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CURSO DE AUXILIAR DE NECROPSIA – Sistema de Ensino WIDE

Professora: Silvia Benedeti Turim

Matéria: Criminologia

RESUMO

Auxiliar de Necropsia:

(do grego: necro (morte, morto ou cadáver) + psia (ação de ver ou


examinar) é o profissional que atua ao lado do médico legista, podendo
trabalhar em funerárias, IML (Instituto Médico Legal), Polícia Civil e nas
prefeituras que tenham o Serviço de Verificação de Óbito (SVOs).

De modo geral, ele auxilia o médico responsável em processos de


necropsia ou autópsia – exame de um cadáver para verificar a causa e como
ocorreu a morte.

Funções do Auxiliar de necropsia:

- Ajudar na identificação de cadáveres.

- Manusear o cadáver para observação de lesões externas e internas.

- Lavar o corpo após o procedimento de necropsia.

- Acompanhar e auxiliar em exumações (retirada e transferência de restos


mortais).

- Reconstituir cadáveres e procedimentos para cumprir ordens judiciais

- Coletar material dos cadáveres para exames de laboratório.

- Limpar instrumentos usados nas necropsias e esterilizar o ambiente.

- Realizar a limpeza e a preparação de ossos para procedimentos legais.

- Auxiliar em procedimentos de autorização, retirada e conservação de órgãos


para doação.

1.1 Criminologia

- A criminologia é uma ciência empírica e interdisciplinar que tem por


finalidade o crime, a vítima e o delinquente e o controle social do
comportamento delitivo.

- A criminologia moderna ocupa-se com a pesquisa científica do


fenômeno criminal — suas causas, características, sua prevenção e o controle
de sua incidência —, sendo uma ciência causal-explicativa do delito como
fenômeno social e individual.

- Sua maior proximidade diz respeito ao Direito Penal.

Empirismo na Ciência

Para a ciência, empírico é um tipo de evidência inicial para comprovar


alguns métodos científicos, o primeiro passo é a observação, para então fazer
uma pesquisa, que é o método científico. Nas ciências, muitas pesquisas são
realizadas inicialmente através da observação e da experiência.

Qual a relação do Direito Penal com a Criminologia?

O Direito Penal é uma ciência meramente NORMATIVA, que analisa o


fenômeno do crime do ponto de vista da infração da norma pura e
simplesmente, e as consequências dessa infração.

Já a Criminologia, é uma ciência CAUSAL-EXPLICATIVA, ou seja,


busca explicar o delito não como mera violação à norma, mas tendo em conta
todas as suas causas (sejam elas psicológicas, biológicas, sociais, etc.), bem
como se volta à análise do delinquente numa expectativa ressocializadora e
preventiva.

Atualmente, o estudo da criminologia considera quatro objetos:

-DELITO;

-DELINQUENTE;

-VÍTIMA;

-CONTROLE SOCIAL.
DELITO

No Direito Penal, há 3 formas de conceituar:

 Material: vincula-se a um ato que cause dano social ou provoque lesão a


um bem jurídico;

 Formal: existe uma lei penal que descreve tal conduta como infração;

 Analítico: são elementos estruturais e essenciais do crime.

Já na Criminologia, esses 3 conceitos não bastam para conceituar o delito.

 Fenômeno humano e cultural

 Comportamento antissocial e suas causas

 Ciência autônoma

 A criminologia auxilia o sistema penal

Será considerada delitiva a conduta que:

 tiver incidência massiva: reiteração na sociedade

 incidência aflitiva: produção de dor à vítima e à sociedade;

 persistência espaço temporal: prática ao longo do território por um


período de tempo relevante;

 inequívoco consenso a respeito da sua etiologia e eficazes técnicas de


intervenção: concordância

 consciência generalizada sobre sua negatividade.

DELINQUENTE

 Escola Clássica – abandonou-se a centralização na figura do crime e


passou-se a analisar a pessoa do delinquente

 Escola Positivista – além de pensar na centralização do crime, passou a


investigar o comportamento do delinquente. Aqui considerava que o
individuo já nascia criminoso

 Escola Correcionalista – aqui o delinquente é uma pessoa que precisa


de ajuda
 Marxismo – a responsabilidade do crime surge da sociedade, a modo de
converte o delinquente em vítima

 Atualmente, o delinquente é analisado de acordo com suas


interdependências sociais, como unidade biopsicossocial e não no
sentido biopsicopatológico

 A Psicologia Criminal busca estudar a personalidade do criminoso


(comportamento, pensamento, suas reações)

VÍTIMA

Três fases de estudo na história

 Na fase conhecida como “idade de ouro”, a vítima tinha grande valor e


respeito pela maioria das pessoa

 Posteriormente, com a responsabilização do Estado, a figura da vítima


deixa de ser o centro e fica mais neutralizada

 Da década de 1950 em diante, a vítima novamente ganha destaque e


apresenta características mais humanizadas para o Estado

Algumas penalizações

 O Código de Hammurabi: penas de morte e mutilações

 O Código de Manu: considerava a casta social, buscava-se proteger o


particular que fosse vitima de um delito

 Lei das XII Tábuas: tinha várias disposições de direito penal,


distinguindo os delitos privados dos públicos, com penas patrimoniais

 Entre outras que tiveram na história

 Foi a partir do término da segunda guerra mundial, com os campos de


extermínio e o flagelo de milhares de famílias, que voltou-se mais para a
tutela dos direitos e garantias fundamentais das vítimas com a criação
das Nações Unidas e a Declaração Universal dos Direitos do
Homem.

 No Brasil, a primeira tentativa de sistematizar o estudo da vítima


competiu a Edgar de Moura Bittencourt, na obra “Vítima”.

 Criação de Centros de Proteção ás Vítimas, mantidos com verbas


públicas, ONG’s, auxílio de voluntariado
CONTROLE SOCIAL

No sistema formal de controle social, encontramos o Sistema da


Justiça ou Justiça Criminal, que é formada pelo Poder Judiciário,
Ministério Público, Polícias e Administração Penitenciária, que exercem
papel expressivo no controle social, imposto pelo Poder Público.

