Você está na página 1de 28

CRIMINOLOGIA, DIREITO

PENAL E POLÍTICA Diferenças e relações


CRIMINAL
O Direito, como sistema de controle social e orientação de
condutas, é uno.
 Mas, para um estudo mais detalhado, bem como para sua
aplicação em conformidade com a natureza dos fatos jurídicos e
com a relação entre os sujeitos destinatários da norma, é
fracionado em ramos distintos.
 No que tange ao Direito Penal, tal divisão é, tecnicamente,
necessária, pois se trata de um ramo do Direito que lida com
valores essenciais à convivência social e sérias restrições à
liberdade dos indivíduos.
• Hoje, a criminologia e a política criminal não têm um caráter
meramente acessório em relação à dogmática penal ou Direito Penal.
• Contemporaneamente, compreende-se que a criminologia, a política
criminal e o Direito Penal são espécies das ciências penais ou
criminais, cada qual com sua peculiaridade, mas todas vinculadas, de
algum modo, ao estudo do crime, do criminoso e da criminalidade.
• Franz Von Liszt foi o primeiro criminalista a compreender e explicitar a
necessidade de se integrarem os conhecimentos do Direito Penal, da
política criminal e da criminologia, uma vez que configuram ciências
autônomas, mas intrinsecamente ligadas.
• Assim, o Direito Penal, a política criminal e a criminologia são os
três pilares do sistema das ciências criminais, inseparáveis e
interdependentes.
DIREITO PENAL
• Trata-se de um ramo do Direito que se ocupa da tutela estatal dos
principais bens jurídicos (vida, integridade física, integridade moral,
patrimônio, etc.), impondo como sanção, para quem infringir suas
normas, uma pena.
• Permite, única e legitimamente pelo Estado, coerção à liberdade
individual; portanto, deve ser utilizado como a última opção – ultima
ratio.
• Funciona, igualmente, como regulador, possibilitando e limitando o
poder punitivo do Estado por meio dos tipos penais (normas
incriminadoras), evitando que corram abusos aos direitos mais
essenciais dos indivíduos, conforme Nucci (2012).
• Na visão de Jesus (2017, p. 47), deve-se compreender o Direito
Penal: “como o conjunto de normas que ligam ao crime, como
fato, a pena, como consequência, e disciplinam também as relações
jurídicas daí derivadas, para estabelecer a aplicabilidade das
medidas de segurança e a tutela do direito de liberdade em face do
poder de punir do Estado”.
• Assim, pode-se afirmar que o Direito Penal se valerá das penas,
aos imputáveis, e das medidas de segurança, aos inimputáveis,
como medidas de prevenção ou repressão, ou ainda, como
consequências jurídicas do seu descumprimento.
• O Direito Penal configura o segmento do ordenamento jurídico que seleciona
comportamentos humanos mais graves e perniciosos à coletividade, capazes
de abalar a convivência social, e os criminaliza, descrevendo-os como
infrações penais, cominando-lhes sanções.
• O Direito Penal estabelece também as regras complementares e gerais
necessárias à sua correta e justa aplicação.
• O Direito Penal é uma ciência dogmática, pois busca, no intuito de decidir os
conflitos, analisar as normas penais (normas em sentido amplo: princípios e
regras), sua interpretação e aplicação adequadas, sem, necessariamente,
realizar avaliações críticas ou abstrações sobre o ordenamento penal proposto.
• É por isso que o estudo do Direito Penal se denomina também dogmática
penal.
•A dogmática penal examina o crime como norma, buscando um
“dever ser” socialmente adequado ao rechaçar as condutas
delituosas, assim como se atenta na tipicidade do fenômeno
criminoso, na antijuridicidade da conduta e na culpabilidade do
autor do delito diante do sistema penal existente.

