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DD268 - ANÁLISE ECONÔMICA DO DIREITO

ATIVIDADE PRÁTICA
PROGRAMA DE ESTUDOS:

Nome completo: KELLEN ALVES JAUHAR GERMANO BRANDÃO

Data: 26/06/2022

I. Após ler o caso descrito, responda às seguintes perguntas:

1. A premissa exposta de que atos ilegais em detrimento dos atos legais causam um
maior benefício econômico, social e de tempo, justifica os atos de criminalidade
em uma sociedade?

RESPOSTA:

Em que pese a falsa sensação de que os atos ilegais causem benefícios


econômico, social e de tempo, a verdade é que o custo desses atos ilegais é maior do
que seus benefícios.

A utilização da análise custo-benefício para o entendimento do processo de


tomada de decisão dos indivíduos é uma tradição na teoria econômica. Desde fins do
séc. XVIII e início do séc. XIX, nos escritos de Bentham, Say e Senior o agente
econômico é considerado egoísta e racional, e visa à maximização da utilidade ou
prazer derivados de seus atos e à minimização de seus custos ou sofrimento. (HUNT,
1985, cap. 6). Assim, desde que a utilidade ou benefício de uma ação supere seus
custos, a ação será empreendida.

A análise custo-benefício pode, portanto, ser aplicada ao estudo de fenômenos


bastante diversos, incluindo a questão da violência. Becker (1968) foi o primeiro autor
a aplicar este instrumento ao estudo da criminalidade, tratando, em um primeiro
momento, das penalidades ótimas e aplicando, em ensaios posteriores, a análise
custo-benefício no nível individual. Para tanto, é necessário supor que o indivíduo que
comete um crime e/ou ato de violência o faz racionalmente, ou seja, de forma
deliberada. Assim, o crime seria fruto de um cálculo prévio, onde os ganhos da
atividade são comparados com seus custos. Se o benefício total (B) supera o custo
total (C), tal que B > C, o indivíduo comete um ato ilícito.

Nesse ponto, ao considerarmos os benefícios apenas, teríamos como


justificável a prática de atos ilegais, contudo o “preço que se paga pelo crime” tem um
peso que funciona, a meu ver, como o freio necessário à sociedade, fazendo com que
a maior parte da população mundial não queira cometer atos ilícitos.
Os custos da atividade criminal, sendo considerados: o custo material, custo de
oportunidade, custo psicológico e o custo esperado de punição (trata-se do custo
esperado, já que a punição não é um evento certo. Há uma probabilidade de que o
criminoso seja efetivamente punido), faz com que os benefícios dos atos ilegais não
sejam suficientemente atraentes ou justifiquem sua prática.

Dessa forma, entendo que os atos de criminalidade numa sociedade não são
justificados pelos benefícios, mas sim são freados por causa dos custos.

2. Na sua opinião, você acha que as medidas de repressão da criminalidade (como


os gastos com polícia, tribunais, juízes, oficiais, imóveis, prisões, etc.) solucionam
os problemas que subjazem os atos ilegais de natureza penal? Explique a sua
resposta.

RESPOSTA:

As medidas de repressão da criminalidade, por si só, não solucionam os


problemas penais.
O Direito Penal, em poucas palavras, resume-se no poder que tem o Estado de
estabelecer normas, mediante o Poder Legislativo, a fim de reprimir o cometimento de
crimes com o uso de penas. Ou seja, ele é limitador do poder punitivo. Vejamos,
segundo ZAFFARONI:

[...]podemos dizer provisoriamente que o direito penal (legislação


penal) é o conjunto de leis que traduzem normas que pretendem
tutelar bens jurídicos, e que determinam o alcance de sua tutela, cuja
violação se chama "delito", e aspira a que tenha como consequência
uma coerção jurídica particularmente grave, que procura evitar o
cometimento de novos delitos por parte do autor. No segundo sentido,
direito penal (saber do direito penal) é sistema de compreensão (ou de
interpretação) da legislação penal.1

O punitivismo estatal se mantém erguido no dia a dia e na crença popular de


que sua existência está atrelada à defesa social, que segundo BARATTA é o elo entre a
Escola Clássica e a Escola Positivista, objetos de estudo do Direito Penal mundial.
Seja qual for a tese aceita, um fato é certo: tanto na Escola clássica
quanto as escolas positivistas realizavam um modelo de ciência penal
integrada, ou seja, um modelo no qual ciência jurídica e concepção
geral do homem e da sociedade estão estreitamente ligadas. Ainda que
suas respectivas concepções de homem e da sociedade sejam
profundamente diferentes, em ambos os casos nos encontramos, salvo
exceções, em presença da afirmação de uma ideologia da defesa social,
como nó teórico e político fundamental do sistema científico. 2

