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Faculdade de Direito da Universidade Lusíada

Direito da actividade comercial

Titulo I
Parte geral
1. Evolução histórica do direito comercial
O direito comercial enquanto sistema normativo autónomo regulador da
actividade mercantil, surgiu na época medieval, por volta do século XII, na
Flandres em Itália.
O fraco poder político central e o desenvolvimento do comércio, associado às
corporações de mercadores, que tinham os seus estatutos e tribunais próprios
permitiu que os comerciantes se organizassem, controlando a produção,
distribuição comercial, passando então a ser a classe dominante. O direito
comercial surge assim criado pelos mercadores para regular as suas próprias
actividades.
O direito do comércio – ius mercatorum – surge assim, ajustado à realidade
mercantil adequada às suas características, contrapondo-se ao direito comum
romano-canónico.
O ius mercatorum, tinha como fontes:
- Costumes mercantis;
- Estatutos das corporações de mercadores;
- Jurisprudência dos tribunais consulares;

Pelo que ficou exposto, resulta que o direito comercial nasceu de uma raiz
subjectivista, uma vez que apareceu por iniciativa dos comerciantes para regular
as suas próprias actividades.
Mas o direito comercial pode também ser visto de um teor objectivista, se
atendermos ao acto em si, que será objectivamente comercial, independentemente
da qualidade das pessoas que os pratiquem.
Em Portugal, apesar da proximidade face à Catalunha e à França, nomeadamente
às feiras de Champagne e Lyon, o direito comercial não se autonomizou como
ramo do direito regulador per si, das relações de índole comercial. A actividade
comercial era regulada sobretudo por costumes e por algumas leis constantes nos
forais.

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Este atraso do desenvolvimento do direito comercial ficou a dever-se


essencialmente à centralização estatal rígida, à pouca influência dos mercadores
burgueses e à inexistência de tribunais de comércio. Nem a força dos
descobrimentos impulsionou a criação e autonomização do direito comercial.

Em 1807 é lançado o code de commerce, que marca o início de uma nova etapa do
direito comercial, acentuando sobretudo o seu carácter objectivo, pondo um pouco
de lado a perspectiva subjectiva com que tinha aparecido, apesar de mais tarde o
código alemão voltar a adoptar uma construção subjectivista do direito comercial.
Com o código francês acentua-se o carácter objectivo do direito comercial, o que
decorre da defesa dos princípios de igualdade, fraternidade e da liberdade, assim o
que passa a interessar é o acto de comércio em si e não a qualidade da pessoa que
pratica o acto.
O primeiro código comercial português nasceu em 1833 pelas mãos de Ferreira
Borges, e o actual redigido por Veiga Beirão, em 1888, adoptam uma perspectiva
objectivista do direito comercial. Assim estabelece o art. 1 CCM “A lei comercial
rege os actos de comércio sejam ou não comerciantes as pessoas que neles
intervém.” Ou seja, para que um acto seja comercial, não é necessário que seja
praticado por um comerciante.

2. Noção de direito comercial português


O direito comercial pode ser entendido como um conjunto de normas jurídicas
que disciplinam os actos de comércio e os comerciantes.
Contudo, o comércio, poder ser entendido em dois sentidos:
1. Comércio em sentido económico: é entendido como actividade de
interposição de circulação de bens ou de interposição de trocas. Há, todavia certas
actividades que embora integrantes do conceito de comércio em sentido
económico não fazem parte do comércio em sentido jurídico, como sucede com as
indústrias extractivas, agricultura, serviços artesanais e profissões liberais. O
comércio em sentido económico é assim entendido como conjunto de actividades
que pertencem ao chamado sector terciário da economia, relativas à circulação de
bens. O sector primário diz respeito às actividades agrícolas, silvícolas, pesca,
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indústria extractiva. O sector secundário engloba o artesanato e as indústrias


transformadoras. No sector terciário destacam-se as actividades económicas de
prestação de serviços e de comércio. Como se vê o comércio constitui apenas uma
das várias actividades económicas que pertencem ao sector terciário.
2. Comércio em sentido jurídico: é entendido como actividade de
interposição de circulação de bens ou de interposição de trocas, mas englobando
também indústrias, serviços bem como actos que não se situam somente nos
domínios do comércio em sentido económico. O comércio em sentido jurídico,
engloba assim um conjunto de actividades económicas a que num dado país e num
dado momento se aplicam as leis comerciais. O legislador quis não apenas
abranger as actividades de intermediação, mas todas as actividades económicas
que fossem objecto de normas mercantis.

Actualmente as normas jurídicas mercantis não se esgotam na regulação dos actos


materialmente comerciais, mas também se aplicam aos chamados actos
formalmente comerciais, isto é, actos cuja relevância jurídica deriva não da
própria natureza intrínseca do acto nem da capacidade do comerciante, mas da
mera circunstancia formal que é o preenchimento por alguém de uma determinado
esquema jurídico pré-estabelecido pelo legislador. Assim sucede por exemplo
com a subscrição de uma letra de câmbio

3. Fontes do direito comercial português


As formas de manifestação e revelação do direito comercial, podem resultar de:
Fontes internas: CRP nos art. 61.º 81.º 82.º e 86.º; Código comercial e leis
substitutivas, doutrina e jurisprudência, cujo papel se destaca sobretudo na
interpretação de cláusulas gerais e conceitos indeterminados, na integração de
lacunas e na definição de princípios normativos. Os usos possuem ainda alguma
importância.
Fontes externas: convenções internacionais, art. 8.º n.º 2 CRP, regulamentos e
directivas da EU, art. 8.º n.º 3 CRP.
4. A autonomia do direito comercial e a sua relação com o direito civil
A autonomia do direito comercial face ao direito civil, manifesta-se a dois níveis:
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1. Autonomia formal ou legislativa assente na reunião das normas


comerciais num diploma unitário, num código, separado do CC.
2. Autonomia substancial, traduzida num corpo normativo que regula de
modo especial, divergente do direito comum as relações jurídico-comerciais. A
autonomia substancial do direito comercial tem vindo a decair desde o século
XIX, pela verificação de um forte movimento em prol da unificação de todo o
direito privado, que já se implementou por exemplo no Brasil. Defendem os
unitaristas que a separação do direito privado contraria a unidade da vida
económica, sendo cada vez mais comum a generalização de instrumentos
comercias na vida civil, como as letras de cambio, cheques, etc. sendo ainda cada
vez mais visível, devido à influencia capitalista, a extensão de princípios de
direito comercial ao direito civil.

Em Portugal, o direito comercial mantém a sua autonomia legislativa e


substancial. A lei civil por sua vez, é de aplicação subsidiária, enquanto direito
privado comum, ou seja, o direito civil intervêm para regulamentação de
matérias comerciais quando o direito comercial se mostre insuficiente, aplica-se
subsidiariamente por ser lei comum. Assim consta do art. 3.º CCM “Se as
questões sobre direitos e obrigações comerciais não puderem ser resolvidas, nem
pelo texto da lei comercial, nem pelo seu espírito, nem pelos casos análogos nela
prevenidos, serão decididas pelo direito civil”.
Conclui-se que o direito comercial é direito privado especial, com regras
diferentes do direito civil comum. O primeiro ramo surge muitas vezes como
fragmentário, aberto ao recurso ao direito civil. Por isso, o direito civil não serve
apenas para integrar lacunas, porque muitas das omissões comerciais visam um
claro recurso à lei civil, por exemplo no que se refere ao regime geral do negócio
jurídico.
O direito civil, é um direito privado comum, porque as suas normas regulam de
um modo geral as relações entre os sujeitos privados. O direito comercial por sua
vez, é um direito especial porque apenas regula uma parte específica das relações
que se verificam entre sujeitos privados.

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Titulo II
Dos actos de comércio em geral
1. Noção de acto de comércio
Segundo o art. 2 Com “Serão considerados actos de comércio todos aqueles que
se acharem especialmente regulados neste Código, e, além deles, todos os
contratos e obrigações dos comerciantes, que não forem de natureza
exclusivamente civil, se o contrário do próprio acto não resultar”.
A 1.ª parte do artigo refere-se aos actos objectivamente comerciais, isto é,
aqueles que o são independentemente da qualidade da pessoa que os pratica.
A 2.ª parte do artigo refere-se aos actos subjectivamente comercias, isto é,
aqueles qualificados como tal, em virtude de serem praticados por um sujeito que
tem qualidade de comerciante.

A doutrina tem entendido que é impossível construir um conceito unitário e


homogéneo de acto de comércio, apesar de além fronteiras, nomeadamente em
Itália se ter tentado a sua construção com base em três critérios:
Assim, seriam actos de comercio aqueles que:
1. Tivessem finalidade especulativa ou lucrativa;
2. Se destinassem a interposição de trocas;
3. Derivassem da existência de uma empresa;
Nenhum destes critérios possibilita contudo, a construção de um conceito unitário
de acto de comércio; há desde logo, actividades especulativas, como agricultura
que não são qualificadas como comerciais; além disso, o Estado pode também
praticar actos de comércio sem fim lucrativo. Por outro lado, também o critério da
interposição das trocas é insuficiente, porque existem actos comercias que não
carecem de troca como fiança, penhor, etc. Por último a existência de empresa não
é determinante porque existem actos de comércio praticados ocasionalmente sem
suporte empresarial.

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2. Actos de comércio objectivos


São aqueles regulados no código comercial como tal, assim existe uma
enumeração ou catálogo: exemplo, fiança, empresas, mandato, conta corrente,
penhor, empréstimo, seguro, aluguer, etc.
Relativamente à maioria dos actos o código estabelece uma disciplina específica,
contudo, um acto pode ser objectivamente comercial, ainda que a lei para ele não
preveja um regime específico, é o caso do aluguer que é regulado pelo CC, mas
que nem por isso, deixa de ser um acto objectivamente comercial.
Daqui podemos concluir que mesmo os actos comerciais para os quais o código
não estabelece disciplina específica ficam sujeitos às regras comuns dos actos de
comércio em geral.
Para além dos actos objectivamente comerciais previstos no Com são ainda
considerados actos objectivamente comerciais, aqueles constantes de:
1. Lei avulsa que substitui o CCM: toda a lei avulsa que substitui o
CCM será, em princípio comercial por uma questão de coerência; assim são
objectivamente comerciais os actos constitutivos das sociedades comerciais
previstos no Cód. Sociedades Comerciais que substituem artigos do CCM.
2. Lei avulsa que se auto-qualifica como comercial : O RAU possui um
capítulo relativo apenas ao arrendamento comercial e industrial, estabelecendo
regras específicas, quanto à cessação de exploração do estabelecimento e o
trespasse comercial ou industrial. Este capítulo visa essencialmente actividades e
empresas e como tal deve ser considerado como contendo actos objectivamente
comerciais.
3. Leis analógicas à lei comercial ; na maioria dos casos uma lei não se
qualifica como comercial, daí que seja necessário analisar se a matéria por ela
regulada diz respeito a situações análogas à àquela regulada pela lei comercial.

A este propósito cumpre analisar o artigo 230.º CCM, que apresenta uma lista, que
apesar de desactualizada, de actividades consideradas comerciais.

Haver-se-ão por comerciais as empresas, singulares ou colectivas, que se


propuserem:
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As críticas podem começar logo, aqui, uma vez que, existem empresas que podem
não ser consideradas como comerciais, em virtude da lei, como acontece com o
Estado Autarquias Locais, que ainda que desenvolvam actividades de natureza
comercial, não podem ser considerados comerciais.
Parte da doutrina entende que o termo empresa deve ser entendido como sinónimo
de empresário, contudo, outra parte da doutrina, como Coutinho de Abreu,
entende que o termo empresa é usado como sinónimo de série de actos comerciais
objectivos, porque a lei rege os actos de comércio sejam ou não comerciantes as
pessoas que os praticam.

3. Qualificação dos actos de comércio por analogia:


Analogia iuris: Analogia feita a partir de princípios jurídicos gerias de direito
comercial, mas que não possuem consagração legal. O recurso a este tipo de
analogia, isto é, disciplinar casos omissos mediante aplicação de princípios gerias
através de indução, não é todavia, unânime. Tal concepção apenas é aceite pela
doutrina que vê nos actos de comércio um conceito unitário, contudo, não
podemos esquecer que tal posição pode levar a insegurança e a incerteza.
Analogia legis: analogia feita a partir de uma norma jurídica, estende-se um
regime a uma situação não prevista na lei, mediante recurso a uma semelhante
consagrada normativamente. O recurso a este tipo de analogia é pacificamente
aceite.

4. Princípios de direito comercial


O professor José Reis, não exclui a possibilidade de recurso à analogia iuris,
porque considera que existem princípios basilares que são essenciais, para
qualificar certas actividades, que de outra forma não seriam qualificáveis como
comerciais. Por exemplo, não há nenhuma norma que qualifique como comerciais
os actos de empresas de serviços, como cafés, restauração, oficinas, que são
qualificadas como empresas comerciais mediante o recurso à analogia. Não faria o
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mínimo sentido que empresas como agencias viagem, de transportes, restauração,


que prestam serviços ano fossem qualificadas como comerciais. Assim extrai-se o
primeiro princípio de direito comercial: qualquer actividade de prestação de
serviços exercida por uma empresa transforma-a em empresa comercial,
assim as empresas de prestação de serviços são em regra comerciais.
Contudo, a prestação de serviços apenas é considerada comercial se for exercida
no âmbito de uma empresa, e não meramente a título individual.
Um segundo princípio de direito comercial diz-nos que os negócios sobre em
empresas, como o trespasse e a locação de estabelecimento comercial, apesar de
não serem qualificados genericamente como actos comerciais, devem ser
entendidos genericamente como actos objectivamente comerciais.
Devendo o comércio jurídico abranger o comércio em sentido económico
implicando este a troca, então concluímos que toda a actividade de interposição de
trocas deve ser tida como acto objectivamente comercial. Apesar desta
qualificação não constar da lei, deve entender-se que toda actividade de
interposição de trocas constitui acto objectivamente comercial.
O contrato de concessão comercial, é um contrato duradouro mediante o qual o
concedente se obriga a vender bens ao concessionário, que embora sendo muito
usado é um contrato atípico, não constando por isso, da lei. Não obstante, ele
consubstancia um acto de interposição nas trocas, por isso, devemos considerar a
concessão comercial como acto objectivamente comercial.
O art. 3 Com estabelece a possibilidade de recurso à analogia para regular os actos
já qualificados como comercias, o artigo aplica-se assim, nos casos em que o acto
é qualificado como comercial embora não tenha regulamentação, temos por isso,
uma lacuna de regulamentação.
Existe, todavia, lacunas de qualificação, quando o acto não é qualificado como
comercial, apenas o passando a ser em virtude do recurso à analogia.

5. Actos de comércio subjectivo


Os actos objectivamente comercias não têm de ser praticados por um sujeito
determinado para serem qualificados como comerciais, porque a sua qualificação
em nada se relaciona com a qualidade do sujeito. Por outro lado, já os actos de
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comércio subjectivamente comerciais, dependem da qualidade e do estatuto do


sujeito que os pratica.
Para que um acto seja subjectivamente comercial é necessário que estejam
preenchidos três requisitos, um de natureza positiva e dois de natureza negativa.
1. É necessário que o sujeito seja um comerciante, sendo que nos termos do art.
13.º n.º1 CCM são comerciantes “São comerciantes:
1.º As pessoas, que, tendo capacidade para praticar actos de comércio, fazem
deste profissão;
2.º As sociedades comerciais”
Contudo, nem todos os actos praticados por comerciantes são actos
subjectivamente comerciais, é necessário estarem preenchidos mais dois requisitos
de índole negativa:
2. Os actos para serem subjectivamente comerciais, não podem ser de natureza
exclusivamente civil. Sendo que só são de natureza exclusivamente civil os actos
de natureza extra-patrimonial, como actos familiares e sucessórios. Assim só são
actos de comércio aqueles de natureza patrimonial.
3. Mas nem todos os actos praticados por comerciantes de natureza patrimonial
são subjectivamente comerciais, tal só sucede “se do contrário do próprio acto
não resultar” art 2 CCM in fine.
Assim, um acto patrimonial praticado por um comerciante, só não é
subjectivamente comercial, se da prática do acto resultar o contrário, isto é desde
que haja desconexão com a actividade praticada pelo comerciante.
Ex: A, comerciante dono de uma sapataria dirige-se a uma loja de informática
para comprar um computador.
O primeiro requisito está preenchido porque o comprador é um comerciante, o
segundo também porque o acto é claramente de natureza patrimonial, quanto ao
terceiro, o acto será subjectivamente comercial, salvo se da prática do próprio acto
se induzir o contrário. Assim, se por qualquer circunstância resultar a falta de
conexão entre o acto e a actividade comercial, por exemplo se o filho for com ele
para escolher a sua prenda de aniversário, o acto não será subjectivamente
comercial. Note-se que o comerciante não necessita de se identificar como tal,
basta que haja conexão entre o acto e a actividade, sendo que a falta de conexão
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pode resultar, do que é dito, do resultado da compra e das circunstâncias que


rodeiam a prática do acto.

6. Classificação dos actos de comércio


6.1 Actos de comércio autónomos:
São actos qualificados como actos comerciais por si mesmos, independentemente
da ligação com outros actos.
6.2 Actos de comércio acessórios:
são aqueles que devem a sua comercialidade ao facto de se ligarem ou se
conexionarem com actos mercantis. São exemplos:
1. Fiança, art. 101.º CCM “Todo o fiador de obrigação mercantil, ainda
que não seja comerciante, será solidário com o respectivo afiançado” A fiança só
segue acessoriamente o regime do CCM nos casos em que ela se destine a
afiançar uma obrigação mercantil.
2. Mandato, art. 231.º CCM “Dá-se mandato comercial quando alguma
pessoa se encarrega de praticar um ou mais actos de comércio por mandado de
outrem” O mandato, segue nestes termos acessoriamente CCM se pelo seu
conteúdo se destine a praticar actos de comércio.
3. Empréstimo, art. 394.º CCM “Para que o contrato de empréstimo seja
havido por comercial é mister que a cousa cedida seja destinada a qualquer acto
mercantil” Assim, o empréstimo seguirá acessoriamente o regime do CCM se se
destinar a cobrir uma actividade mercantil. Note-se que nos termos do art. 395.º
CCM “O empréstimo mercantil é sempre retribuído”, sendo que ao contrário do
que se passa com o direito comum, nos termos do art. 396.º CCM “O empréstimo
mercantil entre comerciantes admite, seja qual for o seu valor, todo o género de
prova”
4. Penhor: art. 397.º CCM “Para que o penhor seja considerado
mercantil é mister que a dívida que se cauciona proceda de acto comercial”
nestes termos para que o penhor seja acessoriamente comercial a divida garantida
tem de advir de acto comercial.
5. Depósito: art. 403.º CCM “Para que o depósito seja considerado
mercantil é necessário que seja de géneros ou de mercadorias destinados a
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qualquer acto de comércio” assim para que o depósito seja acessoriamente


comercial a mercadoria alvo de depósito tem de ser destinada a actos de comércio.

6.4 Actos formalmente comerciais


São esquemas negociais usados para a realização de operações mercantis
económicas que não são actos de comércio nem se inserem na actividade
comercial, contudo, estão regulados na lei comercial, e portanto merecem
qualificação de actos de comércio.
É o caso do negócio cambiários, assim, A não comerciante, vende seu carro a B
também não comerciante, para seu uso pessoal. Aqui tanto a compra como a
venda são civis, nos termos do art. 464.º n.º 1 CCM “Não são consideradas
comerciais:
1,º As compras de quaisquer cousas móveis destinadas ao uso ou consumo do
comprador ou da sua família, e as revendas que porventura desses objectos se
venham a fazer” não sendo o preço pago, ambos convencionam a emissão de uma
letra de câmbio, passando o acto a ser de comércio, porque tal é instituído pela lei.
6.5 Actos substancialmente comercias
São aqueles que pela sua natureza são considerados comerciais. Note-se que tanto
os actos formalmente comercias como os substancialmente comerciais seguem o
mesmo regime.
6.6 Actos bilateralmente comerciais
São actos cuja comercialidade se verifica em relação a ambas as partes, como por
exemplo, se A produtor de automóveis vende o automóvel X ao concessionário Y,
quer a compra, quer a venda são comerciais, art. 463.º n.º 1 CCM “São
consideradas comerciais:
1.º As compras de cousas móveis para revender, em bruto ou trabalhadas, ou
simplesmente para lhes alugar o uso”

6.7 Actos unilateralmente comerciais


São actos cuja comercialmente se verifica apenas em relação a uma parte
contratual. Assim, E professor compra a B concessionário, um automóvel, para
seu uso pessoal, aqui a venda é objectivamente comercial nos termos do art. 463.º
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n.º3 CCM “3.º A venda de cousas móveis, em bruto ou trabalhadas, e as de fundos


públicos e de quaisquer títulos de crédito negociáveis, quando a aquisição
houvesse sido feita no intuito de as revender” contudo, a compra é civil, art. 464.º
n.º 1 CCM “Não são consideradas comerciais:
1,º As compras de quaisquer cousas móveis destinadas ao uso ou consumo do
comprador ou da sua família, e as revendas que porventura desses objectos se
venham a fazer;”
Aos actos unilateralmente comerciais aplica-se a lei comercial conforme
estabelece o art. 99 CCM “Embora o acto seja mercantil só com relação a uma
das partes será regulado pelas disposições da lei comercial quanto a todos os
contratantes, salvo as que só forem aplicáveis àquele ou àqueles por cujo respeito
o acto é mercantil, ficando, porém, todos sujeitos à jurisdição comercial”
Assim os actos unilateralmente comerciais são regulados pela lei comercial
exceptuando-se as disposições da lei comercial que só forem aplicáveis àquele
ou àqueles por cujo respeito a lei é mercantil. Daqui decorre que existem
disposições que não se vão aplicar porque essas apenas se aplicam a actos
mercantis e não aos restantes, assim acontece com o art. 100.º CCM “Nas
obrigações comerciais os co-obrigados são solidários, salva estipulação
contrária.
§ único. Esta disposição não é extensiva aos não comerciantes quanto aos
contratos que, em relação a estes, não constituírem actos comerciais”
Assim a solidariedade passiva não se estende às compras civis, porque em relação
a estes compradores, não há a prática de nenhum acto comercial.
Ex: A e B advogados compram a uma empresa material informático, para o seu
escritório. O acto como se constata é unilateralmente comercial, porque apesar da
venda ser comercial, a compra é civil, art. 463.º e 464.º CCM. Contudo, o negócio
vai ser regulado no seu todo pela lei comercial, em cumprimento com o disposto
no art. 99 CCM; porém, no caso do não pagamento, o vendedor só poder exigir a
cada um dos co-obrigados, a uma quota-parte na dívida, e nunca a totalidade
porque o regime da solidariedade típico do comércio não se aplica nestes casos
conforme o estipulado no art. 100.º CCM

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Resumo
Requisitos cumulativos para um acto ser subjectivamente comercial
1. O SUJEITO TEM DE SER COMERCIANTE – Artº 13º – O sujeito
adquire a qualidade de comerciante quando pratica reiteradamente, em nome
próprio e profissionalmente actos de comércio;
2. O ACTO NÃO PODE TER NATUREZA EXCLUSIVAMENTE CIVIL –
Os actos que não são exclusivamente civis, são patrimoniais, os actos que são
exclusivamente civis, são pessoais. Actos exclusivamente civis: casamento,
perfilhamento, etc.
3. O QUE RESULTA – Há conexão com a actividade? Não há conexão com a
actividade?. Neste ponto, para averiguar se há ou não conexão, há que apelar à
“teoria da impressão do declaratário” (o homem médio, o bom pai de família).
Pode-se verificar:
 Resulta que tem conexão com o acto do comércio;
 Resulta que não tem conexão com o acto do comércio;
 Não resulta que não haja conexão com o acto do comércio. Dupla negativa,
logo positiva, logo há conexão.

QUEM É COMERCIANTE – Aquele que pratica, em nome próprio, de forma


reiterada, tendo capacidade de exercício, actos objectivos e absolutos. Actos que
são comerciais pela sua essência – Artº 13º c/ 7º

Artº 230 – Norma qualificadora. É aqui que o legislador tipifica as empresas


comerciais

FUNÇÃO DO ARTº 230 – Visa catalogar e qualificar quais as empresas que são
comerciais.
EMPRESAS COMERCIAIS – Organização de factores produtivos com
autonomia técnico-funcional. É uma actividade e é uma massificação de actos,
logo esses actos que decompõem estas actividades estão tipificados na lei – Artº

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230 – embora de forma implícita. Estes actos, dado que estão tipificados na lei (de
forma implícita) são actos objectivos.

Desta forma, segundo a tese de Vasco Lobo Xavier, derivado à multiplicidade, ou


massificação de actos, não se vislumbra, facilmente, a que acto diria respeito o
Artº 230.
Assim sendo será qualificado como acto do comércio, todo e qualquer dos actos
praticados pelo titular da empresa, na exploração desta. Serão actos de comércio
objectivos, à luz da primeira parte do artº 2º. Assim sendo, tratando-se de actos
comerciais, cuja prática corresponde ao exercício do comércio, para efeitos de
atribuição da qualidade de comerciante, nos termos do artº 13/1, o titular da
empresa deverá ser considerado comerciante, uma vez que, como titular da
empresa em questão, no exercício das suas funções empresariais, pratica, de forma
reiterada, actos implícitos, que, sendo implícitos, são fundamentais, sendo estes
actos, também fundamentais, uma vez que estão tipificados no Artº 230.

Para Vasco Lobo Xavier, os actos têm de ser fundamentais para a actividade do
comércio, ou seja, têm de ter conexão com o próprio sujeito. Caso seja
fundamental teremos de aferir se o referido acto é objectivo implícito, civil ou
subjectivamente comercial.
Para Coutinho de Abreu, os actos têm de ser típicos da actividade do comércio,
ou seja caracterizadores da actividade do comércio. Assim sendo, se o acto é
típico teremos de aferir se o referido acto é objectivo implícito, civil ou
subjectivamente comercial.

QUADRO DE VERIFICAÇÃO DOS ACTOS


1. SE NÃO FOR COMERCIANTE:
a) Ver se o acto é objectivamente comercial de forma explícita, ou seja, se
está tipificado na lei;
b) Se não for, é civil.

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2. SE FOR COMERCIANTE:
a) Ver se o acto é objectivamente comercial de forma explícita, ou seja, se
está tipificado na lei;
b) Se não for, pode ser subjectivamente comercial;
c) Se não for, é civil.

3. SE FOR COMERCIANTE E TITULAR DE UMA EMPRESA:


a) Ver se o acto é objectivamente comercial de forma explícita;
b) Se não for, ver se é objectivamente comercial de forma implícita;
c) Se não for, ver se o acto é subjectivamente comercial;
d) Se não for, é civil.

Responsabilidade por dividas


REGIME DE BENS – Artº 1717 ss CC.

1. REGIME DE COMUNHÃO DE BENS ADQUIRIDOS – Artº 1721 CC.


 Bens Comuns – Regra geral, os bens adquiridos, a título oneroso, na
constância do matrimónio;
 Bens próprios – Os bens que os cônjuges levaram para o casamento e os que
adquiriram, a título gratuito, na constância do matrimónio, por sucessão ou
doação.

2. REGIME DE COMUNHÃO GERAL DE BENS – Tudo é comum. Todos


os bens são comuns. Os bens de ambos, anteriores e posteriores ao casamento.

3. REGIME DE SEPARAÇÃO DE BENS – Todos os bens são próprios de


cada um. Cada um tem os seus bens. Se há um bem dos dois, então há
compropriedade.

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REGIME DO ARTº 1691/1-d) - Segundo esta norma, nos regimes de comunhão


de adquiridos ou de comunhão geral, as dívidas contraídas por qualquer dos
cônjuges no exercício do comércio são da responsabilidade de ambos os cônjuges.

Desta forma respondem por elas todos os bens comuns do casal e, na insuficiência
deles, solidariamente, os bens próprios de qualquer dos cônjuges – Artº 1695/1.
Só assim não será, de acordo com o Artº 1691/1-d), se se provar que as ditas
dívidas, embora derivadas da actividade comercial do devedor, não foram
contraídas em proveito comum do casal, ou seja é sobre o cônjuge que recai o
ónus da prova.
Por outro lado, segundo o Artº 15º do Código Comercial, “as dívidas comerciais
do cônjuge comerciante presumem-se contraídas no exercício do seu comércio”.

Desta forma o credor do comerciante para se valer do regime do Artº 1691/1-d),


não precisa de provar que a dívida foi contraída no exercício do comércio pelo
devedor.
Cabe-lhe apenas provar que a dívida é comercial, ou seja, que resulta de um acto
do comércio.
Há assim uma presunção legal, ilidível, desde que o cônjuge do devedor consiga
provar que a dívida, embora comercial, não derivou do exercício do comércio do
mesmo devedor ou que a dívida, apesar de ter sido efectuada do exercício do
comércio do devedor, não foi contraída em proveito comum do casal.

O cônjuge do devedor poderá, ainda, para evitar que os seus bens respondam pela
dívida, ilidir a presunção do Artº 15º do C. Com., provando que a dívida não tem
qualquer conexão com o exercício do comércio do devedor.

DIREITO À MEAÇÃO (meação de bens) – É a quota ideal que cada um dos


cônjuges tem, relativamente aos bens comuns, ou seja, que cada um tem em face

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do património comum. Só funciona para a Comunhão de adquiridos e para a


comunhão de bens.

REGRA GERAL – O regime de bens não influencia a natureza da dívida,


excepto uma situação: A prevista no Artº 1691/1 d) do CC c/ Artº 5º C.
Comercial.

Capítulo I
Os sujeitos
Secção I
Dos comerciantes
1. Sujeitos qualificáveis como comerciantes
Art. 7 CCM “Toda a pessoa, nacional ou estrangeira, que for civilmente capaz de
se obrigar, poderá praticar actos de comércio, em qualquer parte destes reinos e
seus domínios, nos termos e salvas as excepções do presente Código”
Artigo13.º
Quem é comerciante
São comerciantes:
1.º As pessoas, que, tendo capacidade para praticar actos de comércio, fazem
deste profissão;
2.º As sociedades comerciais
1.1 Requisitos essenciais para obtenção da qualidade de comerciante no caso
das pessoas singulares:
1. Quando se fala em capacidade para praticar actos de comércio, estamos a
referir-nos à capacidade de exercício, isto é, à capacidade de agir per si, ou
mediante procurador voluntário. Só em casos excepcionais é que um incapaz pode
ter qualidade de comerciante, nomeadamente se for devidamente representado
pelos representantes legais para o efeito, e estes tenham sido devidamente
autorizados pelo tribunal. O artigo 1889.º n.º 1 al C CC estabelece que “ 1. Como
representantes do filho não podem os pais, sem autorização do tribunal:

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Adquirir estabelecimento comercial ou industrial ou continuar a exploração do


que o filho haja recebido por sucessão ou doação;”
Assim, apesar da exploração ficar a cargo dos representantes legais do incapaz,
estes últimos mediante autorização do tribunal, podem adquirir ou continuar a
exploração de estabelecimento comercial, mas quem adquire a qualidade de
comerciante é o incapaz e não os representantes.

