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Profª Luciana de Rezende

NOÇÕES INTRODUTÓRIAS DO DIREITO PENAL

1 CONCEITO DE DIREITO PENAL

NOTA INTRODUTÓRIA

A vida em sociedade exige um complexo de normas disciplinadoras que estabeleça as regras indispensáveis ao convívio entre os
indivíduos que a compõem. A reunião das normas jurídicas pelas quais o estado proíbe determinadas condutas, sob ameaça de sanção penal,
estabelecendo ainda os princípios gerais e os pressupostos para a aplicação das penas e das medidas de segurança, dá-se o nome de direito
penal.

CONCEITO DE DIREITO PENAL

Como o Estado não pode aplicar as sanções penais arbitrariamente, na legislação penal são definidos esses fatos graves, que passam
a ser ilícitos penais (crimes e contravenções), estabelecendo-se as penas e as medidas de segurança aplicáveis aos infratores dessas
normas.

O direito penal tem um caráter fragmentário, pois não encerra um sistema exaustivo de proteção aos bens jurídicos, mas apenas elege,
conforme o critério do “merecimento da pena”, determinados pontos essenciais.

Pode-se dizer que o fim do direito penal é a proteção da sociedade e, mais precisamente, a defesa dos bens jurídicos fundamentais
(vida, integridade física e mental, honra, liberdade, patrimônio, etc.).

DIREITO PENAL é o conjunto de normas jurídicas que o Estado estabelece para combater o crime, através das penas e medidas de
segurança.

CARACTERES DE DIREITO PENAL

Diz-se que o direito pena é uma ciência cultural e normativa. É uma ciência cultural porque indaga o dever ser, traduzindo-se em regras
de conduta que devem ser observadas por todos no respeito aos mais relevantes interesses sociais. É também uma ciência normativa, pois
seu objeto é o estudo da lei, da norma do direito positivo, como dado fundamental e indiscutível na sua observância obrigatória.

A norma penal é valorativa porque tutela os valores mais elevados da sociedade, dispondo-os em uma escala hierárquica e valorando
os fatos de acordo com a sua gravidade.
Profª Luciana de Rezende

Afirma-se que se trata, também, de um direito constitutivo porque possui um ilícito próprio, oriundo da tipicidade, uma sanção peculiar
(pena), e institutos exclusivos como o sursis.

POSIÇÃO ENCICLOPÉDICA

O direito penal pertence ao direito público.

Destinado a viger nos limites territoriais como direito positivo de determinado país é o direito penal ramo do direito público interno.

DIREITO PENAL OBJETIVO E DIREITO PENAL SUBJETIVO

Denomina-se direito penal objetivo o conjunto de normas que regulam a ação estatal, definindo os crimes e cominando as respectivas
sanções. Já o direito penal subjetivo é o direito que tem o Estado de atuar sobre os delinquentes na defesa da sociedade contra o crime; é o
direito de punir do Estado..

DIREITO PENAL COMUM E DIREITO PENAL ESPECIAL

O direito penal comum se aplica a todas as pessoas e aos atos delitivos em geral.

O direito penal especial é dirigido a uma classe de indivíduos de acordo com sua qualidade especial, e a certos atos ilícitos
particularizados.

Pode-se falar em legislação penal comum em relação ao código penal, e em legislação penal especial como sendo as normas penais
que não se encontram no referido estatuto.

DIREITO PENAL SUBSTANTIVO E DIREITO PENAL ADJETIVO

Direito penal substantivo (ou material) é representado pelas normas que definem as figuras penais, estabelecendo as sanções
respectivas, bem como os princípios gerais a elas relativos (Código Penal, Lei das Contravenções penais, etc.).

Direito penal adjetivo (ou formal) constitui-se de preceitos de aplicação do direito substantivo e de organização judiciária.
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2 RELAÇÕES DO DIREITO PENAL

INTRODUÇÃO

Como o sistema jurídico de um país é formado de elementos que se completam, sem contradições, o direito penal, como uma das
partes desse todo, tem íntima correlação com os demais ramos da ciência jurídica.

RELAÇÕES COM AS CIÊNCIAS JURÍDICAS FUNDAMENTAIS

Relaciona-se o direito penal com a filosofia do direito. As investigações desta levam à fixação de princípios lógicos, à formulação de
conceitos básicos e à definição de categorias fundamentais e indispensáveis à elaboração da lei penal.

Com a teoria geral do direito, em que são elaborados conceitos e institutos jurídicos válidos para todos os ramos do direito, relaciona-se
o direito penal.

Estudando o ordenamento jurídico nas suas causas e funções sociais, a sociologia jurídica tem por foco o fenômeno jurídico como fato
social, resultante de processos sociais.

RELAÇÕES COM OUTROS RAMOS DE CIÊNCIAS JURÍDICAS

O direito penal relaciona-se com o Direito Constitucional, em que se define o Estado e seus fins, bem como os direitos individuais,
políticos e sociais. É na carta magna que se estabelecem normas específicas para resolver um conflito entre os direitos dos indivíduos e a
sociedade.

Como é administrativa a função de punir, é evidente o relacionamento do Direito Penal com o Direito Administrativo. A lei penal é
aplicada através dos agentes de administração (juiz, promotor de justiça, delegado de polícia, etc.).

O Direito Processual Penal, já denominado de direito penal adjetivo, é um ramo jurídico autônomo, em que se prevê a forma de
realização e aplicação da lei penal, tornando efetiva a sua função de prevenção e repressão dos crimes.

Como se acentua a cooperação internacional na repressão ao crime, fala-se em Direito penal Internacional como ramo do direito e
esse tem por objetivo a luta contra a criminalidade universal.

Quanto ao Direito Civil um mesmo fato pode caracterizar um ilícito penal e obrigar a uma reparação civil.

Com relação ao Direito Comercial, tutela a lei penal institutos como o cheque, a duplicata, etc.
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RELAÇÃO COM AS DISCIPLINAS AUXILIARES

Na Medicina Legal, que é a aplicação de conhecimentos médicos para a realização de leis penais ou civis, verificam-se a existência, a
extensão e a natureza dos danos à saúde e à vida, a ocorrência de atentados sexuais, etc.

A criminalística, também chamada polícia científica, é a técnica que resulta da aplicação de várias ciência e investigação criminal,
colaborando na descoberta dos crimes e na identificação de seus autores.

A Psiquiatria Forense estuda os distúrbios mentais em face dos problemas judiciários.

3 CRIMINOLOGIA E CIÊNCIAS PENAIS

CRIMINOLOGIA

A criminologia é um conjunto de conhecimentos que estudam os fenômenos e as causas da criminalidade, a personalidade do


delinquente e sua conduta delituosa e a maneira de ressocializá-lo.

BIOLOGIA CRIMINAL

Pode-se dividir a criminologia em dois grandes ramos: o da biologia criminal e o da sociologia criminal.

Estuda-se na Biologia Criminal o crime como fenômeno individual, ocupando-se essa ciência das condições naturais do homem
criminoso no seu aspecto físico, fisiológico e psicológico. Incluindo os estudos da antropologia, psicologia e endocrinologia criminais.

A Antropologia Criminal, criada por César Lombroso, preocupa-se com os diferentes aspectos do homem no que concerne à sua
constituição física, aos fatores endógenos e à atuação do delinquente no ambiente físico e social.

A Psicologia Criminal trata do diagnóstico e prognóstico criminais. Ocupa-se com o estudo das condições psicológicas do homem na
formação do ato criminoso, do dolo e da culpa, da periculosidade e até do problema objetivo da aplicação da pena e da medida de segurança.

A Endocrinologia Criminal é a ciência que estuda as glândulas endócrinas e a sua influência na conduta do homem.

SOCIOLOGIA CRIMINAL

Tomando-se o crime como um fato da vida em sociedade, a sociologia criminal estuda-o como expressão de certas condições do grupo
social.
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EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO PENAL externo do homem, positivo ou negativo, moralmente imputável e
politicamente danoso”.
“O Direito Penal surge com o homem e o acompanha através dos tempos,
isso porque o crime, qual sombra sinistra, nunca dele se afastou" 3.PERÍODO CIENTÍFICO ou CRIMINOLÓGICO
Magalhães Noronha - (grifo nosso) (a justiça deve conhecer o homem – a partir do século XIX)

PERÍODOS DA EVOLUÇÃO DO DIREITO PENAL: Escola Positivista (Direito penal é produto social, obra humana):
Cesar Lombroso – (antropologia criminal)
1-PERÍODO DA VINGANÇA PENAL O homem criminoso apresenta características biológicas:
2-PERÍODO HUMANITÁRIO –é insensível fisicamente (uso de tatuagens);
3-PERIODO CIENTÍFICO ou CRIMINOLÓGICO –resistente ao traumatismo;
–vaidoso;
–preguiçoso;
1.PERÍODO DA VINGANÇA PENAL
–moralmente impulsivo;
(tempos primitivos até fins do século XVIII)
–canhoto ou ambidestro;
–assimetria craniana;
1.1Vingança privada (olho por olho, dente por dente = instituto do Talião
–cabelos abundantes;
e da composição)
–face larga;
1.2Vingança divina (a repressão ao crime é a satisfação dos deuses)
–rosto pálido;
1.3Vingança pública (o crime passa a ser contra o Estado, à sociedade).
–barba escassa.
Enrico Ferri (sociologia criminal)
1.3.1 Direito Romano (separação do Direito e Religião)
O criminoso sofre influência de fatores mesológicos dividindo-se em 05
1.3.2 Direito Germânico (influência do Direito romano)
categorias:
1.3.3 Direito Canônico (Direito Penal da Igreja, apogeu do
–o nato – o louco – o habitual, - o ocasional – o passional.
cristianismo, pela humanização das penas)
Dividiu as paixões em: sociais (amor, piedade,etc) anti-sociais (ódio,
avareza, inveja, etc)
Obs.: essas fases não se sucederam uma às outras de forma distinta.
Rafael Garófalo (criminologia)
Uma fase convive com a outra por largo período, a separação é feita por
propunha estudo do delito, do delinquente e da pena, abordando fatores
idéias.
jurídicos.
2.PERÍODO HUMANITÁRIO
(o homem deve conhecer justiça) - aproximadamente entre 1750 e 1850)

Marquês de Beccaria: “A pena deve ser pública, justa, rápida e eficaz”.


- Autor do pequeno grande livro “Dos delitos e das penas”, em 1764,
inspirados nas idéias de Rousseau (Contrato Social).
- Princípios básicos do Direito Penal Moderno e adotados pela Declaração
dos Direitos do Homem da Revolução Francesa.
2.1 Escola Clássica:
Grande expoente é Francesco Carrara: O crime é infração da lei do Estado,
promulgada para proteger a segurança dos cidadãos, resultante de um ato
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EVOLUÇÃO DO DIREITO PENAL NO BRASIL

BRASIL - COLÔNIA BRASIL - REPÚBLICA


1500 a 1514 – vigoraram as ordenações Afonsinas (1ª grande compilação
de leis desde Afonso I) vindas de Portugal (1º ordenamento jurídico). 1890 – elaborado em 03 meses, passou a viger a partir de 11 de outubro o
Código Penal. Alvo de duras críticas pelas falhas contidas, embora tivesse
1514 a 1603 – entraram em vigor as ordenações Manuelinas que não abolido a temida pena de morte e estabelecido o regime penitenciário de
constituíram fonte do direito aplicável no Brasil, pois prevalecia o arbítrio dos caráter correicional.
donatários (vingança).
1932 – Consolidação de Piragibe
1603 – passou a viger as ordenações Filipinas que reflete o Direito Penal (Dec.-lei 22.213 de 14 de dezembro de 1932)
dos tempos medievais. Compostas de 05 livros, sendo o Livro V (1º Código Renião das várias leis penais criadas pela deficiência do Código de 1890
Penal Brasileiro). pelo Des. Vicente Piragibe e vigeram até 1940 com 410 artigos em 04 livros.
Características: O crime se confundia com pecado, as penas eram severas
e cruéis, as mais comuns da época: 1940 – promulgado o atual Código Penal
–açoite; (Dec. Lei 2848 de 07 de dezembro de 1940)
–mutilação; Entrou em vigor a partir de 01 de janeiro de 1942 para viger junto com o
–degredo; Código de Processo Penal.
– pena de morte: natural (forca), natural cruelmente (antecedida de tortura) Projeto de Alcântara Machado e comissão revisora: Nelson Hungria;
ou para sempre (corpo dependurado em um alto lugar até a Vieira Braga; Narcélio de Queiroz; Roberto Lyra
decomposição).
Obs.: as datas relativas à vigência das ordenações não são fidedignas. Sem compromisso com qualquer escola, apresenta legislação eclética.

1969 - surge outro código, projeto de Nelson Hungria, mas antes de entrar
BRASIL - IMPÉRIO em vigor, foi revogado em 10/10/1978.
1830 – foi sancionado o Código Criminal em 16 de dezembro.
Características: 1984 – Reforma do Código Penal (Dec. Lei 2848/40)
- Índole liberal; Foi alterada a parte geral do Código pela Lei 7.209 de 11 de julho de 1984
- esboço de individualização da pena; com novos e modernos princípios básicos do Direito Penal, além da adoção
–previa circunstâncias que atenuam a pena ou agravam; do sistema vicariante de sanção penal (pena ou medida de segurança).
–pena de morte somente para crimes cometidos por escravos. Foi promulgada juntamente a Lei 7.210 tratando especificamente a
Execução Penal.