O princípio do interesse social, cujo discurso busca legitimar a atuação do


Estado por tratar as condutas do direito natural, que extrapolam o convívio harmônico
1
ZAFFARONI, Eugenio Raúl; PIERANGELI, J. Henrique. Manual de Direito Penal Brasileiro – 9. ed. rev. e
atual. – São Paulo: Revista dos tribunais, 2011, p. 83/84.
2
BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal. 3. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2002,
p. 42.
da sociedade, em penalmente tipificadas. Segundo o discurso, tais condutas são
prejudiciais ao convívio e às condições fundamentais de existência.
Princípio do interesse social e do delito natural. O núcleo central dos
delitos definidos nos códigos penais das nações civilizadas representa
ofensa de interesses fundamentais, de condições essenciais à
existência de toda sociedade. Os interesses protegidos pelo direito
penal são interesses comuns a todos os cidadãos. Apenas uma
pequena parte dos delitos representa violação de determinados
arranjos políticos e econômicos, e é punida em função da consolidação
destes (delitos artificiais)3

Entretanto, a política de punir não está sendo aplicada da maneira com que se
apregoa o discurso. Podemos afirmar, com enorme convicção, que não adianta punir o
crime enquanto não educar os membros da sociedade, para que possam entender o
que é moralmente certo e errado dentro de uma relação de coexistência social.
Vejamos o que afere CESARE BECCARIA:
É melhor prevenir os crimes do que ter de puni-los. O meio mais
seguro, mas ao mesmo tempo mais difícil de tornar os homens
menos inclinados a praticar o mal, é aperfeiçoar a educação. 4

Porém, o próprio Estado não tem interesse em educar a massa, pois prefere
continuar a promover o status de garantidor. Assim, é mais fácil os governantes se
manterem no poder. Quanto menor é a instrução do cidadão, mais fácil é realizar sua
manipulação.

Dessa forma, promover a educação e investir na formação primária traria


maiores benefícios e seria mais eficaz do que só reprimir o crime.

3. Quais são as suas propostas para reduzir a criminalidade, levando em


consideração as premissas fundamentais da análise econômica do Direito?

RESPOSTA:

As relações entre Direito e Economia, muito embora tenham se firmado no


campo dos contratos, atualmente tem se voltado para outros planos jurídicos – no
caso, o Direito penal –, descortinando novas abordagem e formas de pensamento
sobretudo para entender o comportamento criminoso e seu custo.

A Análise Econômica do Direito proporcionou uma nova perspectiva no


enfrentamento de fatores sociais através do prisma da Economia, na latente união
com a ótica jurídica. Com isto, a Análise Econômica do Direito penal (Economia do
Crime, Análise Econômica do Crime, Criminal Law and Economics – assumindo

3
BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal. 3. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2002,
p. 42.
4
BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas. e-book. edição eletrônica:
http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/delitosB.html. 2002.
terminologias diversas) apresentou novas leituras dos fenômenos sociais criminais a
partir de fundamentos da Economia.

Na concepção de Steven Shavell, a Economia trata o Direito penal como uma


das formas de controle das atividades que se apresentam como nocivas e contrárias às
normas. O Direito penal concorre com outros campos do direito, tais como o
administrativo e o tributário, como forma de cooperação na prevenção de atividades
que imponham custos sociais que excedam os seus benefícios sociais. 5

Uma parte da literatura oriunda da Law and Economics levanta o


questionamento se os comportamentos potencialmente criminosos se afligem diante
o Direito penal. Surge a pergunta: os criminosos em potencial mudam seu
comportamento em resposta às diferentes propostas de uma política criminal 6?

Na busca pelo equilíbrio econômico, Vilfrido Pareto 7 apresentou o que ficou


conhecido como o Ótimo de Pareto (também chamado de Pareto Eficiente ou
Melhoria de Pareto). Em suma, o Ótimo de Pareto é o exato momento de equilíbrio
em que todas as ações a serem tomadas não incrementam a condição dos agentes
sem prejudicar outros. Em um mundo onde os recursos são escassos e limitados, para
alguém ganhar, outra pessoa não precisa perder. O ponto ótimo é o exato momento
desse equilíbrio8.

O Ótimo de Pareto e o Direito se encontram quando se assume que os agentes


econômicos ao agirem de forma racional adotam um ponto ótimo quando tem essa
possibilidade, ou seja, se uma mudança de condição beneficia uma pessoa sem
prejudicar ninguém, tal alteração deve ser realizada. Dessa forma, emerge a
possibilidade do Direito penal buscar formas de sanções penais ótimas, com gastos
mínimos aos Estado e alto grau de eficiência.

