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JURÍDICO
UNIDADE 4 – O DIREITO, O TEMPO E A
PROVA DO NEGÓCIO JURÍDICO
SEÇÃO 4.1 – PRESCRIÇÃO
4.2 - DECADÊNCIA
Como nos ensina o professor Anderson Schreiber, a prescrição e decadência tem o intuito
de “impedir a eternização de conflitos na vida social, extinguindo posições jurídicas
que seus respectivos titulares não façam valer após certo lapso temporal” (SCHREIBER,
2018, p. 285).
Elementos comuns:
Lesão a direito subjetivo: surge no momento que uma das partes não cumpre o seu
dever jurídico.
Extinção da ação (Clóvis Beviláqua): para Beviláqua, a todo direito corresponderia uma ação
(CC/16), pelo que se o seu direito fosse lesado, você teria direito de acionar alguém para pedir
a reparação. Ao perder esse direito, você perderia o próprio direito de ação. Esse conceito, na
verdade, é inadequado para atual momento histórico.
Extinção do direito subjetivo (Caio Mário): para o autor, quando um direito subjetivo fosse
violado, você poderia exigir esse direito violado e, caso assim não fizesse, no prazo
estabelecido pela lei, ter-se-ia a extinção desse direito subjetivo – conceito elaborado na
década de 60.
Extinção da pretensão (Moreira Alves - Código Civil): essa corrente faz a distinção entre direito
subjetivo e pretensão (nasce da violação ao direito) – distinção essa que não foi feita por Caio
Mário. Para ela, a prescrição é a extinção da pretensão, dado o não exercício da mesma nos
prazos estabelecidos em lei.
Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição,
nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206 .
Note que, para essa corrente, o direito ainda continua, ao contrário do que afirmava
Caio Mário.
Prescrição como exceção que retira a eficácia da pretensão (Humberto Theodoro e José Carlos
Barbosa Moreira – visão do NCPC): a prescrição é um instrumento de defesa, que retira a
eficácia da pretensão, mas não a extingue.
O termo inicial para contagem dos prazos prescricionais é o momento da violação do
direito (que é justamente o momento em que nasce a pretensão). O Brasil adota-se a
teoria conhecida por actio nata, segundo a qual a prescrição tem seu início como
nascimento da pretensão.
Essa regra pode ser mitigada em algumas situações, de acordo com entendimentos
jurisprudenciais específicos. Existe interessante discussão, na qual há propostas no
sentido de que o termo inicial da contagem do prazo prescricional seja o momento em
que a vítima/credor toma conhecimento da lesão/inadimplemento cometida pela outra
pessoa.
A prescrição, que tem como sua base o tempo enquanto ato-fato jurídico, (I) extingue a
pretensão, como visto, ou (II) faz nascer direitos, e, nessa segunda hipótese, trata-se da
prescrição aquisitiva, também conhecida por usucapião. Ou seja, o decurso do tempo
(aliado à inércia) resultará na extinção da pretensão, ou levará o indivíduo a adquirir a
propriedade, no caso da usucapião. A propósito, e para ilustrar a questão, o art. 1.240,
do Código Civil:
Art. 1.240-A. Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem oposição, posse direta,
com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² (duzentos e cinquenta metros quadrados)
cuja propriedade divida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para
sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não seja proprietário
de outro imóvel urbano ou rural. (Incluído pela Lei nº 12.424, de 2011)
§ 1º O direito previsto no caput não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.
§ 2º (VETADO) . (Incluído pela Lei nº 12.424, de 2011)
CAUSAS SUSPENSIVAS E IMPEDITIVAS DA PRESCRIÇÃO
1. INDEPENDÊNCIA DAS INSTÂNCIAS (CC, 200 c/c 935): como regra, a decisão emanada no juízo cível,
não repercute no juízo penal e vice-versa. É o princípio da independência das instâncias. Todavia,
esse princípio não é absoluto, eis que, excepcionalmente, as instâncias pode se comunicar se no
juízo penal, por intermédio de uma sentença penal transitada em julgado, houver decidido a
existência do fato e de sua autoria. Por tal razão, dispõe o art. 200 do CC que enquanto o fato
estiver sendo apurado no Juízo criminal, não correrá prescrição no Juízo Cível. Se o fato não
estiver sendo apurado na esfera penal, não há porque paralisar o fato na esfera cível. Ademais, se
a autoria e materialidade já restaram comprovadas na esfera penal, somente será discutido na
esfera cível o quantum.
