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Thiago Diniz
Teoria Geral dos Direitos Humanos político deve ser legalmente limitado. A Inglaterra
vivia momentos de forte instabilidade política du-
rante o século XIII, sob o domínio de João Sem
1. Direitos do homem x Direitos fundamentais Terra. Esse rei tomou uma série de medidas impo-
x Direitos humanos pulares diante dos barões e do resto da população,
São inerentes ao ser humano, in- como o aumento das taxas fiscais, prisões arbitrá-
Direitos do
dependentemente de serem po- rias e repressão aos opositores.
Homem
sitivados ou não.
Em resumo, assegurou importantes garantias indi-
São os direitos do ser humano re-
Direitos conhecidos e positivados pelo di- viduais, como o devido processo legal, os direitos
Fundamentais reito constitucional de um Estado de propriedade, a liberdade de locomoção e o
específico. acesso à justiça.
São direitos protegidos pela or-
dem internacional (especial- 3.2. Habeas Corpus Act (1679)
mente por meio de tratados mul- Contexto
tilaterais, globais ou regionais)
contra as violações e arbitrarie- A mera previsão na Magna Carta não se mostrou
dades que um Estado possa co- eficaz e veio, então, a necessidade de reafirmar a
Direitos
meter às pessoas sujeitas à sua liberdade dos súditos frente ao poder monárquico
Humanos
jurisdição. São direitos que esta- com uma lei que trouxesse alterações no rito pro-
belecem um nível protetivo cessual do Habeas Corpus e, em 1679, surge, na In-
(standard) mínimo que todos os
glaterra, a Lei de Habeas Corpus (Habeas Corpus
Estados devem respeitar, sob
pena de responsabilidade inter- Act).
nacional. Contribuições para o desenvolvimento dos direitos
André de Carvalho Ramos: A aproximação entre Di- humanos
reito Internacional e Direito Nacional (Art. 5°, § 3°, - Criou regras processuais para o habeas corpus e
CF/88) fez essa classificação perder importância. robusteceu a já conhecida garantia.
- Serviu de modelo para a criação de outras formas
2. Estrutura dos Direitos Humanos
de proteção das liberdades fundamentais, como
a) Direito-pretensão: pressupõe o correspon- o juicio de amparo, na América Latina.
dente dever de prestação. Ex: direito à edu-
cação fundamental corresponde ao dever de 3.3. Declaração de Independência dos EUA
o Estado prestá-la gratuitamente (art. 208, I, (1776)
CF/88). Na Declaração de Independência dos EUA (1776),
b) Direito-liberdade: se funda na não interfe- percebe-se que a dignidade da pessoa humana
rência de terceiro, como ocorre, por exem- exige a existência de condições políticas p/ sua
plo, com a liberdade de religião (art. 5º, VI, efetivação.
CF).
Não há como garantir a dignidade da pessoa hu-
c) Direito-poder: implica uma relação de poder
mana sem intervenção estatal. Os homens vivem
de uma pessoa de exigir determinada sujei-
constantemente uma relação de poder entre si, em
ção do Estado ou de outra pessoa. Ex: direito
que o mais forte domina o mais fraco. Caso se deixe
à assistência da família e de advogado,
a autotutela ao arbítrio do homem, inevitavel-
quando presa a pessoa, obrigando a autori-
mente, haverá exploração de uns sobre outros e,
dade a providenciar os contatos necessários
consequentemente, violações à dignidade hu-
(art. 5º, LXIII, CF/88).
mana.
d) Direito-imunidade: afasta interferências na
vida pessoal, como na imunidade à prisão, 3.4. Séculos XIX e XX
salvo por ordem judicial ou flagrante delito
Positivação dos direitos humanos pelas Constitui-
(art. 5º, LVI, CF/88).
