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RESUMO
Introdução
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arcaicas. Bem como é preciso que um bom juízo suspenda a forma trivial de pensar
a criminalidade.
Este artigo utiliza-se de manuais e livros de história do Direito Penal de
datas passadas no sentido de dar teor histórico mais elevado sobre o tema do
desenvolvimento do direito penal através de um aspecto evolutivo. Com a adoção de
idéias difundidas por escritores, procura prestar informações sobre os principais
elementos da história do direito penal.
Será abordado como se dá a formação do pensamento penal dogmático,
seu modus operandi, e formas de tornar tal axioma aberto a críticas e menos
“arrogante” em seus discursos no que tange à sua forma de sempre mostrar
“verdades absolutas”.
A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado brasileiro adiou a
votação da inclusão da pena de castração química para condenados por crimes
sexuais contra crianças. Dentro deste contexto, analisar-se-á a castração química e
o arcabouço formado pelas formas de manipulação das massas.
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uma rigorosa proporcionalidade entre os delitos e as penas; deve-se abolir a pena
de morte por ser injusta, desnecessária e de pequena eficácia.
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relação com a espécie ou gravidade da ofensa em qualidade nem em quantidade.
Conforme informa-nos Cláudio Guimarães:
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têm sua duração mínima fixada em lei. Sua subsistência e prorrogação dependem
das condições de periculosidade do condenado. Na medida em que o Estado foi se
consolidando como força de organização social e política, assumiu a
responsabilidade de pacificação social por intermédio de uma instituição pública,
hoje chamada Poder Judiciário. Esse poder, devidamente institucionalizado e
estruturado, reclamou o monopólio da administração da justiça e retirou do domínio
privado a composição dos litígios. Portanto, o Estado deve proporcionar garantias à
liberdade do indivíduo, mantendo o acesso à justiça e não se afastando das
reclamações a ele dirigidas. No que concerne ao princípio fundamental da cidadania
como expressão do conteúdo democrático do Estado, afirma Vera Andrade:
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São dois os tipos de castração, a saber, física e química. A castração
física é usada por algumas razões: de forma terapêutica, como é o caso de se usar
para a cura do câncer testicular ou de próstata ou mesmo para a mudança de sexo.
No caso aqui objeto de estudo, é utilizada como punição, é usada desde a
Antiguidade para impor rebaixamento a subjugados em guerras e, na primeira
metade do século XX, com o objetivo de “purificar a raça”, tornando vários tipos de
criminosos estéreis. A castração pode ser interpretada, inclusive, decorrente de
transtornos psiquiátricos. A história também registra a castração por motivos
religiosos, como no caso dos castrati, destinados a ter voz aguda para cantarem em
igrejas. A castração química é uma forma temporária de castração ocasionada por
medicamentos hormonais. É uma medida preventiva ou de punição àqueles que
tenham cometido crimes sexuais violentos, tais como estupro e abuso sexual infantil.
Depo-Provera, uma progestina, é uma droga que é por vezes utilizada no
tratamento. A castração química consiste na aplicação de hormônios femininos (o
mais usado é o acetato de medroxiprogesterona) que diminuem drasticamente o
nível de testosterona. Nesse caso, os efeitos só se mantêm enquanto durar o
tratamento. (AGUIAR, 2007)
É nesse contexto de aumento da criminalidade sexual, alarmado por uma
sensação de um estado de emergência, pela impressão que se necessita de algo a
ser feito, que o legislador busca criar leis e punições, não obstante seja claro o total
desconhecimento sobre o assunto. É pouca a bibliografia sobre o tema, e na maioria
das vezes temos apenas questões e discussões que se desenvolvem fora do
contexto brasileiro, apelando por diversas vezes ao direito comparado,
principalmente no direito americano. Nos escritos bíblicos, o que pode se verificar é
a existência de um teor punitivo rígido, principalmente nas passagens que relatam
sobre a violação do bem da vida:
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claros de Códigos Penais da Antiguidade, mas que se propõem não a punir com
privações de direitos ou liberdades, apenas com punição igual e completiva àquela
que foi cometida. Essa era a forma, pensava-se, proporcional de apenar o culpado,
pouco importando a intenção. (NORONHA, p. 20-21, 1997)
Os pensamentos foram evoluindo em tempos antigos e, até mesmo,
retroagindo em eras mais modernas conforme fosse a utilidade que o Direito tivesse
para as classes dominantes e sob o escopo da busca por uma sociedade justa
aplicam diversas formas de pensar o Direito como forma de legitimar sua vontade: a
manutenção do status quo. Mostrando que o Direito Penal de certa forma não
“evolui”, apenas acompanha os caminhos que o homem segue na história. Na
contramão do que muitos pensam ou divulgam os crimes hediondos não são
aqueles que trazem uma carga excessiva de injustiça ou violência. A definição de
hediondo está naquele crime que o legislador entendeu ser mais reprovável.
