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Autor: Wagner Matheus Jinkings Nunes

Direito Penal I
2° Período
O que é o direito penal? É o setor do ordenamento jurídico que define crimes, comina penas e
prevê medidas de segurança aplicáveis aos autores das condutas incriminadoras.
Processo penal
Crime Pena
(Pressuposto) (Consequência jurídica)
Obs: Não existe pena sem crime. Caso aconteça, irá ferir o pressuposto de inocência.
Objeto do direito penal:
- Forma positiva: Ação.
- Forma negativa: Omissão.
Função do direito penal:
- Defesa social.
- Tutela dos bens jurídicos.
- Justa retribuição do mal.
- Ordem social justa.
- Tratamento penal justo e igualitário.
Objetivos reais do discurso jurídico penal oficial:
- Sistema jurídicos e políticos de controle social:
a) Proteção de interesses dos grupos hegemônicos.
b) Exclusão ou redução dos interesses dos grupos subordinados
- Direito penal:
a) Funciona na lógica da seletividade.
b) Instituem o domínio de um sobre o outro.
c) Garante a desigualdade social.
d) Defesa social.
- O sistema de justiça criminal:
a) Centro gravitacional de controle social.
b) As penas e as medidas de seguranças são os mais rigorosas instrumentos de reação oficial
contra violações sociais, econômicas e políticas, garantindo a continuidade do próprio
sistema penal.
- Tipos de discurso: Declarado (simbólico) e oculto (real).
Infrações penais: (Crimes e contravenções)
● Crimes:
- Punido com reclusão (fechado, semi-aberto e aberto) ou detenção (Semi-aberto e aberto
(podendo haver regressão para o regime fechado)), podendo ser acompanhado por multa.
- Pune-se a tentativa com a pena correspondente com o crime consumado, diminuída de um a
dois terços.
- O tempo de cumprimento de pena privativa de liberdade não pode ser superior a 40 anos.
- A ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a declara privativa do ofendido.

● Contravenções:
- Prisão simples (Semi-aberto e aberto (não podendo haver regressão para o regime fechado)),
podendo ser acompanhado por multa.
- Não é punível a tentativa.
- A duração da pena de prisão simples não pode ser superior a 5 anos.
- A ação penal é pública, devendo a autoridade proceder de ofício.

Elementos do crime:

 Elementares: Dados essenciais da figura típica. Sem eles não há crimes.


EX: Furto: subtração da coisa alheia móvel de outrem.
 Circunstâncias: Dados acessórios da figura típica que agregados ao tipo fundamental
influem na quantidade da pena. Ex: Art. 121, parágrafo 4, CP.
 Comunicabilidade: Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal,
salvo quando elementares do crime.
Sujeitos do crime:
- Ativo: o sujeito que pratica a ação penal.
- Passivo: o sujeito que sofre a ação lesiva.
Objeto do crime:
- Material: pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta. Ex: celular; homicídio...
- Jurídico: bem jurídico tutelado pela norma penal incriminadora. Ex: patrimonial; crime à vida...
Normas penais:
- Definem crimes e estabelecem sanções (princípio da legalidade).
Espécies de normas penais:
Incriminadoras:
a) Completas: Não necessitam de complementos para serem aplicadas.
b) Incompletas: Necessitam de complementos para a efetiva compreensão da conduta
proibida. (Norma penal em branco).
Sentidos:
Latu sensu (homogenia): Mesma fonte formal da norma
. incriminadora.
Stricto sensu (heterogênea): Procede de outra fonte.
Ex: Lei de drogas. O ato administrativo da Anvisa complementa.

Princípios do Direito Penal


Princípio da Generalidade:
-É essencial e ao qual todas as demais regras se submetem.
Princípio da legalidade:
-O cidadão é livre de agir conforme a legislação e o Estado pode apenas adotar condutas
previstas em lei, protegendo os cidadãos de ações abusivas do estado.

Princípio da intervenção mínima:


-Legitima intervenção penal apenas quando não existam outros instrumentos capazes de tutela.
-Última ratio.
Princípio da culpabilidade: ‘’Nullum crimen sine culpa.’’
1. Fundamentos de pena: (Imputabilidade) Reprovação ao autor de fato delituoso.
2. Limite de pena: Deve ser proporcional a pena com a gravidade do fato.
3. Impeditiva da atribuição de responsabilidade objetiva: Dolo ou culpa.
Princípio da humanidade:
-Direitos fundamentais previstos no Art. 5° da CF (assistência à saúde, jurídica, educacional, social
e religiosa).
-O limite de toda pena se baseia na dignidade da pessoa humana, sendo proibido penas de caráter
cruéis.
-A presidiárias serão asseguradas as devidas condições para permanecerem com seus filhos,
durante a fase de amamentação.
-As penas devem levar em consideração a natureza do delito, a idade e o sexo do condenado.
Punição da individualização da pena:
-A pena deve ser individualizada nos planos legislativo, judiciário e executório, evitando-se a
padronização da sanção penal. Obriga o julgador a fixar a pena conforme a cominação legal
(espécie e quantidade) e a determinar a forma de sua execução.
-Leva-se em conta antecedentes criminais.
-A lei adotará as seguintes penas:
a) Privação ou restrição da liberdade.
b) Perda de bens.
c) Multa.
d) Prestação social alternativa.
e) Suspensão ou interdição de direito.
Princípio da responsabilidade pessoal:
-Preconiza que somente o condenado, e mais ninguém, poderá responder pelo fato praticado,
pois a pena não pode passar da pessoa do condenado.
Princípio da ofensividade e da exclusiva proteção de bens jurídicos:
-Só tem crime se tiver uma ofensa ao bem jurídico.
EX: Homicídio (ofensa ao bem jurídico VIDA)
-Tutela subsidiária dos bens jurídicos.
-Quando não há o crime, mas mesmo assim o cidadão é preso, fere o princípio da ofensividade.

