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PARA RELEMBRAR:
A expressão “direito criminal” é mais abrangente, pois coloca em destaque o crime. Por outro lado,
a expressão “direito penal” enfatiza a consequência do crime, a pena.
No passado, por volta de 1.830, havia o Código Criminal do Império, destacando-se o direito
criminal.
Atualmente, o correto é falar-se em direito penal, tendo em vista que a nossa codificação é o
Código Penal, Decreto Lei 2.848/1940, recepcionado pela CF/88 como lei ordinária. Além disso, a
CF, no art. 22, I, prevê a competência da União para legislar sobre direito penal.
O grande penalista Edgar Magalhães Noronha, referência em Direito Penal, afirma que: “o Direito
Penal é uma ciência cultural, normativa, valorativa e finalista”.
4.1. CIÊNCIA
O DP é considerado ciência, pois está sistematizado em um conjunto de normas jurídicas,
formando a dogmática penal.
4.2. CULTURAL
O Direito Penal integra a ciência do “deve ser”, ou seja, a forma como a pessoa: deve comportar-
se, a forma como deve ser punida.
4.3. NORMATIVO
É uma ciência normativa, tendo em vista que seu objeto de estudo é a norma, a qual possui regras
e princípios como suas espécies.
4.4. VALORATIVO
É ciência valorativa, eis que possui sua própria escala de valores na apreciação dos fatos que lhe
são submetidos.
4.5. FINALISTA
Não se confunde com finalismo penal, com sistema clássico.
É considerado uma ciência finalista, porque possui uma finalidade prática e não, meramente,
acadêmica.
A finalidade do Direito Penal, na visão de Claus Roxin, é a proteção de bens jurídicos.
Isto ocorre porque o DP não cria novos bens jurídicos, mas sim reforça (sanciona) a
proteção conferida aos bens jurídicos criados por outros ramos do direito. Por
exemplo, o Direito Civil criou a posse, a propriedade, como sua proteção nem
sempre é efetiva, o DP é utilização para sancionar determinadas condutas que
ofendam tais bens jurídicos, como furto.
Há casos em que o DP, de forma excepcional, cria novos institutos jurídicos, que
não existem nos demais ramos do direito. Por exemplo, o sursis.
5.5. GARANTIA
Franz Von Liszt, grande penalista alemão, afirma que o Código Penal é a magna carta do
delinquente. Antes de punir, o CP serve para proteger contra o arbítrio do Estado, seria um escudo
do ser humano.
Manifesta-se no princípio da reserva legal, segundo o qual a punição exige conduta prevista em lei.
• Crime.
• Criminoso.
• Sanção Penal.
O crime, o criminoso e a sanção penal são objetos de várias ciências, as quais formam a
“Enciclopédia de Ciências Penais” – expressão cunhada por José Cerezo Mir.
9.3. Criminologia
De acordo com o Antonio Garcia Pablos de Molina, “a criminologia é uma ciência empírica e
interdisciplinar” que estuda o crime, o criminoso, a vítima e os fatores sociais que levaram à prática
do crime, dentre outros.
A criminologia é empírica porque se preocupa com aquilo que é provado; e interdisciplinar porque
emprega diversas áreas do conhecimento.
• Direito Penal: estuda o “dever-ser” (ciência cultural) e ocupa-se das consequências do crime.
• Criminologia: estuda o “é” (ciência empírica) e ocupa-se das causas do crime.
9.4. Vitimologia
É uma tendência moderna estudar o papel da vítima no Direito Penal.
Observações:
• O CP, art. 59, “caput” cita o comportamento da vítima como uma das circunstâncias judiciais que
orientam o juiz na fixação da pena-base.
6- Jurisprudência (Súmula
Vinculante)
MEDIATAS MEDIATAS
2- Costumes 7- Doutrina
OBS: costumes (não positivados, na
3- Princípios Gerais do Direito verdade são fontes informais).
Questionamentos:
E a CF?
E os tratados de Direitos Humanos (STF:
no mínimo status supralegal)?
E as Súmulas (força do precedente)? E
as
Súmulas Vinculantes (binding effect)?
Como os PGD podem ser fontes
MEDIATAS, se o STF inclusive já
declarou inconstitucionalidade de lei com
base em
princípios?
Complemento de norma penal em
branco?
(ex: portaria do Ministério da Saúde
dizendo o que é droga, revela o direito!)
2.2. COSTUMES
Comportamentos uniformes e constantes pela convicção de sua obrigatoriedade e necessidade
jurídica (MP/PR).
Costume não cria crime, não comina pena, só a Lei (veda-se o costume incriminador).
Anterioridade da Lei, CP, art. 1º:
CP: Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem
prévia cominação legal.
Introdução
Espécies de interpretação
Exemplos: CP, art. 13, “caput” (conceito de causa) e CP, art. 327 (conceito de funcionário público
para fins penais).
Interpretação judicial é aquela efetuada pelos juízes e pelos Tribunais no caso concreto. Ela é
obrigatória na decisão do caso concreto ou quando constituir algum dos precedentes obrigatórios
(CPC, art. 927) que são fontes do Direito Penal.
Interpretação doutrinária é aquela efetuada pelos doutrinadores do Direito Penal. Ela não é
obrigatória.
A Exposição de Motivos é interpretação doutrinária – ela não integra a parte normativa de uma lei.
Interpretação gramatical é aquela que decorre da mera análise das palavras que integram a lei. É
um modo de interpretação precário.
É aquela em que há perfeita sintonia entre a letra da lei e a sua vontade – não há nada para ser
acrescentado ou suprimido.
II - Extensiva
É aquela que busca conferir um alcance maior à lei – a lei disse menos do que queria.
A interpretação extensiva é admitida pela maioria da doutrina e da jurisprudência no sentido de que
não se trata de analogia “in malam partem” ou de abarcar uma situação não prevista pela lei.
Observação (aplicação em concurso): a interpretação extensiva, via de regra, prejudica o réu.
III – Restritiva
É aquela que vai restringir ou limitar o alcance da lei – a lei disse mais do que queria.
II - A Interpretação analógica ocorre quando a lei penal traz uma fórmula casuística seguida de
uma fórmula genérica. Exemplo:
CP, art. 121: “(...).
§ 2º: Se o homicídio é cometido:
I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
(...)”.
• Fórmula casuística: “paga ou promessa de recompensa”.
• Fórmula genérica: “ou por outro motivo torpe”.
O Código Penal está dizendo que a “paga ou promessa de recompensa” são motivos de natureza
torpe, mas não são os únicos. No caso concreto podem surgir outros motivos semelhantes e
igualmente torpes.
III - O legislador penal se socorre da interpretação analógica porque é impossível prever todas as
situações que podem surgir na vida real.
Vamos lá:
Impede que o estado venha a utilizar o direito penal para proteção de bens ilegítimos. Limitando
sua missão no sentido de proteger os bens jurídicos mais relevantes do homem. Exemplo: não
pode definir como crime outros credos, budismo, ou até o ateísmo. Não é possível defender uma
religião discriminando outras.
O direito penal deve ser aplicado quando estritamente necessário mantendo-se SUBSIDIÁRIO e
FRAGMENTÁRIO (características).