1998 – alteração da parte relativa às penas alternativas pela Lei 9714


acrescentando outras penas alternativas e regulamentando melhor sua
aplicação.
Profª Luciana de Rezende

FONTES DO DIREITO PENAL


1. Conceito
Fonte do Direito Penal: De onde provém, de onde se origina a lei penal.
-Materiais (substanciais ou de produção): informam a gênese, a substância, a matéria de que é feito o Direito Penal, como é produzido, elaborado.
-Formais (de conhecimento, de cognição): referem-se ao modo pelo qual se exterioriza o direito, pelo qual se dá ele a conhecer.

2. Fontes Materiais
A única fonte de produção do Direito Penal é o Estado.
Art. 22, I, da CF – compete privativamente à União legislar sobre “direito penal”.
OBS: Parágrafo único do art. 22 prevê a possibilidade de lei complementar autorizar os Estados a legislar sobre questões espe cíficas das matérias relacionadas no
art. 22.

3. Fontes Formais
- Diretas (imediatas): Leis;
- Indiretas (mediatas, subsidiárias): Costumes; Princípios Gerais do Direito (LICC, art. 4º);
Costume: Regra de conduta praticada de modo geral, constante e uniforme, com a consciência de sua obrigatoriedade.
Influência na interpretação e na elaboração da lei penal;
Princípios gerais do Direito: premissas éticas extraídas da legislação, do ordenamento jurídico.

4. Leis:
Em um Estado de Direito, a lei assume papel fundamental, sendo, ao mesmo tempo, delimitadora dos direitos individuais e do poder estatal. No Direito Penal, essa
importância é ainda maior, pois o princípio da legalidade determina que os crimes e as penas devem ser previamente definidos em lei.
Em sentido lato, a lei compreende diversas espécies, enumeradas no art. 59 da CF: emendas constitucionais, leis complementares, leis delegadas, leis ordinárias,
medidas provisórias, decretos legislativos e resoluções. Porém, apenas a CF, incluídas suas emendas, e as leis ordinárias são fontes do Direito Penal.
As normas editadas pela Administração Pública (decretos, portarias, circulares, ordenes de serviço, instruções, etc.) são, geralmente, fontes secundárias do Direito
Penal, uma vez que subordinadas às leis.

4.1 Classificação das leis penais


Como vimos, a única fonte formal direta da norma penal é a lei. Então, da lei emana a norma, cognitivamente falando. Em outro aspecto, considerando que a leis
penais não são voltadas exclusivamente à definição de crimes e cominação de penas e, ainda, levando em conta algumas caracter ísticas peculiares de
determinados dispositivos legais, torna-se relevante ressaltar as suas principais classificações (das leis penais).

4.1.1 - Leis penais incriminadoras (leis penais em sentido estrito, proibitivas ou mandamentais
Entende-se, diante dela, que quando a lei penal criminaliza um comportamento ela não diz textualmente que determinada conduta é proibida, mas sim incorpora a
técnica de descrever essa conduta e logo após cominar uma pena. Veja-se o exemplo do homicídio simples, previsto no art. 121, caput, do CP:Art. 121. Mata
alguém:
Pena – reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos.
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No caso não está dito pela lei que “é proibido matar”, porém o intérprete, diante do comportamento descrito, e com a correspondente cominação de pena, entende
perfeitamente que ali está sendo veiculada uma norma proibitiva (ou seja, entende que “é proibido matar”, pois há uma ameaça de pena para essa conduta).
Desse modo, a lei penal incriminadora apresenta um preceito primário (descrição da conduta) e um preceito secundário (cominação da pena).
No caso do exemplo dado, preceito primário: “Matar alguém”; e preceito secundário: “Pena – reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos”.
Técnica legislativa semelhante é utilizada quando se trata de crimes omissivos, com a diferença de que nestes a norma ao invés de proibir, impõe um
comportamento.

4.1.2 Leis penais não incriminadoras


Intuitivamente se observa que as leis penais não incriminadoras, diferentemente das incriminadoras, não definem crimes nem co minam sanções. Resta, todavia,
delimitar seu campo de regulação, não somente dizendo a que não se prestam, mas também especificando, em linhas gerais, o conteúdo de las.
Note-se o seguinte exemplo de dispositivo não incriminador, contido no CP: “Art. 1º. Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia
cominação legal”.
A diversidade de características da lei penal não incriminadora é bem maior do que da incriminadora. Por essa razão, divide a doutrina as normas não
incriminadoras em:
a) permissivas – prevê em circunstâncias que afastam o caráter criminoso do comportamento. Podem ser divididas em permissivas justificantes (arts. 23, 24 e 25
do CP, por exemplo) e permissivas exculpantes (arts. 26, caput, e 28, § 1º, do CP, por exemplo);
b) interpretativas ou explicativas – estabelecem conceitos que ajudam na interpretação de outras normas penais (exemplo: art. 327 do CP);
c) de aplicação, finais ou complementares – “delimitam o campo de validade das leis incriminadoras. Exemplos: arts. 2º e 5º do Código Penal”
d) diretivas – estabelecem princípios (exemplo: art. 1º do CP);
e) integrativas ou de extensão – “são as que complementam a tipicidade no tocante ao nexo causal nos crimes omissivos impróprios, à tentativa e à participação
(CP, arts. 13, § 2º, 14, II, e 29, caput, respectivamente)”.

4.1.3 Leis penais completas


A doutrina em leis penais completas ou perfeitas quando as mesmas não necessitam de nenhum complemento normativo ou valorativo para interpretação de seu
preceito primário (descrição da conduta) e também possuem preceito secundário em seu próprio texto, igualmente sem necessidade de complementação nesse
aspecto.
Para efeito expositivo, é completa a lei penal estampada no art. 121 do CP (“matar alguém”), por exemplo, porque não exige nenhum complemento normativo (não
é uma lei penal em branco) nem valorativo (não

4.1.4 Leis penais incompletas


A principal delas: Leis penais em branco - São aquelas que exigem uma complementação de seu preceito primário (descrição da conduta) veiculada por meio
de outra lei ou proveniente de fonte diversa (portaria, decreto etc.). Conforme aduz Luiz Regis Prado (2007, v. 1, p. 179): “A lei penal em branco pode ser
conceituada como aquela em que a descrição da conduta punível se mostra incompleta ou lacunosa, necessitando de outro dispositivo legal para a sua integração
ou complementação”.
O complemento referido pode ser anterior ou posterior à vigência da lei penal em branco.
O art. 33 da Lei nº 11.343/2006, que descreve o crime de tráfico de drogas, é um claro exemplo de lei penal em branco. Vejamos o caput de referido dispositivo:

Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar,
prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar.
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Pena – reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa. (Grifos nossos)
Note-se que para a aplicação do artigo em referência é necessário definir drogas, vocábulo este de acepção ampla; ou seja, o preceito primário não está completo
(trata-se de uma lei penal em branco).

Nesse passo, o art. 1º, parágrafo único, da Lei nº 11.343/2006, assim dispõe: “Para fins desta Lei, consideram-se como drogas as substâncias ou os produtos
capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Exe cutivo da União”. E, em
decorrência dessa previsão legal, atribuiu o art. 14, I, “a”, do Decreto nº 5.912/2006, ao Ministério da Saúde a função de “publicar listas atualizadas periodicamente
das substâncias ou produtos capazes de causar dependências”. As listas mencionadas são veiculadas nos anexos da Portaria nº 344, de 12 de maio de 1998, da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA, agência reguladora vinculada ao Ministério da Saúde), que foi recepcionada pela Lei nº 11.343/2006.
No caso exemplificado, a complementação final se deu através de uma Portaria (instrumento infralegal), porém, e segundo já adiantado, essa complementação, em
outros casos, também pode ser feita através de lei; sendo por esta razão que a doutrina divide as leis penais em branco em:
a) homogêneas (leis penais em branco em sentido amplo) – quando a complementação também emana do legislador. Exemplo: art. 237 do CP, no qual está
descrito o seguinte crime: “Contrair casamento, conhecendo a existência de impedimento que lhe cause nulidade absoluta: Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1
(um) ano”. Nesse caso os impedimentos referidos são estabelecidos em outra lei (art. 1.521, incisos I a VII, do Código Civil – Lei nº 10.406/2002). Outros exemplos:
arts. 178 e 184 do CP;
b) heterogêneas (leis penais em branco em sentido estrito) – são aquelas cujo complemento do seu preceito primário não provém do legislador (complemento em
portaria, decreto etc.). Exemplo: art. 33, caput, da Lei nº 11.343/2006, cuja complementação é feita pela Portaria nº 344/1998, da ANVISA. Outros exemplos: arts.
268 e 269 do CP.
Dentre os penalistas nacionais, manifestam-se pela constitucionalidade das leis penais em branco heterogêneas: Fernando Capez (2003, v. 1, p. 33), Mirabete e
Fabbrini (2006, v. I, p. 32) e Gomes e Molina (2007, v. 2, pp. 72/73), dentre outros. Estes dois últimos asseveram o seguinte quanto a este ponto:
A definição essencial do delito (os verbos núcleos do tipo) é ato do legislador. O que a autoridade administrativa pode fazer é explicitar um dos requisitos típicos
dados pelo legislador.
Não pode ficar por conta da autoridade administrativa descrever mais ações verbais, além das definidas na lei. Exemplo: lista s das substâncias entorpecentes. O
crime (ou seja: todos os verbos núcleos do tipo) foi definido pelo legislador (na Lei 11.343/2006, arts. 28 e 33, v.g.). A autoridade administrativa apenas descreve
quais são as substâncias entorpecentes. Nisso não há nenhuma inconstitucionalidade.
De nossa parte, nos alinhamos à doutrina majoritária, pois entendemos ser inviável sustentar a impossibilidade da lei delegar às autoridades administrativas a
complementação de certos tipos penais como aqueles constantes na Lei Antidrogas (Lei nº 11.343/2006), considerando as questõe s técnicas variáveis de ordem
não jurídica que norteiam o complemento necessário.
Ademais, ressalte-se também que não se observa na jurisprudência nacional manifestações relevantes quanto à suposta inconstitucionalidade das l eis penais em
branco heterogêneas.

4.2 Interpretações das leis penais


Segundo já expomos, a norma penal está contida na lei, sendo aquela delimitada por um processo conhecido como interpretação. Desse modo, a interpretação
não cria a norma apenas a descobre e delimita seu sentido. Como ensinam Gomes e Molina (2007, v. 2, p. 74): “Interpretar a lei penal significa descobrir o seu
significado, o seu sentido, a sua exata extensão normativa (ou seja, seu âmbito concreto de incidência)”.
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Observe-se que a lei regula situações abstratamente consideradas. Sua criação não se direciona a um fato concreto, mas sim a uma generalidade de situações
com características comuns, cuja adequação ao texto legal será verificada justamente pelo processo de interpretação.
Por exemplo: prevê o art. 155 do CP a conduta criminosa de “subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel”. Quando foi criado esse texto legal foi para
aplicá-lo a uma diversidade de fatos futuros (ainda não concretizados), daí seu caráter abstrato. Então, uma vez ocorridos os fatos concretos será necessário
averiguar a adequação dos mesmos à descrição legal, e isso somente é possível pela interpretação da norma, determinando -se assim se esta se aplica ou não à
situação.

4.2.1 Interpretação quanto ao órgão ou sujeito


Levando em consideração o sujeito da qual provém, a interpretação pode ser autêntica, doutrinária e jurisprudencial.

Interpretação autêntica ou legislativa: Quando a interpretação provém do próprio legislador, ou seja, um texto legal interpreta o outro. Nesse caso aparece a
chamada lei interpretativa ou norma interpretativa, criada especificamente para esclarecer o conteúdo e o significado de outra já existente.
Pode ser contextual, quando a interpretação é realizada contemporaneamente o texto legal a ser interpretado; e posterior, quando realizada depois da edição do
texto legal interpretado.
A título de ilustração, pondere-se que a exposição de motivos do nosso Código Penal não pode ser tida como uma interpretação autêntica, mas sim doutrinária,
pois não faz parte do texto normativo.
Para finalizar, vejamos exemplos de interpretação autêntica: a) art. 150, §§ 4º e 5º, do CP; e b) art. 327, caput, do CP.

Interpretação doutrinária ou científica: É a interpretação feita pelos estudiosos do Direito, conhecidos como juristas ou doutrinadores. Revela-se nas obras
jurídicas (livros, artigos, monografias etc.) ou mesmo em debates e palestras.
O entendimento doutrinário, embora tenha caráter científico, não tem força vinculante, ou seja, não é de observância obrigató ria (por exemplo: o juiz, mesmo diante
de um entendimento doutrinário pacificado, não é obrigado a segui-lo em suas decisões). Apesar disso, inegável a sua importância para o Direito Penal, pois esta é
responsável pela consolidação de seus fundamentos.