-Não se pune atitudes ‘’desviadas’’ não ofensiva a bem jurídico.


EX: O sujeito que faz xixi na rua.
-Não se pune o crime impossível:
EX: Não se pode matar um morto.
-Atos preparatórios: Premeditação do crime, por exemplo, compra uma faca é uma atitude
comum, mas a quando se compra para matar, estar havendo uma premeditação de um crime,
nesse caso, homicídio.
Princípio da proporcionalidade:
-As penas devem ser aplicadas na proporção da gravidade do delito, ou seja, quanto mais grave o
delito, mais severa a pena.

-Todas as vezes que se tenham penas desproporcionais, o princípio da legalidade também será
ferido.
Princípio do Ne Bis In Idem:
-Princípio de vedação à dupla incriminação, proibindo que uma pessoa seja processada, julgada e
condenada mais de uma vez pela mesma conduta.
-Súmula 241 do STJ: A reincidência penal não pode ser considerada como circunstância agravante
e, simultaneamente, como circunstância judicial.
Princípio da insignificância:
Princípio jurídico que visa descaracterizar um ato que, ao levar a lei ao pé da letra, seria
compreendida com crime, mas, por ter impacto insignificante, é destituído de sua tipicidade,
isentando o autor da ação de pena. Encontrando-se diretamente ligado com o princípio da
intervenção mínima.
-Critérios do STF:

 Mínima ofensividade da conduta do agente.


 Nenhuma periculosidade social da ação.
 Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento.
 Inexpressividade da lesão jurídica provocada.
Crimes contra Administração Pública:
-Súmula 599 do STJ: O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra administração
pública.
-STF: Não inviabiliza por si só o princípio da insignificância, deve-se fazer uma análise do caso
concreto.
Bem jurídico – penal:
Conceito: podem-se definir os bens jurídicos como circunstâncias reais dadas ou finalidades
necessárias para uma vida segura e livre, que garanta a todos os direitos humanos e civis de cada
um na sociedade ou para o funcionamento de um sistema estatal que se baseia nestes objetivos”.
Consequências da adoção de um direito penal voltado à tutela de bens jurídicos:
 Limitação dos meios punitivos do Estado → orientado à tutela de bens de relevante
importância da pessoa e da comunidade;
 Não se punem as puras violações morais, uma vez que elas não mais representam a ofensa
a um bem jurídico;
 Não se criminaliza condutas com finalidade de propagar doutrinas contrárias a uma
determinada concepção de Estado, fazer apologia de qualquer doutrina religiosa, moral,
política, econômica, social ou cultural (exceção da eventual ilicitude dos meios utilizados);

Conflito aparente de normas: Quando aparentemente mais de uma norma poderia ser aplicada
ao caso concreto;
- Pressupostos: unidade de fato + aparente incidência de mais de uma norma incriminadora
- Conflito de normas e pluralidade de fato:
- ANTEFATO IMPUNÍVEL: quando o agente realiza uma conduta criminosa visando praticar
outra. Ex: falsificação de cheque de terceiro para compra em loja. (falsificação +
estelionato).
- PÓS-FATO IMPUNÍVEL: após a consumação realiza-se nova conduta contra o mesmo bem
jurídico, incapaz de agravar a lesividade do ato anterior. Ex: roubo de celular e descarte do
objeto pelo desvalor do mesmo. (roubo+dano)
- Princípio da especialidade:
Norma especial: quando reúne todos os elementos da norma geral mais elementos
especiais. Toda vez que temos a norma especial, temos também a norma geral.
Ex: Um homem dirigindo embriagado atropela alguém, irá prevalecer o CTB, por se tratar
de uma norma especial.
- Princípio da subsidiariedade:
O acontecimento de uma conduta inicial faz surgir uma incriminadora que, pela gravidade
da atuação do agente, passa a configurar um outro crime.
Ex: A sabendo possuir doença venérea, mantém relações sexuais com B. Inicialmente se
encaixa no Art. 130 do CP, mas caso B venha a falecer e seja comprovado que essa morte
tenha sido motivada pela transmissão da doença, A será punida por homicídio.
Relação de primariedade – subsidiariedade: aplica-se a lei de maior gravidade (lei de
primariedade).
-Princípio da consunção:
- Quando um crime constitui meio necessário ou fase normal para a realização de outro;
Ex.: furto por rompimento ou invasão: absorvem os crimes de violação de domicílio e
danos. Lesão corporal em relação ao homicídio.
- Tem-se concurso de crime se fatos posteriores não tiverem na mesma linha de ataque ao
bem jurídico protegido.
- Princípio da alternatividade:
- Cabe nas infrações de ação múltipla ou conteúdo variado – diversos núcleos;
- Alguém prática mais de um verbo do mesmo tipo = só responde por um crime.
Ex: quem expõe à venda + vende substância entorpecente = pratica crime de tráfico (art.
33 Lei 11.343/06);

LEI PENAL NO TEMPO:


-Conflitos de leis penais no tempo:
Quando duas ou mais leis penais que tratam do mesmo assunto sucedem-se;
Lei em Atividade: quando se aplica a fatos ocorridos durante sua vigência;
Lei em extra atividade: quando aplicada fora do seu período de vigência;
Retroatividade: aplicação da lei a fatos ocorridos antes de sua entrada em vigor.
Ultratividade: a aplicação de uma lei depois de sua revogação.
IRRETROATIVIDADE DA LEI PENAL:

 Art. 1° CP (Anterioridade da lei). Exceção: lei mais benigna;


 Aplica-se a lei mais benéfica aos fatos anteriores ou posteriores à revogação da lei.
 STF Súmula nº 611: “Transitada em julgado a sentença condenatória, compete ao juízo das
execuções a aplicação de lei mais benigna”. (art 66, I, LEP)
Ex: L1 (pena de 3-8) →→→→ FATO →→→→ L2 (pena 2-4) →→→→ Sentença = L2.