*Direito Penal é SELETIVO
OBS: Princípio da intervenção mínima não norteia apenas a intervenção POSITIVA, mas também a
NEGATIVA, onde o estado não deve intervir (exemplos: adultério, sedução e rapto consensual).
a) Teorias da Associação Diferencial: até então a criminalidade era vista como algo unicamente do
pobre. Diz que há uma associação diferencial de pessoas propensas à criminalidade que não se
inserem na linha de pobreza. Surgem os denominados “White Color Crimes” (crimes do colarinho
branco).
b) Teoria da Anomia: diz respeito a vácuos da sociedade onde falta coesão e ordem, sobretudo em
relação a normas e valores.
• Abolicionismo: um dos abolicionistas mais famosos é o holandês Loux Huigmann. Diz que o
Direito Administrativo Sancionador poderia resolver todos os conflitos sociais;
• Minimalismo;
• Movimento Law and Order (ver em direito penal do inimigo, abaixo)
Para Ferrajoli o Direito Penal é um mal necessário. Ele deve existir em uma sociedade
democrática. É uma forma de fazer justiça. Só o Estado pode fazer justiça. O ius puniendi é
público.
Existe alguma exceção? Sim, no estatuto do índio, art. 57, Lei 6.001. Para Salim, porém, esse
artigo não foi recepcionado pela atual Constituição. Ver LFG. Rogério diz que foi.
*Fulcro legal para a teoria da coculpabilidade: atenuante genérica (art. 66, I, CP) e Lei de Drogas
(art. 19, inciso IV, Lei 11.343).
O Garantismo acaba sendo uma teoria ligada à política criminal. Está ligado ao minimalismo e esse
se liga à intervenção mínima. Essa, por sua vez, é gênero da fragmentariedade e da
subsidiariedade.
Garantismo tem a ver com garantias. Garantias são direitos, privilégios e isenções que a
Constituição confere aos seus cidadãos. Professor Ferrajoli trabalha com uma antítese: de um lado
o Poder Punitivo do Estado e de outro, a liberdade do homem. A capacidade punitiva do Estado
deve ser diminuída ao máximo e a capacidade do homem aumentada ao máximo. Ele não quer um
Estado antiliberal, como também não quer uma “liberdade selvagem”. Ver abaixo “Teoria sobre o
Garantismo Penal”.
2.3.2. Origem
Quem primeiro tratou sobre o princípio da insignificância, no direito penal, foi Claus Roxin, em
1964. Busca raízes no brocardo civil minimis non curat praetor (algo como “o pretor – magistrado à
época – não cuida de coisas sem importância).
Também é chamado de “princípio da bagatela”.
O princípio da insignificância não tem previsão legal no direito brasileiro. Trata-se de uma criação
da doutrina e da jurisprudência.
Assim, se o fato for penalmente insignificante significa que não lesou nem causou perigo de lesão
ao bem jurídico. Logo, aplica-se o princípio da insignificância e o réu é absolvido por atipicidade
material, com fundamento no art. 386, III, do CPP.
O princípio da insignificância atua, então, como um instrumento de interpretação restritiva do tipo
penal.
Exemplo: João subtrai, para si, um pacote de biscoitos do supermercado, avaliado em 8 reais. A
conduta do agente amolda-se perfeitamente ao tipo previsto no art. 155 do CP. Ocorre que houve
inexpressiva lesão ao patrimônio do supermercado.
NÃO. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. O princípio da insignificância pode, em tese, ser
aplicado para delitos de menor, médio ou alto potencial ofensivo, a depender da situação em
concreto e do crime a que se refere.
O princípio da insignificância pode ser reconhecido mesmo após o trânsito em julgado da
sentença condenatória?
SIM. HC 95570, Relator Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, julgado em 01/06/2010.
NÃO. Além do valor econômico, deve-se analisar outros fatores que podem impedir a aplicação do
princípio, como, por exemplo:
1) O valor sentimental do bem (ex: uma bijuteria que pertenceu a importante familiar falecido).
2) A condição econômica da vítima (ex: furto de bicicleta velha de uma vítima muito pobre);
3) As condições pessoais do agente (ex: furto de bombom no supermercado praticado por policial
em serviço);
4) As circunstâncias do delito (ex: furto mediante ingresso sub-reptício na residência da vítima, com
violação da privacidade e tranquilidade pessoal desta);
5) E as consequências do delito (ex: furto de bicicleta que era o único meio de locomoção da
vítima).
O Min. Celso de Mello (HC 84.412-0/SP) idealizou quatro requisitos objetivos para a aplicação do
princípio da insignificância, sendo eles adotados pela jurisprudência do STF e do STJ.
Segundo a jurisprudência, somente se aplica o princípio da insignificância se estiverem presentes
os seguintes requisitos cumulativos:
Não sei. Acho que ninguém sabe ao certo. Os julgados que mencionam esses requisitos não
explicam o que seja cada um deles, até porque alguns parecem se confundir. A doutrina critica
esses critérios. Paulo Queiroz, por exemplo, afirma que esses requisitos ficam andando em
círculos. Desse modo, não se preocupe em diferenciá-los. Decorá-los é suficiente.
2014 - NÃO. É a posição que atualmente prevalece, sendo adotada pela 5ª Turma do STJ e pelo
STF.
STF: (...) A reiteração delitiva, comprovada pela certidão de antecedentes criminais do paciente,
impossibilita a aplicação do princípio da insignificância. (...) STF. 1ª Turma. HC 109705, Rel. Min.
Roberto Barroso, julgado em 22/04/2014.
(...) A reincidência específica é prognóstico de risco social, recaindo sobre a conduta do acusado
elevado grau de reprovabilidade, o que impede a aplicação do princípio da insignificância. (...)
(STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 487.623/ES, julgado em 18/06/2014).
Situação que é muito comum na prática e que gera enorme polêmica: a autoridade policial pode
deixar de lavrar a prisão em flagrante sob o argumento de que a conduta praticada é formalmente
típica, mas se revela penalmente insignificante (atipicidade material)?
1ª corrente: SIM. O princípio da insignificância, como vimos, afasta a tipicidade material. Logo, se o
fato é atípico, a autoridade policial pode deixar de lavrar o flagrante. Nesse sentido: Cleber Masson
(Direito Penal esquematizado. Vol. 1. São Paulo: Método, 2014, p. 37).
Não existe, ainda, uma posição consolidada sobre o tema na jurisprudência, razão pela qual, em
concursos públicos, o tema somente deve ser explorado em provas discursivas ou práticas, quando
deverá ser explicada a discussão acima.
Na prática, o Delegado de Polícia deverá ter extrema cautela ao aplicar o princípio em caso de
prisão em flagrante, somente decidindo não lavrar o auto em situações nas quais esteja patente a
insignificância. Mesmo assim, é recomendável que seja instaurado um procedimento formal,
certificando-se tudo o que ocorreu, sendo, então, encaminhando ao Ministério Público a
documentação pertinente.
Em situações nas quais haja dúvida, uma providência salutar é acionar o plantão do Ministério
Público, colhendo a opinião do Parquet, devendo ser certificado nos autos esse contato.
Não se pode confundir o princípio da insignificância com a chamada “infração bagatelar imprópria”.
Infração bagatelar imprópria é aquela que nasce relevante para o Direito penal, mas depois se
verifica que a aplicação de qualquer pena no caso concreto apresenta-se totalmente
desnecessária.