O controle social será exercido diretamente nas pessoas e poderá ser


feito de maneira direta ou indireta através das instituições sociais

O controle formal organiza-se em 3 seleções, conforme a


função que desempenham:

1ª seleção: Polícia judiciária (investigação)


2ª seleção: Ministério Público (acusação)
3ª seleção: Judiciário (julgamento)

Já o controle social informal é aquele exercido de forma


difusa pela sociedade, através da família, escola, associações, igreja, opinião
pública, etc. Em regra, o processo de socialização do indivíduo se dá nos
meios informais.

São Formas De Controle Social:

 Sanções formais e informais: As sanções formais são


aplicadas pelo Estado, consistem na aplicação de sanções cíveis,
administrativas ou penais. As sanções informais não apresentam
coercibilidade (contenção, repremir).

 Meios positivos e negativos: de acordo com o meio de


atuação, os meios positivos podem se dar por prêmios, incentivos e os
negativos se dão com a aplicação de sanções (penas).

 Controle interno e controle externo: o controle interno é a


autodisciplina que vão se formando com o passar do tempo, desde quando
somos crianças.

MÉTODO

Pode-se conceituar o método como o meio em que o


raciocínio procura entender um fato referente ao homem, sociedade e
natureza. O método, enquanto estudo da criminologia, precisa estar baseado
em estudos científicos de experiências comparadas e repetidas para que se
chegue a realidade.

Os métodos da criminologia dizem respeito ao Empirismo,


Interdisciplinaridade, além de outros fatores sociais e individuais.
1.2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA, TEORIAS E ESCOLAS CRIMINOLÓGICAS

Pensamento criminológico:

Fase Pré-científica

Grupo de teoria que trata da etiologia do crime como pseudociências

Fase Científica

Trata do crime como um método de pesquisa, situando os percursores


científicos da moderna criminologia

Escola clássica  Pré Científica

Surgiu entre os séculos XVIII e XIX. Trata que o ser humano é dotado de livre
arbítrio, e portanto pratica atos movido pelo prazer, buscando a ordem social,
visando o bem-estar de todos (contrato social). Deste modo, a conduta
criminosa é uma escolha racional, logo a pena (castigo) é necessária e
suficiente para acabar com a criminalidade, sendo determinada segundo a
utilidade para se manter ou não o pacto social.

Estudiosos/pensadores:

 Cesare Bonesana (também conhecido como: Cesare Beccaria ou Marquês


de Beccaria)

Francesco Carrara

 Giovanni Carmignani

Beccaria foi um dos grandes percussores para as ideias do


berço da Criminologia e compreende as seguintes características:

A- a pena possui caráter retributivo;

B- as penas devem ser criadas pelo Poder Legislativo, não tendo capacidade
para julgamento;

C- o juiz para fazer seu julgamento deve se atentar a letra da lei, não podendo
se basear em sentido amplo, pois o criminoso pressupõe conhecer os limites
do crime e qual pena a ele é cabível;

D- aplicação da proporcionalidade entre a pena aplicada e o crime cometido;

E- a punição do criminoso deve ocorrer em tempo ágil, o que permite a eficácia


da punição;
F- diferenciação da aplicação da pena entre o crime tentado e o crime
consumado;

G- não utilização da tortura para obter a confissão;

H- preferência da aplicação da prisão perpétua do que da aplicação da pena de


morte, como forma de exemplo para a sociedade;

I- a aplicação da pena não é para deixar o acusado ainda pior, e sim, impedir
que ele reincida, servindo de exemplo para que outros não cometam crimes.

J- O roubo é ocasionado geralmente pela miséria e pelo desespero.

Postulados Fundamentais De Beccaria:


1 – somente leis podem fixar penas para os crimes

2 – somente os magistrados poderão julgar os delinquentes

3 – a atrocidade se opõe ao bem publico

4 – os juízes não podem interpretar leis penais

5 – deverá existir proporção entre os delitos e as penas

6 – a finalidade das penas não é atormentar os culpados mas sim impedir que
este agrida de novo a sociedade, e por consequência destrua a todos

7 – as acusações não devem ser secretas

8 – a tortura do acusado durante o processo não deve ser praticada

9 – o réu não deve ser considerado culpado antes da sentença condenatória.

10 – não se deve exigir do réu juramento

11 – A prisão preventiva não é sanção, mas apenas o meio de assegurar a


pessoa do presumível culpado e, portanto deve ser a mais leve possível

12 – as penas devem ser iguais para todas as pessoas

13 – o roubo é filho da miséria e do desespero

14 – As penas devem ser moderadas

15 – A sociedade não tem o direito de aplicar a pena de morte

16 – As penas não serão justas se a sociedade não houver empregado meios


de prevenir os delitos

17 – a prevenção dos delitos é muito mais útil que a repressão penal.


CARACTERISTICAS DA ESCOLA CLÁSSICA:

 Crime- ente jurídico (foi pautado e normatizado, tal conduta como crime,
sem ter a ver com questão biológica, psicológica, cultural, etc)

 Ciência Penal - emana – moral

- norma juridica

Culto a razão + Livre Arbítrio (se comete crime é porque escolheu)

 Caráter Repressivo

 Direito Natural – quer dizer a natureza do homem sabe distinguir o certo


do errado

 PENA – caráter retributivo ou punitivo

ESCOLA POSITIVISTA: Fase cientifica

Surge após o fracasso das reformas penais entre os séculos XIX e


XX. Não defende-se mais o livre arbítrio e já existe uma previsão do
comportamento humano, permitindo a investigação dos crimes, a partir dos
criminosos.