Abolitio criminis: Art. 2° do CP: “Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de
considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença
condenatória”.
 Efeitos:
a) Cessa o inquérito (arquivamento)/Extinção do processo;
b) Cabe HC – a prisão passa a ser ilegal;
c) Permanecem os efeitos civis. Ex.: adultério. – art.91, I CP
Ex: Lei 11.106/2005 que revogou os crimes de sedução e adultério;
Novatio legis in mellius: Lei que melhora a situação jurídica sem abolir o crime (retroage).
 Art. 2°, Parágrafo único – “A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente,
aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada
em julgado”
EX: Lei 9.268/96 proibiu a conversão de pena de multa em prisão. A partir dela o
inadimplemento acarreta tão somente ação de execução sob pena de penhora de bens.
Novatio legis in pejus: Agrava uma situação jurídica anterior. Art.5.º XL CF.
Ex.: Aumenta a pena de um crime; torna a pena mais “pesada” (detenção passa para
reclusão) (não retroage);

Lei penal mais benigna declarada inconstitucional: A declaração de inconstitucionalidade da lei


penal mais benigna deverá ter efeitos ex nunc (efeitos para o futuro), ou seja, somente poderá
deixar de ser aplicada a partir da sua declaração de inconstitucionalidade;
Lei intermediária mais benéfica:
 Irá retroagir, por ser mais benéfica, e por esse motivo é aplicada aos fatos anteriores a sua
entrada em vigência;
 Terá eficácia ultra-ativa, isto é, os efeitos da lei penal mais benigna projetam-se para o
futuro, mesmo que essa lei tenha sido revogada, devendo, portanto, ser aplicada aos fatos
ocorridos durante a sua vigência.
 FATO---------------*-------------*-------sentença = L2
L1 L2 L3
(4-8 anos) (1-4anos) (4-12 anos)

Lei excepcional ou temporária: leis que possuem vigência por um período predeterminado. (Art.
3° CP).

◦ temporária: tem um período determinado na letra da lei (data de início e data de


término da vigência pré-determinado).

◦ excepcional: tem eficácia durante uma situação de emergência. Visa atender


necessidades transitórias do Estado surgidas em razão de situações
extraordinárias. (guerras, epidemias, calamidade pública, etc).
Regra: sempre devem ser aplicadas aos fatos ocorridos durante o seu período de vigência.
O TEMPO DO CRIME:
 Art. 4° CP: “Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que
outro seja o momento do resultado”.
 Teoria da atividade: o tempo do crime é o da ação ou omissão e não o do resultado
(adotada pelo Código Penal);
Importância em definir o tempo do crime:
 No momento da sua ocorrência:
a) Determinar a incidência da lei penal (qual lei penal aplicável ao caso);
b) Saber se o sujeito era capaz no momento em que praticou o crime
c) Determinar o marco inicial da prescrição, que somente é possível no instante em que o
crime se encontra consumado.
Casos especiais: Crimes permanentes: é a hipótese de crime em que uma ação realizada pelo
autor se prolonga no tempo, juntamente com o resultado. Ex.: sequestro, rapto, porte de arma de
fogo, porte de entorpecentes etc. Considera-se o tempo do crime o dia em que cessa a
permanência da ação que se prolonga no tempo. No caso de mudança da lei no curso do
cometimento do crime, ainda que mais gravosa, ela se aplica a todo o evento e a todos os delitos
cometidos em continuidade delitiva. Súmula 711 STF;
 Súmula 711 STF: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime
permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.”

CULPABILIDADE: Juízo de reprovabilidade que recai sobre o autor culpado por um fato típico e
antijurídico;
Imputabilidade + potencial consciência da ilicitude + exigibilidade de conduta diversa;
Imputabilidade – art. 26 CP: Capacidade mental de compreender o caráter ilícito do fato e de
determinar-se conforme este entendimento;
Exclusão da imputabilidade (momento da conduta):
 Doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado (art. 26 CP);
 Embriaguez completa e involuntária, decorrente de caso fortuito ou força maior (art 28,
§1° CP);
 Dependência ou intoxicação involuntária decorrente do consumo de drogas ilícitas (Lei 11.
343/06, art 45, caput);
 Menoridade (art. 27, CP);
Potencial consciência da ilicitude: Para merecer uma pena o agente tem que agir com consciência
de que sua conduta é ilícita. O réu deve demonstrar ter agido desprovido de conhecimento
(cultural) acerca do caráter ilícito do fato; Falta de conhecimento da ilicitude isoladamente =
apenas diminui a culpabilidade e merece uma pena menor;
Erro de proibição – art. 21 CP:
 Erro de proibição inevitável = exclui a culpabilidade;
 Erro de proibição evitável = diminui a culpabilidade de 1/6 a 1/3;

Exigibilidade de conduta diversa:


 Conduta reprovável = é preciso que se possa exigir da pessoa uma conduta diversa;
 Se as condições exteriores não davam ao agente possibilidade de agir de outra forma = o
ato não será censurável;
 Causas de exclusão da exigibilidade de conduta diversa:
a) Coação moral irresistível (art. 22 CP);
b) Obediência hierárquica – ordem superior ilícita;