ATENÇÃO!!! Segundo o STJ, considera-se o fato como sendo apurado no juízo criminal quando se
tem uma ação penal em curso ou um inquérito policial em aberto (Informativo 500 do STF).
ATENÇÃO!!! A sentença penal absolutória, por insuficiência de provas, não repercute no juízo
cível (Informativo 517 do STJ).
CAUSAS INTERRUPTIVAS DA PRESCRIÇÃO
As causas interruptivas estão ligadas a aspectos objetivos (atos praticados). A interrupção pode
ser compreendida como um reset, um reinício. Quando interrompido o prazo, toda a sua
contagem volta ao começo.
Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á:
I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a promover no prazo e na
forma da lei processual;
II - por protesto, nas condições do inciso antecedente;
III - por protesto cambial;
IV - pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em concurso de credores;
V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;
VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento do direito pelo devedor.
Parágrafo único. A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do último ato
do processo para a interromper.
Art. 203. A prescrição pode ser interrompida por qualquer interessado.
Art. 204. A interrupção da prescrição por um credor não aproveita aos outros;
semelhantemente, a interrupção operada contra o co-devedor, ou seu herdeiro, não prejudica
aos demais coobrigados.
§ 1º A interrupção por um dos credores solidários aproveita aos outros; assim como a
interrupção efetuada contra o devedor solidário envolve os demais e seus herdeiros.
§ 2º A interrupção operada contra um dos herdeiros do devedor solidário não prejudica os
outros herdeiros ou devedores, senão quando se trate de obrigações e direitos indivisíveis.
§ 3º o A interrupção produzida contra o principal devedor prejudica o fiador.
CARACTERÍSTICAS DA PRESCRIÇÃO
Renunciável: feita por quem aproveita, pode ser expressa ou tácita, desde que não
prejudique terceiros e somente após já decorrido o prazo prescricional (CC, 191).
Inalterável: os prazos prescricionais não podem ser alterados por acordo entre as
partes (CC, 192).
Arguição de ofício: pode ser arguida de ofício (CPC, pú do 487). Antes de arguir de
ofício, o magistrado deverá ouvir as partes.
Continuidade: a prescrição iniciada contra pessoa continua correndo contra o
sucessor desta (CC, 196), salvo se o sucessor for um absolutamente incapaz (art. 198,
I do CC). Nesse caso, prescrição contra voltará a correr a partir do momento em que
ele se tornar um relativamente incapaz.
Única interrupção: a prescrição somente será interrompida uma vez (CC, 202).
ATENÇÃO!!!
Prescrição intercorrente (LEF, 40 e NCPC, 921):
essa prescrição dá-se durante o processo de execução. Não tendo sido encontrado bens do
devedor, o juiz suspende a execução, até que sejam encontrados novos bens; passado um
ano da decisão que suspendeu o processo, tem-se o termo inicial para início da contagem da
prescrição intercorrente.
PRAZOS PRESCRICIONAIS
A regra geral está prevista no art. 205, do Código Civil, que dispõe que “a prescrição
ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor”. Ou seja, se a
lei não fixar prazo menor, será sempre de dez anos o prazo.
O artigo 206 do Código Civil aponta regras específicas relacionadas aos prazos:
§ 2º Em dois anos, a pretensão para haver prestações alimentares, a partir da data em que
se vencerem.
