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DIREITO CIVIL – NEGÓCIO

JURÍDICO
UNIDADE 4 – O DIREITO, O TEMPO E A
PROVA DO NEGÓCIO JURÍDICO
SEÇÃO 4.1 – PRESCRIÇÃO
4.2 - DECADÊNCIA

 Prescrição e decadência são institutos de


direito material, positivados entre os artigos
189 a 211 do Código Civil de 2002, e, por
essência, dizem respeito à perda do exercício
à pretensão ou ao direito após determinado
período.

 Diferentemente da classificação estabelecida


no Código Civil de 1916, que disciplinou toda a
matéria como sendo somente prescrição (arts.
161 a 179), o atual Código Civil (2002), trouxe
expressamente a previsão da decadência,
delimitando a diferença entre estes institutos.
 No Código Civil de 2002, os temas são tratados principalmente nos artigos 189 a 206
(prescrição) até os artigos 207 a 211 (decadência). São estabelecidos conceitos, causas
que impedem, suspendem ou interrompem a aplicação dos institutos, e ainda alguns
exemplos de prazo máximo antes da perda da pretensão do titular do direito.

 Como nos ensina o professor Anderson Schreiber, a prescrição e decadência tem o intuito
de “impedir a eternização de conflitos na vida social, extinguindo posições jurídicas
que seus respectivos titulares não façam valer após certo lapso temporal” (SCHREIBER,
2018, p. 285).

 Muito embora pareçam sinônimos, pois ao final resultam na extinção da pretensão ou


direito, prescrição e decadência são ordenamentos jurídicos diferentes entre si. Têm
características e classificações próprias, não podendo um substituir o outro, ainda que
pareçam similares.
 Natureza jurídica da prescrição e da decadência: ato-fato.

 Elementos comuns:

 Segurança jurídica: em algum momento, deve haver uma pacificação social, a


estabilização das relações (máxima da ciência do Direito).
 Inatividade de um titular: omissão no exercício do direito.
 Decurso do tempo

Os efeitos da prescrição e da decadência são o resultado da conjugação dos três


elementos acima.
PRESCRIÇÃO
 Conceito preliminar:

 Direito subjetivo: poder de atuar de acordo com a sua vontade, perseguindo


interesse próprio, desde que respeitados os limites da lei.

 Lesão a direito subjetivo: surge no momento que uma das partes não cumpre o seu
dever jurídico.

 Pretensão: poder de exigibilidade da prestação ou de uma reparação (tutela


específica, tutela inibitória ou tutela reparatória), a depender do caso concreto, ante
a violação a um direito subjetivo.
 Conceito – Correntes:

 Extinção da ação (Clóvis Beviláqua): para Beviláqua, a todo direito corresponderia uma ação
(CC/16), pelo que se o seu direito fosse lesado, você teria direito de acionar alguém para pedir
a reparação. Ao perder esse direito, você perderia o próprio direito de ação. Esse conceito, na
verdade, é inadequado para atual momento histórico.

 Extinção do direito subjetivo (Caio Mário): para o autor, quando um direito subjetivo fosse
violado, você poderia exigir esse direito violado e, caso assim não fizesse, no prazo
estabelecido pela lei, ter-se-ia a extinção desse direito subjetivo – conceito elaborado na
década de 60.

 Extinção da pretensão (Moreira Alves - Código Civil): essa corrente faz a distinção entre direito
subjetivo e pretensão (nasce da violação ao direito) – distinção essa que não foi feita por Caio
Mário. Para ela, a prescrição é a extinção da pretensão, dado o não exercício da mesma nos
prazos estabelecidos em lei.
Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição,
nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206 .

Note que, para essa corrente, o direito ainda continua, ao contrário do que afirmava
Caio Mário.

 Prescrição como exceção que retira a eficácia da pretensão (Humberto Theodoro e José Carlos
Barbosa Moreira – visão do NCPC): a prescrição é um instrumento de defesa, que retira a
eficácia da pretensão, mas não a extingue.
 O termo inicial para contagem dos prazos prescricionais é o momento da violação do
direito (que é justamente o momento em que nasce a pretensão). O Brasil adota-se a
teoria conhecida por actio nata, segundo a qual a prescrição tem seu início como
nascimento da pretensão.