Relação de causalidade:
TEORIA DA EQUIVALÊNCIA DOS ANTECEDENTES OU CONDITIO SINE QUA NON: Art. 13 CP: “o
resultado de que depende a existência do crime somente é imputável a quem lhe deu causa”.
 Causa = ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.
Haverá relação de causalidade entre todo e qualquer fator que anteceder o resultado e nele tiver
alguma interferência;
NEXO DE CAUSALIDADE: Integra o fato típico, pois existe a necessidade de se verificar se o
resultado é ou não imputável ao agente, ou seja, se foi este que deu causa ao resultado criminoso.
Causas absolutamente independentes:
 Não podem ser atribuídas ao agente;
 Produzem por si sós o resultado;
 Não tem qualquer relação com a conduta praticada pelo agente.
 O nexo causal é totalmente afastado, uma vez que o resultado ocorreria de qualquer
maneira;
 O agente não responderá pelo resultado, mas somente pelos atos já praticados;
Preexistente: A atira em B, que morre em razão de veneno que havia tomado, e não em razão
do tiro.
Concomitante: A atira em B no exato momento em que este sofre um ataque cardíaco,
ocorrendo a morte por força exclusiva deste.
Supervenientes: A envenena B, que vem a falecer em razão de desabamento, no momento em
que ingeria o veneno.
Causas relativamente independentes:
- Agregadas à conduta conduz à produção do resultado;
- Podem excluir a imputação, quando por si sós determinarem o resultado;
- Não exclui o nexo causal.
Ex: A fere B, hemofílico, que vem a falecer em razão dos ferimentos e também em razão dessa
condição fisiológica.
CAUSA RELATIVAMENTE INDEPENDENTE SUPERVENIENTE À CONDUTA: tem nexo de causalidade
entre esta e a conduta, mas o legislador afasta a imputação (art. 13 §1°), impedindo que o agente
responda pelo que diretamente produziu.
Ex: Após um atropelamento a vítima é socorrida com algumas lesões, no caminho a ambulância
capota provocando a morte da vítima.

Tipicidade:
 Relação de subsunção entre o fato e a norma penal; Ligação entre fato e norma.
 Relação de enquadramento – ação / omissão aos elementos previstos na norma;
Tipicidade conglobante:

 Legal (adequação à formulação legal do tipo): É a individualização que a lei faz da conduta,
mediante o conjunto dos elementos descritivos e valorativos (normativos) de que se vale o
tipo legal.
 Conglobante (antinormatividade): É a comprovação de que a conduta legalmente típica
está também proibida pela norma, o que se obtém desentranhando o alcance da norma
proibitiva conglobante com as restantes normas da ordem normativa.
 Tipicidade penal (adequação e antinormatividade): É o resultado da afirmação das duas
anteriores.

Tipicidade legal + Tipicidade conglobante = Tipicidade penal.


De forma global: não deve existir conflitos entre normas, ou seja, não pode existir uma norma que
autoriza uma conduta e outra que proíba, em um mesmo ordenamento.
Exemplo de tipicidade conglobante: crime de homicídio (art. 121, CP): É proibido matar alguém.

FATO PUNÍVEL
Conceitos de crime:
 Formal: exclusiva violação da lei penal; (É a concepção acerca do delito,
constituindo a conduta proibida por lei, sob ameaça de aplicação da pena, numa
visão legislativa do fenômeno.)
 Material: desvalor da vida social; (Quando a sociedade entende necessário
criminalizar um crime.)
 Analítico: fato típico, ilícito e culpável. Definido a partir de seus requisitos; (É o
conceito formal fragmentado em elementos que proporcionam o melhor
entendimento da sua abrangência.)

“Delito é uma conduta humana individualizada mediante dispositivo legal (tipo) que revela sua
proibição (típica), que por não estar permitida por nenhum preceito jurídico (causa de justificação)
é contrária à ordem jurídica (antijurídica) e que, por ser exigível do autor que agisse de maneira
diversa diante das circunstâncias, é reprovável (culpável).”

Fato típico:
Ação – Conduta conduzida pela vontade do agente e sempre dirigida à obtenção de um
fim.
Tipicidade – conduta ajustada perfeitamente ao tipo penal, ao modelo legal de crime.
Enquadramento perfeito da ação à descrição presente na norma penal. Encaixe da conduta
(ação/omissão) aos elementos previstos pela norma penal;
Ilicitude/Antijuridicidade:
É tudo aquilo que se mostra contrário ao direito por não existir qualquer permissão ou
autorização legal para a realização conduta (exceção: legítima defesa, estado de
necessidade, em estrito cumprimento do dever legal ou no exercício regular do direito (art.
23 CP).

Culpabilidade:
É o juízo de reprovação que recai sobre a conduta ilícita do agente imputável, que tem ou
pode ter consciência da ilicitude, sendo-lhe exigível comportamento conforme ao direito.

Classificação dos crimes:


 Quanto ao elemento subjetivo:
 Crime doloso – é o crime praticado com vontade livre e consciente para a obtenção
de um resultado;
Características:
a) Abrangência: o dolo deve envolver todos os elementos subjetivos do tipo;
b) Atualidade: o dolo deve estar presente no momento da ação, não existindo
dolo subsequente, nem dolo antecedente;
c) Possibilidade de influenciar o resultado: é indispensável que a vontade do
agente seja capaz de produzir o evento típico;
Tipos:
a) Dolo direito: É a vontade do agente dirigida especificamente à produção do
resultado típico, abrangendo os meios utilizados para tanto. Ex: o agente
quer subtrair bens da vítima, valendo-se de grave ameaça.
b) Dolo eventual: É a vontade do agente dirigida a um resultado determinado,
porém vislumbrando a possibilidade de ocorrência de um segundo
resultado, não desejado, mas admitido, unido ao primeiro.
‘’O dolo eventual não é, na verdade, extraído da mente do autor, mas, sim,
das circunstâncias.’’
OBS: É tênue a linha divisória entre a culpa consciente e o dolo eventual. Em
ambos o agente prevê a ocorrência do resultado, mas somente no dolo o
agente admite a possibilidade de o evento acontecer.
 Crime culposo – é o crime praticado de forma involuntária, isto é, sem que o agente
tenha a vontade de produzir o resultado. O sujeito não quer o resultado, mas acaba
dando-lhe causa por ter agido de forma culposa (Negligência, imprudência ou
imperícia).
Imperícia: É a inaptidão, ignorância, falta de qualificação técnica, teórica ou prática,
ou ausência de conhecimentos elementares e básicos da profissão. (É a
imprudência no campo técnico)
Negligência: É deixar de tomar uma atitude ou não apresentar conduta que era
esperada para a situação. (Forma passiva de culpa, por descuido ou desatenção).
Ex: Deixar uma arma de fogo ao alcance de uma criança.
Imprudência: Pressupõe uma ação precipitada e sem cautela.
Obs: Somente há crime culposo quando previsto em lei