§ 3º Em três anos:
I - a pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou rústicos;
II - a pretensão para receber prestações vencidas de rendas temporárias ou vitalícias;
III - a pretensão para haver juros, dividendos ou quaisquer prestações acessórias, pagáveis,
em períodos não maiores de um ano, com capitalização ou sem ela;
IV - a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa;
V - a pretensão de reparação civil;
VI - a pretensão de restituição dos lucros ou dividendos recebidos de má-fé, correndo o prazo
da data em que foi deliberada a distribuição;
VII - a pretensão contra as pessoas em seguida indicadas por violação da lei ou do estatuto,
contado o prazo:
a) para os fundadores, da publicação dos atos constitutivos da sociedade anônima;
b) para os administradores, ou fiscais, da apresentação, aos sócios, do balanço referente ao
exercício em que a violação tenha sido praticada, ou da reunião ou assembléia geral que dela
deva tomar conhecimento;
c) para os liquidantes, da primeira assembléia semestral posterior à violação;
VIII - a pretensão para haver o pagamento de título de crédito, a contar do vencimento,
ressalvadas as disposições de lei especial;
IX - a pretensão do beneficiário contra o segurador, e a do terceiro prejudicado, no caso de
seguro de responsabilidade civil obrigatório.
Informativo 525 do STJ: o prazo prescricional para a reparação de danos decorrentes de acidente aéreo é o
previsto no art. 27 do CDC (05 anos), não se aplicando a Lei 7565/86 (02 anos), que trata sobre o Código
Brasileiro de Aeronáutica.
Informativo 502 do STJ: A pretensão de reparação por dano moral decorrente de abandono afetivo (quando
o pai descumpre o seu dever jurídico de dar educação, acompanhar e vigiar os atos praticados pelo seu filho
menor, art. 1634 do CC – e não em função da falta de afeto, carinho e amor, que não são deveres jurídicos),
não corre enquanto houver o exercício do poder familiar. Isso porque nos termos do art. 197, II do CC, não
corre prescrição entre ascendentes e descendentes durante o exercício do poder familiar.
DECADÊNCIA
Conceito preliminar:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...)
LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não
amparado por habeas corpus ou habeas data , quando o responsável pela ilegalidade ou
abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de
atribuições do Poder Público;
O art. 23 da Lei n. 12.016/2009 (Lei do Mandado de Segurança) que retrata que “o direito
de requerer mandado de segurança extinguir-se-á decorridos 120 (cento e vinte) dias,
contados da ciência, pelo interessado, do ato impugnado”.
O art. 23 da Lei n. 12.016/2009 (Lei do Mandado de Segurança) que retrata que “o direito
de requerer mandado de segurança extinguir-se-á decorridos 120 (cento e vinte) dias,
contados da ciência, pelo interessado, do ato impugnado”.
Art. 2.027. A partilha é anulável pelos vícios e defeitos que invalidam, em geral, os negócios
jurídicos. (Redação dada pela Lei nº 13.105, de 2015) (Vigência)
Parágrafo único. Extingue-se em um ano o direito de anular a partilha
Art. 26. o direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em:
I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não duráveis;
II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos duráveis.
Ex: se você adquire um televisor e, após utilizá-lo por apenas uma semana, alguns botões
que alteram o volume ou os canais começam a não funcionar, você estará diante de um vício
do produto e poderá exigir do fornecedor atitudes que corrijam esse problema. Sem entrar
em maiores detalhes sobre o Direito Consumerista, perceba que seu televisor, por não restar
exaurido (finalizado/ extinto) após poucas utilizações, é considerado um bem durável,
motivo pelo qual você terá o prazo de 90 dias para reclamar por esse vício oculto, contado a
partir de quando ficou evidenciado o vício (CDC, 26, § 3º). direito de reclamar caduca em 90
dias, o que já nos permite concluir que se trata de um prazo decadencial. E mais, seu direito
de reclamar significará uma imposição ao fornecedor, que vai sujeitar-se a verificar se
ocorreu mesmo o vício, não cabendo a ele se negar à análise da reclamação do consumidor.
