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Resumo de Criminologia 2015/1

Professora Vanessa – Prova 1

Fontes: Aula e livro do Alessandro Baratta

1. Definições Preliminares: Sociologia Jurídica e Jurídico-penal (Introdução)

*Objeto da sociologia jurídica:


- relação entre mecanismos de ordenação do direito e da comunidade;
- relação entre o direito e outros setores da ordem social;
- relaciona-se com a estrutura normativa da comunidade, bem como com
as condições e efeitos das normas jurídicas;
- ocupa-se com modos de ação e de comportamento que:
#têm como consequência normas jurídicas (costume como fonte
de direito; modos de ação e de comportamento do legislador;
instâncias institucionais de aplicação do direito);
#são percebidas como efeito das normas jurídicas (problema de
efetividade e de aceitação do direito; controle social através do
direito);
#têm como consequência normas jurídicas ou que são efeitos
delas (estudo da ação direta e indireta de grupos de interesse na
formação e na aplicação do direito; estudo da reação social ao
comportamento desviante).
- difere-se da ciência do direito porque a primeira tem a ver com os
modos de ação e estruturas sociais, enquanto a segunda tem como objeto
as normas e as estruturas normativas.

*Objeto da sociologia jurídico-penal:


- é o mesmo da sociologia jurídica;
- no entanto, a sociologia criminal estuda o comportamento desviante
com relevância penal, enquanto a sociologia jurídico-penal estuda
propriamente os comportamentos que representam uma reação ante o
comportamento desviante;
- estuda tanto as reações institucionais quanto as reações não
institucionais.

*Direito Penal: regulariza as punições e proteções

*Criminologia: estuda as causas da criminalidade com base em várias teorias


criadas a partir do século XIX; além disso, critica os processos de criminalização (como
funciona o aparato de repressão, verificando casos de discriminação). Tem dois ramos:
- macro criminologia  procura entender o determinismo, estudando o
amplo da sociedade e sua complexidade;

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- micro criminologia  é o estudo detido nas peculiaridades do agente
infrator, não considerando a participação da vítima.

*Política Criminal: é englobada pelo sistema de repressão; é o fato de que,


quando o legislativo lida com o Direito Penal, há muitos atores sociais presentes
(grupos que defendem/rejeitam tal coisa).

*Vitimologia: em algumas situações, o acusado e a vítima tem uma relação


muito próxima; assim, muitas vezes a vítima contribui para a prática do crime. Hoje em
dia esses casos acontecem frequentemente nos crimes de violência doméstica.

2. A escola liberal clássica do direito penal e a criminologia positivista (capítulo I)

*A Escola Liberal Clássica (pré criminologia):


- não considerava o delinquente como um ser diferente dos outros, não
partia da hipótese de um rígido determinismo;
- se detinha principalmente sobre o delito, entendido como conceito
jurídico, isto é, como violação do direito e, também, daquele pacto social
que estava na base do Estado e do direito;
- o direito penal e a pena eram considerados como instrumento legal para
defender a sociedade do crime, criando, onde fosse necessário, um
dissuasivo, uma contra motivação em face do crime;
- os limites da aplicação da sanção penal eram assinalados pela
necessidade ou utilidade da pena e pelo princípio de legalidade;
- se situava como uma instância crítica em face da prática penal e
penitenciária do antigo regime, e objetivavam substituí-la por uma
política criminal inspirada em princípios de humanidade, legalidade,
utilidade;
- adquiriram o interesse das tendências criminológicas que, contestando o
modelo da criminologia positivista, deslocaram sua atenção da
criminalidade para o direito penal, fazendo de ambos o objeto de uma
crítica radical do ponto de vista sociológico e político;
- foram os pioneiros da criminologia moderna;
- desenvolveram, nos países europeus dos séculos XVIII e XIX, teorias
sobre crime, direito penal e pena, principalmente com os filósofos
Jeremy Bentham (Inglaterra), Anselm von Feuerbach (Alemanha) e
Cesare Beccaria (Itália);
- Cesare Beccaria  jusnaturalismo e contratualismo; publicou a obra
“Dos delitos e das penas” em 1764; princípio utilitarista de maior
felicidade para o maior número; a base da justiça humana é a utilidade
comum, que é uma ideia que emerge da necessidade de manter unidos os
interesses particulares, superando a colisão e oposição entre eles; o
contrato social está na base da autoridade do Estado e das leis, e tem
como função defender a coexistência dos interesses individuais do estado