(FRANCO, 2000)
Analogicamente ao objeto de estudo aqui suscitado podemos trazer a Lei
de Crimes Hediondos, 8.072/90, foi organizada para sanar problemas de grande
repercussão social e que a mídia ainda explorava com bastante ênfase tais como: o
seqüestro do publicitário Roberto Medina no Rio de Janeiro, o assassinato da atriz
Daniela Perez, e, logo após, as chacinas da Candelária e de Vigário Geral, momento
em que foi incluído no rol dos crimes hediondos o homicídio através da Lei 8.930/94.
(LEITE, 2005) Além do mais, vem como forma de tentar ressocializar o agente ativo
do crime, por trazer uma pena maior.
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Projeto de Lei nº 7.021/02 que propunha a modificação dos arts. 213 e 214 do
Código Penal Brasileiro, fixando a pena de castração com recursos químicos para os
crimes de estupro e atentado violento ao pudor, que passariam a ter a seguinte
redação:
JUSTIFICAÇÃO
O abuso sexual, principalmente contra crianças e adolescentes, tem
atingido proporções alarmantes, preocupando autoridades no mundo
inteiro. Existem grupos criminosos atuando na exploração sexual a nível
internacional.
Recentemente, no Estado da Califórnia (Costa Oeste dos Estado Unidos),
a pena de castração química foi aventada como punição para os crimes
sexuais.
É preciso que se tomem medidas drásticas e urgentes também no Brasil,
pois a sociedade não pode mais ficar exposta a essas atrocidades,
assistindo à violência sexual cometida contra mulheres, crianças e
adolescentes de forma impune.
Neste sentido, a exemplo da solução apontada no Estado da Califórnia,
conclamo meus ilustres Pares à aprovação desta proposição como
contribuição desta Casa Legislativa no combate a esses crimes contra a
liberdade sexual, considerados hediondos.
Sala das Sessões, em de de 2002.
Deputado Wigberto Tartuce
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da castração é o procedimento mais efetivo para se acabar com o problema.
(PINHO, 2002) Essa desproporcionalização entre o crime e a pena cominada não é
aceitável porque desconsidera o atributo da pessoa humana, essa pena
desproporcional produz mais alarme social que o crime em si e acaba afetando o
que o próprio código penal considera como aspecto jurídico da segurança social.
A Constituição Federal de 1988 traz no seu art. 5º a proibição de tortura e
de tratamento cruel ou degradante, bem como de penas de morte ou de caráter
perpétuo, além individualização (proporcionalização) da pena. Tal proporcionalidade
da pena visa integrar a idéia de justiça contida no Direito, logo o princípio da
proporcionalidade intervém na cominação, na aplicação e na execução da pena. A
pena na pode exaurir-se num tiro de aflição e execração pública, não pode ser uma
coerção puramente negativa. (BATISTA, p. 100, 2007)
Esse tipo de pena desarma completamente todo arcabouço formado
pelos estudiosos das políticas criminais, a exemplo de Montesquieu que se refere à
“justa proporção das penas com os crimes” (MONTESQUIEU, p. 107, 2002), bem
como o que prega Beccaria sobre a “destruição de sentimentos morais”.
(BECCARIA, p. 200, 2002).