Essa regra pode ser mitigada em algumas situações, de acordo com entendimentos
jurisprudenciais específicos. Existe interessante discussão, na qual há propostas no
sentido de que o termo inicial da contagem do prazo prescricional seja o momento em
que a vítima/credor toma conhecimento da lesão/inadimplemento cometida pela outra
pessoa.
 A prescrição, que tem como sua base o tempo enquanto ato-fato jurídico, (I) extingue a
pretensão, como visto, ou (II) faz nascer direitos, e, nessa segunda hipótese, trata-se da
prescrição aquisitiva, também conhecida por usucapião. Ou seja, o decurso do tempo
(aliado à inércia) resultará na extinção da pretensão, ou levará o indivíduo a adquirir a
propriedade, no caso da usucapião. A propósito, e para ilustrar a questão, o art. 1.240,
do Código Civil:

Art. 1.240-A. Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem oposição, posse direta,
com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² (duzentos e cinquenta metros quadrados)
cuja propriedade divida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para
sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não seja proprietário
de outro imóvel urbano ou rural. (Incluído pela Lei nº 12.424, de 2011)
§ 1º O direito previsto no caput não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.
§ 2º (VETADO) . (Incluído pela Lei nº 12.424, de 2011)
CAUSAS SUSPENSIVAS E IMPEDITIVAS DA PRESCRIÇÃO

 As causas suspensivas e impeditivas, em sua grande maioria, trazem, normalmente


aspectos subjetivos, relativos àquele indivíduo e às circunstâncias na qual ele está
inserida.

 A suspensão funciona como uma espécie de “pausa” no prazo. Acompanhe um


exemplo: dos três anos do prazo prescricional, Diego tinha apenas mais seis meses para
ajuizar uma ação indenizatória, e, nesse momento, passou a servir nas Forças Armadas,
em tempos de guerra; dessa forma, para que Diego não seja prejudicado enquanto
serve o país, o prazo prescricional que corre para sua pretensão será suspenso
(pausado).

 O impedimento sequer permite que o prazo comece a fluir.


 Os artigos 197 a 200 do Código Civil apontam as causas que impedem ou suspendem a
prescrição:

Art. 197. Não corre a prescrição:


I - entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal;
II - entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar;
III - entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou curatela.

Art. 198. Também não corre a prescrição:


I - contra os incapazes de que trata o art. 3 o ;
II - contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados ou dos Municípios;
III - contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de guerra.

Art. 199. Não corre igualmente a prescrição:


I - pendendo condição suspensiva;
II - não estando vencido o prazo;
III - pendendo ação de evicção.
Art. 200. Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não
correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva.

Art. 201. Suspensa a prescrição em favor de um dos credores solidários, só aproveitam os


outros se a obrigação for indivisível.
OBSERVAÇÕES:

1. INDEPENDÊNCIA DAS INSTÂNCIAS (CC, 200 c/c 935): como regra, a decisão emanada no juízo cível,
não repercute no juízo penal e vice-versa. É o princípio da independência das instâncias. Todavia,
esse princípio não é absoluto, eis que, excepcionalmente, as instâncias pode se comunicar se no
juízo penal, por intermédio de uma sentença penal transitada em julgado, houver decidido a
existência do fato e de sua autoria. Por tal razão, dispõe o art. 200 do CC que enquanto o fato
estiver sendo apurado no Juízo criminal, não correrá prescrição no Juízo Cível. Se o fato não
estiver sendo apurado na esfera penal, não há porque paralisar o fato na esfera cível. Ademais, se
a autoria e materialidade já restaram comprovadas na esfera penal, somente será discutido na
esfera cível o quantum.
ATENÇÃO!!! Segundo o STJ, considera-se o fato como sendo apurado no juízo criminal quando se
tem uma ação penal em curso ou um inquérito policial em aberto (Informativo 500 do STF).
ATENÇÃO!!! A sentença penal absolutória, por insuficiência de provas, não repercute no juízo
cível (Informativo 517 do STJ).
CAUSAS INTERRUPTIVAS DA PRESCRIÇÃO

 As causas interruptivas estão ligadas a aspectos objetivos (atos praticados). A interrupção pode
ser compreendida como um reset, um reinício. Quando interrompido o prazo, toda a sua
contagem volta ao começo.