Um fenômeno da natureza sujeito a leis naturais (biológicas,


psicológicas e sociais) que podem ser identificas, estudando-se o criminoso. A
pena (castigo) é inútil, pois a conduta criminosa é sintoma de uma doença e
como tal deve ser tratada, em nome da defesa da sociedade.
CARACTERISTICAS DA ESCOLA POSITIVISTA

 Crime – FATO HUMANO + SOCIAL - natural, normal em convivência


em sociedade – pessoas cometem erros

 Determinismo – meios que convive

-- biológico – meio em que nasceu

 Método Positivo – observação + análise + indução

 PENA – proteção social – não reprimir o criminoso, mas proteger a


sociedade

Cesare Lombroso:

 Concepção Biológica

 Teoria do Criminoso Nato ( -- “Homem Delinquente”


 Atavismo

CLASSIFICAÇÃO SEGUNDO LOMBROSO:

Nato

Louco

Paixão

Ocasião

Enrico Ferri:

 Sociologia Criminal

 Fatores SOCIAIS

 Afastamento da Sociedade

 Criminoso Habitual

Rafael Garófalo:

 Jurista

 Pai da Criminologia

 Crime – entidade jurídica – normal

 Déficit Moral – criminosos amoral

CARACTERÍSTICAS:

Criminoso – Nato

Fortuito (ocasião)

Déficit Moral

Na Escola POSITIVA

PENA – caráter de afastamento e se necessário pena de morte


TEORIAS SOCIOLÓGICAS DA CRIMINALIDADE

 Teorias Bioantropológicas: predisposição ao crime. Crime


consiste na estrutura orgânica do indivíduo. O criminoso é tratado como um ser
diferente do cidadão normal.

 Teorias Psicodinâmicas: a diferença entre o criminoso e o não-


criminoso é congênita. Investiga-se porque a generalidade das pessoas não
comete crimes.

Criminologia psicanalítica tem por objetivo “explicar o crime


como um ato individual e analisar a psicologia da sociedade punitiva.”

A criminologia psicanalítica se baseia em três princípios:

1) O homem é, por natureza, um ser a-social.

2) A causa do crime é, em última instância, social.

3) É durante a infância que se modela a personalidade.

 Teorias Psico-Sociológicas: refere-se aos elementos


sociais que envolvem a personalidade do agente. Serão abordados vínculos do
indivíduo com a sociedade.

Conforme Giddens (2005, p.176) para “as teorias


funcionalistas, o crime e o desvio são resultados de tensões estruturais e
de uma falta de regulação social dentro da sociedade”.

SOCIOLOGIA CRIMINAL

Surgiu entre os séculos XIX e XX, e visa solucionar as causas


do crime na sociedade.

O crime é um fenômeno coletivo, previsível.

O objeto central da Sociologia é o ser humano e suas


diversas interações sociais;

Levando em consideração o seu contexto global, isto é, os


aspectos sociais, culturais, econômicos, políticos, psicológicos, geográficos,
entre outros.
TEORIAS QUE ANALISAM A SOCIEDADE CRIMINOLÓGICA, SÃO
DENOMINADAS TEORIAS ETIOLÓGICAS E SE SUBDIVIDEM EM:

A) Teorias Ecológicas ou da Desorganização Social


(Escola de Chicago): surgiu nos EUA, no início do século XX. Conferiram à
sociedade as causas do fenômeno criminal. Nesse período, milhares de
pessoas chegaram as grandes cidades, sendo Chicago uma delas. A miséria
vivida fez com que a população passasse por dificuldades, gerando violência e
aumento da criminalidade.

A teoria ecológica criminal defende a prioridade da ação


preventiva e a minimização da atuação repressiva.

Fonte: https://www.clancobra.com.br/2016/04/confira-27-imagens-impressionantes-de-cidades-antes-e-depois/19-chicago-eua-1909-e-
atualmente/

B) Teorias da Subcultura Delinquente: Dizem respeito as


teorias de classe sociais, partindo da premissa que a sociedade oferece uma
estrutura social com defeitos. O termo subcultura refere-se à minoria, os que
tem cultura inferior, como por exemplo, os jovens que pertencem a baixa classe
social.

Dentro da subcultura é normal encontrar o comportamento


delinquente. Conclui-se, portanto, que a subcultura se origina de que os
delinquentes fazem parte da cultura e não as pessoas.

C) Teorias da Anomia ou da Estrutura da Oportunidade:


Significa ausência da lei. O crime é resultante do funcionamento do sistema e
atualização de seus valores. Possui como característica a natureza estrutural,
pelo determinismo sociológico, pela aceitação do caráter normal e funcional do
crime e pela adesão à ideia de consenso em torno de valores fundamentais
para a sociedade.
D) Teoria da Associação Diferencial: suborientada pela
teoria da aprendizagem social ou social learning, tenta explicar o
comportamento criminoso por meio de anomalias biológicas que determinam a
conduta humana. O erro defendido por esta teoria era pensar que apenas os
encarcerados cometiam crimes.

CRIMINOLOGIA NOVA OU CRÍTICA

Estuda a sociedade criminógena, as causas do crime, a


reação do crime na sociedade, e o porquê de algumas pessoas serem tratadas
como criminosas.

a. Etnometodologia (surge na década de 1960): estuda a


intersubjetividade do cotidiano. O crime passa por uma construção social
efetuada na interação entre o desviante e as agências de controle.

b. Teoria da Rotulação ou labelling approach ou Teoria do


Etiquetamento: surgiu nos Estados Unidos na década de 70 e visa explicar o
delito por meio dos conceitos de conduta desviada e reação social.

c. Criminologia Radical ou Criminologia Marxista (na


década de 70): Baseada na análise marxista que defende a ordem social e faz
grande crítica a Teoria da Rotulação, além da Etnometodologia. A criminologia
é compreendida como um problema insolúvel, em meio a uma sociedade
capitalista, devendo ser feita a transformação da própria sociedade.

1.3. FATORES CONDICIONANTES E DESENCADEANTES DA


CRIMINALIDADE

Fatores condicionantes da criminalidade são biológicos,


psicológicos e sociais

O pressuposto que se manteve inalterado, diz respeito a quem se


envolvia em delitos, essa pessoa era vista como um ser diferente

Diferença que permite com que se faça a prevenção do


comportamento delinquente.

 Na área da BIOLOGIA, a diferença foi conferida aos atavismos, que se


manifestavam tanto a um nível intelectual, quanto a um nível físico.

