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Direito Penal I

Roteiro de estudos referente à aula do dia 03.08.20.

Ciências criminais.

- A análise das ciências criminais envolve o estudo dos seus dois componentes, a
saber:

- Ciências criminais empíricas.

- Ciências criminais normativas.

- Ciências criminais empíricas.

- Baseadas no estudo do “ser”, as ciências criminais empíricas são obtidas a


partir da observação da realidade.

- São ciências investigativas, não exatas nem rígidas.

- São divididas em duas vertentes:

1. Criminologia.

- Estuda os fatores determinantes do crime.

- Atua junto ao Direito Penal, auxiliando na compreensão do problema


do crime.

- Reúne informações sobre as infrações penais e atos desviantes.

- Faz a análise dos autores e das vítimas dos atos estudados.

- Trabalha com a realidade e é baseada nas informações coletadas a


partir dos atos reais da sociedade.

- Não é teleológica (analisando as raízes do crime para discipliná-lo),


mas é ciência causal-explicativa (retrata a infração enquanto fato,
perquirindo suas origens, razões de existência, contornos e formas de
exteriorização).

- Visa o conhecimento do delito como fenômeno individual (o que o


causa) e social (repercussão na sociedade).

- O estudo da Criminologia subdivide-se em quatro vertentes: delito,


delinquente, vítima e controle social.

- Estuda o delito, assim como o seu autor, sob os aspectos biológicos e


sociológicos. Abarca, pois, a biologia criminal (antropologia, psicologia,
psiquiatria) e a sociologia criminal.

- Relaciona-se com outras ciências sociais, mas é uma área


independente.

- Sob sua perspectiva, o delito não é somente um ato individual, mas


um problema social e comunitário.

- A Criminologia não se preocupa com o conteúdo normativo a ser


aplicado ao delinquente. Da norma penal se ocupa o Direito Penal.

2. Política criminal.

- Uma vez que a Criminologia estuda o delito criminal, a Política


Criminal estabelece medidas para controle e combate à criminalidade.

- Cuida das estratégias e meios de controle social da criminalidade


(caráter teleológico).

- Esse controle não se fundamenta apenas no Direito Penal, mas


também em ações de caráter não repressivo.

- Indica as formas e atitudes a serem tomadas pelos membros do


Estado para que as ocorrências penais sejam diminuídas.

- Assume posição de vanguarda em relação ao direito vigente, pois,


como ciência de fins e meios, sugere e orienta reformas à legislação
vigente.
- Assim como a Criminologia, a Política Criminal é feita a partir da
observação dos fatos na realidade empírica (“ser”) e não das normas
que ditam o “dever ser” (normas).

- Ciências criminais normativas.

- Estudam o modo como deve ser o comportamento social.

- Não partem da realidade, mas de como as coisas deveriam ser.

- Enquanto as ciências empíricas partem da observação da realidade para


determinar as causas dos fenômenos, as normativas interpretam os
fenômenos de acordo com o princípio da imputação.

- São divididas, em geral, em três vertentes, a saber:

1. Direito Penal.

- Também conhecido como Direito Criminal, ´pe a área do direito que


regulamenta o exercício do poder punitivo do Estado.

- Versa acerca de infrações penais, que são comportamentos


considerados danosos à ordem social e, portanto, reprováveis.

- Também garante os direitos fundamentais da pessoa frente a


possíveis abusos do Estado.

- Dele fazem parte o Código Penal e outras leis penais.

2. Direito Processual Penal.

- Também conhecido como Direito Processual Criminal, é o estudo da


aplicação da jurisdição do Direito Penal.

- Traz a matéria penal da abstração para a realidade, baseando-se,


ainda, na ideia do “dever-ser”.

- Apresenta as ferramentas necessárias para a aplicação prática do


Direito Penal.

- Impõe regras que disciplinam a atuação das partes e do Estado-Juiz


no processo propriamente dito.
- Dele fazem parte o Código de Processo Penal e outras leis.

3. Execução Penal.

- É a fase que se apresenta após o trânsito em julgado da sentença


condenatória e em que se dá o cumprimento da pena imposta por meio
do processo.

- Logo, nesse momento, a pena privativa de liberdade, restritiva de


direitos ou pecuniária será executada.

- No Brasil é regida pela Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/1984).

Direito Penal Criminologia Política Criminal


Finalidade Analisando fatos Ciência empírica Trabalha as
humanos que estuda o crime, estratégias e
indesejados, define a pessoa do meios de controle
quais devem ser criminoso, da vítima social da
rotulados como e o comportamento criminalidade.
infrações penais, da sociedade
anunciando as
respectivas
sanções
Objeto O crime enquanto O crime enquanto O crime
“norma” “fato” enquanto “valor”
Exemplo O Direito Penal Estuda o fenômeno Estuda formas de
define o crime de do homicídio, o diminuir o
homicídio agente homicida, a homicídio
vítima e o
comportamento da
sociedade

Direito Penal.

