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RESUMO DIREITO PENAL II

TÓPICO 1: A PENA: ASPECTOS HISTÓRICOS, TEORIA E PRINCÍPIOS


NORTEADORES
 Aspectos gerais e históricos da pena:
 A pena está intimamente ligada ao Estado, sendo inerente ao desenvolvimento
deste. A partir das origens do Direito Penal, a sanção da pena coloca-se como
membro importante, devido a latente necessidade de punição em todos os
períodos históricos. O Estado utiliza-se da pena com o intuito de facilitar e
regulamentar a convivência dos homens em sociedade e utilizando-a para
proteger eventuais lesões a determinados bens jurídicos, a partir da utilização do
ius puniendi estatal. O ius puniendi define-se como o poder do Estado de punir
alguém por uma infração penal e reparar um dano a sociedade ou a um
indivíduo.
 Apesar do conceito de pena não ter um consenso, tanto no âmbito acadêmico,
quanto no âmbito normativo (e por isso estabeleceram teorias de aplicação), o
conceito de sanção é mais claro, definindo-se como a consequência imposta pelo
Estado quando alguém pratica infração penal, definição essa dada por Rogério
Greco. Assim, a sanção divide-se em pena ou medida de segurança.
 A evolução histórica da pena caminhou conjuntamente com a evolução
humanidade, no sentido de buscar a humanização. Da Antiguidade até a Idade
Média, as penas eram em sua maioria cruéis ou capitais, iniciando com a “Olho
por olho, dente por dente” do Código de Hamurabi até as penas da Santa
Inquisição, na Idade Média, passando por formas de condenação tenebrosas em
todo mundo, como o esmagamento por elefante e a condenação da caldeira
quente.
 O panorama da pena mudou com o “Iluminismo Penal”, tendo como marco
“Dos Delitos e das Penas”, de Cesare Beccaria. A partir das ideias de Beccaria,
sendo utilizada como base de um sistema penal mais humanitária, as penas
degradantes e desumanas, então as penas majoritárias a serem utilizadas,
cederam espaço para as penas que visam a recuperação do delinquente. Dessa
maneira, adotou-se em maior parte dos ordenamentos jurídicos do mundo as
penas que visam a ressocialização do que penas cruéis.
 No entanto, a pena capital ainda resiste em diversas nações, muitas delas com o
ordenamento jurídico considerado como exemplo para o mundo (caso de EUA e
Japão). Em todo mundo, 36 países utilizam pena de morte na prática e mais 50
tem esse dispositivo previsto em lei. Essas modernamente se dão de vários
modos, como morte por enforcamento, fuzilamento e injeção letal. O uso
moderno das penas de morte, apesar de ser bem mais criterioso do que em
tempos antigos, ainda leva a condenações errôneas ou guiadas por condições
externas, levando a morte de inocentes. O caso mais emblemático é o de George
Stinney Jr., condenado à cadeira elétrica com 14 anos de idade, sendo
considerado inocente em 2014, anos depois de sua condenação ter sido
realizada, após um julgamento altamente tendencioso pelo latente racismo do
período.
 Assim, apesar da clara evolução, principalmente após a exposição dos
postulados de Beccaria, ainda existem penas que afetam a dignidade humana e
levam muitas vezes a condições degradantes ou penas injustas à inocentes, como
o estudo da Universidade de Michigan em que a cada 25 condenados à morte, 1
é inocente. Ou seja, a pena ainda detém até certo ponto, o caráter que Beccaria
buscava combater.
 Função da pena:
 Já que a função de cada pena é fornecida pelo respectivo Código Penal, resgata-
se ao Código Penal brasileiro para saber qual a função da sanção penal no Brasil.
Essa é dada a partir da redação do art. 59, caput CP, em que “O juiz, atendendo
à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente,
aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao
comportamento da vítima, estabelecerá conforme necessário e suficiente para
reprovação e prevenção do crime”.
 A partir do referido artigo, temos que a pena no ordenamento jurídico pátrio
detém duas funções: 1) A de reprovação da conduta delituosa praticada; 2) A de
prevenção de futuras infrações, seja por parte do infrator que sofreu a sanção
como por parte da sociedade que verá a punição sofrida por que infringiu a lei.