ATAVISMO: Reaparição em um descendente de caracteres de um ascendente


remoto e que permaneceram latentes por várias gerações.
Quando uma característica ancestral aparece em um organismo depois de
várias gerações de ausência.

Cladograma:

todos seres vivos descendem de um mesmo ancestral comum.

Diferenças entre: Homo Neandertal X Homo Sapiens


 Por causa da conexão entre o desenvolvimento de mamíferos
e peixes, propõe-se que o furinho possa ser um “remanescente
evolutivo de guelras de peixes”

Durante a evolução, algumas estruturas perdem ou modificam


sua funcionalidade, tornando-se vestigiais, e podem desaparecer entre as
gerações de uma espécie em milhões de anos.

O Cóccix, por exemplo é uma característica remanescente.


Em algumas pessoas por erro genético pode aparecer como uma calda.

 Na área da PSICOLOGIA, a questão diz respeito à


personalidade, com suas diferentes características, levando a uma série de
estudos e programas de tratamento e adaptação forçada da personalidade
imatura, agressiva do delinquente e às exigências da vida em sociedade.
A criminalidade está contida na real atuação do Sistema
Penal, definindo e reagindo contra ela.

Quando alguém é indiciado como criminoso, deve-se levar em


consideração a ação ou omissão do Estado perante o controle social.

Ser ou não ser criminoso é algo que não se liga à presença


ou não de alguma doença ou anormalidade, e sim ao fato de o indivíduo ter
sido orientado pelos órgãos do Estado.

A nova Criminologia, consagra que as normas de convívio


social se relacionam com o consenso ao redor dos valores e objetivos comuns.

Os momentos de transição dizem respeito à passagem do


Direito Penal Clássico para o nascimento da Criminologia, momento onde o
homem criminoso passa a ser o centro dos estudos.

Outro importante momento, ocorreu com a mudança do


referencial teórico da Criminologia, propiciado pela Criminologia Crítica.

O fenômeno criminal passa a ser estudado como criação da


organização social e não mais como um ente pré-existente, que seja passível
de compreensão e apreensão pela aplicação do método das ciências naturais.
CONDICIONANTES BIOLÓGICOS

Fatores bioquímicos

Os estudos nessa área, procuram associar o comportamento


violento à possíveis dosagens de substâncias que são capazes de levar as
pessoas a delinquir. Ex: colesterol, hormônios.

Estudos apontam que a soma da glicose com o colesterol, o


álcool diminua o açúcar na corrente sanguínea por inibição da produção de
glucose hepática. Assim, o álcool ao fazer diminuir a quantidade de açúcar no
sangue pode ser apontado como um fator facilitador do crime.
Fatores neurológicos

Algumas alterações cerebrais, principalmente no hemisfério


esquerdo, são apontadas para o comportamento violento das pessoas, que
está presente no lobo frontal e nos lobos temporais.

As alterações ocasionam as consequências comportamentais,


em que se destaca a dificuldade em experimentar algumas emoções, como o
medo e outras emoções negativas. Nesses estudos, associa-se o crime com
alterações cerebrais específicas.

As condicionantes da ação humana, como as condicionantes


biológicas, não são causas exatas, mas condições de probabilidade da ação.

Podem determinar algumas ações, entretanto são também a


condição de possibilidade de escolha e de concretização de ações livre.

Fatores psicofisiológicos

Esse tipo de fator relaciona-se na avaliação da função


cerebral, como por exemplo, a atividade elétrica da pele, o eletrocardiograma.
Os criminosos possuem uma média menor do ritmo cardíaco, menor nível de
condutividade da pele e maior tempo de resposta na atividade elétrica da pele,
além dos registros eletroencefalográficos com maior incidência de
anormalidades.

CONDICIONANTES PSICOLÓGICOS

Personalidade

A personalidade envolve os elementos que concorrem para a


conformação mental de uma pessoa, conferindo fisionomia própria.

Envolve múltiplas variáveis de ordem biopsíquica


(constituição biopsíquica) somadas às experiências vividas (integração).

Existem muitas teorias que estudam a personalidade, porém


uma das mais importantes na história do estudo de personalidade está a de
Freud, que diz que o comportamento é resultado de três sistemas que são o Id,
o Ego e o Super-ego.

• O Id é inato (que nasce com o individuo, congênito)

• O Ego é uma evolução do Id

• O Super-ego contém idéias derivadas dos valores familiares e


sociais
Desse modo, podemos considerar o Id como sendo o
componente biológico, o Ego como o psicológico e o Super-ego como o social
da personalidade, trabalhando juntos sob a liderança do Ego.

Personalidade Normal

Teorias Morfológicas

Tem relação com as teorias bioquímicas, mas acentuam os


aspectos morfológicos do corpo, os tipos corporais. O psiquiatra alemão
Kretschmer (1921) iniciou este método de pensar sobre os temperamentos.
Com bases em suas observações clínicas ele relacionou que o formato do
corpo está relacionado com a personalidade.

Personalidade Patológica

Fazem parte das personalidades patológicas algumas


perturbações

Oligofrenias

As oligofrenias são chamadas de atrasos ou debilidades


mentais, que são insuficiências congênitas, caracterizadas pelo não-
desenvolvimento da inteligência desenvolvida.
Mais especificamente do vocábulo “oligos”, que significa
pouco e de “frenia” que significa mente. Portanto, a oligofrenia é sinônimo de
pouca inteligência. A limitação intelectual a partir de certos níveis é
considerada uma doença, pois esse tipo de pessoa tem dificuldades para
desenvolver suas atividades diárias.

Personalidades Psicopáticas

Os indivíduos com personalidade antissociais causam


dificuldades, que não tiram proveito das experiências vividas, nem das
punições sofridas, mantendo-se leal a qualquer pessoa.

Neste tipo, não temos sentimentos, mas sim, agressividade,


falta de motivação e intolerância à frustração.

Os criminosos são psicopatas, de modo que esse termo não


seja utilizado apenas para designar doenças mentais. São pessoas com
personalidade de difícil relacionamento social.

