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Criminal law and the criminal psychopath: application and effects of punibilitty
RESUMO: No presente artigo, a temática está delimitada em apresentar os aspectos punitivistas que
estruturam o Direito Penal sob a conduta delitiva do indivíduo psicopata. Dessa forma, os objetivos
estão acostados à metodologia de pesquisa bibliográfica, trazendo ao escopo do artigo os aspectos que
circundam o transtorno de personalidade antissocial, bem como a distinção entre sociopatia e psicopatia,
apontando-se à origem do comportamento criminoso, à luz de fatores biológicos e sociais. Ademais, é
relacionado à psicopatia ao direito brasileiro, apontando os aspectos da imputabilidade, semi-
imputabilidade e inimputabilidade penal, trazendo à análise a necessidade de aplicação da medida de
segurança ou pena privativa de liberdade. Para isso, é feita uma reflexão acerca da importância em
realizar uma perícia médica para a constatação do transtorno mental. No sentido de elucidar e espelhar
o estudo, também é analisado, ainda que de forma linear, o caso do Francisco da Costa Rocha, conhecido
popularmente como "Chico Picadinho", que gerou enormes debates a respeito dos institutos penais e da
psicopatia. Com isso, fica evidente a necessidade de tratar com maior clareza sobre a punição do
criminoso portador de transtorno antissocial, respeitando sua condição de sujeito de direitos e
protegendo a sociedade de seus impulsos delitivos.
PALAVRAS-CHAVE: Psicopatia; Transtorno de personalidade antissocial; Direito Penal;
Punibilidade; Semi-imputabilidade.
ABSTRACT: In this article, the theme is delimited in presenting the punitivist aspects that structure
Criminal Law under the criminal conduct of the psychopathic individual. Thus, the objectives are linked
to the bibliographic research methodology, bringing to the scope of the article the aspects surrounding
the antisocial personality disorder, as well as the distinction between sociopathy and psychopathy,
pointing to the origin of criminal behavior, in light of factors biological and social. Furthermore, it is
related to psychopathy under Brazilian law, pointing out the aspects of imputability, semi-imputability
and criminal non-imputability, bringing to the analysis the need to apply a security measure or a
custodial sentence. For this, a reflection is made about the importance of carrying out a medical
examination for the verification of mental disorder. In order to elucidate and mirror the study, the case
of Francisco da Costa Rocha, popularly known as "Chico Picadinho", has also been analyzed, which
has generated huge debates regarding penal institutes and psychopathy. Thus, it becomes evident the
need to deal more clearly with the punishment of the criminal with antisocial disorder, respecting his
condition as a subject of rights and protecting society from its criminais impulses.
KEYWORDS: Psychopathy; Antisocial personality disorder; Criminal Law; Punishment; Semi-
imputability.
*
Esse trabalho foi apresentado originalmente pela primeira autora como Trabalho de Conclusão do Curso de
Direito da Universidade Santa Cecília (UNISANTA), orientado pelo segundo autor. Em função da recomendação
de publicação dos avaliadores da Mostra de Trabalhos Científicos da UNISANTA, fez-se a presente versão.
1
Graduanda da Faculdade de Direito da Universidade Santa Cecília.
2
Doutorando em Direito Empresarial (UNINOVE). Mestre em Direito da Saúde (UNISANTA). Especialista em
criminologia (UNINTER) em Penal e Processo Penal (UNISANTA). Bacharel em Direito (UNISANTA). Delegado
de Polícia Civil. Docente da Faculdade de Direito da Universidade Santa Cecília.
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Direito penal e o criminoso psicopata... SANCHEZ & GOUVEIA
INTRODUÇÃO
Um dos imensuráveis efeitos do Direito para a vida em sociedade está na tutela dos bens
individuais e coletivos inerentes ao indivíduo. Logo, tal proteção está a cargo do Estado, que se
utiliza de uma seara específica para garantir a inviolabilidade destes, e consequentemente, a
pax social.
