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Palestra: Atividades Privativas da Advocacia no Brasil.

CEUPI - Prof. André Luz

1. Advocacia no Brasil: Inicialmente, é preciso situar a advocacia no campo constitucional, que segundo
o art. 133 de nossa Carta Magna, a atividade advocatícia é uma das FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA,
e o advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no
exercício da profissão, nos limites da lei (art. 2° e 3° do EOAB - Lei n° 8.906/94).

Art. 2º O advogado é indispensável à administração da justiça.

§ 1º No seu ministério privado, o advogado presta serviço público e exerce função social.
§ 2º No processo judicial, o advogado contribui, na postulação de decisão favorável ao seu constituinte, ao
convencimento do julgador, e seus atos constituem múnus público.
§ 3º No exercício da profissão, o advogado é inviolável por seus atos e manifestações, nos limites desta
lei.

Art. 3º O exercício da atividade de advocacia no território brasileiro e a denominação de advogado são


privativos dos inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

1.1) Atividades privativas da advocacia (art. 1° do EOA):

Art. 1º São atividades privativas de advocacia:


I - a postulação a qualquer órgão do Poder Judiciário e aos juizados especiais; (Vide ADIN 1.127-8 –
Associação Nacional dos Magistrados)
II - as atividades de consultoria, assessoria e direção jurídicas.
§ 1º Não se inclui na atividade privativa de advocacia a impetração de habeas corpus em qualquer instância
ou tribunal.
§ 2º Os atos e contratos constitutivos de pessoas jurídicas, sob pena de nulidade, só podem ser admitidos a
registro, nos órgãos competentes, quando visados por advogados.
§ 3º É vedada a divulgação de advocacia em conjunto com outra atividade.

a) Postulação: Trata-se da principal atividade advocatícia, pois compreende a exclusividade dada aos
advogados devidamente inscritos de deterem CAPACIDADE POSTULATÓRIA para o processo.

a.1) Postulação é exclusiva dos advogados?

- A legislação brasileira prever a possibilidade de capacidade postulatória em outras situações que não
necessitam de um advogado para realizá-las, são elas:

I. HABEAS CORPUS (art. 5°, LXVIII);

LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência
ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;

II. AÇÃO POPULAR (art. 5°, LXXIII)

“qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio
público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao
patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do
ônus da sucumbência;”

III. JUSTIÇA DO TRABALHO: (art. 791 da CLT – Súmula n° 425 do TST):

O art. 791 da CLT: “Os empregados e os empregadores poderão reclamar pessoalmente perante a Justiça
do Trabalho e acompanhar as suas reclamações até o final”.
- Súmula 425 do TST. O jus postulandi das partes, estabelecido no artigo 791 da CLT, limita-se às Varas
do Trabalho e aos Tribunais Regionais do Trabalho, não alcançando a ação rescisória, a ação cautelar, o
mandado de segurança e os recursos de competência do Tribunal Superior do Trabalho.

IV. JUIZADOS ESPECIAIS ESTADUAIS (Lei n° 9.099/95 – art. 9°): Causas de até 20 (vinte) salários-
mínimos. Não abarca os recursos e ações criminais.

Art. 9º Nas causas de valor até vinte salários mínimos, as partes comparecerão pessoalmente, podendo ser
assistidas por advogado; nas de valor superior, a assistência é obrigatória.

V. JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS (Lei n° 10.259/01 – art. 6º e 10): A parte pode representar-se
pessoalmente, por advogado ou mesmo por terceiro, limitando-se quando não advogado ao teto de até 60
(sessenta) salários-mínimos, a exceção das causas criminais.
Art. 6° Podem ser partes no Juizado Especial Federal Cível:

I – como autores, as pessoas físicas e as microempresas e empresas de pequeno porte, assim definidas na
Lei no 9.317, de 5 de dezembro de 1996;
II – como rés, a União, autarquias, fundações e empresas públicas federais.

art. 10. As partes poderão designar, por escrito, representantes para a causa, advogado ou não.

Parágrafo único. Os representantes judiciais da União, autarquias, fundações e empresas públicas federais,
bem como os indicados na forma do caput, ficam autorizados a conciliar, transigir ou desistir, nos processos
da competência dos Juizados Especiais Federais.

V.1 JUIZADOS DOS FEITOS DA FAZENDA PÚBLICA (Lei n° 12.153/09)

Art. 2o É de competência dos Juizados Especiais da Fazenda Pública processar, conciliar e julgar causas
cíveis de interesse dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, até o valor de 60
(sessenta) salários mínimos.