Assim, para reduzir a criminalidade, evidencia-se que uma sanção penal ótima
se apresenta possível, quando da redução dos custos para o Estado e no aumento da
dissuasão do individuo na atividade criminosa, através da certeza da punição. A
Análise

5
SHAVELL, Steven. The Optimal Structure of Law Enforcement. Journal of Law and Economics, v. 6, n. 1,
Part 2 (Apr., 1993), p. 255-287.
6
Esse é o objetivo da literatura sobre a melhor aplicação da lei. A partir de Gary Becker (1968), centrou-
se no equilíbrio entre a probabilidade e a gravidade da punição como meio de conseguir uma aplicação
da lei eficiente. A principal contribuição desta literatura é fornecer uma teoria do comportamento
criminal e como os criminosos reagem aos incentivos. Mais em: BECKER, Gary. Crime and punishment:
an economic approach. Journal of Political Economy, n. 76, 1968. p. 169-217. Novas pesquisas
atualizadas recentes incluem N. Garoupa, “The Theory of Optimal Law Enforcement” (1997) 11 Journal
of Economic Surveys,267-296; Polinsky e S. Shavell, “The Economic Theory of Public Enforcement of
Law” (2000) 38 Journal of Economic Literature, 45-76; e A.M. Polinsky e S. Shavell, “Aplicação Pública de
Direito, incluindo
Direito penal”, Manual de Direito e Economia (Amsterdã: Elsevier, 2007). Quanto ao apoio empírico para
a hipótese de dissuasão, ver em S. Levitt e T. Miles, “Estudo empírico de punição criminal”, Manual de
Direito e Economia (Amsterdã: Elsevier, 2007).
7
PARETO, Vilfrido. Manual de economia política. 2. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1987.
8
DOMINGUES, Victor Hugo. Ótimo de Pareto. In: RIBEIRO, Marcia Carla Pereira; KLEIN, Vinicius (Coord.).
O que é análise econômica do direito: uma introdução. Belo Horizonte: Fórum, 2011, p. 40.
Econômica do Direito penal é a ferramenta propulsora para o estudo, demonstrando-
se
eficiente na presente investigação.

4. Na sua opinião, você investiria no fortalecimento e em novas medidas de


repreensão contra o crime como, por exemplo, tecnologia, armas, prisões,
sistema judicial ágil) ou você considera que se deve combater as motivações
econômicas que incitam a cometer atos ilegais? Explique sua resposta:

RESPOSTA:

Considerando as consequências que o crime traz para a sociedade, as medidas


de repressão que funcionem são bem-vindas. Nesse ponto, fortalecer medidas de
repreensão pode ser adequada, se conjuntamente com isso existir o combate às
motivações econômicas que incitam os atos ilegais.

O crime não pode compensar! Essa deve ser a premissa para o combate às
práticas ilegais. Então, o custo do crime deve ser sempre maior que seus benefícios, o
que acaba por responder à pergunta.

5. Entendendo que uma sanção ou sentença pode ser entendida como igual ao
preço na análise econômica do direito, você considera que maiores sanções nas
leis penais reduziriam a criminalidade ou só aumentariam os gastos públicos em
áreas como prisões, sistema prisional, a polícia, sistema judicial, sem quaisquer
efeitos positivos? Quais medidas você proporia?

RESPOSTA:

O crime não pode compensar! Essa deve ser a premissa para o combate às
práticas ilegais. Então, o custo do crime deve ser sempre maior que seus benefícios.
Nesse sentido, ainda que maiores sanções contribuam com a redução da
criminalidade, essa medida não sustentaria essa redução por muito tempo.

Melhorar a distribuição de recursos para o setor de segurança, envolve a


clareza de que é a questão da violência é maior do que apenas repressão. "Tem que
investir na polícia do ponto de vista de prevenção, em inteligência, investigação, no
sentido de prevenir a violência”9.

Em paralelo a isso, acredito que o investimento nas áreas sociais – educação,


saúde, saneamento, moradia, trabalho – podem colaborar no combate à
criminalidade.

9
Elisandro Lotin, pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Leia mais em:
https://www.gazetadopovo.com.br/republica/investimento-combate-violencia-brasil/Copyright © 2022,
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REFERÊNCIAS:

1. BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal. 3. ed. Rio


de Janeiro: Revan, 2002, p. 42.
2. BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas. e-book. edição eletrônica:
http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/delitosB.html. 2002.
3. DOMINGUES, Victor Hugo. Ótimo de Pareto. In: RIBEIRO, Marcia Carla Pereira;
KLEIN, Vinicius (Coord.).O que é análise econômica do direito: uma introdução.
Belo Horizonte: Fórum, 2011, p. 40.
4. HUNT, E. K. História do pensamento econômico 3Ş ed. Rio de Janeiro: Campus,
1985, cap. 6.
5. PARETO, Vilfrido. Manual de economia política. 2. ed. São Paulo: Nova Cultural,
1987.
6. SHAVELL, Steven. The Optimal Structure of Law Enforcement. Journal of Law and
Economics, v. 6, n. 1, Part 2 (Apr., 1993), p. 255-287.
7. ZAFFARONI, Eugenio Raúl; PIERANGELI, J. Henrique. Manual de Direito Penal
Brasileiro – 9. ed. rev. e atual. – São Paulo: Revista dos tribunais, 2011, p. 83/84.

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