Assim, o Direito Penal qualifica-se como um importante instrumento para a proteção de
um conjunto específico de bens intrínsecos ao ser humano, sendo um dos basilares, a vida desde
a sua concepção biológica.
Com efeito, aqueles que violam as normas do Código Penal, estão sujeitos a cometer
um crime. Logo, é necessário conceituar ainda que de forma linear para compreender os
aspectos penais aplicáveis a um sujeito criminoso, em especificidade ao psicopata.
Ademais, é imprescindível salientar os diversos fatores que ensejam as transgressões
penais, pois em certa peculiaridade há de se destacar os fatores biológicos, psicológicos e
sociais que trazem à tona os portadores do Transtorno de Personalidade Antissocial (TPAS).
Desse modo, os objetivos gerais do presente artigo, funda-se na aplicação do direito
penal ao sujeito psicopata, uma vez que este venha a cometer um crime. Com isso, o escopo da
pesquisa irá delimitar-se a compreender além dos efeitos da aplicabilidade da norma penal,
como é traduzida a punibilidade na prática forense, uma vez que não se trata de um criminoso
comum.
Todavia, é primordial as colaborações multidisciplinares que envolvem a temática, logo,
são compreensíveis trazer a luz do melhor entendimento as lições de criminologia, bem como
da psiquiatria forense que circundam esse tipo de transtorno de personalidade.
Com isso, fazendo uma breve distinção entre a psicopatia e a sociopatia, é válido os
apontamentos quanto aos criminosos psicopatas e o direito penal brasileiro, destacando os
efeitos da punibilidade.
Neste contexto, optou-se por uma abordagem funcionalista à presente pesquisa. Para
tanto, Marcelo Lamy, menciona que:
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Portanto, apesar da temática ser objeto de uma vasta gama de estudos em diversas áreas,
o presente trabalho pauta-se em pontuar os elementos que circundam o direito penal brasileiro
e o sujeito psicopata no tocante aos efeitos de sua punibilidade, bem como nas possíveis
consequências no meio social na condução desses fenômenos.
Art. 1º Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão
ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com
a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina,
isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou
cumulativamente. (grifei)
Já sobre o critério formal, que explora o crime como sendo a conduta descrita em lei
como tal informa que "[...] é todo ato punido com sanções de natura penal (penas ou medidas
de segurança).".
Sob o viés do conceito analítico, o crime é estudado de modo estrutural. Para a teoria
bipartida, é definido como fato típico e ilícito, sendo a culpabilidade requisito para imposição
da pena. A teoria tripartida, por sua vez, defende que o crime é estruturado pelo fato típico,
ilícito e culpável.
A teoria clássica majoritariamente aceita é a tripartida, consoante se vê em um julgado
do Superior Tribunal de Justiça:
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Dada uma classificação aos criminosos, questiona-se sobre quais seriam as origens do
comportamento criminoso, sendo imperiosa a análise de fatores biológicos e psicossociais.
Um dos estudos precursores sobre o assunto foi do psicólogo britânico e professor de
criminologia Adrian Raine, que reuniu 41 assassinos condenados à pena de morte e utilizou
uma tomografia por emissão de pósitrons (PET), para verificar o funcionamento de diversas
partes do cérebro deles ao mesmo tempo.
No geral, os 41 homicidas mostraram uma redução significativa no metabolismo da
glicose pré-frontal em comparação aos controles, indicando baixo funcionamento cerebral:
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A criminóloga Ilana Casoy (2017. p. 32), em seu livro "Arquivos Serial Killer: Louco
ou Cruel? e Made in Brazil", traz a informação de que cerca de 82% dos assassinos em série
sofreram abuso na infância, sendo eles físicos, sexuais, emocionais ou negligência/abandono.
Do exposto, podemos extrair que o meio no qual um indivíduo está inserido e as
situações negativas que experimenta durante seu desenvolvimento, podem influenciar em sua
conduta social, funcionando como estímulo para práticas criminosas.