ções Nacionais. Isso levou a um problema, com sé-
3. Evolução histórica dos direitos humanos rias consequências: e se o Estado não previsse de-
terminado direito? Estaria autorizado a não ob-
3.1. Magna Carta (1215) servá-lo?
- Contribuiu para a afirmação de que todo poder
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rio, nas situações não previstas, tanto os comba- O fundamento dos di- A noção de direito está estrita-
tentes, quanto os civis, ficam sob a proteção e a au- reitos humanos é a mente relacionada ao sistema
dignidade humana, político, econômico, cultural,
toridade dos princípios do direito internacional, o
como valor intrínseco social e moral vigente em de-
que abre espaço para a incidência do Direito Inter- à própria condição hu- terminada sociedade. Cada
nacional dos Direitos Humanos. mana. Nesse sentido, cultura possui seu próprio dis-
Embora tenham surgido anteriormente, todas as qualquer afronta ao curso acerca dos direitos funda-
chamado mínimo ético mentais, que está relacionado
vertentes foram consagradas nas conferências
irredutível que com- às específicas circunstâncias
mundiais da última década de 90. Não obstante, a prometa a dignidade culturais e históricas de cada
implementação dessas vertentes deve atender às humana, ainda que em sociedade. Não há moral uni-
demandas de cada região, mesmo que não haja nome da cultura, im- versal. Há o primado do coleti-
sistemas regionais de proteção. portará em violação a vismo. Defendido pelos países
direitos humanos. Os islâmicos, mulçumanos e pela
A relação entre Direito Internacional dos Direitos
direitos humanos per- China. Argumenta-se que a pre-
Humanos e Direito Internacional dos Refugiados tencem a todos (plano tensão de universalidade sim-
lança luz sobre a dimensão preventiva da proteção da titularidade), em boliza arrogância do imperia-
da pessoa humana no plano internacional, pois as qualquer época da his- lismo cultural ocidental. Ex: mu-
violações sistemáticas de direitos humanos em de- tória (plano temporal), tilação clitoriana.
em toda e qualquer ACR: “as peculiaridades locais
terminado país levam ao deslocamento de indiví-
cultura humana (plano ou ocasionais não podem justi-
duos para outras regiões, em função dos temores cultural). ficar a violação ou amesquinha-
de perseguição por motivos de raça, religião, naci- mento dos direitos humanos”.
onalidade ou opinião política.
De uma maneira geral, pode-se dizer que as situ- Universalismo formal e Universalismo em con-
ações específicas não protegidas pelo Direito Inter- creto (interpretação internacionalista)
nacional Humanitário e pelo Direito Internacional a) Universalismo formal: significa a adoção,
dos Refugiados são abarcadas pelo Direito Interna- pelos Estados, do mesmo texto de direitos
cional dos Direitos Humanos. humanos consignados nos tratados ratifi-
O direito humanitário, a criação da Liga das Na- cados.
ções e a criação da Organização Internacional do b) Universalismo em concreto: não basta a
Trabalho são apontados pela doutrina como ante- consagração do mesmo direito, exigindo-
cedentes históricos do moderno direito internacio- se, para além, a adoção dos mesmos pro-
nal dos direitos humanos. cessos de interpretação dos direitos co-
O DIDH é norma geral que se aplica subsidiaria- muns (interpretação internacionalista).
mente ao DIR e ao DIH. # “Truque de ilusionista na ordem interna-
cional”: os Estados ratificam os tratados,
Direito internacional de proteção às minorias mas os descumprem a pretexto de inter-
Consiste no aspecto dos direitos humanos que se pretá-los.
destina a proteger os direitos de membros de mi-
norias étnicas, religiosas ou linguísticas, ainda que Nova perspectiva: diálogo intercultural
não nacionais do Estado em que se encontram, as- Exige duplo diálogo:
segurando-lhes o usufruto de sua cultura, a prática 1º. Interno, em que determinada cultura
de sua religião e o emprego de sua língua. possa debater sua visão de dignidade da
Limita o direito de autodeterminação dos povos, pessoa humana e dos direitos humanos
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(releitura das concepções locais, agora à direitos humanos vistos a partir dos topoi da cul-
luz dos direitos humanos). tura islâmica e hindu são incompletos. Inversa-
2º. Externo, igualitário e baseado na reciproci- mente, as culturas hindu e islâmica, vistas a partir
dade, em que as diversas concepções cul- do topos dos direitos humanos, são incompletas.
