Lei n.o 49/2004 10 — Nos casos em que o processo penal determinar
de 24 de Agosto que o arguido seja assistido por defensor, esta função é obrigatoriamente exercida por advogado, nos termos Define o sentido e o alcance dos actos próprios dos advogados da lei. e dos solicitadores e tipifica o crime de procuradoria ilícita 11 — O exercício do mandato forense e da consulta (Sétima alteração ao Estatuto da Ordem dos Advogados e pri- jurídica pelos solicitadores está sujeito aos limites do meira alteração ao Estatuto da Câmara dos Solicitadores). seu estatuto e da legislação processual. A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea c) do artigo 161.o da Constituição, para valer Artigo 2.o como lei geral da República, o seguinte: Mandato forense
Artigo 1.o Considera-se mandato forense o mandato judicial
conferido para ser exercido em qualquer tribunal, Actos próprios dos advogados e dos solicitadores incluindo os tribunais ou comissões arbitrais e os jul- 1 — Apenas os licenciados em Direito com inscrição gados de paz. em vigor na Ordem dos Advogados e os solicitadores inscritos na Câmara dos Solicitadores podem praticar Artigo 3.o os actos próprios dos advogados e dos solicitadores. Consulta jurídica 2 — Podem ainda exercer consulta jurídica juristas de reconhecido mérito e os mestres e doutores em Considera-se consulta jurídica a actividade de acon- Direito cujo grau seja reconhecido em Portugal, inscritos selhamento jurídico que consiste na interpretação e apli- para o efeito na Ordem dos Advogados nos termos de cação de normas jurídicas mediante solicitação de um processo especial a definir no Estatuto da Ordem terceiro. dos Advogados. 3 — Exceptua-se do disposto no n.o 1 a elaboração Artigo 4.o de pareceres escritos por docentes das faculdades de Direito. Liberdade de exercício 4 — No âmbito da competência que resulta do Os advogados, advogados estagiários e solicitadores artigo 173.o-C do Estatuto da Ordem dos Advogados com inscrição em vigor não podem ser impedidos, por e do artigo 77.o do Estatuto da Câmara dos Solicitadores, podem ser praticados actos próprios dos advogados e qualquer autoridade pública ou privada, de praticar dos solicitadores por quem não seja licenciado em actos próprios dos advogados e dos solicitadores. Direito. 5 — Sem prejuízo do disposto nas leis de processo, Artigo 5.o são actos próprios dos advogados e dos solicitadores: Título profissional de advogado e solicitador a) O exercício do mandato forense; 1 — O título profissional de advogado está exclusi- b) A consulta jurídica. vamente reservado aos licenciados em Direito com ins- crição em vigor na Ordem dos Advogados, bem como 6 — São ainda actos próprios dos advogados e dos a quem, nos termos do respectivo estatuto, reúne as solicitadores os seguintes: condições necessárias para o adquirir. a) A elaboração de contratos e a prática dos actos 2 — O título profissional de solicitador está exclu- preparatórios tendentes à constituição, alteração sivamente reservado a quem, nos termos do respectivo ou extinção de negócios jurídicos, designada- estatuto, reúne as condições necessárias para o adquirir. mente os praticados junto de conservatórias e 3 — Os advogados e solicitadores honorários podem cartórios notariais; usar a denominação de advogado ou de solicitador, b) A negociação tendente à cobrança de créditos; desde que seguidamente a esta façam indicação daquela c) O exercício do mandato no âmbito de reclamação qualidade. ou impugnação de actos administrativos ou tributários. Artigo 6.o 7 — Consideram-se actos próprios dos advogados e Escritório de procuradoria ou de consulta jurídica dos solicitadores os actos que, nos termos dos números anteriores, forem exercidos no interesse de terceiros e 1 — Com excepção dos escritórios ou gabinetes com- no âmbito de actividade profissional, sem prejuízo das postos exclusivamente por advogados, por solicitadores competências próprias atribuídas às demais profissões ou por advogados e solicitadores, as sociedades de advo- ou actividades cujo acesso ou exercício é regulado por gados, as sociedades de solicitadores e os gabinetes de lei. consulta jurídica organizados pela Ordem dos Advo- 8 — Para os efeitos do disposto no número anterior, gados e pela Câmara dos Solicitadores, é proibido o não se consideram praticados no interesse de terceiros funcionamento de escritório ou gabinete, constituído sob os actos praticados pelos representantes legais, empre- qualquer forma jurídica, que preste a terceiros serviços gados, funcionários ou agentes de pessoas singulares que compreendam, ainda que isolada ou marginalmente, ou colectivas, públicas ou privadas, nessa qualidade, a prática de actos próprios dos advogados e dos salvo se, no caso da cobrança de dívidas, esta constituir solicitadores. o objecto ou actividade principal destas pessoas. 2 — A violação da proibição estabelecida no número 9 — São também actos próprios dos advogados todos anterior confere à Ordem dos Advogados ou à Câmara aqueles que resultem do exercício do direito dos cida- dos Solicitadores o direito de requererem junto das auto- dãos a fazer-se acompanhar por advogado perante qual- ridades judiciais competentes o encerramento do escri- quer autoridade. tório ou gabinete. N.o 199 — 24 de Agosto de 2004 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 5657
3 — Não são abrangidos pelo disposto nos números Artigo 9.o
anteriores os sindicatos e as associações patronais, desde Processamento e aplicação das coimas que os actos praticados o sejam para defesa exclusiva dos interesses comuns em causa e que estes sejam indi- O processamento das contra-ordenações e a aplicação vidualmente exercidos por advogado, advogado estagiá- das coimas referidas no artigo anterior compete ao Ins- rio ou solicitador. tituto do Consumidor, mediante denúncia fundamen- 4 — Não são igualmente abrangidas pelo disposto nos tada do Conselho Distrital da Ordem dos Advogados números anteriores as entidades sem fins lucrativos que ou do Conselho Regional da Câmara dos Solicitadores requeiram o estatuto de utilidade pública, desde que, territorialmente competentes. nomeadamente: a) No pedido de atribuição se submeta a autorização Artigo 10.o específica a prática de actos próprios dos advo- Produto das coimas gados ou solicitadores; b) Os actos praticados o sejam para defesa exclusiva O produto das coimas é distribuído da seguinte forma: dos interesses comuns em causa; c) Estes sejam individualmente exercidos por advo- a) 40 % para o Instituto do Consumidor; gado, advogado estagiário ou solicitador. b) 60 % para o Estado.