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civil, além de ser o limite lógico de todo legítimo sacrifício da liberdade
individual pelo exercício do poder punitivo do Estado; define que o
critério de medida da pena é o mínimo sacrifício da liberdade individual;
nega a justiça de gabinete, a prática de tortura; afirma que a essência e a
medida do delito estão no dano social; o dano social e a defesa social
constituem os elementos fundamentais da teoria do delito e da teoria da
pena, respectivamente;
- Jeremias Benthan  modelo panóptipo; utilitarismo (eficácia durante a
pena); crime é um livre arbítrio e é comum; defende a moderação das
penas visando a prevenção;
- defesa das penas de prisão, que é uma invenção do Direito Moderno;
surge com a relação de ideias iluministas com o Direito Canônico (da
Idade Média), pois nessa época a Igreja deixava os criminosos presos por
um tempo para pensar no erro que tinham cometido;
- o delito, como ação, é um ente juridicamente qualificado, possuidor de
uma estrutura real e um significado jurídico autônomo, pois se dá pela
livre vontade do sujeito, e não devido a causas patológicas.

*A Escola Positiva Italiana:


- é o surgimento da criminologia como uma nova disciplina, autônoma,
separada do direito penal, a partir das teorias desenvolvidas no final do
século XIX e no começo do século XX no âmbito da filosofia e da
sociologia do positivismo naturalista;
- tem por objeto o homem delinquente clinicamente observável;
- em sua origem, a criminologia tinha como função individualizar as
causas da diversidade de fatores que determinavam o comportamento
criminoso a fim de combatê-lo com uma série de práticas que tendem a
modificar o delinquente;
- até os dias atuais, a matriz positivista continua fundamental na história
da disciplina;
- o modelo positivista da criminologia como estudo das causas ou dos
fatores da criminalidade (paradigma etiológico) intervém, sobretudo, no
sujeito criminoso (correcionalismo); isso permanece dentro da sociologia
criminal contemporânea;
- considera o crime um comportamento definido pelo direito; além disso,
se apoia em fatores deterministas e considera o delinquente como um
indivíduo diferente (anomalia);
- o delito é um ente jurídico, mas o direito que qualifica este fato humano
não deve isolar a ação do indivíduo da totalidade natural e social
(naturalismo);
- o comportamento do delinquente é, no fim das contas, expressão da
realidade em que está inserido;

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- mantém a ideia de pena como método de defesa social, mas não de
modo exclusivamente repressivo, segregando o delinquente, mas sim de
modo curativo e reeducativo;
- Cesare Lombroso  publicou “O homem delinquente” em 1876;
pensava que a causa da criminalidade estava na fisionomia e no cérebro;
relacionava o crime com anormalidades de várias origens, como por
exemplo, biológicas; afirmava o modelo causal, que dizia que o crime
decorre de uma anormalidade que tem uma causa; relacionava o crime
com o paradigma da ciência, a recém-descoberta evolução das espécies;
- Enrico Ferri  expandiu Lombroso com acentuação nos fatores
sociológicos; compatibilizou aspectos biológicos com sociais, dizendo
que o meio também influencia (determinismo); fundou a sociologia
criminal; categorizou delinquentes em: loucos, natos, habituais,
ocasionais e passionais; dividiu os fatores do delito em três classes:
antropológicos, físicos e sociais; substitui a responsabilidade moral pela
social;
- Rafael Garófalo  expandiu Lombroso com acentuação dos fatores
psicológicos; afirma que o crime é uma degeneração (genético, uma
patologia); criou o conceito de temibilidade, e periculosidade, o que
sugeriu a criação dos manicômios e das prisões separadamente como
medida de segurança; a partir dos manicômios surgiu a psiquiatria.

3. As teorias psicanalíticas da criminalidade e da sociedade punitiva (capítulo III)

*As teorias psicanalíticas tiveram início no começo do século XX.