turais possam convergir. Logo, para que se possa alcançar uma compreen-
são mútua entre os topoi, é preciso que o diálogo
Universalismo de chegada x Universalismo de
se desenvolva “com um pé em uma cultura e outro
partida em outra”.
a) Universalismo de chegada ou de con-
fluência: ao universal há de se chegar de- 5. Concepções doutrinárias sobre a natureza dos
pois (não antes) de um processo conflitivo, direitos humanos
discursivo de diálogo ou de confrontação A Declaração de Direitos do Homem e do Cida-
no qual cheguem a romper-se os prejuízos dão, documento marcante dessa visão dos direitos
e as linhas paralelas. Falamos do entrecru- humanos, de 1789, estabelece que “o fim de toda
zamento, e não de uma mera superposição a associação política é a conservação dos direitos
de propostas. Aqui, o universalismo é pro- naturais e imprescritíveis” de todo ser humano. Na
duto de reflexões relativas às peculiarida- visão do contratualismo liberal de direito natural,
des culturais de cada sociedade. os direitos humanos são direitos atemporais, ine-
b) Universalismo de partida: identifica-se, rentes à qualidade de homem de seus titulares.
aqui, o fato da compreensão universali- Para mencionar um exemplo desse legado teórico,
zante dos Direitos Humanos, sobretudo a cite-se a primeira afirmação da longeva Declaração
partir da Declaração Universal de 1948, Universal dos Direitos Humanos (1948), pela qual
que por, aprioristicamente, considerá-los todos os homens nascem livres e iguais em digni-
universais, acabam por afastar a possibili- dade e direitos, o que é assemelhado à frase inicial
dade de diálogo com todos os povos que de Rousseau no clássico Do contrato social, na qual
não comungam da mesma matriz teórico- afirmou que o homem nasceu livre".
política e filosófica que embasa e sustenta O fundamento jusnaturalista
referida Declaração. • Jusnaturalismo: corrente do pensamento jurídico
Hermenêutica diatópica segundo a qual existe um conjunto de normas vin-
culantes anterior e superior ao sistema de normas
Através de uma abordagem ampla dos pressupos-
fixadas pelo Estado (direito posto).
tos para a reconceitualização dos direitos humanos
• Na Antiguidade, é possível identificar uma visão
e a construção de um diálogo intercultural, o autor
jusnaturalista na peça de teatro Antígona de Sófo-
Boaventura de Sousa Santos propõe o método da
cles.
hermenêutica diatópica, que tem como pedra
• Na Idade Média, é incentivado pela visão religiosa
angular a noção de que não se pode compreender
de São Tomás de Aquino, para quem a lex humana
facilmente as construções de uma cultura a partir
deve obedecer a lex naturalis, que era fruto da ra-
do topos de outra. Assim, através da hermenêutica
zão divina, mas perceptível aos homens.
diatópica, Sousa Santos procura traçar um caminho
• No plano internacional, Hugo Grotius sustentava,
para superar as dificuldades que surgem do diálogo
no século XVI, a existência de um conjunto de nor-
intercultural. Em outras palavras, se o que se pre-
mas ideais, fruto da razão humana (vertente ra-
tende é o diálogo entre as diversas culturas do
cionalista). Nos séculos XVII e XVIII, essa cor-
mundo, os discursos culturais (dia-logoi) devem ser
rente jusnaturalista impõe a consagração da razão
recolocados em suas respectivas realidades (dia-
e laicidade das normas de direito natural.
topoi), de maneira a se tornarem mutuamente in-
• Os iluministas (em especial Locke e Rousseau)
teligíveis".
fundam a corrente do jusnaturalismo contratua-
"Para exemplificar a utilização do método da her-
lista, que aprofunda o racionalismo e o individua-
menêutica diatópica, Sousa Santos analisa os topoi
lismo. Os direitos humanos são concebidos como
da cultura islâmica e hindu, e a possibilidade de di-
direitos atemporais e inerentes à qualidade de ho-
álogos entre estas e a cultura ocidental. Assim, os
mem de seus titulares.
