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NOTA INTRODUTÓRIA
A vida em sociedade exige um complexo de normas disciplinadoras que estabeleça as regras indispensáveis ao convívio entre os
indivíduos que a compõem. A reunião das normas jurídicas pelas quais o estado proíbe determinadas condutas, sob ameaça de sanção penal,
estabelecendo ainda os princípios gerais e os pressupostos para a aplicação das penas e das medidas de segurança, dá-se o nome de direito
penal.
Como o Estado não pode aplicar as sanções penais arbitrariamente, na legislação penal são definidos esses fatos graves, que passam
a ser ilícitos penais (crimes e contravenções), estabelecendo-se as penas e as medidas de segurança aplicáveis aos infratores dessas
normas.
O direito penal tem um caráter fragmentário, pois não encerra um sistema exaustivo de proteção aos bens jurídicos, mas apenas elege,
conforme o critério do “merecimento da pena”, determinados pontos essenciais.
Pode-se dizer que o fim do direito penal é a proteção da sociedade e, mais precisamente, a defesa dos bens jurídicos fundamentais
(vida, integridade física e mental, honra, liberdade, patrimônio, etc.).
DIREITO PENAL é o conjunto de normas jurídicas que o Estado estabelece para combater o crime, através das penas e medidas de
segurança.
Diz-se que o direito pena é uma ciência cultural e normativa. É uma ciência cultural porque indaga o dever ser, traduzindo-se em regras
de conduta que devem ser observadas por todos no respeito aos mais relevantes interesses sociais. É também uma ciência normativa, pois
seu objeto é o estudo da lei, da norma do direito positivo, como dado fundamental e indiscutível na sua observância obrigatória.
A norma penal é valorativa porque tutela os valores mais elevados da sociedade, dispondo-os em uma escala hierárquica e valorando
os fatos de acordo com a sua gravidade.
Profª Luciana de Rezende
Afirma-se que se trata, também, de um direito constitutivo porque possui um ilícito próprio, oriundo da tipicidade, uma sanção peculiar
(pena), e institutos exclusivos como o sursis.
POSIÇÃO ENCICLOPÉDICA
Destinado a viger nos limites territoriais como direito positivo de determinado país é o direito penal ramo do direito público interno.
Denomina-se direito penal objetivo o conjunto de normas que regulam a ação estatal, definindo os crimes e cominando as respectivas
sanções. Já o direito penal subjetivo é o direito que tem o Estado de atuar sobre os delinquentes na defesa da sociedade contra o crime; é o
direito de punir do Estado..
O direito penal comum se aplica a todas as pessoas e aos atos delitivos em geral.
O direito penal especial é dirigido a uma classe de indivíduos de acordo com sua qualidade especial, e a certos atos ilícitos
particularizados.
Pode-se falar em legislação penal comum em relação ao código penal, e em legislação penal especial como sendo as normas penais
que não se encontram no referido estatuto.
Direito penal substantivo (ou material) é representado pelas normas que definem as figuras penais, estabelecendo as sanções
respectivas, bem como os princípios gerais a elas relativos (Código Penal, Lei das Contravenções penais, etc.).
Direito penal adjetivo (ou formal) constitui-se de preceitos de aplicação do direito substantivo e de organização judiciária.
Profª Luciana de Rezende
INTRODUÇÃO
Como o sistema jurídico de um país é formado de elementos que se completam, sem contradições, o direito penal, como uma das
partes desse todo, tem íntima correlação com os demais ramos da ciência jurídica.
Relaciona-se o direito penal com a filosofia do direito. As investigações desta levam à fixação de princípios lógicos, à formulação de
conceitos básicos e à definição de categorias fundamentais e indispensáveis à elaboração da lei penal.
Com a teoria geral do direito, em que são elaborados conceitos e institutos jurídicos válidos para todos os ramos do direito, relaciona-se
o direito penal.
Estudando o ordenamento jurídico nas suas causas e funções sociais, a sociologia jurídica tem por foco o fenômeno jurídico como fato
social, resultante de processos sociais.
O direito penal relaciona-se com o Direito Constitucional, em que se define o Estado e seus fins, bem como os direitos individuais,
políticos e sociais. É na carta magna que se estabelecem normas específicas para resolver um conflito entre os direitos dos indivíduos e a
sociedade.
Como é administrativa a função de punir, é evidente o relacionamento do Direito Penal com o Direito Administrativo. A lei penal é
aplicada através dos agentes de administração (juiz, promotor de justiça, delegado de polícia, etc.).
O Direito Processual Penal, já denominado de direito penal adjetivo, é um ramo jurídico autônomo, em que se prevê a forma de
realização e aplicação da lei penal, tornando efetiva a sua função de prevenção e repressão dos crimes.
Como se acentua a cooperação internacional na repressão ao crime, fala-se em Direito penal Internacional como ramo do direito e
esse tem por objetivo a luta contra a criminalidade universal.
Quanto ao Direito Civil um mesmo fato pode caracterizar um ilícito penal e obrigar a uma reparação civil.
Com relação ao Direito Comercial, tutela a lei penal institutos como o cheque, a duplicata, etc.
Profª Luciana de Rezende
Na Medicina Legal, que é a aplicação de conhecimentos médicos para a realização de leis penais ou civis, verificam-se a existência, a
extensão e a natureza dos danos à saúde e à vida, a ocorrência de atentados sexuais, etc.
A criminalística, também chamada polícia científica, é a técnica que resulta da aplicação de várias ciência e investigação criminal,
colaborando na descoberta dos crimes e na identificação de seus autores.
CRIMINOLOGIA
BIOLOGIA CRIMINAL
Pode-se dividir a criminologia em dois grandes ramos: o da biologia criminal e o da sociologia criminal.
Estuda-se na Biologia Criminal o crime como fenômeno individual, ocupando-se essa ciência das condições naturais do homem
criminoso no seu aspecto físico, fisiológico e psicológico. Incluindo os estudos da antropologia, psicologia e endocrinologia criminais.
A Antropologia Criminal, criada por César Lombroso, preocupa-se com os diferentes aspectos do homem no que concerne à sua
constituição física, aos fatores endógenos e à atuação do delinquente no ambiente físico e social.
A Psicologia Criminal trata do diagnóstico e prognóstico criminais. Ocupa-se com o estudo das condições psicológicas do homem na
formação do ato criminoso, do dolo e da culpa, da periculosidade e até do problema objetivo da aplicação da pena e da medida de segurança.