Interpretação judicial ou jurisprudencial: Consiste na interpretação da lei penal feita pelos magistrados (membros do Poder Judiciário) nos julgamentos das
causas por eles apreciadas. Quer dizer, somente é judicial a interpretação feita por órgão judiciário (juiz ou tribunal) e no exercício da atividade julgadora. A opinião
sobre determinada lei, por exemplo, emitida por um juiz em um livro por ele escrito não é uma interpretação jurisprudencial, mas sim doutrinária.
A reiteração de decisões judiciais sobre determinado assunto forma o que chamamos de jurisprudência
Em regra, a interpretação jurisprudencial não tem força vinculante, ou seja, não obriga outros intérpretes a seguir o mesmo e ntendimento. Fogem a esta regra duas
situações, segundo pontuado pela doutrina:
a) as Súmulas Vinculantes aprovadas pelo Supremo Tribunal Federal, conforme prevê o art. 103-A da CF, sendo que os entendimentos nelas veiculados devem
ser obrigatoriamente seguidos por todos os órgãos do Poder Judiciário e também pela Administração Pública, de qualquer esfera ;
b) a interpretação contida nas decisões judiciais transitadas em julgado é de observância obrigatória para o caso concreto decidido.

c) são também vinculantes as decisões proferidas pelo STF nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratória s de constitucionalidade (art. 102, §
2º, da CF. De acordo com o art. 10, § 3º, da Lei nº 9.882/1999, igualmente são vinculantes as decisões do STF nos julgamentos das arguições de descumprimento
de preceito fundamental (ADPFs).

4.2.2 Interpretação quanto aos meios ou métodos utilizados


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Interpretação gramatical, literal, sintática ou filológica
Ocorre quando o intérprete busca o significado gramatical das palavras empregadas no texto legal para descobrir os exatos termos da norma nele veiculada.
Funciona como ponto de partida na tarefa de interpretação, pois antes de utilizar outros métodos deve o exegeta identificar o significado das palavras contidas na
lei. Quando, por exemplo, se depara com os termos do art. 121,caput, do CP, no qual está descrito o comportamento proscrito de “matar alguém”, deve verificar o
significado literal de matar(eliminar a vida) e de alguém (ser humano), chegando à conclusão de que do dispositivo em questão emana uma norma proibindo
eliminar a vida de outro ser humano.

Interpretação teleológica
Através desse meio busca-se identificar a finalidade da lei interpretada no intuito de dar efetividade à vontade abstrata contida na norma por ela veiculada. O
método teleológico é consagrado no art. 5º da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro (LIDB), in verbis: “Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins
sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum”.
Investiga-se a vontade atual da lei, e não a vontade do momento de seu surgimento; não se trata, pois, de uma vontade do passado, mas de uma vontade que se
atualiza sempre enquanto a lei não deixa de vigorar. A lei, uma vez promulgada, destaca-se do legislador e passa a ter existência própria e consistência autônoma,
distinta do órgão que lhe deu origem. Nesse sentido é que se costuma afirmar que a lei é mais sábia que o legislador.

Interpretação sistêmica ou sistemática


Na interpretação sistemática a lei é considerada no contexto do ordenamento jurídico como um todo e não isoladamente.
Sob o aspecto sistemático deve-se também considerar as formulações doutrinárias que organizam o sistema jurídico-penal, levando em conta, por exemplo, se o
texto legal incriminador diz respeito a um crime de dano, de perigo, permanente, de mão própria etc; vinculando a partir daí determinado texto legal a regras gerais
aplicáveis à sua categoria jurídica. Quer dizer, a sistematização a ser considerada pelo intérprete não é somente aquela feita pelo legislador, mas também a
formulada pelos juristas na construção da Ciência Penal.

Interpretação histórica
Através dessa interpretação da lei analisa-se o contexto histórico de sua criação, averiguando-se sua tramitação, os debates que antecederam sua aprovação etc.
Em verdade, na investigação de subsídios históricos a vontade do legislador também é sopesada, porém não prepondera diante da descoberta da finalidade da lei.
Isto porque, conforme já se explicou, a norma, quando ingressa no ordenamento jurídico, se desvincula de seu criador, ganhand o vontade própria, porém para
descobrir essa finalidade autônoma necessário se faz avaliar diversos elementos, e dentre eles está a vontade do legislador ao criá-la.

4.2.3 Interpretação quanto aos resultados


Essa classificação leva em consideração os resultados obtidos após executar a tarefa de descobrir o sentido e o alcance da norma contida na lei. Esses resultados
podem se adequar a uma simples declaração do sentido do texto legal, se restringir ou se ampliar, conforme se verá em seguimento na análise de cada espécie de
interpretação dessa categoria.

Interpretação declaratória ou declarativa


Ao utilizar-se dessa espécie de interpretação o exegeta (intérprete) apenas declara a vontade da lei.
Não restringe nem amplia o resultado da exegese, mantendo a simetria deste com os exatos termos da norma veiculada. Ex.: determina o art. 141, III, do nosso
Código, que nos crimes contra a honra (calúnia, difamação e injúria) as penas são aumentadas de um terço se o fato é cometido “na presença de várias pessoas”.
Qual é o mínimo exigido: duas ou três? Deve entender-se que o mínimo é superior a duas, porque sempre que a lei se contenta com duas pessoas di-lo
expressamente (arts. 150, § 1º; 226, I, etc.). Assim, não há ampliação ou restrição da norma, uma vez que o texto se refere a “várias pessoas”.
Observe-se que a interpretação acima se utilizou dos métodos literal, sistemático e teleológico, chegando a um resultado declarativo. Prestigiou -se o sentido literal
das palavras, comparou-se a norma com outras existentes e, no final de tudo, declarou-se a exata vontade da lei, sem restringi-la ou ampliá-la.
Profª Luciana de Rezende
Interpretação extensiva
Nesta espécie o intérprete amplia o alcance da lei, chegando a um resultado que vai além do que disse o texto legal, pressupo ndo ter este dito menos do que
efetivamente pretendia (lex minus dixit quam voluit). Cita-se como exemplo de interpretação extensiva aquela feita diante do art. 235 do CP, através do qual se
reprime o crime intitulado como bigamia. Assim se expressa referido texto legal: “Contrair alguém, sendo casado, novo casamento”. Então, sendo a pessoa casada
civilmente, se casar mais uma vez (também civilmente), comete o crime de bigamia. Até aqui se tem uma interpretação declarativa. Casando a terceira vez ou
outra(s) mais, apesar da lei se voltar à punição da bigamia (casar duas vezes), também se aplica ao caso de poligamia, agora por uma interpretação extensiva.
Outro bom exemplo de interpretação extensiva é no tocante ao art. 176 do CP, cujo preceito primário está assim descrito: “Tomar refeição em restaurante, alojar-se
em hotel ou utilizar-se de meio de transporte sem dispor de recursos para efetuar o pagamento”. No caso, amplia-se o alcance da palavra hotel para também incluir
pousada, motel, pensão, hospedaria e similares. Quanto à palavra restaurante, também se deve entendê-la extensivamente, para incluir bar, cantina, boates,
dentre outros.
A posição majoritária da doutrina é que a interpretação em comento tanto se aplica para beneficiar o agente quanto para preju dicá-lo, pois se trata de mera
atividade interpretativa e não de integração, ou seja, não se supre lacuna com fonte diversa da lei interpretada, apenas dando-se à mesma o alcance necessário
(no caso, extensivo).
Interpretação restritiva
Resulta da interpretação restritiva um alcance reduzido da norma, concluindo-se que a lei disse mais do que pretendia (lex plus dixit quam voluit) e por essa razão
o intérprete restringe seu campo de incidência. Ex.: diz o art. 28, I e II,que não excluem a imputabilidade penal a emoção, a paixão ou a embriaguez voluntária ou
culposa. O dispositivo deve ser interpretado restritivamente, no sentido de serem considerados esses estados quando não patológicos, pois, de outra forma,
haveria contradição com o art. 26, caput. Se o estado for patológico, aplicar-se-á o art. 26 e não o art. 28.
No caso exemplificado, o art. 28 do CP diz literalmente que “Não excluem a imputabilidade penal: I – a emoção ou a paixão; II – a embriaguez, voluntária ou
culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos”. Tomando como exemplo específico o caso da embriaguez, a leitura do dispositivo induz à conclusão da
impossibilidade de considerar inimputável penalmente (portanto, isento de pena) o sujeito que se embriagou de forma voluntária (quis se embriagar) ou culposa
(desconsiderou o dever de cuidado e acabou se embriagando), e depois incorreu em conduta descrita como crime.

Ocorre, todavia, que o art. 26 do CP prevê o seguinte: “É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento m ental incompleto ou retardado,
era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento”. A partir
daí, considerando-se a possibilidade da embriaguez patológica (caso dos alcoólatras), verifica-se que o art. 28, II, do CP, disse mais do que pretendia, pois a
embriaguez voluntária ou culposa, se patológica, admite o reconhecimento da inimputabilidade do agente, ficando este isento de pena, nos termos do art. 26 do
CP. Assim, a interpretação do art. 28, II, do CP, deve ser restritiva.
4.2.4 Interpretação progressiva, adaptativa ou evolutiva
Menciona a doutrina citada espécie interpretativa, aduzindo ser “aquela que, ao longo do tempo, vai adaptando-se às mudanças político-sociais e às necessidades
do momento”. Sabemos que a lei é criada em um determinado contexto social, econômico, tecnológico etc. Desse modo, as expressões nela contidas refletem
esse contexto dinâmico, havendo necessidade do intérprete, em momento posterior, já em contexto diverso, adaptar o sentido do conteúdo legislativo à nova
realidade, porém sem alterar a vontade da lei.
Por exemplo: diz o art. 11 do CP que não são computáveis na pena as frações de “cruzeiro”. Em razão da mudança do padrão mone tário brasileiro, hoje devemos
interpretar (progressivamente) essa locução como “frações de um real” (que são os centavos).
Note-se, no exemplo, que a interpretação em nada alterou a vontade da lei, apenas fez um ajuste necessário diante da nova realidad e monetária.

5. Analogia
Profª Luciana de Rezende
O ordenamento jurídico é o conjunto de normas que visam a disciplinar a conduta dos indivíduos na sociedade. Dada a infinidade de condutas que podem ocorrer,
algumas ficam sem previsão normativa, levando ao aparecimento de lacunas. Ocorre que, muitas vezes, duas ou mais condutas são essencialmente semelhantes,
mas a norma jurídica incide apenas sobre uma, ou algumas, criando uma situação de desigualdade. Para resolver essa situação, recorre-se à analogia, mediante
a qual se estende a um caso não previsto aquilo que o legislador previu para outro caso semelhante, em igualdade de razões.
Na lacuna da lei, aplica-se ao fato não regulado expressamente pela norma jurídica um dispositivo que disciplina hipótese semelhante.
Diante do princípio da reserva legal, é inadmissível para criar ilícitos penais ou estabelecer sanções criminais;
Somente podem ser supridas as lacunas legais involuntárias;

Forma de auto-integração da lei.


A analogia classifica-se, de acordo com seus efeitos, em bonam partem e em malam partem. A primeira melhora a situação do réu ou do condenado e é
amplamente admitida no Direito Penal. Por exemplo, o perdão judicial é previsto apenas para o homicídio culposo descrito no Código Penal (art. 121, § 5°), mas
também pode ser utilizado para o homicídio culposo descrito no Código de Trânsito Brasileiro (Lei 9.503/97, art. 302).
A última espécie de analogia não é admissível no Direito Penal, pois crimes e penas somente podem ser determinados pela lei, sendo vedada a utilização de
qualquer outra fonte, inclusive da analogia. Por exemplo, o art. 198 do CP descreve a conduta de “constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a
celebrar contrato de trabalho”. Nesse caso, não seria possível utilizar a analogia e determinar a prisão daquele que constran geu alguém a não celebrar contrato de
trabalho.

6 Interpretação analógica

Já dissemos que analogia não é uma espécie de interpretação da lei, mas sim de integração do ordenamento jurídico.
Analogia, contudo, não pode ser confundida com interpretação analógica, pois esta é uma espécie de “interpretação”, conforme a sua própria denominação
demonstra.
Através a interpretação analógica não é suprida lacuna legal. Apenas se descobre, por meio dela, o real alcance da norma cont ida na lei. Assim, ela é permitida no
Direito Penal, seja para beneficiar ou para prejudicar o agente.
Colhe-se na doutrina o seguinte conceito (Masson, 2010, v. 1, p. 97): “Interpretação analógica ou ‘intra legem’ é a que se verifica quando a lei contém em seu bojo
uma fórmula casuística seguida de uma fórmula genérica. É necessária para possibilitar a aplicação da lei aos inúmeros e imprevisíveis casos que as situações
práticas podem apresentar”.
Então, essa interpretação é permitida pelo próprio legislador, que na criação do texto legal deixa espaço, através de uma fór mula genérica, para o intérprete incluir
outras situações similares às especificamente referidas. O Código Penal está repleto de dispositivos nos quais se identifica essa técnica legislativa.
A título de exemplo, vejamos o texto do art. 121, § 2º, III, do Código Penal:
Homicídio qualificado
§ 2º. Se o homicídio é cometido:
[...]
III – com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; [...].

No caso ilustrado, temos a descrição de meios de execução do crime de homicídio, especificamente relacionados (sequência casuística), que funcionam como
qualificadoras, quais sejam: com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia e tortura. Prevendo o legislador, contudo, que p oderão ser utilizados outros meios
similares, deixou em aberto para o intérprete a possibilidade de também considerá-los como elementos para qualificação do homicídio. Isto está claro na seguinte
formulação genérica: “outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum”.
Então, se o agente mata alguém por meio de esquartejamento, apesar deste não estar especificamente referido no dispositivo legal, através da interpretação
analógica pode-se dizer que ele está incluído no “outro meio cruel” mencionado, pois é similar à asfixia, expressamente citada.
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Não poderia, por exemplo, o dispositivo adotar unicamente o seguinte texto: “a prática de homicídio por qualquer meio insidio so ou cruel, ou de que possa resultar
perigo comum”. Se assim fizesse, transgrediria o princípio da legalidade (exigência da taxatividade). Agora, como antes da expressão genérica fez o legislador
descrições específicas (com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia e tortura), permitiu ao intérprete delimitar o alcance da sequência genérica à similitude
desses “outros meios” com aqueles especificamente referidos.
E essa delimitação se dá através da interpretação analógica, basicamente através o seguinte raciocínio:
1º) verifica-se se a circunstância enquadra-se na fórmula genérica (no caso do exemplo, “outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum”); e
2º) observa-se se a circunstância tem similaridade com outra (as) referida especificamente no dispositivo (no caso do exemplo, encontra -se similaridade do
esquartejamento com o emprego de asfixia e tortura). Daí a denominação de analógica (similaridade) à interpretação em referência.