Podemos citar como exemplo, os estupradores e assassinos


de série.

O psicólogo forense Alex Grandio explica:

“Os psicopatas não desenvolveram uma consciência nem


comportamentos de respeito pelas leis ou regras que impedem que as pessoas
cometam atos anti-sociais“.

Isso é muito importante para entendê-los, já que as


disfunções apresentadas por crianças e adultos com características psicóticas
dificultam a socialização destes indivíduos

Personalidade Delinquente

Pessoas com personalidade delinquente são aquelas que


apresentam defeitos em seu caráter, estruturados e irreversíveis, são
conhecidos como delinquentes essenciais, primários ou verdadeiros, de modo
que uma das suas características é a personalidade psicopática.

O que diferencia o psicopata do delinquente, é o fato que o


psicopata tem falta de adequadas inibições, conduzindo a atos não aceitos pela
sociedade, já o delinquente consegue se adaptar bem em grupos, que tenham
comportamento desviado.
VITIMOLOGIA

CONCEITO

Existem estudiosos que conferem autonomia científica à


Vitimologia alegando a existência de objeto, método e fim próprios. Entretanto,
a maior parte da doutrina entende não existir tal autonomia, considerando a
Vitimologia mero ramo da Criminologia.

Por fim encontram-se autores negando-lhe mesmo a


possibilidade de existência, quer como ciência autônoma, quer como parte da
Criminologia. É justamente a partir dessas considerações que se torna possível
compilar alguns conceitos de Vitimologia encontrados na doutrina.

Dentre os adeptos da autonomia científica verifica-se a


conceituação formulada por Ramírez González, que considera a Vitimologia
como sendo “o estudo psicológico e físico da vítima que, com o auxílio das
disciplinas que lhe são afins, procura a formação de um sistema efetivo para a
prevenção e controle do delito” (apud PIEDADE JÚNIOR, 1993, p. 83).

Tem-se, ainda, a definição elaborada pela famosa


criminóloga venezuelana, Lola Aniyar de Castro, para quem a Vitimologia é
o “estudo da personalidade da vítima, tanto vítima de delinquente, quanto
vítima de outros fatores, como consequência de suas inclinações
subconscientes. O descobrimento dos elementos psíquicos do ‘complexo
criminógeno’ existente na dupla penal, que determina a aproximação entre a
vítima e o criminoso, quer dizer, ‘o potencial de receptividade
vitimal’” (apud PIEDADE JÚNIOR, 1993, p. 83).

Por outro lado, entendendo que a Vitimologia é simples


ramo da Criminologia, colhe-se na doutrina a definição formulada por Henry
Ellenberger, para quem a Vitimologia é “um ramo da Criminologia que se ocupa
da vítima direta do crime e que compreende o conjunto de conhecimentos
biológicos, sociológicos e criminológicos concernentes à
vítima” (apud PIEDADE JÚNIOR, 1993, p. 81).

O criminólogo Raúl Goldstein considera a Vitimologia como


sendo “parte da Criminologia que estuda a vítima não como efeito consequente
da realização de uma conduta delitiva, mas como uma das causas, às vezes a
principal, que influenciam na produção de um delito” (apud PIEDADE JÚNIOR,
1993, p. 81).

Hans Göppinger ensina que a Vitimologia “representa de


fato um determinado departamento do campo total relativamente fechado da
Criminologia empírica, e, em particular, do complexo problema: o delinquente
em suas interdependências sociais” (apud PIEDADE JÚNIOR, 1993, p. 81).
Por fim, negando a existência da Vitimologia encontra-se o
posicionamento de Manuel Lopez Rey Y Arrojo, para quem a Vitimologia “não é
mais que o resíduo de uma concepção superada da criminalidade e da
Criminologia” (apud PIEDADE JÚNIOR, 1993, p. 128).

Todavia, vale lembrar que a quantidade de obras


publicadas, o número cada vez maior de estudiosos do assunto e a infinidade
de eventos relacionados à Vitimologia, não só no Brasil como no exterior, são
fatores que falam por si e são capazes de demonstrar que este último
posicionamento, extremamente radical, é voz isolada na doutrina.

Sem abordar a questão relacionada à existência ou não


de autonomia científica da Vitimologia, pode-se afirmar que um dos mais
completos conceitos apresentados pelos estudiosos do assunto foi
elaborado por Eduardo Mayr, para quem a Vitimologia é “o estudo da
vítima no que se refere à sua personalidade, quer do ponto de vista
biológico, psicológico e social, quer do de sua proteção social e jurídica,
bem como dos meios de vitimização, sua inter-relação com o vitimizador
e aspectos interdisciplinares e comparativos” (apud MOREIRA FILHO,
2004, p. 23).

A vitimologia é o estudo científico, relacionado a vitimização


criminal e suas consequências. Elas envolvem as pessoas da sociedade e as
que defendem o Estado, mais precisamente a polícia e a justiça criminal.

O primeiro psiquiatra americano, Frederick Wertham foi quem


usou o termo vitimologia.

Mas foi o trabalho feito por Hans von Hentig "The Criminal an
his Victim", de 1948, que tratava da abordagem dinâmica, a qual desafiava a
concepção de vítima. Narrava que o comportamento das vítimas, permitia
conhecer as condutas delituosas, devendo ser analisada a relação entre vítima
e agressor.

A vitimóloga Ana Isabel Garita Vilchez, por sua vez, define


vítima como :

“a pessoa que sofreu alguma perda, dano ou lesão, seja


em sua pessoa propriamente dita, sua propriedade ou seus direitos humanos,
como resultado de uma conduta que:

a) constitua uma violação da legislação penal nacional;

b) constitua um delito em virtude do Direito Internacional;

c) constitua uma violação dos princípios sobre direitos humanos


reconhecidos internacionalmente ou
d) que de alguma forma implique um abuso de poder por parte das
pessoas que ocupem posições de autoridade política ou econômica”
(apud PIEDADE JÚNIOR, 1993, p. 88).