Assim, o Brasil adotou a teoria mista, em que há o caráter retributivo
proveniente da Teoria Absoluta sobre a pena e o caráter preventivo a partir das
teorias relativas sobre a pena. Assim, o Direito Penal traz as seguintes teorias:
 TEORIA ABSOLUTA OU RETRIBUCIONISTA:
 A característica essencial das teorias absolutas ou retributivas da pena consiste
em conceber a pena como um castigo, como uma retribuição ao mal causado
através do delito, de modo que sua imposição estaria justificada, não como meio
para o alcance de fins futuros, mas pelo valor de punição o fato passado. Roxin
utiliza da expressão “Absoluta” com intuito de que a finalidade da pena é
desvinculada e independente de seu efeito social.
 A formação desta teoria acompanhou a formação do Estado burguês e o seu
contrato social, em que a pena abandona sua ligação divina e torna-se “a
retribuição à perturbação da ordem adotada pelos homens e consagrada pelas
leis. A pena é a necessidade de restaurar a ordem jurídica interrompida”. Assim,
o indivíduo que cometesse delitos, contrariava o contrato social e era qualificado
como traidor, pois a sua atitude não correspondia ao compromisso de conservar
a organização social. Portanto, era visto como um rebelde cuja culpa só teria
retribuição com a pena.
 Entre os retribucionistas, duas teorias do período “clássico” se destacam. A de
Kant e a de Hegel. A principal diferença reside na justificação, pois Kant via
essa como de ordem ética, baseada no valor moral da lei penal infringida pelo
autor do delito, enquanto Hegel tem essa como de ordem jurídica, com base na
necessidade de reparar o direito através de um mal que restabeleça a norma legal
violada. Em resumo, o retribucionismo kantiano considera que o réu deve ser
castigado pela única razão de haver delinquido, sem nenhuma consideração
sobre a utilidade da pena para ele ou para os demais integrantes da sociedade.
Assim, Kant nega toda e qualquer função preventiva da pena, decorrendo essa
apenas da simples infringência da lei penal. Já o retribucionismo de Hegel, a
pena constitui-se como a lesão, ou seja, como a melhor maneira de compensar o
delito e recuperar o equilíbrio perdido. Compreende que, na hora de determinar a
natureza e medida da pena, seja difícil aplicar de modo literal o princípio da lei
de talião, embora não elimine de forma sumária a justiça do princípio de Talião
em relação à identidade valorativa da lesão do Direito, por parte do delinquente
e da lesão da vontade do delinquente com a aplicação da pena.
 A teoria retribucionista ou absoluta apresenta como principal virtude o
estabelecimento de limites à imposição de pena, como garantia do indivíduo
frente ao arbítrio estatal. No entanto, elas apresentam equívocos teóricos, como
mostrado por Luigi Ferrajoli, que as teorias retribucionistas deixam sem resposta
a questão de “por que está justificado castigar”, e essa falta de justificação
externa da pena permite, como efeito adverso, a legitimação de sistemas
autoritários de direito penal máximo.
 TEORIAS RELATIVAS OU PREVENTIVAS:
 O cerne das teorias relativas ou preventivas encontra-se na justificação da pena,
não para retribuir o delito cometido, mas como forma de prevenir sua prática.
Ou seja, o intuito das teorias relativas é de que o indivíduo não volte a delinquir.
A partir dessa teoria, a pena deixa de ser concebida como um fim em si mesmo,
sua justificação deixa de estar baseada no fato passado, e passa a ser concebida
como meio para o alcance de fins futuros e a estar justificada pela necessidade
da prevenção de delitos.
 Feuerbach e, principalmente, Ferrajoli dividem as direções da finalidade
preventiva da pena. A primeira é a sua divisão em prevenção geral (que tem
como destinatário o coletivo social) e em prevenção especial (que se destina
aquele que delinquiu). Ademais, ambas se dividem em positivas e negativas.
Assim, a partir da divisão de Luigi Ferrajoli temos os seguintes grupos: a) as
teorias da prevenção geral positiva; b) prevenção geral negativa; c) prevenção
especial positiva; d) prevenção especial negativa.