2. Além do sujeito ter capacidade de exercício, terá que fazer do comércio


profissão. Como sabemos, há certos actos de comércio, que apesar da sua
natureza não atribuem a quem os pratica a qualidade ou estatuto de comerciante,
assim, acontece nos actos subjectivamente comerciais, em que a qualidade do acto
depende de prévia qualificação dos sujeitos. O mesmo se passa com determinados
actos formalmente comerciais que podem ser usados ou não para a realização de
operações mercantis e a sua prática ainda que habitual não denota o exercício de
um actividade comercial. Assim um agricultor que recorre frequentemente ao
crédito aceitando por isso, letras de câmbio não exerce qualquer profissão
comercial pelo facto de habitualmente praticar actos de comércio cambiário.
A doutrina entende também que prática de certos actos acessórios não conduz à
qualificação do sujeito como comerciante.
Em conclusão é necessário que o sujeito faça do comércio profissão de modo
reiterado e habitual, não se exigindo contudo, que a actividade seja única e
principal nem que seja exercida ininterruptamente.

3. Só são comerciantes as pessoas que exerçam a profissão em nome próprio, a


título pessoal, ou mediante representante. Por isso, um mero empregado pratica
actos comerciais em nome de outrem, não sendo por isso, qualificado como
comerciante.

O momento a partir do qual uma pessoa singular é considerada comerciante não


está bem definida na lei, a sua qualificação pode depender de um de vários actos:
APONTAMENTOS - T.Nogueira
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Direito da actividade comercial

O início da atribuição da qualidade de comerciante pode determinar-se pela


prática de actos reveladores da intenção do propósito, do exercício habitual de
uma actividade comercial. Na Alemanha e em Itália, sustenta a doutrina que a
qualidade de comerciante se adquire aquando da prática de actos preparatórios
com vista a organizar uma empresa, entre nós Coutinho de Abreu perfilha esta
posição.
1.2 As pessoas colectivas como comerciantes:
Além das pessoas singulares também as sociedades comercias podem ser
comerciantes, e acordo com o art. 1.º Código das Sociedades Comerciais (CSC)
são sociedades comercias:
1. Requisito substancia: Aquelas que tenham por objecto a prática de
actos de comércio;”
2. Requisito formal: E adoptem o tipo de sociedade em nome colectivo,
de sociedade por quotas, de sociedade anónima, de sociedades em comandita
simples ou de sociedade em comandita por acções”
As sociedades comercias adquirem qualidade de comerciantes a partir do
momento em que adquirem personalidade jurídica, não sendo necessário que
pratiquem actos de comércio, art. 5.º CSC “ As sociedades gozam de
personalidade jurídica e existem como tais a partir da data do registo definitivo
do contrato pelo qual se constituem, sem prejuízo do disposto quanto à
constituição de sociedades por fusão, cisão ou transformação”.
A nossa lei comercial permite que as sociedades que tenham exclusivamente por
objecto a prática de actos não comerciais, adoptem um dos tipos formais previstos
no n.º 1 CSC, sendo-lhe aplicado o regime das sociedades comerciais, art. 1 n.º 4
CSC. Esta sociedades – sociedades civis sob forma comercial - não praticam
contudo, actos subjectivamente comercias nem são comerciantes.

Além das sociedades comercias, há outras pessoas colectivas que podem ser
comerciantes, como empresas públicas, empresas municipais e intermunicipais,
entidades públicas empresariais, agrupamentos complementares de empresas e
agrupamentos europeus de interesses económicos cooperativos. Estas entidades,

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podem ser comerciantes, quando tenham por objecto a prática de actos


comerciais.
Podendo estas entidades ser qualificadas como comerciantes, onde será que elas
se enquadram no n.º 1 ou no n.º 2 do art. 13.ºCCM?
Alguma doutrina, entende que quando o n.º 1 se refere a “pessoas” apenas tem
como objectivo abarcar pessoas físicas; Coutinho de Abreu não subscreve esta
posição, porque em regra as pessoas tanto podem ser singulares como colectivas,
dai que o termo usado abarca as duas realidades. Alguns autores entendem que o
enquadramento de tais entidades se deve fazer nos termos do n.º 2 do art. 13.º
CCM.

2. Sujeitos não qualificáveis como comerciantes


Existem determinados sujeitos que a lei exclui expressamente da qualidade de
comerciantes, a saber:
1. Sector agrícola: Não são qualificáveis como comerciantes as pessoas
singulares ou colectivas que exerçam actividade agrícola. Sendo que o sector
agrícola deve ser aqui entendido de modo amplo, de modo a abranger também a
silvicultura, pecuária, criação de animais, etc. Esta conclusão retira-se dos
seguintes artigos: 230.º nº 1 1.ª parte CCM “Haver-se-ão por comerciais as
empresas, singulares ou colectivas, que se propuserem: Transformar, por meio de
fábricas ou manufacturas, matérias-primas, empregando para isso, ou só
operários, ou operários e máquinas” e art.230.º parágrafo único ” Não se haverá
como compreendido no n.º 1.º o proprietário ou o explorador rural que apenas
fabrica ou manufactura os produtos do terreno que agriculta acessoriamente à
sua exploração agrícola, nem o artista industrial, mestre ou oficial de ofício
mecânico que exerce directamente a sua arte, indústria ou ofício, embora
empregue para isso, ou só operários, ou operários e máquinas” e 464.º n.º 2
CCM “Não são consideradas comerciais: As compras de quaisquer cousas
móveis destinadas ao uso ou consumo do comprador ou da sua família, e as
revendas que porventura desses objectos se venham a fazer”,
2. Artesãos: Os produtores manuais, ditos artesãos, não são considerados
comercias, porque o art. 464.º n.º 3 CCM exclui do comercio a actividade
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Direito da actividade comercial

artesanal. “Não são consideradas comerciais: As compras que os artistas,


industriais, mestres e oficiais de ofícios mecânicos que exercerem directamente a
sua arte, indústria ou ofício, fizerem de objectos para transformarem ou
aperfeiçoarem nos seus estabelecimentos, e as vendas de tais objectos que fizerem
depois de assim transformados ou aperfeiçoados” ainda que ferreiros, sapateiros,
mecânicos, cabeleireiros, exerçam a sua actividade de modo empresarial, não são
considerados comerciantes.
3. Profissionais liberais: São aqueles profissionais que exercem de modo
habitual e autónomo a actividade intelectual sujeita a controlo deontológico de
uma ordem profissional, bem como trabalhadores autónomos, como pintores,
escultores, músicos, são entidades que não são considerados como comerciantes.
4. Situações de incompatibilidade legal: o art. 14.º CCM impossibilita a
adopção da qualidade de comerciante a quem por lei ou disposição especial esteja
impedido.” É proibida a profissão do comércio: 1.º Às associações ou
corporações que não tenham por objecto interesses materiais; 2.º Aos que por lei
ou disposições especiais não possam comerciar. A impossibilidade legal de
prática de comércio pode resultar de regras de direito público ou de regras de
direito privado. Os limites de direito privado, são relativos, uma vez que podem
ser superados mediante a intervenção de terceiro em relação ao qual a
incompatibilidade foi criada. Assim, um gerente não pode negociar por conta
própria um negócio concorrente com o do que dirige, salvo consentimento em
contrário, art. 253.º CCM “ Nenhum gerente poderá negociar por conta própria,
nem tomar interesse debaixo do seu nome ou alheio em negociação do mesmo
género ou espécie da de que se acha incumbido, salvo com expressa autorização
do proponente” Outros exemplos de regras deste tipo, 254.º n.º 1 CSC; 398.º n.º 3
CSC; 428.º n.º 1 CSC 477.º CSC; Existem ainda incompatibilidades de direito
públicas, absolutas porque não podem ser derrogadas, assim os magistrados não
podem desempenhar qualquer função pública ou privada, salvo a de docente ou
investigação sem fins lucrativos.
5. Insolvente: O insolvente é aquele que não pode cumprir as suas
obrigações vencidas, perdendo a possibilidade de disposição do seu património.
Em regra, no caso de insolvência culposa, o juiz na sentença que decretará a
APONTAMENTOS - T.Nogueira
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Direito da actividade comercial

insolvência, deverá frisar a impossibilidade do insolvente praticar actos de


comércio por um período variável de 2 a 10 anos.
6. Entidades colectivas: As associações e fundações que não tenham por
objecto interesses materiais, não podem ser comerciantes. Esta norma, não impede
contudo, que tais entidades fiquem impossibilitadas de praticar actos de comércio
desde que respeitem os limites da sua capacidade jurídica, conforme o
estabelecido no art. 160.º CC, contudo, apesar de praticarem actos de comércio,
não podem ser qualificadas como comerciantes. O art. 17.º CCM proíbe ainda a
designação de comerciantes a associações de fins desinteressado ou altruístico,
embora possam também praticar actos de comércio.” O Estado, o distrito, o
município e a paróquia não podem ser comerciantes, mas podem, nos limites das
suas atribuições, praticar actos de comércio, e quanto a estes ficam sujeitos Às
disposições deste Código” Uma associação recreativa pode, por exemplo, explorar
um bar, isto não vai contra princípio da especialidade do fim, contudo, da prática
destes actos de comércio, tais entidades não adquirem a qualidade de
comerciantes.

3. Consequências jurídicas da qualificação de um acto como comercial


1. As obrigações comercias seguem nos termos do art. 100.º CCM o regime
da solidariedade, afastando assim o regime regra da responsabilidade conjunta
vigente do direito civil, “Nas obrigações comerciais os co-obrigados são
solidários, salva estipulação contrária”;
2. A taxa de juro das obrigações comerciais é superior à taxa de juro das
obrigações civis. Nas obrigações civis, a taxa de juro é de 4 % ao passo que nas
obrigações comerciais a taxa de juro é de 9%, segundo a portaria 597/ 2005 de 19
de Julho.
3. A prescrição de algumas obrigações comerciais possui um prazo mais
curto, art. 317 CC. Os comerciantes de prestação de serviços só podem reclamar
os seus créditos no prazo de dois anos, sendo que os comerciantes de hotelaria e
restauração esse prazo é de apenas meio ano art. 316.º CC “Prescrevem no prazo
de seis meses os créditos de estabelecimentos de alojamento, comidas ou bebidas,

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pelo alojamento, comidas ou bebidas que forneçam, sem prejuízo do disposto na


alínea a) do artigo seguinte”.
4. Presunções relativas ao cônjuges constantes do art., 15 CCM “As dívidas
comerciais do cônjuge comerciante presumem-se contraídas no exercício do seu
comércio” e do art. 1691.º n.º 1 al. d CC. “São da responsabilidade de ambos os
cônjuges: As dívidas contraídas por qualquer dos cônjuges no exercício do
comércio, salvo se se provar que não foram contraídas em proveito comum do
casal, ou se vigorar entre os cônjuges o regime de separação de bens;” Assim
pelas dívidas contraídas pelo cônjuge comerciante, no exercício da sua actividade
respondem, além dos bens do próprio comerciante, os bens comuns do casal e os
bens próprios do outro cônjuge, salvo, se entre eles vigorar o regime de separação
de bens. A lei procura assim salvaguardar os interesses de quem contrata com os
comerciantes. Para que não haja comunicação das dívidas do comerciante,
este terá que ilidir as duas presunções:
A do art. 15.º CCM, e provar que a dívida contraída não se relaciona com a
actividade comercial.
A do art. 1691.º CC e provar que a dívida não foi contraída no interesse do
casal.
3. Estatuto dos comerciantes
A qualificação de uma entidade ou sujeito como comerciante, implica a
verificação de três consequências constantes:
Artigo18.º
Obrigações especiais dos comerciantes
Os comerciantes são especialmente obrigados:
1.º A adoptar uma firma;
2.º A ter escrituração mercantil;
3.º A fazer inscrever no registo comercial os actos a ele sujeitos;
4.º A dar balanço, e a prestar contas.

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Direito da actividade comercial

Secção II
A empresa
1. A empresa em sentido jurídico
Saber o que é uma empresa em sentido jurídico, isto é, o que o que ela consiste, o
que a caracteriza e distingue dos restante fenómenos jurídicos, não é fácil,
existindo alguns autores que começam por oferecer um conceito pré-jurídico de
empresa e a caracterizam como produto da vida, contudo, no dizer de Coutinho de
Abreu ser rejeitada tal posição.
Para designar o fenómeno empresarial, empregam-se palavras como “empresa” e
“estabelecimento” sendo que em tese geral, não haverá problemas em utiliza-las
como sinónimos.
Não há nenhum conceito geral e operacional de empresa, Orlando de Carvalho,
todavia, defende que só será empresa aquilo que tiver como fim a produção de
algo destinado à troca, a empresa será assim um centro emissor e receptor de
mensagens produtivas, em constante interacção caracterizando-se pela sua
organização autónoma, do ponto de visa financeiro e funcional.
Coutinho de Abreu define a empresa como uma unidade jurídica fundada em
organização de meios que constitui um instrumento de exercício relativamente
estável e autónomo de uma actividade comercial.
1. Autonomia financeira: as trocas realizadas com exterior têm como
objectivo proporcionar rendimentos suficientes para cobrir custos de exploração e
para conferir margem de lucro, de modo a incentivar a continuação do processo
produtivo;
2. Autonomia funcional: caracteriza-se pelo facto da empresa ter de
sobreviver sem o empresário que a detém, ela poder por isso, ser negociada, não o
sendo a empresa nada vale no mercado.

1.1 A empresa em sentido objectivo e subjectivo


Empresa em sentido subjectivo: empresa como sujeito jurídico que exerce uma
actividade económica, de modo autónomo do empresário.
Empresa em sentido objectivo: empresa como instrumento ou estruturas
produtivo-económicas, objecto de direitos e negócios, através da qual se exercem
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actividades de interposição de trocas – maxime a compra de coisas para revenda,


mas também actividade industrial transformadora, serviços, etc.
A empresa entendida de um ponto de vista objectivo possui três características:
1. Bem negociável com lugar no mercado: assim sobre a empresa
podem ser realizados diversos negócios, como compra, venda, locação, comodato,
usufruto,
2. Bem transferível e retrotransferível: a empresa tem de ser
negociável, tem de possuir um valor económico ou patrimonial e transpessoal, ou
seja, cindível da pessoa que a criou ou a quem pertença num dado momento. Daí
que a sua transferência definitiva seja possível
3. Bem irredutível: na medida em que a empresa não se pode limitar à
soma dos elementos que a compõem, ela tem de ser autónoma face a esses
elementos.
A empresa é composta por um conjunto de elementos que a compõem, por ser
uma realidade complexa a sua qualificação doutrinal não é unânime. Apesar desta
não ser uma questão de muito relevo, ficam enumeradas as posições de alguns
autores que mais se debruçaram sobre esta matéria:
Antunes Varela, defende que a empresa é uma universalidade de direito; Oliveira
Ascensão defende que se trata de uma universalidade de facto, ao passo que
Coutinho de Abre olha a empresa como uma realidade composta.
Por interpretação a contrario, do art. 205.º CC concluímos que a empresa é uma
coisa móvel, ela não está em regra, dependente de um elemento, encontra-se num
espaço, fábrica, escritório, armazém, mas este não é, em geral, imperativo, porque
a mudança de instalações não altera a sua essência, além disso, é cada vez mais
usual nos nossos dias a existência de estabelecimentos sem suporte físico, por
isso, se diz que a empresa é uma realidade imóvel incorpórea sui genis.

1.2 Quando é que temos uma empresa?


Pré-empresa: aquela que está apta a funcionar, mas que ainda não entrou em
funcionamento, não possuindo assim ainda valores de exploração. Resta saber se
isto deve ou não ser tratado unitariamente pelo direito? De acordo com a doutrina
dominante apesar de não estar ainda a funcionar um complexo de bens de
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Direito da actividade comercial

produção organizados poderá a pré-empresa ser considerada comercial, se se


revelar apta para se realizar um fim económico produtivo jurídico comercialmente
definido, ou seja, apto para garantir clientela que lhe permita viver. Se assim
suceder existe já uma organização produtiva, pelo que o direito não pode deixar
de ver tal realidade como empresa. Imagine-se que o individuo quer arrendar um
espaço para instalar a empresa, o arrendamento deve ser tratado como comercial?
Aqui o critério essencial para determinar o regime é a imagem projectada ao
público, se a pré-empresa já possui valor dentro do público ela deve ser tratada
unitariamente pelo direito. A empresa encontra-se já numa situação de aviamento,
isto é, está preparada para o caminho produtivo, porque possui capacidade
produtiva e aptidão para realizar o fim económico a que foi criado. A clientela,
não é essencial para o aviamento da empresa, ela é apenas uma das manifestações
do aviamento do estabelecimento juntamente com fornecedores, financiadores,
etc.
Empresas já em funcionamento, dotadas de valores de produção, que por
qualquer factor estão desfalcadas de elementos essenciais de produção: nestes
termos a actividade comercial fica temporariamente suspensa, os bens que restam
servem para exprimir a permanência de um concreta organização produtiva
qualificável como empresa., mantêm-se contudo, as relações de facto com
clientes, fornecedores e financiadores. Imagine-se que uma empresa sofre um
incêndio, onde ficam destruídos elementos produtivos. Aqui, a solução não pode
ser unitária, e depende dos valores gerados enquanto a empresa funcionar, se o
publico, apesar da fatalidade ainda a considera como empresa ou não. Quanto à
mais tempo a empresa funcionar de menos bens físico precisa para funcionar
porque os valores de exploração e organização ganham cada vez mais peso da
economia da empresa por contraposição aos bens corpóreos.
Distinção da empresa e das suas secções ou sucursais: como sabemos uma
empresa pode não estar concentrada numa mesma unidade produtiva, e integrar
várias secções possuindo armazéns, departamentos a funcionar com autonomia
organizativa uns em relação aos outros. As secções, armazéns departamentos não
possuem autonomia jurídica são antes partes integrantes da empresa, dependem
deste, e estão sujeitas à direcção geral da empresa. Tal só não sucede nos casos em
APONTAMENTOS - T.Nogueira
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Direito da actividade comercial

que estes departamentos possuam valor tranferencial. Note-se que a empresa não
tem personalidade jurídica quem tem é a sociedade comercial.

2. Tipologia das empresas


Empresas comerciais:
1. Sector privado;
2. Sector público;
3. Sector cooperativo;
Empresas do Sector Privado:
Em regra, num estabelecimento comercial explorado por uma pessoa singular
respondem pelas dívidas contraídas na exploração desse estabelecimento, quer os
bens a ele afectados quer os bens restantes do indivíduo.
Para acabar com este regime, o nosso legislador instituiu em 86 pelo DL 248/86
um procedimento de limitação da responsabilidade empresarial intitulado o
estabelecimento individual de responsabilidade limitada – E.I.R.L. art. 1 “
Qualquer pessoa singular que exerça ou pretenda exercer uma actividade
comercial pode constituir para o efeito um estabelecimento individual de
responsabilidade limitada” n.º 2 “ O interesse afectará ao estabelecimento
individual de responsabilidade limitada uma parte do seu património, cujo valor
representará o capital do estabelecimento.” n.º 3 “ uma pessoa só pode ser titular
de um único estabelecimento individual de responsabilidade limitada.”
O E.I.R.L é um património autónomo separado do restante património autónomo
do comerciante individual, aqui apenas respondem pelas dívidas contraídas no
desenvolvimento da actividade os bens de que o património é instrumento, art.
10.º n.º 1 “ Sem prejuízo no disposto no art. 22.º, o património do estabelecimento
individual de responsabilidade limitada responde unicamente pelas dívidas
contraídas no desenvolvimento das actividades compreendidas no âmbito da
respectiva empresa” e 11.º n.º1” Pelas dívidas resultantes de actividades
compreendidas no objecto do estabelecimento individual de responsabilidade
limitada respondem apenas os bens a este afectadas”. DL. Assim uma pessoa

APONTAMENTOS - T.Nogueira
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singular pode exercer a actividade comercial mas limitando a sua responsabilidade


ao capital investido.

Empresas do Sector Público:


Integram o sector público empresarial as diferentes formas pelas quais o estado,
municípios e associações exercem a actividade comercial, a saber:
1. Empresas públicas do Estado;
2. Empresas municipais e inter-municipais, e Serviços
municipalizados;

Empresas públicas do estado: DL 558/99 de 17 de Dezembro que instituiu o


regime do sector empresarial do estado, incluindo as bases gerais do estatuto das
empresas públicas do estado.
1. Sociedades comerciais controladas pelo estado: são sociedade que
funcionam nos termos do direito privado, sendo contudo reguladas e controladas
pelo estado nomeadamente pelas directrizes traçadas pelo Conselho Ministros e
pelo Ministro da tutela, sujeitando-se a fiscalização da inspecção-geral de
finanças, art. 3.º n.º 1; 7.º n.º 1; 16.º; 11.ºº a 14.º RSEE,
2. Entidades Públicas Empresariais: possuía antes da reforma de 99
carácter institucional, actualmente as EPE´s são constituídas por capitais públicos,
instituídas por DL com vista à prossecução do interesse público, sendo alvo de um
controlo administrativo e financeiro bastante apertado, art. 3.º; 2.º; 23.º; 40.º

Empresas municiais e intermunicipais: reguladas pelo DL 58/98 de 18 de


Agosto, que disciplina as empresas de âmbito municipal e intermunicipal, que os
municípios e as associações de municípios podem criar par a prossecução de fins
reconhecidos de interesse público e desde que o objecto delas se contenha no
âmbito das suas atribuições.
Estas empresas podem assumir três formas diferenciadas:

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1. Empresas públicas, são aquelas em que o município ou as associações


de municípios detenham a totalidade do capital.
2. Empresas de capital público, aquelas em os municípios ou as
associações de municípios, detenham participação do capital em associação com
outras entidades públicas.
3. Empresas de capitais maioritariamente públicos: aquelas em que os
municípios ou associações de municípios detenham maioritariamente o capital em
associação com entidades privadas.

Para grande parte da doutrina, estas duas últimas empresas constituem um novo
tipo de sociedades comerciais, porque apesar da sua designação, o seu regime é
semelhante ao das sociedades comerciais, possuindo inclusive, capital social. O
seu regime segue grande parte do direito privado, salvo no que se refere ao
processo de recuperação e insolvência.

Empresas do Sector Cooperativo: trata-se de empresas de entidades colectivas


sem fins lucrativos mas de solidariedade social, nomeadamente associações
mutualistas.

APONTAMENTOS - T.Nogueira
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Titulo II
Sinais distintivos de comércio

1. A firma
Como sabemos, nos termos do art. 18.º n.º 1 CCM uma das obrigações especiais
dos comerciantes é a adopção de uma firma. Esta obrigação assume, contudo,
contornos muito diferentes consoante estejamos perante uma pessoa singular, isto
é, uma comerciante em nome individual ou perante uma pessoa colectiva, isto é,
uma sociedade comercial. No que se refere às pessoas singulares a não
constituição de uma firma significa a não obtenção de uma nome comercial, sem
contudo, ser aplicado qualquer sanção ao comerciante. No caso das sociedades
comerciais, a sua constituição implica necessariamente a obtenção do certificado
de admissibilidade da firma, o que significa que a constituição de uma firma no
caso de pessoas colectivas é requisito constitutivo para sua formação.

1.2 Noção
A firma pode ser definida como o nome comercial de um comerciante, servindo
para identificar a sua actividade comercial. A firma tem ainda como função
identificar todas as pessoas colectivas, ainda que não pratiquem actos de
comércio. Qualquer pessoa colectiva tem de possuir uma firma, mesmo que não
seja comerciante, embora a firma se destine por excelência a caracterizar
comerciantes.
1.3 Formas de constituição de uma firma
O mecanismo de constituição de uma firma está regulado pelo Registo Nacional
de Pessoas Colectivas, que estabelece nos artigos 36.º a 38.º as formas pelas quais
podem ser constituídas firmas.
A análise deste artigo permite concluir, que existem três formas pelas quais
podem ser denominadas as firmas das pessoas colectivas:
1. Nome dos sócios que a compõem;
2. Denominação fantasia, mediante expressão alusiva à actividade desenvolvida;
3. Denominação mista, onde conste o nome dos sócios e expressão alusiva à
actividade desenvolvida;
APONTAMENTOS - T.Nogueira
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Direito da actividade comercial

A firma do comerciante individual por sua vez, nos termos do art. 38.º RNPC
apenas pode ser constituído “O comerciante individual deve optar uma só firma,
composta pelo seu nome, completo ou abreviado, conforme seja necessário para
identificação da pessoa, podendo aditar-lhe alcunha ou expressão alusiva à
actividade””
1. Pelo nome civil do comerciante ou alcunha que é conhecido;
2. Denominação mista, onde conste o nome individual do comerciante e uma
expressão alusiva à actividade desenvolvida;

2. Nome do estabelecimento:
É o sinal nominativo que designa ou individualiza um estabelecimento, visando
essencialmente distingui-lo dos demais.
3. Insígnia do estabelecimento
É o sinal figurativo ou emblemático individualizador de um estabelecimento,
visando essencialmente distingui-lo dos demais.

4. Princípios jurídicos
1. Princípio da verdade: de acordo com este princípio a designação da
firma não pode induzir o público nem quem contrata com o comerciante, em erro,
a firma deve por isso, identificar o comerciante de modo claro e verdadeiro. O
nome de uma firma, pode não dar por si qualquer indicação quando à natureza ou
actividade exercida pela mesma, como sucede no caso das denominações fantasia.
Contudo, quando o nome da firma conter tais informações elas devem ser
fidedignas. No que concerne às sociedades comerciais, quando a sua designação,
conter o nome dos sócios, deverá, na eventualidade de um deles sair, ser alterada.
O sócio que sair poderá sempre autorizar que a sociedade continue a usar o seu
nome, mas neste caso, para não haver violação do principio da verdade, será
responsabilizado pelos prejuízos que causar a terceiro, pelo que continua a
responder com seu património apesar de formalmente não fazer parte da sociedade
2. Principio da novidade: a constituição de uma firma tem de ser
novidade nos sentido desta ser distinguível das demais anteriormente já registadas.
A firma nova é aquela que atendendo às duas características gráficas e fonéticas,
APONTAMENTOS - T.Nogueira
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Direito da actividade comercial

se vai integrar no mercado distinguindo-se das restantes ainda que próximas


quanto à actividade exercida. De acordo com o art. 33.º RNCP o princípio da
novidade possui dois corolários diferenciados consoante estejamos no âmbito de
comerciantes em nome individual e sociedades comerciais. “ As firmas e
denominações devem ser distintas e não susceptíveis de confusão ou erro com as
registadas ou licenciadas no mesmo âmbito de exclusividade, mesmo quando a lei
permita a inclusão de elementos utilizados por outras já registradas, ou com
designações de instituições notoriamente conhecidas”
I. No caso de comerciantes em nome individual, a sua
protecção apenas se verifica se o comerciante aditar ao seu nome civil uma
designação alusiva à actividade por ele desempenhada, art. 38.º RNPC. Em regra a
protecção conferida a este tipo de firmas cinte-se a determinada circunscrição
territorial, não obstante, o comerciante em nome individual poderá requerer
protecção em todo território nacional, mediante pedido dirigido ao director geral
dos serviços e registos, desde que a actividade exercida se estenda para lá da
circunscrição onde o comerciante se encontra registado, art. 38.º 4 e 5 RNPC “ Os
comerciantes individuais que não usem como firma apenas o seu nome completo
ou abreviado têm direito ao uso exclusivo da sua firma desde a data do registo
definitivo na conservatória competente e no âmbito da competência territorial
desta” Os comerciantes individuais que exerçam actividades para além da
circunscrição referida no número anterior e aditem ao seu nome expressões
distintivas alusiva ao objecto do seu comércio podem ter direito ao uso exclusivo
da firma em todo território nacional, se pelo Director Geral dos Registos e do
Notariado lhes for deferida a correspondente solicitação”
II. No caso de sociedades comercias, a protecção conferida
estende-se independentemente da designação, a todo o território nacional, art. 37.º
n.º 2 RNPC. “ As sociedades comerciais e as sociedades civis sob forma
comercial têm o direito ao uso exclusivo da sua firma em todo território
nacional”.
O princípio da novidade aplica-se a comerciantes que exerçam entre si actividades
comerciais de qualquer tipo, e não apenas no que concerne a actividades
concorrentes.
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Direito da actividade comercial

3. Princípio da capacidade distintiva: um comerciante para ser aceite


como firma nos termos do RNPC tem de contar com um conjunto de elementos
distintivos que lhe permitam distinguir a nova firma das restantes, não se trata
aqui de sinais distintivos relacionados com o princípio da novidade, mas antes
sinais individualizadores. Uma firma deve ser identificada por um nome que a
possa individualizar e diferenciar das restantes, não pode ser identificada com
recurso a sinais fracos, isto é, sinais que pelas suas características vagas ou
facilmente apropriáveis por todos se confundem. Não pode ser sinal distintivo de
uma firma a designação genérica de “padaria” “discoteca” sem mais aditivos, nem
a designação de exclusiva de nomes usuais no âmbito do comércio, como “grande
hotel” “café super”
4. Princípio da unidade: de acordo com este princípio um comerciante
em nome individual, art. 38.º RNPC apenas pode ter uma firma, “ O comerciante
individual deve adoptar uma só firma, composta pelo seu nome, completo ou
abreviado, conforme seja necessário para identificação da pessoa, podendo
aditar-lhe alcunha ou expressão alusiva à actividade exercida”. O mesmo se
passa em relação às sociedades comercias, art. 9.º CSC. Há todavia, uma excepção
aplicada aos comerciantes em nome individual, uma vez que a estes é permitido a
constituição de nova firma para a exploração do EIRL, art. 40.º RNPC. “ A firma
de estabelecimento individual de responsabilidade limitada é composta pelo nome
do seu titular acrescido ou não de referência ao objecto do comércio nele
exercido e, pelo aditamento “estabelecimento individual de responsabilidade
limitada ou E.I.R.L.”
5. Princípio da licitude: trata-se de um princípio residual segundo o
qual a constituição da firma tem de obedecer à lei, aos bons costumes e à boa fé.
O art. 32.º n.º 4 RNPC enumera determinadas características que não podem
constar das firmas. “Das firmas e denominações não podem fazer parte: a)
expressões que possam induzir em erro quanto à caracterização jurídica da
pessoa colectiva, designadamente o uso, por entidades com fim lucrativo, de
expressões correntemente usadas da designação de organismos públicos ou se
associações sem finalidade lucrativa. b) Expressões que sugiram de forma
enganadora uma capacidade técnica, financeira ou de âmbito de actuação
APONTAMENTOS - T.Nogueira
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Direito da actividade comercial

manifestamente desproporcionado relativamente aos meios disponíveis ou que


correspondam a qualidades ou excelências em detrimento de outras. c)
expressões proibidas por lei ou ofensivas da moral ou dos bons costumes. d)
expressões incompatíveis com o respeito pela liberdade de opção politica,
religiosa ou ideológica. e) expressões que desrespeitem ou se apropriem
ilegitimamente de símbolos nacionais, personalidades épocas ou instituições cujo
nome ou significado seja de salvaguardar por razoes históricas, patrióticas,
cientificas, institucionais, culturais ou outras atendíveis”

5. Mecanismos de protecção da firma:


A tutela legal das firmas, dirige-se apenas para firmas registadas, uma vez que só
após o registo é que o titular da mesma pode possuir legitimas expectativas de ser
protegido. Existem duas formas de tutela:
1. Tutela preventiva: efectuada mediante um certificado de
admissibilidade de registo das firmas por parte do registo nacional de pessoas
colectivas. Tal certificado apenas será emitido no caso da sua constituição
respeitar os princípios de constituição das firmas. Em regra o comerciante refere
três nomes que prefere por ordem hierárquica, o registo escolhe de acordo com a
preferência do comerciante. No caso das pessoas colectivas o certificado de
registo é requisito constitutivo, art. 54.º e 55.º RNPC, a ausência de certificado
implica a não existência de pessoa colectiva. Por sua vez, a emissão do certificado
a uma pessoa colectiva confere a presunção de exclusividade da firma registada
nos termos do art. 35.º n.º 2 RNPC, podendo muito embora, tal vir a ser
contestado.
2. Tutela repressiva: traduz-se a possibilidade de requerer a
declaração de nulidade ou revogação do registo de firma anteriormente registada,
de modo a que esta perca o direito de uso executivo de determinada designação.
Existe ainda a possibilidade de pedir uma indemnização a quem use de modo
ilícito a designação de uma firma, nos termos dos artigos 35.º n.º 4, 60.º e 62.º
RNPC. “ O uso ilegal de uma firma ou denominações confere aos interessados o
direito de exigir a sua proibição, bem como a indemnização pelos danos daí

APONTAMENTOS - T.Nogueira
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emergentes, sem prejuízo da correspondente acção criminal, se a ela houver


lugar”
Excepcionalmente poderá haver tutela de firmas não registadas, de acordo com
dois institutos:
1. O comerciante em nome individual que use uma firma sem a registar,
não se encontra como vimos protegido, mas poderá excepcionalmente reagir
contra terceiros por via do instituto da concorrência desleal prevista no art. 317.º
código de propriedade industrial. De acordo com este instituto não pode um
comerciante cometer actos contrários aos usos do comércio, nomeadamente
adoptar designações semelhantes, ou factos distintivos de outras firmas, sob pena
de ser accionado contra si uma acção de responsabilidade civil nos termos gerias
do 483.º CC.
2. Existe ainda outro instituto conhecido como Membros da União de
Paris, que congrega um conjunto de membros comerciantes titulares de firmas
com sede na U.E. estes comerciantes estão protegidos em todo o espaço da união
quanto à sua designação e sinais distintivos quer nos países onde se encontram
registados quer nos países que embora o sendo, exercem actividade.