A Endocrinologia Criminal é a ciência que estuda as glândulas endócrinas e a sua influência na conduta do homem.
SOCIOLOGIA CRIMINAL
Tomando-se o crime como um fato da vida em sociedade, a sociologia criminal estuda-o como expressão de certas condições do grupo
social.
Profª Luciana de Rezende
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO PENAL externo do homem, positivo ou negativo, moralmente imputável e
politicamente danoso”.
“O Direito Penal surge com o homem e o acompanha através dos tempos,
isso porque o crime, qual sombra sinistra, nunca dele se afastou" 3.PERÍODO CIENTÍFICO ou CRIMINOLÓGICO
Magalhães Noronha - (grifo nosso) (a justiça deve conhecer o homem – a partir do século XIX)
PERÍODOS DA EVOLUÇÃO DO DIREITO PENAL: Escola Positivista (Direito penal é produto social, obra humana):
Cesar Lombroso – (antropologia criminal)
1-PERÍODO DA VINGANÇA PENAL O homem criminoso apresenta características biológicas:
2-PERÍODO HUMANITÁRIO –é insensível fisicamente (uso de tatuagens);
3-PERIODO CIENTÍFICO ou CRIMINOLÓGICO –resistente ao traumatismo;
–vaidoso;
–preguiçoso;
1.PERÍODO DA VINGANÇA PENAL
–moralmente impulsivo;
(tempos primitivos até fins do século XVIII)
–canhoto ou ambidestro;
–assimetria craniana;
1.1Vingança privada (olho por olho, dente por dente = instituto do Talião
–cabelos abundantes;
e da composição)
–face larga;
1.2Vingança divina (a repressão ao crime é a satisfação dos deuses)
–rosto pálido;
1.3Vingança pública (o crime passa a ser contra o Estado, à sociedade).
–barba escassa.
Enrico Ferri (sociologia criminal)
1.3.1 Direito Romano (separação do Direito e Religião)
O criminoso sofre influência de fatores mesológicos dividindo-se em 05
1.3.2 Direito Germânico (influência do Direito romano)
categorias:
1.3.3 Direito Canônico (Direito Penal da Igreja, apogeu do
–o nato – o louco – o habitual, - o ocasional – o passional.
cristianismo, pela humanização das penas)
Dividiu as paixões em: sociais (amor, piedade,etc) anti-sociais (ódio,
avareza, inveja, etc)
Obs.: essas fases não se sucederam uma às outras de forma distinta.
Rafael Garófalo (criminologia)
Uma fase convive com a outra por largo período, a separação é feita por
propunha estudo do delito, do delinquente e da pena, abordando fatores
idéias.
jurídicos.
2.PERÍODO HUMANITÁRIO
(o homem deve conhecer justiça) - aproximadamente entre 1750 e 1850)
1969 - surge outro código, projeto de Nelson Hungria, mas antes de entrar
BRASIL - IMPÉRIO em vigor, foi revogado em 10/10/1978.
1830 – foi sancionado o Código Criminal em 16 de dezembro.
Características: 1984 – Reforma do Código Penal (Dec. Lei 2848/40)
- Índole liberal; Foi alterada a parte geral do Código pela Lei 7.209 de 11 de julho de 1984
- esboço de individualização da pena; com novos e modernos princípios básicos do Direito Penal, além da adoção
–previa circunstâncias que atenuam a pena ou agravam; do sistema vicariante de sanção penal (pena ou medida de segurança).
–pena de morte somente para crimes cometidos por escravos. Foi promulgada juntamente a Lei 7.210 tratando especificamente a
Execução Penal.
2. Fontes Materiais
A única fonte de produção do Direito Penal é o Estado.
Art. 22, I, da CF – compete privativamente à União legislar sobre “direito penal”.
OBS: Parágrafo único do art. 22 prevê a possibilidade de lei complementar autorizar os Estados a legislar sobre questões espe cíficas das matérias relacionadas no
art. 22.
3. Fontes Formais
- Diretas (imediatas): Leis;
- Indiretas (mediatas, subsidiárias): Costumes; Princípios Gerais do Direito (LICC, art. 4º);
Costume: Regra de conduta praticada de modo geral, constante e uniforme, com a consciência de sua obrigatoriedade.
Influência na interpretação e na elaboração da lei penal;
Princípios gerais do Direito: premissas éticas extraídas da legislação, do ordenamento jurídico.
4. Leis:
Em um Estado de Direito, a lei assume papel fundamental, sendo, ao mesmo tempo, delimitadora dos direitos individuais e do poder estatal. No Direito Penal, essa
importância é ainda maior, pois o princípio da legalidade determina que os crimes e as penas devem ser previamente definidos em lei.
Em sentido lato, a lei compreende diversas espécies, enumeradas no art. 59 da CF: emendas constitucionais, leis complementares, leis delegadas, leis ordinárias,
medidas provisórias, decretos legislativos e resoluções. Porém, apenas a CF, incluídas suas emendas, e as leis ordinárias são fontes do Direito Penal.
As normas editadas pela Administração Pública (decretos, portarias, circulares, ordenes de serviço, instruções, etc.) são, geralmente, fontes secundárias do Direito
Penal, uma vez que subordinadas às leis.
4.1.1 - Leis penais incriminadoras (leis penais em sentido estrito, proibitivas ou mandamentais
Entende-se, diante dela, que quando a lei penal criminaliza um comportamento ela não diz textualmente que determinada conduta é proibida, mas sim incorpora a
técnica de descrever essa conduta e logo após cominar uma pena. Veja-se o exemplo do homicídio simples, previsto no art. 121, caput, do CP:Art. 121. Mata
alguém:
Pena – reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos.
Profª Luciana de Rezende
No caso não está dito pela lei que “é proibido matar”, porém o intérprete, diante do comportamento descrito, e com a correspondente cominação de pena, entende
perfeitamente que ali está sendo veiculada uma norma proibitiva (ou seja, entende que “é proibido matar”, pois há uma ameaça de pena para essa conduta).
Desse modo, a lei penal incriminadora apresenta um preceito primário (descrição da conduta) e um preceito secundário (cominação da pena).
No caso do exemplo dado, preceito primário: “Matar alguém”; e preceito secundário: “Pena – reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos”.