A vitimologia deve ser entendida dentro do ramo dos direitos


humanos e não do direito penal. A análise recairia sobre os abusos contra
os direitos humanos, cometidos por cidadãos ou agentes do governo. As
violações a direitos humanos são hoje consideradas questão central na
vitimologia.

A expressão vítimas significa as pessoas, que individual ou


coletivamente sofreram algum tipo de dano, seja físico ou mental,
transtorno emocional, por meio de atos ou omissões que violem as
normas penais

O estudo metódico da vítima teve início com o


advogado israelense BENJAMIM MENDELSOHN em 1945, instituindo a
Vitimologia, porém antes, outros autores já haviam feito
estudos sobre o tema.

Edgard de Moura Bittencourt, invocando o ensinamento de


Walter Raul Sempertegui, afirma que

“essa brilhante concepção traz como consequência que a


vítima adquire relevante preponderância no estudo do delito e que se elimine o
critério que a reduzia à condição de passiva receptora da ação delituosa. E
assim igualmente se destrói a insuficiente afirmação de que só o delinquente
pode decifrar o problema do crime, sem considerar que sua existência como tal
só é possível com a correlata existência da vítima e que toda ação dirigida
única e exclusivamente ao delinquente fundar-se-á sobre bases falsas” (1971,
p. 21).

CP – Decreto Lei nº 2.848 de 07 de Dezembro de 1940

Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social,


à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do
crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja
necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: (Redação dada
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

I - as penas aplicáveis dentre as cominadas;(Redação dada pela Lei nº 7.209,


de 11.7.1984)

II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos;(Redação dada


pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade;(Redação
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de


pena, se cabível. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Critérios especiais da pena de multa

Edgard de Moura Bittencourt, afirma “é bem de ver que, tanto


apontando o autor do crime como afirmando sua materialidade não revelada
por outros meios probatórios, a palavra da vítima pode ser fruto de uma ideia
preconcebida, ou criada pela imaginação traumatizada”

Portanto, o trabalho do perito é complexo, devendo


pormenorizar a mente da vítima, constatando a credibilidade de sua versão dos
fatos, verificando se a vítima contribuiu para o desfecho do delito.

CLASSIFICAÇÃO DAS VÍTIMAS:

 Vítima completamente inocente ou vítima ideal: a vítima


não participa do evento criminoso, o delinquente é o único responsável.

 Vítima menos culpada do que o delinquente ou vítima


por ignorância: vítima coadjuvante cooperadora, é a vítima que contribuiu de
alguma forma para o resultado, facilita o crime, parecendo demonstrar
inocência sem ter a cautela necessária.

 Vítima tão culpada quanto o delinquente: é a vítima que


teve participação crucial para a realização do crime.

 Vítima mais culpada que o delinquente ou vítima


provocadora: os exemplos nas lesões corporais e nos homicídios privilegiados
cometidos após injusta provocação da vítima.

 Vítima como única culpada, cujos exemplos trazidos pela


doutrina são os consequentes: “indivíduo embriagado que dirige em rua
movimentada, vindo a ser atropelado, o que causou sua morte e os demais
casos típicos de suicídio”.

 Vítima resistente: é a que age em legítima defesa, em


face de injusta agressão atual ou iminente.

 Vítima indefinida ou indeterminada: é a vítima de atos


de terrorismo, crimes virtuais de consumo.

 Vítima determinada: o agente sabe quem é a sua vítima,


em alguns casos ela já estava sendo observada, como por exemplo, os casos
de sequestro, homicídios.
 Vítima falsa: simulada ou imaginária. Erroneamente
acredita que está sendo vítima de um crime, provocando o Poder Judiciário,
fazendo com que os processos demorem ainda mais para serem analisados.
Em algumas ocasiões tratam-se de vítimas com imaturidade psicológica ou
doenças patológicas.

 Vítima real: fungível ou não fungível:

As vítimas reais fungíveis podem também ser chamadas de


inteiramente inocentes ou vítimas ideais, pois, caso venha a ocorrer um delito,
sua relação com o criminoso é irrelevante e, justamente por isso, elas são
substituíveis na dinâmica criminal. Em outras palavras, isso significa que o fato
delitivo não se desencadeia com base em sua intervenção, consciente ou
inconsciente

É importante ressaltar que as vítimas reais fungíveis ainda se


subdividem em duas subespécies: acidentais e indiscriminadas.

As acidentais são aquelas colocadas, por azar, no


caminho dos delinquentes como, por exemplo, aquela que se encontra num
banco no exato momento em que um grupo de assaltantes ali adentra para
roubá-lo.

Já as indiscriminadas representam uma categoria mais


ampla que a anterior, pois não sustentam, em nenhum momento, vínculo algum
com o infrator como, por exemplo, as vítimas de atentados terroristas.

Por outro lado, as vítimas reais não fungíveis são aquelas que
desempenham certo papel na origem do delito. Daí serem
consideradas insubstituíveis na dinâmica criminal. As vítimas reais não
fungíveis também se subdividem, porém, em quatro subespécies: imprudentes,
alternativas, provocadoras e voluntárias.

As imprudentes são aquelas que omitem as precauções


mais elementares facilitando, dessa forma, a concretização de um crime.
Exemplo: deixar à mostra um objeto valioso dentro de um veículo que esteja
com os vidros abertos.

As alternativas são aquelas que, deliberadamente, se


colocam em posição de sê-lo, dependendo do azar sua condição de vítima ou
de vitimário. Exemplo clássico mencionado pela doutrina é o duelo.

As provocadoras são aquelas que fazem surgir o delito,


precisamente, como represália ou vingança pela prévia intervenção da vítima.
Exemplos são os homicídios privilegiados cometidos após injusta provocação
da vítima.
As voluntárias são aquelas que constituem o mais
característico exemplo de participação. Nestes casos o delito é resultado da
instigação da própria vítima ou de um pacto livremente assumido. Exemplo
típico é a eutanásia.

Vítimas individuais: são as vítimas clássicas, ou seja, as


que estão no polo passivo do crime.