6. Alteração da firma
Consta do art. 56.º RNPC que a alteração da designação de uma firma deverá ter
lugar sempre que tal se mostre imperativo para dar cumprimento ao princípio da
verdade, o que acontece por exemplo, no caso de saída de um sócio da sociedade
comercial ou no caso do comerciante em nome individual alterar o seu nome civil.

7. Transmissão da firma
O art. 44.º RNPC como sabemos, em cumprimento do princípio da verdade, não
existe uma verdadeira transmissão da firma, quando muito pode verificar-se um
aditamento ao nome de uma firma, fazendo referencia à anterior. 1. O adquirente,
por qualquer título entre vivos, de um estabelecimento comercial pode aditar à
sua própria firma a menção de haver sucedido na firma do anterior titular do
estabelecimento, se esse titular o autorizar, por escrito” 2. Tratando-se de firma
APONTAMENTOS - T.Nogueira
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de sociedade onde figure o nome de sócio, a autorização deste é também


indispensável. 3 No caso de aquisição, por herança ou legado, de um
estabelecimento comercial, o adquirente pode aditar à sua própria firma do
anterior titular do estabelecimento, com a menção de nele haver sucedido. 4. É
proibida a aquisição de uma firma sem a do consentimento a que se achar
ligada”.

8. Vicissitudes das firmas


A perda do direito ao uso de firma e denominações, consta do art. 60.º RNPC, “
cabe ao RNPC declarar a perda do direito ao uso de firmas ou denominações
quando se verificar terem sido violados os princípios consagrados no art. 32.º e
33.º ou ainda nas condições previstas no artigo seguinte.” 2 A declaração pelo
RNPC da perda do direito ao uso de firma ou denominação implica o
cancelamento dos correspondentes registos em todos os serviços em que se
encontram lavrados”

Qualquer interessado pode requerer ao RNPC a declaração de perda do direito ao


uso de firma ou denominação de terceiro, mediante prova de determinadas
situações, previstas no art. 61.º RNPC:
1. Falta de inscrição da firma ou denominações no FCPC pelo seu titular,
directamente ou por intermédio da conservatória competente, consoante os casos,
decorrido um ano sobre o prazo em que o deveria ter feito. Neste caso, o RNPC
pode declarar a perda do direito ao uso da firma ou denominação e promover o
cancelamento dos correspondentes registos, desde que os interessados tenham
sido notificados, para a sede declarada ao RNPC a fim de regularizarem a situação
e o não fizerem no prazo de três meses, a contar da notificação.
2. Não exercício pelo titular de actividade pelo titular da firma ou
denominação durante um período superior a 10 anos.

De acordo com o art. 62.º RNPC “ o uso ilegal de uma firma ou denominação
confere aos interessados o direito de exigir a sua proibição, bem como a

APONTAMENTOS - T.Nogueira
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indemnização pelos danos dai emergentes, sem prejuízo da correspondente acção


criminal, se a ela houver lugar”.

Secção II
A propriedade industrial
O Código de Propriedade Industrial divide-se em duas partes:
1. Parte geral – Comum a todos os sinais distintivos do comércio;
2. Parte Especial – Composto por normas reguladoras para cada sinal distintivo
do comércio.
Artº 4 e 257 do Código da Propriedade Industrial – Estes dois artigos admitem
explicitamente o direito de propriedade de coisas incorpóreas, ou seja, de sinais
distintivos do comércio. Assim sendo, vamos recorrer ao regime do direito de
propriedade geral – Artº 1302 e 1303 CC, para os sinais distintivos do comércio.

O direito de propriedade industrial é um direito real. Há um direito de gozo.


No entanto, é um direito de propriedade temporário – Artº 242 CPI – a duração
deste direito é de 10 anos, renováveis. Este direito, no entanto, pode caducar, se,
p. ex. não forem pagas as taxas ou se não se usar o direito durante cinco anos –
Artº 36 e 245.

É uma propriedade funcionalizável, tem uma determinada função. Se são sinais


distintivos, são para deles se fazer uso. Raramente se podem produzir alterações
no direito de propriedade industrial. Não temos o poder de modificação dos sinais
distintivos do comércio – Artº 241. Por exemplo, não se pode mudar o nome,
pode-se alterar ou mudar o tipo de reclame, tipo de letra, cor, mas não o nome.

Registo– É o registo que nos dá o direito oponível a utilizar os sinais distintivos


do comércio – Artº 232.

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Direito da actividade comercial

O nome e a insígnia
1. Noção
O nome e a insígnia são coisas diferentes apesar de se encontrarem associados.
Diferentemente do que se passa com a constituição das firmas, em que a sua
constituição é obrigatória, a constituição de nome e de insígnia é facultativa.
Contudo, normalmente é usual a adopção de um nome, até porque grande parte do
aviamento do estabelecimento está dependente da sua capacidade para se
distinguir dos restantes estabelecimentos concorrentes, sendo que essa distinção
passa em grande parte pelo nome do estabelecimento.
O nome pode ser entendido como o sinal nominativo constituído por palavras,
que designa ou individualiza um estabelecimento enquanto a insígnia diz respeito
a um sinal figurativo ou emblemático, constituído por, desenhos, símbolos, sinais
figurativos que identificam o estabelecimento, assim consta do art. 284.º do
código de propriedade industrial, (CPI). “ Considera-se insígnia de
estabelecimento qualquer sinal externo composto de figuras desenhos, simples
combinações com os nomes ou denominações referidos no artigo anterior, ou com
outras palavras ou divisas desde que o conjunto seja adequado a distinguir o
estabelecimento”.
Quer o nome quer a insígnia estão regulados nos artigos 282.º ss CPI. “ Todos os
que tiverem legítimo interesse, designadamente agricultores, criadores,
industriais, comerciantes e demais empresários, domiciliados ou estabelecidos em
qualquer lugar do território português, têm o direito de adoptar um nome e uma
insígnia para designar, ou tornar conhecido, o seu estabelecimento, nos termos
das disposições seguintes.”
Tal como sucedeu com a firma, relativamente ao nome e insígnia vamos estudar
os princípios que norteiam a sua constituição, bem como a sua garantia. Quanto
aos princípios que se devem observar na constituição do nome insígnia, eles são
os mesmos operados na constituição das firmas, embora devam ser interpretados
em moldes diferenciados precisamente porque agora estamos num âmbito de
protecção diferente.

APONTAMENTOS - T.Nogueira
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Direito da actividade comercial

2. A constituição do nome e insígnia


de acordo com os artigos 283.º e 284.º CPI, a constituição do nome e insígnia
obedece ao princípio da liberdade, qualquer nome, expressão, desenho, símbolo é
válido, não tendo o nome de ter qualquer relação com o estabelecimento ou com a
actividade prestada. art. 283.º “ Podem constituir nome de estabelecimento: As
denominações de fantasia ou específicas; Os nomes históricos, excepto se o do
seu emprego resultar ofensa da consideração que, geralmente, lhes é atribuída; O
nome da propriedade ou do local do estabelecimento, quando este seja
admissível, ou acompanhado de um elemento distintivo; O nome, os elementos
distintivos da firma ou denominação social e o pseudónimo, ou alcunha, do
proprietário; O ramo de actividade do estabelecimento, quando acompanhado
por elementos distintivos.”
A constituição da insígnia, obedece a este princípio, pelo que pode ser adoptado
qualquer insígnia desde que “ o conjunto seja adequado a distinguir o
estabelecimento”, art. 284.º n.º 1 CPI.

3. Princípios jurídicos
1. Princípio da verdade: este princípio não pode ser entendido nos
mesmos moldes em que é visto para a firma, aqui o nome ou insígnia obedecendo
ao princípio da liberdade, pode não revelar qualquer indicação sobre a natureza da
actividade podem ser fantasia, estes podem não ter qualquer tipo de relação com a
actividade desenvolvida pelo estabelecimento. Deste modo, o princípio da verdade
deve ser encarado segundo uma perspectiva em que o nome e a insígnia não
podem conter afirmações ou símbolos que não sejam verdade, por exemplo o
nome do estabelecimento conter o nome civil do seu titular e este ser mal
identificado. O principio da verdade encontra consagração legal, das alíneas a a e
do art. 285.º CPI: “ Não podem fazer parte do nome ou insígnia de
estabelecimento: O nome individual, que não pertença ao requerente, salvo se
provar o consentimento ou legitimidade do seu uso; a frima ou a denominação
social que não pertença ao requerente, ou apenas parte característica das
mesmas, se for susceptível de induzir o consumidor em erro ou confusão, salvo se
se provar o consentimento ou a legitimidade do seu uso; As expressões “antigo
APONTAMENTOS - T.Nogueira
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armazém, antiga casa, antiga fábrica,” e outras semelhantes, referidas a


estabelecimentos cujo o nome ou insígnia sejam registados a favor de outrem, a
não ser que se prove o consentimento do respectivo proprietário; As expressões
“antigo empregado, antigo mestre, antigo gerente “ e outras semelhantes,
referidas a outra pessoa singular ou colectiva, salvo se se provar o consentimento
desta; as indicações de parentesco e as expressões de “herdeiro, sucessor,
representante, ou agente” e outras semelhantes, excepto se se provar a
legitimidade do seu uso”
2. Princípio da novidade: a constituição de um nome e insígnia, para
cumprirem a sua função individualizadora, têm de ser novidade nos sentido destes
serem distinguíveis dos demais nomes e insígnias anteriormente já registadas. Ao
exigir-se que a constituição de um nome e de uma insígnia obedeça a este
princípio estão a salvaguardar-se, simultaneamente os interesses dos
comerciantes, mas também interesses públicos, de protecção dos bons costumes.
O princípio da novidade vêm expresso no art. 285.º CPI: “ Não podem fazer parte
do nome ou insígnia de estabelecimento: O nome individual, que não pertença ao
requerente, salvo se provar o consentimento ou legitimidade do seu uso; a frima
ou a denominação social que não pertença ao requerente, ou apenas parte
característica das mesmas, se for susceptível de induzir o consumidor em erro ou
confusão, salvo se se provar o consentimento ou a legitimidade do seu uso; As
expressões “antigo armazém, antiga casa, antiga fábrica,” e outras semelhantes,
referidas a estabelecimentos cujo o nome ou insígnia sejam registados a favor de
outrem, a não ser que se prove o consentimento do respectivo proprietário; As
expressões “antigo empregado, antigo mestre, antigo gerente “ e outras
semelhantes, referidas a outra pessoa singular ou colectiva, salvo se se provar o
consentimento desta; as indicações de parentesco e as expressões de “herdeiro,
sucessor, representante, ou agente” e outras semelhantes, excepto se se provar a
legitimidade do seu uso” para sabermos se um nome ou insígnia, é ou não
confundível com outros já existentes, temos de atender à sua fonética, grafia, ao
ramo de actividade em que se encontra, à localização geográfica, dimensão, etc.
No âmbito das firmas, a sua designação abrangia firma concorrentes e não
concorrentes, pelo que o nome não poderia em caso algum ser usado, assim
APONTAMENTOS - T.Nogueira
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Direito da actividade comercial

sucede porque uma firma apode exercer várias actividades. Relativamente ao


nome e à insígnia de um estabelecimento ou empresa, apesar deles se distinguirem
uns dos outros com base sobretudo no nome, não lhes é atribuída personalidade
jurídica, assim, este princípio quanto as empresas vale apenas para
estabelecimentos concorrentes. Assim podemos afirmar o princípio da
especialidade, uma vez que a novidade é apenas exigida para estabelecimentos
com objecto idêntico ou afim. Esta orientação retira-se literalmente do art. 285.º
al. g CPI: “Não podem fazer parte do nome ou insígnia de estabelecimento: Os
elementos constitutivos da marca, ou desenho ou modelo, protegidos por outrem
para produtos idênticos ou afins aos que se fabricam ou vendem no
estabelecimento a que se pretende dar o nome ou a insígnia, ou para serviços
idênticos ou afins aos que nele são prestados.” Assim, não podem fazer parte do
nome de um estabelecimento, nomes confundíveis com marcas e produtos afins
produzidos por outro estabelecimento. Assim, poderá existir uma marca de
sapatos progresso, porque actualmente o estabelecimento que existe com este
nome é um café, não há perigo de confusão. Contudo, já não poderá haver um bar
com o mesmo nome, porque induziria o cliente em erro.
3. Princípio da capacidade distintiva: De acordo com este princípio, o
estabelecimento protegido pelo nome e sinal distintivo, tem de se diferenciar dos
restantes estabelecimentos, com base em sinais distintivos integrantes do nome e
da insígnia, sendo que tal diferenciação ano se pode fazer mediante recurso a
sinais fracos e francos, isto é, sinais que pela sua generalidade não são
individualizares e sinais que pela sua apropriação genérica são podem ser usado.
Assim, estes sinais não podem ser constituídos por nomes ou figuras especificas
como “discoteca” “padaria”
4. Princípio da unidade: De acordo com o princípio da unidade,
estabelecido no art. 282.º CPI “Todos os que tiverem legítimo interesse,
designadamente agricultores, criadores, industriais, comerciantes e demais
empresários, domiciliados ou estabelecidos em qualquer lugar do território
português, têm o direito de adoptar um nome e uma insígnia para designar, ou
tornar conhecido, o seu estabelecimento, nos termos das disposições seguintes”
casa estabelecimento deve possuir apenas um nome e uma insígnia, o que poderá
APONTAMENTOS - T.Nogueira
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levantar alguns problemas no que concerne à designação das sucursais e secções.


Estas entidades não possuem autonomia jurídica, mas apenas de facto, pelo que o
critério que devemos usar deve atender ao seu grau de autonomia, assim se a
sucursal se torna uma empresa separada apenas vinculada à empresa mãe em
termos formais, deve ser registada de modo autónomo. Sendo que no que se refere
à transmissão do nome e da insígnia, temos de atender às geras gerais, assim, se a
sucursal for autonomizada poderá ficar com o nome de origem se empresa mãe
adoptar outro nome ou então se tal ano se verificar, deverá a sucursal ser registada
com outro nome.
5. Princípio da licitude: Trata-se de um princípio residual segundo o
qual o nome e insígnia de estabelecimento têm de obedecer à lei, aos bons
costumes e à boa fé. art. 285.º al. f CPI ex vie, art. 239.º CPI.

4. Protecção do nome e da insígnia de um estabelecimento:


A protecção legal de nome e insígnias cinge-se essencialmente aos nomes e
insígnias registadas. Assim, apesar do registo não ser constitutivo de direitos e ter
eficácia meramente declarativa, pelo que se traduz num ónus jurídico, ou seja, na
verificação de uma vantagem para o onerado, o registo tem efeitos importantes no
que concerne à protecção de nomes e insígnias, art. 295.º CPI. A protecção é
desencadeada em regra, quando se assiste à violação do princípio da novidade,
sendo que esta protecção se poderá verificar de quatro modos:
1. Tutela preventiva: o titular de um estabelecimento que tome conhecimento do
pedido de registo de um nome e insígnia semelhante ou confundível com o seu
pode apresentar a oposição do pedido, por isso, é que todos os pedidos são
registados no Boletim da Propriedade Industrial, art. 290.º CPI: “ Da
apresentação do pedido é publicado aviso no Boletim da Propriedade Industrial,
para efeito de reclamação de quem se julgar prejudicado pela eventual concessão
de registo” A reclamação é feita segundo os trâmites previstos no art. 17.º ss CPI:
2. Tutela repressiva: no caso do registo ser concedido, qualquer comerciante que
tenha conhecimento, sobretudo o titular do estabelecimento ofendido, da
existência de um registo de nome e insígnia confundível com um já existente
pode, requerer a proibição do uso nos termos gerais.
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Direito da actividade comercial

3. Poderá ainda haver lugar à declaração de nulidade ou anulação do registo do


nome e da insígnia, nos termos do art. 298.º e 299.º CPI. Paralelamente poderá
ainda haver lugar a responsabilidade civil nos termos gerais no caso de haver
danos resultantes do uso indevido do nome ou insígnia confundível.
Nota: no artigo 298.º CPI existe uma gralha, assim onde se lê art. 283.º a 285.º
deve corrigir-se 283.º a 284.º CPI.
4. O art. 333.º CPI, estabelece ainda a possibilidade de aplicação de coima, “ É
punido com coima de € 3000 a € 30000, caso se trate de pessoa colectiva e de €
750 a € 7500, caso se trate de pessoa singular, quem, sem consentimento do
titular do direito, usar no seu estabelecimento, em anúncios, correspondência
produtos ou serviços ou por qualquer outra forma, nome ou insígnia que
constitua reprodução, ou que seja imitação de nome ou de insígnia já registada
por outrem “
5. Poderá ainda o lesado ser indemnizado nos termos gerais, art. 483º CC.
 Excepcionalmente poderá haver tutela de nomes e de insígnias não registadas,
de acordo com dois institutos:
4.1 A concorrência desleal
1.O comerciante que use um nome ou insígnia sem registar, não se encontra como
vimos protegido, mas poderá excepcionalmente reagir contra terceiros por via do
instituto da concorrência desleal prevista no art. 317.º código de propriedade
industrial, e art. 24.º n.º 1 al. d CPI. De acordo com este instituto não pode um
comerciante cometer actos contrários aos usos do comércio, nomeadamente
adoptar designações semelhantes, ou factos distintivos de outras firmas, sob pena
de ser accionado contra si uma acção de responsabilidade civil nos termos gerias
do 483.º CC.
A concorrência desleal é definida como “todo o acto de concorrência contrário às
normas e usos honestos de qualquer ramo de actividade económica”
2. Existe ainda outro instituto conhecido como Membros da União de Paris, que
congrega um conjunto de membros comerciantes titulares de firmas com sede na
U.E. estes comerciantes estão protegidos em todo o espaço da união quanto à sua
designação e sinais distintivos quer nos países onde se encontram registados quer
nos países que embora o sendo, exercem actividade.
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Direito da actividade comercial

5. Transmissão do nome e da insígnia:


A transmissão do nome e da insígnia de um estabelecimento apenas se faz em
conjunto com o trespasse do estabelecimento, nunca se podem transferir se o
estabelecimento em si também não for, sob pena de violação do princípio da
verdade, art. 31.º n.º 3 CPI: “ os direitos emergentes do pedido de registo ou do
registo de nomes ou insígnias de estabelecimento só podem transmitir-se, a título
gratuito ou oneroso, com o estabelecimento, ou parte do estabelecimento, a que
estão ligados”.
Em regra a transmissão do nome e insígnia faz parte do âmbito natural, pelo que
não será necessário cláusula expressa para a sua transmissão, art. 31.º n.º 4 CPI “
sem prejuízo do disposto no número seguinte, a transmissão do estabelecimento
envolve os respectivos nome e insígnia, que podem continuar tal coo estão
registados, salvo se o transmitente os reservar para outro estabelecimento,
presente ou futuro”.
Existem contudo, certos casos em que, a transmissão do nome e da insígnia estão
sujeitos ao âmbito convencional, sendo necessário, cláusula expressa para sua
transmissão, art. 31.º n.º 5 CPI “ Se no nome ou insígnia de estabelecimento ou na
marca figurar o nome individual, a firma ou a denominação social do titular ou
requerente do respectivo registo, ou de quem ele represente, é necessária cláusula
para a sua transmissão.”
A transmissão do nome ou insígnia está sujeita a averbamento no instituto
nacional da propriedade industrial, nos termos do art. 30º CPI, alias como
estabelece o n.º 2 desse artigo a transmissão apenas produz efeitos “ em relação
a terceiros depois da data do respectivo averbamento”
6. Extinção dos direitos emergentes do uso do nome e insígnia:
Os direitos emergentes do nome e da insígnia podem ser extinguidos por três
mecanismos:
1. Nulidade, art. 298.º e 33.º CPI, o regime da nulidade é aquele dos
termos gerais, assim, a nulidade é invocável a todo tempo por qualquer
interessado, art. 33.º n.º 2 CPI. Os seus efeitos não se produzem ipso iure, antes
têm de ser declarados judicialmente, art. 35.º n.º 1 CPI. Os casos gerais de

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nulidade constam do art. 33.º CPI, embora o art. A ausência dos requisitos
previstos no art. 284.º CPI geram também a nulidade.
2. Anulação, art. 34.º e 299.º CPI: os casos de anulação do uso de nome
ou insígnia podem reconduzir-se a três casos, sendo que o direito de anulação, tem
de ser proposto em acção para o efeito, nos 10 anos subsequentes à “data do
despacho de concessão do registo,” art. 299.º n.º 2 CPI:
I. Casos do art. 34.º CPI relativos a pedidos efectuados por
quem não tenha legitimidade para tal;
II. Casos do art. 285.º CPI onde constam fundamentos do
direitos recusa de registo de nome ou insígnia;
III. Casos em que se assista a situações de concorrência desleal,
mesmo que esta seja efectuada de modo não intencional.
3. Caducidade: art. 37.º e 300.º CPI. Nestes artigos estão previstas
diferentes situações em que se assiste à caducidade do direito de uso de nome e
insígnia:
I. Caducidade resultante do decurso do tempo, art. 37.º al. a
CPI, pelo que o direito de uso de nome e insígnia, caduca nos 10 anos seguintes
ao registo, embora se admita a sua renovação, art. 293.º CPI “ A duração de
registo é de 10 anos, contados da data da respectiva concessão, podendo ser
indefinidamente renovado por iguais períodos”
II. Caducidade resultante do não pagamento de taxas, art. 37.º
al. b CPI. A previsão das taxas consta do art. 346.º ss CPI.
III. Caducidade em caso de encerramento ou liquidação do
estabelecimento, art. 300.º al. a CPI.
IV. Aquando do registo, o comerciante propõe como nome da
estabelecimento, três designações, sendo escolhendo apenas uma, nas restantes
caducam.
Garantias quando o nome e insígnia se encontram registados:

- O registo tem eficácia constitutiva;


- Quem tem o registo efectuado pode pedir a anulabilidade do
registo posterior;
APONTAMENTOS - T.Nogueira
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- Obtém a condenação de um terceiro, por uso ilegítimo do seu


nome ou insígnia;
- Pode-se apresentar reclamação sobre pedido de um registo novo
– Artº 235 e 236;
- Podemos participar crimes e contra-ordenações;
- Direito a indemnização por perdas e danos sofridos, nos termos
do 483 CC e 257 CPI;
- Possibilidade de se requerer vistorias – Artº 20;
- Possibilidade de interpor Providências Cautelares.

Secção III
A marca
1. Noção
A marca é um sinal distintivo susceptível de representação gráfica, destinada
sobretudo a distinguir certos produtos de outros produtos idênticos ou afins. Os
princípios orientadores na constituição da marca estão em consonância com o que
se disse em relação à constituição da firma, nome e insígnia, e vêm regulados nos
art. 222.º ss CPI.

1.1 Constituição de uma marca


A constituição das marcas é muito mais aleatória do que a constituição das firmas,
assim, uma marca pode ser constituída por um sinal nominativo, por sinais
auditivos, por desenhos, símbolos, combinação de sons, de palavras, desenhos etc.
As marcas identificam produtos, quer eles sejam produzidos por empresas ou não,
assim sucede porque apensar da grande parte das produtos serem produzidos em
empresas, pode um produto ser produzido por um não empresário, como sucede
com os cientistas, investigadores, e pessoas famosas que registam o seu nome.

2. Espécies de marcas
As marcas podem ser de diferentes espécies atendendo a diversos critérios:

APONTAMENTOS - T.Nogueira
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2.1 natureza das actividades a que se ligam


Mmarcas de indústria, de comércio, de agricultura, de serviços, etc. art. 225.º al. a,
b, c, e.
2.2 Atendendo aos possíveis titulares das marcas
Podem ser individuais ou colectivas, sendo que estas últimas não têm
necessariamente que ser exploradas por uma multiplicidade de pessoas, basta que
seja usada por uma entidade mas que defende interesses de múltiplos sujeitos,
como acontece com a marca por exemplo de uma carne de raça. As marcas
colectivas, constam do art. 228.º CPI “ Entende-se por marca colectiva uma
marca de associação ou uma marca de certificação. 2. Podem constituir marca
colectiva os sinais ou indicações utilizados no comércio para designar a origem
geográfica dos produtos ou serviços”
A este propósito cumpre diferenciar:
Marcas de associação, art. 229.º CPI “ uma marca de associação é um sinal
determinado pertencente a uma associação de pessoa singulares ou colectivas,
cujo membros o usam, ou têm intenção de usar, para produtos e serviços
relacionados com o objecto da associação” assim sucede com a marca de carne
arouquesa.
Marcas de certificação, art. 230.º CPI “ Uma marca de certificação é um sinal
determinado pertencente a uma pessoa colectiva que controla os produtos ou os
serviços ou estabelece normas a que estes devem obedecer”

2.3 As marcas podem ainda ser notórias ou marcas de prestígio:


São marcas notórias, aquelas que embora não sendo registadas no nosso pais,
são conhecidas em Portugal, pelo que conforme estabelece o art. 241.º CPI
Esta norma tem assim como objectivo, salvaguardar o interesse público e
acautelar a possibilidade de confusão, evitando que um empresário português se
aproveite de uma marca estrangeira, e a adopte nos seus produtos idênticos ou
semelhantes, sendo que não sendo a marca registada em Portugal não poderia o
registo ser recusado se esta norma não existisse.
Exige-se assim a identidade de produtos bem como a notoriedade da marca em
causa.
APONTAMENTOS - T.Nogueira
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Marcas de prestígio: são macas que embora não sendo registadas no nosso pais,
são aqui conhecidas, a diferença em relação às marcas notórias relaciona-se com o
âmbito de protecção quanto à espécie de produtos, uma vez que já não se exige a
possibilidade de confusão de produtos derivados da sua afinidade, não é
necessário que exista identidade de produtos, passando-se assim sobre o requisito
da possibilidade de confusão. “ Sem prejuízo do disposto no artigo anterior, o
pedido de registo será igualmente recusado se a marca, ainda que destinada a
produtos ou serviços sem identidade ou afinidade, constituir tradução, ou for
igual ou semelhante, a uma marca anterior que goze de prestígio em Portugal ou
na Comunidade Europeia, se for comunitária, e sempre que o uso da marca
posterior procure tirar partido indevido do carácter distintivo ou do prestígio da
marca, ou possa prejudica-las”
Não se exige aqui a identidade de produtos, mas apenas o risco de associação com
uma marca do mercado português dotada de grande prestígio relativamente aos
seus produtos, aqui protege-se sobretudo a tentativa de usurpação da marca por
associação.
3. Função das marcas
Durante muito tempo a principal função das marcas limitou-se a ser distintiva, a
distinguindo sobretudo produtos afins e a indicar a origem do produto.
Actualmente a marca não é só vista do ponto de vista de finalidade distintiva de
produtos afins, mas também como uma finalidade informativa, pelo que a marca
nos dá a conhecer diferentes características do produto em causa, como a origem.
Paralelamente, a marca tem ainda como função satisfazer interesses do seu
comercializador, uma vez que é um excelente meio de publicidade.