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• Traço marcante da corrente jusnaturalista, de ori- possuem uma intensidade que o transcurso do
gem religiosa ou contratualista: cunho metafísico, tempo não imuniza, não repara e não sana. A ju-
pois se funda na existência de um direito preexis- risprudência do STJ afirma o afastamento da
tente ao direito produzido pelo homem, oriundo aplicação dos prazos prescricionais em face do
de Deus (escola de direito natural de razão divina) caráter imprescritível das pretensões indeniza-
ou da natureza inerente do ser humano (escola de tórias dos danos a direitos da personalidade
direito natural moderno). ocorridos durante o regime militar.
• O recurso à fundamentação jusnaturalista é per- VI) Inalienabilidade: não existe possibilidade de
ceptível até hoje no Direito Internacional dos Direi- transferência, a qualquer título, desses direitos;
tos Humanos, bem como em alguns julgados do VII) Irrenunciabilidade: deles não pode haver re-
próprio STF. núncia, pois ninguém pode abrir mão da própria
natureza;
6. Características dos direitos humanos - O indivíduo é livre para não exercitar os seus
I) Historicidade: os direitos fundamentais apre- direitos, salvo quando houver lesão à digni-
sentam natureza histórica, advindo do Cristia- dade humana (dimensão objetiva dos direitos
nismo, superando diversas revoluções até chega- humanos). Esse limite à autonomia ocorreu no
rem aos dias atuais; chamado "Caso do Arremesso de Anões”, na
II) Universalidade: alcançam todos os seres hu- França, em que uma casa noturna oferecia jus-
manos indistintamente; nesse sentido fala-se em tamente este tipo de "brincadeira" aos clientes:
“Sistema Global de Proteção de Direitos Huma- arremessar anões. O caso chegou à Justiça, in-
nos”; clusive com o próprio anão defendendo a conti-
- A universalidade não impede a concessão de nuidade da atividade, mas o Conselho de Estado
tratamento diferenciado a determinados gru- e o Comitê de Direitos Humanos entenderam
pos em razão de circunstâncias que lhes são pela proibição da prática, pois o respeito à dig-
próprias. nidade humana limita a autonomia da vontade
III) Inexauribilidade, abertura ou não tipici- dos indivíduos.
dade: são inesgotáveis no sentido de que podem - Não há possibilidade de restrição de direitos
ser expandidos, ampliados e a qualquer tempo po- humanos via lei ordinária.
dem surgir novos direitos (vide art. 5º, § 2º, CF); VIII) Inviolabilidade: não podem ser violados por
Verifica-se a existência de uma cláusula aberta leis infraconstitucionais, nem por atos administra-
ou mesmo de um princípio de não tipicidade dos tivos de agente do Poder Público, sob pena de res-
direitos humanos. Esse filtro axiológico, que é a ponsabilidade civil, penal e administrativa;
fundamentalidade material, existe mesmo com IX) Efetividade: a Administração Pública deve
a positivação constitucional e internacional dos criar mecanismos coercitivos aptos à efetivação
direitos humanos, sendo também denominado dos direitos fundamentais;
de eficácia irradiante dos direitos fundamen- X) Limitabilidade: os direitos não são absolutos,
tais. Assim, os direitos humanos são dotados de sofrendo restrições nos momentos constitucionais
uma carga expansiva, devendo sua interpreta-
de crise (estado de sítio) e também frente a inte-
ção ser ampliativa, de modo a favorecer o indi-
resses ou direitos que, acaso confrontados, sejam
víduo.
mais importantes (princípio da ponderação);
IV) Essencialidade: os direitos humanos são ine-
- Admite-se a relatividade dos direitos huma-
rentes ao ser humano, tendo por base os valores
nos, pois estes colidem entre si e podem sofrer
supremos do homem e sua dignidade (aspecto ma-
restrições por ato estatal ou de seu próprio ti-
terial), assumindo posição normativa de destaque
tular, a exemplo da vedação de associação para
(aspecto formal).
fins paramilitares previsto pelo poder consti-
V) Imprescritibilidade: tais direitos não se per- tuinte originário.