Em outras palavras, o fato é típico, tanto do ponto de vista formal como material. No entanto, em
um momento posterior à sua prática, percebe-se que não é necessária a aplicação da pena. Logo,
a reprimenda não deve ser imposta, deve ser relevada (assim como ocorre nos casos de perdão
judicial).
Segundo LFG, a infração bagatela imprópria possui um fundamento legal no direito brasileiro.
Trata-se do art. 59 do CP que prevê que o juiz deverá aplicar a pena “conforme seja necessário e
suficiente para reprovação e prevenção do crime”.
Dessa forma, se a pena não for mais necessária, ela não deverá ser imposta (princípio da
desnecessidade da pena conjugado com o princípio da irrelevância penal do fato).
Ainda de acordo com LFG, no direito legislado já contamos com vários exemplos de infração
bagatelar imprópria:
• No crime de peculato culposo, a reparação dos danos antes da sentença irrecorrível extingue a
punibilidade. Assim, havendo a reparação, a infração torna-se bagatelar (em sentido impróprio) e a
pena desnecessária. No princípio havia desvalor da ação e do resultado. Mas depois, em razão da
reparação dos danos (circunstância post-factum), torna-se desnecessária a pena.
- Não se aplica o princípio da insignificância se o crime de furto é praticado mediante ingresso sub-
reptício na residência da vítima, com violação da privacidade e tranquilidade pessoal desta (STF
HC 106045).
- Não se aplica o princípio no caso de furto de água potável mediante ligação clandestina (REsp
984.723-RS).
- A circunstância de o crime de furto ter sido perpetrado durante o repouso noturno denota maior
reprovabilidade, o que afasta o reconhecimento da atipicidade material da conduta pela aplicação
do princípio da insignificância (STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 463.487/MT, Rel. Min. Sebastião
Reis Júnior, julgado em 01/04/2014)
- Em regra, a jurisprudência NÃO aplica o princípio da insignificância no caso do agente que furta
coisas para trocá-las por droga (STJ. 6ª Turma. HC 211.177/SP, julgado em 03/12/2013).
- O fato de o réu ter restituído os bens furtados à vítima não serve como justificativa, por si só, para
aplicar o princípio da insignificância, especialmente se o valor do objeto tem expressividade
econômica (STJ. 6ª Turma. HC 213.943/MT, julgado em 05/12/2013).
Furto qualificado:
Desse modo, se a coisa subtraída é inferior a um salário mínimo, esta conduta poderá receber dois
tipos de valoração pelo juiz:
Se a coisa subtraída é inferior a um salário mínimo, mas não é ínfima, chegando perto do valor do
salário mínimo, a jurisprudência entende que não deve ser aplicado o princípio da insignificância,
mas tão somente o furto privilegiado.
Se o bem subtraído é bem inferior a um salário mínimo, sendo de valor ínfimo, estando longe do
valor do salário mínimo, há de ser aplicado o princípio da insignificância, que é mais benéfico que o
furto privilegiado.
Trata-se de uma diferenciação que, na prática, acaba sendo muito subjetiva, variando de acordo
com o caso concreto. O importante é que você saiba que, para a jurisprudência, pequeno valor e
valor insignificante não são sinônimos. O primeiro, autoriza o reconhecimento da atipicidade da
conduta. O segundo, é uma causa de diminuição prevista no art. 155, § 2º, do CP, sendo chamada
de furto privilegiado:
2) Crimes contra a Ordem Tributária
Qual é o valor máximo para ser considerado insignificante?
STF e STJ → R$ 10.000,00 mudou, explicação abaixo.
Assim, se o valor do tributo devido for igual ou inferior a 10 mil reais, não há crime de sonegação
fiscal, aplicando-se o princípio da insignificância.
Qual o parâmetro para se chegar a esse valor como insignificante? Esse valor foi fixado pela
jurisprudência tendo como base o art. 20 da Lei n. 10.522/2002, que determina o arquivamento das
execuções fiscais cujo valor consolidado for igual ou inferior a R$ 10.000,00. Em outros termos, a
Lei determina que, até o valor de 10 mil reais, os débitos inscritos como Dívida Ativa da União não
serão executados.
Segundo a jurisprudência, não há sentido lógico permitir que alguém seja processado
criminalmente pela falta de recolhimento de um tributo que nem sequer será cobrado no âmbito
administrativo-tributário.
Nesse caso, o direito penal deixaria de ser a ultima ratio.
Esse valor é considerado insignificante tanto no caso de tributos federais, como também
estaduais ou municipais?
NÃO. Esse parâmetro de R$ 10.000,00 vale, a princípio, apenas para os crimes que se relacionam
a tributos federais, considerando que é baseado no art. 20 da Lei n. 10.522/2002, que trata dos
tributos federais. Assim, esse é o valor que a União considera insignificante.
Para fins de crimes de sonegação fiscal que envolvam tributos estaduais ou municipais, deve ser
analisado se há ato normativo estadual ou municipal dispensando a execução fiscal no caso de
tributos abaixo de determinado valor. Esse será o parâmetro para a insignificância.
O descaminho é também considerado um crime contra a ordem tributária, apesar de estar previsto
no art. 334 do Código Penal e não na Lei n. 8.137/90. Desse modo, aplica-se o princípio da
insignificância ao crime de descaminho, valendo as mesmas explicações acima mencionadas
quanto ao valor que pode ser considerado insignificante.
Vale ressaltar, no entanto, que, para a aplicação do princípio da insignificância aos crimes de
descaminho, a 5ª Turma do STJ afirma que devem ser preenchidos dois requisitos:
4) Crimes ambientais
5) Ato infracional
APLICA-SE. Trata-se de posição pacífica no STF e STJ. Como regra, o Estado é obrigado a aplicar
as medidas previstas no ECA, considerando que elas possuem caráter educativo, preventivo e
protetor. No entanto, excepcionalmente, diante de peculiaridades do caso concreto, é possível que
o Estado deixe de aplicar essas medidas quando for verificado que o ato infracional praticado é
insignificante (princípio da insignificância). Não é razoável que o direito penal (ou infracional) e todo
o aparelho do Estado-polícia e do Estado-juiz se movimentem no sentido de atribuir relevância
típica a situações insignificantes.
Conclusão: o princípio da insignificância é aplicável aos atos infracionais, desde que verificados os
requisitos necessários para a configuração do delito de bagatela (STF HC 112400/RS).
6) Rádio Clandestina
Existem julgados sustentando que pode ser aplicado o princípio da insignificância se a rádio era de
baixa potência, assim considerada a inferior a 25 watts. Se a rádio operar abaixo desse potência,
haveria o ilício administrativo, mas não o penal.
NÃO. O STF entende que se aplica, à hipótese, o princípio da insignificância, devendo ser
reconhecida a atipicidade material do comportamento do agente. Há mínima ofensividade e
reduzida reprovabilidade da conduta e a falta de registro no órgão competente não atinge, de forma
significativa, o bem jurídico penalmente protegido. Se há algum ilícito, este não é penal, mas
apenas de caráter administrativo.
1) Lesão corporal
Não se aplica ao crime de roubo porque se trata de delito complexo que envolve patrimônio, grave
ameaça e a integridade física e psicológica da vítima, havendo, portanto, interesse estatal na sua
repressão (STF RHC 111433).
3) Tráfico de drogas
Não se aplica ao tráfico de drogas, visto se tratar de crime de perigo abstrato ou presumido, sendo,
portanto, irrelevante a quantidade de droga apreendida.
