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Dignidade Penal:
Bens jurídicos cuja lesão se revela digna e necessitada de pena
Não pode haver criminalização onde não haja o propósito de tutela de um bem jurídico penal
No entanto, o contrário já nem sempre é verdade - não é por existir um bem jurídico digno de tutela penal que
deva existir intervenção do Estado.
Assim, o conceito material de crime é essencialmente constituído pela noção de bem jurídico dotado de dignidade
penal e a necessidade e carência dessa tutela penal.
A violação de um bem jurídico penal não basta em si para desencadear a intervenção, antes se requerendo que esta
seja absolutamente indispensável à livre realização da personalidade de cada um na comunidade
Aqui reside a natureza definitivamente subsidiária do direito penal - ultima ratio - so deve intervir
quando todos os outros falham.
Exemplo:
Queremos proteger o bem X
Temos 2 alternativas:
1. Direito penal - restringe muito a liberdade das pessoas
2. Temos também como eficaz o direito civil - só restringe o património
A função do direito penal é sempre a proteção de bens jurídicos
Neste esquema, a solução que globalmente consegue a melhor proteção de bens jurídicos - direito civil
Consegue proteger o bem jurídico e restringir menos a liberdade das pessoas
O princípio da necessidade existe porque é uma garantia de que, em termos globais, consegue-se uma ponderação
óptima dos bens jurídicos - salvaguardando-se aquilo que se pretende, restringindo o menos possível os bens que
se vão sacrificar - bens jurídicos do arguido
O Direito Penal só pode intervir quando não houver um meio alternativo eficaz para proteger o bem jurídico e que
seja menos gravoso
Princípio da não intervenção moderada: o Estado e o seu aparelho formalizado de controlo do crime devem
intervir o menos possível, e devem intervir só na medida requerida pelo asseguramento das condições essenciais
de funcionamento da sociedade.
Atendendo à forma como o bem jurídico é posto em causa pela atuação do agente podemos ter:
Crimes de Dano:
Para haver crime é preciso haver efetiva violação do bem jurídico, afetação efetiva
Ex: Homicídio - art 131º
Crime de Perigo:
Ainda não houve uma efetiva lesão mas existe uma forte possibilidade de acontecer
Basta existir perigo = probabilidade séria de acontecer um efeito adverso do comportamento em causa,
probabilidade de lesão
É necessário que coloque em perigo um determinado bem jurídico
Ainda não há lesão mas podemos antecipar que, devido à natureza do comportamento, haja a probabilidade de
lesão
Ex: condução sobre o efeito de álcool - art 292º - o condutor embriagado é punido pelo facto de o estado em que se
encontra constituir um perigo potencial para a segurança rodoviária
FDL Inês Morais Página 3 de 4
Ex: Detenção de uma arma sem licença - é sempre crime porque é sempre perigoso - independentemente de a
arma ser usada ou não
Tem sido questionada, entre nós, a constitucionalidade dos perigos de perigo abstrato:
- Pelo facto de poderem constituir uma tutela demasiado avançada de um bem jurídico, pondo em sério risco
quer o principio da legalidade, quer o principio da culpa
- A doutrina maioritária e o TC pronunciam-se, todavia, pela sua não inconstitucionalidade quando visarem a
proteção de bens jurídicos de grande importância, quando for possível identificar claramente o bem jurídico
tutelado e a conduta típica for descrita de uma forma tanto quando possível precisa e minuciosa
Quando haja acusação pela pratica de um crime de perigo abstrato é indiferente a prova que se faça no sentido de
mostrar que, no caso concreto, o bem jurídico não foi nem podia concretamente ter sido posto em perigo
- Não podemos desconhecer os vários discursos sobre o crime, ou seja, como é que as sociedades lidam com os
problemas criminais;
- Os legisladores penais instrumentalizam o Direito Penal, esvaziando o conceito material de crime: onde tudo
pode ser criminalizado, se levarmos ao extremo: a Professora adota um modelo de Estado de Dúvida e não
de Estado de Convicção, e é no Estado de Dúvida que há uma boa compreensão do outro lado do conflito: é aqui
que surgem as correntes empíricas (criminologia, psicologia e sociologia que vão densificar o conceito material
de crime).
- Sendo que os dados empíricos do crime podem introduzir alterações nas penas e na responsabilidade da
conduta
- Conceito material de crime como instrumento de fiscalização da constitucionalidade das novas criminalizações;
- A expressão “conceito material de crime” é enformada pela ideia de que existem, num Estado de Direito
Democrático, limites constitucionais, à eleição de certas condutas como crimes que ultrapassam a vontade das
maiorias conjunturais e do poder político
- O Direito Penal: tem uma legitimidade aferida pela proteção dos bens jurídicos essenciais, constituídos da
razão de ser do próprio Estado, as condições essenciais de liberdade: na medida em que as suas sanções são em
si mesmas, GRAVES RESTRIÇÕES da liberdade e de outros direitos fundamentais.
- O Direito Penal só pode retirar liberdade aos agentes do crime precisamente para criar liberdade para todas as
potenciais vítimas;
- Sendo que esta ideia se concretiza numa legitimidade da pena pela estreita necessidade de proteger direitos ou
interesses constitucionalmente tutelados, à luz do art. 18/2.º CRP (princípio da adequação+proporcionalidade).