dem com o passar do tempo; XI) Complementaridade: os direitos fundamen-
- A existência de direitos de personalidade não tais devem ser observados não isoladamente, mas
afasta, por si só, a ocorrência de prescrição. de forma conjunta e interativa com as demais nor-
Contudo, violações graves, intensas, permanen- mas, princípios e objetivos previstos pelo consti-
tes e indeléveis à dignidade da pessoa humana tuinte;
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discriminação: criança, mulher, situação de po- • 4ª geração = Direito à bioética, limites da mani-
breza e HIV. pulação do patrimônio genético da pessoas, di-
reito de morrer com dignidade, direito à mudança
10. Normas de jus cogens x obrigações erga de sexo, democracia direta, direito à informação
omnes e o pluralismo político.
a) Normas de jus cogens: conjunto de normas • 5ª geração = paz.
que contém valores considerados essenciais • 6ª geração = água.
para a comunidade internacional. Além de
obrigatórias, ostentam superioridade norma- 12. Conflitos entre Direito Internacional e or-
tiva no choque com outras normas de direito denamento jurídico interno
internacional. As normas de jus cogens podem A jurisprudência internacional entende que é
ser derrogadas? SIM, desde que a derrogação vedada ao Estado-parte qualquer alegação de di-
seja oriunda de norma de igual quilate. reito interno como escusa para o descumprimento
▪ Existe um rol das normas de jus de tratado internacional, ainda que se trate de
cogens? A Convenção Internacio- norma Constitucional, sendo tal regra invocada
nal sobre o Direito dos Tratados foi para a solução dos conflitos apresentados.
omissa, cabendo ao costume in- Casos correlatos:
ternacional apontar quais normas • Caso da Fábrica de Chorzow (1928 – Alema-
integram essa categoria. Ex: proibi- nha x Polônia), julgado pela Corte Permanente de
ção do uso da força para a solução Justiça Internacional (antecessora da Corte Inter-
de controvérsias entre Estados; nacional de Justiça).
autodeterminação dos povos; • Caso Olmedo Bustos x Chile (A última tenta-
princípio da igualdade e não discri- ção de Cristo), a Corte consignou que o direito in-
minação (Corte Internacional de terno é mero fato perante a Corte Interamericana
Direitos Humanos). de Direitos Humanos, ainda que se trate de norma
b) Obrigações erga omnes: são deveres in- oriunda do poder constituinte originário.
ternacionais cujo cumprimento interessa à
comunidade internacional. Ainda sobre o tema...
Art. 27 da Convenção de Viena sobre Direito dos
➔ Nem toda obrigação erga omnes é norma de jus Tratados de 1969. Uma parte não pode invocar as
cogens. disposições de seu direito interno para justificar o
➔ Toda norma de jus cogens é obrigação erga om- inadimplemento de um tratado.
nes.
13. Teoria da margem da apreciação nacional
11. Gerações dos direitos humanos
A teoria da margem de apreciação (“margin of ap-
A adoção do conceito de gerações de Direitos Hu- preciation”) é considerada pela doutrina especiali-
manos não é consensual na doutrina brasileira. zada como um importante meio utilizado pelo Di-
• 1ª geração = Direitos civis e políticos. reito Internacional dos Direitos Humanos para so-
- Segundo André de Carvalho Ramos, é possí- lucionar conflitos existentes entre os sistemas ju-
vel exigir ações do Estado nos direitos de pri- rídicos nacionais e o sistema internacional dos di-
meira dimensão, como, por exemplo, para a reitos humanos.
garantia da segurança pública e administração Tal doutrina vem sendo agasalhada pelo sistema
da justiça. regional europeu, que a concebe como meio para
- Igualdade formal é direito de 1ª geração. interpretação e solução de conflitos relacionados à
• 2ª geração = Sociais, econômicos, culturais efetividade dos Direitos Humanos. De acordo com
- natureza prestacional (+). a teoria da margem da apreciação, determinadas
- igualdade material é direito de 2ª geração. questões controvertidas relacionadas com as res-
• 3ª geração = Meio ambiente, proteção jurídica trições estatais devem ser debatidas e soluciona-
do consumidor, autodeterminação dos povos, di- das pelas comunidades nacionais, não podendo o
reito ao desenvolvimento. juiz internacional apreciá-las. Assim, ficaria a
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cargo do próprio Estado nacional estabelecer os li- A Declaração Universal dos Direitos Humanos
mites e as restrições ao gozo de direitos em face do (DUDH) = Carta de Paris
interesse público. É imperioso destacarmos que,
• Foi aprovada sob a forma de resolução da AG
apesar de bastante citada pela Corte Europeia, a te-
da ONU. Teria força vinculante? 3 correntes:
oria da margem de apreciação não encontra am-
1. Sim, pois é interpretação autêntica;
paro na Corte Americana de Direitos Humanos.