◦ Crime preterdoloso – Misto de dolo e culpa. Dolo no antecedente e culpa no


consequente.
Ex. art.129, § 3.º - lesão corporal seguida de morte.
Diferença entre dolo eventual e culpa consciente:
É tênue a linha divisória entre a culpa consciente e o dolo eventual. Em ambos o agente prevê a
ocorrência do resultado, mas somente no dolo o agente admite a possibilidade de o evento
acontecer.
 QUANTO AO RESULTADO:
1. Resultado Jurídico (evento jurídico):
a) Dano (lesão) – o crime exige, para a sua consumação o efetivo prejuízo ao bem jurídico
tutelado.
Ex. Furto – redução do patrimônio; homicídio – total destruição da vida.
b) Perigo de dano (perigo de lesão) – são aqueles que se consumam independentemente da
efetiva lesão ou dano ao bem jurídico; (Se contentam com a mera probabilidade de haver um
dano.)
- Perigo concreto: Quando a probabilidade de ocorrência de dano precisa ser investigada e
aprovada. Ex.: (abandono de recém-nascido – art.134); (incêndio art. 250 CP).
- Perigo abstrato: Quando a probabilidade de ocorrência de dano está presumida no tipo penal,
independendo de prova.
Ex. porte ilegal de substância entorpecentes, art 28 e 33, Lei 11.343/2006, conforme finalidade –
em que presume o perigo para saúde pública.

2. Resultado Natural:
a) Crimes materiais – são os crimes constituídos de ação e resultado. O tipo penal exige a
ocorrência de um resultado para a sua consumação.
Ex. 121, 155, 157... CP
b) Crimes formais – O tipo penal se consuma independentemente da ocorrência do resultado.
Também conhecidos como crimes de consumação antecipada. Tem previsão de tentativa.
Ex. ameaça (art.147), injúria (art.140), difamação (art.139) etc.
c) Crimes de mera conduta – são crimes sem resultado algum. A conduta do agente por si só
configura o crime independente da modificação do mundo exterior. Não há a descrição de
qualquer resultado naturalístico.
Ex. violação de domicílio (art.150), desobediência (art.330), regresso de estrangeiro expulso
(art.338)
d) Crimes preterdolosos – O crime preterdoloso ou preterintencional é aquele no qual coexistem
os dois elementos subjetivos: dolo na conduta antecedente e culpa na conduta consequente.
Existe um crime inicial doloso e um resultado final culposo. Ex: O agente comete o crime de lesão
corporal e a vítima acaba falecendo em consequência da agressão sofrida. O resultado morte
(culposo) não era esperado pelo autor do crime, mas a conduta de lesão corporal (dolosa) causou
este resultado inesperado.
Quanto a ação:

 Crime comissivo – necessitam, para a sua realização, de uma ação positiva (um fazer).
(violação de uma norma proibitiva). Ex: Estupro.
 Crime comissivo por omissão ou omissivo impróprio – é o crime em que a omissão se
caracteriza pela não observância de um dever jurídico de evitar o resultado. A omissão é
forma ou meio de se alcançar o resultado (no crime doloso). Tem o dever de agir e de
evitar o resultado como garantidor e nada faz. Admite modalidade culposa e tentativa. Ex:
da mãe que deixa de amamentar ou cuidar do filho causando-lhe a morte; médico ou
enfermeira que não ministra o medicamento necessário ao paciente, que vem a morrer;
mecânico que não lubrifica a máquina que está a seus cuidados etc. (Art. 13, §2° CP)
Art 13, § 2º cp: ‘’ A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia
agir para evitar o resultado.’’
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; (Incluído pela Lei nº
7.209, de 11.7.1984)
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; (Incluído pela
Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado.
(Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
 Crime omissivo próprio ou puro – decorrem de uma omissão do sujeito. Nesses casos o
sujeito não faz quando é obrigado, por lei, a realizar uma determinada ação. Não se faz
necessário qualquer resultado naturalístico. Basta que o autor se omita quando deveria
agir. Não se admite modalidade culposa nem tentativa. Ex: art 135 CP; Art. 269 CP;
Quanto ao tempo da ação:
 Crime instantâneo – A consumação se dá como única conduta (imediata) e não produzem
um resultado prolongado no tempo. (O resultado é sempre instantâneo.)
Ex. Furto; homicídio, lesão corporal...
 Crime permanente – O crime caminha no tempo. Enquanto perdurar a conduta do sujeito
ativo do crime, esse crime estará sendo consumado.
Súmula 711: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime
permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.”
Ex. porte de arma; sequestro;
 Crime habitual – A conduta incriminada é praticada de forma habitual, reiterada e
repetitiva. (Traduzindo um estilo de vida indesejado pela lei penal). Os atos praticados
isoladamente não possuem qualquer relevância penal;
Requisitos para seu acontecimento:
a) Reiteração de vários fatos;
b) Identidade ou homogeneidade de tais fatos;
c) Nexo de habitualidade entre os fatos;
Ex: art. 282 (exercício ilegal de medicina); art.284 (curandeirismo);
Quanto a estrutura do crime:
 Crime complexo – Possuem mais de um bem jurídico protegido na mesma norma penal.
Exigem a ofensa a ambos os interesses para a consumação do crime.
a) Complexos em sentido estrito: é a autêntica forma de delito complexo, pois um
tipo penal é formado pela junção de dois ou mais tipos. Ex: O roubo, que envolve o
furto, a ameaça e/ou a ofensa à integridade física.
b) Complexos em sentido amplo: que é a forma anômala de delito complexo, pois o
tipo penal engloba um outro tipo associado a uma conduta lícita qualquer. Ex: O
estupro, formado de um constrangimento ilegal (art. 146, CP) associado a relação
sexual (por si só, conduta ilícita).
Ex. Roubo – patrimônio e integridade física/ameaça/grave ameaça; latrocínio – patrimônio e
vida...
 Crime simples – São crimes que possuem apenas um bem jurídico protegido.
 Crime de concurso necessário – são aqueles crimes que para a sua realização exige-se a
participação de duas ou mais pessoas.
Ex. associação criminosa (art 288 CP); rixa (art 137 CP)