4) Moeda falsa
Ainda que seja apenas uma nota e de pequeno valor, não se aplica o princípio por tratar-se de
delito contra a fé pública, havendo interesse estatal na sua repressão. O bem violado é a fé
pública, a qual é um bem intangível e que corresponde à confiança que a população deposita em
sua moeda, não se tratando, assim, da simples análise do valor material por ela representado.
Não se aplica o princípio da insignificância para crimes contra a fé pública, como é o caso do delito
de falsificação de documento público. STF. 2ª Turma. HC 117638, Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgado em 11/03/2014.
6) Contrabando
O caso mais comum e que pode cair na sua prova é o de contrabando de cigarros.
Não confunda os delitos de contrabando com descaminho:
No delito de contrabando, o objeto material sobre o qual recai a conduta criminosa é a mercadoria
PROIBIDA (proibição absoluta ou relativa). Em outras palavras, o objetivo precípuo dessa
tipificação legal é evitar o fomento de transporte e comercialização de produtos proibidos por lei.
No contrabando não se cuida, tão somente, de sopesar o caráter pecuniário do imposto sonegado,
mas principalmente, de tutelar, entre outros bens jurídicos, a saúde pública.
Em suma, no contrabando, o desvalor da conduta é maior, razão pela qual se deve afastar a
aplicação do princípio da insignificância.
A jurisprudência considera que esse tipo de conduta contribui negativamente com o deficit da
Previdência. Defende-se que, não obstante ser ínfimo o valor obtido com o estelionato praticado,
se a prática de tal crime se tornar comum, sem qualquer repressão penal da conduta, certamente
se agravará a situação da Previdência, responsável pelos pagamentos das aposentadorias e dos
demais benefícios dos trabalhadores brasileiros. Daí porque se afere como elevado o grau de
reprovabilidade da conduta praticada. Desse modo, o princípio da insignificância, não pode ser
aplicado para abrigar conduta cuja lesividade transcende o âmbito individual e abala a esfera
coletiva. (HC 111918, Relator Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, julgado em 29/05/2012)
O STF já decidiu que não deve ser aplicado o princípio da insignificância em caso de estelionato
envolvendo o FGTS porque a conduta do agente é dotada de acentuado grau de reprovabilidade,
“na medida em que a fraude foi perpetrada contra programa social do governo que beneficia
inúmeros trabalhadores”. Essa circunstância, aliada à expressividade financeira do valor auferido
pela paciente à época dos fatos, inibe a aplicabilidade do postulado da insignificância ao caso
concreto. (HC 110845, Relator Min. Dias Toffoli, 1ª Turma, julgado em 10/04/2012).
9) Estelionato envolvendo o seguro-desemprego
Não se aplica o princípio da insignificância para estelionato envolvendo o seguro-desemprego
considerando que se trata de bem protegido a partir do interesse público (HC 108674, Relator Min.
Marco Aurélio, 1ª Turma, julgado em 28/08/2012).
Segundo o STJ, não se aplica o princípio da insignificância ao crime de violação de direito autoral
(§ 2º do art. 184 do CP). Em que pese a aceitação popular à pirataria de CDs e DVDs, com certa
tolerância das autoridades públicas em relação à tal prática, a conduta, que causa sérios prejuízos
à indústria fonográfica brasileira, aos comerciantes legalmente instituídos e ao Fisco, não escapa à
sanção penal, mostrando-se formal e materialmente típica (AgRg no REsp 1380149/RS, Rel. Min.
Og Fernandes, Sexta Turma, julgado em 27/08/2013).
Prevalece que o princípio da insignificância NÃO é aplicável no âmbito da Justiça Militar, sob pena
de afronta à autoridade, hierarquia e disciplina, bens jurídicos cuja preservação é importante para o
regular funcionamento das instituições militares.
STF: possibilidade
STJ: não pode ser aplicado
Obs: não deveria ser cobrada, mas se caísse em uma prova objetiva, eu marcaria a alternativa que
afirma não ser possível a aplicação do princípio.
Obs: esse tema não deveria ser cobrado em uma prova objetiva, mas se for exigido, penso que a
melhor resposta é no sentido de NÃO ser possível a aplicação do princípio, uma vez que esse
precedente da 1ª Turma do STF não formou jurisprudência.
No STJ prevalece que não se aplica, em regra, o princípio da insignificância aos crimes contra a
Administração Pública, ainda que o valor da lesão possa ser considerado ínfimo, uma vez que a
norma visa resguardar não apenas o aspecto patrimonial, mas, principalmente, a moral
administrativa. Nesse sentido: STJ. 5ª Turma.
Há, contudo, uma exceção: admite-se o princípio da insignificância ao crime de descaminho (art.
334 do CP), que, topograficamente, está inserido no Título XI do Código Penal, que trata sobre os
crimes contra a administração pública. Segundo o STJ, “a insignificância nos crimes de
descaminho tem colorido próprio, diante das disposições trazidas na Lei n. 10.522/2002”, o que não
ocorre com outros delitos, como o peculato etc.
No STF, há julgados mais antigos da 2ª Turma admitindo a aplicação do princípio, como foi o caso
do HC 107370, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 26/04/2011.
Uma última pergunta: se há violação de direito autoral relativo a programas de computador, o crime
também é o do art. 184 do CP? NÃO. Neste caso, o crime será o do art. 12 da Lei n. 9.609/98:
O estado só pode incriminar condutas humanas voluntárias. Fatos Direito Penal do Fato.
CP Art. 2º - Ninguém pode ser punido POR FATO que lei posterior deixa de considerar crime,
cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.
Ninguém pode ser punido pelo que é, pelo que pensa ou pelo estilo de vida, esse é o direito penal
do autor.
Este princípio foi o princípio norte para a revogação do art. 60 da LCP, contravenção penal da
mendicância. Este artigo não punia o fato e sim o autor, punia a pessoa pelo estilo de vida, e não
pelo fato. Direito penal do autor!
Obs: Doutrina moderna critica a contravenção penal da VADIAGEM, considerando-a também uma
expressão de direito penal do autor.
Direito Penal do Fato Princípio da Materialização do fatoDireito Penal do Autor
Para que ocorra o crime é indispensável efetiva, concreta e relevante lesão ou perigo de lesão
ao bem jurídico.
1) Crime de perigo abstrato: o perigo é absolutamente presumido por lei. Doutrina moderna: pune-
se alguém por um perigo presumido, sem efetiva prova de lesão ou perigo de lesão a bem jurídico,
violando o princípio da ofensividade. Por ser absolutamente presumido, ofenderia também o
princípio da ampla defesa (não permitem ao réu provar em sentido contrário).
2) Crime de perigo concreto: o perigo deve ser comprovado, o delito depende de efetivo risco de
lesão ao bem jurídico.
SIM. A posse (art. 12 da Lei nº 10.826/2003) ou o porte (art. 14) de arma de fogo configura crime
mesmo que ela esteja desmuniciada. Trata-se, atualmente, de posição pacífica tanto no STF como
no STJ.
Para a jurisprudência, a simples posse ou porte de arma, munição ou acessório de uso permitido
— sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar — configura os
crimes previstos nos arts. 12 ou 14 da Lei nº 10.826/2003. Isso porque, por serem delitos de perigo
abstrato, é irrelevante o fato de a arma apreendida estar desacompanhada de munição, já que o
bem jurídico tutelado é a segurança pública e a paz social.