ANALOGIA INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA


Na analogia não há norma reguladora Existe uma norma regulando a hipótese, de modo que Após uma seqüência casuística, segue-se uma formulação
para a hipótese. não se aplica a norma do caso análogo; contudo tal genérica, que deve ser interpretada de acordo com os casos
norma não menciona expressamente essa eficácia, anteriormente elencados [...]. Na interpretação analógica,
devendo o intérprete ampliar seu significado além do existe uma norma regulando a hipótese (o que não ocorre na
que estiver expresso. analogia) expressamente (não é o caso da interpretação
extensiva), mas de forma genérica, o que torna necessário o
recurso à via interpretativa.
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PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS E LIMITADORES DO PODER PUNITIVO DO ESTATAL

1 – PRINCÍPIO DA INTERVENÇAO MÍNIMA.


 O Direito Penal só deve preocupar-se com a proteção dos bens mais importantes e necessários à vida em sociedade;
 O princípio da intervenção mínima, ou ultima ratio, é o responsável não só pela indicação dos bens de maior relevo que merece a especial atenção
do Direito Penal, mas se presta, também, a fazer com que ocorra a chamada descriminalização;
 Com base neste princípio que o legislador seleciona os bens jurídicos a serem tutelados pelo Direito Penal;
 Se outras formas (extra penais) de sanção ou meios de controle social forem suficientes para tutelar bens jurídicos, a crimin alização se tornara
inadequada;
 Antes de se recorrer ao Direito Penal deve-se esgotar todos os meios extra penais de controle social;
 Legisladores contemporâneos e a inflação legislativa;
 A Lei nº. 11.106/05 – descriminalizou o adultério. Se o cônjuge traído tiver interesse, poderá ingressar no juízo civil com uma ação de indenização,
para ver reparado o dano moral.

2 – PRINCÍPIO DA LESIVIDADE OU OFENSIVIDADE.


 O princípio da lesividade indicará quais são as condutas que poderão ser incriminadas;
 As funções do princípio da lesividade segundo Nilo Batista:
a) Proibir a incriminação de uma atitude interna;
b) Proibir a incriminação de uma conduta que não exceda o âmbito do próprio autor;
c) Proibir a incriminação de simples estados ou condições existenciais;
d) Proibir a incriminação de condutas desviadas que não afete qualquer bem jurídico.
 O artigo 16 da Lei 6.368/76 e o artigo 28 da Lei 11.343/06 – atinge a sociedade ou ao indivíduo?

3 – PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL.


 “Apesar de uma conduta se subsumir ao modelo legal não será considerado típico se for socialmente adequada ou reconhecida, isto é, se estiver de acordo
com a ordem social da vida historicamente condicionada”. Luiz Regis Prado.
 1ª função: restringir o âmbito de abrangência do tipo penal, limitando a sua interpretação, e dele excluindo as condutas consideradas socialmente
adequadas e aceitas pela sociedade.
 2ª função: dirigida ao legislador em duas vertentes:
1. Orienta o legislador quando da seleção das condutas que deseja proibir ou impor, com finalidade de proteger os bens considerados mais
importantes;
2. Legislador repense os tipos penais e retire do ordenamento jurídico a proteção sobre aqueles bens cujas condutas já se adapta ram perfeitamente à
evolução da sociedade;
 O princípio da adequação social não tem o condão de revogar tipos penal incriminadores (interpretação do juiz);
 Os tipos penais só podem ser revogados por lei (princípio da legalidade e reserva legal), artigo 2º, caput, da Lei de Introdução ao Código Civil.
 A questão do jogo do bicho.
4 – PRINCÍPIO DA FRAGAMENTARIEDADE.
 Corolário dos princípios da intervenção mínima, da lesividade e da adequação social;
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 O caráter fragmentário do Direito Penal significa, em síntese, que uma vez escolhidos aqueles bens fundamentais, comprovada a lesividade e a
inadequação das condutas que os ofendem, esses bens passarão a fazer parte de uma pequena parcela que e protegida pelo Direito Penal, originando -se, assim
sua natureza fragmentária;

 Não e tudo que o Direito Penal vai tutelar, mas somente uma parte (fragmento) do que é mais importante a sociedade;
 As ações meramente imorais não são tuteladas, tais como a mentira, a conduta homossexual, a prostituição do próprio corpo etc.

5– PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.
 O exemplo do indivíduo que retira rapidamente o carro da garagem e lesiona levemente o transeunte. Artigo 303 da Lei 9503/97 (CBT).
 CRIME = FATO TÍPICO + ANTIJURÍDICO + CUPÁVEL.
 FATO TÍPICO
1. CONDUTA (DOLOSA OU CULPOSA – COMISSIVA OU OMISSIVA);
2. RESULTADO;
3. NEXO DE CAUSALIDADE (entre a conduta e o resultado);
4. TIPICIDADE (formal e conglobaste).
 A tipicidade formal é adequação perfeita da conduta do agente ao modelo abstrato (tipo) previsto na lei penal;
 Tipicidade conglobante. 02 aspectos:
1. Se a conduta do agente é antinormativa;
2. Se o fato é materialmente típico. AQUI RESIDE O ESTUDO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.
 Rejeição ao princípio da insignificância.
 “Segundo o princípio da insignificância, que se revela por inteiro pela sua própria denominação, o direito penal, por sua natureza fragmentária, só vai aonde
seja necessário para a proteção do bem jurídico. Não deve ocupar-se de bagatelas”. Assis Toledo.

6 – PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA.


 Artigo 5º, inciso XLVI, Constituição Federal:
Artigo 5º (...);
XLVI – a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes:
a) Privação ou restrição da liberdade;
b) Perda de bens;
c) Multa;
d) Prestação social alternativa;
e) Suspensão ou interdição de direitos.
 Individualização da pena na fase da aplicação da reprimenda, segundo o artigo 59 do Código Penal Brasileiro.
 Individualização da pena na fase da execução penal, artigo 5º da Lei 7.210/84, ou seja, a execução penal não pode ser igual para todos os presos,
vejamos:
Art. 5º Os condenados serão classificados, segundo os seus antecedentes e personalidade, para orientar a individualização da execução penal.
 Individualização da pena e a Lei nº. 8.072/90 (Lei de crimes hediondos).
Imposição de cumprimento inicial da pena em regime fechado;
Lei 11.464/07:
Art. 1o O art. 2o da Lei no 8.072, de 25 de julho de 1990, passa a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 2o ......................................
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II - fiança.
§ 1o A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em regime fechado. (Grifei).

7 – PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE OU DA RAZOABILIDADE OU DA PROIBIÇÃO DO EXCESSO.


Toda intervenção penal (na medida em que é uma restrição da liberdade) só se justifica se:
 Adequada ao fim a que se propõe;
 Necessária (a intervenção penal é a última das medidas possíveis; logo, deve ter a “menor ingerência possível”);
 E desde que haja proporcionalidade e equilíbrio na medida (ou na pena).

8 – PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE PESSOAL OU INTRANSCENDÊNCIA DA PENA.


Artigo 5º, inciso XLV, da Constituição Federal:
Artigo 5º (...);
XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens serem, nos termos da
lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido; (Grifei).
 A multa tem caráter penal;
 A multa poderá ser executada pelo Fisco;
 O Fisco lança todo ano o quantum mínimo que deverá receber dos contribuintes;
 Em caso de morte do agente, extingue a punibilidade conforme o artigo 107, I do CPB;
 “Condenados pobres, mesmo não tendo condições de saldar suas dívidas para com o Estado, viam suas penas de multa convertidas em penas privativas
de liberdade, ainda que tais decisões fossem de encontro às disposições contidas tanto na lei de Execução Penal quanto no Cód igo Penal. (...). Visível
desigualdade no tratamento entre condenados ricos e pobres”.
 Crítica de Ferrajoli:
“A pena pecuniária é uma aberrante sob vários pontos de vista. Sobretudo porque é uma pena impessoal, que qualquer um pode saldar”.

9 – PRINCÍPIO DA LIMITAÇÃO DAS PENAS OU DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA.


Artigo 5º, inciso LVII, da Constituição Federal:
Artigo 5º (...);
XLVII - não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis;
 Nenhuma pena pode ofender a dignidade humana, que é o valor síntese de todo Estado Constitucional e Democrático de Direito.
 Princípio da humanidade: nenhuma pena pode ser cruel, desumana ou degradante.

10 – PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE.
Só pode ser punido penalmente, de outro lado, o autor do fato punível que podia comportar-se de forma distinta, conforme o Direito (e não se comportou); o poder
agir de modo diverso é a essência do princípio da culpabilidade.
A culpabilidade consiste em juízo de reprovabilidade que se faz sobre a conduta típica e ilícita praticada pelo agente.
Profª Luciana de Rezende
 Culpabilidade como elemento integrante do conceito analítico de crime;
 Culpabilidade como princípio medidor da pena;
 Culpabilidade como princípio impedidor da responsabilidade penal objetiva, ou seja, o da responsabilidade penal sem culpa.

11 – PRINCÍPIO DA LEGALIDADE.
As quatro dimensões do princípio da legalidade nas ciências criminais são;
 Criminal; “não há crime sem lei anterior que do defina” (CPB, art. 1º) – “nullum crimen sine lege”;
 Penal: “não há pena sem prévia cominação legal” (CPB, art. 1º) “nulla poena sine lege”;
 Jurisdicional ou processual: não há processo sem lei, leia-se, ninguém pode ser privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal (nulla
coatio sine lege – CF, art. 5º, inciso LIV);
 Execucional: “A jurisdição penal dos juízes ou tribunais da justiça ordinária, em todo o território nacional, será exercida, no processo de execução, na
conformidade desta Lei e do Código de Processo Penal” (LEP, art. 2º) – “nulla executio sine lege”.

Do princípio da legalidade “criminal” (CF, art. 5º, inciso XXXIX: “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem p révia cominação legal”; CPB, artigo 1º:
“não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal”). A formulação clássica do princípio da legalidade (“nulla poena sine lege”,
“nula poena sine crimine”, “nulla crimen sine poena legali”) deve-se a Feuerbach (que foi um dos maiores expoentes da Escola Clássica, que, por sua vez, foi a
concretizadora do ideal iluminista).

Dimensões de garantia do princípio da legalidade criminal:


1ª) lex scripta (lei escrita): nosso Direito pertence à (família da) civil law, não à common law, isto é, entre nós, o que vale é o Direito e scrito, não os costumes ou
precedentes jurisprudenciais. Só vale a lei publicada no Diário Oficial.
2ª) lex populi (lei popular, isto é, lei aprovada pelo parlamento, que exerce o poder legislativo em nome do povo – CF, art. 1º, parágrafo único). Só pode definir
crime a lei formalmente discutida e aprovada pelo parlamento. Reserva Legal.
Medidas provisórias: não pode legislar sobre Direito penal. Não podem prejudicar o réu. E beneficiar? Não impedimento (STF, R E 254.818-PR, Sepúlveda
Pertence).
3ª) lex certa (lei certa): a lei penal dever ser indiscutível em seus termos, taxativa (princípios da taxatividade). Não pode descrever o crime de forma vaga, a berta
ou lacunosa.
4ª) lex clara (lei clara): lei clara é a lei inteligível, compreensível. Qualquer pessoa do povo deveria entender o texto legal.
5ª) lex determinada (lei estrita): a lei penal deve descrever fatos empiricamente comprováveis, isto é, passíveis de demonstração em juízo.
6ª) lex stricta (lei estrita): a lei penal deve ser interpretada restritivamente. Não é possível analogia contra o réu em Direito penal.
7ª) nulla lex sine iniuria: a lei penal deve utilizar sempre verbos que retratem uma ofensa ao bem jurídico.
8ª) lex praevia: lei prévia ou princípio da anterioridade significa que a lei penal deve entrar em vigor antes e só vale para fatos futuros (CPB, artigo 1º). A lei penal
não retroage, isto é, não alcança fatos passados.

12– PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE DA LEI PENAL.


 Irretroatividade da lei penal – “Desde que uma lei entra em vigor até que cesse a sua vigência rege todos os atos abrangidos pela sua destinação. ‘Entre
este dois limites – entrada em vigor e cessação de sua vigência – situa-se a sua eficácia. Não alcança, assim, os fatos ocorridos antes ou depois dos dois limites
extremos: não retroage e nem tem ultra-atividade. É o princípio tempus regit actum’.”. Bitencourt. Cezar Roberto. Manual de direito penal: parte geral, v. 1. pg.16.

 Retroatividade da lei mais benigna.


