Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1
Estudante. Universidade Federal do Maranhão (UFMA). allissonguimaraes@gmail.com
Cidade Universitária da Universidade Federal do Maranhão
CEP: 65 085 - 580, São Luís, Maranhão, Brasil
Fone(98) 3272-8666- 3272-8668
1 INTRODUÇÃO
2
Bittencourt (2012, p. 97-98) distingue a Escola clássica em dois grandes períodos: “a) teórico-filosófico – sob a influência
do Iluminismo, de cunho nitidamente utilitarista, pretendeu adotar um Direito Penal fundamentado na necessidade social.
Este período, que iniciou com Beccaria, foi representado por Filangieri, Romagnosi e Carmignani; b) ético-jurídico – numa
segunda fase, período em que a metafísica jusnaturalista passa a dominar o Direito Penal, acentua-se a exigência ética de
retribuição, representada pela sanção penal. Foram os principais expoentes desta fase Pelegrino Rossi, Francesco Carrara e
Pessina. No entanto, indiscutivelmente, os dois maiores expoentes desta escola foram Beccaria e Carrara [...]”.
3
Demonstrando essa característica de investigação científica trazida pela ideologia da defesa social e seu papel na políticas
criminais vigentes da época, Baratta (2011, p. 41) comenta: “a ideologia da defesa social (ou do fim) nasceu
contemporaneamente à revolução burguesa, e, enquanto a ciência e a codificação penal se impunham como elemento
essencial do sistema jurídico burguês, aquela assumia o predomínio ideológico dentro do específico setor penal [...] O
Cidade Universitária da Universidade Federal do Maranhão
CEP: 65 085 - 580, São Luís, Maranhão, Brasil
Fone(98) 3272-8666- 3272-8668
Rompendo com esse diapasão, surgem novas acepções do pensamento
criminológico ligadas à Criminologia Crítica, dentre elas a teoria do etiquetamento ou reação
social - labeling approach4 - que explica a atuação seletiva e classista das agências oficiais
de poder do sistema penal. Desse modo, o crime passa a ser considerado como resultado
de convenções, que selecionam determinadas condutas para serem alçadas à condição de
condutas criminosas, passando por um processo de etiquetamento. (GUIMARÃES, 2007).
Contemporaneamente, a nova criminologia crítica, de inspiração marxista concebida
por Alessandro Baratta5 e com base epistemológica na teoria do etiquetamento do sistema
penal, entende que o direito penal, de modo geral, serve para aprofundar as diferenças
sociais e justifica que a atuação do Estado serve para a manutenção de privilégios das elites
dominantes, garantindo sua imunização punitiva e demais privilégios. (BARATTA, 2011).
Nesse contexto, a violência estrutural assume importante centro de estudos do
pensamento criminológico que aborda a criminalidade sob o enfoque de quem tem o real
poder de definir quais serão os comportamentos criminosos e quais os objetivos reais
almejados quando da utilização do sistema penal como principal forma de controle social.
Ou seja, o direito penal estigmatizante, que está a serviço de quem detém o poder político e
econômico, recai somente sobre os indivíduos eleitos para exercer papeis de criminosos –
pobres, negros, homossexuais, etc.6
Enquanto marco referencial teórico, o desenvolvimento do presente trabalho é
sustentado nas teses da nova Criminologia Crítica.
conteúdo dessa ideologia, assim como passou a fazer parte – embora filtrado através do debate entre as duas escolas – da
filosofia dominante na ciência jurídica e das opiniões comuns, não só dos representantes do aparato social penitenciário, mas
também do homem de rua (ou seja, das every day theories) [...]”
4
GUIMARÃES (2007, p.52): assevera que a escola fundamentou-se no “interacionismo simbólico que buscava explicações
para o problema da criminalidade através da reação social.
5
BARATTA (2011, p.161), ao explicar sobre as teses da nova criminologia crítica, assevera que “a criminalidade não é mais
uma qualidade ontológica de determinados comportamentos e de determinados indivíduos, mas se revela, principalmente
como um status atribuído a determinados indivíduos, mediante uma dupla seleção: em primeiro lugar, a seleção dos bens
protegidos penalmente, e dos comportamentos ofensivos destes bens, descritos nos tipos penais; em segundo lugar, a seleção
dos indivíduos estigmatizados entre todos os indivíduos que realizam infrações a normas penamente sancionadas. A
criminalidade é [...] um ‘bem negativo’, distribuído desigualmente conforme a hierarquia dos interesses fixada no sistema
socioeconômico conforme a desigualdade social entre os indivíduos”.
6
Nesse contexto, GUIMARAES (2007, p.70) comenta acerca do verdadeiro papel do direito penal: “[...] Ao invés de
combater-se a injustiça social, pedra de arrimo da violência estrutural – essencial ao capitalismo - e causa de grande parte das
mazelas sociais, combate-se através do sistema penal sua consequência, qual seja, a crescente e incontrolável onda de
violência criminal, haja vista que seria, no mínimo, um paradoxo, que o poder combatesse algo que é pressuposto de sua
existência”.
