionais para empregados urbanos e rurais. Com
isso, os direitos dos empregados prescrevem no prazo de 5 anos a partir de sua
exigibilidade, até dois anos após a extinção do contrato, conforme redação do art.
70,XXIX da CF. Ver Súmula 308 TST (com a incorporação da O.J. 204 da SDI-1
do TST), onde o TST interpreta de forma prejudicial aos trabalhadores a
contagem do prazo de 2 anos para a prescrição dos direitos após a extinção do
contrato, entendendo que a contagem se faz retroativamente a partir do
ajuizamento da ação. Portanto, a demora no ajuizamento resulta na perda de
parte dos direitos.

b- Questões controversas:

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Em relação aos empregados urbanos não é totalmente pacífica a
doutrina quanto ao montante de direitos que podem ser reclamados até dois
anos após a extinção contratual; se o empregado possuí dois anos para
reclamar referente aos últimos 5 anos, podendo, mesmo após aguardar
praticamente 2 anos, reclamar direitos dos últimos 5 anos do contrato, ou se
cada ano de espera faz perder mais um ano de direitos. Equivocadamente,
predomina o entendimento de que cada ano de espera, após a extinção do
contrato, é mais um ano de direitos perdido, como vem expresso na Súmula
308 do TST.

Em relação aos rurais: aqui há um problema mais sério, relacionado com


os efeitos da emenda constitucional n0 28 sobre os contratos em vigor,
especificamente para os contratos com duração superior a 5 anos, tendo o
empregado deixado de reclamar direitos, sabedor que era de que somente
prescreveriam após 2 anos da extinção do contrato.

Neste sentido, havia várias teses doutrinárias que se confrontaram a


partir da promulgação da EC 28. Uma sustentava que, para os contratos em vigor,
com mais de 5 anos por ocasião da alteração constitucional, não se aplicaria a
nova regra, com fundamento no direito adquirido do empregado. Uma segunda,
entendia que os empregados surpreendidos com a alteração da CF, tendo,
naquele momento, direitos a reclamar de período superior a 5 anos, teriam os 5
anos subsequentes para reclamar estes direitos, uma vez que a ciência do prazo
de 5 anos apenas lhes foi dada em 25/05/2000. A terceira posição era no sentido
da incidência e efeitos imediatos dos novos prazos prescricionais sobre os
contratos em vigor, apanhando estes no estágio e situação em que se
encontravam em 25/05/2000. Deste entendimento resultou que, todos os
empregados que, naquela data tinham direitos a reclamar referentes a período
anterior superior a 5 anos, automaticamente já os haviam perdido pela incidência
do novo prazo prescricional sobre os contratos, produzindo de imediato plenos
efeitos.

Conforme entendimento majoritário, acabou prevalecendo a última


hipótese, assumida em diversas decisões de 1ª instância e defendidas por
significativa parcela da doutrina, resultando em milhões de reais em prejuízos
para os empregados rurais, da noite para o dia, sobretudo levando-se em conta
que, no meio rural, o descumprimento de obrigações trabalhistas é mais
freqüente do que no meio urbano. Esta última tese, do efeito imediato, acabou
por não levar em conta a regra geral de que o prazo prescricional flui a partir do
momento do conhecimento do fato pelo titular.

De qualquer forma, esta discussão doutrinária agora não tem maior


importância em razão do tempo de vigência da nova regra constitucional. O fato
é que o prejuízo foi evidente para os empregados rurais.

c- Outras repercussões:
- Sobre as férias: o prazo prescricional começa a fluir na data em que
findar o prazo de concessão das férias. É ali que o direito passou a ser violado.
Dali correm 5 anos para operar-se a prescrição, ou até 2 anos após a cessação
do contrato.

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- Sobre diferença de salários: As diferenças de salários não pagas,
prescrevem mensalmente, no prazo de 5 anos, contados da data em que
efetivamente deveriam ter sido pagos (5º dia útil de cada mês)

- Sobre a equiparação salarial: o direito à equiparação salarial não


prescreve, enquanto durar a situação que o origina, mas as diferenças vão
prescrevendo mensalmente, após o decurso do prazo de 5 anos anteriores ao
ajuizamento da respectiva reclamação (atualmente a Súmula nº 6, item IX
estabelece o entendimento do TST).

- Direito de anotação da CTPS: Este direito, assim como o direito de


retificação de anotação, não prescrevem no decorrer do contrato,
principalmente porque estas não são apenas de interesse individual, mas,
principalmente, de interesse público (Dir. Administrativo do Trabalho).

- A ação de cumprimento de decisão normativa tem seu termo inicial do


prazo prescricional a partir do trânsito em julgado da sentença normativa.
(Súmula 350 do TST).

- O direito de ação objetivando a soma de períodos descontínuos de


trabalho, começa a fluir da extinção do último contrato, visando fixar tempo de
serviço. ( Súmula 156 do TST).