Art. 5o Podem ser partes no Juizado Especial da Fazenda Pública:


I – como autores, as pessoas físicas e as microempresas e empresas de pequeno porte, assim definidas na
Lei Complementar no 123, de 14 de dezembro de 2006;
II – como réus, os Estados, o Distrito Federal, os Territórios e os Municípios, bem como autarquias,
fundações e empresas públicas a eles vinculadas.

VI. AÇÕES DE ALIMENTOS (Lei n° 5.478/68 – art. 2°);

Art. 2º. O credor, pessoalmente, ou por intermédio de advogado, dirigir-se-á ao juiz competente,
qualificando-se, e exporá suas necessidades, provando, apenas o parentesco ou a obrigação de alimentar do
devedor, indicando seu nome e sobrenome, residência ou local de trabalho, profissão e naturalidade, quanto
ganha aproximadamente ou os recursos de que dispõe.

VII. Súmula Vinculante nº 5 do STF: “a falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo
disciplinar não ofende a constituição” .

VIII. A postulação perante juiz de paz precisa ser feita por meio de Advogado? O juiz de paz possui
poderes apenas para celebração e realização de casamento, não possuindo poderes jurisdicionais, logo, não
constitui atividade privativa da advocacia.

a.2) Necessidade de advogado(a): No caso de Inventário, partilhas, separações e divórcio no âmbito


extrajudicial deve constar do ato notarial o nome, número de identidade e assinatura do profissional.

b) Atos e contratos constitutivos de pessoas jurídicas (art. 2° do RGOAB):


Art. 2º O visto do advogado em atos constitutivos de pessoas jurídicas, indispensável ao registro e
arquivamento nos órgãos competentes, deve resultar da efetiva constatação, pelo profissional que os
examinar, de que os respectivos instrumentos preenchem as exigências legais pertinentes.

Parágrafo único. Estão impedidos de exercer o ato de advocacia referido neste artigo os advogados que
prestem serviços a órgãos ou entidades da Administração Pública direta ou indireta, da unidade federativa
a que se vincule a Junta Comercial, ou a quaisquer repartições administrativas competentes para o
mencionado registro.

b.1) A LC n° 123/06: Não se aplica às microempresas e às empresas de pequeno porte o disposto no §2o
do art. 1o da Lei no 8.906, de 4 de julho de 1994 (art. 9°, §2°).

c) Consultoria, assessoria e direção jurídica:

c.1) Consultoria: primeiro atendimento;

c.2) Assessoria: atos posteriores – continuidade de prestação de serviços advocatícios;

c.3) Direção Jurídica: gerência jurídica que qualquer empresa pública, privada ou paraestatal deve possuir
referentes à mesma (art. 7° do RGOAB).

Art. 7º A função de diretoria e gerência jurídicas em qualquer empresa pública, privada ou paraestatal,
inclusive em instituições financeiras, é privativa de advogado, não podendo ser exercida por quem não se
encontre inscrito regularmente na OAB.

d) Natureza jurídica de atividade profissional especializada – art. 3-A do EOAB:

Art. 3º-A. Os serviços profissionais de advogado são, por sua natureza, técnicos e singulares, quando
comprovada sua notória especialização, nos termos da lei. (Incluído pela Lei nº 14.039, de 2020)

Parágrafo único. Considera-se notória especialização o profissional ou a sociedade de advogados cujo


conceito no campo de sua especialidade, decorrente de desempenho anterior, estudos, experiências,
publicações, organização, aparelhamento, equipe técnica ou de outros requisitos relacionados com
suas atividades, permita inferir que o seu trabalho é essencial e indiscutivelmente o mais adequado à
plena satisfação do objeto do contrato. (Incluído pela Lei nº 14.039, de 2020)

1.2) Ato praticados por pessoa não inscrita na OAB? Lembre-se de que o simples bacharel em direito,
mesmo já tendo se formado na Graduação, não pode nem ao menos praticar atos de consultoria ou
assessoria, uma vez que tal atitude configurará exercício ilegal da profissão (art. 47 da LCP).

Art. 47. Exercer profissão ou atividade econômica ou anunciar que a exerce, sem preencher as condições a
que por lei está subordinado o seu exercício:
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de quinhentos mil réis a cinco contos de réis.

1.2.1) Validade dos atos praticados? Os atos praticados por quem não detém a qualidade de advogado
(não inscritos, ou inscritos, mas impedidos, suspensos, licenciados ou incompatíveis) serão nulos de pleno
direito (art. 4° EOAB).

Art. 4º A prática de atos privativos de advocacia, por profissionais e sociedades não inscritos na OAB,
constitui exercício ilegal da profissão.

Parágrafo único. São também nulos os atos praticados por advogado impedido - no âmbito do impedimento
- suspenso, licenciado ou que passar a exercer atividade incompatível com a advocacia.

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