*Teoria Freudiana:
- o cérebro humano tem regiões de:
#ID  instintos, da qual não temos muito controle; é um
mecanismo de sobrevivência;
#EGO  nosso “eu consciente”; é o que tu é, tua personalidade; é
construído no processo de socialização; é racional
#SUPEREGO  é o conjunto de repressões (normas de
convivências) que recebemos (educação, leis, julgamento alheio);
consciente.
#IRRACIONAL  não conseguimos acessar através da
racionalidade; às vezes é um problema para a realidade da
pessoal.
- Tipos de personalidade:
#NEURÓTICA  repressão de instintos delitosos pelo superego
torna uma pessoa neurótica; quando pratica delitos é considerado
crime.
#PSICÓTICA  é uma pessoa que alucina, que tem uma falsa
percepção da realidade, criando um mundo próprio, fantasioso;

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quando comete um delito é considerado como uma resposta a uma
doença.
#BORDERLINE  pessoa que manipula a realidade conforme a
sua fantasia; quando comete um delito é considerado crime.
- pessoas neuróticas, que reprimem o seu instinto agressivo devido ao
superego, tem esse instinto sedimentado no inconsciente; dessa forma,
podem cometer delitos por sentimento de culpa, visto que se sentem
culpados por esconder essa agressividade e, em um momento, isso
explode a fim de se livrar do sentimento de culpa;
- negação do princípio de legitimidade  todo o indivíduo criminoso é
um fantoche de si mesmo, pois é movido por forças que não controla;
assim, ocorre a negação do próprio direito penal. Segundo as teorias
psicanalíticas da sociedade punitiva, a reação penal ao comportamento
delituoso não tem a função de eliminar ou circunscrever a criminalidade,
mas corresponde a mecanismos psicológicos em face dos quais o desvio
criminalizado aparece como necessário e ineliminável da sociedade;
- usou a hipnose e a interpretação dos sonhos para avaliar o inconsciente;
cura pela palavra, princípio libertador;
- nem sempre as decisões são racionais ou influenciadas por agentes
externos; às vezes quem atua é o inconsciente.

*Teoria de Theodor Reik:


- Dupla função da pena:
#satisfazer a necessidade de o agente ser punido (inconsciente),
pelo seu próprio bem;
#satisfazer a sociedade  esse ponto, quando tem uma reação
social exagerada, significa que as pessoas que tem sua
agressividade reprimida pelo superego precisam de uma
“retribuição” (a pena máxima do criminoso) por se manter dentro
das normas, embora sua real vontade seja de externar sua
agressividade. Exemplo: caso Nardoni; revolta da população
brasileira com a corrupção.
- as teorias de retribuição enfatizam a função da pena em face da
sociedade (prevenção geral) e em face do autor de um delito (prevenção
especial). O mau exemplo do delinquente age de modo sedutor sobre os
próprios reprimidos. É necessário, então, que o ego reforce o superego,
processo que só pode ser feito a partir de pessoas que incorporam
autoridade. Se elas deixam o delinquente escapar, estão desautorizando o
superego, não existindo mais nenhuma ajuda contra o assalto das
tendências antissociais. O impulso para a punição é, pois, uma reação
defensiva contra os próprios impulsos.

*Alexandre e Staub  se detiveram no estudo da reação dos agentes públicos


(ex.: militares, policiais, trabalhadores do ministério publico, carrascos), que muitas

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vezes, por serem agressivos (embora contidos) e com tendências antissociais não
suficientemente reprimidas, têm alta probabilidade de ir para essas áreas de trabalho.
Assim, o desvio da agressão toma uma forma legítima.

*Limites das teorias psicanalíticas  embora sejam de extrema importância


crítica em relação à ideologia de defesa social, não conseguiram superar os limites da
criminologia tradicional, pois não levam em consideração as questões da histórica
determinabilidade das relações socioeconômicas.

4. A Teoria Estrutural Funcionalista e do Desvio e da Anomia (capítulo IV)

*Nas teorias sociológicas, o princípio de bem e mal é deixado de lado.