Portanto, para os efeitos de elucidação do objeto específico da pesquisa, é primordial a
distinção do psicopata quanto a um criminoso comum.
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Nessa senda, o artigo 27 do Código Penal dispõe sobre a inimputabilidade dos menores
de 18 anos, considerando que estes são incapazes de compreender a ilegalidade de sua conduta,
de modo a adotar, à exceção do sistema empregado pela nossa legislação, o critério cronológico
(biológico).
A semi-imputabilidade, por sua vez, é um estado limítrofe que se configura quando há
perda de apenas uma parte dessa capacidade de entendimento e autodeterminação, em
decorrência de doença mental, desenvolvimento incompleto ou retardado.
Tecendo comentários sobre o parágrafo único do artigo 26 do Código Penal, o qual
dispõe sobre o semi-imputável, Mirabete traz a seguinte análise:
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Ainda há um grande dissenso com relação ao que o Estado deve fazer com psicopatas
que são considerados semi-imputáveis. A dúvida que paira é sobre apenar os criminosos
portadores deste transtorno e enviá-los à presídios comuns, ou se devem ser tratados em local
adequado.
Conforme já elucidado, os psicopatas são sujeitos frios, capazes de praticar crimes de
violência extrema, não demonstrando qualquer tipo de arrependimento ou remorso por seus
atos, o que torna deveras improvável que a imposição de uma pena possa ser eficaz na
ressocialização.
O psicólogo Robert Hare afirma que quando presos, os psicopatas utilizam de sua
capacidade de manipulação para influenciar as instituições correcionais em seu favor,
apresentando uma imagem favorável à obtenção de livramento condicional (2013, p. 65)
Além disso, os psicopatas apresentam um alto índice de reincidência se comparados
com criminosos comuns, vejamos:
Denota-se, então, que a imposição de pena é ineficaz quando se trata dos criminosos
portadores de transtorno de personalidade antissocial.
Por outro lado, como já consignado alhures, não há cura para esse transtorno, bem como
não há um tratamento eficiente para melhorar as características psicopáticas, fazendo com que
a medida de segurança também não seja útil para tratar e reabilitar o psicopata ao convívio em
sociedade.
Além disso, de acordo com o observado no tópico anterior, a medida de segurança
também não pode ter caráter perpétuo, limitando-se ao período de 40 anos (artigo 75 do Código
Penal).
Diante dessas informações, cabe ressaltar a ausência de estudos precisos que indiquem,
de forma quantitativa e qualitativa, as decisões judiciais na esfera criminal acerca do réu
portador de psicopatia.
De modo um modo geral, o Sistema Eletrônico de Execução Unificado, elaborado pelo
Conselho Nacional de Justiça, traz as estatísticas de execução penal e demonstram que
atualmente existem 744.322 condenados à pena privativa de liberdade, em face de 7.115
sentenciados ao cumprimento de medida de segurança.
Portanto, ainda que haja uma expressão em número de execuções de penas e de medidas
de segurança, não são suficientes para qualificar o posicionamento do ordenamento jurídico
quanto a esse fenômeno.
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Todavia, o que ocorre no caso concreto com Francisco ultrapassa a seara do Direito
Penal e da estipulação de medida de segurança, sendo ele afastado da sociedade em decorrência
de um instituto civil.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
CASOY, Ilana. Arquivos Serial Killer: Louco ou Cruel? e Made in Brazil. Rio de Janeiro,
Darkside Books, 2017.
Diagnostic and Statistical. Manual of Mental Disorders, Fifth Edition (Copyright, 2013)
GOLÇALVES, Victor Eduardo Rios. Curso de direito penal: parte geral (arts. 1º a 120) -
volume 1 - 3. ed. - São Paulo: Saraiva Educação, 2019.
HARE, Robert D. Sem consciência: o mundo perturbador dos psicopatas que vivem entre
nós. Tradução de Denise Regina de Sales. Porto Alegre: Artmed, 2013.
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