Profª Luciana de Rezende

A LEI PENAL NO ESPAÇO, NO TEMPO E EM RELAÇÃO A DETERMINADAS PESSOAS

A - LEI PENAL NO ESPAÇO: b-1-3-Combinação de leis


b-1-4-Leis temporárias ou excepcionais, o art. 3º, CP: exceção à retroativida-
a-1-Regra: Territorialidade (temperada). Art. 5º, CP. Extensão do Terri- de benéfica (Nelson Hungria) ou mera questão de tipicidade (Frederico
tório §§ 1º e 2º, art. 5º, CP. Marques)
b-1-5-Norma penal em branco e Direito intertemporal. A visão de Soler.
a-2-Extraterritorialidade: b-1-6-Medida de segurança e Direito intertemporal. A posição de Assis
a-2-1-Incondicionada art. 7º, I, CP (Princípio da Defesa) Toledo e a de Damásio de Jesus.
compensação: art. 8º, CP. Non bis In Idem
b-2-Tempo do crime:
Art. 7º, II, a (Princípio da universalidade) b-2-1-Teorias: atividade (sistema pátrio, art. 4º, CP); resultado; e ubiqüida-
Art. 7º, II, b (Princípio da nacionalidade de ou mista.
a-2-2-Condicionada ativa) b-2-2-Aplicação da teoria da atividade ao crime continuado, ao crime per-
Art. 7º, II, c (Princípio da representação) manente e ao crime habitual.
Art. 7º, §3º (Princípio da defesa)
Condições: Art. 7º,§2º, CP b-3-Conflito (aparente) de normas penais:
b-3-1-Princípio da Especialidade (art. 12, CP);
a-3-Lugar do crime (Nelson Hungria): b-3-2-Princípio da Subsidiariedade:
1º) Teoria da intenção 1º) Explícita: a norma, em seu próprio texto, subordina sua aplicação à
2º) Teoria da ação não-aplicação de outra de maior gravidade punitiva;
3º) Teoria do resultado (típico) 2º) Implícita: Quando a norma do crime subsidiário é elementar ou cir-
4º) Teoria do efeito intermédio cunstância da norma do crime primário;
5º) Teoria da ação à distância b-3-3-Princípio da Consunção:
6º) Teoria da ubiqüidade limitada * Imperfeição à perfeição (a consumação absorve os atos executórios e
7º) Teoria da ubiqüidade pura (sistema pátrio, art. 6º, CP.) preparatórios, se em sua direção);
* Auxílio à conduta direta (a autoria absorve a participação);
B - LEI PENAL NO TEMPO: * Minus a plus (crime progressivo); ou
b-1-Conflito (real) de leis penais. Sucessão no tempo: * Parte ao todo (progressão criminosa em sentido lato, antefactum impu-
b-1-1-Princípios: Tempus regit Actum e retroatividade da lei mais benéfica. nivel e posfactum impunivel).
b-1-2-Estudo do princípio da retroatividade da lei mais benéfica: b-3-4-Princípio da Alternatividade (crimes de ação múltipla).
1º) Sistemática pátria atual:CF, art. 5º, XL e CP, art. 2º e parágrafo
único C - A LEI PENAL EM RELAÇÃO A DETERMINADAS PESSOAS: .
2º) Hipóteses: lei descriminalizadora; lei desapenadora; e favor Rei. AS IMUNIDADES. PRIVILÉGIOS FUNCIONAIS.
Parlamentar material e diplomática. Chefes de Estado e de Governo. Reis.
Profª Luciana de Rezende

TEORIA DO DIREITO PENAL


Conceito formal ou analítico Pressuposto ou condição
e requisitos genéricos do de imposição da
CRIME PENA ESTADO X AGENTE

(Relação Jurídico - Punitiva)

FATO TÍPICO + ILICITUDE CULPABILIDADE PUNIBILIDADE


(normativa) (Conseqüência jurídica do crime)
Elementos: (a falta de um exclui o F.T.) Causas de Exclusão:

1º - legais: art. 23, CP *Causas de escusas


1º) CONDUTA (dolosa ou culposa) 2º - supralegal: "consentimento exclusão absolutórias
do ofendido"
2º) RESULTADO (naturalístico ou
normativo) *Causas de
extinção (art. 107, CP)
3º) NEXO DE CAUSALIDADE (apenas nos
crimes materiais)
Elementos: x Exculpantes:

4º) TIPICIDADE ( formal e material)

art. 26, CP
1º) Imputabilidade # Inimputabilidade art. 27, CP
a) Adequação Princípios excludentes: art. 28, § 1º , CP
Típica a) da adequação social
b) Elementares: b) da insignificância 2º) conciência da # Erro de Proibição (art. 21, CP)
- Objetivas Ilicitude

- Subjetivas (real ou potencial)

- Normativas Coação Moral Irresistível


3º) Exigibilidade de * Legais
Conduta conforme # (art. 22, CP) Obediência Hierárquica
o Direito
Profª Luciana de Rezende
* Supralegal – Inexibilidade de conduta diversa

FATO TÍPICO: ELEMENTOS (1)


1º) CONDUTA (1)

ATO DE VONTADE MANIFESTADO NO MUNDO EXTERIOR, POSITIVA OU NEGATIVAMENTE, DIRIGIDO A DETERMINADA FINALIDADE

Ao Direito só importa o que é Parte finalista da conduta (relações sub-


Momento externado (o pensamento ou a jetivas do agente com o evento):
ou parte mera vontade não comete crime) *Dolo ou outro elemento subjetivo do tipo
da condu- AÇÃO OU especial
ta: Crimes COMISSÃO *culpa
unissub-
sistentes OMISSÃO DE AÇÃO
e plurissu- (NORMATIVA) :
bsistentes
a) Própria ou pura:
Possibilidade, ainda que
mínima, 1º) Dever jurídico está no tipo;
de escolha, consciente: 2º) Núcleo (verbo): negativo
3º) Crimes de mera omissão:
* Há vontade: de mera conduta. Incabíveis a
-atos impusivos (emoção e paixão) a tentativa e o concurso de pes-
-atos automáticos soas.
-atos de inimputáves
na coação moral b) Imprópria ou comissiva por
-atos instintivos omissão:
1º) Dever jurídico específico e fo-
* Não há vontade: ra do tipo (art. 13, § 2º , CP);
-Atos inconscientes (em geral), sedados, 2º) Núcleo (verbo): positivo; o
hipnotizados, sonâmbulos. comportamento do agente é
-Atos reflexos que é negativo;
Caso fortuito e força maior 3º) Crime material. Comporta
-Coação física tentativa. Não comporta concur-
so de pessoas.
Profª Luciana de Rezende

FATO TÍPICO: ELEMENTOS (1)

1ª) CONDUTA ( Relações Subjetivas) (2)


a) A Vontade (Welzel): b) Relações Subjetivas: agente/evento c) Crimes qualificados pelo resultado:

Irrelevante Relevante 1ª - Série

1º - Fim proposto Dolo direto penal penal (Antecedente) (Conseqüente)

2º - Meios empregados (subsidiariedade, Dolo + Dolo - cabe tentativa


consunção e instrumentos sceleris)
Dolo + Culpa - preterdolo
3º - Consequências secundárias, ligadas CASO
aos meios e ao fim, que podem ser: FORTUITO Dolo + Fortuito - art. 16, CP.

E Previsibilidade Previsão Intenção

FORÇA (obetiva)*

-Necessárias - Dolo direto de 2º grau. MAIOR 2ª - Série


(Antecedente) (Conseqüente)
-Eventuais - Dolo Eventual sem aceitação com aceitação
do resultado: do resultado: Culpa + Dolo - Preterculpa*
-Possíveis - Culpa (previsíveis)
Culpa + Culpa -

CULPA DOLO Culpa + Fortuito - art. 16, CP


CONSCIENTE EVENTUAL

* O Dolo do conseqüente deve ser de peri-


CULPA DOLO go (apenas), porque se for de dano e esti-
INCONSCIENTE DIRETO ver presente qualquer das hipóteses do
§ 2º do art. 13, CP, o crime será outro.

* Possibilidade que tem o homem médio,


colocado no lugar do agente, de antevê o
Evento.
Profª Luciana de Rezende

FATO TÍPICO : ELEMENTOS (1) - CONDUTA (Dolo e Culpa) (3)


DOLO CULPA
a - Natureza jurídica: Tipo subjetivo de todos os crimes dolosos.
b - Teorias:
1ª - Da Vontade : Dolo = Consciência + Vontade(dirigida ao resultado) a - Natureza jurídica: Tipo subjetivo dos crimes culposos; e elemento nor-
2ª - Do Assentimento: Dolo = Consciência + Aceitação(do resultado) mativo do tipo (paradigma: homem médio, de prudência e discernimento).
3ª - Da Representação: Dolo = Consciência (do resultado)
b - Caráter Finalista: Enquanto, no dolo, o núcleo do tipo objetivo é o
verbo,
e a finalidade é dirigida a resultado ilícito; Na culpa, o núcleo do tipo
c - Sistema Pátrio : CP objetivo
é a "inobservância do cuidado objetivo necessário", e a finalidade é
*Art. 18, I, 1ª parte: Dolo Direto (teoria da vontade); desviada
*Art. 18, I, 2ª parte: Dolo Eventual (teoria do Assentimento). do resultado lícito que o direito esperava (Welzel).

d - Classificação do Dolo: c - Elementos do fato típico culposo:


1ª - Dolo de dano (lesão ao bem jurídico); e dolo de perigo (lesão), 1º - Ação ou omissão;
2º - Inobservância do cuidado necessário, manifestado através da
abstrato ou concreto. impru -
2ª - Dolo Natural (sistema Pátrio, art. 20, caput c/c o art. 21, dência, da negligência ou da imperícia (art. 18, II, CP);
caput, ambos do CP): a mera vontade de praticar os ele- 3º - Previsibilidade objetiva (possibilidade que tem o Homos Medius de
mentos objetivos do tipo; e Dolo normativo (aquele que porta antevê o resultado lesivo e juridicamente relevante);
a consciência da ilicitude): é, além da vontade de praticar 4º - Ausência de previsão (salvo na culpa consciente);
os elementos objetivos, a vontade ou a consciência, pelo 5º - Resultado involuntário (salvo na culpa imprópria, em que o agente
prevê e quer o resultado, mas labora em erro de tipo permissivo ven
menos da prática de um crime. -
3ª - Dolo Génerico e Dolo Específico: Classificação obsoleta, de cível, art. 20, § 1º, in fine e art. 23, § único, in fine, ambos do CP);
modelo causal, que preconizava que dolo genérico era todo 6º - Nexo de Causalidade;
aquele existente em crimes dolosos e residia (como espécie 7º - Tipicidade (Princípio da excepcionalidade dos crimes culposos, art.
ou elemento) na culpabilidade; exigindo, alguns tipos, para 18, § único, CP).
o aperfeiçoamento, um dolo específico, um plus, uma intenção
declarada ou implícita já no próprio tipo. O que se chamava d - Classificação da culpa :
dolo específico, com o finalismo, compreendeu-se ser um 1º - Incosciente e consciente;
elemento subjetivo do tipo especial, ou do injusto, ou uma finalidade 2º - Própria e Imprópria;
transcendente já que o dolo é um só e esta sempre no tipo. 3º - Culpa presumida; e culpa mediata ou indireta.
4ª - Dolo Geral: É o dolo inicial que contamina toda a ação. Espécie
de erro tipo acidental sobre o curso causal, cujo dolo permanece e - No sistema penal pátrio, pode haver concorrência de culpas;
intacto. nunca compensação.
Profª Luciana de Rezende

FATO TÍPICO: ELEMENTOS (1) - RESULTADO (2) E NEXO DE CAUSALIDADE (3)


2º Resultado :
a - Espécies : Naturalístico (modificação no mundo exterior * A contextualização conforme um juízo de prognose póstuma (Von Buri e
causada pela conduta) ; e normativo ou jurídico (perigo
ou lesão causada ao bem jurídico pela conduta). Paulo José da Costa Jr.) A aceleração da causalidade.

b - Em nosso sistema penal, há crimes sem resultado


naturalístico; mas não há crimes sem resultado normativo ou * As Concausas. Outras causas (que não a do agente) que interfiram no
jurídico (inteligência do art. 13, caput, 1ª parte, CP). processo causal, conjugando-se com a conduta do agente ou preponderando
sobre ela:

c - Classificação dos crimes segundo a exigência (ou não) de


resultado naturalístico para a consumação. O resultado não é im-
1º - Crimes de mera conduta: o legislador sequer prevê absolutamente putável objetivamente
resultado naturalístico; independentes Preexistentes ao agente, que res-
2º - Crimes formais (de consumação antecipada): o le- da causa Concomitantes ponderá por seus a-
gislador prevê o resultado naturalístico, mas não e- (conduta) Supervenientes tos, de acordo com
xige que ele ocorra para que o crime venha a se do agente o seu elemento sub-
consumar; jetivo.
3º - Crimes materiais (de resultado naturalístico) : o le-
gislador exige, para a consumação do crime, a o- Preexistentes O resultado é imputá-
corrência do resultado naturalístico. vel, objetivamente,
Outras Concomitentes ao agente.
3º Nexo de causalidade: Causas
a - Âmbito de incidência : somente nos crimes materiais. (que não a do "Por si só" : O resul-
b - Elo objetivo existente entre a conduta e o resultado (con- agente) Relativamente tado não é imputável
ceito). independentes da objetivamente ao a-
c - Teoria da equivalência dos antecedentes causais (conditio causa (conduta) gente, que só respon
sine quo non): do agente derá pelos atos ante-
Superveniente riores, conforme seu
* Todo dado (condição ou ocasião) existente em um pro- (art. 13, § 1º, CP) elemento subjetivo;
cesso, na direção de um determinado resultado, pode ser "Mesma linha de Des
causa deste, a não ser que, suprimido in mente, ainda Teoria da Condicionalidade dobramento físico":
assim o resultado teria ocorrido (art. 13, caput, 2ª parte, adequada O resultado é imputá-
CP, procedimento hipotético de eliminação de Juan Thyrén); (Paulo José da Costa Jr. e vel objetivamente ao
Miguel Resle Jr. agente.
Profª Luciana de Rezende

IMPUTAÇÃO OBJETIVA
*Fundamento básico: Princípios Correlatos :
* O risco deve estar representado na mente do agente;
- Relação risco permitido/risco proibido : Elementos * O risco deve ser proibido (princípio da adequação social);
Não faz parte do papel de nenhum cida- * O risco deve ser relevante (princípio da insignificância);
dão eliminar todo o risco de lesão ao bem * A elevação do risco já existente equivale à criação e a di-
de outrem, a não ser que faça parte de minuição do risco exclui a imputação (teoria do risco);
seu papel social específico exigido. * Um comportamento que de modo invariavelmente conside
1º) Criação ou incremento de rado é inofensivo, porque conforme o direito, não consti-
um risco proibido e relevan- tui participação em uma atividade não permitida(princípio
*Ressalva: te a um bem jurídico penal - da proibição do regresso);
- Se, em todas as situações, houver, por mente tutelado; * Quem é obrigado a determinado comportamento por lei
parte do agente, concorrência institucional pode esperar que os outros também o cumpram (princí-
(especial dever de agir em relação à
vítima), pio da confiança);
ou organizacional (hipótese em que o a- * Se a vítima consente em ação a próprio risco, sua ou de
gente se coloca propositadamente como terceiro, exclui-se a imputação do agente (princípio da
propulsor do resultado jurídico ou norma- ação a próprio risco);
tivo), restará presente o primeiro elemen- * Em condutas perigosas de salvamento, a voluntariedade
to da imputação objetiva; da vítima exclui a imputação do agente.