Técnica legislativa semelhante é utilizada quando se trata de crimes omissivos, com a diferença de que nestes a norma ao invés de proibir, impõe um
comportamento.
Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar,
prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar.
Profª Luciana de Rezende
Pena – reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa. (Grifos nossos)
Note-se que para a aplicação do artigo em referência é necessário definir drogas, vocábulo este de acepção ampla; ou seja, o preceito primário não está completo
(trata-se de uma lei penal em branco).
Nesse passo, o art. 1º, parágrafo único, da Lei nº 11.343/2006, assim dispõe: “Para fins desta Lei, consideram-se como drogas as substâncias ou os produtos
capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Exe cutivo da União”. E, em
decorrência dessa previsão legal, atribuiu o art. 14, I, “a”, do Decreto nº 5.912/2006, ao Ministério da Saúde a função de “publicar listas atualizadas periodicamente
das substâncias ou produtos capazes de causar dependências”. As listas mencionadas são veiculadas nos anexos da Portaria nº 344, de 12 de maio de 1998, da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA, agência reguladora vinculada ao Ministério da Saúde), que foi recepcionada pela Lei nº 11.343/2006.
No caso exemplificado, a complementação final se deu através de uma Portaria (instrumento infralegal), porém, e segundo já adiantado, essa complementação, em
outros casos, também pode ser feita através de lei; sendo por esta razão que a doutrina divide as leis penais em branco em:
a) homogêneas (leis penais em branco em sentido amplo) – quando a complementação também emana do legislador. Exemplo: art. 237 do CP, no qual está
descrito o seguinte crime: “Contrair casamento, conhecendo a existência de impedimento que lhe cause nulidade absoluta: Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1
(um) ano”. Nesse caso os impedimentos referidos são estabelecidos em outra lei (art. 1.521, incisos I a VII, do Código Civil – Lei nº 10.406/2002). Outros exemplos:
arts. 178 e 184 do CP;
b) heterogêneas (leis penais em branco em sentido estrito) – são aquelas cujo complemento do seu preceito primário não provém do legislador (complemento em
portaria, decreto etc.). Exemplo: art. 33, caput, da Lei nº 11.343/2006, cuja complementação é feita pela Portaria nº 344/1998, da ANVISA. Outros exemplos: arts.
268 e 269 do CP.
Dentre os penalistas nacionais, manifestam-se pela constitucionalidade das leis penais em branco heterogêneas: Fernando Capez (2003, v. 1, p. 33), Mirabete e
Fabbrini (2006, v. I, p. 32) e Gomes e Molina (2007, v. 2, pp. 72/73), dentre outros. Estes dois últimos asseveram o seguinte quanto a este ponto:
A definição essencial do delito (os verbos núcleos do tipo) é ato do legislador. O que a autoridade administrativa pode fazer é explicitar um dos requisitos típicos
dados pelo legislador.
Não pode ficar por conta da autoridade administrativa descrever mais ações verbais, além das definidas na lei. Exemplo: lista s das substâncias entorpecentes. O
crime (ou seja: todos os verbos núcleos do tipo) foi definido pelo legislador (na Lei 11.343/2006, arts. 28 e 33, v.g.). A autoridade administrativa apenas descreve
quais são as substâncias entorpecentes. Nisso não há nenhuma inconstitucionalidade.
De nossa parte, nos alinhamos à doutrina majoritária, pois entendemos ser inviável sustentar a impossibilidade da lei delegar às autoridades administrativas a
complementação de certos tipos penais como aqueles constantes na Lei Antidrogas (Lei nº 11.343/2006), considerando as questõe s técnicas variáveis de ordem
não jurídica que norteiam o complemento necessário.
Ademais, ressalte-se também que não se observa na jurisprudência nacional manifestações relevantes quanto à suposta inconstitucionalidade das l eis penais em
branco heterogêneas.
Interpretação autêntica ou legislativa: Quando a interpretação provém do próprio legislador, ou seja, um texto legal interpreta o outro. Nesse caso aparece a
chamada lei interpretativa ou norma interpretativa, criada especificamente para esclarecer o conteúdo e o significado de outra já existente.
Pode ser contextual, quando a interpretação é realizada contemporaneamente o texto legal a ser interpretado; e posterior, quando realizada depois da edição do
texto legal interpretado.
A título de ilustração, pondere-se que a exposição de motivos do nosso Código Penal não pode ser tida como uma interpretação autêntica, mas sim doutrinária,
pois não faz parte do texto normativo.
Para finalizar, vejamos exemplos de interpretação autêntica: a) art. 150, §§ 4º e 5º, do CP; e b) art. 327, caput, do CP.
Interpretação doutrinária ou científica: É a interpretação feita pelos estudiosos do Direito, conhecidos como juristas ou doutrinadores. Revela-se nas obras
jurídicas (livros, artigos, monografias etc.) ou mesmo em debates e palestras.
O entendimento doutrinário, embora tenha caráter científico, não tem força vinculante, ou seja, não é de observância obrigató ria (por exemplo: o juiz, mesmo diante
de um entendimento doutrinário pacificado, não é obrigado a segui-lo em suas decisões). Apesar disso, inegável a sua importância para o Direito Penal, pois esta é
responsável pela consolidação de seus fundamentos.
Interpretação judicial ou jurisprudencial: Consiste na interpretação da lei penal feita pelos magistrados (membros do Poder Judiciário) nos julgamentos das
causas por eles apreciadas. Quer dizer, somente é judicial a interpretação feita por órgão judiciário (juiz ou tribunal) e no exercício da atividade julgadora. A opinião
sobre determinada lei, por exemplo, emitida por um juiz em um livro por ele escrito não é uma interpretação jurisprudencial, mas sim doutrinária.
A reiteração de decisões judiciais sobre determinado assunto forma o que chamamos de jurisprudência
Em regra, a interpretação jurisprudencial não tem força vinculante, ou seja, não obriga outros intérpretes a seguir o mesmo e ntendimento. Fogem a esta regra duas
situações, segundo pontuado pela doutrina:
a) as Súmulas Vinculantes aprovadas pelo Supremo Tribunal Federal, conforme prevê o art. 103-A da CF, sendo que os entendimentos nelas veiculados devem
ser obrigatoriamente seguidos por todos os órgãos do Poder Judiciário e também pela Administração Pública, de qualquer esfera ;
b) a interpretação contida nas decisões judiciais transitadas em julgado é de observância obrigatória para o caso concreto decidido.
c) são também vinculantes as decisões proferidas pelo STF nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratória s de constitucionalidade (art. 102, §
2º, da CF. De acordo com o art. 10, § 3º, da Lei nº 9.882/1999, igualmente são vinculantes as decisões do STF nos julgamentos das arguições de descumprimento
de preceito fundamental (ADPFs).