SIM. A posse ou o porte apenas da munição (ou seja, desacompanhada da arma) configura crime.
Isso porque tal conduta consiste em crime de perigo abstrato, para cuja caracterização não importa
o resultado concreto da ação. O objetivo do legislador foi o de antecipar a punição de fatos que
apresentam potencial lesivo à população, prevenindo a prática de crimes. Liquefação do direito
penal!
# Para que haja condenação pelo crime de posse ou porte, é necessário que a arma de fogo tenha
sido apreendida e periciada?
NÃO. É irrelevante (desnecessária) a realização de exame pericial para a comprovação da
potencialidade lesiva do artefato, pois basta o simples porte de arma de fogo, ainda que
desmuniciada, em desacordo com determinação legal ou regulamentar, para a incidência do tipo
penal. Isso porque os crimes previstos no arts. 12, 14 e 16 da Lei 10.826/03 são de mera conduta
ou perigo abstrato, cujo objeto jurídico imediato é a segurança coletiva (STJ. 5ª Turma. Julgado em
07/08/2014). Assim, a pessoa pode ser condenada por posse ou porte de arma de fogo mesmo
que não tenha havido apreensão e perícia.
NÃO. Como vimos acima, não é imprescindível que seja realizada perícia na arma de fogo
apreendida. No entanto, se o laudo pericial for produzido e ficar constatado que a arma não
tem nenhuma condição de efetuar disparos, não haverá crime. É o que vem decidindo o STJ:
(...) Na hipótese, contudo, em que demonstrada por laudo pericial a total ineficácia da arma de fogo
(inapta a disparar) e das munições apreendidas (deflagradas e percutidas), deve ser reconhecida a
atipicidade da conduta perpetrada, diante da ausência de afetação do bem jurídico incolumidade
pública, tratando-se de crime impossível pela ineficácia absoluta do meio. (...) STJ. 6ª Turma. REsp
1451397/MG, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 15/09/2015.
Vale ressaltar, no entanto, que, se a arma quebrada estiver com munição eficaz, o agente poderá
ser condenado porque o simples porte de munição (eficaz) já configura o delito. Assim, para que
não seja crime, o agente tem que ter sido apreendido com arma quebrada e desmuniciada ou,
então, com arma quebrada e com munições ineficazes (deflagradas e percutidas).
No primeiro, há uma séria limitação aos interesses que podem ser protegidos pelo Direito Penal, no
segundo, somente será aceita como infração penal quando o interesse já protegido (reserva legal),
sofrer um ataque (ofensa) efetivo, representado por um perigo concreto ou dano.
O STF tem utilizado este princípio como fundamento para anular processos com denúncia
vaga/genérica/imprecisa/coletiva, principalmente no que tange aos crimes societários, não basta
denunciar os agentes, deve-se dizer o que cada um deles fez e mais, deve constar quem (pessoas
físicas) fizeram e em benefício de qual PJ (a pessoa jurídica também deve estar na denúncia...).
Desdobramentos deste princípio:
CF Art. 5º XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes:
a) privação ou restrição da liberdade;
b) perda de bens;
c) multa;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos;
2) Proibição de denúncia genérica/vaga/evasiva
OBS: tem doutrina que afirma, com base neste princípio, a impossibilidade da responsabilidade
penal da pessoa jurídica.
A partir do momento que o STF começou a afastar a denúncia genérica, surge a doutrina de
Pacelli diferenciando ACUSAÇÃO GERAL e ACUSAÇÃO GENÉRICA:
- Acusação Geral: ocorre quando o órgão da acusação imputa a todos os acusados, o mesmo fato
delituoso, independentemente das funções exercidas por eles na empresa. Um fato só – não há
inépcia, não viola o princípio da ampla defesa, o indivíduo como integrante da sociedade sabe de
qual fato típico tem de se defender.
- Acusação Genérica: ocorre quando a acusação imputa vários fatos típicos, imputando-os
genericamente a todos os integrantes da sociedade. Vários fatos típicos - há inépcia, com vários
fatos típicos, de qual deles irei me defender? Violação da ampla defesa, nulidade absoluta.
Pacelli - denúncia genérica não se confunde com denúncia geral: é aquela que narra o fato (UM
fato) criminoso com todas suas circunstâncias e o imputa genericamente ou indistintamente a todos
os acusados. Portanto, não temos aqui uma inépcia, tendo todos os acusados praticando ou não o
fato criminoso, isso é matéria de prova, não sendo matéria de admissibilidade da acusação.
Saber se os acusados praticaram ou não o crime que estão sendo acusados (todos conjuntamente)
é matéria de prova e não condição para o desenvolvimento válido e regular do processo.
Já a genérica é aquela que não diz qual foi o comportamento criminoso praticado por um dos
denunciados (ou imputa a todos várias condutas indistintamente). Essa sim deve ser rejeitada por
inépcia.
O STJ em dois julgados fez a distinção entre denúncia genérica e denúncia geral, são eles:
RHC 24.515/DF e HC 22.593/SP – “é geral e não genérica, a denúncia que atribui a mesma
conduta a todos os acusados”. Um fato imputado aos membros indistintamente. Pode.
Não basta que o fato seja materialmente causado pelo agente, é imprescindível o fato ter sido
querido/aceito/previsível (vide previsibilidade!). Só tem sentido castigar comportamentos desejados
ou previsíveis. O direito penal não admite responsabilidade penal OBJETIVA.
OBS: É também um argumento contra a responsabilidade penal da pessoa jurídica (dizem que a
PJ não tem condições de prever nada).
*Exceções (responsabilidade objetiva no CP):
b) Rixa qualificada pela lesão grave ou morte (pouco importa quem matou ou feriu a vítima).
Trata-se de postulado limitador do direito de punir. O castigo penal pressupõe um agente capaz
(imputável), com potencial consciência da ilicitude, sendo dele exigível conduta diversa.
4.4. PRINCÍPIO DA IGUALDADE (OU DA ISONOMIA) (RELACIONADO COM O AGENTE DO
FATO)
OBS: a igualdade é material. É possível haver distinções justificadas, tratar os iguais de maneira
igual, os desiguais de maneira desigual na medida de suas desigualdades.
Art. 24 da CADH.
Artigo 24 - Igualdade perante a lei - Todas as pessoas são iguais perante a lei. Por conseguinte, têm direito,
sem discriminação alguma, à igual proteção da lei.
Aplicação do Princípio da isonomia: Lei 9.099/95 (juizados especiais nos estados), ela catalogou
como infração de menor potencial ofensivo, aquela com:
Ex1: Desacato (6meses a 2 anos), é de médio potencial ofensivo para justiça estadual, já no
âmbito federal, é de menor potencial ofensivo. Não há motivo para tratamentos diferentes para o
mesmo fato. Veio a jurisprudência, com base no princípio da isonomia, e regularizou que se é na
justiça federal crime de menor potencial ofensivo, será também na justiça estadual. Depois houve a
modificação da lei e a harmonização dos dispositivos.
Ex2: A Lei 8.072/90 (Crimes Hediondos). Determinava o cumprimento integral da pena em regime
fechado. Veio a Lei 9.455/97, tratando o crime de tortura, que é equiparado ao hediondo,
determinando o regime inicial fechado. O STF determinou a inconstitucionalidade da necessidade
de cumprimento integral da pena em regime fechado. Um dos princípios que fomentaram a
inconstitucionalidade foi o da isonomia, pois tratou casos iguais de forma desigual.