2. Sim, pois representa o costume interna-
Recentemente, a Corte Europeia deixou de apli-
cional;
car a teoria da margem da apreciação nacional, de-
3. Não, pois representa somente a soft law.
cidindo, ainda, que as suas decisões não são vincu-
lantes e que o uso da teoria da margem de apreci- 15. Processo Internacional de proteção de di-
ação deveria ser feito levando em consideração o reitos humanos
princípio da proporcionalidade. Conceito
Em resumo: Conjunto de mecanismos internacionais que ana-
• Há uma maior capacidade decisória do Es- lisa a situação de direitos humanos em um deter-
tado em detrimento dos órgãos internacionais. minado Estado, detectando violações de direitos
• A aplicação da teoria da margem da apreciação humanos, fixando reparações cabíveis ou im-
nacional deve ser feita em cotejo com o princípio pondo sanções.
da proporcionalidade.
16. Responsabilização internacional do Es-
14. A proteção internacional dos direitos hu- tado por violação de compromissos internaci-
manos onais
Consiste em um conjunto de normas jurídicas que • A responsabilidade do Estado é objetiva: nasce a
garante o respeito à dignidade de todas as pessoas. partir da infração à norma de conduta internacio-
Como se dá a relação entre os Estados e os Trata- nal por meio de ação ou omissão imputável ao Es-
dos Internacionais de Direitos Humanos? tado, sem que haja qualquer recurso a uma avali-
• Não mais se adota uma visão contratualista nos ação da culpa do agente-órgão do Estado. A res-
tratados internacionais de direitos humanos. Não ponsabilidade objetiva é caracterizada pela aceita-
há natureza sinalagmática nos compromissos assu- ção da ausência da prova de qualquer elemento vo-
midos entre os Estados aderentes. litivo ou psíquico do agente. Bastaria a comprova-
• Fala-se, então, na objetividade da proteção ção do nexo causal, da conduta e do dano em si.
dos direitos humanos, que consiste na impossi- • A adoção de providências pelo Estado, no sentido
bilidade da utilização do princípio geral de Direito de investigar e punir os agentes, não constitui ar-
Internacional da reciprocidade. A violação de um gumento suficiente para, por si só, afastar a res-
tratado multilateral de proteção aos direitos huma- ponsabilização no plano internacional.
nos em nada afeta a obrigação de outro Estado- Sistema convencional x Sistema extraconvencional
parte, que continuará obrigado pelas normas do Sistema Sistema
mesmo tratado. Convencional Extraconvencional
O compromisso interna- O compromisso decorre
Internacionalização dos Direitos Humanos cional é assumido por de resoluções editadas
• Consiste na criação de um corpo sistematizado e tratado ou convenção. pela ONU.
coerente de normas, com princípios, objeto e me- Em razão do compro- Como não está previsto
todologia próprios. misso assumido pelos Es- em Tratados, independe
tados signatários, pode de aceitação ou ratifica-
• Somente quando foi alcançado esse patamar de
prever o peticionamento ção e, com isso, não
sistematização foi possível falar-se em Direito In- por violações de direitos existe a possibilidade de
ternacional dos Direitos Humanos (DIDH). humanos. peticionamento em caso
• Concluiu-se que a proteção dos direitos humanos de violação de direitos
humanos.
não pode ser tida como parte do domínio reser-
vado de um Estado (isso permitiu a ascensão do na- Há força vinculante. Aqui há discussão.
zismo).
• A Carta da ONU é o marco histórico do DIDH.
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