• A finalidade do Direito Penal é a proteção dos bens jurídicos


mais importantes à vida em sociedade, mas apenas intervindo nas
situações fáticas que não puderem ser tuteladas por outros ramos
do Direito, como o Direito Civil, Administrativo, Tributário, etc.,
O Direito Penal
• é ramo do Direito Público;
• é uma ciência normativa – pois dispõe sobre o “dever ser”, que
corresponde à norma;
• é uma ciência valorativa – pois, fazendo juízo dos valores mais
essenciais à sociedade, tutela-os e protege-os;
• é uma ciência sancionadora – pois, por meio da pena, sanciona,
educa e previne, modulando condutas ao que compreende por
adequado socialmente e condenando as condutas criminosas.
CRIMINOLOGIA
• Mas para uma compreensão da totalidade do fenômeno delituoso,
entendido como fenômeno complexo, não basta a mera adequação
do fato à norma.
• É necessário que se analise, por exemplo, os motivos que levam
os indivíduos a delinquir, assim como as formas de combater a
criminalidade.
• Diferentemente do Direito Penal, que se preocupa com o crime
como norma, a criminologia se preocupa com o crime como
fato social, em seus aspectos mais amplos.
• Nucci (2012, p. 19) conceitua criminologia como:
“[...] a ciência que estuda o crime, como fenômeno social, e o
criminoso, como resultado desse fenômeno, sendo ele, integrante do
cenário ilícito, não somente como agente, mas também quanto às
causas do delito e da motivação para o cometimento de infrações
penais”.
 A criminologia investigará de que modo o contexto social em que
está inserido o autor do crime influenciou sua conduta, qual o perfil
do ofensor, quais as circunstâncias e regiões em que tais delitos são
cometidos com maior frequência, ou, ainda, em que situações as
vítimas foram alvo do crime, para que, mediante a avaliação desses
dados práticos, consiga levantar as possíveis soluções para o
fenômeno criminal.
 Dessa forma, a criminologia terá como objeto a análise crítica do
próprio delito, do delinquente, da vítima e do controle social
adequado à evitação das condutas delituosas, do encarceramento e
de suas consequências na vida do encarcerado e no seu retorno à
sociedade.