CF Art. 5º - LVII - NINGUÉM SERÁ CONSIDERADO CULPADO até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória;
Hoje, é utilizado o nome “PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE NÃO CULPA” (STF), visto que a CF
não o considera inocente, na verdade não o considera CULPADO. A CF não presume ninguém
inocente, ela só não permite considerá-lo culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória (mais coerente com o sistema de prisão provisória) – Tese MP.
Agora a CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (art. 8º, .2)
Artigo 8º - Garantias judiciais - 2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a que SE PRESUMA SUA
INOCÊNCIA enquanto não se comprove legalmente sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito,
em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas:...
Tese Defensoria.
Exemplo da utilização do princípio: art. 594 do CPP (revogado em 2008) feria frontalmente o
princípio em tela, pois condicionava o recurso do réu a sua prisão.
Exemplo da súmula vinculante da algema (nº 11) está ligado ao princípio da presunção de
inocência (não culpa).
STF Súmula Vinculante 11 - Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de
fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a
excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da
autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade
civil do estado.
A ninguém pode ser imposta pena ofensiva à dignidade da pessoa humana (está na Convenção
Americana de Direitos Humanos).
5.2. PRINCÍPIO DA HUMANIDADE (CF – ART. 5, XLVII E XLIX e CADH art. 5, ponto 2)
(RELACIONADO COM A PENA)
Nenhuma pena pode ser cruel, desumana e degradante, proibindo-se a prisão perpétua e, em
regra, a pena de morte (art.5º, XLVII). Está na CF e na CADH (Art.5º, .2).
CF XLVII - não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis;
CADH Artigo 5º - Direito à integridade pessoal
2. Ninguém deve ser submetido a torturas nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou
degradantes. Toda pessoa privada da liberdade deve ser tratada com respeito devido à dignidade inerente
ao ser humano.
Rogério: relacionada mais ao corpo do preso, à aflição física.
O que é considerado, então, motivação idônea para impor ao condenado regime mais
gravoso?
As circunstâncias judiciais do art. 59 do CP. Se as circunstâncias judiciais do art. 59 forem
desfavoráveis, é possível que o juiz se fundamente nesses dados para impor ao condenado
regime inicial mais gravoso que o previsto para a quantidade de pena aplicada.
Ex: Paulo, réu primário, foi condenado a uma pena de 6 anos de reclusão. Em regra, o
regime inicial seria o semiaberto. Ocorre que as circunstâncias judiciais foram
extremamente desfavoráveis a ele. Nesse caso, o juiz, fundamentando sua decisão nesses
dados, poderia impor a Paulo o regime inicial fechado.
O art. 2º, § 1º da Lei n. 8.072/90 prevê que a pena por crime hediondo ou
equiparado deve ser cumprida inicialmente em regime fechado. Esse dispositivo é
constitucional?
NÃO. O Plenário do STF julgou essa previsão inconstitucional (HC 111840/ES, rel. Min. Dias
Toffoli, 27.6.2012).
O regime inicial nas condenações por crimes hediondos ou equiparados (ex: tráfico de
drogas) não tem que ser obrigatoriamente o fechado, podendo ser também o regime
semiaberto ou aberto, desde que presentes os requisitos do art. 33, § 2º, alíneas b e c, do
Código Penal.
Assim, será possível, por exemplo, que o juiz condene o réu por tráfico de drogas a uma
pena de 6 anos de reclusão e fixe o regime inicial semiaberto.
Somos ensinados a analisar este princípio sob o enfoque de ele buscar evitar o excesso, evitar a
hipertrofia da punição. PORÉM tem um segundo ângulo que é evitar a insuficiência da intervenção
estatal, ou seja, evitar a punição insignificante.
Então o princípio da proporcionalidade, permite que a pena seja reduzida em caso de EXCESSO,
constitucionalmente. Porém, em caso de punição insuficiente, a CF ainda PROÍBE o aumento da
pena, visto que é vedado pelo princípio da legalidade, isto é um ALERTA para o operador do
direito.
Este princípio deve ser observado:
OBS: o direito penal do fato determina que o tipo penal só deve incriminar fatos, comportamentos
humanos voluntários. No entanto, no momento da individualização da pena, é imprescindível
considerar o rol de qualidades do agente para obedecer à responsabilidade penal individual. –
responsabilidade pessoal.
5.4. PRINCÍPIO DA PESSOALIDADE (PERSONALIDADE OU INTRANSMISSIBILIDADE DA
PENA, CF ART. 5º, XLV; CADH, art. 5, ponto 3) (RELACIONADO COM A PENA)
CF Art. 5º XLV - nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e
a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles
executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido;
OBS1: tem doutrina utilizando este princípio para negar a responsabilidade penal da pessoa
jurídica.
OBS2: A multa penal é executada como dívida ativa, mas não perde seu caráter de pena, vale
dizer, não passa da pessoa do condenado. Ver adiante em Pena de Multa.
5.5. PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO DO “BIS IN IDEM” (CADH, ART. 8, .4) (RELACIONADO COM A
PENA)
1) Processual: ninguém pode ser duas vezes processado pelo mesmo crime.
2) Material: ninguém pode ser condenado pela segunda vez em razão do mesmo fato.
3) Execucional: ninguém pode ser executado duas vezes por condenações relacionadas ao mesmo
fato.
Significa que para cada fato só há de ser aplicada uma norma penal que excluirá as demais e só
autorizará a punição do autor em um único delito.
*Pergunta: a agravante da REINCIDÊNCIA (art. 61, I, do CP), foi recepcionada pela CF/88? A
reincidência fere o princípio do “ne bis in idem”?
1ª corrente: Sim. Fere o princípio do “ne bis in idem”, porque o juiz está considerando duas vezes
o mesmo fato em prejuízo do agente. Uma primeira vez para condená-lo e, numa segunda, para
agravar a pena do crime futuro (tese defensoria)
Condenação (157 CP) nova infração (213 CP)
1ª vez Agravante Reincidência (2ª vez, sendo utilizado o fato anterior para agravar a pena do crime
atual).
2ª corrente (STJ): Não. O fato de o reincidente ser punido mais severamente que o primário, não
viola a CF, nem a garantia da vedação do “bis in idem”, pois visa tão somente reconhecer maior
reprovabilidade na conduta daquele que é contumaz violador da lei penal (coaduna com o
princípio da individualização da pena).
É a que prevalece. Em 2013, o STF reconheceu a constitucionalidade da reincidência.
Nucci: tem o significado político de constituir uma GARANTIA INDIVIDUAL, prevista na CF, bem
como quer dizer, no campo jurídico, que ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma
coisa senão em virtude de lei (sentido amplo) e não há crime sem lei que o defina, nem pena sem
lei que a comine (sentido estrito ou jurídico-penal).
CP Art. 1º: não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.
Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal
- Art. 5, XXXIX da CF
CF Art. 5º XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal;
- Art. 9º da CADH
Artigo 9º - Princípio da legalidade e da retroatividade - Ninguém poderá ser condenado por atos ou omissões
que, no momento em que foram cometidos, não constituam delito, de acordo com o direito aplicável.