 As causas de interrupção estão expostas no artigo 202 a 204 do Código Civil:

Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á:
I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a promover no prazo e na
forma da lei processual;
II - por protesto, nas condições do inciso antecedente;
III - por protesto cambial;
IV - pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em concurso de credores;
V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;
VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento do direito pelo devedor.
Parágrafo único. A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do último ato
do processo para a interromper.
Art. 203. A prescrição pode ser interrompida por qualquer interessado.

Art. 204. A interrupção da prescrição por um credor não aproveita aos outros;
semelhantemente, a interrupção operada contra o co-devedor, ou seu herdeiro, não prejudica
aos demais coobrigados.
§ 1º A interrupção por um dos credores solidários aproveita aos outros; assim como a
interrupção efetuada contra o devedor solidário envolve os demais e seus herdeiros.
§ 2º A interrupção operada contra um dos herdeiros do devedor solidário não prejudica os
outros herdeiros ou devedores, senão quando se trate de obrigações e direitos indivisíveis.
§ 3º o A interrupção produzida contra o principal devedor prejudica o fiador.
CARACTERÍSTICAS DA PRESCRIÇÃO

 Renunciável: feita por quem aproveita, pode ser expressa ou tácita, desde que não
prejudique terceiros e somente após já decorrido o prazo prescricional (CC, 191).

 Inalterável: os prazos prescricionais não podem ser alterados por acordo entre as
partes (CC, 192).

 Arguição em qualquer grau de jurisdição: a prescrição pode ser arguida em qualquer


grau (CC, 193) – lembrando que a arguição na instância especial ou extraordinária,
depende de prequestionamento da matéria (requisito de admissibilidade).

 Arguição de ofício: pode ser arguida de ofício (CPC, pú do 487). Antes de arguir de
ofício, o magistrado deverá ouvir as partes.
 Continuidade: a prescrição iniciada contra pessoa continua correndo contra o
sucessor desta (CC, 196), salvo se o sucessor for um absolutamente incapaz (art. 198,
I do CC). Nesse caso, prescrição contra voltará a correr a partir do momento em que
ele se tornar um relativamente incapaz.

 Responsabilização do assistente do relativamente incapaz que der causa, ou não


alegar a prescrição; assim como do representante legal da pessoa jurídica (CC,
195).

 Única interrupção: a prescrição somente será interrompida uma vez (CC, 202).
ATENÇÃO!!!
Prescrição intercorrente (LEF, 40 e NCPC, 921):
essa prescrição dá-se durante o processo de execução. Não tendo sido encontrado bens do
devedor, o juiz suspende a execução, até que sejam encontrados novos bens; passado um
ano da decisão que suspendeu o processo, tem-se o termo inicial para início da contagem da
prescrição intercorrente.
PRAZOS PRESCRICIONAIS

 A regra geral está prevista no art. 205, do Código Civil, que dispõe que “a prescrição
ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor”. Ou seja, se a
lei não fixar prazo menor, será sempre de dez anos o prazo.

 O artigo 206 do Código Civil aponta regras específicas relacionadas aos prazos:

Art. 206. Prescreve:


§ 1º Em um ano:
I - a pretensão dos hospedeiros ou fornecedores de víveres destinados a consumo no próprio
estabelecimento, para o pagamento da hospedagem ou dos alimentos;
II - a pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele, contado o prazo:
a) para o segurado, no caso de seguro de responsabilidade civil, da data em que é citado
para responder à ação de indenização proposta pelo terceiro prejudicado, ou da data que a
este indeniza, com a anuência do segurador;
b) quanto aos demais seguros, da ciência do fato gerador da pretensão;
III - a pretensão dos tabeliães, auxiliares da justiça, serventuários judiciais, árbitros e
peritos, pela percepção de emolumentos, custas e honorários;
IV - a pretensão contra os peritos, pela avaliação dos bens que entraram para a formação do
capital de sociedade anônima, contado da publicação da ata da assembléia que aprovar o
laudo;
V - a pretensão dos credores não pagos contra os sócios ou acionistas e os liquidantes,
contado o prazo da publicação da ata de encerramento da liquidação da sociedade.

§ 2º Em dois anos, a pretensão para haver prestações alimentares, a partir da data em que
se vencerem.