A marca pode ser constituída de modo quase ilimitado, mas terá sempre
subjacentes questões relacionadas com marketing e com a obtenção da maior
clientela possível. Assim, a marca protege sobretudo o seu titular.
Por último a marca tem ainda como função, garantia de qualidade do produto.
Em suma a marca tem como funções: distintiva; publicitária, indicação de origem,
protecção do comercializador; garantia de qualidade.

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4. princípios jurídicos
1. Princípio da verdade: o princípio da verdade no que concerne à
constituição das marcas tem de ser entendido com uma certa maleabilidade, até
porque a designação da marca, quase nunca corresponde à designação do produto,
apenas em casos gritantes é que este princípio poderá ser violado.
2. Princípio da novidade: uma marca que é registada tem de ser nova, ou
seja, tem de conferir ao seu titular o seu direito de uso exclusivo. A protecção das
marcas é efectuada em relação às restantes que digam respeito a produtos afins ou
idênticos, assim se houver a possibilidade de confusão ou associação de marcas,
devemos atender ao produto que ela identifica, sendo que se for um produto
semelhante ou afim o registo da marca deve ser recusado, vigora aqui também o
princípio da especialidade: art. 238.º al. m CPI “ É ainda recusado o registo de
marcas que contendam em todo ou alguns dos seus elementos: reprodução ou
imitação, no todo ou em parte, de marca anteriormente registada para produtos
ou serviços idênticos ou afins que possa induzir em erro ou confusão o
consumidor ou que compreenda o risco de associação coma marca registada” a
redacção do artigo é clara, apenas é deixado ao intérprete a análise do que são
produtos afins, é importante esclarecer o que isto seja, sendo que se entende como
produtos afins aqueles que embora sendo diferentes são substitutos entre si. A este
propósito devemos atender ao disposto no art. 245.º CPI que estabelece o que
constitui a imitação ou usurpação da marca. O artigo estabelece requisitos
cumulativos: “ A marca registada considera-se imitada ou usurpada por outra, no
todo ou em parte, quando, cumulativamente: a marca registada tiver prioridade;
sejam ambas destinadas a assinalar produtos idênticos ou afins; tenham tal
semelhança gráfica, figurativa ou fonética ou outra que induza facilmente o
consumidor em erro ou confusão, ou que compreendas um risco de associação
com marca anteriormente registada, de forma que o consumidor não as possa
distinguir senão depois de um exame atento ou confronto. N.º 2 para efeitos da
alínea b do n.º 1: Os produtos que estejam inseridos na mesma classe de
classificação de Nice podem não ser considerados afins; Os produtos e serviços
que não estejam inseridos na mesma classificação de Nice podem ser
considerados afins. N.º 3 Considera-se imitação ou usurpação parcial de marca o
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uso de certa denominação de fantasia que faça parte de marca alheia


anteriormente registada.” Este artigo deixa de fora aquelas marcas que sendo
semelhantes se destinam a produtos diferentes, porque entende a lei que nestes
casos não há possibilidade de confusão. Por isso, se a marca se tentar apropriar do
prestígio da outra não obstante da diferenciação de produtos, o seu titular o gozará
da protecção conferida pelo art. 242.º CPI relativo às marcas de prestígio. Note-se
apenas que para aferir a possibilidade de confusão de produtos temos de atender
ao consumidor médio, ao produto em causa, e ao tipo de púbico a que o produto
se destina. O princípio da novidade, tem ainda aplicação importante no que se
refere à protecção de marcas que apesar de se referirem a produtos diferentes,
podem gerar a risco de associação. Assim um comerciante de DVD não poderá
dar-lhes a marca de Soni, porque haveria possibilidade de confusão com uma
marca já registada apesar de não haver identidade dos produtos. Note-se por fim
que, o princípio da novidade quanto ao registo de marcas, abrange outros sinais
distintivos, por isso, o registo de uma marca deve ser recusado se a sua designação
possuir elementos de “firma, denominação social, logótipo, nome e insígnia de
estabelecimento, ou apenas parte característica do mesmo, que não pertençam ao
requerente, ou que o mesmo não esteja autorizado a usar, se for susceptível de
induzir o consumidor em erro ou confusão” art. 239.º al. f CPI. Note-se contudo
que a lei também protege os casos em que a marca está a ser usurpada pelo nome
de uma empresa, sendo a protecção da marca feita ao abrigo do art. 285.º n.º 1 al.
g CPI “Fundamentos de recusa
1 - Não podem fazer parte do nome ou insígnia de estabelecimento: Os elementos
constitutivos da marca, ou desenho ou modelo, protegidos por outrem para
produtos idênticos ou afins aos que se fabricam ou vendem no estabelecimento a
que se pretende dar o nome ou a insígnia, ou para serviços idênticos ou afins aos
que nele são prestados;”

3. Princípio da capacidade distintiva: de acordo com este princípio a


marca de um determinado produto, deve permitir que este se distinga dos seus
concorrentes, a marca deve assim estar apta para poder identificar um produto, por
isso, a marca não pode adoptar designações com recurso a sinais fracos e francos,
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isto é, sinais que pela sua generalidade não são individualizares e sinais que pela
sua apropriação genérica são podem ser usados. art. 222.º CPI. “A marca pode ser
constituída por um sinal ou conjunto de sinais susceptíveis de representação
gráfica, nomeadamente palavras, incluindo nomes de pessoas, desenhos, letras,
números, sons, a forma do produto ou da respectiva embalagem, desde que sejam
adequados a distinguir os produtos ou serviços de uma empresa dos de outras
empresas” “ Não obedecem ao princípio da capacidade distintiva as marcas, art.
223.º CPI “ as marcas desprovidas de qualquer carácter distintivo; os sinais
constituídos exclusivamente, pela forma imposta pela própria natureza do
produto, pela forma do produto necessária à obtenção de um resultado técnico ou
pela forma que confira um valor substancial ao produto; os sinais constitutivos,
exclusivamente por indicações que possam servir no comércio para designar a
espécie, a qualidade, a quantidade, o destino, o valor, a proveniência geográfica,
a época ou meio de produção do produto ou da prestação do serviço, ou outras
características dos mesmos; as marcas constituídas exclusivamente por sinais ou
indicações que se tenham tornado usuais na linguagem corrente ou nos hábitos
leais e constantes do comércio; as cores, salvo se forem combinada entre si ou
com gráficos, dizeres ou outros elementos de forma peculiar e distintiva”. No
caso da marca violar o princípio da capacidade distintiva, o seu registo deve ser
recusado, art. 238.º n.º 1 al. a e b CPI. Assim, não são marcas os sinais
específicos, descritivos, e genéricos. Os específicos são aquele que designam um
produto, como “ovo”. Os sinais descritivos referem-se directamente a
características ou propriedade dos produtos, “lã pura”. Os signos genéricos
designam um género ou categoria de produtos “refresco” para laranjadas. Do
mesmo modo, não podem as marcas ser constituídas por sinais de uso comum.

5. A tutela legal das marcas


Dirige-se apenas para marcas registadas, uma vez que só após o registo é que o
titular da mesma pode possuir legitimas expectativas de ser protegido. O registo
da marca a “ confere ao seu titular o direito de propriedade e do exclusivo da
marca para os produtos e serviços a que esta se destina”, art. 224.º CPI. Assim, o

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seu titular tem o direito de impedir o uso e usurpação da sua marca por parte de
terceiros, nos termos estabelecidos no art. 11.º e 12.º CPI.

5.1 O princípio da prioridade cronológica


Em regra, vigora quanto ao registo das marcas o princípio da prioridade
cronológica, contudo, existem dois casos especiais em que se protegem marcas
cujo registo não foi prioritário.
1. Art. 227.º CPI “ aquele que usar marca livre ou não registada por
prazo não superior a 6 meses te, durante esse prazo, direito de prioridade para
efectuar o registo, podendo reclamar conta o que for requerido por outrem”
2. Nos casos em que o pedido de registo tenha sido apresentado por um
nacional dos Estados-membros da convenção de Membros da União de Paris, ou
membro da OMC, o pedido gozará, em Portugal de direito de prioridade durante
seis meses a partir da data do primeiro pedido, art. 12.º CPI.

A nível internacional existe um acordo denominado Convenção de Madrid, para


a protecção de marcas, que criou um mecanismo de troca de informações entre
diferentes entidades nacionais encarregadas de registo das marcas, art. 248.º CPI “
o titular de um registo de marca, de nacionalidade portuguesa ou domiciliado ou
estabelecido em Portugal, pode assegurar, nos termos do Acordo de Madrid
relativo ao Registo Nacional de Marcas, a protecção da usa marca nos Estados
que aderiram ou vierem a aderir a esse acordo.” Este acordo permite assim que a
marca goze de protecção em todo território dos estados-membros, o que facilita o
controlo da imitação.

5.2 O registo
O registo da marca confere ao seu titular o direito de propriedade sobre a mesma,
assim este pode usar a marca em todos os seus produtos, serviços, podendo
inclusive transmitir a marca, quer de modo definitivo quer mediante
licenciamento, sem a respectiva transmissão da empresa, art. 262.º CPI “ Os
registos de marcas são transmissíveis se tal não for susceptível de induzir o

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público em erro quanto à proveniência do produto ou do serviço ou aos


caracteres essenciais para a sua apreciação.”
Trespassando-se um estabelecimento, transmite-se naturalmente a marca, a ele
legadas, do mesmo modo, transferindo-se um estabelecimento a título temporário,
vale também a regra da transmissão natural.
A transmissão inter vivos das marcas quando não integrada num negócio sobre o
estabelecimento, deve fazer-se por documento escrito, art. 31.º n.º 6 CPI. Sendo
que em qualquer dos casos, a transmissão só produz efeitos em relação a terceiros
depois do respectivo averbamento no INPI, art. 30.º n.º 1 e 2 CPI:.
Note-se que os direitos conferidos pelo registo de marca no nosso pais, são
eficazes em todo território nacional, art. 4.º CPI

Exemplo
Se, por exemplo o Sr. A começa a usar certa marca sem registo, e B
posteriormente começa a usar a mesma marca e requer o respectivo registo ao
INPI, a lei protege o interesse do Sr. A, concedendo-lhe o direito de pedir e obter
para sí o registo da marca em detrimento do Sr. B, mas com uma condição: a de
que o uso de A ainda não tenha excedido a duração de seis meses e ele apresente a
sua reclamação dentro desse prazo. O uso da marca confere, portanto, um direito
de prioridade para o seu registo, embora apenas limitado no tempo.

Pode, no entanto acontecer outra situação, de marcas ainda não registadas, o INPI
pode reconhecer, que sendo uma marca usada pelo Sr. A, e aparecendo o Sr. Ba
requerer o registo, B pretende fazer concorrência desleal a A, ou que esta é
possível independentemente as sua intenção, pode recusar o registo requerido por
B.

O registo da marca confere ao seu titular um direito sobre esta pelo prazo de 10
anos, renováveis (art. 255.º CPI).

APONTAMENTOS - T.Nogueira
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6. Tutela das marcas:


O titular da marca pode igualmente reagir contra o uso ilícito ou usurpação da sua
marca por terceiros:
1. Pode o registo da marca posterior ser recusado em virtude da violação do art.
245.º CPI e 239.º al. m CPI.
2. Pode ainda o detentor do registo da marca requerer a anulação do registo,
nomeadamente por violação do princípio da novidade, nos termos do art. 266.º
CPI. Que estabelece os casos em que o registo da marca é anulável, sem prejuízo
do disposto no art. 34 do mesmo diploma.
3. Possibilidade de requerer a inibição do uso da marca nos termos do ar. 258.º
CPI mediante a acção inibitória,” O registo da marca confere ao seu titular o
direito de impedir terceiros, sem o seu consentimento, de usar, no exercício de
actividades económicas qualquer sinal igual, ou semelhante em produtos ou
serviços idênticos ou afins daqueles para os quais a marca foi registada, e que,
em consequência da semelhança entre os sinais e da afinidade dos produtos e
serviços, possa causar um risco de confusão, ou associação no espírito do
consumidor” sendo que se este uso gerar danos será ainda possível accionar o
infractor mediante responsabilidade civil nos termos do art., 483.º CC.
4. Além disso, existe ainda a possibilidade de punição por via criminal pelo uso
ilegal de marcas nos termos do art. 323.º e 234.º CPI

6.1 Tutela marcas não registadas ou marcas de facto


A protecção de marcas não registadas, isto é, das marcas de facto, pode fazer-se
por duas vias:
1. O titular de uma marca não registada, não se encontra como vimos protegido,
mas poderá excepcionalmente reagir com base no art. 24.º n.º 1 CPI contra
terceiros por via do instituto da concorrência desleal prevista no art. 317.º código
de propriedade industrial. De acordo com este instituto não pode um comerciante
cometer actos contrários aos usos do comércio, nomeadamente adoptar
designações semelhantes, ou factos distintivos de outras firmas, sob pena de ser
accionado contra si uma acção de responsabilidade civil nos termos gerias do
483.º CC.
APONTAMENTOS - T.Nogueira
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2. Poderá ainda o lesado socorrer-se do instituto conhecido como Membros da


União de Paris, que congrega um conjunto de membros comerciantes titulares de
firmas com sede na U.E. estes comerciantes estão protegidos em todo o espaço da
união quanto à sua designação e sinais distintivos quer nos países onde se
encontram registados quer nos países que embora o sendo, exercem actividade.
3. Gozam ainda de especial protecção as marcas de facto notoriamente
conhecidas, nos termos já analisados do art. 241.º CPI.

6.2 Limitações dos direitos conferidos pelo registo


Apesar do registo conferir ao seu titular o direito de propriedade sobre a marca, há
determinados aspectos que lhe são vedados, conforme o disposto no art. 260.º
CPI: Além disso, importa ainda referir o princípio do esgotamento, do art. 259.º
CPI

7. Extinção dos direitos conferidos pelas marcas, art. 265.º CPI:


1. Por nulidade: o registo na marca é nulo nos casos previstos no art.
33.º e quando a sua concessão desrespeitar o disposto nos artigos 238.ºal. a a c e
239.º al. a a e i, l CPI. A declaração pode ser requerida a todo tempo, por qualquer
interessado ou pelo MP, art. 33.º n.º 2 e 35.º CPI. Note-se contudo que a eficácia
retroactiva da nulidade contém algumas limitações, constantes do art. 36.º CPI.
2. Por anulação: a anulabilidade pode ser requerida quando a sua
concessão infringir o disposto nos art. 34.º art. 266.º al. f a h art. 239.º e 240.º a
242.º CPI. As acções podem ser propostas pelo MP ou por qualquer interessado
dentro de um prazo de 10 anos a contar da data do despacho de concessão do
registo.
3. Por caducidade: o registo da marca caduca independentemente da
invocação de causa quando tiver expirado o seu prazo de duração e por falta de
pagamento de taxas, art. 37.º a caducidade opera ainda se as respectivas causas
forem invocadas nos termos do art. 255.º, 269.º e 270.º CPI.

Nota: nos termos do art. 255.º CPI os direitos conferidos pelo registo caducam no
prazo de 10 anos, contudo, a sua renovação é admitida sem qualquer limite
APONTAMENTOS - T.Nogueira
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temporal diferentemente do que acontece com as patentes em que o prazo de


registo é limitado.

8. Transmissão das marcas


A marca pode ser total ou parcialmente transmitida com grande liberdade
independentemente da transmissão da empresa, porque ela não está ligada de
modo imperativo a esta, embora lhe esteja associada, a empresa sobrevive
perfeitamente sem a marca, pode haver a sua transmissão sem haver violação do
princípio da verdade, desde que tal transmissão não seja susceptível de induzir o
publico em erro, art. 262.º CPI “Os registos de marcas são transmissíveis se tal
não for susceptível de induzir o público em erro quanto à proveniência do
produto ou do serviço ou aos caracteres essenciais para a sua apreciação” 2.
Quando a transmissão for parcial em relação aos produtos ou serviços, deve ser
requerida cópia do processo, que servirá de base a registo autónomo, incluindo o
direito ao título. 3. Aos pedidos de registo é aplicável o disposto nos números
anteriores e, no caso de transmissão parcial, os novos pedidos conservam as
prioridades a que tinham direito” Será possível induzir o público em erro, nos
casos em que a transmissão da marca contenha o nome ou insígnia do
estabelecimento do transmitente, o mesmo se passará se os produtos embora
sendo da mesma marca sejam de qualidade inferior.
A marca, tal como os restantes elementos regulados no CPI faz parte do âmbito
natural de uma empresa, pelo que havendo transmissão desta naturalmente se
transmitem (a)s marca(s) a ela associadas, salvo convenção em contrário. Esta
solução não decorre de modo directo da lei, e apesar desta não estar muito
correcta, podemos inferir tal solução do art. 31.º n.º 1 e 4.º CPI. “Os direitos
emergentes de patentes, de modelos de utilidade, de registos de topografias de
produtos semicondutores, de desenhos ou modelos e de marcas podem ser
transmitidos, total ou parcialmente, a título gratuito ou oneroso” 4 “Sem prejuízo
do disposto no número seguinte, a transmissão do estabelecimento envolve os
respectivos nome e insígnia, que podem continuar tal como estão registados,
salvo se o transmitente os reservar para outro estabelecimento, presente ou
futuro” Como se constata o n.º 1 refere-se a patentes, marcas, desenhos ( insígnia)
APONTAMENTOS - T.Nogueira
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mas no n.º 4 a marca não consta apesar de constar todos os elementos referidos no
n.º 1. Tem-se entendido que estamos perante um lapso de escrita, pelo que se
devem ter como incluída no n.º 4 a marca.
Assim, a marca pode ser livremente transferida, estando contudo sujeita ao regime
do art. 30.º n.º 2 CPI, ou seja, para que a transmissão produza efeitos para
terceiros é necessário o seu registo, “Os factos referidos no número anterior só
produzem efeitos em relação a terceiros depois da data do respectivo
averbamento.”
A forma que deve ser observada para a transmissão da firma consta do art. 31.º n.º
6 CPI “A transmissão por acto inter vivos deve ser provada por documento
escrito, mas se o averbamento da transmissão for requerido pelo cedente, o
cessionário deve, também, assinar o documento que a comprova ou fazer
declaração de que aceita a transmissão.”

9. Licenciamento da marca
A transmissão da marca como ficou exposta implica a sua transmissão definitiva
por parte do cedente. Não obstante, a marca pode ser alvo de outro tipo de
contratos de transmissão não definitiva da mesma, trata-se de contratos que
permitem transmitir a título meramente temporário, um conjunto total ou parcial
de direitos de uso de certa marca, em todo ou em parte do território português, e
que são conhecidos como licenciamento da marca, o 32.º CPI prevê a
possibilidade de licenciamento para os sinais distintivos em geral e o art. 264.º
estabelece tal possibilidade de modo particular para as marcas. “Os direitos
referidos no n.º 1 do artigo anterior podem ser objecto de licença de exploração,
total ou parcial, a título gratuito ou oneroso, em certa zona ou em todo o
território nacional, por todo o tempo da sua duração ou por prazo inferior”
art. 264.º CPI “O titular do registo de marca pode invocar os direitos conferidos
pelo registo contra o licenciado que infrinja qualquer cláusula, ou disposição, do
contrato de licença, em especial no que respeita ao seu prazo de validade, à
identidade da marca, à natureza dos produtos ou serviços para os quais foi
concedida a licença, à delimitação da zona ou território ou à qualidade dos
produtos fabricados ou dos serviços prestados pelo licenciado.”
APONTAMENTOS - T.Nogueira
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O contrato de licenciamento deverá observar a forma escrita, art. 32.º n.º 3 CPI “O
contrato de licença está sujeito a forma escrita.”
E a licença terá de ser registada para produzir efeitos face a terceiros, art. 31.º n.º
2 CPI “Os factos referidos no número anterior só produzem efeitos em relação a
terceiros depois da data do respectivo averbamento.”
Salvo estipulação em contrário, o licenciado goza, para todos os efeitos legais, das
faculdades conferidas ao titular do direito objecto da licença, salvo as excepções
previstas no art. 32.º CPI:
5 -A licença presume-se não exclusiva.
6 - Entende-se por licença exclusiva aquela em que o titular do direito renuncia à
faculdade de conceder outras licenças para os direitos objecto de licença,
enquanto esta se mantiver em vigor.
7 - A concessão de licença de exploração exclusiva não obsta a que o titular
possa, também, explorar directamente o direito objecto de licença, salvo
estipulação em contrário.
8 - Salvo estipulação em contrário, o direito obtido por meio de licença de
exploração não pode ser alienado sem consentimento escrito do titular do direito.
9 - Se a concessão de sublicenças não estiver prevista no contrato de licença, só
pode ser feita com autorização escrita do titular do direito
Sendo o contrato de licenciamento meramente temporário, será que o cedente
poderá efectuar sobre cessionário alguma espécie de controlo? Entende-se que
sim, que poderá haver um controlo de qualidade do produto associado à marca,
para que seja mantido o grau de qualidade que os consumidores estão habituados a
associar àquela marca. Assim, se houver esta possibilidade a licença caducará, art.
269.º n.º 1 al. b CC “A marca se tornar susceptível de induzir o público em erro,
nomeadamente acerca da natureza, qualidade e origem geográfica desses
produtos ou serviços, no seguimento do uso feito pelo titular da marca, ou por
terceiro com o seu consentimento, para os produtos ou serviços para que foi
registada” Verificando-se algumas das circunstâncias aqui previstas, haverá um
incumprimento do contrato de licenciamento e eventualmente responsabilidade
civil, que poderá levar à sua resolução, por violação do princípio da verdade e da
protecção do público.
APONTAMENTOS - T.Nogueira
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Semelhante ao contrato de licença é o contrato atípico de merchandising de


marca, através do qual o titular de uma marca registada de prestígio concede a
outrem o direito de usar o signo para distinguir produtos não idênticos nem afins
dos produtos para que ela foi registada.

10. Recompensas (arts. 271.º e ss)

As recompensas são os prémios ou distinções conferidos aos industriais,


comerciantes, agricultores e outros empresários, que são seus proprietários (art.
273.º) São exemplificativamente enumeradas no art. 271º.

As recompensas só podem ser aplicadas aos produtos e serviços a respeito dos


quais foram concedidas (art. 218.º CPI).

O seu registo, além de conceder aos titulares o direito de propriedade e de uso


exclusivo, por tempo indefinido, constitui também uma garantia de veracidade da
recompensa e da autenticidade do título da sua concessão (art. 4, n.º 2) e uma
condição indispensável para que le a possa ser condicionada às marcas ou nome
ou insígnia de estabelecimento (art. 218.º CPI).

Só podem ser transmitidas em conjunto com o estabelecimento ou parte de


estabelecimento a que estão ligadas (art. 31.º CPI).

Usurpação:
 Imitação – Quando há alguns elementos comuns susceptíveis de
confundibilidade;
 Contratação ou reprodução – Alguém está a utilizar uma marca sem sequer
a ter modificado.

Como se afere uma imitação:

APONTAMENTOS - T.Nogueira
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 Critério Subjectivo – A imitação deve ser apreciada pelas semelhanças e não


pelas diferenças, de acordo com o olhar de um homem médio – Artº 193 –
Conceito de imitação;
 Critério subjectivo – Devemos averiguar as semelhanças – Artº 193-1-c)

Artº 193/2 – 1ª Parte – CRITÉRIO OBJECTIVO – Primeiro vamos aferir se os


produtos são da mesma gama (procurar os elementos comuns a marca originária e
a segunda marca. Apurar a confundibilidade ( 189/1/m)e, em função disso vamos
às questões:
 Questão de facto – Há ou não semelhanças entre as marcas;
 Questão de direito – Saber se há imitação em função das semelhanças e
diferenças.

Garantias do registo de marcas


Artº. 189/1/M
Artº 32/1/A – 34 e 186
Artº 264 e 2654
Artº 211 – Transmissão da marca
Artº 274
Ver artº 829 /A CC - Sanão pecuniária compulsória

MARCA DE FACTO – marca não registada . Esta , marca não obtém a


tutela que lhe dá o direito da marca registada 170 e 189

APONTAMENTOS - T.Nogueira
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Direito da actividade comercial

Titulo III
Títulos de crédito

1. Conceito de crédito
CRÉDITO – Troca de prestação presente por prestação futura. Este deferimento
das prestações pode resultar de:
 Convenção das partes ou;
 O crédito pode fazer parte da própria estrutura do negócio jurídico. Exemplo:
um crédito.

Títulos de crédito (TC): Sendo o crédito a troca de uma prestação presente por
uma prestação futura, pelo que os títulos de crédito são documentos escritos
constitutivos pois os direitos só podem ser exercidos com a sua presença, sendo
direitos cartulares (documentais) ou sejam direitos incorporados no título, cujo
exercício não pode ser efectuado sem a sua presença, sendo por isso eficaz, seguro
e rápido na transmissão dos respectivos créditos, vêm assim facilitar essa troca.

Túlio Ascarelli: TC, são documentos escritos, subscritos, nominais à ordem ou ao


portador.

2. Características
- 4 Cumulativas:
- Incorporação ou legitimação
- Circulabilidade
- Literalidade
- Autonomia

Incorporação ou legitimação: A posse ou a titularidade é essencial para o


exercício do direito nele mencionado ou para a sua transmissão, de que advém 2
consequências:

APONTAMENTOS - T.Nogueira
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- Mesmo que o possuidor não seja o titular original, a posse do


título habilita-o a exigir o direito nele incorporado ou referido e a transmiti-lo a
terceiro
- O direito não poderá ser exercido por quem não tenha a sua
posse

A lei presume que o possuidor é o seu verdadeiro proprietário, pelo que o devedor
terá de cumprir perante o seu portador, e caso o possuidor não coincida com o seu
verdadeiro titular este só poderá exigir o direito de regresso do possuidor.

Circulabilidade: O TC, surgiu para tornar mais céleres as transacções comerciais,


devendo ser transmissíveis, podendo o titular deste direito transmiti-lo livremente
realizando assim o valor dele sem necessidade de esperar pelo seu vencimento.

Literalidade: o direito cartular é literal, pelo que o direito do TC é decidido


exclusivamente pelo seu teor.

Autonomia – Art.º 17 LULL: Esta autonomia é relativa à relação subjacente, não


podendo ser opostas ao portador do título, quaisquer vícios que resultem da
relação subjacente, no entanto esta autonomia pode sofrer uma excepção por
questões de má fé ou ética. Assim o TC tem autonomia face aos portadores
anteriores, cujos vícios não podem ser oponíveis ao actual proprietário, a não ser
que o possua de má fé cfr. art.º 16.

2.1 Classificação dos TC quanto à circulabilidade:


 Nominativos
 Ordem
 Portador
Nominativos: Possuem o nome do possuidor, para cuja transmissão exige-se o
nome do novo proprietário, devendo ser inscritos no livro de registo, ex. acções

APONTAMENTOS - T.Nogueira
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Ordem: Transmissão através de endosso, que pode ser nominativo (à ordem de


F...), ou em branco, passando o TC neste caso ao portador.

Portador: O portador é o possuidor, a transmissão efectua-se pela entrega do TC.

Cheque: Ordem de pagamento à vista dada pelo sacador ao Banco (sacado), pode
ser Nominativo, à ordem ou ao portador:
- Nominativo: Quando tem o nome do beneficiário e é cruzado,
tendo a clausula “não à ordem”.
- Ordem: Quando tem o nome do beneficiário, mas não é cruzado
- Portador: Quando não tem nome, está em branco.

Letra: Ordem de pagamento a prazo, dada pelo credor (sacador), sobre o devedor
(sacado), regra geral é um TC à ordem, podendo transformar-se em TC ao
portador pelo endosso em branco.
O endossante é co-responsável solidariamente perante terceiros no pagamento da
letra, só não sendo responsável o último tomador, como é responsável o sacador,
quando o banco lhe antecipa o valor TC

São obrigações cambiárias Abstractas em 2 sentidos:


- Não têm causa função típica, podendo prosseguir várias causas
funções
- São independentes da causa que está na origem da sua emissão,
logo não podem sofrer os vícios da sua causa, p. ex. letra de favor

Pelo que sempre que exista falta de pagamento ou falta de aceite, essa recusa deve
ser certificada através de protesto junto do notário, cfr. art.º 44 LULL.
O protesto pode ser dispensado sempre que exista a clausula se “sem protesto” ou
“sem despesas”.

3. Prescrição – Art.º 70 LULL: Em relação aos intervenientes:


- Aceitante: É de 3 anos a contar do vencimento da letra
APONTAMENTOS - T.Nogueira
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- Portador: É de 1 ano a contar da data do protesto


- Endossante c/ endossante ou c/sacador: É de 6 meses a contar
da data em que pagou ou que foi accionado.
- Avalista: Mesmo prazo dos avalizados, art.º 32 LULL

Regras: A prescrição só interrompe, em relação ao obrigado notificado, e a


extinção da obrigação pecuniária abstracta, não leva à extinção por prescrição da
relação subjacente.

Saque: Acto pelo qual o sacador emite uma ordem de pagamento ao sacado, o
sacador é também solidariamente responsável pelo pagamento da obrigação
pecuniária constante do TC caso haja endossos, caso o sacado não o pague o TC
na data do seu vencimento.

Aceite – Art.º 21 e ss. LULL: Declaração de vontade pela qual o sacado assume a
obrigação cambiária principal, ou seja a de pagar na data do seu vencimento uma
determinada quantia, que está inscrita no TC.
Art.º 22, O sacador também pode proibir na própria letra a sua apresentação a
aceite, caso em que é uma letra pagável à vista, que em caso de não pagamento, a
acção será proposta só contra o sacador e os endossantes, cfr. art.º 44 LULL.

Endosso – Art.º 11 e ss. LULL: Com o endosso realiza-se a dinâmica da letra


(circulabilidade), que consiste na ordem de pagamento dada pelo sacador (ou
endossante), ao aceitante para que este pague a letra no vencimento ao seu
portador, feita através de uma declaração no verso da letra seguida da assinatura
do endossante, o endosso abrange a totalidade do crédito cartular, se
eventualmente fosse parcial era Nulo (art.º 12.1.2 LULL).
A letra poderá não ser endossável, se nela for aposta cláusula de “não à ordem”
ou chamado endosso proibido (art.º 11 LULL), neste caso a letra não se poderá
transmitir através de endosso, o que quer dizer que só se poderá transmitir
aplicando as regras da cessão de créditos (art.º 563 CC).