* Se o resultado jurídico (normativo) demanda de infração


*Localização : da vítima aos deveres de autoproteção; ou de infortúnio,
- Tipo objetivo ação de terceiro ou ocorrência da natureza; ou, ainda, de
condições pessoais da vítima, desconhecidas pelo agente,
*Natureza jurídica : 2º) Resultado jurídico (norma- este só responderá por seus atos, de acordo com seu e-
- Elemento normativo implícito de todo tipo tivo) causado diretamente lemento subjetivo;
legal de crime; ou pelo risco criado; e * Se o meio empregado pelo agente não é o próprio para
- Critério de atribuição, a um agente, de um
resultado jurídico (ou normativo). o resultado do tipo incriminador exclui-se a imputação;
* Se o bem jurídico já estiver sujeito, segura ou provavel-
mente, ao risco, exclui-se a imputação do agente;
*Conceito : 3º) O gênero do resultado pro- * As condutas alternativas conforme o direito e a acelera-
Atribuição a alguém da realização de uma duzido deve estar abran- ção da causalidade;

conduta criadora de um relevante risco ju- gido pelo âmbito do tipo * Não há imputação objetiva quando o alcance do tipo in-
ridicamente proibido e da produção de um incriminador. criminador não abrange o gênero de risco criado pelo su
resultado jurídico (ou normativo). (Princípio da finalidade protetiva da norma) jeito nem o resultado ou as conseqüências dele advindas.
Profª Luciana de Rezende

FATO TÍPICO : ELEMENTOS - A TIPICIDADE FORMAL e MATERIAL (4)

1 - Tipicidade : 2 - Teoria do tipo :

1.1 - Formal: a adequação típica do fato material. 2.1 - Fases :


1ª - Independência, o "tipo oco", sem elementos valorativos, isolado
1.1.1 - de subordinação imediata ou direta; da ilicitude e da culpabilidade (naquele tempo, dolosa ou culposa) (Beling);
1.1.2 - de subordinação mediata ou indireta: 2ª - O tipo como ratio cognoscendi da ilicitude (Mayer);
necessidade de uma norma de extensão da parte geral. 3ª - O tipo como ratio essendi da ilicitude, o tipo de injusto(Mezger);
No sistema pátrio: tentativa (art. 14, II, CP) e concurso de pes 4ª - A teoria dos elementos negativos do tipo, o "tipo total do injusto" -
soas, na participação e na co-autoria, toda vez que o agente, as causas de exclusão de ilicitude são tratadas como excludentes da
com o seu comportamento, não tiver integralizado o tipo legal própria tipicidade (Merkel);
de crime (art. 29, CP). 5ª - O tipo de culpabilidade, a ausência de exigibilidade de conduta
conforme o direito excluindo o próprio tipo.
1.2 - Material : perigo ou lesão causados, ao bem jurídico, pela conduta 2.2 - Classificação :
(o fato pode ser típico formalmente, mas não o ser materialmente) 1ª - Delito-tipo (tipo fundamental), as elementares; tipo de delito (tipo
derivado), elementares acrescidas de circunstâncias crimes da mes-
* Princípio da adequação social : o fato não será típico materi- ma espécie: aqueles que demandam do mesmo delito-tipo ;
almente se o atingimento do bem (objeto) material não cons- 2ª - Tipo fechado (o conceito se exaure em seu texto); tipo aberto (o
tituir perigo ou lesão ao bem (objeto) jurídico,qualitativamente. conceito deve ser buscado fora do tipo: tipos culposos; tipos das leis pe
* Princípio da insignificância (bagatela) : o fato não será típico nais em branco; tipos que contém elementos normativos; e tipos dos
materialmente se o atingimento do bem (objeto) material não crimes omissivos impróprios);
macular o bem (objeto) jurídico, quantitativamente. 3ª - Tipos normais e Tipos anormais (aqueles que contém elementos
subjetivos do tipo especiais e/ou elementos normativos).
1.3 - Tipicidade conglobante: 2.3 - Elementos do tipo :
* para ser típico, o fato deve subsumir-se ao modelo legal (ade- 1º - todo tipo contém elementos objetivos (meio e modo de realização
quação típica) e contrariar a norma (antinormatividade) do crime; tempo e lugar, e qualidade ou condição da vítima), cujo(s)
* sendo assim, há hipóteses (estrito cumprimento do dever le- núcleo(s) é (são) o(s) verbo(s);
gal, exercício regular de direito e o consentimento do ofendido, 2º - Todo tipo doloso tem como elemento subjetivo o dolo, podendo
quando pode consentir e o bem é disponível) em que não se o legislador acrescer um elemento subjetivo especial ( uma finalidade
tem sequer antinormatividade (porque a norma não pode querer
um comportamento e, ao mesmo tempo, proibi-lo); e, por transcendente) implícita ou explicitamente, no corpo do tipo;
3º - Alguns tipos contém elementos normativos de valoração jurí-
tanto, estar-se-á diante de uma atipicidade conglobante (em- dica ou extrajurídica (costumeira) que constituem adiantamentos de
bora haja adequação típica, do ponto de vista formal). juízo de ilicitude para a sede do próprio tipo.
Profª Luciana de Rezende
ERRO DE TIPO.
ESSENCIAL (art.20,CP) Para a  Elementares
Teoria normativa pura da  Circunstâncias
culpabilidade
Exclui sempre o dolo, (Welzel)
permitindo a punição por culpa,
se prevista, e o erro for vencível.
(paradigma: previsibilidade objetiva).
Para a  Elementares
Teoria Normativa  Circunstâncias
Limitada da culpabilidade  Pressupostos fáticos de uma justificante
(Sistema pátrio) (erro de tipo permissivo) (para
Francisco
a- ESPONTÂNEO Toledo, art.20,§1º,CP)

ERRO DE TIPO
 1- Erro sobre a coisa
Delito putativo 2- Erro sobre a pessoa(art.20,§3º,CP)
por erro de tipo com unidade simples Dolo+Culpa=art.70,1ªparte
ACIDENTAL 3- Erro na execução com unidade complexa Dolo+Dolo=art.70,2ªparte
Dolo+Fortuito=art.19, CP
(Aberratio ictus)(art.73,CP)
4-Resultado diverso do pretendido com unidade simples Dolo+Culpa=art.70,1ªparte
(Aberratio Crimininis)(art.74,CP) com unidade complexa Dolo+Dolo=art.70,2ªparte
Nunca Exclui o dolo Dolo+Fortuito=art.70,19,CP
5- Erro sobre o curso causal Erro sobre o nexo de causalidade
(Aberratio causae) Erro sucessivo (dolo geral)

b- PROVOCADO
(por terceiro) Terceiro Provocador: Responde pelo crime de acordo com o seu elemento subjetivo - normativo (dolo ou culpa)
(art.20,§2º,CP)

Agente Provocado INVENCÍVEL: Exclui a conduta (dolo e culpa)


VENCÍVEL: Sobra a culpa, se prevista.

Sempre Essencial: Exclui o dolo.


Profª Luciana de Rezende
ITER CRIMINIS
1 - ITER CRIMINIS : 6ª) Crimes omissivos próprios; 7ª)Crimes cuja lei só pune com determina-

Cogitação Preparação Execução Consumação (art. 14, I,


CP) do resultado; 8ª) Crimes permanentes praticados na forma omissiva.
2 - Diferenciação entre atos preparatórios e atos executórios, para definição 5 - Desistência voluntária e arrependimento eficaz (art. 15, CP) :
da tentativa : 5.1 - Natureza jurídica: causa de exclusão da adequação típica (comuni-
a - critério subjetivo : Constitui ato de execução a só manifestação da vontade ca-se no concurso de pessoas); ou causa de extinção de punibilidade,
criminosa; isenção pessoal de pena (não se comunica no concurso).

b - Critério material : constitui ato de execução a causação, ao bem jurídico 5.2 - Características:
de perigo; * a desistência deve ser obra de vontade,mas não precisa
c - Critério formal-objetivo : Constitui ato de execução de um tipo legal o i- ser espontânea;
nício da realização da conduta típica; a) Desistência * trata-se de abstenção, inação do agente, após o início
d - Critério objetivo-individual :Constitui ato de execução de um crime aquele voluntária da execução do crime;
que, de acordo com o plano do sujeito, encontra-se imediatamente * só pode ocorrer onde aconteceria a tentativa imperfeita
anterior ao início da realização da conduta típica (interpretação sistemática
do art. 14, caput e inciso II, CP). * o arrependimento deve ser voluntário e eficaz;
3 - O exaurimento : Fase posterior ao Iter Criminis (esgotamento de todo o mal b) Arrependimento * trata-se de ação, comissão do agente, depois de
pretentido pelo agente) que, sendo relevante penalmente, pode se constituir em : eficaz esgotados os atos de execução;
conseqüência, para majoração da pena-base do art. 59 (o resultado naturalístico * só pode ocorrer onde aconteceria a tentativa perfeita
nos crimes formais; causa de aumento de pena ou até um tipo legal de crime (crime falho).
autônomo). 5.3 - A natureza jurídica da punição pelos atos anteriores: consunção
4 - Crime tentado : 6 - Crime impossível (tentativa inidônea), art. 17, CP.
4.1 - Elementos : 1º) Subjetivo (vontade ou aceitação em relação a deter- 6.1 - Natureza jurídica: exclusão de tipicidade (há dolo).
minado resultado normativo); início da execução de um crime; e não- 6.2 - Hipóteses de inidoneidade e conseqüências jurídicas:
-consumação do crime por circunstâncias alheias a vontade do agente. a) - Crime impossível (inidoneidade absoluta): exclui-se a tipicidade da
4.2 - Classificação : tentativa.
1ª) Quanto ao atingimento (ou não) do bem material: incruenta ou a.1 - Quando o meio empregado não se presta ao resultado visado, se-
branca e cruenta. 2ª) Quanto ao percorrimento do ITER : imperfeita ou gundo sua finalidade específica; ou a.2 - Quando o objeto material não
perfeita (crime falho). existe, ou existe, mas está ausente.
4.3 - Punibilidade : b) - Tentativa (inidoneidade relativa).
1ª) Teoria objetiva pura : art. 14, § único, CP. 2ª) Teoria objetiva- b.1 - Quando o meio, embora eficaz, falha, por circunstância acidental;
-subjetiva ou subjetiva pura: mesma pena do crime consumado. ou b.2 - Quando dado, proposital ou acidental, do objeto material, neutraliza
4.4 - Infrações que não admitem a tentativa: 1ª) Contravenções penais a eficiência do meio; ou quando o objeto, embora presente no
(art. 4º, LCP); 2ª) Crimes culposos (salvo, para alguns, a culpa imprópria); início da conduta, ausenta-se após o início da execução.
3ª) Crimes preterdolosos; 4ª) Crimes habituais; 5ª) Crimes de atentado; 6.3 - Teoria adotada (entre nós): objetiva temperada.
Profª Luciana de Rezende
ILICITUDE (ANTIJURIDICIDADE) :
TERMINOLOGIA. CLASSIFICAÇÕES. CAUSAS DE EXCLUSÃO. EXCESSO.
1 - Segundo requisito genérico do crime. 5 - As causas de exclusão de ilicitude (ou justificantes, descriminantes,
e excludentes) :

2 - Terminologia: antijuridicidade. Injusto. Ilicitude ("a contradição da realiza 1º) Estado de necessidade (justificante)
ção do tipo de uma norma proibitiva com o ordenamento jurídico como um 5-1 - legais 2º) Legítima defesa (real)
todo", Hans Welzel). Graf Zu Donna; Mezger, e Welzel (em ilicitude penal, art. 23, CP 3º) Exercício regular de direito
com o caráter complementar, ultima ratio). 4º) Estrito cumprimento do dever legal.