5 — A concessão da autorização específica referida Artigo 11.o
no número anterior é precedida de consulta à Ordem Responsabilidade civil dos Advogados e à Câmara dos Solicitadores. 1 — Os actos praticados em violação do disposto no Artigo 7. o artigo 1.o presumem-se culposos, para efeitos de res- ponsabilidade civil. Crime de procuradoria ilícita 2 — A Ordem dos Advogados e a Câmara dos Soli- citadores têm legitimidade para intentar acções de res- 1 — Quem em violação do disposto no artigo 1.o: ponsabilidade civil, tendo em vista o ressarcimento de danos decorrentes da lesão dos interesses públicos que a) Praticar actos próprios dos advogados e dos lhes cumpre, nos termos dos respectivos estatutos, asse- solicitadores; gurar e defender. b) Auxiliar ou colaborar na prática de actos próprios 3 — As indemnizações previstas no número anterior dos advogados e dos solicitadores; revertem para um fundo destinado à promoção de acções de informação e implementação de mecanismos é punido com pena de prisão até 1 ano ou com pena de prevenção e combate à procuradoria ilícita, gerido de multa até 120 dias. em termos a regulamentar em diploma próprio. 2 — O procedimento criminal depende de queixa. 3 — Além do lesado, são titulares do direito de queixa a Ordem dos Advogados e a Câmara dos Solicitadores. Artigo 12.o 4 — A Ordem dos Advogados e a Câmara dos Soli- Norma revogatória citadores têm legitimidade para se constituírem assis- tentes no procedimento criminal. São revogados: a) Os artigos 53.o e 56.o do Estatuto da Ordem dos Artigo 8. o Advogados, aprovado pelo Decreto-Lei n.o 84/84, de 16 de Março, com as alterações introduzidas Contra-ordenações pela Lei n.o 6/86, de 26 de Março, pelos Decre- tos-Lei n.os 119/86, de 28 de Maio, e 325/88, de 1 — Constitui contra-ordenação a promoção, divul- 23 de Setembro, e pelas Leis n.os 33/94, de 6 de gação ou publicidade de actos próprios dos advogados Setembro, 30-E/2000, de 20 de Dezembro, e ou dos solicitadores, quando efectuada por pessoas, sin- 80/2001, de 20 de Julho; gulares ou colectivas, não autorizadas a praticar os b) O artigo 104.o do Estatuto da Câmara dos Soli- mesmos. citadores, aprovado pelo Decreto-Lei n.o 88/2003, 2 — As entidades referidas no número anterior incor- de 26 de Abril. rem numa coima de E 500 a E 2500, no caso das pessoas singulares, e numa coima de E 1250 a E 5000, no caso Aprovada em 8 de Julho de 2004. das pessoas colectivas, ainda que irregularmente cons- tituídas. O Presidente da Assembleia da República, João Bosco 3 — As entidades reincidentes incorrem numa coima Mota Amaral. de E 5000 a E 12 500, no caso das pessoas singulares, e numa coima de E 10 000 a E 25 000, no caso das pes- Promulgada em 6 de Agosto de 2004. soas colectivas, devendo para o efeito o Instituto do Consumidor elaborar um cadastro do qual constem Publique-se. todas as entidades que tiverem sido alvo de condenação. O Presidente da República, JORGE SAMPAIO. 4 — Os representantes legais das pessoas colectivas, ou os sócios das sociedades irregularmente constituídas, Referendada em 11 de Agosto de 2004. respondem solidariamente pelo pagamento das coimas e custas referidas nos números anteriores. O Primeiro-Ministro, Pedro Miguel de Santana Lopes.