§ 3º Em três anos:
I - a pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou rústicos;
II - a pretensão para receber prestações vencidas de rendas temporárias ou vitalícias;
III - a pretensão para haver juros, dividendos ou quaisquer prestações acessórias, pagáveis,
em períodos não maiores de um ano, com capitalização ou sem ela;
IV - a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa;
V - a pretensão de reparação civil;
VI - a pretensão de restituição dos lucros ou dividendos recebidos de má-fé, correndo o prazo
da data em que foi deliberada a distribuição;
VII - a pretensão contra as pessoas em seguida indicadas por violação da lei ou do estatuto,
contado o prazo:
a) para os fundadores, da publicação dos atos constitutivos da sociedade anônima;
b) para os administradores, ou fiscais, da apresentação, aos sócios, do balanço referente ao
exercício em que a violação tenha sido praticada, ou da reunião ou assembléia geral que dela
deva tomar conhecimento;
c) para os liquidantes, da primeira assembléia semestral posterior à violação;
VIII - a pretensão para haver o pagamento de título de crédito, a contar do vencimento,
ressalvadas as disposições de lei especial;
IX - a pretensão do beneficiário contra o segurador, e a do terceiro prejudicado, no caso de
seguro de responsabilidade civil obrigatório.

§ 4º Em quatro anos, a pretensão relativa à tutela, a contar da data da aprovação das


contas.
§ 5º Em cinco anos:
I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou
particular;
II - a pretensão dos profissionais liberais em geral, procuradores judiciais, curadores e
professores pelos seus honorários, contado o prazo da conclusão dos serviços, da cessação
dos respectivos contratos ou mandato;
III - a pretensão do vencedor para haver do vencido o que despendeu em juízo.
ATENÇÃO!!!
Polêmica no STJ: a Corte Especial do STJ, em 15/05/2019, entendeu que para reparação civil
extracontratual, o prazo aplicável é o previsto no artigo 206, § 3º, V do Código Civil; já para a
responsabilidade contratual, o prazo da reparação civil é de 10 anos, em conformidade com o artigo 205 do
Código Civil.

Informativo 525 do STJ: o prazo prescricional para a reparação de danos decorrentes de acidente aéreo é o
previsto no art. 27 do CDC (05 anos), não se aplicando a Lei 7565/86 (02 anos), que trata sobre o Código
Brasileiro de Aeronáutica.

Informativo 502 do STJ: A pretensão de reparação por dano moral decorrente de abandono afetivo (quando
o pai descumpre o seu dever jurídico de dar educação, acompanhar e vigiar os atos praticados pelo seu filho
menor, art. 1634 do CC – e não em função da falta de afeto, carinho e amor, que não são deveres jurídicos),
não corre enquanto houver o exercício do poder familiar. Isso porque nos termos do art. 197, II do CC, não
corre prescrição entre ascendentes e descendentes durante o exercício do poder familiar.
DECADÊNCIA
 Conceito preliminar:

 Direito potestativo (potestade): a relação que se estabelece no direito potestativo é


uma relação vertical – de um lado eu tenho um titular e, de outro, eu tenho uma
pessoa submissa o poder do titular (alguém em estado de sujeição). O titular tem o
poder de agir sobre a esfera jurídica alheia, de maneira unilateral, criando,
modificando ou extinguindo direito – não depende, porquanto, de uma ação ou
omissão da parte contrária. O titular do direito potestativo, então, age, sem que a
outra parte possa se opor ou resistir. ATENÇÃO!!! O direito potestativo é um direito
sem prestação, inviolável – a violação dependeria da existência de uma prestação
que não fora cumprida. Esse poder advém da norma jurídica (lei ou contrato).
Ex. 1: Aquisição de um veículo de um particular que veio com um defeito no chassi –
defeito esse, que era imperceptível quando da aquisição (vício redibitório). O vício
redibitório/oculto é aquele que prejudica a normal utilização do bem ou reduz o se
valor. No momento em que a pessoa descobre aquele defeito, a lei confere a ele o
poder de agir unilateralmente, modificando aquele contrato (ação quanti minoris ou
estimatória) ou extinguindo (ação redibitória) – CC, 445. Quando se constata um
vício redibitório, a lei faz nascer um direito potestativo.