 Prevenção Geral:
 As teorias da prevenção geral têm como fim a prevenção de delitos incidindo
sobre os membros da coletividade social. Para o alcance desse fim, existem duas
vertentes: a primeira é a prevenção geral negativa ou intimidatória, que assume o
papel de dissuadir os possíveis delinquentes da prática de delitos futuros através
ou da ameaça da pena ou com o exemplo do castigo eficaz e a segunda é a
prevenção geral positiva, que assume a função de reforçar a fidelidade dos
cidadãos à ordem social a que pertencem.
 Prevenção Geral negativa:
 A prevenção geral negativa tem como principais defensores Bentham, Beccaria
e, principalmente, Feuerbach. A teoria deste último sustenta que a partir do
Direito Penal é que se pode dar uma solução ao problema da criminalidade.
Consegue-se isto, por uma via, com a cominação penal (a ameaça da pena,
avisando para os membros da sociedade quais as ações injustas contra as quais
terá reação) e por outro, com a aplicação da pena cominada, deixando claro a
disposição de cumprir a ameaça. Assim, Feuerbach tem a pena como uma
“coação psicológica”, visto que essa é uma ameaça legal com o escopo de evitar
o fenômeno delitivo. Fica claro que a prevenção geral se fundamenta em duas
ideias principais: a ideia da intimidação ou do uso do medo e a ponderação da
racionalidade do homem, motivando o indivíduo a não cometer delitos.
 Já os aspectos negativos da teoria da prevenção geral negativa se concentram no
ponto dela não leva em consideração a confiança do delinquente em não ser
descoberto, de maneira que a imposição da pena não basta. Existem também
problemas empíricos que residem nos seguintes pontos: 1) Conhecimento da
norma jurídica por seu destinatário (Diferente do conhecimento geral dos
destinatários, como é teorizado, o conhecimento do Direito Penal por parte dos
cidadãos é vago e impreciso); 2) A motivação do destinatário das normas (Ao
invés do homo economicus que ponderava as ações por vantagens e
desvantagens do delito, os autores dos delitos raramente ponderem as
consequências dos seus atos); 3) Idoniedade dos meios preventivos (Critica-se o
meio de intimidação, temendo-se gerar a imposição de penas excessivas e
resultados autoritários).
 De todo modo, Luigi Ferrajoli indica que a prevenção geral negativa assegura,
ao menos, o fundamento de três princípios garantistas: a) fundamenta o princípio
da legalidade, já que a função preventiva dos delitos do Direito Penal é melhor
alcançada com a indicação expressa das hipóteses das condutas típicas; b) serve
de base ao princípio de materialidade dos delitos, pois somente é possível
prevenir comportamentos exteriores; c) serve de base ao princípio de
culpabilidade e de responsabilidade individual, na medida em que somente os
comportamentos conscientes, voluntários e culpáveis são passíveis de prevenção
através da ameaça de pena.
 Prevenção Geral positiva:
 A teoria da prevenção geral positiva traz uma mudança de perspectiva para os
aspectos preventivos: os fins preventivos não estariam projetados para a
reeducação de quem delinquiu, tampouco serviria para intimidar potenciais
delinquentes. A finalidade da prevenção residiria na mensagem dirigida a toda
coletividade social, voltada à “internalização e fortalecimento dos valores
incutidos nas normas jurídico-penais na consciência dos cidadãos”. Assume-se
então uma finalidade pedagógica do sistema normativo. A teoria propõe também
três efeitos distintos: o efeito de aprendizagem através da motivação
sociopedagógica dos membros da sociedade; o efeito de reafirmação da
confiança no Direito Penal e o efeito de pacificação social quando a pena
aplicada é vista como solução ao conflito gerado pelo delito.
 A corrente fundamentadora da prevenção geral positiva, trazida por Gunther
Jakobs, é a de garantir a função orientadora das normas jurídicas, estabilizando
as experiências sociais. No entanto, para a maior parte da doutrina, a teoria da
prevenção geral positiva na versão fundamentadora não constitui uma alternativa
real que satisfaça as atuais necessidades da teoria da pena, criticando-se também
a pretensão de impor ao indivíduo, de maneira coativa, certos padrões éticos, o
que vai de encontro ao papel do Estado Democrático de Direito. Por fim, a
eliminação dos limites do ius puniendi se mostra um modelo de política criminal
que se faz carente da legitimidade democrática.