APONTAMENTOS - T.Nogueira
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O endossante assume a obrigação de garantir tanto o aceite como do pagamento


da letra para com o endossado (art.º 15 LULL), pelo que todos os endossantes são
solidariamente responsáveis pelo cumprimento da obrigação cambiária.

Aval – Art.º 30 a 32 LULL: Negócio jurídico cambiário unilateral, pelo qual um


terceiro ou mesmo um signatário da letra, o avalista, se obriga ao seu pagamento
como garante de um dos subscritores, co-obrigados cambiários, os afiançados ou
avalizados, o qual deve conter os termo “bom por aval a F...”, se não indicar
nome, se o aval for dado em branco, esse aval beneficiará sempre o sacador. O
aval tanto pode dizer respeito à totalidade do crédito como só a parte do mesmo.

Livrança – Art.º 75 LULL: Promessa de pagamento de determinada quantia,


dada pelo subscritor a favor do tomador ou endossado.

Extracto de factura: TC à ordem, que pressupõe a realização de um contrato de


compra e venda de mercadorias entre comerciantes sediados em território
português, em que o preço desse contrato deve ser pago em prazo certo, não tendo
sido emitida letra ou livrança, o qual se transmite por simples endosso feito no
próprio extracto da factura que foi emitida.

Conhecimento de Depósito (CD), Cautela de Penhor (CP) e Warrant (W):


O CD, é um contrato de depósito mercantil, art.º 408 a 424 C. Com. Através do
qual um determinado comerciante, disponibiliza o seu armazém para serem
depositadas determinadas mercadorias, pertencentes a um determinado cliente, é
um TC à ordem que representa os direitos relativos às mercadorias depositadas,
bastando a transmissão por endosso desse mesmo título, para operar
imediatamente a transmissão de todos os direitos relativos ás mercadorias, não
sendo necessário a circulação física das mercadorias. O CD é emitido em
duplicado e em caso de empréstimo, podem ser dadas essas mercadorias como
garantia, sendo emitida uma CP (penhor mercantil sobre mercadorias) ou
Warrant, sendo destacado o duplicado que fica em poder do credor pignoratício,
sendo este também um título de crédito à ordem, cfr. art.º 411 C. Com. Sendo
APONTAMENTOS - T.Nogueira
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transmitido por mero endosso, podendo ambos transformarem-se em TC ao


portador se forem endossados em branco.

Acções: Títulos representativos de participação no capital social de uma sociedade que


podem ser nominativos ou ao portador, art.º 271, 276 e 299.2 CSC.
Podem existir acções escriturais, que não têm existência física, dando-se a transmissão
por registo junto da soc. emitente ou do intermediário financeiro.

Obrigações: Títulos representativos do valor de um empréstimo, feito à sociedade


emitente, que tem sempre por base um contrato de mútuo, entre a entidade emitente e
uma pluralidade de mutuantes, art.º 348 e 352 CSC.
4. Função e conceito de título de crédito:
Os títulos de crédito são documentos - qualquer objecto elaborado pelo homem com o fim
de reproduzir ou representar uma pessoa, coisa ou facto, mas nem todos os documentos
podem ser considerados títulos de crédito.
Só os documentos escritos, aqueles que representem declarações de ciência ou vontade
em forma de texto escrito, se enquadram no conceito.
Os títulos de crédito comprovam determinados factos - declarações de vontade - mas não
podem ser havidos como documentos meramente probatórios.
São documentos constitutivos, pois são indispensáveis para a própria constituição,
exercício e transmissão dos direitos que neles são mencionados, os quais não podem
subsistir sem o respectivo título. Mas nem todos estes documentos constitutivos são
considerados títulos de crédito, pois este tem uma eficácia que ultrapassa a de mera
constituição do direito: o título adere permanentemente ao direito, de modo tal que é
indispensável para que o direito possa ser exercido e transmitido, para que o seu titular
possa dispor dele. São por isso documentos dispositivos.
Os títulos de crédito destinam-se a tornar mais simples, rápida e segura a circulação da
riqueza e a concessão do crédito. A par de formas directas de circulação da riqueza, os
títulos de crédito representam uma forma indirecta de a fazer circular: eles tornam
simplesmente possível e fácil que a riqueza se transmita através da sua circulação, em vez
dos bens, circulam os documentos que a representam, pois é mais simples, rápido e
seguro transmitir papéis escritos do que os próprios bens a que eles aludem.
Na Idade Média, dados os riscos enormes que comportava o transporte, por estradas
pouco seguras e infestadas de salteadores, de grandes quantias de dinheiro, os

APONTAMENTOS - T.Nogueira
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comerciantes começaram a entregar o seu numerário a banqueiros, que lhes entregavam


em troca uma carta dirigida a um outro banqueiro estabelecido na localidade onde o
comerciante pretendia efectuar pagamentos, normalmente de mercadorias que ia adquirir
para o seu comércio.
Com o decurso do tempo, tornou-se progressivamente usual utilizar a própria letra para
novos pagamentos, escrevendo nela sucessivas ordens de pagamento a favor de novos
destinatários. Cada título passou a servir para solver sucessivas obrigações, promovendo-
se desta forma a facilitação da concessão e transmissão de créditos.

Desta origem do primeiro dos títulos até ao presente, uma longa evolução decorreu, mas
sempre tendo como base a mesma função: satisfazer de forma eficaz as necessidades da
vida económica no que toca à simplicidade, rapidez e segurança da circulação da riqueza.
Por isso, aos títulos de crédito se chama títulos negociáveis ou circuláveis.

O título garante ao titular do direito que só a ele pertence o direito e não a qualquer outra
pessoa que pretenda arrogar-se tal titularidade. Assim, a emissão do título de crédito
incentiva o credor a conceder o crédito pelo meio próprio de cada espécie de títulos.
Favorece também a posição do devedor: se este paga a quem se mostra legitimado pela
posse do título segundo a respectiva lei de circulação, liberta-se da obrigação, mesmo
que, na realidade, essa pessoa não fosse o verdadeiro titular.
Dá aos terceiros de boa fé, que venham a adquiri-lo, a tranquilidade de que serão, um
após outro, sucessivos titulares de direitos, sem que lhes possam ser opostas pelo devedor
as excepções oponíveis aos anteriores possuidores.
O título de crédito é assim um documento necessário para exercitar o direito liberal e
autónomo nele mencionado.

5. Características gerais do título de crédito


A confiança constitui a base do desempenho da função dos títulos de crédito. Para que
essa confiança exista, é essencial que o regime para eles traçado proteja ao máximo os
interesses do titular do direito, do devedor e daqueles que venham a adquiri-los de boa fé.
Todos eles se disporão a aceitar a emissão e transmissão dos títulos se puderem ter
absoluta confiança em que:

APONTAMENTOS - T.Nogueira
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- O titular é quem tem o título em seu poder e por isso está habilitado
para exercer o direito nele referido;
- Cada titular poderá com toda a facilidade transmitir esse título, para
realizar o valor dele, sem necessitar de esperar pelo cumprimento da obrigação
correspondente ao direito nele mencionado;
- O teor literal do título corresponde ao direito que ele representa;
- A posição jurídica do actual detentor do título não poderá ser posta
em causa pela invocação de excepções oponíveis aos anteriores detentores do título;

Estas quatro exigências correspondem às características gerais dos títulos de crédito:


Incorporação / legitimação, circulabilidade, literalidade e autonomia.

A diferenciação entre o título e o direito nele representado é a seguinte: o título é um bem


móvel, pois é tratado pela ordem jurídica como uma coisa, que serve de suporte ou
veículo corpóreo ao direito, e que circula ou é transmitido segundo regras que lhe são
bem próprias.
Daí resulta que são diferentes o direito sobre o título, por um lado, e o direito mencionado
no título, por outro, sendo do direito sobre o título que decorre a titularidade nele
mencionado.
O direito sobre o título configura-se como um direito real, que tem o título por objecto, ao
passo que o direito mencionado no título pode ser uma de entre várias naturezas: na maior
parte são direitos de crédito.

O direito cartular tem a sua origem numa relação jurídica que precede o nascimento do
título de crédito - a relação subjacente ou fundamental - da qual podem resultar, ou
apenas um direito para uma das partes e correlativa obrigação para a outra, ou recíprocas
direitos e obrigações para as duas ou mais partes em confronto.

Incorporação ou legitimação:

A detenção do título é indispensável para o exercício e a transmissão do direito nele


mencionado.
Deve considerar-se que tal característica consiste em que a posse do título legitima o
portador para exercer ou transmitir o direito. É mais preciso designar esta característica
APONTAMENTOS - T.Nogueira
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por legitimação activa, visto que ela se refere à posição jurídica do sujeito activo do
direito, à sua aptidão jurídica para exercê-lo ou transmiti-lo.
É a posse, ou melhor, a detenção material do título segundo as regras da circulação que
para ele estão definidas, que confere ao seu possuidor a legitimação formal para exercer
ou transmitir o direito que o título refere.

Surgem duas consequências muito importantes: mesmo que o possuidor do título não seja
o verdadeiro titular do direito, ele estará legalmente habilitado a exerce-lo ou transmiti-lo.
O titular do direito estará impossibilitado de exercê-lo ou transmiti-lo se não tiver a posse
do título. Só o possuidor formalmente legítimo do título é que pode exercer o direito
cartular, só ele é que pode transmitir para outrem esse direito.
Isto resulta de uma presunção jurídica de que o possuidor do título está de boa fé e de que
é ele o verdadeiro dono, o titular do direito sobre o próprio título.
O regime jurídico dos títulos de crédito assenta numa presunção de boa fé dos sucessivos
detentores do título.
Ao substituir por essa presunção a regra geral do direito civil, que exige a coincidência da
titularidade do direito com a legitimidade para o seu exercício, o regime dos títulos de
crédito visa reforçar as condições de circulabilidade dos títulos e o desempenho da sua
correlativa função jurídico - económica.

Há igualmente que considerar uma legitimação passiva, relativa à posição e interesse do


devedor. Este pode desonerar-se validamente da sua obrigação se a cumprir perante o
detentor do título segundo a respectiva lei de circulação.
Esta situação de legitimação passiva constitui uma inegável e relevante vantagem para o
devedor, que incentiva a sua decisão de se obrigar através do título de crédito. É que ele
não precisa de verificar senão a legitimação formal do possuidor do título, ou seja, só
carece de certificar-se se o portador dele tem legitimidade activa para exercer o direito
cartular.

Não é exigível ao devedor que verifique se o detentor do título é o verdadeiro titular do


direito. E, por consequência se cumprir perante o detentor do título, fica desobrigado, não
podendo ser acusado de ter pago a quem não fosse o verdadeiro credor.

Circulabilidade:

APONTAMENTOS - T.Nogueira
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Os títulos de crédito destinam-se a circular. A sua própria destinação jurídico - económica


implica a potencialidade de serem transmitidos da titularidade de uma pessoa para a de
outra, sucessivamente.
Os documentos que não comportem a possibilidade de circulação não podem ser
considerados como títulos de crédito. Não basta a mera possibilidade da circulação para
que determinados documentos possam como tais ser qualificados. É necessário que esses
documentos sejam destinados à circulação.
Isto não significa que a circulação dos títulos de crédito não possa ser de modo nenhum
condicionada ou regulada.

Literalidade:
O direito cartular é um direito literal, porque para a determinação da sua existência,
conteúdo, limites e modalidades daquele direito é exclusivamente decisivo o teor do
próprio titulo.
E é assim porque a estrita ligação do título com o direito que ele incorpora torna
logicamente indispensável que tal direito valha apenas nos termos que são revelados
pelos dizeres do documento.
Os sucessivos portadores do título podem estar seguros de que só os termos do próprio
título é que os vincula. Nem o possuidor pode exigir ao devedor o que não conste do
título, nem o devedor pode alegar meios de defesa que o documento não mencione.
Os títulos de crédito valem precisamente segundo os termos que a sua letra revela, para
que a sua circulabilidade seja plena.
A letra do título não tem de exprimir todas as regras e condições pertinentes ao direito
cartular.
A literalidade não assume intensidade igual em todos os títulos.
É mais directa e completa nos títulos abstractos, que são aqueles que, além de não terem
uma causa-função típica, são independentes da respectiva causa concreta.
É indispensável que o documento dê a conhecer todos os elementos identificadores dos
termos, limites e modalidades de cada obrigação constante do título.

Já nos títulos causais, cuja causa-função é típica e única, estando o título a ela vinculado,
esta característica surge mais difusa. Não se cogita de incluir senão os elementos
indispensáveis para a identificação da sociedade emitente e a delimitação básica da
situação jurídica do titular.

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Autonomia:
O direito representado pelo título de crédito é autónomo, em dois sentidos:
1 - Existe a autonomia face ao direito subjacente. O direito cartular tem a sua origem
numa relação jurídica logicamente anterior ao surgimento do título - a relação subjacente
ou fundamental. O direito cartular é autónomo do direito subjacente;
2 - Existe a autonomia face aos portadores anteriores. O direito cartular é autónomo,
porque cada possuidor do título, ao adquiri-lo segundo a sua lei de circulação, adquire o
direito nele referido de um modo originário, independentemente da titularidade do seu
antecessor e dos possíveis vícios dessa titularidade. Todo se passa como se o direito
cartular não fosse propriamente transmitido, mas adquirido de forma originária, de cada
vez que o título circula para um novo titular;

6. Títulos impróprios
Habitualmente não são considerados como títulos de crédito certos documentos que,
muito embora tenham, em geral, as mesmas características daqueles, não as têm
geneticamente, também se afastando deles no tocante à sua função jurídico-económica e,
por isso, quanto à característica de circulabilidade, sendo designados como impróprios.

Dentro destes documentos, é usual distinguir ainda duas categorias:


1 - Os títulos de legitimação - têm por função conferir ao seu possuidor a legitimação
activa para o exercício de certos direitos e, consequentemente, também conferem à outra
parte a correspectiva legitimação passiva. Mas não têm por função própria a circulação,
não se destinam a viabilizar e facilitar a transmissão de direitos, e, por isso, não são
verdadeiros e próprios títulos de crédito, muito embora não estejam impedidos de
circular, mas não foi para a circulação que foram concebidos e emitidos - bilhetes de
entrada em salas de espectáculo, bilhetes de transporte transmissíveis, etc..;

2 - Os comprovantes de legitimação - conferem igualmente a legitimação activa e


passiva relativamente ao exercício de certos direitos, mas nem sequer têm a possibilidade
de circular, por serem intransmissíveis - bilhetes de avião, passes de transportes
colectivos, etc...;

7. Tipologia – Classificações:
Critério da causa-função, ou do nexo com a relação subjacente

APONTAMENTOS - T.Nogueira
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Segundo este critério, consideram-se duas espécies de títulos:


1 - São títulos causais os que se destinam a realizar uma típica e única causa - função
jurídico económica, inerente a um determinado tipo de negócio jurídico subjacente, do
qual resultam direitos cuja transmissão e exercício o título se destina a viabilizar ou
facilitar. Exemplo disso são as acções das sociedades anónimas.
2 - São títulos abstractos aqueles que não têm uma causa-função típica, pois são aptos a
representar direitos emergentes de uma pluralidade indefinidamente vasta de causas-
funções. Estes títulos são independentes da respectiva causa. O devedor não pode invocar
contra o portador do título excepções fundadas na relação subjacente, que é a causa
mediata da sua obrigação e do correlativo direito do portador.
A abstracção da causa significa que o direito e a obrigação cartular são independentes da
sua causa, no sentido de que eles são vinculativos independentemente dos vícios de que
tal causa possa padecer, os quais são inoponíveis ao portador.
A relação subjacente ou fundamental é apenas a causa mediata ou remota do título e de
cada direito / obrigação cartular, no sentido de que este visa incorporar um dos direitos
originados por aquela relação jurídica, direito esse que poderia perfeitamente subsistir
sem o título de crédito.

Quer os títulos causais, quer os abstractos, têm sempre uma dada causa: nenhum direito
surge sem uma causa, nenhuma transmissão de direito se opera sem uma causa. O que
pode ocorrer é que o título seja propício a dar guarida apenas ao direito provindo de um
dado tipo de causa - será o tipo causal - ou que ele tenha aptidão de recobrir direitos
oriundos de uma variedade atípica de causas - será um título abstracto.

8. Critério do conteúdo do direito cartular:

A maior parte dos títulos de crédito hoje em uso incorporam direitos de crédito em
sentido estrito, geralmente direitos a uma prestação pecuniária, e por isso se designam
como títulos de crédito propriamente ditos. É o que sucede com: as letras e livranças, os
cheques, os extractos de factura, etc...

Outros títulos denominam-se títulos representativos, porque incorporam direitos sobre


determinadas coisas, em geral mercadorias, como a guia de transporte, etc... Atribuem ao

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seu possuidor, juntamente com o direito de crédito à entrega das mercadorias, também um
direito real sobre estas.

Em terceiro lugar, existem os títulos de participação social, assim designados por


incorporarem uma situação jurídica de participação social, ou seja, o complexo de direitos
e obrigações que integra a qualidade de sócio de uma sociedade. É o que sucede com as
acções das sociedades anónimas.

Os títulos de crédito propriamente ditos e os títulos representativos, estes apenas quando


representem coisas fungíveis, têm uma importância particularmente relevante no plano do
direito processual civil, dado constituírem, em geral, títulos executivos: com efeito o
art.°46 al. c) do C.P.Civil., atribui essa qualidade às letras, livranças, cheques, extractos
de factura, etc... e quaisquer outros escritos particulares, assinados pelo devedor, dos
quais conste a obrigação de pagamento de quantias determinadas, ou de entrega de coisas
fungíveis.

9. Critério do modo de circulação:


Esta classificação é clássica e a de maior importância prática por ela ter como fulcro a
função essencial dos títulos de crédito: a circulação.
Segundo este critério do modo de circulação, os títulos podem ser:
- Ao portador
- À ordem
- Nominativos.

Títulos ao portador: São os que não identificam o seu titular e transmitem-se por mera
tradição manual, por entrega real do documento: o titular é quem for detentor do
documento - art.°483 do C. Com.
O possuidor presumir-se-á sempre o titular do crédito de propriedade do título e, com ele,
do direito cartular, estando por isso legitimado para o exercer.

Títulos à ordem: São os que mencionam o nome do seu titular, tendo este, para transmitir
o título e, com ele, o direito cartular, apenas de nele exarar o endosso: uma declaração
escrita, no verso do título, ordenando ao devedor que cumpra a obrigação para com o
transmissário e / ou manifestando a vontade de transmitir para este o direito incorporado -
art.°483 do C. Com.
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Este endosso que produz o efeito de transmitir a propriedade do título e o direito cartular,
diz-se endosso translativo. Dele importa distinguir, por não terem essa finalidade nem
esse efeito outros tipos de endosso.
O chamado endosso em branco, caracterizado por não mencionar o nome do endossado,
limitando-se o endossante a subscrever o título, o qual passa a partir de então a ser um
título ao portador em vez de um título à ordem, porque ele passará a circular, de pleno
direito, por mera tradição, enquanto não for inserido o nome de detentor no espaço em
branco.

Títulos nominativos: Mencionam também o nome do seu titular e a sua circulação exige
um formalismo complexo, do qual é exemplo modelar o regime da circulação das acções
nominativas: para que a sua transmissão seja válida, deve ser exarada nos próprio título,
pelo transmitente, uma declaração de transmissão, bem como que nele seja lavrado a
quem pertence, isto é, que no local adequado seja inserido o nome do novo titular; além
disso, é ainda necessário o averbamento do acto no livro de registo da acções da
sociedade emitente.

10. Critério da natureza da entidade emitente:


São títulos públicos aqueles que são emitidos pelo Estado e por outros entes públicos
legalmente habilitados para tanto, aos quais se refere o art.º 483 do C. Com. como títulos
públicos negociáveis: são os títulos de dívida pública.
Todos os demais títulos de crédito são títulos privados, por as pessoas ou entidades que os
emitem não terem natureza de entes públicos ou não actuarem nessa condição.

Possibilidade de criação de títulos de crédito:

O princípio da autonomia da vontade, ou da liberdade contratual, consagrado amplamente


no art.º405 do C. Civil, poderá conferir suporte à possibilidade de criação de títulos de
crédito inominados, que não se integrem em nenhum dos tipos de títulos caracterizados e
regulados na lei. Porém, essa possibilidade genérica sofre limitações muito significativas,
que reduzem a bem pouco o seu alcance:
I. Quer a lei, quer a natureza das coisas, podem restringir a certas categorias de
pessoas ou entidades a emissão de certos títulos de crédito. É o que se passa com os
títulos de dívida pública, que só podem ser emitidos por entes públicos legalmente

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competentes; ou com as acções, que só podem ser emitidas por sociedades anónimas ou
em comandita por acções; ou os títulos de participação que só podem ser emitidos por
empresas públicas ou sociedades anónimas pertencentes maioritariamente ao Estado.

II. Quando os títulos nominados são admitidos apenas em determinadas


modalidades, correspondentes a certas leis de circulação - os cheques só podem ser à
ordem ou ao portador; as livranças só podem ser à ordem; as acções e obrigações só
podem ser nominativas ou ao portador, etc... - não é lícito emitir títulos desses em
modalidades não consentidas por lei.
III. Extrai-se da conjunção dos art.°280 e 458 do C. Civil a exigência de uma causa
lícita para que o negocio jurídico seja válido, o que implica a proibição genérica dos
negócios abstractos, salvo norma legal em contrário. Os títulos abstractos são válidos
apenas e na medida em que normas legais os permitam, mas não será lícito criar outros
títulos abstractos.
IV. Há que ter presente a proibição de negócios unilaterais que gerem uma obrigação
de prestar fora dos casos previstos em lei, contida no art.°457 do C. Civil. Desta proibição
resulta a inadmissibilidade da criação de títulos de crédito inominados - que seriam títulos
de crédito propriamente ditos - que contenham a promessa unilateral de uma prestação,
dado que nos negócios abstractos vigora o principio da tipicidade taxativa ou “numerus
clausus”.

No escasso terreno de aplicação deixado livre por estas restrições é que poderá conceber-
se a criação de títulos de crédito inominados.
11. Principais títulos de crédito - Os títulos cambiais: Letra, Livrança e
Cheque
A Letra:

A letra é um título de crédito através do qual o emitente do título - sacador dá uma ordem
de pagamento - saque, de uma dada quantia, em dadas circunstâncias de tempo e lugar, a
um devedor - sacado, ordem essa a favor de uma terceira pessoa - tomador. Ex.: o sacador
A (credor) dá ordem de pagamento ao sacado B (devedor) a favor do tomador C (Banco).

APONTAMENTOS - T.Nogueira
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O sacado só assume a obrigação mencionada no título - obrigação cambiária, se e quando


aceitar a ordem, assinando transversalmente no rosto do título, acto este que se denomina
aceite e converte o sacado em aceitante.

Como título de crédito rigorosamente formal, a letra é destinada à circulação, a qual se


efectua através de endosso, sendo portanto, um título à ordem. O tomador poderá assumir
a qualidade de endossante, transmitindo a letra a um endossado, o qual, por sua vez,
poderá praticar acto idêntico a favor de um outro endossado e assim por diante. Ex.: o
tomador C pode endossar ao endossado D a letra.

O principal obrigado da letra é o aceitante, que assume a obrigação de pagar a quantia


nela mencionada, ao portador legitimado por uma série ininterrupta e formalmente
correcta de endossos, ao tempo do vencimento e no local devido.
Mas não é só o aceitante que se obriga em virtude da letra: todos os subscritores do título
se obrigam a efectuar a prestação nele referida. Obrigam-se solidariamente, embora a
obrigação dos demais subscritores seja apenas uma garantia.
Cada um dos endossantes promete ao seu endossado e aos posteriores endossados que a
letra será aceite e paga pelo sacado, obrigando-se solidariamente ao seu pagamento se
este não o fizer.

Temos assim uma sucessão de co-obrigados à mesma prestação, que forma a chamada
cadeia cambiária, na qual têm posições diversas apenas na medida em que cada um se
obriga só perante os posteriores titulares, embora todos se obriguem solidariamente
perante o portador.

Há ainda um outro tipo de obrigação cambiária de garantia, que é a resultante do aval,


acto pelo qual uma qualquer pessoa garante o pagamento dela por um dos subscritores.

Resta referir que a eficácia das obrigações cambiárias de garantia depende, em regra, da
comprovação da falta de aceite ou de pagamento pelo sacado, que o portador deve
promover através do protesto no cartório notarial competente.

A Livrança:

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A livrança menciona uma promessa de pagamento de uma certa quantia, em dadas


condições de tempo e lugar, pelo seu subscritor ou emitente, a favor do tomador ou de um
posterior endossado que for seu portador legítimo no vencimento.

A livrança é um título à ordem, transmissível por endosso, e rigorosamente formal.


Na livrança existem apenas inicialmente os dois mencionados personagens e não três,
como ocorre na letra.
Todos os subscritores são co-obrigados solidariamente e formando uma cadeia cambiária,
dependendo também do protesto a efectivação das obrigações de garantia, que são as do
subscritor, endossados e avalistas.

O Cheque:
O cheque exprime uma ordem de pagamento, de determinada quantia, dada por um
sacador a um sacado, que tem a peculiaridade de ser necessariamente um banqueiro, ou
uma instituição de crédito habilitada a receber depósitos de dinheiro mobilizáveis por
essa forma, e a favor de uma pessoa denominada tomador, que pode ser ou não
individualizada. O cheque constitui um meio de pagamento, ao próprio depositante ou a
terceiro, a realizar por força do depósito que o sacador tem na instituição de crédito.
Como o cheque é livremente circulável, ele pode desempenhar a função de transmitir o
crédito, o direito ao pagamento pelo banco da quantia nele mencionada, porque a ordem
de pagamento e os sucessivos actos de transmissão do título não têm uma causa-função
típica, antes podem ter como causa relações subjacentes da mais variada espécie, trata-se
de um título abstracto.
Quanto à forma de circulação, o cheque pode ser título à ordem, quando contém o nome
do beneficiário da ordem de pagamento, que o pode transmitir por endosso; e pode ser
título ao portador, quando não contém o nome do beneficiário da ordem, sendo
transmissível por mera entrega real.
É ainda concebível o cheque pagável a determinada pessoa, mas com a cláusula "não à
ordem", o qual, à semelhança da letra, só é transmissível pela forma e com os efeitos de
uma cessão ordinária de créditos.
O cheque é também um título rigorosamente formal.
No cheque, o sacador e os endossados são solidariamente responsáveis pelo pagamento
do cheque, no caso de falta de cumprimento do sacado, devendo a falta deste, em
princípio, ser comprovada por protesto ou declaração equivalente, a realizar no prazo da
apresentação a pagamento.
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As obrigações dos demais subscritores do cheque podem ser garantidas por terceiro,
mediante aval.
Todos os subscritores do cheque são co-obrigados solidariamente e formando uma cadeia
cambiária, que abrange o sacador, os endossados e os avalistas, como obrigados em
garantia.

Outras formas de garantir ao portador o seu recebimento, são:


O cheque visado pelo banco sacado a pedido do emitente e antes de este o entregar ao
beneficiário, contém em si mesmo a prova da existência de provisão na data do visto e de
que tal quantia foi bloqueada pelo banco, o que garante o seu pagamento.
O cheque cruzado que só pode ser pago a um banqueiro ou a um cliente do banco sacado;
fica mais preservado o beneficiário do cheque contra as consequências de extravios, pois
só poderá ser pago por intermédio de um banco sacado, ou a uma pessoa facilmente
identificável, por ser cliente do banco sacado.
O cheque a levar em conta, que é aquele em que o sacador ou portador proíbem o
pagamento em numerário, só podendo ser pago por lançamento em escrita.

O cheque comprado (vulgo cheque bancário), que se caracteriza por ser emitido por um
banco contra si mesmo: ele é ao mesmo tempo o sacador e o sacado. Uma pessoa que
pretenda remeter ou levantar fundos para outra praça compra o cheque ao banco, que o
emite a favor da pessoa indicada pelo comprador.
O cheque viagem, que é uma espécie de cheque comprado, caracterizado por conter a
assinatura do tomador, lançada no cheque no momento da compra, devendo o tomador
nele lançar uma segunda assinatura, para evitar fraudes, quando pretender receber o seu
montante no banco, ou transmiti-lo.

Extracto de factura:
O extracto de factura é um título de crédito em sentido restrito, à ordem, que deve ser
emitido sempre que, no contrato de compra e venda mercantil a prazo entre comerciantes,
a obrigação de pagar o respectivo preço não for titulada por uma letra.
A emissão deste título pressupõe a realização de uma compra e venda de mercadorias
entre comerciantes estabelecidos no território nacional português, na qual o preço deva
ser pago a prazo certo.

APONTAMENTOS - T.Nogueira
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O vendedor deve emitir uma factura, que será acompanhada de um extracto e remetida ao
comprador. Este deverá ficar com a factura e aceitar o extracto, devolvendo-o ao
vendedor dentro do prazo aplicável.
O extracto factura envolve necessariamente a cláusula à ordem, expressão com a qual o
legislador quis claramente caracterizá-lo como um título de crédito, visto ser destinado à
circulação, que pode ser realizada por endosso.
Trata-se de um título rigorosamente formal, visto enumerar com detalhe os elementos que
ele deve mencionar.

Os subscritores do extracto de factura serão, em regra, o emitente (vendedor), o aceitante


e os endossantes. A responsabilidade de qualquer deles poderá ser garantida por um
terceiro, por meio de aval.
O extracto é susceptível de protesto, quer por falta de aceite ou de devolução, quer por
falta de pagamento no vencimento. O protesto é dispensado para que seja efectivada a
responsabilidade do aceitante e do respectivo avalista.
Os endossantes e respectivos avalistas do extracto de factura são obrigados
solidariamente, como garantes do pagamento, perante o portador legítimo do título.
A responsabilidade solidária destes co-obrigados fundamenta-se na regra geral dos art.º
100 e 101 do C. Com.
Tem sido muito controvertido o significado e valor da exigência legal de emissão do
extracto da factura nos contratos de compra e venda, referidos no art.°1 do DL n°19.490,
registando-se na doutrina duas correntes de opinião. A aceite é a que afirma que a falta de
emissão do extracto de factura, quando se verifique a hipótese do artigo mencionado,
acarreta a nulidade absoluta do contrato de compra e venda respectivo, por falta de forma
legalmente exigida, podendo o devedor apenas pedir a declaração judicial do aludido
vício e a consequente restituição da mercadoria ou do seu valor.