Ex. 2: Doação feita sob doação de terceiro. O coato é munido de um poder,


conferido pela lei, para extinguir o contrato unilateralmente, através de uma ação
de anulação do negócio jurídico (CC, 178).
 Exercício do direito potestativo (decadência ou caducidade): por uma questão de
segurança jurídica, importante que a norma estabeleça um prazo para o exercício
desse direito. Por vezes, a mesma norma que estabelece o direito potestativo,
estabelece também o prazo para o exercício desse direito. Ex: Anulação por coação –
prazo de 4 anos contados da cessação da coação (CC, 178).

 Conceito: a decadência ou caducidade é a extinção do direito potestativo, pelo seu não


exercício nos prazos previstos em lei ou no contrato – a depender de onde ele nasceu.
Há, todavia, direitos potestativos para os quais a lei não estabelece prazo para exercício;
nestas hipóteses, a ação que visa resguardar esse direito será perpétua. Ex: ação
negatória de paternidade (CC, 1601).
 Quando a sentença for condenatória ou executiva (obrigar alguém a fazer, deixar de
fazer ou dar algo), o prazo para exigir o direito será prescricional; e quando tiver caráter
constitutivo (criar, modificar ou extinguir alguma relação jurídica) ou mandamental
(imposição de praticar ou abster-se de alguma conduta), o prazo será decadencial.
 Salvo disposição legal em contrário, não se aplicam à decadência as normas que
impedem, suspendem ou interrompem a prescrição (CC, 207)
PRAZOS DECADENCIAIS
 Mandado de Segurança (CRFB, 5º, LXIX):

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...)
LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não
amparado por habeas corpus ou habeas data , quando o responsável pela ilegalidade ou
abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de
atribuições do Poder Público;

 O art. 23 da Lei n. 12.016/2009 (Lei do Mandado de Segurança) que retrata que “o direito
de requerer mandado de segurança extinguir-se-á decorridos 120 (cento e vinte) dias,
contados da ciência, pelo interessado, do ato impugnado”.
 O art. 23 da Lei n. 12.016/2009 (Lei do Mandado de Segurança) que retrata que “o direito
de requerer mandado de segurança extinguir-se-á decorridos 120 (cento e vinte) dias,
contados da ciência, pelo interessado, do ato impugnado”.

 Esse prazo de 120 dias será prescricional ou decadencial? Em primeiro lugar, em se


tratando de um direito líquido e certo almejado, quando este for demonstrado, a sentença
terá caráter mandamental, à medida que a autoridade coatora simplesmente deverá se
sujeitar e realizar ou deixar de praticar alguma conduta. Tenha em mente que não cabe
dilação probatória (produção de provas) no mandado de segurança, até mesmo porque
você já tem um direito líquido e certo. Além disso, veja que o prazo está acompanhado do
próprio direito, e isso nos indica que o prazo é decadencial – sobretudo por não haver
indicação de que esse prazo é prescricional no texto da lei. Assim, esse prazo, sem
dúvidas, é decadencial. Ou seja, se a parte deixar passar os 120 dias, perderá não apenas
a pretensão, mas o próprio direito potestativo de exigir a ordem advinda do mandado de
segurança.
 Anulação de Partilha (CRFB, 5º, LXIXCC, 2027):

Art. 2.027. A partilha é anulável pelos vícios e defeitos que invalidam, em geral, os negócios
jurídicos. (Redação dada pela Lei nº 13.105, de 2015) (Vigência)
Parágrafo único. Extingue-se em um ano o direito de anular a partilha

 Tem-se o direito potestativo do herdeiro que notar – e conseguir demonstrar – vícios na


partilha realizada. A sentença irá extinguir (assim, tem o caráter de constitutiva) a
partilha, independentemente da vontade dos demais herdeiros. Ainda, o prazo vem logo
após a disposição normativa, outra razão pela qual podemos entendê-lo por decadencial.
 Vício do produto – CDC (CRFB, 5º, LXIXCC, 2027):

Art. 26. o direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em:
I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não duráveis;
II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos duráveis.