Interpretação teleológica
Através desse meio busca-se identificar a finalidade da lei interpretada no intuito de dar efetividade à vontade abstrata contida na norma por ela veiculada. O
método teleológico é consagrado no art. 5º da Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro (LIDB), in verbis: “Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins
sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum”.
Investiga-se a vontade atual da lei, e não a vontade do momento de seu surgimento; não se trata, pois, de uma vontade do passado, mas de uma vontade que se
atualiza sempre enquanto a lei não deixa de vigorar. A lei, uma vez promulgada, destaca-se do legislador e passa a ter existência própria e consistência autônoma,
distinta do órgão que lhe deu origem. Nesse sentido é que se costuma afirmar que a lei é mais sábia que o legislador.
Interpretação histórica
Através dessa interpretação da lei analisa-se o contexto histórico de sua criação, averiguando-se sua tramitação, os debates que antecederam sua aprovação etc.
Em verdade, na investigação de subsídios históricos a vontade do legislador também é sopesada, porém não prepondera diante da descoberta da finalidade da lei.
Isto porque, conforme já se explicou, a norma, quando ingressa no ordenamento jurídico, se desvincula de seu criador, ganhand o vontade própria, porém para
descobrir essa finalidade autônoma necessário se faz avaliar diversos elementos, e dentre eles está a vontade do legislador ao criá-la.
Ocorre, todavia, que o art. 26 do CP prevê o seguinte: “É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento m ental incompleto ou retardado,
era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento”. A partir
daí, considerando-se a possibilidade da embriaguez patológica (caso dos alcoólatras), verifica-se que o art. 28, II, do CP, disse mais do que pretendia, pois a
embriaguez voluntária ou culposa, se patológica, admite o reconhecimento da inimputabilidade do agente, ficando este isento de pena, nos termos do art. 26 do
CP. Assim, a interpretação do art. 28, II, do CP, deve ser restritiva.
4.2.4 Interpretação progressiva, adaptativa ou evolutiva
Menciona a doutrina citada espécie interpretativa, aduzindo ser “aquela que, ao longo do tempo, vai adaptando-se às mudanças político-sociais e às necessidades
do momento”. Sabemos que a lei é criada em um determinado contexto social, econômico, tecnológico etc. Desse modo, as expressões nela contidas refletem
esse contexto dinâmico, havendo necessidade do intérprete, em momento posterior, já em contexto diverso, adaptar o sentido do conteúdo legislativo à nova
realidade, porém sem alterar a vontade da lei.
Por exemplo: diz o art. 11 do CP que não são computáveis na pena as frações de “cruzeiro”. Em razão da mudança do padrão mone tário brasileiro, hoje devemos
interpretar (progressivamente) essa locução como “frações de um real” (que são os centavos).
Note-se, no exemplo, que a interpretação em nada alterou a vontade da lei, apenas fez um ajuste necessário diante da nova realidad e monetária.
5. Analogia
Profª Luciana de Rezende
O ordenamento jurídico é o conjunto de normas que visam a disciplinar a conduta dos indivíduos na sociedade. Dada a infinidade de condutas que podem ocorrer,
algumas ficam sem previsão normativa, levando ao aparecimento de lacunas. Ocorre que, muitas vezes, duas ou mais condutas são essencialmente semelhantes,
mas a norma jurídica incide apenas sobre uma, ou algumas, criando uma situação de desigualdade. Para resolver essa situação, recorre-se à analogia, mediante
a qual se estende a um caso não previsto aquilo que o legislador previu para outro caso semelhante, em igualdade de razões.
Na lacuna da lei, aplica-se ao fato não regulado expressamente pela norma jurídica um dispositivo que disciplina hipótese semelhante.
Diante do princípio da reserva legal, é inadmissível para criar ilícitos penais ou estabelecer sanções criminais;
Somente podem ser supridas as lacunas legais involuntárias;
6 Interpretação analógica
Já dissemos que analogia não é uma espécie de interpretação da lei, mas sim de integração do ordenamento jurídico.
Analogia, contudo, não pode ser confundida com interpretação analógica, pois esta é uma espécie de “interpretação”, conforme a sua própria denominação
demonstra.
Através a interpretação analógica não é suprida lacuna legal. Apenas se descobre, por meio dela, o real alcance da norma cont ida na lei. Assim, ela é permitida no
Direito Penal, seja para beneficiar ou para prejudicar o agente.
Colhe-se na doutrina o seguinte conceito (Masson, 2010, v. 1, p. 97): “Interpretação analógica ou ‘intra legem’ é a que se verifica quando a lei contém em seu bojo
uma fórmula casuística seguida de uma fórmula genérica. É necessária para possibilitar a aplicação da lei aos inúmeros e imprevisíveis casos que as situações
práticas podem apresentar”.
Então, essa interpretação é permitida pelo próprio legislador, que na criação do texto legal deixa espaço, através de uma fór mula genérica, para o intérprete incluir
outras situações similares às especificamente referidas. O Código Penal está repleto de dispositivos nos quais se identifica essa técnica legislativa.
A título de exemplo, vejamos o texto do art. 121, § 2º, III, do Código Penal:
Homicídio qualificado
§ 2º. Se o homicídio é cometido:
[...]
III – com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; [...].
No caso ilustrado, temos a descrição de meios de execução do crime de homicídio, especificamente relacionados (sequência casuística), que funcionam como
qualificadoras, quais sejam: com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia e tortura. Prevendo o legislador, contudo, que p oderão ser utilizados outros meios
similares, deixou em aberto para o intérprete a possibilidade de também considerá-los como elementos para qualificação do homicídio. Isto está claro na seguinte
formulação genérica: “outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum”.
Então, se o agente mata alguém por meio de esquartejamento, apesar deste não estar especificamente referido no dispositivo legal, através da interpretação
analógica pode-se dizer que ele está incluído no “outro meio cruel” mencionado, pois é similar à asfixia, expressamente citada.