Conhecimento de depósito e Cautela de penhor (warrant):


Os art.°408 a 424 do C. Com. regulam uma especial modalidade do contrato de depósito
mercantil, consistente no depósito de géneros e mercadorias em armazéns gerais.
Os armazéns gerais são armazéns autorizados pelo Governo a receber em depósito
géneros e mercadorias, mediante caução, pelo preço fixado nas respectivas tarifas -
art.°94 do C. Com.

Guia de transporte e conhecimento de carga:


APONTAMENTOS - T.Nogueira
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Revestem a natureza de títulos de crédito os documentos que formalizam o contrato de


transporte de mercadorias, que é um acto de comércio regulado nos art.°366 e seguintes
do C. Com. Pode definir-se como o contrato pelo qual uma pessoa singular ou colectiva,
constituída em empresa para a explorar a actividade transportadora - o transportador - se
obriga para com uma pessoa que lhe entrega determinadas coisas móveis - o expedidor - a
transportá-las de um determinado lugar para outro, mediante remuneração - o frete -
fazendo entrega do objecto do transporte, no local do destino, a outra pessoa - o
destinatário. O expedidor e o destinatário podem ser a mesma pessoa - art.°371 do C.
Com.

Acções:
Denomina-se acção cada uma das fracções, de valor igual, em que se divide o capital
social de uma sociedade anónima, bem como as participações no capital de uma
sociedade em comandita por acções que sejam detidas pelos sócios comanditários.
As acções podem ser representadas por títulos predispostos para a circulação e que
reúnem as características gerais dos títulos de crédito, os quais são igualmente
denominados - acções.

As acções são títulos de participação social que representam uma situação jurídica de
sócio, um feixe de direitos e obrigações de seu titular face à sociedade emitente. As
acções incorporam essa situação jurídica, pois os respectivos titulares só podem exercer
os direitos pertinentes à sua condição de accionistas desde que detenham os títulos. Só
podem transmitir essa situação jurídica através da alienação dos próprios títulos, segundo
as modalidades que a lei consente.

Tais modalidades são apenas duas: acções ao portador e nominativas. A emissão por uma
sociedade de acções de ambas ou apenas de uma destas espécies decorre do que estiver
previsto nos seus estatutos.

As acções ao portador transmitem-se entre vivos por tradição real.


As acções nominativas transmitem-se mediante:
- Declaração de transmissão a favor do transmissário “pertence a ...”,
escrita no título, seguida da assinatura do transmitente

- Averbamento no livro de registo de acções da sociedade emitente;


APONTAMENTOS - T.Nogueira
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Todas estas formalidades condicionam a própria validade da transmissão. A transmissão


das acções considera-se efectuada no quinto dia a contar da data da apresentação dos
títulos à sociedade para esse fim.

A sujeição ao regime de registo ou depósito das acções nominativas - para as quais é


obrigatório - e ao portador - para as quais é facultativo.
Este regime, que visa controlar a transmissão e titularidade das acções para fins fiscais, é
independente da disciplina da circulação das acções.
O depósito dos títulos pode ser efectuado em instituições de crédito, sociedades
correctoras, etc... autorizadas a exercer a actividade de guarda de valores mobiliários.

As acções escriturais têm necessariamente que ser registadas, uma vez que não são
representadas por títulos.
A par das acções ordinárias, podem ser estatutariamente criadas acções preferenciais que
conferem certos direitos especiais aos accionistas delas detentores. Existem duas
categorias destas acções preferenciais:

- Acções preferenciais sem voto – Art.º 341 a 344 CSC: conferem aos
seus titulares todos os direitos das acções ordinárias, excepto o de voto e ainda o direito a
um dividendo prioritário, não inferior a 5% do seu valor nominal, bem como o direito a
um reembolso prioritário em caso de liquidação da sociedade.

- Acções preferenciais remíveis – Art.º 345 CSC: são acções que


gozam de um determinado privilégio patrimonial, e que ficam sujeitas a remissão em data
determinada.

Obrigações:

Denominam-se obrigações os títulos negociáveis que, numa mesma emissão, conferem


direitos de créditos iguais, para o mesmo valor nominal, art.º 348 CSC.

Consistem em partes, de igual valor, em que se divide o débito colectivo assumido, sob
determinadas formas e condições, pelas sociedades e demais entidades autorizadas a
emiti-las.
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As obrigações têm como causa ou fundamento um contrato de mútuo, que a entidade


emitente contrai perante uma pluralidade indeterminada de mutuantes, os quais se
constituem nessa qualidade mediante a subscrição de uma ou mais fracções do montante
global do empréstimo, subscrição essa em regra aberta ao público.

No nosso país, podem emitir obrigações: - sociedades anónimas; - sociedades por quotas;
- outras entidades, mediante autorização por despacho do Ministro das Finanças;
A emissão de obrigações deve ser deliberada pelos sócios, estando também sujeita a
registo comercial.

Os titulares das obrigações - obrigacionistas - podem reunir-se numa assembleia própria,


à qual compete deliberar sobre os assuntos de interesse comum.
A lei determina que, para cada emissão de obrigações, seja designado um representante
comum dos respectivos obrigacionistas, ao qual cabe praticar, em nome de todos eles, os
actos de gestão destinados à defesa dos interesses comuns.

As obrigações são títulos de crédito em sentido restrito, pois representam direitos de


crédito dos seus titulares em relação à entidade emitente.

Quanto à forma de circulação, podem ser nominativas ou ao portador, transmitindo-se


segundo formalismo idêntico aos das acções das mesmas espécies.
A lei prevê a possibilidade de emissão de modalidades especiais de obrigações.

Outros títulos:

Os títulos de participação são títulos de crédito, que apenas podem ser emitidos por
empresas públicas ou sociedades anónimas de capitais maioritariamente pertencentes ao
Estado, directa ou indirectamente, e que conferem direito a uma remuneração anual
composta de uma parte fixa e de uma variável - esta dependente da actividade ou dos
resultados da empresa apenas podendo ser reembolsados em caso de liquidação da
empresa. Podem ser nominativos ou ao portador.

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Os papéis comerciais constituem títulos de crédito, semelhantes às obrigações,


obrigatoriamente nominativos, representativos de empréstimos de curto prazo - não
superior a dois anos.

Os créditos de depósito são títulos emitidos pelas instituições de crédito, representando


depósitos nelas constituídos em moeda nacional e livremente negociáveis, acarretando a
sua circulação a transferência de todos os direitos relativos aos depósitos que
representam. São títulos à ordem, pois circulam por endosso, com a especialidade de
neles não ser admissível o endosso em branco.

11. Extinção e reforma dos títulos de crédito:


título de crédito extingue-se quando se extinguir o documento em si mesmo ou pela
extinção do direito cartular. Temos como causas de extinção referentes ao próprio título:
- a destruição ou extravio do documento;
- a ineficácia do título;
Temos como causas de extinção do direito cartular: - o pagamento; . - a prescrição;
A destruição e extravio do documento: a reforma dos títulos de crédito
O título é um objecto material, um documento escrito, geralmente em papel, o que o torna
muito facilmente perecível ou degradável, assim como sujeito a inúmeras causas de perda
ou extravio, voluntárias ou involuntárias.
A característica da incorporação ou legitimação implica que só pude ser exercido ou
transmitido o direito cartular mediante a posse material do título. A inutilização do
documento implica a destruição do título de crédito, pois implica a impossibilidade do
exercício ou transmissão do respectivo direito.
O extravio priva o respectivo titular da sua posse, condição indispensável para a sua
legitimação activa, equivale em consequências à destruição do documento.
O direito não pode ser transmitido nem exercitado sem o suporte material da posse do
título, o que conduz a um resultado prático equivalente à extinção daquele direito.

A lei não leva tão longe o alcance da característica da incorporação, antes dispõe o meio
técnico-jurídico adequado para assegurar a sobrevivência do direito cartular, através da
chamada reforma dos títulos de crédito.
A reforma consiste na reconstituição do título, através de emissão de um novo
documento, equivalente ao que foi destruído ou extraviado, possibilitando assim a

APONTAMENTOS - T.Nogueira
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incorporação do direito no novo título. O título reformado equivale juridicamente ao que


desapareceu, como se fosse o mesmo documento.
O art.°367 do C. Civil prevê genericamente a reforma de quaisquer documentos escritos
que tenham desaparecido, a qual deve ser efectuada por via judicial, a fim de lhe conferir
a indispensável segurança.
Quanto aos títulos de crédito, existe uma norma específica prevendo a sua reforma, que é
o art.°484 do C. Com. Este artigo refere-se a letras, acções, obrigações e mais títulos
comerciais transmissíveis por endosso, que tenham sido destruídos ou perdidos.
Em virtude de o art.°484 do C. Com. aludir apenas aos títulos transmissíveis por endosso,
leva a compreender apenas os títulos à ordem. Mas não parece que tenha sido esse o
pensamento do legislador, uma vez que o corpo do art.°484 do C. Com. Também se refere
a acções e obrigações, títulos estes que apenas podem ser nominativos ou ao portador.

Não é igual o regime da reforma dos títulos destruídos e dos perdidos ou desaparecidos.
O legislador teve manifestamente em conta a circunstância de que, quanto aos primeiros,
não existe o risco de virem a reaparecer, que existe quanto aos segundos.
Daí que se preveja a publicação de avisos convidando a pessoa que tiver o título
desaparecido em seu poder a vir apresentá-lo.
A sentença que deferir a reforma deve declarar sem valor o título desaparecido, sem
prejuízo dos direitos que o portador possa exercer contra o requerente.

12. Ineficácia do título:


A ineficácia dos títulos pode resultar de: - norma legal; - decisão judicial; - vontade do
emitente;
Resulta da lei, por exemplo depois de protestado por falta de pagamento;
Resulta de declaração judicial, quando o tribunal assim decida, por exemplo numa acção
de anulação ou reforma do título.
Resulta da vontade do emitente quando, sobre permissão legal, este declara ineficaz certo
título, de forma directa ou como consequência indirecta de outra declaração.

13. Extinção do direito cartular:


O título de crédito também se extingue quando ocorre a extinção do direito nele
incorporado, a qual pode ficar a dever-se à generalidade das causas de extinção das
obrigações.

APONTAMENTOS - T.Nogueira
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O cumprimento constitui a forma natural e mais frequente de extinção do direito cartular.


Só assim acontece com o cumprimento efectuado pelo obrigado principal.
O cumprimento deve ser acompanhado da cessação da circulação da título, pela sua
entrega ao obrigado que efectuar o pagamento, para que não suceda que, apesar de
cumprida a obrigação, o título continue a circular, correndo o obrigado o risco de ter de
pagar duas vezes.
Só o pagamento total extingue o direito cartular.
Parte 1
A Letra de câmbio:
1. Requisitos formais da letra
A letra é um título rigorosamente formal, o que implica que o acto gerador da sua
emissão, o saque - tem de respeitar um conjunto de requisitos de forma, que são
indispensáveis para que o documento produza efeitos como letra.
Estes requisitos formais constam dos vários números do art.°1 da LULL, a qual impõe
que a letra contenha:

1. A palavra "letra", inserta no próprio texto do título e expressa na língua


empregada para a redacção do título - a finalidade é advertir claramente quaisquer
potenciais interessados da natureza do título e o seu regime.
2. O mandato (ordem) puro e simples de pagar uma quantia determinada - a letra
deve conter a ordem de pagamento, que não pode conter cláusulas acessórias que lhe
condicionem ou restrinjam o sentido e alcance. Qualquer condição ou restrição aposta ao
saque fará com que o documento não produza efeitos como letra. A ordem de pagamento
tem de respeitar a uma quantia determinada. Não é permitida a convenção de juros nas
letras pagáveis no dia fixado.
3. O nome daquele que deve pagar (sacado) - a letra tem de indicar expressamente a
pessoa à qual a ordem de pagamento é dirigida, identificando-a pelo seu nome. Se o
sacador for comerciante identifica-se pela sua firma. O uso de indicações indirectas torna
o documento insusceptível de produzir efeitos como letra. O sacado pode ser o próprio
sacador.
4. A época do pagamento - a letra pode ser sacada: à vista pagável no acto de
apresentação ao sacado; a um certo tempo, vence-se decorrido um certo prazo sobre o
aceite ou o protesto por falta de aceite; a um certo tempo de data decorrido um certo
prazo sobre a data do saque. Se não houver qualquer menção da época do pagamento,

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entender-se-á pagável à vista. Não pode adoptar-se uma regra de vencimento diferente
daquelas quatro.
5. A indicação do lugar em que se deve efectuar o pagamento - a menção do lugar
do pagamento, se não constar da letra, é suprida, valendo o lugar indicado ao lado do
nome do sacado, como seu domicílio. Caso falte também a menção do domicílio do
sacado, ou haja uma indicação deficiente de um lugar, o documento será insusceptível de
valer como letra.
6. O nome da pessoa a quem ou à ordem de quem deve ser paga (tomador) - a
indicação do nome do tomador deve ser feita de modo a possibilitar a sua identificação. A
lei exige a indicação do nome, não sendo lícita uma referência indeterminada, o que a
tornaria nula. Será nula a letra sacada ao sacador. É lícito na letra o endossa ao portador,
mas não o saque ao portador.
7. A indicação da data e do lugar onde a letra é passada - quanto ao lugar do saque,
se ele faltar, vale como tal o lugar indicado ao lado do nome do sacador. Se mesmo esta
menção faltar, a essencialidade do requisito em causa determina que o documento não
produzirá efeito como letra.
8. A assinatura de quem passa a letra (sacador) - o saque é o acto gerador da letra,
que lhe confere valor e identidade próprios e implica o nascimento da obrigação
cambiária do sacado. O sacado tem de assinar a letra.

2. Falta dos requisitos essenciais. A letra em branco


A consequência da falta de um ou mais dos requisitos essenciais da letra, quando não seja
suprida ou suprível é a sua nulidade: o documento não produzirá efeito como letra.
Tal não significa que o documento que, por falta de um requisito ou mais, seja nulo como
letra, não possa ter algum valor. Terá valor probatório.
É permitido que a letra não contenha todos os requisitos formais no momento da sua
emissão, pois uma letra em branco pode vir a valer como letra, que terá de ser
completada, de modo a respeitar todos aqueles requisito no momento do seu vencimento.
A letra em branco deve ser completada em consonância com o pacto de preenchimento
celebrado entre as partes. Este pacto não está sujeito a forma. A violação do pacto de
preenchimento constitui o chamado preenchimento abusivo da letra em branco.

3. Os negócios jurídicos cambiários:

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3.1 O Saque:
Denomina-se saque o acto pelo qual o emitente - sacador - cria a letra e, pela indicação
dos elementos correspondentes aos respectivos requisitos essenciais, lhe confere a sua
específica identidade como título. Ele é a ordem de pagamento em que a letra
essencialmente consiste.
Por ele o sacador, além de ordenar ao sacado que pague ao tomador a quantia mencionada
na letra, nas demais condições de tempo e lugar desta constantes, exprime também
implicitamente a promessa, para com todos os futuros portadores da letra, de que o
sacado assumirá a obrigação cambiária principal e pagará a dívida no vencimento e, se
não o fizer, o próprio sacador está obrigado a pagá-la.
O beneficiário da ordem contida no saque, à ordem de quem ele é feito, é o tomador que
em regra será um terceiro, mas pode ser e muitas vezes é o próprio sacador.
O saque também pode ser sobre o próprio sacador, sendo, então, este sacado e sacador ao
mesmo tempo (não se vê qual seja actualmente o interesse)
Nada impede que sejam vários os sacadores da letra, desde que a ordem de pagamento
seja uma só.

3.2 O Aceite – Art.º 28 LULL:


O aceite é a declaração de vontade pela qual o destinatário do saque assume a obrigação
cambiária principal de pagar à data do vencimento, a quantia mencionada na letra a quem
for o portador legítimo desta, passando a designar-se como aceitante.
Só pelo aceite é que o sacado se obriga.
O aceite é necessariamente escrito e assinado pelo sacado na letra. O aceite é feito por
assinatura transversal do sacado no lado esquerdo do rosto da letra.
A apresentação da letra ao sacado, para o aceite, pode ocorrer até ao vencimento da letra e
ser feita pelo portador ou por um simples detentor.
A apresentação é facultativa, podendo a letra apenas ser apresentada ao sacado para
pagamento. Pode ser tornada obrigatória, por estipulação do sacador ou de um endossado,
fixando ou não prazo para tal.
O aceite deve ser puro e simples, art.º 26. A lei permite que o aceite seja parcial quanto a
valor do saque..

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Se não for feito o aceite pelo sacado, poderá sê-lo por outra pessoa: é o chamado aceite
por intervenção, que pode ocorrer devido a uma incumbência expressa na própria letra
pelo sacador, ou espontaneamente, sem incumbência, art.º 55

3.3 O Endosso – Art.º 11 e ss. LULL:


Constitui uma nova ordem de pagamento, dada pelo endossante ao sacador (?) para que
pague a letra, no vencimento, ao portador, através de uma declaração no verso da letra
seguida da assinatura.
O endosso constitui a forma natural de transmissão da letra. Pode ser transmitida mortis
causa e por acto entre vivos.
O endosso confere legitimação activa ao endossado, que passa a ser o portador da letra,
para exercer o direito cambiário. Ele transmite a propriedade do título, como coisa e
através dele o endossante assume a obrigação de garantia do aceite e pagamento da letra
pelo sacado, para com o endossado e posteriores portadores da letra.
O endosso feito posteriormente ao protesto por falta de pagamento ou ao decurso do
respectivo prazo vale apenas como cessão ordinária de créditos.

3.3.1 A cláusula “não à ordem”


Desde que na letra seja a posta a clausula “ não á ordem” ela passa a circular
como cessão de créditos. A letra quando circula por endosso é um negócio
jurídico unilateral. Quando circula por cessão ordinária de crédito é bilateral –
Artº 583 CC
Efeitos da Cessão ordinária de créditos – Artº 585 CC. Nestes casos, em que a
letra passa para cessão ordinária de créditos, perde a sua autonomia. Perde a sua
característica do direito cartular.
Perde o princípio da autonomia – Artº 587 CC. O cedente não garante o
pagamento da letra. Fica com uma relação mais ténue. Só assume o crédito – Artº
587/2 CC

Efeitos da cessão de créditos:


- Endosso c/ cláusula valor a cobrar ou para cobrança ou por procuração – Este
endosso constitui o endossado, mandatário do endossante, passa a ser mandatário

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do endossado, logo o endossado pode exercer todas os direitos inerentes à letra,


como mandatário. O endossado é, agora, mandatário do endossante;
- Endosso com cláusula valor em garantia ou valor em penhor – Permite ao
endossatário exercer os direitos resultantes do título e endossar a letra como
procurador. A este endossatário não podem ser opostas excepções por parte do seu
endossante.

Distinção entre endosso e cessão de créditos


Quando se endossa uma letra com a clausula não à ordem, proíbe-se futuros
endossos. O endossante pode opor no pagamento a relação subjacente. Sendo
posteriormente a letra transmitida por cessão ordinária de créditos, o
transmissário assume a posição do transmitente, logo endossante pode sem opor
os vícios da relação subjacente
Uma letra com a clausula não à ordem perde a característica da autonomia do
direito cartular.
Aquele que transmite uma letra com a clausula nãoà ordem não garante o
pagamento, a garante apenas a existência e a exigibilidade do credito ao temo da
cessão.

3.4 O Aval – Art.º 30 a 32 LULL:


O aval constitui um negócio cambiário unilateral, pelo qual um terceiro ou mesmo um
signatário da letra se obriga ao seu pagamento, como garante de um dos co-obrigados
cambiários.
O aval pode respeitar à totalidade ou apenas a parte do montante da obrigação do
avalizado.
Trata-se de um acto gerador de uma obrigação de garantia pessoal, que vem reforçar a
obrigação de um dado subscritor da letra, com o qual o avalista responde solidariamente.
O aval não se confunde com a fiança, pois embora se caracterize a obrigação do avalista
como acessória da do avalizado e se use até a palavra afiançado, para referir este último, a
verdade é que logo se evidencia uma substancial diferença de regimes entre os dois
institutos. Ao passo que a nulidade da obrigação principal aproveita inteiramente ao
fiador, que fica igualmente desobrigado, já no caso de nulidade da obrigação do avalizado

APONTAMENTOS - T.Nogueira
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por vício de fundo mantém-se a obrigação do avalista, só ocorrendo a desobrigação deste


no caso de a obrigação do avalizado ser nula por um vício de forma.

4. Características da obrigação cambiária:


São basicamente as mesmas dos títulos de crédito, já anteriormente descritas, mas com as
seguintes particularidades:
Incorporação ou legitimação - o sacado goza de legitimação passiva, ficando liberado da
sua obrigação se pagar a letra, no vencimento, a quem for o portador legítimo, o qual tem
legitimidade activa, pois só ele pode endossara a letra, art.º 14, apresenta-la para aceite
art.º 21 e apresenta-la para pagamento art.º 38.
Literalidade – A obrigação correspondente ao direito cartular é literal, não sendo
relevantes as chamadas convenções extra cartulares art.º 17.
Circulabilidade – A letra como titulo à ordem é vocacionada para a circulação
Autonomia – Art.º 17 LULL: A autonomia do direito cartular (são inoponíveis ao
portador as excepções decorrentes das relações pessoais do obrigado cambiário com os
portadores anteriores ou com o sacador) e autonomia do direito sobre o título em si
mesmo (o adquirente do título é um adquirente originário, cujo direito sobre a letra não
está sujeito à arguição de ser ilegítima a sua posse, em virtude da ilegitimidade de
qualquer dos ante-possuidores. O direito que tem por objecto a letra só não será autónomo
e o portador será obrigado a restituí-la, se quem tiver sido dela desapossado fizer prova de
qualquer das duas circunstâncias, art.º 16:

- Má fé (conhecimento, por parte do portador, no momento da aquisição da letra, de que


um possuidor anterior foi dela indevidamente desapossado) ou falta grave cometida na
sua aquisição (agindo com culpa grave, correspondente à falta daquele mínimo de
diligência com que deve agir um homem médio);
Abstracção – A posição da obrigação cambiária em face da relação subjacente ou
fundamental preexistente, é abstracta em dois sentidos:
- Porque não tem uma causa-função típica, podendo prosseguir várias
causas
- Porque é independente da causa e como tal, não sofre as
consequências dos vícios da sua causa;
Independência recíproca – Art.º 7 LULL: A nulidade de uma das obrigações que a letra
incorpora não se comunica às demais. Subsistência das obrigação dos demais subscritores

APONTAMENTOS - T.Nogueira
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quando uma delas for inválida por incapacidade, assinatura fictícia ou subscrição inválida
por qualquer outro motivo. Existem algumas restrições: é indispensável que seja
formalmente válida a vinculação do sacador, pois se faltar no saque algum dos requisitos
essenciais da letra, esta será nula art.º 2; se o vício formal se verificar no endosso, ele irá
ocasionar a ilegitimidade formal dos portadores subsequentes da letra art.º 16 e 40; se a
obrigação do avalizado for nula por vício de forma, essa nulidade propaga-se à obrigação
do avalista art.º 32;

5. Vencimento e pagamento da letra – Art.º 33 e ss. LULL:


As letras pagáveis à vista vencem-se mediante a simples apresentação ao sacado, o que
deverá ser feito no prazo de um ano a contar da sua data, podendo o sacador aumentar ou
reduzir este prazo e os endossantes encurtá-lo.
Também pode o sacador estabelecer que a letra não seja apresentada antes de certa data,
contando-se então o prazo a partir desta.
A apresentação da letra à vista é simultaneamente para aceite e para pagamento: se o
sacado paga, é porque aceita, o que significa que o aceite perde autonomia e de facto não
chega a existir.
Na letra a certo termo de vista, o prazo do vencimento conta-se do aceite ou do protesto
por falta dele entendendo-se o aceite não datado como feito no último dia do prazo
A falta de apresentação das letras à vista ou a certo termo de vista implica a perda do
direito de regresso contra o sacador e os endossantes, art.º 53.
Paga a letra, o sacado tem o direito a que ela lhe seja entregue com a respectiva quitação,
sujeitando-se, se a não obtiver, a que ela seja de novo endossada e a ter de pagar de novo
a um endossado.
Pode o sacado pagar apenas parcialmente a letra, sem que o portador lhe possa recusar o
pagamento e a respectiva quitação, é a chamada reforma da letra.
Ao pagar, o sacado não tem de verificar a regularidade formal da cadeia de endossos.

6. Protesto – Art.º 44 LULL:


A falta de aceite ou a falta de pagamento devem ser certificadas através do protesto.
Trata-se de um acto jurídico declarativo, não negocial, praticado perante notário,
destinado a comprovar e a dar conhecimento aos intervenientes na cadeia cambiária da
falta do aceite ou do pagamento, bem como a salvaguardar a integridade do direito do
portador.

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Há dois protestos diferentes:

6.1 O protesto por falta de aceite


Certifica que o sacado se recusou a aceitar a letra que para tal lhe foi apresentada. E feita
contra o sacador, pois este promete ao tomador e aos posteriores endossados que o sacado
aceitará a letra. Este protesto dispensa o protesto por falta de pagamento e a apresentação
a pagamento.
6.2 O protesto por falta de pagamento
comprova que foi recusado o pagamento da letra para tal apresentada ao sacado e é feito
contra este, já que, ao aceitar a letra, se obrigou a pagá-la no vencimento.
O portador que efectuar o protesto deve avisar o sacador e o seu endossante da falta de
aceite ou de pagamento. A falta destes avisos constitui causa da obrigação de indemnizar
os prejuízos dela resultantes, art.º 45.
A falta de protesto não impede o portador de cobrar a letra do aceitante e do seu avalista,
mas inibe-o de cobrar a letra do sacador, dos endossantes e demais co-obrigados, cfr. art.º
53.

Pode o protesto ser dispensado, através de uma cláusula "sem protesto" ou "sem
despesas" a qual permitirá ao portador exercer plenamente os seus direitos de acção, sem
necessidade de protesto. Se tal cláusula for aposta pelo sacador, produz efeitos quanto a
todos os intervenientes na letra. Se aposta por um endossante ou avalista, só produzirá
efeitos em relação a ele.

7. Prescrição – Art.º 70 LULL:


O direito cartular está sujeito a prazos de prescrição extintiva, diferentes consoante as
posições dos sujeitos cambiários. Não se tratam de prazos de caducidade mas sim de
prescrição. Tais prazos são os seguintes:
- Contra o aceitante: 3 anos a contar do vencimento;
- Do portador contra o sacador e os endossantes: 1 ano, a contar da data do protesto, ou
do vencimento quando exista uma cláusula "sem protesto";
- Dos endossantes contra outros e contra o sacador: 6 meses a contar da data em que o
endossante pagou ou foi accionado;
- Os avalistas estão sujeitos aos mesmos termos dos seus avalizados.
A interrupção da prescrição só opera em relação àquele face ao qual foi efectuada.

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8. Acções de regresso – Art.º 43, 47 e 48 LULL:


O portador da letra pode accionar os endossantes, o sacador e os demais co-obrigados:
quer se ela não for paga no vencimento, quer antes deste, se houver recusa total ou parcial
do aceite, no caso de falência, suspensão de pagamentos ou execução sem resultado dos
bens do sacado, ou no caso de falência do sacador de uma letra não aceitável.
Todos os subscritores de uma letra são solidariamente responsáveis pelo pagamento dela
perante o portador.

Exercício

Clausula “ sem despesas “


significa que podemos endossar todos os obrigados
garantia sem efectuarmos o protesto.
Caso pratico
A__________________B____________C____________D_________E
( não à ordem)
D__________ não pode endossar a letra, mas pode fazer cessão ordinária de
créditos, assim, ________________C, pode opor a____ E____a excepção do artº
17º.-
Na cessão de creditos E___assume a posição juridica de D.

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Exemplo de uma letra (frente e verso com cláusula “sem despesas”

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Casos práticos
A, estudante da FDUP comprou uma máquina de café e instalou-se, durante a
época de exames, numa banca num dos corredores onde decorriam orai.,
servindo café. A sua actividade foi contudo, proibida pelo conselho directivo,
pelo que A acabou por vender a sua máquina de café à Associação de
Estudantes, que a passou a usar no bar que tinha instalado nas suas instalações.
Qualifique, do ponto de vista comercial, os sujeitos em causa bem como
os actos por este praticados.