Anulabilidade dos atos jurídicos (CC, 178):
Art. 178. É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio
jurídico, contado:
I - no caso de coação, do dia em que ela cessar;
II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que se
realizou o negócio jurídico;
III - no de atos de incapazes, do dia em que cessar a incapacidade.
Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do
ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou
aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar
o ato constitutivo.
Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a constituição das pessoas jurídicas
de direito privado, por defeito do ato respectivo, contado o prazo da publicação de sua
inscrição no registro.
SITUAÇÃO PROBLEMA LIVRO TEXTO
Rosângela foi seriamente ferida no acidente, e a responsabilização de Rogério foi apurada pelo Juízo
Criminal, após seis anos de processo, resultando em sua condenação, na pena prevista no art. 303, §
2º do Código de Trânsito Brasileiro. Após o trânsito em julgado da decisão criminal, Rosângela ajuizou
ação indenizatória em face de Rogério, buscando compensação pelo dano extrapatrimonial
suportado. O Juízo Cível julgou improcedente a ação, sob o argumento de que decorreu o prazo
prescricional de três anos, contado a partir da data do acidente. Você é o advogado dessa causa e
deve argumentar em seu recurso de apelação para reverter esse entendimento sobre a prescrição.
Qual seria a solução mais adequada e favorável à sua cliente?
SITUAÇÃO PROBLEMA LIVRO TEXTO
a) salvo disposição legal em contrário, aplicam-se à decadência as normas que impedem, suspendem ou
interrompem a prescrição.
b) a interrupção da prescrição por um credor aproveita aos outros; semelhantemente, a interrupção
operada contra o codevedor, ou seu herdeiro, prejudica aos demais coobrigados.
c) suspensa a prescrição em favor de um dos credores solidários, só aproveitam os outros se a obrigação
for indivisível.
d) a prescrição pode ser interrompida por qualquer interessado.
e) se a decadência for convencional, a parte a quem aproveita pode alegá-la em qualquer grau de
jurisdição, podendo o juiz suprir a alegação.
Questão 2: (Prova: VUNESP - 2020 - Prefeitura de São Roque - SP - Advogado)
Foi celebrado um negócio jurídico bilateral no qual uma das partes, intencionalmente, silenciou a respeito
de fato que a outra parte ignorou e que, se fosse conhecido, não se teria celebrado o negócio jurídico.
Constou no instrumento contratual que as partes renunciam ao prazo para pleitear a anulação do negócio
por vício do consentimento.
João dirigia embriagado quando colidiu com outro veículo, causando um grave acidente. João morreu no
local do acidente e o motorista do outro veículo, Pedro, foi levado ao hospital, onde ficou internado por
dois meses, até falecer. Os herdeiros de Pedro decidiram pleitear danos morais e materiais contra os
herdeiros de João.
No que concerne às modalidades de decadência legal e convencional, assinale a opção correta, de acordo
com o Código Civil.
a) Não há qualquer distinção de tratamento jurídico entre as espécies de decadência legal e convencional.
b) A decadência convencional é nula de pleno direito, porque somente a lei pode estabelecer prazos
decadenciais.
c) Ambas as modalidades de decadência, caso consumadas, devem ser reconhecidas de ofício pelo
magistrado.
d) Diferentemente do que ocorre com a decadência convencional, a decadência legal, caso consumada, não
pode ser objeto de renúncia pelo interessado.
e) Ao legislador é vedado criar hipóteses de suspensão ou interrupção de prazo decadencial legal.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
CASTRO, Paulo Roberto Ciola de. Direito civil - negócio jurídico. Londrina : Editora e Distribuidora
Educacional S.A., 2018, 216 p.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil 1: parte geral, obrigações e contratos. 6.ed. São Paulo:
Saraiva, 2016.
TARTUCE, Flávio. Direito civil v.1: lei de introdução e parte geral. 14.ed. Rio de Janeiro: Forense,
2018.
TARTUCE, Flávio. Os novos danos: danos morais coletivos, danos sociais e danos por perda de uma
chance. Curso a distância proferido pela rede FMB em 28 jul. 2009.