A idéia de que uma pena deve ser proporcional ao delito e proveitosa à
coletividade é amplamente aceita no mundo inteiro, no entanto parece o legislador,
na concepção de uma nova forma de atribuir gravidade a certos crimes olvidou este
aspecto e concentrou forças para criminalizar, na conduta em estudo, atitudes
menores. Isto apenas revela uma medida para, cinicamente, tranquilizar a opinião
pública, uma vez que a taxa de criminalidade é alta, como acontece agora no mundo
capitalista. Essas medidas desproporcionais são de natureza doentia: insistem numa
política criminal errada esquecendo os novos rumos da criminologia e da própria
dogmática, para construir um falso modelo de proteção. Deste modo, viu-se a
ruptura de outro importante princípio do Direito Penal que é o da intervenção mínima
que Greco conceitua como sendo “o responsável não só pela indicação dos bens de
relevo que merecem a especial atenção do Direito Penal, mas se presta, também, a
fazer com que ocorra a chamada descriminalização”, (GRECO, p. 49, 2008) e ainda
diz:
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capazes de proteger aqueles bens considerados da maior
importância. (GRECO, p. 49, 2008)
O termo “dogma” é usado para descrever que aquilo que foi dito é
inquestionável e é com esse pensamento que se formam a maioria dos
pensamentos no campo jurídico. É fonte confiável e todos a este tipo de “literatura
jurídica dogmática” recorrem. Neste contexto surge uma forma de dominação e
controle social, principalmente no que tange à formação da população quanto a ver
como funciona o sistema penal. (BATISTA, 2007)
O método dogmático está sempre a ser apresentado como verdade
“verdadeira” e, às vezes, fere a correta concepção do saber científico e isso ocorre
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quando não é aceito o erro na sua teoria. Por exemplo, o jurista ao verificar que há
erro em sua teoria, afirma a lei como errada e não sua hipótese. A dogmática como
lógica (não contraditória) cai por terra quando observada a falta de estrutura interna
e como não contrária ao texto da lei não resiste à verificação. Verbi gratia, a
expressão “furtar é crime” não se sustenta por não ser tipificado em caso de estado
de necessidade. (ZAFFARONI, p. 149, 2007)
A dogmática tem um modus operandi que legitima sua função de
prolatora da verdade absoluta. Nilo Batista ensina o seu funcionamento:
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A dogmática penal é assim concebida pelos penalistas que protagonizam e
compartilham do seu paradigma, como uma ciência normativa (de ‘dever
ser’), que tem por objeto o Direito penal identificado com a legislação penal
vigente e por método o técnico jurídico de natureza lógico abstrata, cuja
tarefa é a ‘construção jurídica’ de um sistema de conceitos e princípios
direcionado por uma função essencialmente prática. (ANDRADE, p. 125,
1994)
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não vai ser preso (...). Qualquer brasileiro sabe que, no escândalo do
momento (qualquer que ele seja), a punição vai depender menos das
circunstâncias e muito mais da pessoa. Não é somente uma questão de
indeterminação, pois poderia haver competição entre a lei e a pessoa. Não!
O que há é uma certeza de que a lei varia de acordo com a pessoa à qual
ela se aplica. (DAMATTA, p. 01, 2007)
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preventista sistêmico podem desentender-se, na mídia complementam-se
harmoniosamente. Não há debate, não há atrito: todo e qualquer discurso
legitimante da pena é bem aceito e imediatamente incorporado à massa
argumentativa dos editoriais e das crônicas. (BATISTA, p. 03, 2002)
6 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Vera Regina Pereira de. Sistema Penal Máximo x Cidadania Mínima:
códigos da violência na era da globalização. 1 ed. Porto Alegre: Livraria do
advogado, 2003
BATISTA, Nilo. Entrevista a Revista Mais Humana, Niterói, Ano II, N.° 2. Abr. 2001,
2002. Disponível em: http://www.uff.br/maishumana/nilobatista.htm. Acesso em: 20
abr. 2009.
BATISTA, Nilo. Introdução crítica ao direito penal brasileiro. 11. ed. Rio de
Janeiro: Revan, 2007.
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BARATTA, Alessandro. Criminología crítica y crítica del derecho penal:
introducción a la sociología jurídico-penal. Trad. ÁIvaro Búnster. Buenos Aires: Siglo
XXI Editores Argentina, 2004. Disponível em
http://www.4shared.com/file/25816318/a0395984/Alessandro_Baratta_-
_Criminologia_crtica_y_crtica_del_Derecho_Penal.html?s=1, acesso em 30 set.
2007.
BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas. 1 ed. São Paulo: Edipro, 1993.
BECARRIA, Cesare, Dos Delitos e das Penas. São Paulo: Martin Claret, 2002.
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