- Aspectos:

- Formal (estático): o Direito Penal é o conjunto de normas que qualifica


certos comportamentos humanos como infrações penais; define os seus
agentes e fixa sanções a serem aplicadas.
- Material: refere-se a comportamentos considerados altamente
reprováveis/danosos ao organismo social, afetando bens jurídicos
indispensáveis à sua própria conservação e progresso.

- Sociológico (dinâmico): instrumento de controle social de comportamentos


desviados (ao lado de outros ramos do Direito), visando assegurar a
necessária disciplina social e a convivência harmônica dos membros do
grupo.

- O que diferencia uma norma penal das demais é a espécie de consequência


jurídica que enseja, qual seja, a cominação de pena ou medida de segurança.

Pena ou
Norma de Consequência
medida de
Direito Penal jurídica
segurança

Funcionalismo.

- Movimento que visa analisar a real função do Direito Penal.

- Muito embora não haja pleno consenso acerca da sua teorização, sobressaem-se
dois segmentos:

1. Funcionalismo teleológico (ou moderado): defendido precipuamente por


Claus Roxin. Para ele a função do Direito Penal é assegurar bens jurídicos
(valores indispensáveis à convivência harmônica em sociedade).

2. Funcionalismo sistêmico (ou radical): defendido precipuamente por Günter


Jakobs. Para ele a função do Direito Penal é assegurar o império da norma,
ou seja, resguardar o sistema, mostrando que o direito posto existe e não
pode ser violado.

* Na concepção do funcionalismo sistêmico, quando o Direito Penal é


chamado a atuar, o bem jurídico protegido já foi violado, de modo que a
sua função não pode ser a segurança dos bens jurídicos, mas sim a
garantia da validade do sistema.
* Aquele que se desvia da norma, não oferece garantia de que vai se
comportar bem doravante, por isso, não pode ser tratado como
cidadão, mas sim combatido como inimigo.

* Surge, nessa linha, o cognominado Direito Penal do Inimigo, que


encara aquele que violou o sistema como um inimigo da sociedade,
devendo ser alvo de consistente repressão e não fazendo jus ao status
de cidadão.

- Na doutrina brasileira prevalece o entendimento de que o Direito Penal serve,


efetivamente, para assegurar bens jurídicos, sem desconsiderar a sua missão
indireta (ou mediata): o controle social e a limitação do poder punitivo estatal.

DIREITO PENAL
Missão imediata Assegurar bens jurídicos
Missão mediata Controle social e a limitação do poder
punitivo estatal

- A seleção dos bens jurídicos a serem tutelados terá como norte a CRFB, que
exerce duplo papel:

- Orienta o legislador, elegendo valores considerados indispensáveis à


manutenção da sociedade.

- Impede que esse mesmo legislador, com a suposta finalidade protetiva de


bens, proíba ou imponha determinados comportamentos, violando direitos
fundamentais atribuídos a toda pessoa humana.

Categorias do Direito Penal (sob enfoque doutrinário).

1. Direito Penal substantivo e Direito Penal adjetivo.

- Substantivo: é o direito material; aquele que cria as figuras criminais e


contravencionais.
- Adjetivo: é o direito processual; normas destinadas a instrumentalizar a atuação do
Estado, diante da ocorrência de infração penal

* O direito processual é autônomo em relação ao direito penal.

2. Direito Penal objetivo e Direito Penal subjetivo.

- Objetivo: conjunto de leis penais em vigor no País.

- Subjetivo: direito que surge para o Estado de exigir que os cidadãos se submetam
às suas regras e, consequentemente, de punir o infrator, quando houver razão para
tanto. É a capacidade do Estado de produzir e fazer cumprir suas normas.

* O poder de punir sofre limitações quanto ao:

- Modo: deve respeito aos direitos e garantias fundamentais.

- Espaço: a atuação do Direito Penal se dará, em regra, em relação aos


fatos verificados no território brasileiro (soberania).

- Tempo: o poder de punir não é eterno. É limitado pela prescrição.

* Tribunal Penal Internacional:

- Criado pelo Estatuto de Roma (e incorporado ao ordenamento jurídico


brasileiro através do Decreto nº 4.388/2002).

- Alcança infrações com maior gravidade e repercussão internacional.

- Tem caráter complementar às jurisdições penais nacionais. Logo, tem


competência subsidiária em relação às jurisdições nacionais dos
países signatários e não representa exceção à exclusividade do direito
de punir do Estado.

- Somente é chamado a intervir quando a justiça repressiva interna


falhe, seja omissa ou insuficiente.

3. Direito Penal de emergência.

- Deriva da sensação de insegurança e busca atender demandas de criminalização.


- Tem feição punitivista e, não raras vezes, afasta o Direito Penal do seu caráter
fragmentário.