Cidade Universitária da Universidade Federal do Maranhão
CEP: 65 085 - 580, São Luís, Maranhão, Brasil
Fone(98) 3272-8666- 3272-8668
Os ideais de igualdade, liberdade, justiça e os princípios corolários da dignidade
humana possibilitaram, ao longo dos anos, a busca pela proteção dos direitos fundamentais
e a participação, cada vez maior, do povo nas decisões políticas em prol dos direitos
humanos e das garantias individuais. Desse modo, o jus puniend e o controle social formal
vêm sofrendo interferências de princípios limitadores que regulam a atuação do Estado,
amparados pela Constituição Cidadã de 1988 e de seu extenso rol de direito e garantias.
Ancorado por limites consubstanciados nos sistemas jurídicos vigentes, o exercício
do direito de punir do Estado Brasileiro, especialmente a partir da Segunda Guerra Mundial,
refletiu em uma intervenção estatal cada vez mais intensa na ordem jurídica, na sociedade e
na economia. Nesse diapasão, o Direito Penal também sofreu influência desse novo modelo
de Estado e passou a se desvirtuar de um dos princípios mais caros que o orientam, o
princípio da intervenção mínima, em que o direito penal deve intervir na ordem jurídica e
social somente quando os outros ramos do direito fracassam nesta função. (SICA, 2002)
Atualmente, o que se percebe no quadro das políticas criminais do Brasil é o
desvirtuamento do direito penal de suas bases principiológicas de intervenção mínima,
demonstrado através de uma desnecessária criminalização de condutas consideradas
inadequadas socialmente e sem relevância para o direito penal, que acabam sendo objeto
de discussões acerca de sua constitucionalidade, além de intensos debates na dogmática e
objeto de reformas pela jurisprudência.
Os estudiosos das ciências criminais e das políticas públicas convergem em
identificar na atual política criminal brasileira um chamado “direito penal de emergência”7
que, segundo Leonardo Sica (2002, p. 82): “representa a crise de hipertrofia do sistema
penal, em grande parte causada pelo emocionalismo e pela opção política equivocada em
fundamentar o sistema sobre tendências autoritárias, demagógicas e expansivas”. Ademais,
sobrepõe-se a modelos garantistas e minimalistas de Baratta e Ferrajoli e surge como
orientação dominante, distante de qualquer racionalidade. Eficiência e garantia tornam-se,
aparentemente, finalidades antagônicas do sistema penal. (MOCCIA, 1997; SICA, 2002)
Em síntese, o direito penal de emergência representa a tipificação de condutas
criminosas pelo legislador baseada em clamores sociais e discursos midiáticos que
distanciam o Direito Penal da “consciência comum” e da origem que o legitima. Choukr
(2002, p.07) afirma que a emergência possui fundo político, “cujas manipulações ideológicas
7
Para maior aprofundamento, vide Sergio Moccia. La perenne emergenza. Nápoles: Edizionim Scientifiche Italiane, 1997.
5 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Fábio Martins de. Mídia e poder judiciário: a influência dos órgãos da mídia
no processo penal brasileiro. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007.
ANDRADE, Vera Regina Pereira de. A ilusão jurídica de segurança jurídica: do controle
da violência à violência do controle penal. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado
Editora, 2003.
BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. 5. ed. São Paulo: Atena, 1956.
CHOUKR, Fauzi Hassan. Processo Penal de Emergência. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2002.
DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do estado. 22 ed. atual. São Paulo:
Saraiva, 2001.
DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. Tradução Nelson Boeira. São Paulo:
Martins Fontes, 2002. Título original: Taking rights seriously.
FERRAJOLI, Luigi. Direito e Razão: teoria do Garantismo Penal. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2002.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. 20 ed. Petrópolis: Vozes, 1999.
GOMES, Luiz Flávio. Mídia, segurança pública e Justiça criminal. Jus Navigandi,
Teresina, ano 12, n. 1628, 16 dez. 2007. Disponível em:
<http://jus.com.br/revista/texto/10768>. Acesso em: 26 março de 2013.
MENDES, Gilmar Ferreira. COELHO, Inocêncio Mártires. BRANCO, Paulo Gustavo Gonet.
Curso de Direito Constitucional. 5° ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2010.
MOCCIA, Sergio. Emergência e Defesa dos Direitos Fundamentais. In: Revista Brasileira
de Ciências Criminais. Ano 7, n. 25. São Paulo: Revista dos Tribunais, jan-mar. 1999.
_________________. La perenne emergenza. Nápoles: Edizionim Scientifiche Italiane,
1997.
RIPOLLÉS, José Luis. La Racionalidad de las Leyes Penales. Madrid: Trotta, 2003.