Inter Criminis
Obs: Antes de se iniciar a primeira etapa do crime (preparação), existe a etapa cognitiva: o que o
indivíduo está pensando. Não é punível.

 Preparação (1° fase):


- Começo da exteriorização de condutas tendentes à futura execução, ou seja, é o início da
preparação para realização do crime. Não é punível criminalmente.
- Exemplo: comprar um chumbinho planejando um assassinato.
- Art. 31 CP: O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa
em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado.
 Consumação (2° fase):
- Varia conforme natureza do crime. Ex: No homicídio houve consumação na morte da
vítima, caso a vítima não tivesse morrido não haveria consumação.
- Art. 14 - Diz-se o crime:
I - Consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal;
 Exaurimento (3° fase):
- É a etapa final do iter criminis, acontece depois de consumado o delito, quando o agente
pratica nova conduta provocando uma nova agressão.
- Em regra, apenas influencia na quantidade da pena. (consequências do crime: art. 59 CP)
- Ex: Após matar uma mulher trans, o indivíduo pratica alguma crueldade contra o cadáver,
tipo, cortar o pênis (isso é o exaurimento).

Crime tentado:
- Art. 14, II: Diz-se o crime: tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por
circunstâncias alheias à vontade do agente.
Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena
correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços
 Tentativa perfeita (crime falho): apesar de ter executado a fase executória, não foi
consumado o crime por motivos alheios a vontade do agente. Ex: Quando uma pessoa atira
em outra e a pessoa baleada é levada ao hospital e não morre. O agente executou a fase
executório (ele atirou contra outra pessoa) mas não consumou o crime por motivos alheios
(o indivíduo sobreviveu).
 Tentativa imperfeita: o agente não consegue prosseguir na execução do crime por motivos
alheios a sua vontade. Ex: O agente saca uma pistola para atirar em outro e a pistola não
atira. O fato de a pistola não ter atirado impediu a que ocorresse a fase executória.
 Tentativa branca: é a tentativa na qual não resulta lesão. Ex: Eu atiro 3 vezes em alguém,
mas erro todos os tiros. O crime não foi consumado por circunstância alheia à vontade do
agente (no caso eu mesmo que sou ruim de tiro).
Crimes que não admitem a tentativa:
a) Culposos; pois não tem intenção de praticar o crime.
b) Preterdolosos; Crime inicialmente doloso (ex: lesão) resultando em um culposo (ex:
homicídio).
c) Contravenções penais;
d) Crimes unissubsistentes (injúria);
e) Omissivos puros (omissão de socorro);
Desistência voluntária e arrependimento eficaz
- Art. 15 CP: O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o
resultado se produza, só responde pelos atos já praticados.

 Desistência voluntária: O agente desiste de prosseguir na fase executória. VONTADE


PRÓPRIA.
 Arrependimento eficaz: O sujeito já esgotou os meios executórios (mas não consumou o
fato) e pratica conduta positiva tendente a evitar a consumação, ou seja, Terminou a fase
executória e após isso se arrependeu e praticou uma conduta positiva evitando a
consumação (por isso é eficaz, pois evita consumação).

Arrependimento posterior
– Art. 16 CP: Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou
restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a
pena será reduzida de um a dois terços.
- Critérios:
a) Crime sem violência ou grave ameaça à pessoa.
b) Reparação integral do dano ou restituição da coisa intacta.
c) Restituição ou reparação antes do recebimento da denúncia ou da queixa.
art. 65, III, b CP: procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o
crime, evitar-lhe ou minorar-lhe as consequências, ou ter, antes do julgamento, reparado o
dano;
d) Quando praticado por um dos agentes irá beneficiar coautores e partícipes (Ex: quando
três pessoas furtam uma bicicleta e uma delas se arrepende e devolve a bicicleta antes da
abertura do processo, haverá a diminuição da pena para os três que furtaram.)
ART. 30 CP: ‘’não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo
quando elementares do crime.’’

Crime impossível
– Art. 17 CP: Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta
impropriedade do objeto material, é impossível consumar-se o crime.
Ex: atirar para matar uma pessoa que já está morta; ingerir medicamento abortivo para
interromper gravidez inexistente;

● Teoria geral do Delito:


1. Sistema clássico: Liszt, Ernest Belina e Radbruch

 Séc. XIX – Influência do positivismo, foi a teoria que iniciou a sistematização dos conceitos.
 Característica: busca por uma sistematização de conceitos, um direito positivado, dando
segurança na análise de um delito. Transformar o direito penal em uma ciência mais exata.
 O sistema clássico colocou a análise do dolo e da culpa no âmbito da culpabilidade, por
esse motivo a tentativa de um crime não era punida, já que não gerou modificação do
mundo exterior (resultado) e nexo de causalidade.
 Principais teorias: Teoria causal e teoria psicológica da culpabilidade.
 Na teoria causalista notamos uma influência das ciências naturais no direito penal – leis da
causalidade. Trata de comportamentos humanos que modificam o mundo exterior, sem
análise da intenção, da finalidade. Basta a observação de uma ação humana que modifique
o mundo exterior.
a. Fato típico: ação humana voluntária causadora de modificação no mundo exterior.
b. O tipo penal: composto de elementos descritivos (matar alguém).
c. Dolo ou culpa: na culpabilidade.
 A teoria psicológica da culpabilidade também defende a separação da fase interna da
ação da fase externa da mesma. Por meio do juízo de valor, segundo o qual uma ação é
antijurídica, caracteriza-se somente a fase externa (comportamento corporal) como
contraditória ao ordenamento jurídico.