 Prevenção Geral Especial:
 A teoria da Prevenção Geral Especial procura evitar a prática do delito, mas, ao
contrário da prevenção geral, dirige-se exclusivamente ao delinquente em
particular, objetivando que este não volte a delinquir. A teoria da Prevenção
Especial positiva, como dito por Ferrajoli, são voltadas à reeducação do
delinquente, enquanto a negativa volta-se à eliminação ou neutralização do
delinquente perigoso.
 Uma das teorias mais importantes sobre a Prevenção Especial é a de Franz von
Liszt, que em seu “Programa de Marburgo”, indica que a necessidade da pena se
mede com critérios preventivos especiais, segundo os quais a aplicação da pena
obedece a uma ideia de ressocialização e reeducação do delinquente à
intimidação daqueles que não necessitem ressocializar-se e também para
neutralizar os incorrigíveis. Essa tese é sintetizada em três palavras: intimidação,
correção e inocuização.
 Nessa teoria, o interesse não reside em restaurar a ordem jurídica ou a
intimidação geral dos membros do corpo social. A pena, nesta teoria, deveria
concretizar no sentido da defesa da sociedade, em que o delito não é apenas
violação à ordem jurídica, mas um dano social e o delinquente é um perigo
social que põe em risco a nova ordem. A prevenção especial busca não a
intimidação do grupo social, tampouco a retribuição do fato praticado, mas sim
visa aquele indivíduo que já delinquiu para fazer com que esse não volte a
transgredir as normas jurídico-penais. Isso fica claro quando os partidários da
prevenção falam em medidas e não de penas, pois para eles, a pena implica a
liberdade do indivíduo, enquanto a medida supõe que o delinquente deve ser
tratado de acordo com sua periculosidade, buscando não o castigo, mas sim a
correção e a ressocialização.
 No que tange às objeções, a principal é a de que a pena fundamentada
exclusivamente em critérios preventivos-especiais termina por infringir
importantes princípios garantistas, especialmente a necessidade de
proporcionalidade entre o delito e a pena. No entanto, tem os seus méritos
também, a partir da busca da ressocialização do delinquente, principalmente com
o intuito moderno de evitar os efeitos dessocializadores da pena privativa de
liberdade (como o contato com criminosos perigosos, isolamento social e perdas
de oportunidade de trabalho).
 TEORIA MISTA OU UNIFICADORA:
 As teorias mistas ou unificadores tentam agrupar em um conceito único os fins
da pena. Esta corrente tenta recolher os aspectos mais destacados das teorias
absolutas e relativas. Desde Merkel, na Alemanha no Século XX, essa teoria se
consolidou como a opinião dominante no Direito Penal.
 No que tange ao fundamento da pena, sustenta-se que a sanção punitiva não
deve “fundamentar-se” em nada que não seja o fato praticado, qual seja, o delito.
Assim, afasta-se um dos principais equívocos das teorias preventivas: a
prioridade outorgada à justificação externa da pena (ou seja, o “por que se
pune”) sem antes ofertar a justificação interna (“quando se pune”). As teorias
mistas atribuem, portanto, ao Direito Penal uma função de proteção à sociedade,
gerando aqui a divergência doutrinária, em que por um lado tem: a) a posição
conservadora (que tem como base a retribuição justa e na determinação da pena,
de modo que os fins preventivos desempenham papel complementar) e b) a
corrente progressista (essa inverte os termos da relação, de modo que o
fundamento da pena é a defesa da sociedade, ou seja, a proteção de bens
jurídicos e a retribuição corresponde à função apenas de estabelecer o limite
máximo de exigências de prevenção).
 Já Claus Roxin elaborou a Teoria Unificadora Dialética, devido aos problemas
dos efeitos que a soma das teorias poderia trazer. Para ele, essa estabelece na
diferenciação entre fim da pena, a partir da valoração do caso concreto e o fim
do Direito Penal. Esse questionamento é visto da seguinte forma: “Se o direito
penal tem que servir à proteção subsidiária de bens jurídicos, e com isso, ao livre
desenvolvimento do indivíduo, assim como à preservação de uma determinada
ordem social que parta deste princípio, então, mediante este propósito, somente
se determina quais condutas podem ser sancionadas pelo Estado. Sem embargo,
com isso não se está de antemão definido que efeitos deveriam surtir a pena para
cumprir com a missão do Direito Penal”. Assim, para Roxin o fim da pena
somente pode ser preventivo, buscando o fim de prevenir delitos, logrando a
proteção da liberdade individual. Ademais, a pena deve ter o fim da
ressocialização em cooperação com o condenado. Por fim, Roxin resume a sua
teoria da seguinte forma “a pena serve aos fins de prevenção especial e geral.