3 - Classificações:
5-2 - supralegal "consentimento do ofendido"

3-1 -Objetiva (independente de dolo, culpa e culpabilidade do agente),


subjetiva (condicionada ao dolo ou culpa ou imputabilidade do agente); 6 - O excesso nas justificantes:
e o caráter misto: independente, embora imprescindível, para a existência
de justificante, a presença do elemento subjetivo próprio. - doloso (art. 23, § único, CP)
3-2 -Genérica e específica (elemento normativo do tipo)

6-1 - Intencional - doloso, mas -por erro de proibição


exculpante -por inexigibilidade de conduta
4 - Concepção unitária: formal (contrariedade entre o fato e o direito); e diversa (perturbação ou medo)

material (pelo menos perigo ou ameaça ou lesão ao bem jurídico protegido

Jeschek, em Toledo: -vencível culposo


por erro de tipo (art. 23, § único, CP)
4-1 -"... Ponto de referência para a criação de tipos legais e sua aplicação 6-2 - Não -invencível (legítima defesa
ao caso concreto, para a graduação do injusto e sua influência na do- Intencional subjetiva).
simetria da pena, para a interpretação teleológica dos tipos", e
por caso fortuito ou força maior
4-2 -"Consequência da ilicitude material seria a possibilidade de admissão
de causas supralegais de justificação, com base no princípio da pon- 7 - O reconhecimento da existência de uma justificante impede a pos-
deração de bens". tulação de indenização no cível (art. 65, CPP), salvo:
- Estado de necessidade agressivo; e
- Aberratio ictus na legítima defesa.
Profª Luciana de Rezende
ILICITUDE. (ANTIJURIDICIDADE)
CAUSAS DE EXCLUSÃO. ESTADO DE NECESSIDADE
1 - Teorias :
2 - INTERPRETAÇÃO, SEGUNDO AS TEORIAS, DO § 2º DO ART. 24, CP.
1-1 - UNITÁRIA (irrelevante a ponderação de bens e valores). CP Pátrio.
3 - ART. 24, CAPUT e § 1º, CP: OS REQUISITOS.
Salvaguardado Sacrificado

B X b 3-1-perigo atual (ou iminente);


excluem a ilicitude 3-2-existência de um conflito de bens:
B X B da conduta (estado de necessidade - reconhecidos e protegidos pelo direito
justificante) - justo X justo.
b X B
3-3-não-provocação do perigo pelo autor do fato necessitado:
1-2 - DIFERENCIADORA (ALEMÃ):princípio da ponderação de bens e valores - provocação dolosa ou culposa
- a situação do terceiro interveniente.
Salvaguardado Sacrificado

Estado de necessidade justi- 3-4-inevitabilidade da lesão do bem de outrem:


B X b ficante. - o "comodus discessus": a exigência da fuga, se possível.
- a coexistência do Estado de necessidade contra o Estado de neces-

B X B sidade.
Estado de necessidade excul-
b X B pante. 3-5-inexigência do dever legal de enfrentar o perigo
(art. 24, § 1º, CP); e
1-3 - POSIÇÃO DE FRANCISCO TOLEDO SOBRE O ART. 24, CP.
3-6-o elemento subjetivo: conhecimento do perigo e vontade de
Salvaguardado Sacrificado salvaguardar o bem.

B X b 4 - Formas:
Estado de necessidade justificante 4-1-Estado de necessidade próprio e Estado de necessidade de terceiro
B X B
(o "auxílio necessário" e a vontade do titular substituída - Damásio e
Toledo);

b X B Estado de necessidade exculpante 4-2-Estado de necessidade agressivo e estado de necessidade defensivo;


supralegal (inexigibilidade de conduta diversa). 4-3-o estado de necessidade jurídico-civil:
art. 160, II e § único e arts. 1.519 e 1.520, todos do Código Civil.
Profª Luciana de Rezende
ILICITUDE
CAUSAS DE EXCLUSÃO. LEGÍTIMA DEFESA
A - CONCEITO E A NATUREZA JURÍDICA: arts. 23, II e 25 CP. O princípio da proporcionalidade: a necessidade dos meios e a ne-
O justo contra o injusto. cessidade de defesa (faltou esta, pela desproporcionalidade dos
bens em conflito, exclui-se a própria justificante).
B - REQUISITOS:
b-1 - Agressão injusta, atual ou iminente. b-4 - Moderação na repulsa necessária:

- Agressão (ataque humano, direto ou indireto, por instrumentos, até O emprego do meio, mesmo o necessário, não pode ir além do que
animais). é preciso para evitar a lesão do bem próprio ou de terceiro.(Excesso intensivo)
- Agressão ativa e passiva, com ou sem violência. b-5 - Elemento subjetivo: conhecimento da situação de agressão e da
- A injustiça: Independência da tipicidade (dolo, culpa ou voluntariedade) necessidade da defesa e vontade de defender o bem.
e da culpabilidade do agente. É injusta a agressão a que não se
esteja obrigado a tolerar ou suportar, conforme o ordenamento jurídico C - O EXCESSO NÃO EXCLUI A LEGÍTIMA DEFESA;
- A provocação não elide a legítima defesa, salvo se pretexto para ANTES, A PRESSUPÕE.
esta ou se vier a se tornar, pelas circunstâncias, agressão.
- Atualidade (está acontecendo) ou iminência (está para acontecer).
A atualidade nos crimes permanentes. D - HIPÓTESES:
- Legítima defesa real contra legítima defesa real (impossível);
b-2 - Direito do agredido ou de terceiro atacado ou ameaçado de - Legítima defesa putativa contra legítima defesa putativa;
dano pela agressão: - Legítima defesa real contra legítima defesa putativa;
- Legítima defesa própria ou de terceiro (o "auxílio necessário" e a - Legítima defesa real contra legítima defesa subjetiva;
vontade do titular substituída a visão de Toledo). - Legítima defesa putativa contra legítima defesa real;
- Qualquer bem jurídico (protegido pelo direito) - Legítima defesa real contra Estado de necessidade (impossível);
- Legítima defesa de terceiro contra ação deste mesmo. - O pretexto de legítima defesa (a legítima defesa provocada);
- Em um só contexto fático, podem coexistir legítima defesa e estado
b-3 - Repulsa com os meios necessários: de necessidade.

- O meio escolhido: produtor de menor dano capaz de fazer cessar


a agressão (dentre os que estão ao alcance do agente). E - LEGÍTIMA DEFESA PUTATIVA. LEGÍTIMA DEFES SUBJETIVA. LEGÍTIMA
- Aberratio ictus na legítima defesa. DEFESA SUCESSIVA. Só a última exclui a ilicitude do fato.
- O excesso intensivo (Min. Moreira Alves) e o excessivo extensivo
(visão alemã: exclui a própria justificante). F - OFENDÍCULOS: Natureza jurídica, conceito e requisitos.
Profª Luciana de Rezende
ILICITUDE. CAUSAS DE EXCLUSÃO. LEGAIS: EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO

E ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL; SUPRALEGAL: O CONSENTIMENTO DO OFENDIDO.


A-) EXERCÍCIO REGULAR DE DIREITO: 3º) O elemento subjetivo:
a-1-"Uma ação juridicamente permitida não pode ser, ao mesmo tempo, Orientação de ânimo no sentido de cumprir dever imposto pela norma.
proibida pelo Direito" (Graf Zu Dohna).
b-2-HIPÓTESES CORRENTES:
a-2-REQUISITOS: 1º) CPP, arts. 6º, III; 240, § 1º e 292;
1º) Exercício Regular 2º) Prisão em flagrante efetuada por policial;
O que se contém nos limites impostos pelo fim econômico ou social do 3º) Morte do inimigo no campo de batalha;
Direito em causa, pela boa fé e pelos costumes. 4º) Execução do condenado;
2º) Direito 5º) Dever de guarda e educação dos filhos (CC, art. 231).
Conceito abrangente: todas as formas de Direito subjetivo ( Penal ou
extrapenal). C-) CAUSA DE EXCLUSÃO SUPRALEGAL: O CONSENTIMENTO DO
3º) O elemento subjetivo OFENDIDO.
Conhecimento de que o fato está sendo praticado no exercício regular c-1-Como elementar do próprio tipo(exs. Rapto consensual, art. 220,CP).
de um Direito.
c-2-Como causa de exclusão de tipicidade quando o dissentimento do
a-3-HIPÓTESES CORRENTES: ofendido é elementar do tipo (exs. Violação de domicílio, art. 150, CP; e
1º) Prisão em flagrante por particular. estupro, art. 213, CP)
2º) Direito de retenção (código civil, inúmeros exemplos)
3º) Desforço imediato (art. 502, 1ª parte, CC) c-3-Como causa (supralegal) de exclusão da ilicitude:
1º) Quando o consentimento do ofendido não é elementar do tipo;
a-4-As intervenções médicas e cirúrgicas, a violência despostiva regula- 2º) Quando o dissentimento do ofendido não é elementar do tipo;
mentar, as lesões próprias do costume: "adequação social" (Toledo); 3º) Quando o bem é disponível(exs. Patrimônio, honra, liberdade,etc);
"exercício regular de direito" (Damásio)
4º) Quando o ofendido é capaz de consentir (18 anos, Damásio; 21
B-) ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL. anos, Luiz Flávio Gomes); e
b-1-REQUISITOS: 5º) Quando o consentimento é dado antes ou durante o fato.
1º) Dever Legal:
Oriundo de lei (penal ou extrapenal) ou do Direito objetivo, em geral, co- c-4-Como ensejo de uma causa de extinção de punibilidade:
mo atos do Poder Público, desde que de caráter genérico. Quando, em sede de ação penal privada, sendo o bem disponível, por
2º) Estrito Cumprimento: quem de direito (ofendido, se capaz; ou seu responsável), o consenti-
Atos rigorosamente necessários.O tratamento do excesso: se do início mento é dado após a prática do fato (ver art. 107, CP).
ou após.Posições de Damásio de Jesus e de Francisco de Assis Toledo.
Profª Luciana de Rezende
TEORIAS DA CULPABILIDADE E TRATAMENTO DO ERRO
1ª) TEORIA PSICOLÓGICA (Von Lizst): 2ª) TEORIA PSICOLÓGICO-NORMATIVA (BELLING E FRANK):
a) Conceito: elo subjetivo entre o agente e o fato. a) pressuposto: imputabilidade.
b) Pressuposto: imputabilidade. b) elementos:
c) Espécies: dolo natural (culpabilidade dolosa) e culpa strictu sensu dolo normativo (que continha a consciência da ilicitude): culpa stritu
(culpabilidade culposa). sensu; e exigibilidade de conduta conforme o direito (Frank).
d) Tratamento do erro: (erro de fato/erro de direito) c) teorias do dolo:
d-1) erro de fato: c-1)extremada: exigia-se real e atual consciência da ilicitude (Belling).
se invencível, exclui dolo e culpa; se vencível, exclui só o dolo, fican c-2)limitada:exigia-se apenas a potencial consciência da ilicitude(Mezger).
do a culpa, se prevista. (paradigma: previsibilidade objetiva). d) tratamento do erro: (erro de fato/erro de direito)
d-2) erro de direito: unificado: como o dolo portava a consciência da ilicitude, o erro sobre
irrelevante, inclusive quanto às justificantes e eximentes. Obs.: con- o fato ou sobre o direito, inclusive, quanto a este, quando recaía sobre
fundia-se o erro de direito com a ignorância da lei (que sempre foi excludentes ou eximentes, excluía só o dolo, ficando a culpa se previs-
inescusável). Por isso, nenhum valor se conferia à consciência ou ta, quando vencível. (paradigma: previsibilidade objetiva)
não da ilicitude (Von Lizst).

3ª) TEORIA NORMATIVA PURA OU EXTREMA OU EXTREMADA(WELZEL): 4ª) TEORIA NORMATIVA LIMITADA (Jurisprudência Alemã):
a) Conceito: juízo de reprovação social ou pressuposto de pena ou condi- a) conceito: juízo de reprovação social ou pressuposto de pena ou condi-
ção de imposição da pena. ção de imposição da pena.
b) Elementos (todos normativos): b) elementos (todos normativos)
1º - Imputabilidade 1º - imputabilidade
2º - Potencial consciência da ilicitude 2º - potencial consciência da ilicitude
3º - Exigibilidade de conduta conforme o direito 3º - exigibilidade de conduta conforme o direito
TRATAMENTO DO ERRO: ERRO DE TIPO / ERRO DE PROIBIÇÃO

1º - ERRO DE TIPO: 1º - ERRO DE TIPO:


a) Sobre elementares ou circunstâncias. a) Sobre elementares ou circunstâncias ou pressupostos fáticos de uma
b) Conseqüência:se invencível, exclui dolo e culpa; se vencível exclui só de uma justificante.
o dolo, ficando a culpa, se prevista. b) Conseqüência: se invencível, exclui dolo e culpa; se vencível exclui só
c) Paradigma: previsibilidade objetiva. o dolo, ficando a culpa, se prevista.
2º - ERRO DE PROIBIÇÃO: c) Paradigma: previsibilidade objetiva.
a) Direto (não conhece a proibição ou não a conhece bem e a interpreta 2º - ERRO DE PROIBIÇÃO:
mal) e indireto (todo erro que recai sobre excludente ou eximente). a) Direto(ou não conhece a proibição ou não a conhece bem e a interpreta
b) Conseqüências: art.21, CP; mal) e indireto (sobre os limites normativos de uma excludente ou sobre
c) Paradigma: previsibilidade objetiva. a existência da justificante não reconhecida em lei).
d) conceito: elo subjetivo-normativo entre o agente e o fato. b) Conseqüências: art.21, CP. c) Paradigma:previsibilidade subjetiva.
Profª Luciana de Rezende
O JUÍZO DA CULPABILIDADE NORMATIVA

1 - O JUÍZO DA CULPABILIDADE : 2 - QUADRO GERAL (Juízo, Elementos e Exculpantes) :

a - Reprovabilidade Social:

- A culpabilidade está na cabeça do juiz, como titular do juízo de reprovação 1ª) Poderia esse agente, nas circunstâncias, entender o caráter ilícito do fa
da sociedade sobre o agente que praticou um fato típico e ilícito. to e se conduzir de acordo com esse entendimento?