 Para podermos classificar os sujeitos em causa temos de analisar se


eles são ou não comerciantes. Como sabemos com base no art. 13. CCM são
comerciantes “As pessoas, que, tendo capacidade para praticar actos de
comércio, fazem deste profissão” Assim é necessário além da capacidade, que
o indivíduo faça da prática de comércio profissão e o exerça em nome próprio.
Contudo, a nossa lei é muito lacunosa, na qualificação de actividades como
comerciais, por isso, existem determinados princípios de direito comercial
basilares que são essenciais, para qualificar certas actividades, que de outra
forma não seriam qualificáveis como comerciais. Nestes termos para
enquadrarmos certas actividades teremos de nos socorrer de um mecanismo
conhecido como analogia iuris, trata-se da analogia feita a partir de princípios
jurídicos gerais de direito comercial, mas que não possuem consagração legal.
Extrai-se assim um princípio geral de direito comercial, segundo o qual
qualquer actividade de prestação de serviços exercida por uma empresa
transforma-a em empresa comercial, assim as empresas de prestação de
serviços são em regra comerciais. Contudo, a prestação de serviços para ser
encarada como actividade comercial, tem de ser feita no âmbito de uma
empresa. Neste caso, A apesar de exercer uma prestação de serviços, não a
presta integrado numa organização empresarial, não existe na sua actividade
vectores de organização e exploração que possam ser negociados, por isso, A
não pode se qualificado como comerciante. Temos assim uma prestação de
serviços civil, que não se rege pelo direito comercial.
Quanto à Associação de Estudantes, sendo uma entidade que não tem por
objecto fins lucrativos, não pode ser classificada como comerciante. Isto não
impede contudo que as entidades sem fins lucrativos não possam exercer actos
de comércio desde que tal respeite o princípio da especialidade do fim
consagrado no art. 160.º CC, nada impede a associação de explorar um bar,
isso não a torna, todavia, um comerciante, porque tal actividade é exercida não
a título principal mas a título meramente instrumental.
Uma vez concluído que os sujeitos em causa não são comerciais segue-
se a qualificação dos actos praticados, a compra da máquina e a sua posterior
revenda.
A compra efectuada pelo estudante é uma compra civil, por interpretação a
contraio dos artigo do art. 463.º e 464.º n.º 1 CCM, pelo que estabelece este
artigo que “Não são consideradas comerciais: As compras de quaisquer cousas
móveis destinadas ao uso ou consumo do comprador ou da sua família, e as
APONTAMENTOS - T.Nogueira
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revendas que porventura desses objectos se venham a fazer;” A compra não foi
destinada à revenda, este acto acontece por motivos supervenientes, pelo que
não se trata de uma compra comercial, nos termos do art. 463.º CCM, mas de
uma compra civil.
Temos agora que saber qual o regime que segue compra, porque apesar desta
ser civil, poderá seguir os trâmites do CCM.
O estudante, comprou a máquina numa loja, tudo leva a concluir que a venda
foi comercial, assim, a comercialidade da actividade apenas se verifica em
relação a uma das partes, o acto é deste modo, unilateralmente comercial. Para
estes, estabelece o art. 99.º CCM “Embora o acto seja mercantil só com relação
a uma das partes será regulado pelas disposições da lei comercial quanto a
todos os contratantes, salvo as que só forem aplicáveis àquele ou àqueles por
cujo respeito o acto é mercantil, ficando, porém, todos sujeitos à jurisdição
comercial”
Assim os actos unilateralmente comerciais são regulados pela lei comercial
exceptuando-se as disposições da lei comercial que só forem aplicáveis àquele
ou àqueles por cujo respeito a lei é mercantil. Nestes termos basta que uma das
partes seja comercial para se aplicar o regime do CCM.
Conclui-se portanto, que apesar da compra ser civil, vai estar sujeita ao regime
comercial, por força da lei mandar aplicar ao acto unilateralmente comercial o
regime do CCM. Todavia, apesar disto, não será aplicado à compra o regime
da solidariedade previsto no art. 100.º CCM por tal preceito estabelecer que “
Esta disposição não é extensiva aos não comerciantes quanto aos contratos
que, em relação a estes, não constituírem actos comerciais”
Relativamente ao negócio efectuado com a AE, consideramos que a venda é
civil, porque a máquina não foi adquirida como intuito de revenda, art. 463.º
n.º 3 CCM a contrario. Contudo, a compra é já comercial, porque foi comprada
pela AE com intuito de explorar uma actividade comercial. Assim, temos uma
situação semelhante à acima explicada, um acto unilateralmente comercial, que
leva a que os efeitos comercia se estendam também à venda que é neste caso
civil, por força do art. 99 CCM, salvo a excepção prevista no art. 100 .º do
mesmo diploma.

 B, com 17 anos, organiza periodicamente actividades radicais no rio


Paiva, sendo que para dar continuidade ao negócio, adquire dois novos barcos
de borracha contraindo para tal um empréstimo de 2.500 € junto de um tio C,
que explora uma pensão.
Admita ainda que C tinha emprestado a D serralheiro3.000 € para que este
pagasse a última prestação do seu carro.
Classifique do ponto de vista comercial, os sujeitos em causa bem como os
actos por este praticados.

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 Para podermos classificar os sujeitos em causa temos de


analisar se eles são ou não comerciantes. Como sabemos com base no art. 13.
CCM são comerciantes “As pessoas, que, tendo capacidade para praticar actos
de comércio, fazem deste profissão” Assim é necessário além da capacidade,
que o indivíduo faça da prática de comércio profissão e o exerça em nome
próprio. Contudo, a nossa lei é muito lacunosa, na qualificação de actividades
como comerciais, por isso, existem determinados princípios de direito
comercial basilares que são essenciais, para qualificar certas actividades, que
de outra forma não seriam qualificáveis como comerciais. Nestes termos para
enquadrarmos certas actividades teremos de nos socorrer de um mecanismo
conhecido como analogia iuris, trata-se da analogia feita a partir de princípios
jurídicos gerais de direito comercial, mas que não possuem consagração legal.
Extrai-se assim um princípio geral de direito comercial, segundo o qual
qualquer actividade de prestação de serviços exercida por uma empresa
transforma-a em empresa comercial, assim as empresas de prestação de
serviços são em regra comerciais. Contudo, a prestação de serviços para ser
encarada como actividade comercial, tem de ser feita no âmbito de uma
empresa. Neste caso, B, exerce uma prestação de serviços integrada numa
empresa, uma vez que nos encontramos perante uma organização de valores e
meios com valia autónoma que pode ser autonomamente transferível. Além
disso, B pode desde logo ser qualificado como comerciante porque exerce a
profissão nos termos exigidos pelo art. 13.º CCM. Contudo, levante-se neste
caso um problema de capacidade, uma vez que B tem apenas 17 anos, não
podendo per si, realizar actos de comércio. Só em casos excepcionais é que um
incapaz pode ter qualidade de comerciante, nomeadamente se for devidamente
representado pelos representantes legais para o efeito, e estes tenham sido
devidamente autorizados pelo tribunal. O artigo 1889.º n.º 1 al C CC
estabelece que “ 1. Como representantes do filho não podem os pais, sem
autorização do tribunal:
Adquirir estabelecimento comercial ou industrial ou continuar a exploração do
que o filho haja recebido por sucessão ou doação;”
Assim, apesar da exploração ficar a cargo dos representantes legais do incapaz,
estes últimos mediante autorização do tribunal, podem adquirir ou continuar a
exploração de estabelecimento comercial, mas quem adquire a qualidade de
comerciante é o incapaz e não os representantes.
Uma vez enquadrado a qualificação de B como comerciante, vamos proceder à
análise dos actos por ele praticados:
Relativamente aos empréstimos, sabemos que ele é um acto acessoriamente
comercial, ou seja, deve a sua comercialidade ao facto de se ligar a um acto
mercantil, podendo ser considerado como acto comercial, quando se destine a
cobrir uma actividade comercial, art. 394.º CCM “Para que o contrato de
empréstimo seja havido por comercial é mister que a cousa cedida seja
destinada a qualquer acto mercantil” Nestes termos se conclui que o
empréstimo é um acto objectivamente comercial, porque ainda que B não fosse
comerciante, o acto não perderia sua comercialidade, porque este é devido ao

APONTAMENTOS - T.Nogueira
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facto dele se destinar a financiar uma actividade comercial. Refira-se apenas


que o empréstimo comercial não carece de ser realizado formalmente, a lei não
exige forma específica, art. 396.º CCM “O empréstimo mercantil entre
comerciantes admite, seja qual for o seu valor, todo o género de prova”
Quanto à compra dos barcos, sendo esta praticada no âmbito de uma empresa
comercial, estamos perante um acto objectivamente comercial, art. 463.º n.º 1
CCM.
Não podemos esquecer que C tinha emprestado D serralheiro 3.000 € para que
este pagasse a prestação do carro.
C é sem dúvida à luz do art. 13.º CCM um comerciante, D contudo, não o é,
porque, de acordo com os princípios gerais de direito comerciais, uma
actividade de prestação de serviços só é considerada comercial se for realizada
no âmbito de uma empresa, o que não é o caso.
Quanto ao empréstimo enquanto acto acessoriamente comercial, não é aqui,
objectivamente comercial, conforme o disposto no art. 394.º CCM porque não
se destina a financiar uma actividade comercial, mas antes particular.
Questiona-se agora saber se o empréstimo poderá ser subjectivamente
comercial.
Para que um acto seja considerado subjectivamente comercial é necessário que
estejam preenchidos três requisitos, art. 2 CCM.
1. Que o sujeito seja um comerciante  porque como vimos C é
comerciante,
2. Que o acto tenha natureza patrimonial  porque se destina pagamento
de uma prestação pecuniária;
3. “Se do contrário do próprio acto não resultar” Assim, um acto
patrimonial praticado por um comerciante, só não é subjectivamente
comercial, se da prática do acto resultar o contrário, isto é desde que haja
desconexão com a actividade praticada pelo comerciante. Ora é precisamente
isto que resulta desta caso, não há qualquer ligação entre o empréstimo e a
actividade desenvolvida por D, pelo que o empréstimo segue os trâmites do
CC e não do CCM.

 C, alemão, residente em Portugal explora no Alentejo uma


propriedade agrícola onde cria porcos e cultiva oliveiras. Paralelamente possui
uma pequena loja em Beja, a funcionar num prédio arrendado, onde vende o
azeite que produz bem como os enchidos resultantes da criação de porcos.
A) Quid iuris?
B) Em Dezembro no ano passado C comprou tintas para pintar a sua
loja e contratou um pintor, supondo que C é considerado comerciante será o
seu acto considerado subjectivamente comercial? Quid iuris se quem
comprasse as tintas fosse uma associação de agricultores que tem como fim
ajudar os agricultores a escoar seus produtos?

APONTAMENTOS - T.Nogueira
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Direito da actividade comercial

A) Antes de mais, temos de saber se C é ou não considerado


comerciante, sendo que se destaca logo, o facto de C ser cidadão alemão a
residir em Portugal. Relativamente a esta questão, o nosso CCM resolve no art.
7.º ao estabelecer que “Toda a pessoa, nacional ou estrangeira, que for
civilmente capaz de se obrigar, poderá praticar actos de comércio, em qualquer
parte destes reinos e seus domínios, nos termos e salvas as excepções do
presente Código.” Assim, em termos de relações comerciais os cidadãos
estrangeiros estão em pé de igualdade com os portugueses.
Temos agora que analisar se C exerce ou não uma actividade comercial,
sendo que conforme decorre do art. 230.º parágrafo único, não se consideram
comerciantes “proprietário ou o explorador rural que apenas fabrica ou
manufactura os produtos do terreno que agriculta acessoriamente à sua
exploração agrícola, nem o artista industrial, mestre ou oficial de ofício
mecânico que exerce directamente a sua arte, indústria ou ofício, embora
empregue para isso, ou só operários, ou operários e máquinas.” Assim, na
eventualidade de C apenas se dedicar à criação de porcos e oliveiras, não
exerceria uma actividade industrial, até porque como sabemos o CCM exclui
da qualidade de comerciantes o sector agrícola, conforme decorre do art. 230.º
CCM.
Contudo, neste caso, C não se dedica apenas à criação de porcos e
oliveiras, mas também à venda de azeite e dos enchidos resultantes da
exploração, deste modo, paralelamente à actividade agrícola C possui uma
actividade de transformação e de venda ao público dos seus produtos. Será que
pelo desempenho destas actividades C já pode se considerado comerciante?
Mais uma vez temos de analisar o que dispõe o art. 230.º parágrafo único nesta
matéria que refere que não serão comerciantes “proprietário ou o explorador
rural que apenas fabrica ou manufactura os produtos do terreno que agriculta
acessoriamente à sua exploração agrícola, nem o artista industrial, mestre ou
oficial de ofício mecânico que exerce directamente a sua arte, indústria ou
ofício, embora empregue para isso, ou só operários, ou operários e máquinas.”
Pelo que decorre deste artigo conclui-se que aquilo que releva é a actividade
transformadora, se esta for uma actividade acessória relativamente à
exploração agrícola então, C não é considerado comerciante. Se por outro lado,
a actividade de transformação for uma actividade principal paralelamente à
exploração agrícola, C é considerado comerciante. O critério que de deve usar
para qualificar uma entidade de exploração agrícola que se ocupa também de
transformação e venda do produto, será então o da acessoriedade, mediante
análise nomeadamente do tempo dispendido na actividade, no investimento, o
trabalho desenvolvido. Se se concluir que a actividade principal é actividade
de transformação, então C deverá ser considerado comercial.
Mas, C além da actividade agrícola e transformadora dedica-se ainda à
venda dos seus produtos numa loja, assim, ele vende directamente sem
intermediário fornecedor os seus produtos por si transformados. Conforme
decorre do art. 464.º n.º 2 CC “Não são consideradas comerciais: As vendas
que o proprietário ou explorador rural faça dos produtos de propriedade sua ou

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por ele explorada e dos géneros em que lhes houverem sido pagas quaisquer
rendas” Daqui se conclui portanto, que as venda realizadas por um produtor
rural para revenda são civis, contudo, a compra de tais produtos será
comercial, nos termos do art. 463.º n.º 1 CCM, pelo que nos termos do art. 99.º
CCM se aplicará quanto à compra e venda no seu todo, o regime do CCM
salvo np que se refere à solidariedade conforme estabelece o art. 100.º CCM.
Mas a questão neste caso é diferente porque C não vende o produto
original, como sucederia com fruta por exemplo, C antes de proceder à venda
do produto tem de transforma-lo, será então considerado comerciante? C só
será considerado comerciante em virtude do exercício de venda de produtos na
loja, se tiver sido considerado comerciante a título transformador dos produtos,
porque neste caso, a actividade principal será a transformação, sendo a venda
do mesmo produto uma espécie de secção da indústria transformadora.
Se C não foi considerado como comerciante, em virtude da sua actividade de
exploração ser meramente acessória à exploração agrícola, então quando
procede à venda dos produtos nua loja também não deve ser considerado
comerciante.

Resta apenas concluir que C preenche os requisitos do art. 13.º


CC uma vez que tendo capacidade para o exercício de direito, porque em nada
resulta o contrário, faz deste profissão e pratica os actos de comercio em nome
próprio.
É ainda dito que a loja de C a funcionar em Beja, se encontra instalada
num prédio arrendado, pelo que aqui importa descortinar se se trata ou não de
um arrendamento comercial, nos termos do art. 110.º RAU “ considera-se
realizado para comércio ou indústria o arrendamento de prédios ou parte de
prédios urbanos ou rústicos tomados para fins directamente relacionados com
uma actividade comercial ou industrial.” Neste caso a actividade
desempenhada no prédio é uma actividade comercial, logo, o arrendamento
tem-se como comercial. Assim, apesar do arrendamento constar de lei civil, o
acto será objectivamente comercial.

B) Considerando C um comerciante, por preenchimento dos requisitos


do art. 13.º CCM, o acto de compra de tintas será subjectivamente comercial,
se se encontrarem preenchidos os respectivos requisitos, do art. 2 CCM. É
primeiramente necessário que o acto seja praticado por um comerciante, pelo
que este requisito se encontra preenchido porque como vimos C é considerado
comerciante.
Além disso, os actos para serem subjectivamente comerciais, não
podem ser de natureza exclusivamente civil. Sendo que só são de natureza
exclusivamente civil os actos de natureza extra-patrimonial, como actos
familiares e sucessórios. Assim só são actos de comércio aqueles de natureza
patrimonial, aqui não se suscita problemas uma vez que tratando-se de uma
compra o acto não é de natureza exclusivamente civil.

APONTAMENTOS - T.Nogueira
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Por fim Mas nem todos os actos praticados por comerciantes de natureza
patrimonial são subjectivamente comerciais, tal só sucede “se do contrário do
próprio acto não resultar” art. 2 CCM in fine. Assim, um acto patrimonial
praticado por um comerciante, só não é subjectivamente comercial, se da
prática do acto resultar o contrário, isto é desde que haja desconexão com a
actividade praticada pelo comerciante.
Deste modo, se na compra das tintas, C se identificasse como
comerciante do ramo agrícola, resultaria claramente da prática do acto a falta
de conexão com a sua actividade, pelo que o acto não seria subjectivamente
comercial. Se nada fosse, dito, em contrário, o acto seria encarado como sendo
subjectivamente comercial. Contudo esta diferenciação não releva porque em
qualquer dos casos o regime a aplicar seria o do CCM, porque como sabemos
aos actos unilateralmente comercias, se aplica o disposto no art. 99.º CCM
pelo que “Embora o acto seja mercantil só com relação a uma das partes será
regulado pelas disposições da lei comercial quanto a todos os contratantes,
salvo as que só forem aplicáveis àquele ou àqueles por cujo respeito o acto é
mercantil, ficando, porém, todos sujeitos à jurisdição comercial” destacando-se
como excepção o regime da solidariedade previsto no art. 100.º CCM.
Além de ser subjectivamente comercial a compra seria ainda
objectivamente comercial, porque se destina ao exercício de uma actividade
comercial.
Sendo a compra das tintas efectuada por uma associação de
agricultores, o acto não poderia ser qualificado como subjectivamente
comercial. Assim sucede porque como sabemos os actos subjectivamente
comercias, são aqueles que são praticados por comerciantes, e uma associação
deste género não é comerciante, art. 14.º CCM É proibida a profissão do
comércio: 1.º Às associações ou corporações que não tenham por objecto
interesses materiais;” As associações e fundações que não tenham por objecto
interesses materiais, não podem ser comerciantes. Esta norma, não impede
contudo, que tais entidades fiquem impossibilitadas de praticar actos de
comércio desde que respeitem os limites da sua capacidade jurídica, conforme
o estabelecido no art. 160.º CC, contudo, apesar de praticarem actos de
comércio, não podem ser qualificadas como comerciantes.
Nestes termos o que podemos suscitar é se a compra poderá ser objectivamente
comercial, ao que respondemos afirmativamente porque a tinta vai ser usada
no âmbito de uma actividade comercial, a venda de produtos dos agricultores,
logo será objectivamente comercial. Mais uma vez, destacamos que esta
qualificação não é muito importante porque se a compra não fosse comercial
aplicar-se-ia na mesma o regime do CCM, por aplicação do art. 99 CCM,
porque a venda será a priori comercial.
Resta agora analisar a contratação do pintor. Como sabemos este
desempenha uma actividade de prestação de serviços, sendo que em nenhuma
disposição do CCM se qualifica a prestação de serviços como sendo uma
actividade comercial, contudo, tem-se entendido a qualificação desta
actividade como sendo comercial, mediante o recurso à analogia iuris,

APONTAMENTOS - T.Nogueira
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Direito da actividade comercial

permitindo a partir de princípios de direito comercial, qualificar certas


actividades como comercias. Contudo, note-se que a actividade de prestação
de serviços apenas é considerada de índole comercial no caso de ser exercida
no âmbito empresarial, pelo que o pinto que trabalha por conta própria não
possuindo qualquer organização empresarial por de trás da sua actividade não
poderá ser considerado como comercial.
Contudo, ainda que o pintor não pratique uma actividade comercial,
por não possuir uma empresa, a prestação de serviços por ele desempenhada
será de âmbito comercial, por se destinar a uma empresa, assim o regime
jurídico a aplicar será o do CCM, em virtude do art. 99.º CCM.

 M, Guitarrista, possui uma banda de Rock “M&M sound” sendo


sócio único de uma sociedade comercial, conhecida como “Rock&Rock” que
se destina à gravação e emissão de discos. M comprou recentemente uma
guitarra e uma mesa de mistura para o estúdio da editora.
C é considerado comerciante?

 Vamos começar por analisar a actividade de M enquanto músico,


pelo que se conclui do art. 464.º n.º 3 CCM “Não são consideradas comerciais:
As compras que os artistas, industriais, mestres e oficiais de ofícios mecânicos
que exercerem directamente a sua arte, indústria ou ofício, fizerem de objectos
para transformarem ou aperfeiçoarem nos seus estabelecimentos, e as vendas
de tais objectos que fizerem depois de assim transformados ou aperfeiçoados”
Assim, em regra o nosso ordenamento jurídico exclui da actividade industrial o
exercício de actividades intelectuais, entre as quais de inclui a música. Assim,
por esta via, M não pode ser considerado comerciante.
E ainda referido que M é sócio unitário de uma sociedade comercial,
sendo que nos termos do art. 13.º n.º 2 as sociedades comerciais são
consideradas comerciantes. Assim, além das pessoas singulares também as
sociedades comercias podem ser comerciantes, sendo que de acordo com o art.
1.º Código das Sociedades Comerciais (CSC) são sociedades comercias:
3. Requisito substancia: Aquelas que tenham por objecto a prática de
actos de comércio;”
4. Requisito formal: E adoptem o tipo de sociedade em nome
colectivo, de sociedade por quotas, de sociedade anónima, de sociedades em
comandita simples ou de sociedade em comandita por acções”
Contudo, apesar de M ser sócio único da sociedade, quem adquire a qualidade
de comerciante é a sociedade e não o sócio, deste modo, se conclui que por
esta via M também não pode ser considerado comerciante.
Note-se que para que a própria sociedade seja considerada comercial é
necessário que além do preenchimento do requisito formal, enumerado acima,
tenha por objecto a prática de actos de comércio. Aqui não temos qualquer
dúvida em afirmar que esta sociedade pratica actos de comércio, porque tal

APONTAMENTOS - T.Nogueira
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Direito da actividade comercial

decorre directamente da lei, art. 230.º n.º 5 CCM “Haver-se-ão por comerciais
as empresas, singulares ou colectivas, que se propuserem: Editar, publicar ou
vender obras científicas, literárias ou artísticas”
Relativamente à compra da guitarra, parece que estamos perante uma compra
subjectiva e objectivamente civil, destinando-se o objecto para uso pessoal,
subjectiva porque não é efectuada por um comerciante e objectivamente civil
porque não consta do art. 463.º nem 4634.º nem se destina ao desenvolvimento
de uma actividade empresarial. Quanto à mesa de mistura, destinada para a
gravação dos discos poderá ser uma compra subjectivamente comercial, de
acordo com ao art. 2 CCM, uma vez que, foi praticada por um comerciante,
neste caso a sociedade comercial na pessoa de M, é o acto de natureza
patrimonial, e desde que o contrário do próprio acto não resultar. De qualquer
dos modos, a compra será objectivamente comercial porque de destina ao
desenvolvimento de uma actividade comercial.
De qualquer dos modos na compra da guitarra, apesar da compra ser civil
aplicar-se-á o regime do CCM em virtude da aplicação do art. 99 CCM, salvo
no que concerne à aplicação do regime da solidariedade.

Caso pratico:

A é comerciante em nome individual. É casado com B no regime de comunhão


de adquiridos. Têm dois filhos menores. Há 5 meses A comprou mercadoria
diversa para revenda no seu estabelecimento, cujo pagamento devia ser
efectuado nos 30 dias seguintes, o que nunca aconteceu.
a) Quem pode o credor responsabilizar pelo pagamento da divida?

Resolução:
O credor pode pedir responsabilidades no pagamento desta divida ao
comerciante e também a sua esposa, isto porque analisando o art. 1691º, a
responsabilidade por uma divida comercial é de ambos os cônjuges se forem
casados num regime de comunhão (o que se verifica pois são casados no
regime de comunhão de adquiridos), se a divida foi contraída no exercício do
comércio (que também acontece, visto A ter comprado mercadoria para
revenda no seu estabelecimento, tendo em conta o art. 15º do código comercial
– presunção) e, finalmente, se houver proveito comum do casal (em principio
existe pois todo o acto comercial gera beneficio para toda a família). E como
os requisitos são cumulativos e visto estarem preenchidos os 3, a
responsabilidade é atribuída a ambos os cônjuges.

Caso pratico:
C é comerciante e é casado desde 1999 no regime de comunhão geral de bens
com D. C possuiu um estabelecimento onde se dedica a venda de vinhos. No
mês passado, organizou uma festa em sua casa e foi a um hipermercado
comprar 30 garrafas de vinho, as quais foram consumidas na referida festa.

APONTAMENTOS - T.Nogueira
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Direito da actividade comercial

Admitindo que C fica devedor dessa mercadoria, diga quem pode ser
responsabilizado por este pagamento.

Resolução:
O credor vai responsabilizar o casal na medida em que se presume do
art. 15º do código comercial, que todo o acto praticado no exercício do seu
comercio, assim como se presume do art. 1691º, 1, d) que o facto que deu
origem a esta divida gerou proveito comum do casal. Verificando-se estes dois
requisitos, mais o facto do casal estar casado num regime de comunhão, nos
termos do art. 1691º, 1, d) a divida comercial pode ser imputada a ambos os
cônjuges pois estão preenchidos, cumulativamente, os 3 requisitos necessários.

Caso prático: (nosso)


A comerciante em nome individual detém uma papelaria. No passado
mês de Maio adquiriu uma viatura para transporte das suas mercadorias,
a qual começou a pagar
Em prestações. Em setembro passado deixou de pagar as prestações. Sabendo
que A é casado com B no regime da comunhão geral de bens e que tem dois
filhos menores, verifique se é aplicável a alínea d) do n.º 1 do 1691 do C.
Civil.

Resolução:
De acordo com o n.º 1 do 1690 A tem legitimidade para contrair dívidas sem o
consentimento do cônjuge.
Quando o facto que deu origem á divida ocorreu, já eram casados, logo
verifica-se o n.º 2 do 1690.
A viatura foi adquirida para o exercício do comércio segundo 15 do C.
Comercial, como esta lei estabelece uma presunção legal, logo verifica-se este
requisito, a compra da viatura, ou seja o negócio subjacente á divida gerou
proveito comum do casal, mesmo que não tenha sido imediatamente evidente a
nível económico, presume-se que gerou bem-estar familiar.
Como são casados em comunhão geral de bens e a alínea d) só fala em
separação de bens, logo neste caso concreto respondem solidariamente os bens
comuns do casal de acordo com1695 C. Civil, ou na falta destes, os bens
próprios de cada um.
Como se verificam os 3 requisitos e são comulativos, logo pode-se aplicar a
alínea d) do n.º 1 do 1691.
Neste caso concreto é difícil ilidir quer a presunção do 15, bem como o
proveito comum do casal. Quanto á presunção do 15 é difícil de ilidir esta
presunção porque o próprio enunciado diz que a viatura foi comprada para o
exercício da actividade comercial de A. Quanto á presunção do proveito
comum do casal, também esta presunção não é ilidivel porque é óbvio que ou
imediatamente ou a curto prazo esta aquisição vai gerar bem-estar familiar, na
medida em que vai permitir uma vivência familiar mais pacifica, mais calma
quer a nível físico de A quer a nível mental e intelectual.

APONTAMENTOS - T.Nogueira
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Direito da actividade comercial

Admita que o credor interpôs a acção contra ambos os cônjuges e que o


cônjuge B contestou a acção dizendo que se encontra separado de facto de A,
isto á mais de 2 anos, sendo que A não presta alimentos nem a B nem aos
filhos. Estes factos condicionam a invocação da alínea d) do n.º 1 do 1691?
Assim, verifica-se que não houve proveito comum do casal, sendo A e B
separados á mais de 2 anos e como o negócio é de Maio passado, logo é
evidente que estes factos ilidem a presunção da alínea d) n.º 1 do 1691. È
obvio que B não beneficia da aquisição da viatura.

Caso prático (nosso)


A comerciante em nome individual tem uma loja de fazendas e é casado com
B desde 97 no regime da comunhão geral de bens. Em Junho de 2000 adquiriu
diversas fazendas para revender no seu estabelecimento comercial. Não pagou
o valor acordado na data devida, pelo que o credor após diversas tentativas de
acordo de pagamento decidiu interpor uma acção judicial contra A e B.
È possível aplicar a alínea d) do n.º 1 do 1691?

Resolução:
De acordo com o n.º 1 do 1690 tem A legitimidade para contrair dívidas
sem o consentimento de B
Quanto ao facto que deu origem á divida ocorreu A e B eram casados,
logo verifica-se o n.º 2 do 1690.
As fazendas foram adquiridas em pleno exercício da actividade comercial
de A, logo verifica-se a presunção legal a que se refere o 15 do C.
Comercial, então também se verifica este requisito.
Lógico é que de acordo com o n.º 1 alínea d) do 1691 que houve proveito
comum do casal, porque o proveito que advirá da revenda das fazendas
irá gerar bem-estar á família, logo e de acordo com o referido artigo
verifica-se a presunção legal aí prevista, logo se verifica este requisito.
Como são casados em comunhão geral de bens e alínea só exceptua os
casados em separação de bens, neste caso concreto e de acordo com 1695
respondem solidariamente A e B com os bens comuns do casal.
Verificam-se os três requisitos e como são comulativos, pode o credor sem
duvida alguma interpor uma acção judicial contra A e B.
Neste caso concreto é difícil ilidir quer a presunção do 15, bem como o
proveito comum do casal. Quanto á presunção do 15 não se pode na
medida em que o próprio enunciado nos diz que A comerciante de
fazendas e se as comprou para revender, é óbvio que está no pleno
exercício da sua actividade comercial. Quanto á presunção do proveito
comum do casal, é lógico que o facto que esteve subjacente á divida irá
gerar lucro o que se irá reflectir a vários níveis no que concerne ao bem-
estar familiar.
Admita que em 1999 iniciou um processo de divórcio que transitou em
julgado em Janeiro de 2000.

APONTAMENTOS - T.Nogueira
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Direito da actividade comercial

Á data do negócio que esteve subjacente á divida já não havia casamento,


logo não posso aplicar estas normas, até porque já não havia cônjuge á
data do negócio.
Admita que a sentença é de Janeiro de 2001 e hoje é que a acção foi
interposta.
Assim existe casamento, existe cônjuge, logo são os dois responsáveis.
Admita que estas fazendas eram quentinhas e como se estava a aproximar
o Natal A comprou as fazendas para doar a uma instituição.
Ilide a presunção do 15 porque A não comprou as fazendas as fazendas
em pleno exercício da sua actividade comercial. Ilide também o proveito
comum do casal, porque não houve. Assim, só se verifica o 3.º requisito,
mas como os três requisitos são comulativos, não podemos de forma
alguma aplicar o n.º 1 alínea d) do 1691.

Caso prático (nosso)


A comerciante em nome individual, casado com B no regime da comunhão
de adquiridos e tem 2 filhos menores. A tem uma papelaria e no passado
1/10 adquiriu diverso material escolar para revender sendo que o
pagamento seria efectuado a 30 dias. Até hoje ainda não pagou a factura e
o credor pretende exigir o pagamento. Pode segundo o n.º1 da alínea d) do
1691?

Resolução:
De acordo com o n.º 1 do 1690 A tem legitimidade para contrair dívidas
sem o consentimento do seu cônjuge.
Quando o facto que deu origem á divida ocorreu A e B já eram casados,
logo verifica-se o n.o 2 do 1690.
O material escolar foi adquirido para revender em pleno exercício da sua
actividade comercial de A, logo verifica-se a presunção legal a que se
refere o 15, então verifica-se este requisito.
De acordo com o n.º 1, alínea d) do 1691, houve proveito comum do casal,
dado que com o lucro da revenda do material escolar adviria uma mais
valia a nível familiar e toda a família iria beneficiar com isso, logo e de
acordo com este artigo verifica-se a presunção legal aí prevista, logo
verifica-se também este requisito.
Como são casados no regime da comunhão de adquiridos e a alínea d) só
exceptua os casados em separação de bens, logo neste caso e de acordo
com 1695 respondem solidariamente A e B com os bens comuns do casal.
Verificam-se os três requisitos e como são comulativos, pode o credor
exigir o seu pagamento interpondo uma acção judicial contra A e B.
Neste caso concreto não é possível ilidir as presunções legais, ou seja, a 15
e proveito comum do casal.