Profª Luciana de Rezende
Não poderia, por exemplo, o dispositivo adotar unicamente o seguinte texto: “a prática de homicídio por qualquer meio insidio so ou cruel, ou de que possa resultar
perigo comum”. Se assim fizesse, transgrediria o princípio da legalidade (exigência da taxatividade). Agora, como antes da expressão genérica fez o legislador
descrições específicas (com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia e tortura), permitiu ao intérprete delimitar o alcance da sequência genérica à similitude
desses “outros meios” com aqueles especificamente referidos.
E essa delimitação se dá através da interpretação analógica, basicamente através o seguinte raciocínio:
1º) verifica-se se a circunstância enquadra-se na fórmula genérica (no caso do exemplo, “outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum”); e
2º) observa-se se a circunstância tem similaridade com outra (as) referida especificamente no dispositivo (no caso do exemplo, encontra -se similaridade do
esquartejamento com o emprego de asfixia e tortura). Daí a denominação de analógica (similaridade) à interpretação em referência.
Não e tudo que o Direito Penal vai tutelar, mas somente uma parte (fragmento) do que é mais importante a sociedade;
As ações meramente imorais não são tuteladas, tais como a mentira, a conduta homossexual, a prostituição do próprio corpo etc.
5– PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.
O exemplo do indivíduo que retira rapidamente o carro da garagem e lesiona levemente o transeunte. Artigo 303 da Lei 9503/97 (CBT).
CRIME = FATO TÍPICO + ANTIJURÍDICO + CUPÁVEL.
FATO TÍPICO
1. CONDUTA (DOLOSA OU CULPOSA – COMISSIVA OU OMISSIVA);
2. RESULTADO;
3. NEXO DE CAUSALIDADE (entre a conduta e o resultado);
4. TIPICIDADE (formal e conglobaste).
A tipicidade formal é adequação perfeita da conduta do agente ao modelo abstrato (tipo) previsto na lei penal;
Tipicidade conglobante. 02 aspectos:
1. Se a conduta do agente é antinormativa;
2. Se o fato é materialmente típico. AQUI RESIDE O ESTUDO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.
Rejeição ao princípio da insignificância.
“Segundo o princípio da insignificância, que se revela por inteiro pela sua própria denominação, o direito penal, por sua natureza fragmentária, só vai aonde
seja necessário para a proteção do bem jurídico. Não deve ocupar-se de bagatelas”. Assis Toledo.
10 – PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE.
Só pode ser punido penalmente, de outro lado, o autor do fato punível que podia comportar-se de forma distinta, conforme o Direito (e não se comportou); o poder
agir de modo diverso é a essência do princípio da culpabilidade.
A culpabilidade consiste em juízo de reprovabilidade que se faz sobre a conduta típica e ilícita praticada pelo agente.
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Culpabilidade como elemento integrante do conceito analítico de crime;
Culpabilidade como princípio medidor da pena;
Culpabilidade como princípio impedidor da responsabilidade penal objetiva, ou seja, o da responsabilidade penal sem culpa.
11 – PRINCÍPIO DA LEGALIDADE.
As quatro dimensões do princípio da legalidade nas ciências criminais são;
Criminal; “não há crime sem lei anterior que do defina” (CPB, art. 1º) – “nullum crimen sine lege”;
Penal: “não há pena sem prévia cominação legal” (CPB, art. 1º) “nulla poena sine lege”;
Jurisdicional ou processual: não há processo sem lei, leia-se, ninguém pode ser privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal (nulla
coatio sine lege – CF, art. 5º, inciso LIV);
Execucional: “A jurisdição penal dos juízes ou tribunais da justiça ordinária, em todo o território nacional, será exercida, no processo de execução, na
conformidade desta Lei e do Código de Processo Penal” (LEP, art. 2º) – “nulla executio sine lege”.
Do princípio da legalidade “criminal” (CF, art. 5º, inciso XXXIX: “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem p révia cominação legal”; CPB, artigo 1º:
“não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal”). A formulação clássica do princípio da legalidade (“nulla poena sine lege”,
“nula poena sine crimine”, “nulla crimen sine poena legali”) deve-se a Feuerbach (que foi um dos maiores expoentes da Escola Clássica, que, por sua vez, foi a
concretizadora do ideal iluminista).
art. 26, CP
1º) Imputabilidade # Inimputabilidade art. 27, CP
a) Adequação Princípios excludentes: art. 28, § 1º , CP
Típica a) da adequação social
b) Elementares: b) da insignificância 2º) conciência da # Erro de Proibição (art. 21, CP)
- Objetivas Ilicitude
ATO DE VONTADE MANIFESTADO NO MUNDO EXTERIOR, POSITIVA OU NEGATIVAMENTE, DIRIGIDO A DETERMINADA FINALIDADE
FORÇA (obetiva)*
IMPUTAÇÃO OBJETIVA
*Fundamento básico: Princípios Correlatos :
* O risco deve estar representado na mente do agente;
- Relação risco permitido/risco proibido : Elementos * O risco deve ser proibido (princípio da adequação social);
Não faz parte do papel de nenhum cida- * O risco deve ser relevante (princípio da insignificância);
dão eliminar todo o risco de lesão ao bem * A elevação do risco já existente equivale à criação e a di-
de outrem, a não ser que faça parte de minuição do risco exclui a imputação (teoria do risco);
seu papel social específico exigido. * Um comportamento que de modo invariavelmente conside
1º) Criação ou incremento de rado é inofensivo, porque conforme o direito, não consti-
um risco proibido e relevan- tui participação em uma atividade não permitida(princípio
*Ressalva: te a um bem jurídico penal - da proibição do regresso);
- Se, em todas as situações, houver, por mente tutelado; * Quem é obrigado a determinado comportamento por lei
parte do agente, concorrência institucional pode esperar que os outros também o cumpram (princí-
(especial dever de agir em relação à
vítima), pio da confiança);
ou organizacional (hipótese em que o a- * Se a vítima consente em ação a próprio risco, sua ou de
gente se coloca propositadamente como terceiro, exclui-se a imputação do agente (princípio da
propulsor do resultado jurídico ou norma- ação a próprio risco);
tivo), restará presente o primeiro elemen- * Em condutas perigosas de salvamento, a voluntariedade
to da imputação objetiva; da vítima exclui a imputação do agente.
conduta criadora de um relevante risco ju- gido pelo âmbito do tipo * Não há imputação objetiva quando o alcance do tipo in-
ridicamente proibido e da produção de um incriminador. criminador não abrange o gênero de risco criado pelo su
resultado jurídico (ou normativo). (Princípio da finalidade protetiva da norma) jeito nem o resultado ou as conseqüências dele advindas.