Tampouco poder-se-á impor pena mais grave do que a aplicável no momento da ocorrência do delito. Se,
depois de perpetrado o delito, a lei estipular a imposição de pena mais leve, o delinquente deverá dela
beneficiar-se.
c) Fundamento Jurídico: uma lei prévia e clara produz importante efeito intimidativo.
Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.
“Crime”... abrange contravenções penais? Estão garantidas por esse princípio, visto que
espécie de infração penal.
“Pena”... abrange medidas de segurança?
1ª Corrente: o princípio da legalidade não abrange medida de segurança, pois seu fim não é punir,
mas sim CURAR. E a cura não precisa desta restrição. Francisco de Assis Toledo.
2ª Corrente: princípio da legalidade abrange medida de segurança, pois apesar de curativa, não
deixa de ser uma espécie de sanção penal, não se pode negar seu caráter aflitivo. STF
prevalece.
Releitura moderna do art. 1º: no lugar de crime, “infração penal” e no lugar de pena, “sanção
penal”.
OBS: Art. 3º do CP Militar, observa o princípio da reserva legal (“lei”), porém não observa a
anterioridade (“lei vigente ao tempo da sentença”), sem anterioridade, não há princípio da
legalidade. NÃO foi recepcionado pela CF.
Vejamos:
3.1. NÃO HÁ CRIME SEM LEI (SENTIDO ESTRITO), “NULLUM CRIMEN NULLA POENA SINE
LEGE”.
Medida provisória cria crime? Não sendo lei em sentido estrito, não pode mais criar crime nem
cominar pena.
1ª Corrente: medida provisória não pode versar sobre DP nem incriminador nem não incriminador.
Existe obstáculo expresso na CF, ela não admite. Prevalece na doutrina.
CF art. 62, § 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria:
I - relativa a:
b) direito penal, processual penal e processual civil;
2ª Corrente: criação de crime é coisa de lei em sentido estrito, mas o que não for criar crime, pode
ser objeto de outras fontes normativas, como medida provisória. Admite medida provisória
versando sobre DP, desde que seja o DP não incriminador. CORRENTE DO STF.
O STF, no RE 254.818, discutindo os efeitos benéficos trazidos pela MP 1571/97 (que permitiu o
parcelamento de débitos tributários e previdenciários com efeito extintivo da punibilidade),
proclamou sua admissibilidade em favor do réu. Medida Provisória pró-réu.
Resolução do TSE (cria, por exemplo, o crime “boca de urna”)? A exemplo da Medida Provisória,
tem força normativa, mas não é lei em sentido estrito. Não pode criar crime, não comina pena.
Resoluções do CNJ/ CNMP? Também tem força normativa, mas não são leis em sentido estrito.
Não pode criar crime, nem cominar pena.
Lei delegada pode versar sobre DP? Art. 68, 1º, II da CF, “proibida versar sobre direitos
individuais”, como o DP é tocado pelos direitos individuais, lei delegada não poderá versar sobre
DP.
CF - Art. 68. As leis delegadas serão elaboradas pelo Presidente da República, que deverá solicitar a
delegação ao Congresso Nacional.
§ 1º - Não serão objeto de delegação os atos de competência exclusiva do Congresso Nacional, os de
competência privativa da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, a matéria reservada à lei
complementar, nem a legislação sobre:
II - nacionalidade, cidadania, direitos individuais, políticos e eleitorais;
3.2. LEI DEVE SER ANTERIOR AOS FATOS QUE BUSCA INCRIMINAR, “NULLUM CRIMEN
NULLA POENA SINE LEGE PRAEVIA”
3.3. LEI ESCRITA, “NULLUM CRIMEN NULLA POENA SINE LEGE SCRIPTA”
Busca-se evitar o costume incriminador (nullum crimen nulla poena sine lege scripta). Não impede
o costume interpretativo.
Exemplo: art. 155, §1º repouso noturno – costume do local dirá.
3.4. LEI ESTRITA, “NULLUM CRIMEN NULLA POENA SINE LEGE STRICTA”
Busca-se evitar analogia incriminadora. Não se quer evitar a analogia, e sim a analogia
incriminadora (nullum crimen nulla poena sine lege stricta).
A analogia em bonam partem é admitida.
3.5. LEI CERTA, “NULLUM CRIMEN NULLA POENA SINE LEGE CERTA”, PRINCÍPIO
TAXATIVIDADE
De fácil entendimento.
OBS:
Lei 7.170/83 LSN - Art. 20 - Devastar, saquear, extorquir, roubar, sequestrar, manter em cárcere privado,
incendiar, depredar, provocar explosão, praticar atentado pessoal ou atos de terrorismo, por inconformismo
político ou para obtenção de fundos destinados à manutenção de organizações políticas clandestinas ou
subversivas.
Pena: reclusão, de 3 a 10 anos.
O que são atos de terrorismo? Tipo penal que traz expressões muito porosas, muito ambíguas,
portanto, vem se defendendo que tal dispositivo é inconstitucional por ferir o princípio da
legalidade.
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou
permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso:
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.
Esta expressão é tão porosa, tão ambígua, que há juiz enquadrando aqui o “beijo lascivo”. Tal
expressão não seria certa.
CUIDADO: o cosmético e o saneante terão que ter finalidade terapêutica ou medicinal para
configurar o crime.
Já no 1º-B pune quem DISPONIBILIZA PRODUTO NÃO FALSIFICADO, PORÉM IRREGULAR. Pune com 10
a 15 anos. Ele não trabalha com produto corrompido, mas não tem autorização da vigilância, por exemplo.
DESNECESSÁRIA, deveria deixar o Direito Administrativo cuidar deste comportamento, não precisava do DP
aplicado aqui. Necessidade ligada à Legalidade.
§ 1º-B - Está sujeito às penas deste artigo quem pratica as ações previstas no § 1º em relação a produtos em
qualquer das seguintes condições:
I - sem registro, quando exigível, no órgão de vigilância sanitária competente;
*Rogério Sanches
*Alexandre Salim
É idealizada por Luigi Ferrajoli (obra Direito e Razão).
Quando falo em legalidade estou falando no DIREITO DE PUNIR versus GARANTIA DO
CIDADÃO.
Como Ferrajoli expõe o garantismo? Qual técnica se utiliza para aumentar a liberdade do
homem e diminuir ao máximo o poder punitivo do Estado?
Eles podem ser divididos em três grupos: garantias relativas à pena; garantias relativas ao delito e
garantias relativas ao processo.
3-Garantias Relativas ao
Processo:
3ª) Nulla lex poenalis sine necessitare (não há pena sem necessidade): aqui está o princípio da
necessidade (intervenção mínima)
1ª) Nulla necessitas sine injuria (não há necessidade sem lesão): não há necessidade sem
relevante e concreta lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado (princípio da lesividade ou
ofensividade).
Em razão desse princípio, LFG vem há anos dizendo que os crimes de perigo abstrato não foram
recepcionados pela CF.
2ª) Nulla injuria sine actione (não há lesão sem ação): daqui se extrai o princípio da
exteriorização ou exterioridade da ação, que proíbe o direito penal do autor e consagra o direito
penal do fato, pois pensamentos e estilo de vida não podem ser criminalizados.
Há quem leve esse axioma ao extremo, considerando que a reincidência deveria ser uma
atenuante, e ainda gerar indenização ao criminoso, pois o Estado chamou para si o dever de
reabilitar e não cumpriu.