 Para tanto, terá de se valer de outras ciências, tais como a


sociologia, a psicologia, a antropologia, pois configura uma
ciência interdisciplinar. Contudo, de modo diverso da dogmática,
terá o fato, a experiência e o ser (e não o dever ser) como pano de
fundo de seu exame.
 Ocupa-se a criminologia do estudo do delito, do delinquente, da vítima
e do controle social do delito e, para tanto, lança mão de um objeto
empírico e interdisciplinar.
 Diferentemente do Direito Penal, a criminologia pretende conhecer a
realidade para explicá-la, enquanto aquela ciência valora, ordena e
orienta a realidade, com o apoio de uma série de critérios axiológicos. A
criminologia aproxima-se do fenômeno delitivo sem prejuízos, sem
mediações, procurando obter uma informação direta deste fenômeno.
 Se à criminologia interessa saber como é a realidade, para explicá-la e
compreender o problema criminal, bem como transformá-la, ao Direito
Penal só lhe preocupa o crime enquanto fato descrito na norma legal,
para descobrir sua adequação típica.
 Molina e Gomes (2000, p. 148) estabelecem como as três metas da
criminologia, no que concerne à intervenção do Estado junto ao delinquente:
1. Examinar qual o impacto real da pena por quem a cumpre; quais os efeitos
que produz, dadas suas atuais condições de cumprimento, não os fins e
funções “ideais” que lhes são assinalados pelos teóricos a partir de posições
“normativas”;
2. Desenhar e avaliar programas de reinserção; programas que propiciem uma
efetiva reintegração do ex-condenado ao seu mundo familiar, laboral e social;
e
3. Fazer a sociedade perceber que o crime não é um problema exclusivo do
sistema legal, senão de todos, no intuito de que a sociedade assuma sua
responsabilidade e comprometa-se com a reinserção do ex-condenado. De
sorte que o crime seja “compreendido” em termos “comunitários”, como
problema nascido na e da comunidade à qual o infrator pertence.
 É oportuno lembrar que tanto o Direito Penal como a
criminologia estudam o crime, o criminoso e a criminalidade,
mesmo que de formas diversas, mas com interesses notoriamente
complementares.
 O Direito Penal, por meio de seu método dedutivo e dogmático,
se ocupa desses temas imersos em um ordenamento jurídico posto,
no qual há condutas tipificadas que cominam penas que se
estendem a todos.
 Já a criminologia, por meio de seu método indutivo e empírico,
se ocupa, igualmente, desses temas, mas com uma visão que
engloba o fato, o autor, a vítima, o contexto e o controle social,
buscando, nas raízes do fato, formas de prevenção e, até mesmo,
programas de intervenção junto ao infrator .
POLÍTICA CRIMINAL
 A política criminal trata do posicionamento do Estado (Poderes Executivo,
Legislativo e Judiciário) diante da criminalidade.
 A postura do Estado frente ao crime poderá ser “branda, média ou rígida'',
conforme a demanda da sociedade e os critérios eleitos pelos governantes,
refletindo-se na maneira de elaborar as leis, executá-las e criar mecanismos
para sua real eficiência.
 Política criminal é a ciência chamada a apreciar o direito existente sob o
ponto de vista da sua correlação com o fim do Direito Penal, – a repressão do
crime, e a indicar, dentre os meios disponíveis, os mais adequados para a
consecução desse fim.
 É a ciência da legislação penal apreciada quer quanto aos resultados do seu
desenvolvimento histórico, quer quanto às reformas que nela devem ser
introduzidas.
• “A política criminal se insere no contexto das ciências criminais tendo
como objeto de estudo a questão dos meios e recursos para fazer frente à
criminalidade, buscando suporte teórico nos estudos criminológicos e
fazendo análises sobre os sistemas punitivos vigentes” (PAULA, 2011, p.
23).
• “A Política Criminal é a ciência ou a arte de selecionar os bens (ou
direitos) que devem ser tutelados jurídica e penalmente e escolher os
caminhos para efetivar tal tutela, o que iniludivelmente implica a crítica
dos valores e caminhos já eleitos”. (ZAFFARONI, 1999 apud PAULA,
2011, p. 24).
• Para Nucci (2020), política criminal: ”trata-se de um método de
sistematização, organização e aplicação do direito penal, a ser adotado
pelos Poderes de Estado”.
• “É importante destacar que a política criminal, que se ocupa de estudar e
implementar medidas para a prevenção e controle do delito, constitui-se em
uma ciência autônoma e independente. Nem é, muito menos, uma parte da
criminologia.
• Na política criminal, influem não só aspectos empíricos sobre a prevenção e
controle do delito, mas também, e sobretudo, aspectos éticos, jurídicos,
constitucionais políticos, econômicos etc. A decisão final sobre se deve ser ou
não implementada uma determinada medida não cabe, pois, à criminologia.
[...]
• A política criminal objetiva, primordialmente, a análise crítica (metajurídica)
do direito posto, no sentido de bem ajustá-lo aos ideais jurídico-penais e de
justiça. Está intimamente ligada à dogmática, visto que na interpretação e
aplicação da lei penal interferem critérios de política criminal”. (MAÍLLO;
PRADO, 2019,p. 5 e 9).
• Mas “[...] o sistema de justiça criminal tem se apresentado como
um instrumento de exclusão, em que, de forma recorrente, a
mediação dá lugar à judicialização dos conflitos pela
criminalização e pela crescente geração de novos estereótipos de
‘criminosos’.