Profª Luciana de Rezende
ERRO DE TIPO
1- Erro sobre a coisa
Delito putativo 2- Erro sobre a pessoa(art.20,§3º,CP)
por erro de tipo com unidade simples Dolo+Culpa=art.70,1ªparte
ACIDENTAL 3- Erro na execução com unidade complexa Dolo+Dolo=art.70,2ªparte
Dolo+Fortuito=art.19, CP
(Aberratio ictus)(art.73,CP)
4-Resultado diverso do pretendido com unidade simples Dolo+Culpa=art.70,1ªparte
(Aberratio Crimininis)(art.74,CP) com unidade complexa Dolo+Dolo=art.70,2ªparte
Nunca Exclui o dolo Dolo+Fortuito=art.70,19,CP
5- Erro sobre o curso causal Erro sobre o nexo de causalidade
(Aberratio causae) Erro sucessivo (dolo geral)
b- PROVOCADO
(por terceiro) Terceiro Provocador: Responde pelo crime de acordo com o seu elemento subjetivo - normativo (dolo ou culpa)
(art.20,§2º,CP)
b - Critério material : constitui ato de execução a causação, ao bem jurídico 5.2 - Características:
de perigo; * a desistência deve ser obra de vontade,mas não precisa
c - Critério formal-objetivo : Constitui ato de execução de um tipo legal o i- ser espontânea;
nício da realização da conduta típica; a) Desistência * trata-se de abstenção, inação do agente, após o início
d - Critério objetivo-individual :Constitui ato de execução de um crime aquele voluntária da execução do crime;
que, de acordo com o plano do sujeito, encontra-se imediatamente * só pode ocorrer onde aconteceria a tentativa imperfeita
anterior ao início da realização da conduta típica (interpretação sistemática
do art. 14, caput e inciso II, CP). * o arrependimento deve ser voluntário e eficaz;
3 - O exaurimento : Fase posterior ao Iter Criminis (esgotamento de todo o mal b) Arrependimento * trata-se de ação, comissão do agente, depois de
pretentido pelo agente) que, sendo relevante penalmente, pode se constituir em : eficaz esgotados os atos de execução;
conseqüência, para majoração da pena-base do art. 59 (o resultado naturalístico * só pode ocorrer onde aconteceria a tentativa perfeita
nos crimes formais; causa de aumento de pena ou até um tipo legal de crime (crime falho).
autônomo). 5.3 - A natureza jurídica da punição pelos atos anteriores: consunção
4 - Crime tentado : 6 - Crime impossível (tentativa inidônea), art. 17, CP.
4.1 - Elementos : 1º) Subjetivo (vontade ou aceitação em relação a deter- 6.1 - Natureza jurídica: exclusão de tipicidade (há dolo).
minado resultado normativo); início da execução de um crime; e não- 6.2 - Hipóteses de inidoneidade e conseqüências jurídicas:
-consumação do crime por circunstâncias alheias a vontade do agente. a) - Crime impossível (inidoneidade absoluta): exclui-se a tipicidade da
4.2 - Classificação : tentativa.
1ª) Quanto ao atingimento (ou não) do bem material: incruenta ou a.1 - Quando o meio empregado não se presta ao resultado visado, se-
branca e cruenta. 2ª) Quanto ao percorrimento do ITER : imperfeita ou gundo sua finalidade específica; ou a.2 - Quando o objeto material não
perfeita (crime falho). existe, ou existe, mas está ausente.
4.3 - Punibilidade : b) - Tentativa (inidoneidade relativa).
1ª) Teoria objetiva pura : art. 14, § único, CP. 2ª) Teoria objetiva- b.1 - Quando o meio, embora eficaz, falha, por circunstância acidental;
-subjetiva ou subjetiva pura: mesma pena do crime consumado. ou b.2 - Quando dado, proposital ou acidental, do objeto material, neutraliza
4.4 - Infrações que não admitem a tentativa: 1ª) Contravenções penais a eficiência do meio; ou quando o objeto, embora presente no
(art. 4º, LCP); 2ª) Crimes culposos (salvo, para alguns, a culpa imprópria); início da conduta, ausenta-se após o início da execução.
3ª) Crimes preterdolosos; 4ª) Crimes habituais; 5ª) Crimes de atentado; 6.3 - Teoria adotada (entre nós): objetiva temperada.
Profª Luciana de Rezende
ILICITUDE (ANTIJURIDICIDADE) :
TERMINOLOGIA. CLASSIFICAÇÕES. CAUSAS DE EXCLUSÃO. EXCESSO.
1 - Segundo requisito genérico do crime. 5 - As causas de exclusão de ilicitude (ou justificantes, descriminantes,
e excludentes) :
2 - Terminologia: antijuridicidade. Injusto. Ilicitude ("a contradição da realiza 1º) Estado de necessidade (justificante)
ção do tipo de uma norma proibitiva com o ordenamento jurídico como um 5-1 - legais 2º) Legítima defesa (real)
todo", Hans Welzel). Graf Zu Donna; Mezger, e Welzel (em ilicitude penal, art. 23, CP 3º) Exercício regular de direito
com o caráter complementar, ultima ratio). 4º) Estrito cumprimento do dever legal.
3 - Classificações:
5-2 - supralegal "consentimento do ofendido"
B X B sidade.
Estado de necessidade excul-
b X B pante. 3-5-inexigência do dever legal de enfrentar o perigo
(art. 24, § 1º, CP); e
1-3 - POSIÇÃO DE FRANCISCO TOLEDO SOBRE O ART. 24, CP.
3-6-o elemento subjetivo: conhecimento do perigo e vontade de
Salvaguardado Sacrificado salvaguardar o bem.