3ª) Nulla actio sine culpa (não há ação sem culpa): princípio da culpabilidade.
1ª) Nulla culpa sine judicio (princípio da jurisdicionariedade): quem diz se há ou não culpa é o
órgão judicial, após o devido processo legal.
2ª) Nullum judicium sine acusationes (princípio acusatório): o juiz não pode agir de ofício.
3ª) Nulla accusatio sine probatione (não há acusação sem prova): princípio do ônus da prova.
Ferrajoli, para explicar o que é direito fundamental, ele parte de alguns pontos de vista: Justiça e
Validade.
Para dizer o que são os direitos fundamentais, Ferrajoli os define a partir da Teoria do Direito.
Direitos Fundamentais são aqueles universalmente atribuídos a todos enquanto pessoas, enquanto
cidadãos ou então enquanto sujeitos capazes de agir.
Importante, então, gravar o caráter Universal dos Direitos Fundamentais. Definição
Ideologicamente neutra, podendo valer para qualquer tipo de regime e de ideologia, até para o
fascismo e o anarquismo. Ele não quer dizer quais são os Direitos Fundamentais, não quer fechar
a questão. Diz o que deveriam ser.
Leis de Atuação
a) Direito à Dignidade da Pessoa Humana: Aqui, Ferrajoli faz uma longa digressão utilizando-se da
doutrina de Kant. Discorre sobre aquilo que não possui valor e aquilo que pode ser trocado por seu
equivalente. Diz que o homem enquanto pessoa é que possui dignidade, não pode ser trocado por
equivalente algum, e ele é que está vinculado a direitos que lhe garantem respeito e esses são
exatamente aos ligados à liberdade e à prestação pelo Estado.
b) Igualdade. Fala que essa pressupõe a proteção das diferenças e redução das desigualdades.
Igualdade, para ele, não é Igualdade Material como muitos referem. Defende que igualdade seria a
não exclusão de ninguém.
c) Paz, contida já no Preâmbulo da Carta de 1948. Ao falar desse direito, refere que o preâmbulo
da DDHC faz um link entre Direitos Humanos e a Paz, alegando que tanto menos serão os conflitos
violentos quanto maior for a paz. Ferrajoli fala do Direito Internacional (ao qual se refere como um
conjunto de promessas não cumpridas ou vazias, pois não há um Órgão Internacional de atuação,
situação que começa a mudar com o TPI). Começa a trabalhar com órgãos ou instituições de
governo e de garantia. Para ele, a tripartição de Poderes é coisa do passado. Fala que os direitos
fundamentais não podem ficar dentro de uma gaveta sob a nomenclatura ampla de Administração
Pública. Não admite que a fonte de legitimação acabe sendo a representatividade política. A fonte
de legitimação, segundo ele, é a submissão cega à CF e à lei.
Os Direitos Fundamentais são garantias para os mais fracos. Garantem o Direito à Vida em 1°
lugar, contra quem é mais forte fisicamente. Em 2° lugar garantem os Direitos de Liberdade
contra quem é mais forte politicamente e, em terceiro lugar, garantem os Direitos Sociais em face
de quem é mais forte economicamente.
b2) Heterovitelinea (heteróloga): instância legislativa diversa. Exemplo: lei penal complementada
pela lei civil. O complemento está em outro documento. EX.: Art. 236 do CP, o qual é
complementado pelo CC, “impedimento”.
c) NPB ao revés (às avessas, invertido, revertido, ao invés): nesse caso o complemento
normativo penal diz respeito à sanção penal. O complemento é da sanção penal e não do conteúdo
proibitivo. O complemento normativo neste caso só pode ser lei. Ex: Lei 2889/56, art. 1º.
Art. 1º Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso,
como tal:
a) matar membros do grupo;
b) causar lesão grave à integridade física ou mental de membros do grupo;
c) submeter intencionalmente o grupo a condições de existência capazes de ocasionar-lhe a destruição física
total ou parcial;
d) adotar medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo;
e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo;
Será punido:
Com as penas do art. 121, § 2º, do Código Penal, no caso da letra a;
Com as penas do art. 129, § 2º, no caso da letra b;
Com as penas do art. 270, no caso da letra c;
Com as penas do art. 125, no caso da letra d;
Com as penas do art. 148, no caso da letra e;
d) NPB de dupla face (duplamente em branco, duplamente remetido): tanto o preceito primário
como o preceito secundário são incompletos (crime remetido, pena remetida). Exemplo: art. 304 do
CP. Documento falso. Preceito primário caracteriza crime remetido. Remete para a descrição típica
de outros artigos. E no preceito secundário também tem hipótese de pena remetida.
f) Tipo aberto: depende de complemento VALORATIVO. Será dado pelo juiz na análise do caso
concreto. Exemplo: crime culposo. Quem vai analisar se houve ou não negligência no caso
concreto será o juiz. Depende de valoração.
*Exemplo de tipo culposo que excepcionalmente não é aberto, é fechado? Art. 180,
Apesar de formular proibição genérica complementável, a norma penal em branco não fere o
princípio da taxatividade, uma vez que sua eficácia fica sustada até que complementada seja.
NPB em sentido estrito, CRÍTICAS:
1) NPB fere o princípio da taxatividade. Exemplo: vender “drogas”. Se eu não sei o que é drogas,
significa que ela não determina ao certo o que se quer incriminar.
REBATENDO: enquanto não complementada, não tem eficácia jurídica ou social. Enquanto
permanece incerta, não devemos obediência a elas.
1ªC: O complemento é dado por espécie normativa diversa da lei. Quem vai dizer o que é ou não
drogas não é o legislador, é o executivo, através de uma portaria (cadê o fundamento
democrático do Princípio da Legalidade?). Quem estaria em última análise legislando, é o
executivo. A NPB em sentido estrito é inconstitucional. Esta modalidade de norma ofende o
Princípio da Reserva Legal, visto que o seu conteúdo poderá ser modificado sem que haja uma
discussão amadurecida da sociedade através do parlamento. Rogério Greco. Tese defensoria.
2ªC - REBATENDO: na NPB própria/sentido estrito, há um tipo penal incriminador que traduz os
requisitos básicos do delito (verbo do tipo, sujeitos, objetos jurídico e material, etc.). A autoridade
administrativa limita-se a explicitar um dos requisitos típicos dados pelo próprio legislador. O que
não se pode permitir é o executivo explicitar requisitos básicos (sujeitos do crime, núcleos do
tipo...), agora explicitar os requisito dados pelo legislador, não há problema, até por que a lei não
deve ser mudada sempre que uma portaria é modificada. LFG. Tese Majoritária. Tese MP.
Não basta uma legalidade formal (obediência aos trâmites procedimentais – às formas exigidas
para a criação do diploma legal, a exemplo do que ocorre com o procedimento necessário para sua
tramitação, o quorum para aprovação do projeto etc. – lei vigente), havendo que existir uma
legalidade material (obediência às garantias impostas pela constituição e tratados de direitos
humanos – lei válida). Legalidade formal faz da lei VIGENTE, legalidade material faz da lei
VÁLIDA.
Regime integralmente fechado: é oriundo de uma lei vigente, porque ela obedeceu todos tramites
processuais legislativos, porém não era lei válida, para o STF ele feria de uma só vez o princípio da
isonomia, o princípio da razoabilidade, o princípio da humanidade das penas, o princípio da
individualização das penas.