- Dele deriva o Direito Penal simbólico, em que o legislador atua penando na opinião
pública, querendo, com novos tipos penais ou penas maiores, devolver para a
sociedade a sensação de segurança. Ex.: Lei 8.072/1990.

- Afasta o Direito Penal de suas finalidades legítimas.

4. Direito Penal promocional.

- Tem caráter político-demagógico. O Estado, com o escopo político, usa o Direito


Penal para promover seus interesses de transformação social.

- É avesso à intervenção mínima.

- Ex.: contravenção da Mendicância, existente até o ano de 2009.

5. Direito Penal de intervenção.

- Direito Penal não deve ser alargado, mas utilizado apenas na proteção de bens
jurídicos individuais e que causem perigo concreto.

- As infrações difusas (e coletivas), assim como as abstratas, seriam tratadas por


sistema jurídico mais flexível, sem privação da liberdade.

- Seria o meio termo entre o Direito Penal e o Direito Administrativo.

6. Direito Penal garantista.

- O garantismo é uma corrente jurídica que prega o respeito máximo às garantias


legais, a fim de coibir arbitrariedades judiciais e, desta forma, proteger os réus, que
são considerados inocentes até o trânsito em julgado da sentença condenatória.

- Tem como expoente o doutrinador Luigi Ferrajoli.

- A CRFB é fundamento de validade das normas infraconstitucionais, que devem


respeitar os direitos fundamentais (tem a ver com os direitos do ser humano
reconhecidos e positivados no âmbito constitucional de determinado Estado, tendo
como finalidade limitar o exercício do poder estatal em face da liberdade individual)
nela contidos.

- As garantias dividem-se em:

- Primárias: limites ao exercício de qualquer poder.

- Secundárias: formas de reparação subsequentes às violações das primárias.


Derivam exatamente da não observância das garantias primárias
(anulabilidade de atos; responsabilização por atos ilícitos).

- Há critérios de racionalidade e civilidade à intervenção penal, deslegitimando


normas ou formas de controle social que se sobreponham aos direitos e garantias
fundamentais.

- Estabelece o objeto e os limites do Direito Penal nas sociedades democráticas.

- É consentâneo com o Estado Democrático de Direito, que, em último plano,


espelha a necessidade de todos se submeterem às leis (construídas com a
participação popular, ainda que pela via da representatividade).

- Apoia-se em dez axiomas, a saber:

AXIOMA PRINCÍPIO CORRELATO


Nulla poena sine crimine Princípio da retributividade ou da
consequencialidade da pena em relação ao
crime
Nullum crimen sine lege Princípio da legalidade
Nulla lex sine necessitate Princípio da necessidade ou da economia do
direito penal
Nulla necessitate sine injuria Princípio da lesividade ou da ofensividade do
evento
Nulla injuria sine acione Princípio da materialidade ou da exteriorização
da ação
Nulla actio sine culpa Princípio da culpabilidade
Nulla culpa sine judicio Princípio da jurisdicionariedade
Nullum judicio sine accusatione Princípio acusatório
Nullum accusatione sine probatione Princípio do ônus da prova ou da verificação
Nulla probatio sine defensione Princípio da defesa ou da falseabilidade
7. Direito Penal comum e Direito Penal especial.

- Leva-se em conta o órgão que irá aplicar o Direito Penal. Se for a justiça penal
comum (federal ou estadual) trata-se do Direito Penal comum. Se for a justiça penal
especial (militar ou eleitoral), trata-se do Direito Penal especial.

* Deve-se diferenciar, ainda, legislação penal comum (Código Penal) e


legislação penal especial (leis extravagantes ou especiais).

Características do Direito Penal.

1. Caráter público: somente o Estado detém o ius puniendi.

2. Finalidade preventiva: busca evitar que o cidadão não se afaste da ordem jurídico-
penal. Daí estabelecer normas proibitivas/mandamentais e sanções para aqueles
que a descumprem.

3. Avaliação e mediação da escala de valores da vida em comum do indivíduo


(função valorativa).

4. É ciência do “dever-ser”, portanto, cultural e não natural. Advém do convívio


social.

5. É ciência normativa, tendo como objeto o estudo do conjunto de preceitos legais,


o “dever-ser”, sem perder de vista o estudo da gênese do crime (função criadora).

6. Caráter finalista: visa a proteção dos bens jurídicos fundamentais.

7. Sancionador: não cria bens jurídicos, mas acrescenta a sua tutela penal aos bens
regulados por outras áreas do Direito.

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* Roteiro de estudos construído mediante consulta às obras indicadas na bibliografia


constante do Plano de Ensino, disponível no SGA, bem assim às mencionadas –
eventualmente - durante as aulas. Este roteiro não esgota o conteúdo programático e não
substitui os textos originais encontrados em tais obras, que devem ser percorridos. Objetiva,
apenas, estratificar os pontos lecionados durante as aulas, de modo a nortear os alunos em
seus estudos.

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