B X b 4 - Formas:
Estado de necessidade justificante 4-1-Estado de necessidade próprio e Estado de necessidade de terceiro
B X B
(o "auxílio necessário" e a vontade do titular substituída - Damásio e
Toledo);
- Agressão (ataque humano, direto ou indireto, por instrumentos, até O emprego do meio, mesmo o necessário, não pode ir além do que
animais). é preciso para evitar a lesão do bem próprio ou de terceiro.(Excesso intensivo)
- Agressão ativa e passiva, com ou sem violência. b-5 - Elemento subjetivo: conhecimento da situação de agressão e da
- A injustiça: Independência da tipicidade (dolo, culpa ou voluntariedade) necessidade da defesa e vontade de defender o bem.
e da culpabilidade do agente. É injusta a agressão a que não se
esteja obrigado a tolerar ou suportar, conforme o ordenamento jurídico C - O EXCESSO NÃO EXCLUI A LEGÍTIMA DEFESA;
- A provocação não elide a legítima defesa, salvo se pretexto para ANTES, A PRESSUPÕE.
esta ou se vier a se tornar, pelas circunstâncias, agressão.
- Atualidade (está acontecendo) ou iminência (está para acontecer).
A atualidade nos crimes permanentes. D - HIPÓTESES:
- Legítima defesa real contra legítima defesa real (impossível);
b-2 - Direito do agredido ou de terceiro atacado ou ameaçado de - Legítima defesa putativa contra legítima defesa putativa;
dano pela agressão: - Legítima defesa real contra legítima defesa putativa;
- Legítima defesa própria ou de terceiro (o "auxílio necessário" e a - Legítima defesa real contra legítima defesa subjetiva;
vontade do titular substituída a visão de Toledo). - Legítima defesa putativa contra legítima defesa real;
- Qualquer bem jurídico (protegido pelo direito) - Legítima defesa real contra Estado de necessidade (impossível);
- Legítima defesa de terceiro contra ação deste mesmo. - O pretexto de legítima defesa (a legítima defesa provocada);
- Em um só contexto fático, podem coexistir legítima defesa e estado
b-3 - Repulsa com os meios necessários: de necessidade.
3ª) TEORIA NORMATIVA PURA OU EXTREMA OU EXTREMADA(WELZEL): 4ª) TEORIA NORMATIVA LIMITADA (Jurisprudência Alemã):
a) Conceito: juízo de reprovação social ou pressuposto de pena ou condi- a) conceito: juízo de reprovação social ou pressuposto de pena ou condi-
ção de imposição da pena. ção de imposição da pena.
b) Elementos (todos normativos): b) elementos (todos normativos)
1º - Imputabilidade 1º - imputabilidade
2º - Potencial consciência da ilicitude 2º - potencial consciência da ilicitude
3º - Exigibilidade de conduta conforme o direito 3º - exigibilidade de conduta conforme o direito
TRATAMENTO DO ERRO: ERRO DE TIPO / ERRO DE PROIBIÇÃO
a - Reprovabilidade Social:
- A culpabilidade está na cabeça do juiz, como titular do juízo de reprovação 1ª) Poderia esse agente, nas circunstâncias, entender o caráter ilícito do fa
da sociedade sobre o agente que praticou um fato típico e ilícito. to e se conduzir de acordo com esse entendimento?
SIM NÃO
art.26, CP
IMPUTABILIDADE Inimputabilidade art.27, CP
b - Culpabilidade do agente pelo fato: art.28,§ 1º,CP
- Exatamente por isto, para estabelecer esse juízo, o magistrado, diante do 2ª) Poderia esse agente, nas circunstâncias, saber que atuava contraria-
agente, pela prática de um fato típico e ilícito, fará, a si mesmo, três inda- mente ao Direito?
gações - cada uma delas referente a presença de um elemento da cul_
pabilidade - , tendo, como paradigma, a previsibilidade subjetiva ou SIM NÃO
condição específica, ou seja: uma pessoa com as condições e circunstân-
cias específicas daquele agente considerado (e não o homem médio, de POTENCIAL CONSCIÊNCIA Erro de Proibição (art. 21, CP)
prudência e discernimento, já empregado como parâmetro quando da reali- DA ILICITUDE
zação do juízo típico).
3ª) Poder-se-ia exigir desse agente, nas circunstâncias, que ele atuasse
conforme o Direito?
1 - POR DOENÇA MENTAL OU DESENVOLVIMENTO h - Periculosidade presumida: entre nós, presume-se a periculosidade
MENTAL INCOMPLETO OU RETARDADO: (segundo requisito para aplicação de medida de segurança, após a
demonstração da prática de um fato típico e ilícito) dos inimputáveis
a - Art. 26, caput, CP (art. 26, caput, CP).
b - Doenças Mentais: Endógenas (paranóia e esquizofrenia) e Exógenas i - Periculosidade real: na hipótese do § único do art. 26, CP em
(por obra de causa externa). A Oligofrenia (débil mental, imbecil e i- que há diminuição de pena (culpabilidade) , pode o juiz, na forma
diota): o desenvolvimento mental incompleto ou retardado. do art. 98, CP, extraindo, da prova, periculosidade por parte do agen
te e, por isto, necessidade de tratamento , substituir a pena
c - Requisitos: (diminuída) por medida de segurança.
* Causal: Doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou
retardado; e
* Temporal: Ao tempo do fato;
* Consequencial (normativo): incapacidade (por obra do requisito causal 2 - POR MENORIDADE:
de entender o caráter ilícito do fato; ou, mesmo entendendo
incapacidade de se conduzir de acordo com esse entendimento
(autodeterminação). a - art. 27, CP.
g - Adoção pela reforma (CP de 1984) do sistema vicariante: ou pena d - Sistema de Aferição: biológico.
ou medida de segurança. O CP anterior adotava o sistema do duplo -
binário, que admitia a cumulação de pena com medida de segurança e - Consequência jurídica: Sujeição do agente a legislação especial
(entre nós, o Estatuto da Criança e do Adolescente).
Profª Luciana de Rezende
CULPABILIDADE NORMATIVA - EXCULPANTES. INIMPUTABILIDADE ( I I )
3 - POR EMBRIAGUEZ COMPLETA, PROVENIENTE DE
CASO FORTUITO OU FORÇA MAIOR (EMBRIAGUEZ 3-2 - A Inimputabilidade da Embriaguez Acidental:
ACIDENTAL)
a - art. 28, § 1º, CP.
a - Não-acidental art. 28, II, CP Respons. Penal Objetiva, na (acidental humano) ou força maior (coação física ou moral irresistível) e
redação literal. sistível); e
c - Patológica art. 26, caput, CP Inimputabilidade. * Consequêncial (normativo): incapacidade de entender o caráter
ilícito do fato; ou, mesmo entendendo, incapacidade de se con
d - Preordenada art. 61, II, "l"(agravante), CP Aplicação da duzir de acordo com esse entendimento (autodeterminação).
teoria actio liberae in causae,
na redação literal. c - Sistema de aferição: biopsicológico.