Críticas:

 A sociedade apresentava condutas criminosas que o sistema não punia. Ex: tentativa
branca.
 Não abrange crimes omissivos.
 O dolo era verificado no âmbito da culpabilidade e não da conduta.
 A avaliação da conduta era feita somente de maneira objetiva, sem analisar a intenção do
réu, por esse motivo a tentativa não era punida.
 Culpabilidade deve ser analisada de forma objetiva.
 O dolo e a culpa deveriam ser analisados nas conduta do agente.
 Injustiça nos casos de coação irresistível e obediência hierárquica.
Ex: para essa teoria, um gerente de banco que tem uma arma apontada para sua cabeça,
que entrega o dinheiro para o ladrão, deve ser punido, pois ele fez uma ação humana
causadora de modificação do mundo exterior.
2. Sistema Neoclássico – Edmund Mezger e Frank:

 Séc. XX
 Uma pena só se justifica quando o agente podendo agir de outro modo, decidiu cometer o
crime. Essa teoria acrescentou a Exigibilidade da conduta diversa nos elementos da
culpabilidade.
 Dolo e culpa continuaram sendo analisados no âmbito da culpabilidade.
 Culpabilidade = Imputabilidade + Dolo ou culpa + Exigibilidade da conduta diversa.
 Principais teorias: Teoria causal + Teoria normativa da culpabilidade (Reprovabilidade do
ato.)
 Característica: aprimoramento do sistema anterior com considerações axiológicas
(valorativos) e materiais (acrescida ao método jurídico formal). Inova na culpabilidade
(agente pode agir de outro modo e decide cometer o crime - Frank).

 Fato típico: comportamento humano, voluntário, causador de modificação no mundo


exterior.
 O tipo penal: admite elementos não descritivos no tipo.
 Dolo e culpa: sua análise continua na culpabilidade.
 Dolo híbrido (normativo): condiciona o dolo a potencial consciência de ilicitude. Composto
de consciência, voluntariedade e consciência de ilicitude essa espécie de dolo integra a
culpabilidade, trazendo, a par dos elementos consciência e vontade, também a consciência
atual da ilicitude, elemento normativo que o diferencia do dolo natural.
Críticas:

 O injusto continua puramente objetivo.


 A intenção não é analisada na conduta do agente.
 Tornar a questão da subcultura criminal impedimento à pena.
3. Sistema Finalista – Hans Welzel:

 Séc. XX.
 Principais teorias: Teoria finalista (A finalidade está presente em toda a conduta humana. A
ação humana é exercício de uma atividade consciente e voluntária movida a uma
finalidade, não de uma mera atividade causal.) e a Teoria normativa pura da culpabilidade
(culpabilidade com elementos meramente normativos; Retirada do dolo).
 Valorização do caráter ético-social (direitos humanos) no direito penal e a eliminação do
caráter nazista (de que a pena seria uma forma de purificar biologicamente o povo).
 Toda conduta criminosa possui uma finalidade → intenção/vontade. Por esse motivo é
importante analisar o dolo na conduta do agente, para saber se houve a intenção.
 O fato típico deixa de ser puramente objetivo e a culpabilidade torna-se normativa
(exclusivamente).
 Característica: aproximação à fenomenologia (mundo do ser), impossibilitando a
separação entre objeto-sujeito, a conduta é comportamento humano voluntário,
psiquicamente dirigido a um fim. “A finalidade é a espinha dorsal da conduta humana”
Crítica: Só transferiu o dolo e a culpa da culpabilidade para a ação.
4. Funcionalismo – Claus Roxin e Günter Jakobs:
- Claus Roxin:

 A lei é o ponto de partida + princípios de política criminal.


 Construção do princípio da insignificância. Afirma que nem tudo é formalmente típico e
materialmente típico.
 Visa buscar a justiça em cada caso concreto.
 Proteção dos bens jurídicos mais relevantes (garantismo), sendo necessária a verificação
de todas as garantias antes da aplicação da norma – funcionalismo racional.
 Culpabilidade esvaziada: deixa de analisar a reprovabilidade e passa para a análise de
responsabilidade.

 Teoria da imputação objetiva:


a. Imputação objetiva da conduta: criação ou incremento de um risco proibido
relevante.
b. Imputação objetiva do resultado: o resultado jurídico tem que ter íntima convicção
com o risco (nexo de imputação).
- Deve-se fazer uma pergunta inicial: O risco é permitido ou proibido? O risco permitido não é
. punível. O risco proibido é punível.
- Ex: Uma pessoa que dirige a 80 KM/h em uma avenida que só permite até 60 KM/h, atropela
uma pessoa que aparece inesperadamente na rua, resultando na morte do pedestre. Nesse caso o
risco é proibido, pois a pessoa excedeu a velocidade permitida daquela avenida. Mas se nessa
mesma situação o motorista estivesse em uma velocidade de 55 KM/h, seria um risco permitido,
pois este estaria respeitando o limite de velocidade, nessa situação ele não seria punido.
- Günter Jakobs:
 Crime é entendido como a quebra da confiança social, produzindo um desequilíbrio social.
 Expectativa social: maneira como as pessoas esperam que seja a conduta alheia. (normas
violadas geram decepção).
 Missão do direito penal: garantia da vigência da norma (funcionalismo sistêmico).
 Direito penal do inimigo: Quando um indivíduo comete um crime e causa desequilíbrio
social, o estado deve reagir da forma mais severa. O direito penal do inimigo afirma que o
criminoso é visto como inimigo da sociedade, por isso ele não deve possuir nenhum direito
fundamental.
 Quem não obedecer às normas de forma reiterada vira inimigo da sociedade e a pena é a
demonstração de vigência da norma. A função do Direito Penal: restabelecer as
expectativas violadas, reafirmando a validade da norma e assumindo uma prevenção geral
positiva.