Limita-se em sua magnitude pela medida da culpabilidade, mas pode ser fixada
abaixo deste limite quando seja necessário por exigências preventivo-especiais, e
a isso não se oponham as exigências mínimas preventivo-gerais”.
 TEORIA ADOTADA PELO CÓDIGO PENAL BRASILEIRO:
 Como exposto anteriormente, o Código Penal brasileiro, em seu art. 59,
estabelece a teoria mista ou unificadora como a teoria funcional da pena no
ordenamento jurídico. Isso porque o artigo explicitamente coloca a pena com a
função de reprovar o delito praticado e para prevenir futuras condutas
infracionais. Vale salientar que a teoria relativa que o Estado brasileiro adota é a
da Prevenção Geral especial, voltada à prevenção do delinquente em si, trazendo
a ressocialização como garantidora principal e tendo por escopo a reflexão do
crime por parte do agente, fazendo-o desistir dos futuros delitos.
 Além das críticas já estabelecidas à Teoria Mista, entre as quais entra o caráter
punitivista do Estado e os resquícios de um Direito Penal Máximo,
principalmente no dito por Claus Roxin, há também as críticas à realidade
brasileira, sendo o aspecto chave o da ressocialização num sistema penitenciário
falido, pondo em dúvida a parcela relativa e preventiva, na recuperação do
delinquente por conta dos diversos problemas da realidade penitenciária
brasileira. De toda forma, a teoria mista é a mais recorrente nos sistemas penais
em todo o mundo, muito devido às críticas existentes as duas teorias em
separado. Assim, a união entre os pontos de cada uma das teorias, da absoluta e
da relativa, traz o sistema mais adequado para a realidade contemporânea, dentre
aqueles já estabelecidos no Direito Penal.
 Princípios adotados para a pena:
 Os seguintes princípios são adotados no ordenamento jurídico brasileiro para a
pena:
 Princípio da legalidade: É o princípio que versa sobre a relevância da
segurança jurídica, da previsibilidade e da estabilidade das relações sociais.
Ademais, é de extrema importância, pois estabelece que a elaboração de normas
incriminadoras é de função exclusiva da lei em sentido estrito. Está assegurada
no art. 5º, inciso XXXIX da CF, em que a norma traz que “Não há crime sem lei
anterior que o defina, não há pena sem prévia cominação legal”, também
presente ipsis litteris no art. 1º da CP.
 Princípio da humanidade: Esse princípio tem como base a Dignidade da
Pessoa Humana, positivada no art. 1º, III da CF. O referido princípio pressupõe
que com o impedimento físico permanente ao agente, tais como a morte ou a
amputação de membro, há um efeito jurídico inapagável, e portanto violação
flagrante da Constituição. Ademais, por meio deste busca-se a humanização das
penas, no que tange à integridade física e moral do preso (CF, art. 5º, XLIX),
além da proibição de penas que atentem a esse princípio como as citadas no
inciso XLVII do art. 5º da CF (penas de morte, salvo em caso de guerra; penas
de caráter perpétuo; de banimento; de trabalhos forçados e penas cruéis).
 Princípio da pessoalidade ou da intranscedência da pena: Esse princípio
apresenta-se no art. 5º, XLV, CF, que traz expressamente que “Nenhuma pena
passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a
decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos
sucessores e contra ele executadas, até o limite do valor do patrimônio
transferido”. Assim, fica claro que não há possibilidade da pena passar do
condenado para familiares ou cônjuges.
 Princípio da individualização da pena: Esse engloba três fases de execução: a
individualização legislativa, judicial (fixação da pena que será imposta ao autor
do fato, levando-se em consideração os critérios dispostos no art. 59 e 68 do CP)
e a fase executiva, que consiste no cumprimento da pena, após o trânsito em
julgado da sentença penal condenatória. É prevista constitucionalmente, no art.
5º, XLVI, que traz que “a lei regulará a individualização da pena e adotará entre
outras, as seguintes: a) privação ou restrição da liberdade; b) perda de bens; c)
multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos.