* Aplicação da teoria actio liberae in causae à embriaguez não-aci- d - Não se presume esse tipo de inimputabilidade; É preciso que,
dental (art. 28, II, CP), para tornar a disciplina consentânea com em razão do requisito causal, ou não haja entendimento, ou não
a responsabilidade penal subjetiva ( princício da culpabilidade ) haja autodeterminação.
da Constituição de 1988:
Só pode haver responsabilidade penal do agente se, no "mo- e - Consequência jurídica: absolvição.
mento livre", possuía ele, em relação ao "momento do fato (crime)",
previsibilidade (culpa inconsciente), previsão (culpa consciente ou
dolo eventual) ou intenção (dolo direto).
f - Responsabilidade diminuída ou pena (culpabilidade diminuída):
(§ único do art. 21, CP) o que fará variar a maior ou menor culpa mas restrita margem para questionar);
bilidade, se, ao revés, ao tempo da prática do fato, o conhecimento * Estrita Obediência;
do injusto for real e atual ou apenas potencial. * Superior competente e requisitos da ordem (formais);
3-3 - Consequência Jurídica:
d - Paradigma: a previsibilidade subjetiva ou condição específica,a teor, * Superior responde pelo crime, como autor mediato;
também, do § único, do art. 21, CP. * Subordinado tem isenção de pena (exclusão de culpabilidade).
e - Consequência jurídica: se inevitável o erro, restará íntegro o fato típi 4 - Inexigibilidade de Conduta Diversa (causa supralegal):
co doloso, mas o agente será isento de pena (excluída a culpabilida
de); se evitável, a pena (culpabilidade) será diminuída. * Ausente o poder-agir-de-outro-modo, como fundamento ontológico
da culpabilidade, sem previsão legal como exculpante,tendo por paradigma
2 - Coação Moral Irresistível (art. 22, 1ª parte, CP): a previsibilidade subjetiva ou condição específica uma pessoa com as
condições e circunstâncias do agente.
a - ausente a exigibilidade de conduta conforme o Direito. * Não se pode cobrar pelo erro a quem,antes, não se deu a chance de
b - A coação no sistema pátrio: acertar.
b-1 - Física - Exclui a conduta (a vontade); * Por isto, quanto maior a possibilidade de atuar conforme o Direito,
b-2 - Moral - Se resistível, atenuante (art. 65, III, "c", CP); se maior, a culpabilidade. Quanto menor essa possibilidade, menor também
irresistível, isenta de pena (art. 22, 1ª parte, CP). deve ser a culpabilidade.
Profª Luciana de Rezende
1ª) Extensiva: Autor é aquele que concorre para o crime, material ou intelec-
tualmente. Não distingue autor de partícipe.
2ª) Restritiva: Autor é aquele que pratica elemento(s) do tipo; co-autor é aque
le que pratica pelo menos parte do tipo (divisão de tarefas); e partícipe é aque
le que concorre para o crime,de qualquer modo,sem praticar elemento do tipo.
3ª) Do Domínio do fato:
1-Monossubjetivos Intelectual: Promove ou/e organiza a ação (mandante).
(podem ser cometidos Material ou Direto: Pratica elemento do tipo.
por uma só pessoa) 1.1.1 -TEORIAS Mediato: o que executa o crime através:
- de um inculpável; ou
Quanto 1.1-AUTORIA a-autor - de alguém que sequer pratica tipo; ou
ao nº de - da reação legítima do autor imediato.
agentes Co-autor -propriamente dito:Reparte as tarefas em sede de tipo;
necessários (autoria -funcional: Embora não pratique elemento do tipo, seu
à prática de coletiva) comportamento resta imprescindível para a consecu-
um crime, ção do evento.
conforme b-partícipe Seu comportamento é prescindível para a consecução do evento
o legislador, 1.1.2 -AUTORIA COLATERAL
os crimes (Não há liame subjetivo entre Certa - Sabe-se, pela prova, o crime que cada um praticou.
os agentes, embora queiram um Incerta - Não se sabe, pela prova, o crime que cada um praticou.
podem ser: mesmo resultado) Responderão, ambos, por tentativa.
1.1.3 - AUTORIA SUCESSIVA - Quando um agente ofende um bem jurídico já lesionado por outro.
2- 1.2-CO-DELINQÜÊNCIA
Plurissubjetivos: (concurso eventual de pessoas)
(de concurso 1.2-1 - Co-autoria Depende da teoria adotada quanto a autoria entre as
necessário) Natureza jurídica: Requisitos: elencadas acima
2.1-de condutas
paralelas *Teoria Monista(regra) 1-Pluralidade de Condutas
2.2-de cond.
convergentes *Há exceções pluralísticas 2-Liame subjetivo
2.3-de
cond.contrapostas á teoria monista 3-Identidade de infrações 1.2.1-Formas: Moral (induzimento ou instigação); e Material (auxílio);
para todos. 1.2.2-Natureza jurídica: Teoria da acessoriedade limitada (só há participação
4-Relevância causal das no fato do autor se este for, pelo menos, típico e ilícito);
condutas. 1.2.3-Punibilidade: Medida da culpabilidade (art. 29, caput, CP);
1.2-2 - Participação 1.2.4-Participação de Menor importância: art. 29, § 1º, CP.
1.2.5-Desvios subjetivos ou cooperação dolosamente diversa: art.29,§ 2º, CP;
1.2.6-Participação impunível:Exclusão da tipicidade da participação(art.31,CP);
1.2.7-Momento da participação: a adesão deve se dar antes ou durante o fato,
nunca depois;senão ou será outro tipo, autônomo, ou será irrelevante penal).
1.2.8-Participação da participação e Participação Sucessiva;
1.2.9-Participação por omissão(quando há dever jurídico de agir);a Conivência
Profª Luciana de Rezende
é irrelevante penal.