SIM NÃO
art.26, CP
IMPUTABILIDADE Inimputabilidade art.27, CP
b - Culpabilidade do agente pelo fato: art.28,§ 1º,CP

- Exatamente por isto, para estabelecer esse juízo, o magistrado, diante do 2ª) Poderia esse agente, nas circunstâncias, saber que atuava contraria-
agente, pela prática de um fato típico e ilícito, fará, a si mesmo, três inda- mente ao Direito?
gações - cada uma delas referente a presença de um elemento da cul_
pabilidade - , tendo, como paradigma, a previsibilidade subjetiva ou SIM NÃO
condição específica, ou seja: uma pessoa com as condições e circunstân-
cias específicas daquele agente considerado (e não o homem médio, de POTENCIAL CONSCIÊNCIA Erro de Proibição (art. 21, CP)
prudência e discernimento, já empregado como parâmetro quando da reali- DA ILICITUDE
zação do juízo típico).

3ª) Poder-se-ia exigir desse agente, nas circunstâncias, que ele atuasse
conforme o Direito?

c - Pressuposto ou Condição de imposição da pena: SIM NÃO


Coação moral irresistível
- A resposta a cada uma das indagações formuladas dará ensejo a um tipo EXIGIBILIDADE DE CONDUTA (art.22,CP)
de juízo sobre um elemento da culpabilidade normativa. Se positivas as CONFORME O DIREITO Obediência hierárquica
respostas todas as três, cumulativamente , ter-se-á um juízo positivo (art. 22,CP)
de culpabilidade, estabelecendo que o agente é merecedor de PENA; Inexigibilidade de conduta
Se negativa, qualquer das respostas, estar-se-á diante de uma exculpante. diversa (Causa Supralegal)
Profª Luciana de Rezende
CULPABILIDADE NORMATIVA - EXCULPANTES. INIMPUTABILIDADE (I)

1 - POR DOENÇA MENTAL OU DESENVOLVIMENTO h - Periculosidade presumida: entre nós, presume-se a periculosidade
MENTAL INCOMPLETO OU RETARDADO: (segundo requisito para aplicação de medida de segurança, após a
demonstração da prática de um fato típico e ilícito) dos inimputáveis
a - Art. 26, caput, CP (art. 26, caput, CP).

b - Doenças Mentais: Endógenas (paranóia e esquizofrenia) e Exógenas i - Periculosidade real: na hipótese do § único do art. 26, CP em
(por obra de causa externa). A Oligofrenia (débil mental, imbecil e i- que há diminuição de pena (culpabilidade) , pode o juiz, na forma
diota): o desenvolvimento mental incompleto ou retardado. do art. 98, CP, extraindo, da prova, periculosidade por parte do agen
te e, por isto, necessidade de tratamento , substituir a pena
c - Requisitos: (diminuída) por medida de segurança.
* Causal: Doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou
retardado; e
* Temporal: Ao tempo do fato;
* Consequencial (normativo): incapacidade (por obra do requisito causal 2 - POR MENORIDADE:
de entender o caráter ilícito do fato; ou, mesmo entendendo
incapacidade de se conduzir de acordo com esse entendimento
(autodeterminação). a - art. 27, CP.

d - Sistema de Aferição: biopsicológico.


b - Requisito único: ter o agente, ao tempo do fato, menos de 18 anos
e - Não se presume esse tipo de inimputabilidade; é preciso que, em razão de idade.
do requisito causal, ou não haja entendimento ou não haja auto-
determinação. c - Nessa hipótese, presume-se absolutamente a inimputabilidade do
agente (sem necessidade de perquirir requisito consequêncial nor-
f - Consequência jurídica: Medida de Segurança (art. 97, CP). mativo).

g - Adoção pela reforma (CP de 1984) do sistema vicariante: ou pena d - Sistema de Aferição: biológico.
ou medida de segurança. O CP anterior adotava o sistema do duplo -
binário, que admitia a cumulação de pena com medida de segurança e - Consequência jurídica: Sujeição do agente a legislação especial
(entre nós, o Estatuto da Criança e do Adolescente).
Profª Luciana de Rezende
CULPABILIDADE NORMATIVA - EXCULPANTES. INIMPUTABILIDADE ( I I )
3 - POR EMBRIAGUEZ COMPLETA, PROVENIENTE DE
CASO FORTUITO OU FORÇA MAIOR (EMBRIAGUEZ 3-2 - A Inimputabilidade da Embriaguez Acidental:
ACIDENTAL)
a - art. 28, § 1º, CP.

3-1 - Introdução do tema: b - Requisitos:

* A Embriaguez no sistema pátrio: * Causal: Embriaguez completa (influência sobre os sentidos do


álcool ou substâncias análogas), proveniente de caso fortuito

a - Não-acidental art. 28, II, CP Respons. Penal Objetiva, na (acidental humano) ou força maior (coação física ou moral irresistível) e
redação literal. sistível); e

b - Acidental art. 28, § 1º, CP Inimputabilidade. * Temporal: ao tempo do fato; e

c - Patológica art. 26, caput, CP Inimputabilidade. * Consequêncial (normativo): incapacidade de entender o caráter
ilícito do fato; ou, mesmo entendendo, incapacidade de se con
d - Preordenada art. 61, II, "l"(agravante), CP Aplicação da duzir de acordo com esse entendimento (autodeterminação).
teoria actio liberae in causae,
na redação literal. c - Sistema de aferição: biopsicológico.

* Aplicação da teoria actio liberae in causae à embriaguez não-aci- d - Não se presume esse tipo de inimputabilidade; É preciso que,
dental (art. 28, II, CP), para tornar a disciplina consentânea com em razão do requisito causal, ou não haja entendimento, ou não
a responsabilidade penal subjetiva ( princício da culpabilidade ) haja autodeterminação.
da Constituição de 1988:
Só pode haver responsabilidade penal do agente se, no "mo- e - Consequência jurídica: absolvição.
mento livre", possuía ele, em relação ao "momento do fato (crime)",
previsibilidade (culpa inconsciente), previsão (culpa consciente ou
dolo eventual) ou intenção (dolo direto).
f - Responsabilidade diminuída ou pena (culpabilidade diminuída):

art. 28, § 2º, CP - presença dos requisitos ali elencados.


Profª Luciana de Rezende
CULPABILIDADE NORMATIVA - EXCULPANTES. ERRO DE PROIBIÇÃO.
COAÇÃO MORAL IRRESISTÍVEL,OBEDIÊNCIA HIERÁRQUICA E INEXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA

1 - ERRO DE PROIBIÇÃO (Erro sobre a ilicitude do Fato c - Responsabilidades:


Real): c-1 - Coator: Responde, na qualidade de autor mediato, pelo crime
cometido pelo coato, com a agravante do art. 62, II, CP; em
a - art. 21, CP: Ausência da potencial consciência da ilicitude. concurso formal com o crime cometido contra o coato (art.146,
CP); e
b - Direto (ou não pode conhecer a proibição; ou não conhece bem e c-2 - Coato: Isento de pena (excluída a culpabilidade).
interpreta mal); e Indireto (para a teoria normativa limitada, adotada
pelo CP, 1ª) ou erra sobre o pressuposto ou limite jurídico de uma 3 - Obediência Hierárquica:
justificante contemplada pelo ordenamento jurídico; 2ª) ou erra sobre
a suposição da existência de justificante que o ordenamento jurídico 3-1 - Ausente a exigibilidade de conduta conforme o Direito.
não contempla). 3-2 - Requisitos:
* Relação de Direito Público (superior x subordinado);
c - A ausência da consciência da ilicitude pode ser potencial ou real * Ordem não manifestamente ilegal (dúvida,por parte do subordinado,

(§ único do art. 21, CP) o que fará variar a maior ou menor culpa mas restrita margem para questionar);
bilidade, se, ao revés, ao tempo da prática do fato, o conhecimento * Estrita Obediência;
do injusto for real e atual ou apenas potencial. * Superior competente e requisitos da ordem (formais);
3-3 - Consequência Jurídica:
d - Paradigma: a previsibilidade subjetiva ou condição específica,a teor, * Superior responde pelo crime, como autor mediato;
também, do § único, do art. 21, CP. * Subordinado tem isenção de pena (exclusão de culpabilidade).

e - Consequência jurídica: se inevitável o erro, restará íntegro o fato típi 4 - Inexigibilidade de Conduta Diversa (causa supralegal):
co doloso, mas o agente será isento de pena (excluída a culpabilida
de); se evitável, a pena (culpabilidade) será diminuída. * Ausente o poder-agir-de-outro-modo, como fundamento ontológico
da culpabilidade, sem previsão legal como exculpante,tendo por paradigma
2 - Coação Moral Irresistível (art. 22, 1ª parte, CP): a previsibilidade subjetiva ou condição específica uma pessoa com as
condições e circunstâncias do agente.
a - ausente a exigibilidade de conduta conforme o Direito. * Não se pode cobrar pelo erro a quem,antes, não se deu a chance de
b - A coação no sistema pátrio: acertar.

b-1 - Física - Exclui a conduta (a vontade); * Por isto, quanto maior a possibilidade de atuar conforme o Direito,
b-2 - Moral - Se resistível, atenuante (art. 65, III, "c", CP); se maior, a culpabilidade. Quanto menor essa possibilidade, menor também
irresistível, isenta de pena (art. 22, 1ª parte, CP). deve ser a culpabilidade.
Profª Luciana de Rezende
1ª) Extensiva: Autor é aquele que concorre para o crime, material ou intelec-
tualmente. Não distingue autor de partícipe.
2ª) Restritiva: Autor é aquele que pratica elemento(s) do tipo; co-autor é aque
le que pratica pelo menos parte do tipo (divisão de tarefas); e partícipe é aque
le que concorre para o crime,de qualquer modo,sem praticar elemento do tipo.
3ª) Do Domínio do fato:
1-Monossubjetivos Intelectual: Promove ou/e organiza a ação (mandante).
(podem ser cometidos Material ou Direto: Pratica elemento do tipo.
por uma só pessoa) 1.1.1 -TEORIAS Mediato: o que executa o crime através:
- de um inculpável; ou
Quanto 1.1-AUTORIA a-autor - de alguém que sequer pratica tipo; ou
ao nº de - da reação legítima do autor imediato.
agentes Co-autor -propriamente dito:Reparte as tarefas em sede de tipo;
necessários (autoria -funcional: Embora não pratique elemento do tipo, seu
à prática de coletiva) comportamento resta imprescindível para a consecu-
um crime, ção do evento.
conforme b-partícipe Seu comportamento é prescindível para a consecução do evento
o legislador, 1.1.2 -AUTORIA COLATERAL
os crimes (Não há liame subjetivo entre Certa - Sabe-se, pela prova, o crime que cada um praticou.
os agentes, embora queiram um Incerta - Não se sabe, pela prova, o crime que cada um praticou.
podem ser: mesmo resultado) Responderão, ambos, por tentativa.
1.1.3 - AUTORIA SUCESSIVA - Quando um agente ofende um bem jurídico já lesionado por outro.

2- 1.2-CO-DELINQÜÊNCIA
Plurissubjetivos: (concurso eventual de pessoas)
(de concurso 1.2-1 - Co-autoria Depende da teoria adotada quanto a autoria entre as
necessário) Natureza jurídica: Requisitos: elencadas acima
2.1-de condutas
paralelas *Teoria Monista(regra) 1-Pluralidade de Condutas
2.2-de cond.
convergentes *Há exceções pluralísticas 2-Liame subjetivo
2.3-de
cond.contrapostas á teoria monista 3-Identidade de infrações 1.2.1-Formas: Moral (induzimento ou instigação); e Material (auxílio);
para todos. 1.2.2-Natureza jurídica: Teoria da acessoriedade limitada (só há participação
4-Relevância causal das no fato do autor se este for, pelo menos, típico e ilícito);
condutas. 1.2.3-Punibilidade: Medida da culpabilidade (art. 29, caput, CP);
1.2-2 - Participação 1.2.4-Participação de Menor importância: art. 29, § 1º, CP.
1.2.5-Desvios subjetivos ou cooperação dolosamente diversa: art.29,§ 2º, CP;
1.2.6-Participação impunível:Exclusão da tipicidade da participação(art.31,CP);
1.2.7-Momento da participação: a adesão deve se dar antes ou durante o fato,
nunca depois;senão ou será outro tipo, autônomo, ou será irrelevante penal).
1.2.8-Participação da participação e Participação Sucessiva;
1.2.9-Participação por omissão(quando há dever jurídico de agir);a Conivência
Profª Luciana de Rezende
é irrelevante penal.

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