- As contribuições ao FGTS são reguladas por lei especial. Sobre a


prescrição do direito de reclamar por FGTS não recolhido pelo empregador, o
STJ, pela Súmula 210, havia fixado a prescrição trintenária incidente sobre
verbas trabalhistas pagas, a contar da data de vencimento do recolhimento.
Não havendo pagamento de parcelas salariais ( débito salarial ) e nem o
recolhimento do FGTS, já havia entendimento de parte da doutrina trabalhista
no sentido da prescrição junto com os salários ou outras verbas salariais
prescritas. O TST, com sucessivas alterações do teor da Súmula 362,
passando pela fixação da prescrição trintenlária, acabou, em 2015,
estabelecendo o entendimento de que se trata de prescrição quinquenal, nas
mesmas condições das demais verbas de natureza trabalhista, observado o
prazo limite de dois anos após o término do contrato”. Trata-se, contudo, de
tema com posicionamentos divergentes na doutrina.

Na Súmula 206 o TST já havia firmado entendimento anterior de que o


FGTS referente a parcelas de natureza trabalhista prescritas (por não
reclamadas no prazo limite) também prescreve junto com elas (5 anos)

.x.x.x.x.

DIREITOS DIFUSOS, COLETIVOS E INDIVIDUAIS


INDISPONÍVEIS NO DIR. DO TRABALHO.
- art 129,III CF; LC. 75/93 – art. 83 a 86.

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1 - Atribuição: Trata-se de atribuição constitucional do MP (art. 129,III da CF), e
especificamente do Ministério Público do Trabalho, nas questões atinentes às
relações de trabalho. As funções específicas do MPT eram reguladas pelos
artigos 736 a 754 da CLT , na Resolução nº 28/97 sobre a instauração de
inquéritos civis públicos , além das atribuições específicas inseridas na Lei
Complementar nº 75/93 ( Estatuto do M. P. da União), nos seus artigos 83 a
86.

No entanto, os artigos 736 e 737 não foram recepcionados pela CF,


como se pode extrair do artigo 127. O artigo 736 da CLT diz, por exemplo,
que o MPT é constituído de agentes diretos do poder executivo, enquanto que
o art. 127 da Lei Maior estabelece a independência funcional do MP, com
função, entre outras, de defesa dos interesses individuais e sociais
indisponíveis. Além disso, há entendimento de que os artigos 736 a 754 da
CLT foram derrogados pela Lei Complementar 75/93, especialmente pelo
artigo 83, uma vez que a lei complementar dá nova regulamentação à
matéria.

Há aspectos da realidade que, no que tange a fiscalização, são de


competência, ao mesmo tempo, do MTE (Superintendências Regionais) e do
MPT, em razão das repercussões que as irregularidades praticadas trazem.

2 – Direitos difusos:

São os interesses transindividuais de natureza indivisível e


dispersos na sociedade, com sujeito indeterminado do direito ( uma coletividade).
Ex. a defesa do ar puro.

No caso de realização de greve, sem a observância das regras


sobre a manutenção de um mínimo de atividade do setor, naquelas consideradas
atividades essenciais, acaba por agredir o interesse difuso dos cidadãos na
manutenção dos serviços, possibilitando a intervenção do MPT, como previsto no
parágrafo 3º do art. 114 da CF.

A sonegação de FGTS também agride o interesse difuso, em razão


do objetivo deste instituto que, entre outros, aplica-se na habitação popular.

3 – Direitos Coletivos:

São interesses transindividuais e indivisíveis de que são titulares


determinados grupos ou categorias.. Ex. a empresa não recolhe FGTS. No caso
de reclamação ao MPT, a iniciativa beneficiará a todos. Trata-se de lesão patronal
una que afeta a todos.
O direito a ambiente de trabalho salubre, também é questão que afeta o
interesse de todos os empregados.
Ex – cobrança de contribuição confederativa de toda a categoria
(associados e não associados) – Súmula 666 do TST permite a cobrança
somente dos associados.

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4 – Direitos individuais homogêneos:
São os interesses decorrentes de origem comum, mas divisíveis. O titular
pode pleitear sua defesa isoladamente. Ainda assim, conforme o código de
defesa do consumidor, possuem tutela coletiva em razão da origem comum. O
MPT atua neles como substituto processual. Ex. assinatura de papéis em branco
na contratação do empregado. Ex. a não anotação da CTPS do empregado. =
também afeta o interesse de uma coletividade pelas conseqüências que traz,
como o não recolhimento de FGTS e INSS.

5 – Instrumentos de ação do MPT:

A - Inquérito Civil (Público) – quando a denúncia não deixa clara a afronta a


direitos difusos ou coletivos. Quando os fatos denunciados precisam ser
investigados e comprovados.

B – Termo de Compromisso ou de Ajustamento de Conduta: por meio deste a


parte reclamada ( contra quem foi feita a denúncia ou instaurado o inquérito) se
compromete a sanar as irregularidades ( num certo prazo), evitando, assim a
ação civil pública. Ex. – Um TAC fixando a não cobrança da Contribuição
Confederativa de Trabalhador que não é associado a sindicato.
É comum o MPT atuar com instrumento preparatório de Inquérito Civil,
onde propõe o compromisso (ajustamento de conduta) e, caso não aceito,
procede à abertura de inquérito civil.

O TAC é título executivo extrajudicial nos termos da Lei nº 9.958/00

C – Ação Civil Pública Trabalhista: ( art. 114 da CF).

É Ação de competência da Justiça do Trabalho, cabível nos casos


apurados e comprovados de violação de direitos difusos, coletivos e individuais
homogêneos.
Esta ação não visa a reparação de direitos individuais lesados.

.x.x.

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