• A política criminal tem um importante papel no sentido de


proposição de alternativas ao que “está posto” como verdade, pois
a concepção pautada apenas no controle social pela via da punição
tem reproduzido a violência, ao invés de preveni-la” (PAULA,
2011, p. 24).
“Não são poucos os estudos que reconhecem a incapacidade do
sistema de justiça criminal, no Brasil – agências policiais,
Ministério Público, Tribunais de Justiça e sistema penitenciário –,
em conter o crime e a violência respeitados os marcos do Estado
Democrático de Direito. O crime cresceu e mudou de qualidade,
porém, o sistema de Justiça permaneceu operando como há três ou
quatro décadas. Em outras palavras, aumentou sobremodo o fosso
entre a evolução da criminalidade e da violência e a capacidade do
Estado de impor lei e ordem” (ADORNO, 2002 apud PAULA,
2011, p. 24).
• “A política
criminal, enquanto programa de controle do crime e da
criminalidade, no Brasil, influenciada pelo modelo norte-
americano, se configura como mera política penal, pois ”exclui
políticas públicas de emprego, salário, escolarização, moradia,
saúde e outras medidas complementares, como programas oficiais
capazes de alterar ou reduzir as condições sociais adversas da
população marginalizada do mercado de trabalho e dos direitos de
cidadania, definíveis como determinações estruturais do crime e
da criminalidade”. (SILVEIRA FILHO, 2007 apud PAULA, 2011,
p. 24).
• “[...] política criminal, enquanto ciência, precisa promover a
revisão dos paradigmas vigentes que permeiam as ações do
sistema de justiça criminal, em que predomina a expansão do
controle punitivo e o aumento dos índices de encarceramento, o
que tem redundado na reprodução das violências, quer no plano
macrossocial como resultante de um modelo de sociedade
desigual, como na esfera das individualidades, o que traz também
como consequência a deslegitimação e desestruturação do
chamado “Estado Democrático de Direito” (PAULA, 2011, p. 25).
 Embora se relacione intimamente com o Direito Penal e com a
criminologia, a política criminal se ocupa do crime como um desvalor a
ser combatido, criando estratégias para a prevenção, o controle e o
combate da criminalidade.
Dando um exemplo – no crime de furto, enquanto o Direito Penal fará
a subsunção do fato à norma e a criminologia estudará suas origens,
motivações e consequências, nos mais variados aspectos, a política
criminal, ao retirar seus subsídios dessas ciências, poderá concluir que,
em furtos de valor irrisório (crime de bagatela ou lesão mínima), o
adequado socialmente é compreender que o fato praticado pelo agente
não é típico, não configurando crime a ser punido.
A política criminal, assim, incumbe-se de transformar a
experiência criminológica em opções e estratégias
concretas assumíveis pelo legislador e pelos poderes
públicos.

 O Direito Penal deve se encarregar de converter em


proposições jurídicas, gerais e obrigatórias o saber
criminológico esgrimido pela política criminal.
Fonte: https://www.studocu.com/pt-br/document/universidade-federal-de-goias/criminologia/resumo-criminologia/19161693
• Plano Nacional de Política Criminal e Penitenciária (2020-2023)
https://www.gov.br/depen/pt-br/composicao/cnpcp/
plano_nacional/PNPCP-2020-2023.pdf

• Plano Nacional de Segurança Pública e Defesa Social (2021-


2030)
DECRETO Nº 10.822 DE 28 DE SETEMBRO DE 2021
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2021/
Decreto/D10822.htm
ALGUMAS DAS REFERÊNCIAS UTILIZADAS:
• Alfonso Serrano Maíllo; Luiz Regis Prado. Criminologia. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2019. E-bool. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/books/9788530987008/

• NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de direito penal: parte geral: arts. 1º a 120 do código
penal / Guilherme de Souza Nucci. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020. v. 1. E-book.
Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530989262/recent

• Paula, Giovani de. Ciências criminais: livro didático / Giovani de Paula ; design
instrucional Álvaro Roberto Dias; [assistente acadêmico Eloisa Machado Seemann]. Palhoça:
UnisulVirtual, 2011.
LINK PARA A PRESENÇA – 16-
10-2023
https://forms.gle/ftjpYwGKy3QpubzT6

Você também pode gostar