Lei penal no espaço:


- Regra → Art. 5°: princípio da territorialidade de lei.
- Exceções:
a) Art. 6°: princípio da Ubiquidade (lugar do crime).
b) Art. 7°: princípio da extraterritorialidade.

Quem processa e julga??


Segundo o princípio da ubiquidade, todos os locais onde aconteceu o crime.
● Territorialidade – Art5° (relativo/ mitigado ou temperado):
- Os territórios nacionais podem ser:
a) Próprio: o mapa do Brasil + 12 milhas náuticas + o espaço aéreo correspondente.
Ex: se um avião ou navio privado estiver passando pelo território brasileiro e dentro dele
um americano mata um russo, o Brasil será competente para processar e julgar.
b) Por equiparação ou assimilação: Fora do território próprio.

Obs: Uma pessoa que cometeu crime em outro país, pode ser julgada pelo país de origem, se:
1. Se for crime também no país que ocorreu o crime.
2. Se o país onde ocorreu o crime não processar e julgar o indivíduo.
● Princípio da ubiquidade – Art. 6° (teoria da atividade + teoria do resultado):
Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte,
bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.
- Define o local do crime (tanto no lugar da ação ou omissão quanto o do resultado são
considerados lugares do mesmo crime.
● Extraterritorialidade – Art. 7°:
I. Incondicionado: Nessa situação o Brasil sempre vai ser competente para processar e julgar
se tiver dentro das regras. Os crimes:
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de
Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista, autarquia ou
fundação instituída pelo Poder Público.
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço;
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil.

II. Condicionado:
§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes
condições:
a) entrar o agente no território nacional;
Ex: Um brasileiro deu um tiro em uma pessoa estando nos EUA e volta para o território
brasileiro.
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;
Ex: O crime de homicídio é punido tanto no Brasil, quanto nos Estados Unidos.
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição;
(Saber o texto da lei).
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena;
Ex: Se ele foi absolvido ou cumpriu pena no estrangeiro, não poderá ser julgado no Brasil.
Mas se caso ele esteja sendo processado pelos dois territórios e pegar pena nos dois, terá
que cumprir a dívida de cada país.
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a
punibilidade, segundo a lei mais favorável. (Saber o texto da lei).
Art. 7°, II:
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir.
b) praticados por brasileiro;
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada,
quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados.

● Extradição: É o ato em que o estado entrega para a justiça de outro país o indivíduo acusado de
um crime, para que ele responda ao processo nesse país, ou se já tenha sido condenado para que
ele cumpra à pena a que lhe foi determinada.
- Proíbe-se a extradição de: Brasileiros natos ou processado por crime político ou de opinião.
● Expulsão: Retirada do estrangeiro que tenha praticado ato contra interesses de estados
brasileiros. Não poderá retornar ao território que foi expulso.
- É admitido a expulsão de estrangeiros que tenha sido condenado em definitivo por crime com
pena mínima de 2 anos.
● Deportação: É a devolução do estrangeiro ao exterior nos casos de entrada ou permanência
irregular. Poderá retornar quando for resolvida sua irregularidade.
Excludentes de ilicitude:
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:

I - Em estado de necessidade;
II - Em legítima defesa;
III - Em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.

Excesso punível
Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo
excesso doloso ou culposo.
Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de
perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito
próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.

§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o
perigo.
§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser
reduzida de um a dois terços.
Legítima defesa

● TIPOS DE ESTADO DE NECESSIDADE:


Estado de necessidade justificante: exclui a ilicitude, se iguala à teoria unitária, sendo
que o bem jurídico preservado tem valor maior ou igual ao sacrificado.
Estado de necessidade exculpante: exclui a culpabilidade (inexigibilidade de conduta
diversa. Bem jurídico preservado tem valor inferior ao sacrificado.
Estado de necessidade agressivo: é quando para preservar um bem jurídico próprio
ou alheio, tem-se de sacrificar um bem jurídico de um terceiro, este que não oferece
situação de perigo.
Estado de necessidade defensivo: o bem sacrificado é do próprio agente que
provocou o perigo.

● Para que determinado ato tipificado seja enquadrado no estado de necessidade, é


preciso que haja a presença de determinados requisitos, são eles:

1. Ameaça a direito próprio ou alheio


2. Existência de um perigo atual e inevitável
3. Inexigibilidade do sacrifício do bem ameaçado
4. Situação não provocada voluntariamente pelo agente
5. Inexistência de dever legal de enfrentar o perigo
6. O conhecimento da situação de fato justificante

Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios


necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.

Parágrafo único. Observados os requisitos previstos no caput deste artigo, considera-se


também em legítima defesa o agente de segurança pública que repele agressão ou risco
de agressão a vítima mantida refém durante a prática de crimes.
ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL: A doutrina entende que age em estrito cumprimento
do dever legal o agente público que pratica um ato obedecendo uma determinação legal.

Exemplo: No ato de uma prisão em flagrante, um policial usa de violência proporcional e


moderada para conter o criminoso. Art. 301/CPP dispõe que os policiais devem prender quem
quer que seja encontrado em flagrante delito.
Regra (agentes públicos)
Exceção (particulares)
Prevalece, o entendimento de que o estrito cumprimento de dever legal se estende ao particular
quando esse particular atuar no cumprimento de um dever imposto por lei.

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