 Ex: se você adquire um televisor e, após utilizá-lo por apenas uma semana, alguns botões
que alteram o volume ou os canais começam a não funcionar, você estará diante de um vício
do produto e poderá exigir do fornecedor atitudes que corrijam esse problema. Sem entrar
em maiores detalhes sobre o Direito Consumerista, perceba que seu televisor, por não restar
exaurido (finalizado/ extinto) após poucas utilizações, é considerado um bem durável,
motivo pelo qual você terá o prazo de 90 dias para reclamar por esse vício oculto, contado a
partir de quando ficou evidenciado o vício (CDC, 26, § 3º). direito de reclamar caduca em 90
dias, o que já nos permite concluir que se trata de um prazo decadencial. E mais, seu direito
de reclamar significará uma imposição ao fornecedor, que vai sujeitar-se a verificar se
ocorreu mesmo o vício, não cabendo a ele se negar à análise da reclamação do consumidor.
 Anulabilidade dos atos jurídicos (CC, 178):

Art. 178. É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio
jurídico, contado:
I - no caso de coação, do dia em que ela cessar;
II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que se
realizou o negócio jurídico;
III - no de atos de incapazes, do dia em que cessar a incapacidade.

 Vícios Redibitórios (CC, 445):

Art. 445. O adquirente decai do direito de obter a redibição ou abatimento no preço no


prazo de trinta dias se a coisa for móvel, e de um ano se for imóvel, contado da entrega
efetiva; se já estava na posse, o prazo conta-se da alienação, reduzido à metade.
 Anulação de constituição de pessoa jurídica (CC, 45):

Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do
ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou
aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar
o ato constitutivo.

Parágrafo único. Decai em três anos o direito de anular a constituição das pessoas jurídicas
de direito privado, por defeito do ato respectivo, contado o prazo da publicação de sua
inscrição no registro.
SITUAÇÃO PROBLEMA LIVRO TEXTO

 CASO 1: Acidente de trânsito ou judicial?


Após acordar cedo, fazer o café da manhã e enviar os filhos ao ônibus para a escola, Rosângela
trafegava com seu veículo na Avenida Perigal, por volta das 6h, quando seu veículo foi fortemente
atingido pelo carro dirigido por Rogério, que saía do estacionamento de uma casa noturna que
acabara de fechar, e não prestou atenção para entrar na avenida.

Rosângela foi seriamente ferida no acidente, e a responsabilização de Rogério foi apurada pelo Juízo
Criminal, após seis anos de processo, resultando em sua condenação, na pena prevista no art. 303, §
2º do Código de Trânsito Brasileiro. Após o trânsito em julgado da decisão criminal, Rosângela ajuizou
ação indenizatória em face de Rogério, buscando compensação pelo dano extrapatrimonial
suportado. O Juízo Cível julgou improcedente a ação, sob o argumento de que decorreu o prazo
prescricional de três anos, contado a partir da data do acidente. Você é o advogado dessa causa e
deve argumentar em seu recurso de apelação para reverter esse entendimento sobre a prescrição.
Qual seria a solução mais adequada e favorável à sua cliente?
SITUAÇÃO PROBLEMA LIVRO TEXTO

 CASO 2: Separação não muito amigável


Como em todo início de relacionamento, o casal formado por Nicole e Andrei viveu de maneira muito feliz
por aproximadamente três anos. Chegaram, inclusive, a planejar a formação de uma 194 U4 - O Direito, o
tempo e a prova no negócio jurídico nova família perante amigos e familiares de ambos. Formalizaram a
união estável em cartório, inclusive, com o intuito de conferir ares de seriedade à relação. Contudo, no
quarto ano de união, Andrei passou a comportar-se de maneira violenta em razão de trivialidades, o que
motivou Nicole a requerer a dissolução da união estável. Ato contínuo, quando realizavam a partilha
amigável, Andrei afirmou que se não ficasse com os dois veículos que haviam adquirido em conjunto,
Nicole “pagaria com a saúde de sua irmã menor, Gabriela”. Diante dessa ameaça, Nicole cedeu e realizou a
partilha como pretendeu Andrei, que foi beneficiado dessa torpe maneira. Passados três anos da realização
da partilha, Nicole criou coragem e procurou seus serviços de advocacia para anulá-la. Após ajuizada a
demanda e passados os trâmites processuais, o magistrado da causa extinguiu o processo com resolução de
mérito, pois reconheceu que estava prescrito, decorrido o prazo de um ano, o direito de Nicole exigir a
anulação da partilha em virtude da coação existente. Para realização do recurso de apelação, responda:
agiu o magistrado corretamente? E qual seria o prazo aplicável, bem como a natureza deste, para a
anulação da partilha, no caso acima narrado?
SEÇÕES 4.1 E 4.2 - QUESTÕES DE CONCURSO