 Princípio da suficiência da pena: Estabelecido pelo art. 59 do Código Penal,
traz que a pena deve ser cominada suficientemente necessária para a reprovação
e prevenção do delito.
 Princípio da aplicação da lei mais favorável: Regido pelo brocado “In dubio
pro reo", esse princípio visa a aplicação da lei que afete menos o réu dos
regimes penais mais rígidos.
 Princípio da proporcionalidade da pena: Esse princípio divide-se em três
aspectos: a) Necessidade: a pena privativa de liberdade deve ser aplicada de
forma subsidiária, isto é, quando as outras espécies de pena não se mostrarem
suficientes. b) Adequação: a pena deve ser adequada para alcançar os fins
estabelecidos em lei (prevenção e retribuição). c) Proporcionalidade em sentido
estrito: os meios utilizados para consecução dos fins não devem extrapolar os
limites do tolerável. Os benefícios a serem alcançados (tutela eficaz do bem
jurídico) devem ser maiores que os custos (sacrifício do autor do crime ou da
própria sociedade). Deve haver uma relação de proporcionalidade da pena com a
gravidade da infração, ou seja, quanto mais grave o delito, maior a pena.

 Sistemas Prisionais:
 Apesar de um embrião dos sistemas de reclusão serem estabelecidos em torres
de castelos (para crimes de insurreição contra os governos do Medievo) ou em
mosteiros (para as infrações monásticas), esses eram apenas zonas de trânsito
para a punição real ou local de aguardo do perdão da autoridade. O sistemas
penitenciários vieram surgir apenas nos EUA em 1776. Os sistemas
penitenciários no decorrer da história foram esses:
 Sistema Pensilvânico ou Sistema Filadélfia: Nesse sistema, a pena é exercida
a partir do isolamento celular dos delinquentes, obrigação estrita do silêncio e a
meditação. É um sistema que reduzia de forma drástica os gastos com vigilância
e não possibilitava uma organização industrial nas cadeias, já que ele consistia
em manter o detento em absoluto isolamento, dia e noite. Portanto, temos um
sistema que não visava pelas melhoras das prisões, tampouco pela recuperação
do delinquente, mas tinha o intuito de ser um instrumento de dominação
eficiente.
 Sistema de Auburn (auburniano): Surgiu com a necessidade de superar os
limites impostos pelo sistema Filadélfia. Esse sistema, que também é
denominado silent system, adota o trabalho em comum no período diurno, além
do silêncio absoluto, com os detentos não permitidos de falar entre si,
constituindo-se um instrumento de poder que os guardas exerciam sobre os
detentos. O trabalho é o pilar do sistema auburniano, visto que mirava ser uma
dimensão ideológica (como forma de satisfazer as necessidades do detento)
como psicológica (reincorporação do preso à força de trabalho), porém essas
características não foram consolidadas pela sua ameaça ao trabalho livre. Outro
contraponto era o regime disciplinar e os castigos cruéis, pois esse sistema
visava o controle estrito e a obediência irreflexiva, sendo essa a base do que
acreditavam ser a recuperação do delinquente.
 Sistema progressivo irlandês: Diferentemente do auburniano e do Filadélfia
que visava a recuperação pela reclusão, o sistema progressivo visa a recuperação
por meio da reinclusão do preso na liberdade plena. Esse sistema foi dividido em
4 fases chave (que podem ser aglutinadas em 3), sendo elas: 1) Reclusão celular
diurna e noturna, que consistia na reclusão sem comunicações e contato algum;
2) Reclusão celular noturna e trabalho diurno em comum: Seguindo o silêncio
previsto pelo sistema de Auburn, tem a diferença da progressão por meio da
divisão de classes e da acumulação de pontos por metas alcançadas, levando a
maior confiança e liberdade do apenado; 3) Período intermediário: Ocorria entre
a prisão em local fechado e a liberdade condicional, o preso trabalhava ao ar
livre ou em colônias agrícolas, de modo que a disciplina era mais suave e as
prisões eram mais abertas, lembrando mais “asilos de beneficência do que com
prisões”; 4) Liberdade condicional: O preso recebia uma liberdade com
restrições, e com o passar do tempo e o cumprimento das condições impostas,
até a obtenção da liberdade definitiva. É o modelo adotado no sistema prisional
brasileiro.

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