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Cada uma das três hipóteses, que tem ampla aceitação popular e certa influência
em interpretações acadêmicas (em diferentes épocas e diferentes graus) é contraposta
por exemplos empíricos em que se comparam duas sociedades com geografia ou cultura
semelhantes (como Coréia do Sul e Coréia do Norte, ou as duas Nogales – mexicana e
estadunidense – separadas pelas fronteiras nacionais), mas cujo desenvolvimento
institucional levou a situações sociais distintas. A última – da ignorância – é contraposta
por um dos argumentos centrais do autor: em sociedades pobres, ou melhor, em que
imperam instituições políticas e econômicas extrativistas, é do interesse da elite
governante a manutenção da pobreza, para que não se rompa com a extração material e
o domínio político.
Do contrário, nas instituições inclusivas, há um círculo virtuoso que faz com que
a prosperidade advinda da distribuição de poder econômico e político tenda também a
se manter e mesmo a aumentar. Garantidas a propriedade privada e a regularidade
contratual, sobretudo a partir de uma representação política efetiva que permita
controla-las, os indivíduos têm os incentivos necessários para seguir investindo no
aperfeiçoamento da produção. Os autores dão bastante destaque para a propriedade
intelectual, expressa por meio de patentes, que também garantiria essa segurança em
investir na inovação tecnológica. Nas instituições inclusivas, ficaria garantida a
“destruição criadora”, pois na medida em que uma técnica produtiva se mostra
econômica e materialmente mais eficiente, não há uma elite econômica suficientemente
poderosa para proibir sua implementação efetiva, ao passo que as técnicas antigas
perderão espaço pela deficiência em relação às novas. Dessa forma, há um crescimento
econômico sustentado, justamente por não ser centralizado ou não estar sujeito as
arbitrariedades de um sistema político autárquico.
Por que a Inglaterra e não outras monarquias europeias como a França, também
centralizada politicamente, ou a Espanha, com seu vasto domínio colonial? A resposta
dos autores está nas “pequenas diferenças históricas” (Cap. 4) que permitiram tais
instituições inclusivas incipientes emergirem, sem que houvesse uma contra investida
forte no sentido da centralização, como houve, por exemplo, em Veneza, no fim da
idade média, ou em Roma, que deixou de ser uma república para tornar-se um império.
Na Espanha, prevaleceu o temor das elites acerca da inovação. Na França, um
absolutismo que tentou se manter a todo custo até que o conflito fosse deflagrado na
revolução e, então, pudesse iniciar um ciclo inclusivo, que se estabeleceria plenamente
apenas décadas depois. A partir da propagação de tal revolução industrial, os autores
inferem que prosperaram aqueles países que conseguiram incorporar as técnicas
produtivas mais avançadas de maneira mais efetiva, o que depende, obviamente, da
criação de instituições inclusivas.
Em segundo lugar, cabe destacar que, apesar de procurar distanciar-se dos erros
das Teorias da Modernização, os autores incorrem, de certa forma, na naturalização de
um determinado padrão normativo de sociedade como universalmente desejável.
Carregando esta marca normativa na definição de prosperidade, ocorre um certo
anacronismo na aproximação conceitual de sociedades muito distintas. Por exemplo, as
sociedades coloniais americanas dos séculos XVI-XVIII são conceitualmente próximas
às sociedades socialistas do século XX, por serem ambas caracterizadas como
extrativistas e, consequentemente, distanciadas de outras sociedades contemporâneas a
estas últimas, com as quais, certamente, guardam muitas similaridades institucionais
que não são expressas na categorização do autor. Outra consequência são comparações
de renda entre sociedades muito distantes temporalmente, como a Inglaterra no século
XVI e os Estados africanos contemporâneos, o que também é problemático quanto ao
anacronismo de tal relação.