 Questão 1: (Prova: FCC - 2020 - TJ-MS - Juiz Substituto)

Quanto à prescrição e à decadência, é correto afirmar:

a) salvo disposição legal em contrário, aplicam-se à decadência as normas que impedem, suspendem ou
interrompem a prescrição.
b) a interrupção da prescrição por um credor aproveita aos outros; semelhantemente, a interrupção
operada contra o codevedor, ou seu herdeiro, prejudica aos demais coobrigados.
c) suspensa a prescrição em favor de um dos credores solidários, só aproveitam os outros se a obrigação
for indivisível.
d) a prescrição pode ser interrompida por qualquer interessado.
e) se a decadência for convencional, a parte a quem aproveita pode alegá-la em qualquer grau de
jurisdição, podendo o juiz suprir a alegação.
 Questão 2: (Prova: VUNESP - 2020 - Prefeitura de São Roque - SP - Advogado)

Foi celebrado um negócio jurídico bilateral no qual uma das partes, intencionalmente, silenciou a respeito
de fato que a outra parte ignorou e que, se fosse conhecido, não se teria celebrado o negócio jurídico.
Constou no instrumento contratual que as partes renunciam ao prazo para pleitear a anulação do negócio
por vício do consentimento.

Pode-se corretamente afirmar que

a) em regra, aplicam-se à decadência as normas que impedem, suspendem ou interrompem a prescrição.


b) é nula a renúncia ao prazo decadencial previsto em lei.
c) não pode o juiz, em eventual litígio, conhecer de ofício da decadência, em razão da renúncia realizada
no negócio jurídico.
d) a decadência prevista em lei deve ser alegada na primeira oportunidade que falar nos autos, sob pena
de preclusão.
e) o prazo decadencial para se pleitear a anulação do negócio jurídico por vícios do consentimento é de 3
anos.
 Questão 3: (Prova: CESPE - 2020 - SEFAZ-DF - Auditor Fiscal)

João dirigia embriagado quando colidiu com outro veículo, causando um grave acidente. João morreu no
local do acidente e o motorista do outro veículo, Pedro, foi levado ao hospital, onde ficou internado por
dois meses, até falecer. Os herdeiros de Pedro decidiram pleitear danos morais e materiais contra os
herdeiros de João.

Considerando essa situação hipotética, julgue o item subsequente.

A prescrição da pretensão indenizatória iniciou-se na data do acidente, interrompeu-se com a morte de


Pedro e recomeçou contra os seus sucessores.
 Questão 4: (Prova: CESPE - 2020 - TJ-PA - Oficial de Justiça - Avaliador)

No que concerne às modalidades de decadência legal e convencional, assinale a opção correta, de acordo
com o Código Civil.

a) Não há qualquer distinção de tratamento jurídico entre as espécies de decadência legal e convencional.
b) A decadência convencional é nula de pleno direito, porque somente a lei pode estabelecer prazos
decadenciais.
c) Ambas as modalidades de decadência, caso consumadas, devem ser reconhecidas de ofício pelo
magistrado.
d) Diferentemente do que ocorre com a decadência convencional, a decadência legal, caso consumada, não
pode ser objeto de renúncia pelo interessado.
e) Ao legislador é vedado criar hipóteses de suspensão ou interrupção de prazo decadencial legal.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

CASTRO, Paulo Roberto Ciola de. Direito civil - negócio jurídico. Londrina : Editora e Distribuidora
Educacional S.A., 2018, 216 p.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil 1: parte geral, obrigações e contratos. 6.ed. São Paulo:
Saraiva, 2016.

ROSENVALD, Nelson. Responsabilidade Civil. Curso proferido no programa “Saber Direito”.


<http://saber-direito.blogspot.com/2009/06/responsabilidade-civil.html>. Período do curso: 20 a 24
out. 2008.

TARTUCE, Flávio. Direito civil v.1: lei de introdução e parte geral. 14.ed. Rio de Janeiro: Forense,
2018.

TARTUCE, Flávio. Os novos danos: danos morais coletivos, danos sociais e danos por perda de uma
chance. Curso a distância proferido pela rede FMB em 28 jul. 2009.

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