Vítimas familiares: são as vítimas de agressores que


fazem parte da própria família, os casos de maus tratos e agressões sexuais.
As vítimas geralmente são as crianças e as mulheres.

Vítimas coletivas: as vítimas nem sempre são pessoas


físicas, para este caso podem se enquadrar as pessoas jurídicas, a
comunidade e o próprio Estado.

Vítimas da sociedade e do sistema social: é a vítima


devido ao descaso que vem se alastrando em nosso país. Exemplo: mortes em
leitos de hospitais por falta de profissionais para prestarem atendimento e a
falta de leitos e até mesmo de hospitais.

No Brasil, a vitimologia para ser conceituada deve verificar a


autonomia científica ou como ciência autônoma.

O estudo sobre a vítima ganhou maior enfoque com os


trabalhos dos mais variados autores, entre eles destacaram-se: de René Ariel
Dotti (Paraná), Armida Bergamini Miotto (Brasília), Edgard de Moura Bittencourt
(São Paulo), Ester Kosovski (Rio de Janeiro), etc.,

No ano de 1971, o professor Edgard de Moura Bittencourt


lançou seu livro Vítima: a Dupla Penal Delinquente-Vítima, Participação da
Vítima no Crime. Contribuição da Jurisprudência Brasileira para a Nova
Doutrina.
GRAUS DE VITIMIZAÇÃO, CONSEQUÊNCIAS E ALTERNATIVAS.

VITIMOLOGIA NOS CRIMES SEXUAIS

O delinquente antes de fazer suas vítimas faz um estudo


sobre o comportamento, aspectos físicos, para justificar o seu crime, retirando
as inibições e sentimentos de culpa, que porventura vierem a perturbar o autor
do delito. Um simples comportamento da vítima, leva o criminoso a sentir
atração física e atacar.
O depoimento prestado por uma vítima de violência sexual
deve ser feito com muita cautela, pois esses tipos de crimes geralmente são
cometidos escondidos de outras pessoas, ficando difícil mensurar até que
ponto os esclarecimentos são verídicos.

Caso existam outras provas, elas devem ser juntadas ao


processo, colaborando para o esclarecimento dos fatos. O laudo é a ferramenta
essencial para assegurar que a vítima não está mentindo à respeito.

Algumas peculiaridades devem ser levadas em conta, como


por exemplo, a idade da vítima, se é ou não criança, a higidez mental,
principalmente quando se tratar de vítimas portadoras de doenças mentais ou
ainda pessoas que possuam traumas psicológicos. Uma mente com problemas
psicológicos não traz na sua narrativa elementos que possam ser considerados
corretos.

Edgard de Moura Bittencourt entende que se trata de uma


questão extremamente delicada, uma vez que “a provocação feminina está
ligada a um paradoxo fundamental da conduta sexual da mulher” (1971, p.
185), consistente no fato de que, para suprir suas frustrações, bem como para
provar seu poder de atração, ela passa a se mostrar provocante e excitante, o
que acaba por contribuir, de maneira decisiva, para a concretização dos delitos
sexuais.

Portanto, o conhecimento sobre a participação da vítima


poderá excluir o fato típico ou a culpabilidade do agente, portanto, caso estes
elementos não façam parte da conduta, não que se falar em crime. O elemento
subjetivo seja do agente ou da vítima são os fatores que levam a concretização
do delito

Em resumo pode-se dizer que o conceito de valor expresso


na norma incriminadora pressupõe um ato inicial e eficaz do agente sem a
participação da vítima. Entretanto, se a vítima aquiescer ou contribuir de
maneira significativa, não há que se falar em crime, haja vista a exclusão do
fato típico (em virtude da tipicidade deixar de existir) ou da culpabilidade do
agente (em decorrência da aplicação da tese conhecida como inexigibilidade
de conduta diversa), respectivamente.

Salienta-se, por fim, que, para a validade da referida tese,


deve-se levar em conta as peculiaridades de cada caso concreto e, mesmo
assim, é importante ressaltar que sua aplicação deve ser feita de maneira
extremamente cuidadosa, pois, a imensa maioria dos crimes sexuais são
levados a cabo sem que haja a mínima participação da vítima.

Mais recentemente, os estudiosos do assunto passaram a


dedicar especial atenção à relação que pode existir entre a vítima e seu agente
ofensor, relação essa chamada pela doutrina de dupla penal, sendo que, na
maioria dos casos, a vontade da vítima é divergente da vontade do
delinquente, enquanto em algumas hipóteses o que caracteriza tal relação é a
convergência de vontades, ou seja, neste último caso, de uma forma ou de
outra, consciente ou inconscientemente, a vítima acaba colaborando com o
desfecho criminoso.

1.5. PREVENÇÃO DO DELITO

A Criminologia deve buscar as respostas sobre as causas que


levam as pessoas a praticarem os delitos, segundo Rousseau, a Criminologia
deveria procurar a causa do delito na sociedade. Cesar Lombroso chegou a
pensar que o criminoso já nascia com o estigma da criminalidade, sendo
denominado de criminoso nato.

O crime se trata de um fenômeno mundial e intrínseco ao ser


humano. A sociedade não pode ver o crime crescer e ficar de braços cruzados,
mas infelizmente, por mais que órgãos estatais procurem proteger as pessoas,
as violências físicas e psíquicas estão aumentando, provocando os mais
diversos danos pessoais e materiais, podendo destruir sonhos e projetos de
vida.

Penteado Filho define prevenção como sendo um conjunto de ações que visam
evitar a ocorrência do delito, proporcionando a manutenção da paz e a
harmonia social.

“Sustenta-se que o crime não é uma doença, mas sim um


grave problema da sociedade que deve ser resolvido por ela”, segundo os
escritores Nestor Sampaio Penteado Filho, Paulo Argarate Vasques e Ugo
Osvaldo Frugoli.

A Criminologia moderna defende a ideia de que o delito


assume um papel mais complexo, de acordo com a dinâmica de seus
protagonistas (autor, vítima e comunidade), assim como pelos fatores de
convergência social.