*Émile Durkheim: Teoria Estrutural Funcionalista


- as causas dos desvios não devem ser pesquisadas nem em fatores
bioantropológicos e naturais, nem em uma situação patológica da
estrutura social;
- propõe que se analisem os fenômenos sociais também pelo ambiente em
que o indivíduo esta inserido, mudando o foco do sujeito em si para o
estudo do meio social em que o sujeito esta inserido e o quanto esse tipo
de organização contribui/influencia o comportamento individual do
sujeito;
- a criminalidade varia com o local, com a cultura, com as diferenças,
pois o sujeito é fruto de uma estrutura social (exemplo: EUA e canada)
- crime é um fenômeno normal, pois em qualquer tipo de sociedade
sempre existirá algum sujeito que, por inúmeras razões, preferirá a
pratica do delito; isso não significa que não devamos punir;
- podemos reduzir a criminalidade, mas não exterminá-la;
- possui aspectos positivos, pois em determinadas situações, diante de
uma sociedade que sofre de anomia (ex: corrupção) o crime (ex: dos
colarinhos brancos) pode fazer surgir a transformação social, novos
valores ou reafirmação dos valores na medida em que a sociedade se une
contra o ato criminoso (sai da anomia);
- somente quando são ultrapassados determinados limites que o
fenômeno do desvio é negativo para a existência e para o
desenvolvimento da estrutura social, pois caso contrário é um fator
necessário e útil para o equilíbrio e para o desenvolvimento sociocultural;
- conceito de anomia: é o estado de desorganização; quando o indivíduo
não se sente parte da sociedade; conforme a obra suicídio, Émile cria o
termo “anomia” como "ausência de sentido" para a existência, que pode
se dar por alguma perda muito significativa na vida da pessoa ou por
algum sucesso muito rápido/inesperado, pois gera uma desorganização na
vida da pessoa (mudança muito drástica e rápida na vida de alguém);

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- essa noção de anomia pode ser relacionada à sociedade quando essa
está descrente ("o Brasil não tem jeito"), quando a sociedade sofre uma
perda de valores;
- somente em suas formas anormais, por exemplo com o crescimento
excessivo, que o crime pode ser considerado como uma patologia;
- o delito, provocando e estimulando a reação social, estabiliza e mantém
vivo o sentimento coletivo que sustenta a conformidade às normas;
- classifica o delinquente como “agente regulador da vida social”.

*Robert Merton: Teoria Funcionalista do Desvio e da Anomia


- serve principalmente para explicar a criminalidade patrimonial;
- aproveitou a linha de pensamento do Durkheim, sendo um discípulo;
- a criminalidade que interessa seu estudo decorre da incompatibilidade
entre fins sociais e meios legítimos (legais, por exemplo, o trabalho) para
alcançá-los;
- nossas finalidades surgem conforme nossas relações sociais; por
exemplo, os fins sociais dos que vivem em uma sociedade capitalista,
estratificada e de consumo é a acumulação de capital; no Brasil, por
exemplo, é a casa própria e um carro, o que deriva do incentivo do
padrão de cultura dos EUA; já nos países europeus, classe média tem a
tendência de ter uma televisão muito antiga e uma grande prateleira de
livros, pois há um grande investimento em cultura e conhecimento por
uma questão de costume desde o nascimento;
- os fins sociais não são definidos pelas próprias pessoas, mas sim pela
sociedade em sua maioria;
- se o fim social é incompatível com a condição econômica, não existindo
um meio legal alcançá-lo, existe uma inadequação; por isso, é necessário
se adequar;
- modos de adequação social:
#conformidade  se dá pela maior parte da população; consiste
em aderir os fins sociais, mas consegui-los pelos meios legais,
nem que para tal seja necessário esperar promoções, parcelar, etc.;
por isso, pobreza não gera por si só criminalidade;
#inovação  adere os fins sociais, mas não adere os meios legais
(ocasiona a criminalidade, o desvio);
#ritualismo  é o contrário da inovação, pois não adere os fins
sociais, mas adere os meios legais; é a contracultura hegemônica,
o desvio dos fins sociais; exemplo: hippies (vivem do seu trabalho
de artesanato); é comum fazer ritualismos pontuais (exemplo:
andar de bicicleta ao invés de ter um carro);
#apatia  nos remete à anomia; é aquele sujeito que não pratica
delitos, mas também nega os fins sociais; vive numa condição
apática (morador de rua,...); como se vivesse fora da sociedade,
mas na verdade vive dentro;

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#rebelião  afirmação de novos fins sociais e de novos meios
legais: transformação social (é possível incluir muitos
movimentos sociais); dependendo pode ser classificado como
delito.
- esse pensamento sociológico permite que repensemos nossos fins, pois
esses não são adequados para a maioria da população.

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