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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


BACHARELADO EM DIREITO
DIREITO CIVIL V

FICHAMENTO SOBRE OS INSTITUTOS POSSESSÓRIOS E O SEU


RESPECTIVO TRATAMENTO NO CÓDIGO CIVIL E NO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL

DISCENTE: Victor da Silva Morais

Natal-RN
OUTUBRO/2020
Este fichamento irá tratar das relações que os institutos possessórios possuem no
ordenamento jurídico brasileiro, debatendo acerca do que distingue o abordado por essa
temática no Código Civil de 2002 e no Código de Processo Civil de 2015, tratando não
apenas do direito material, como do direito processual que rege toda matéria dos institutos
possessórios.

Como já é bem sabido pelo estudo da disciplina, a posse é uma situação de fato
que gera consequências jurídicas, permitindo a produção de efeitos jurídicos. Desse
modo, tais efeitos dividem-se em ordem processual, compostas pela autotutela e pela
proteção processual possessória e de ordem material, os direitos indenizatórios do
possuidor aos acessórios e às obrigações indenizatórias do possuidor quanto aos danos.
Há também o usucapião, que é entendido pelo autor do texto como forma de aquisição de
propriedade, sendo, no entendimento dele, a forma que legislador identificou para referir
a esse tema.

A autotutela da posse é a hipótese que o legislador indica que o poder material da


pessoa que detém a posse não obteria razoabilidade de aguardar solução judicial na
hipótese de perda da posse dentro previsto legalmente, mais exatamente no art. 1.210, §1º
do Código Civil. A autotutela é apresenta os seguintes requisitos: 1) esbulho ou turbação
(esbulho quando o possuidor é retirado de forma total ou parcial da posse e turbação é o
ato de perturbação); 2) situação imediata (a reação deverá ser imediata, senão irá incidir
no chamado exercício arbitrário das próprias razões. A imediatidade se dá a partir da
notícia da ocupação); 3) moderação (os esforços não devem ir além do necessário para
tal); 4) injusta agressão (a autotutela pressupõe que a agressão à posse deve ser injusta,
sempre salientando que deve se falar em legítima defesa, não sendo prevista para casos
de cumprimento de ordem legal ou judicial).

O tópico seguinte é o das ações possessórias típicas, também chamadas de


interditos possessórios, que se dão a partir das ações de manutenção e reintegração de
posse, além do chamado interdito proibitório. Rege-se no CPC entre os seus arts. 920 a
933. As ações possessórias típicas resguardam a posse nas três situações jurídicas que a
ofensa opera, desde a situação mais simples, que seria a mera ameaça contra a posse
(regida pelo interdito proibitório), avançando pela situação mais gravosa de perturbação
à posse (manutenção de posse) até a situação de maior complexidade que é tratada pela
reintegração de posse.
As ações possessórias típicas seguem alguns princípios para sua melhor regulação
no âmbito processual, sendo eles: o princípio da fungibilidade, princípio da
cumulatividade, princípio da duplicidade, princípio da exclusividade do juízo e o
princípio da celeridade.

O princípio da fungibilidade é regido pelo art. 920 do CPC e é dada pela situação
de fato, em que o juiz pode substituir uma tutela possessória por outra sem alteração da
causa de pedir, isto é, seu fundamento. Já o princípio da cumulatividade é preceituada
pelo artigo seguinte, o 921, indicando que o autor pode pleitear na própria ação
possessória a condenação do réu em perdas e danos, cominação de pena ou demolição de
construção, de modo que tal princípio deve vir do autor, uma vez que vindo do juiz, se
configura ação extra petita. A duplicidade trata de que o réu pode pedir proteção
possessória e indenização por perdas e danos sem contestar o pedido do autor, e é dado
legalmente pelo art. 922 do CPC.

No que tange ao princípio da exclusividade do juízo, indicada pelo art. 923 do


CPC, em que o juízo deve definir apenas a questão possessória. É importante relembrar
que o art. 505 do Código Civil de 1916 não previa tal questão, sendo fruto da legislação
recente, a partir de 2002 (com o art. 1.210 do Código Civil) e agora com o Novo Código
de Processo Civil. Por fim, o princípio da celeridade está garantido no art. 924 do CPC,
indicando que é prevista desde que o autor ajuíze as ações dentro de um ano e um dia do
ato de turbação ou esbulho, seguindo os princípios do periculum in mora e do fumus boni
iuris, não podendo o juiz alterar sua decisão não sendo em sede de retratação.

Por fim, tratando-se de natureza jurídica, se tem quem defenda que as ações
possessórias um caráter real, baseadas no art. 80, I do Código Civil, afirmando que se
enquadram os imóveis sobre os direitos reais, tendo necessariamente suas ações caráter
real. No entanto, em análise ao Código de Processo Civil, tal caráter real não é dado,
estando disposto no art. 10. Assim, a natureza jurídica é configurada como o pedido e a
causa de pedir são apenas fatos, de modo que ações reais são apenas as que têm por causa
de pedir o domínio, diferenciando-se das possessórias.

Dessa maneira, apesar de se encontrar em bem mais consonância do que em outros


tempos, ainda há algumas divergências legais, mas, principalmente, doutrinárias quanto
ao papel do direito processual nos institutos possessórios. Indica-se assim uma tendência
de convergência entre esses dois ramos do direito para o ordenamento jurídico pátrio.

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