Enquanto a Criminologia clássica vislumbra o crime como um


enfrentamento da sociedade pelo criminoso (luta do bem contra o mal), numa
forma minimalista do problema, a Criminologia moderna observa o delito de
maneira ampla e interativa, como um ato complexo em que os custos da
reação social também são demarcados

No Estado Democrático de Direito em que vivemos a


prevenção criminal é integrante da “agenda federativa”, passando por todos os
setores do Poder Público e não apenas pela Segurança Pública e pelo
Judiciário. Ademais, no modelo federativo brasileiro a União, os Estados, o
Distrito Federal e, sobretudo, os municípios devem agir conjuntamente visando
à redução criminal (art. 144, caput, da Constituição Federal).

A prevenção delituosa alcança, portanto, as ações


dissuasórias do delinquente, inclusive com parcela intimidativa da pena cabível
ao crime em via de ser cometido; a alteração dos espaços físicos e urbanos
com novos desenhos arquitetônicos, aumento de iluminação pública etc., bem
como atitudes visando impedir a reincidência.

O Estado utiliza-se de duas medidas de prevenção, uma que


atinge diretamente o delito e a outra que atinge indiretamente.

As ações indiretas buscam solucionar os crimes, de


maneira intensa e extensa, erradicando ou diminuindo as causas de produção
dos delitos. Estas ações agem no indivíduo e no meio social em que vive,
sendo denominado pela Criminologia Moderna como prevenção primária e
terciária.

As ações diretas recaem sobre a infração penal. Aqui o


Estado age diretamente, através da investigação, repressão que se dará com
as operações policiais, a abertura de Inquérito Policial, o oferecimento da peça
acusatória em juízo, a deflagração do processo criminal e a sentença penal
condenatória. Estas ações direitas são conhecidas como Criminologia de
prevenção secundária.

Os diferentes níveis de prevenção:

Prevenção Primária: é uma ação indireta ao delito, que vai


na raiz do conflito antes que o crime aumente ainda mais, obrigando o Estado a
criar os direitos sociais, através dos instrumentos constitucionais e legais.
Geralmente, estas ações são onerosas, com reflexo a médio e longo prazo,
está voltada à segurança e qualidade de vida.

Prevenção Secundária: são ações que estão voltadas a


sociedade, em condições de vulnerabilidade criminal, com propensão a
delinquir. Baseado nisto, algumas ações devem ser melhor executadas, como
por exemplo com a reurbanização de certos bairros para que seja efetuado seu
controle, tendo reflexos a curto e médio prazos;

Prevenção Terciária: visa não permitir que o recluso volte


a delinquir. Contudo, este tipo de prevenção possui altos níveis de ineficácia,
pela omissão estatal em pôr em prática os direitos e deveres legais dos
apenados e a mitigação da estigmatização por que passa o egresso do sistema
prisional. Realiza-se por meio de medidas socioeducativas como a laborterapia,
a liberdade assistida, etc.
Prevenção geral e específica: A prevenção geral permite
que a pena seja dirigida à sociedade, tentando intimidar as pessoas que
queiram cometer crimes, delinquir, como por exemplo com as sanções
condenatórias que serão impostas ao transgressor.

Já a prevenção especial volta-se para o fato de que o delito é instigado por


fatores endógenos e exógenos, de modo que busca a recuperação do indivíduo
que foi condenado

A prevenção especial, por seu turno, também pode ser


vista sob as formas negativa e positiva.

Na prevenção especial negativa existe uma espécie de


neutralização do autor do delito, que se materializa com a segregação no
cárcere. Essa retirada provisória do autor do fato do convívio social impede que
ele cometa novos delitos, pelo menos no ambiente social do qual foi privado.

Na prevenção especial positiva a finalidade da pena


consiste em fazer com que o autor desista de cometer novas infrações,
assumido caráter ressocializador e pedagógico.

Uma das formas de prevenção será com o aumento de


bairros iluminados, policiais que fiquem nas portas das escolas cuidando para
que os estudantes estejam saindo com proteção, observando o fluxo de
pessoas que se encontrem pelas redondezas, até mesmo com um maior
número de vagas de trabalho, o que permite que muitos deixem de delinquir
para sua própria sobrevivência.

Desta forma, a penalização não será o único instrumento


capaz de prevenir a criminalidade, e o que se busca é a mudança para a
prevenção criminal, diferentemente da Teoria da Reação Social, onde o Ciclo
de Persecução Criminal não passa de corredor estigmatizante.

TEORIA DA REAÇÃO SOCIAL

A ocorrência de ação criminosa gera uma reação social


(estatal) em sentido contrário, no mínimo proporcional àquela. Da evolução das
reações sociais ao crime prevalecem hodiernamente três modelos: dissuasório,
ressocializador e restaurador (integrador).

1) Modelo dissuasório (direito penal clássico): repressão


por meio da punição ao agente criminoso, mostrando a todos que o crime não
compensa e gera castigo. Aplica-se a pena somente aos imputáveis e semi-
imputáveis, pois aos inimputáveis se dispensa tratamento psiquiátrico.
2) Modelo ressocializador: intervém na vida e na pessoa do
infrator, não apenas lhe aplicando uma punição, mas também lhe possibilitando
a reinserção social. Aqui a participação da sociedade é relevante para a
ressocialização do infrator, prevenindo a ocorrência de estigmas.

3) Modelo restaurador (integrador): recebe também a


denominação “justiça restaurativa” e procura restabelecer, da melhor maneira
possível.

A Justiça Restaurativa como meio de prevenção criminal,


além da interação dos órgãos públicos e dos cidadãos com os problemas
sociais, vem se desenvolvendo cada vez mais.

Saliba ressalta que a restauração se trata, sobretudo, de um processo


voluntário, distinguindo-se do modelo vingativo que é adotado pela Justiça
Retributiva”.

Além disso, são adotadas medidas restauradoras em base na


comunicação não violenta, permitindo o uso da mediação, a conciliação e
reuniões coletivas abertas à participação de pessoas da família e da
comunidade.

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