Caso pratico:

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Direito da actividade comercial

A é comerciante em nome individual e detém uma papelaria. É casado com B


desde 2000, no regime de comunhão de adquiridos e tem um filho menor. Em
fevereiro de 2001 adquiriu uma viatura para efectuar o transporte das suas
mercadorias. Admita que A não efectuou o pagamento.
a) Aplicam-se os requisitos constantes no art. 1691º, 1, d)?
Neste caso é aplicável o art. 1691º, 1, d) do código civil porque:
A e B são casados no regime de comunhão de adquiridos.
A divida foi contraída no exercício do seu comercio pois A comprou a viatura
para poder efectuar o transporte da sua mercadoria e não esquecendo também
que o art. 15º do código comercial, presume que todas as dividas contraídas
pelos comerciantes, o são no exercício do seu comercio.
Houve proveito comum do casal (como o próprio artigo presume) uma vez que
A adquiriu a viatura para desenvolver a sua actividade comercial e, como tal,
gerar beneficio para toda a família.
Como todos os requisitos são cumulativos e visto estarem preenchidos os 3, a
responsabilidade é de ambos os cônjuges, aplicando-se plenamente o art.
1691º, 1, d) do código civil.
b) Que bens do património do casal poderão responder pelo pagamento desta
divida?
Os bens comuns do casal ou o bem próprio de qualquer um dos cônjuges (por
solidariedade) podem responder pela totalidade da divida.

Caso prático
A é comerciante em nome individual e tem um estabelecimento onde se dedica
ao comércio de vinhos. É casado com B desde 1995 no regime de comunhão
de adquiridos. Têm um apartamento propriedade de ambos, um automóvel
propriedade de A e um terreno propriedade de B. em outubro de 1998, A
adquiriu vinhos para revenda, cujo pagamento não efectuou.
a) Diga se é aplicável o art. 1691º, 1, d).
Neste caso é aplicável o art. Porque:
A e B são casados no regime de comunhão de adquiridos.
A divida foi contraída no exercício do comercio, pois A comprou vinhos para
revenda no seu estabelecimento e não esquecendo também que o art. 15º do
código comercial presume que todas as dividas contraídas pelo comerciante
são contraídas no exercido do seu comercio.
Houve proveito comum do casal (como o próprio art. Presume) uma vez que A
adquiriu os vinhos para desenvolver a sua actividade comercial e, como tal,
gerar beneficio para toda a família.
Como todos os requisitos são cumulativos e visto estarem os 3 preenchidos, a
responsabilidade é de ambos os cônjuges, aplicando-se plenamente o art.
1691º, 1, d).
b) Dos bens constantes do enunciado, quais respondem em 1º lugar?

APONTAMENTOS - T.Nogueira
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Direito da actividade comercial

Segundo o art. 1695º, em primeiro lugar responde o apartamento, visto ser um


bem comum do casal. Em segundo lugar e como há solidariedade, pode
responder qualquer um dos bens, sem ordem obrigatória.

Caso prático:

A, titular de uma empresa de construção civil, é casado com B no regime de


comunhão de adquiridos.
A, adquire para a sua empresa, equipamentos de escritório e ainda duas obras
de arte, destinando-se o equipamento aos escritórios da Direcção e as obras de
arte para a Sala de Reuniões.
A, não pagou os respectivos preços.

a) Caracterize a empresa em questão.

A é titular de uma empresa reputada de comercial em face do Artº. 230/6 do C.


Com., pois trata-se de uma empresa de construção civil a qual certamente
visará a construção e edificação de casas.
O Artº. 230º é uma norma qualificadora no sentido de qualificar as empresas
comerciais e consequentemente as actividades dessas empresas como
comerciais.

O citado preceito, contudo, também nos fornece um elenco implícito de actos


objectivamente comerciais, em virtude de as mencionadas actividades não
serem mais que uma massificação de actos, ou seja, é possível decompor as
ditas actividades em actos, os quais, porque tipificados na lei e de acordo com
o Artº. 2º/1, 1ª parte do C. Com. Serão considerados objectivamente
comerciais.

Quanto a esta problemática, existem duas posições doutrinais defendidas, uma


por Lobo Xavier e outra por Coutinho de Abreu.

Diz Lobo Xavier que os actos implícitos do Artº. 230º só serão objectivamente
comerciais se forem actos fundamentais e se houver conexão com a actividade
da empresa.

Coutinho de Abreu não fala na fundamentabilidade dos actos porque, para ele,
os actos do elenco implícito do 230º só serão objectivamente comerciais se
forem típicos, ou seja, característicos daquela actividade.

Parece mais defensável esta última posição, o que corresponde a dizer que só
os actos típicos ou caracterizadores das actividades comerciais merecerão a
qualificação de actos de comércio objectivos, embora implicitamente.

b) Prove que o sujeito é comerciante.

APONTAMENTOS - T.Nogueira
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Direito da actividade comercial

A, porque titular de uma empresa comercial, é comerciante.

O titular de quaisquer empresas do Artº 230º é comerciante pela conjunção


desse preceito com o Artº 13º/1 e Artº 2º/1ª parte do C.Com.

Diremos que o titular de uma empresa comercial, ao desenvolver uma


actividade comercial, pratica, necessariamente, actos que se incluem na
respectiva actividade.

Tais actos são objectivamente comerciais e, por isso mesmo, abrangidos na 1ª


parte do artº 2º. Deste modo ainda serão actos atributivos da qualidade de
comerciante, em face do Artº 13º/1, pois tratam-se de actos objectiva e
substancialmente comerciais, praticados habitualmente profissionalmente e
com um fim em si mesmo. Logo estão preenchidos os pressupostos do Artº
13º/1.

c) Qualifique os actos em apreço.

A, adquiriu para a sua empresa equipamento de escritório e as duas obras de


arte para a sala de reuniões.

A aquisição do material de escritório e das obras de arte não parece poder ser
qualificada como acto objectivamente comercial, nem explícita nem
implicitamente, pois não se trata nem de compra para revenda (Artº 463), nem
se trata de um acto típico da actividade desenvolvida pela empresa.

Para estes actos serem reputados de comerciais, só o poderão ser


subjectivamente.

Para estarmos em face de um acto subjectivamente comercial, é necessária a


verificação de três pressupostos cumulativos:
- o sujeito tem de ser comerciante e, neste caso, é, como atrás se provou;

- os actos em abstracto, de acordo com o tipo negocial, não podem ter


natureza exclusivamente civil, ou seja, terão de possuir natureza patrimonial,
como é o caso em análise;

- apelando à teoria da impressão do declaratário e às circunstâncias que


rodearam a prática do acto, deveremos observar se um homem médio,

APONTAMENTOS - T.Nogueira
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Direito da actividade comercial

colocado na posição do real declaratário, conclui se o acto tem ou não conexão


com o comércio daquele comerciante.
Daqui, temos que averiguar o que resulta e, no nosso caso, quanto à aquisição
do material de escritório resulta que tem conexão e o acto é subjectivamente
comercial.

Quanto à aquisição das obras de arte, não resulta que tem conexão, e o acto é
civil.

Assim, concluímos que a dívida aquisição do material de escritório é comercial


e a dívida da aquisição das obras de arte não é comercial, é civil.

d) Diga quem e que bens responderão por estas dívidas.

Dado que A é casado com B em comunhão de adquiridos, importa agora


caracterizar a dívida comercial como comunicável, pois, só assim, se
responsabilizará ambos os cônjuges e o credor verá aumentada a garantia
patrimonial.

Tendo em conta o Artº. 15º do C.Com. e o Artº 1691/1-d) do CC, dir-se-á que:
- Existem duas presunções legais ilidíveis que visam facilitar a tarefa do credor
e aumentar a sua garantia.

Estas presunções facilitam a tarefa ao credor porque, em face destas duas


disposições, o credor só terá de provar que A é comerciante e que a dívida
emergiu de um acto de comércio.

Provados estes dois factos, está automaticamente accionada a presunção do


exercício de comércio (Artº 15º C.Com.) e seguidamente a presunção do
proveito comum (Artº 1691/1-d) CC).
Accionada a primeira presunção, a segunda é automaticamente accionada.

Se assim for, a dívida da aquisição do material de escritório é comunicável, e


serão responsabilizados ambos os cônjuges.

O cônjuge de A, na situação concreta, dificilmente conseguiria ilidir alguma


das presunções mas, se conseguisse ilidir a presunção do Artº 15º do C.Com., o
credor podia ainda assim responsabilizá-lo pelo Artº 1691/1-c) CC, tendo,
todavia, o ónus de provar o proveito comum.

Se o cônjuge ilidisse a presunção do proveito comum, não seria


responsabilizado.

APONTAMENTOS - T.Nogueira
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Direito da actividade comercial

No entanto, reafirmamos que, nesta situação, não se vislumbra qualquer


possibilidade do cônjuge ilidir qualquer das presunções.

Deste modo, responderão pela dívida todos os bens comuns do casal (Artº
1695º) e na falta ou insuficiência deste, solidariamente, os bens de qualquer
dos cônjuges.

Quanto à dívida da aquisição das obras de arte, não sendo comercial, o credor
não beneficiará de qualquer presunção, podendo, no entanto, responsabilizar
ambos os cônjuges pelo Artº 1691/1-c), mas tendo o ónus da prova de proveito
comum.

Caso não consiga responsabilizar o cônjuge de A, apenas este responderá pela


dívida, nos termos do Artº 1696º/1 CC, respondendo em primeiro os bens
próprios dele e, subsidiariamente, a sua meação nos bens comuns.

2 - Caso prático:

António proprietário de um café onde exerce a sua actividade em prédio


arrendado a Bento, entra em negociações com Carlos, para efectuar o trespasse
do mesmo.

António notifica Bento para que este exerça o seu direito de preferência, o que
ele veio a fazer negativamente.

António celebra então o contrato de trespasse do café com Carlos mas antes de
proceder à entrega do estabelecimento, retira todo o mobiliário, bem como as
máquinas que se encontravam no interior do recinto.

No dia seguinte, António comunica a Bento quem é o novo arrendatário.

Carlos ao deparar com o estado em que lhe foi entregue o pretenso café quer
agora vir a arguir a invalidas do negócio.

Quid Iuris?

António pode efectuar o trespasse do seu estabelecimento comercial com


Carlos sem a prévia autorização do senhorio, nos termos do Artº 115/1 RAU.
Todavia, antes de efectuar o trespasse, António tem que notificar Bento para
que este tome conhecimento das condições do trespasse e efective, ou não, o
direito de preferência que a lei lhe reconhece, nos termos do Artº 116/1 RAU.

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Direito da actividade comercial

Esta condição foi cumprida e Bento não excedeu o seu direito de preferência,
logo António podia celebrar com Carlos o contrato de trespasse.

Após a celebração do contrato de trespasse, António comunicou ao senhorio


do imóvel arrendado, o novo arrendatário, nos termos do Artº 1038-g) CC.

Carlos pode arguir a invalidade do contrato de trespasse por via do Artº 115/2-
a) RAU, uma vez que António nunca poderia ter retirado do café nem o
mobiliário nem as máquinas, uma vez que estes utensílios fazem parte do
âmbito mínimo que integram o estabelecimento e que, obrigatoriamente têm
que o acompanhar.

3 - Caso prático:

António, comerciante no ramo da restauração resolveu contrair um


empréstimo junto de uma instituição bancária no sentido de remodelar o seu
estabelecimento.

O empréstimo ascendeu a 10000 contos, tendo até hoje apenas pago 1000
contos.

Também no sentido de melhorar o seu estabelecimento resolveu adquirir um


ecrã gigante para instalar no seu café, melhorando assim a qualidade televisiva
que proporcionava aos seus clientes.
Nada declarou nesse sentido.

António é casado com Berta no regime de comunhão geral de bens,


encontrando-se separado de facto hà 4 anos. Todavia, continua a contribuir
para os encargos da vida familiar, proporcionando aos seus filhos alguma
qualidade de vida.

Diga se António é comerciante.

António para ser comerciante terá que praticar com carácter de


profissionalidade e reiteradamente, actos objectiva e substancialmente
comerciais e absolutos, nos termos do Artº 13/1 C. Com.

De acordo com o Artº 2º - 1ª parte do C. Com., actos objectivos são aqueles


que a lei comercial explicitamente enumera e aqueles que se retiram do elenco
implícito fornecido pelo Artº 230, que descreve actividades que se traduzem
numa massificação de actos.

António não é titular de uma empresa comercial, porque a actividade


por ele desenvolvida não consta do rol descrito no Artº 230 , mas pratica actos

APONTAMENTOS - T.Nogueira
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Direito da actividade comercial

cuja comercialidade radica neles próprios, ou seja, a compra e venda para


revenda, explicitamente tipificada no Artº 463 C. Com.. Deste modo, o
requisito necessário para que António adquira a qualidade de comerciante está
preenchido.

Pronuncie-se acerca dos actos em questão.


António contraiu um empréstimo junto de um banco para remodelar o
seu estabelecimento onde exercia a actividade de restauração.

Este acto está objectivamente tipificado no Artº 394 C.Com., mas para
este acto ser comercial tem de estar em conexão com a actividade comercial,
ou seja, o empréstimo só será qualificado como acto objectivamente comercial
se tiver conexão com a actividade do comerciante.

Verificam-se em concreto os pressupostos para que tal acto seja


qualificado como objectivamente comercial, de acordo com o Artº 2, 1ª parte.

Quanto à aquisição do ecrã gigante, há a referir que este acto não está
tipificado na lei comercial, por isso, a ser reputado de comercial, só o poderá
ser subjectivamente.

Para que um acto possa ser considerado subjectivamente comercial é


necessário que se verifiquem três requisitos cumulativos, a saber:
É necessário que o sujeito seja comerciante o que é o presente caso,
como atrás ficou demonstrado;

Os actos em abstracto não podem ter natureza exclusivamente civil, ou


seja, terão de possuir natureza patrimonial, como acontece neste caso;

Apelando à teoria da impressão do declaratário e às circunstâncias que


rodearam a prática do acto, deveremos observar se um homem médio,
colocado na posição do real declaratário conclui se o acto tem ou não conexão
com o comércio daquele comerciante.

Daqui temos de aferir o que resulta e no presente caso não resulta que
não tenha conexão com a actividade do comerciante.

Em situação de dúvida como a que chegamos, o acto é qualificado


como subjectivamente comercial.

Deste modo conclui-se que as dívidas emergentes, quer do empréstimo,


quer da aquisição serão reputadas como dívidas comerciais.

APONTAMENTOS - T.Nogueira
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Faculdade de Direito da Universidade Lusíada
Direito da actividade comercial

Quem responde pelas dívidas comerciais e em que termos:

Dado que António é casado com Berta em comunhão geral de bens, importa
agora caracterizar a dívida comercial como comunicável, pois só assim se
responsabilizará ambos nos cônjuges e o credor verá aumentada a garantia
patrimonial.

Tendo em conta o Artº15 C. Com. E o Artº 1691-d) dir-se-á que existem duas
presunções legais ilidíveis que visam facilitar a tarefa do credor e aumentar a
sua garantia.

Estas presunções facilitam a tarefa ao credor porque, em face destas duas


suposições o credor só terá que provar que António é comerciante e que a
dívida emergiu de um acto de comércio. Provados estes dois factos está
automaticamente accionada a presunção do exercício do comércio – Artº 15 C.
Com e presunção do proveito comum – Artº 1691/1-d) CC. Accionada a
primeira presunção acciona-se automaticamente a segunda.

Sendo assim, as dívidas contraídas por António são comunicáveis e serão


responsabilizados ambos os cônjuges.

O cônjuge do António na situação concreta dificilmente conseguiria ilidir


algumas das presunções, mas, se conseguisse ilidir a presunção do Artº 15, o
credor podia ainda assim responsabiliza-lo pelo Artº 1691/1-c) CC, tendo
todavia o ónus de provar o proveito comum.

Se o cônjuge ilidisse o proveito comum não seria responsabilizado. No entanto


reafirmamos que, nesta situação não se vislumbraria qualquer possibilidade do
cônjuge ilidir qualquer das presunções. Assim sendo, responderão pela dívida
todos os bens comuns do casal – Artº 1695 CC

Imagine que Berta o consulta no sentido de saber se é possível responsabilizar-


se pelas dívidas do marido. O que lhe diria?

Berta apesar de estar separada de facto, recebe contribuições de António para


ocorrer aos encargos normais da vida familiar. Ocorrendo uma separação de
facto, continua o cruzamento de patrimónios, não existindo uma separação
entre estes, situação que só se verifica quando haja uma decisão judicial de
separação. Nesta circunstância o cônjuge não terá qualquer hipótese de se
desresponsabilizar tendo que responder perante as dívidas contraídas por
António.

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Direito da actividade comercial

Teorias DO ACESSÓRIO – Todos os actos conexos com actividades


mercantis, ou seja actos acessórios do comércio, serão comerciais,
mesmo que praticados por não comerciantes – Artº 2º – 2ª parte C.
Comercial.

TEORIA FRANCESA (para actos conexos):


 Os actos comerciais conexos, pelo facto de terem conexão com o exercício
ou com a actividade do agente, implicam que o agente é comerciante: A
doutrina portuguesa só aceita esta teoria se verificar o 3º requisito – O que
resulta;
 Actos acessórios conexos com actos do comércio, objectivos e absolutos,
ou seja, a possibilidade dos não comerciantes virem a praticar actos acessórios
de actos objectivos e absolutos. A n/ doutrina não aceita esta teoria.

marcas
Caso prático relativo a esta matéria:

A infotrónica, produtos de informática, Lda, tem por objecto a produção e


comercialização de hardware e software para computadores pessoais. Para esse
efeito explora uma cadeia de estabelecimentos denominados “micro mestres”
espalhados por todo o país, onde vende entre outros, dois produtos da marca
“masters” produzidos e distribuídos por uma empresa multinacional, e as
aplicações para escritório da marca “master- office”, desenvolvidas pelos seus
próprios técnicos e programadores. Para além desta vertente, a infotrónica
detém ainda 100% do capital social da “giga soluções”, informática, Lda, que
produz e distribui processadores da marca “luso intel” e monitores da marca
“shell PC”

1. Poderá a proprietária da marca “masters” reagir contra a marca “master-


office”? Se achar que sim, explique em que circunstancias e por que formas?
2. A “giga soluções” foi recentemente contactada pelos proprietários das
marcas intel e shell que ameaçaram com processos judiciais no caso de as
marcas “luso intel” e “shell PC” não serem imediatamente retiradas do
mercado. Parece-lhe que tem razão?
3. A, proprietário da loja de electrodomésticos “mestre micro” situada em
Braga, pretende reagir contra o nome “micro mestres”. Em que circunstâncias
poderá ter sucesso?
4. A sociedade “giga solutions, Inc” multinacional com sede nos EUA,
pretende também reagir contra a firma “giga soluções” parece-lhe possível
uma tal reacção contra um sinal distintivo desta natureza?
5. A infotrónica teve conhecimento de uma empresa de software com o
nome de “mestre office. Terá alguma possibilidade de atacar o uso desse
nome?

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Direito da actividade comercial

1.A marca é um sinal distintivo susceptível de representação gráfica,


destinada sobretudo a distinguir certos produtos de outros produtos idênticos
ou afins. Os princípios orientadores na constituição da marca estão em
consonância com o que se disse em relação à constituição da firma, nome e
insígnia, e vêm regulados nos art. 222.º ss CPI.
“ A marca pode ser constituída por um sinal ou conjunto de sinais susceptíveis
de representação gráfica, nomeadamente palavras, incluindo nomes de pessoas,
desenhos, letras, números, sons, a forma do produto ou da respectiva
embalagem, desde que sejam adequados a distinguir os produtos ou serviços
de uma empresa dos de outras empresas” “ A marca pode, igualmente ser
constituída por frases publicitárias para os produtos ou serviços a que
respeitem, desde que possuam carácter distintivo, independentemente da
protecção que lhe seja reconhecida pelos direitos de autor”
A constituição das marcas é muito mais aleatória do que a constituição das
firmas, assim, uma marca pode ser constituída por um sinal nominativo, por
sinais auditivos, por desenhos, símbolos, combinação de sons, de palavras,
desenhos etc. As marcas identificam produtos, quer eles sejam produzidos por
empresas ou não, assim sucede porque apensar da grande parte das produtos
serem produzidos em empresas, pode um produto ser produzido por um não
empresário, como sucede com os cientistas, investigadores, e pessoas famosas
que registam o seu nome.
Durante muito tempo a principal função das marcas limitou-se a ser distintiva,
a distinguindo sobretudo produtos afins e a indicar a origem do produto.
Actualmente a marca não é só vista do ponto de vista de finalidade distintiva
de produtos afins, mas também como uma finalidade informativa, pelo que a
marca nos dá a conhecer diferentes características do produto em causa, como
a origem. Paralelamente, a marca tem ainda como função satisfazer interesses
do seu comercializador, uma vez que é um excelente meio de publicidade.
A marca pode ser constituída de modo quase ilimitado, mas terá sempre
subjacentes questões relacionadas com marketing e com a obtenção da maior
clientela possível. Assim, a marca protege sobretudo o seu titular.
Por último a marca tem ainda como função, garantia de qualidade do produto.
Em suma a marca tem como funções: distintiva; publicitária, indicação de
origem, protecção do comercializador; garantia de qualidade.
Na constituição de uma marca devem ser tidos em conta vários princípios
jurídicos, que não podem se violados, como princípio da verdade, da novidade,
da capacidade distintiva, da unidade e da licitude.
No caso em apreço, estamos perante uma situação em que a proprietária da
marca de jogos masters pretende reagir contra a marca master-office, contudo,
esta pretensão apenas terá sucesso no caso da designação da marca princípio
da novidade. De acordo com este princípio uma marca que é registada tem de
ser nova, ou seja, tem de conferir ao seu titular o seu direito de uso exclusivo.
A protecção das marcas é efectuada em relação às restantes que digam respeito
a produtos afins ou idênticos, assim se houver a possibilidade de confusão ou
associação de marcas, devemos atender ao produto que ela identifica, sendo

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Direito da actividade comercial

que se for um produto semelhante ou afim o registo da marca deve ser


recusado, pelo que vigora aqui o princípio da especialidade: art. 238.º al. m
CPI “ É ainda recusado o registo de marcas que contendam em todo ou alguns
dos seus elementos: reprodução ou imitação, no todo ou em parte, de marca
anteriormente registada para produtos ou serviços idênticos ou afins que possa
induzir em erro ou confusão o consumidor ou que compreenda o risco de
associação coma marca registada” a redacção do artigo é clara, apenas é
deixado ao intérprete a análise do que são produtos afins, é importante
esclarecer o que isto seja, sendo que se entende como produtos afins aqueles
que embora sendo diferentes são substitutos entre si. A este propósito devemos
atender ao disposto no art. 245.º CPI que estabelece o que constitui a imitação
ou usurpação da marca. O artigo estabelece requisitos cumulativos: “ A marca
registada considera-se imitada ou usurpada por outra, no todo ou em parte,
quando, cumulativamente: a marca registada tiver prioridade; sejam ambas
destinadas a assinalar produtos idênticos ou afins; tenham tal semelhança
gráfica, figurativa ou fonética ou outra que induza facilmente o consumidor em
erro ou confusão, ou que compreendas um risco de associação com marca
anteriormente registada, de forma que o consumidor não as possa distinguir
senão depois de um exame atento ou confronto. N.º 2 para efeitos da alínea b
do n.º 1: Os produtos que estejam inseridos na mesma classe de classificação
de Nice podem não ser considerados afins; Os produtos e serviços que não
estejam inseridos na mesma classificação de Nice podem ser considerados
afins. N.º 3 Considera-se imitação ou usurpação parcial de marca o uso de
certa denominação de fantasia que faça parte de marca alheia anteriormente
registada.” Este artigo deixa de fora aquelas marcas que sendo semelhantes se
destinam a produtos diferentes, porque entende a lei que nestes casos não há
possibilidade de confusão. Por isso, se a marca se tentar apropriar do prestígio
da outra não obstante da diferenciação de produtos, o seu titular o gozará da
protecção conferida pelo art. 242.º CPI relativo às marcas de prestígio. Note-se
apenas que para aferir a possibilidade de confusão de produtos temos de
atender ao consumidor médio, ao produto em causa, e ao tipo de púbico a que
o produto se destina. O princípio da novidade quanto ao registo de marcas,
abrange outros sinais distintivos, por isso, o registo de uma marca deve ser
recusado se a sua designação possuir elementos de “firma, denominação
social, logótipo, nome e insígnia de estabelecimento, ou apenas parte
característica do mesmo, que não pertençam ao requerente, ou que o mesmo
não esteja autorizado a usar, se for susceptível de induzir o consumidor em
erro ou confusão” art. 239.º al. f CPI.
O princípio da novidade, tem ainda aplicação importante no que se refere à
protecção de marcas que apesar de se referirem a produtos diferentes, podem
gerar a risco de associação.
Temos assim se analisar face ao caso em concreto, se se encontram
preenchidos os requisitos que permitem a reacção contra a marca. Assim, tem
de haver possibilidade de confusão entre as partes, possibilidade de induzir o
público em erro, e registo prioritário da marca que pretende reagir, tendo como

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base o consumidor médio. Analisando aspectos nominativos da marca e a sua


fonética bem como eventual possibilidade de confusão ou associação de
produtos temos de concluir que poderá de facto, haver possibilidade de
confusão de associação, porque para além do nome ser idêntico, as marcas
identificam produtos facilmente associáveis, jogos de computador e software
para escritórios, resta agora saber se poderá ou não haver possibilidade de
indução do público em erro, ao que parece haverá possibilidade de indução do
público em erro, embora tal avaliação no caso concreto tenha de se basear em
mais informações nomeadamente nas cores, formato das caixas em que é
embalado produto, etc.
Resta por fim, que para que a marca possa reagir, que esteja registada e que a
data do registo seja anterior àquele da marca que se pretende reagir, assim
consta do art. 11 CPI “Salvo as excepções previstas no presente diploma, a
patente, o modelo de utilidade ou o registo é concedido a quem primeiro
apresentar regularmente o pedido com os elementos exigíveis” estando
preenchidos estes requisitos, havendo portanto violação do princípio da
novidade, a proprietária da marca atingida poderá reagir: poderá ser requerido
a anulação do registo da marca, nos termos do art. 266.º CPI. Que estabelece
os casos em que o registo da marca é anulável, sem prejuízo do disposto no art.
34 do mesmo diploma.
Haverá ainda a possibilidade de requerer a inibição do uso da marca nos
termos do ar. 258.º CPI mediante a acção inibitória,” O registo da marca
confere ao seu titular o direito de impedir terceiros, sem o seu consentimento,
de usar, no exercício de actividades económicas qualquer sinal igual, ou
semelhante em produtos ou serviços idênticos ou afins daqueles para os quais a
marca foi registada, e que, em consequência da semelhança entre os sinais e da
afinidade dos produtos e serviços, possa causar um risco de confusão, ou
associação no espírito do consumidor” sendo que se este uso gerar danos será
ainda possível accionar o infractor mediante responsabilidade civil nos termos
do art., 483.º CC.
Por fim, a proprietária poderá ainda reagir por via criminal pelo uso ilegal de
marcas nos termos do art. 323.º e 234.º CPI.
Estes mecanismos de reacção apenas se aplicam a marcas registadas, mas
imagine-se contudo, que a marca não se encontrava registada em Portugal,
ainda assim a proprietária da marca poderia reagir, mediante três institutos. O
primeiro mecanismo de protecção é aquele conferido pelas marcas notórias,
aquelas que embora não sendo registadas no nosso pais, são conhecidas em
Portugal, pelo que conforme estabelece o art. 241.º CPI “deve ser recusado o
registo de marca que no todo ou em parte essencial, constituída reprodução,
imitação ou tradução de outra notoriamente conhecida em Portugal, se for
aplicada a produtos ou serviços idênticos ou afins e com ela possa confundir-se
ou se, dessa aplicação, for possível estabelecer uma associação com o titular da
marca notória”
Esta norma tem assim como objectivo, salvaguardar o interesse público e
acautelar a possibilidade de confusão, evitando que um empresário português

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se aproveite de uma marca estrangeira, e a adopte nos seus produtos idênticos


ou semelhantes, sendo que não sendo a marca registada em Portugal não
poderia o registo ser recusado se esta norma não existisse. Note-se contudo,
que a marca tem que ser notória, isto é objectivamente conhecida em Portugal,
sob pena deste regime não se aplicar.
O segundo mecanismo de reacção prende-se com o instituto da concorrência
desleal, prevista no art. 317.º código de propriedade industrial. De acordo com
este instituto não pode um comerciante cometer actos contrários aos usos do
comércio, nomeadamente adoptar designações semelhantes, ou factos
distintivos de outras firmas, sob pena de ser accionado contra si uma acção de
responsabilidade civil nos termos gerias do 483.º CC. Por último Poderá ainda
o lesado socorrer-se do instituto conhecido como Membros da União de Paris,
que congrega um conjunto de membros comerciantes titulares de firmas com
sede na U.E. estes comerciantes estão protegidos em todo o espaço da união
quanto à sua designação e sinais distintivos quer nos países onde se encontram
registados quer nos países que embora o sendo, exercem actividade.

2. A questão suscitada neste caso é semelhante à anterior relativa à


constituição das marcas e à eventual violação do princípio da novidade, vamos
contudo, presumir que estas marcas não se encontram registadas em Portugal,
porque encontrando-se registada a solução é a mesma do número anterior
Assim, além dos mecanismos de protecção previstos no número anterior
relativos à protecção das marcas notórias, da concorrência desleal e da
protecção dos membros da união de paris, existe outro mecanismo que
podemos chamar aqui à colação, o regime das marcas de prestígio, são macas
que embora não sendo registadas no nosso pais, são aqui conhecidas, a
diferença em relação às marcas notórias relaciona-se com o âmbito de
protecção quanto à espécie de produtos, uma vez que já não se exige a
possibilidade de confusão de produtos derivados da sua afinidade, não é
necessário que exista identidade de produtos, passando-se assim sobre o
requisito da possibilidade de confusão, bastará a possibilidade de associação
do produto à marca em causa. “ Sem prejuízo do disposto no artigo anterior, o
pedido de registo será igualmente recusado se a marca, ainda que destinada a
produtos ou serviços sem identidade ou afinidade, constituir tradução, ou for
igual ou semelhante, a uma marca anterior que goze de prestígio em Portugal
ou na Comunidade Europeia, se for comunitária, e sempre que o uso da marca
posterior procure tirar partido indevido do carácter distintivo ou do prestígio da
marca, ou possa prejudica-las.

3. Neste caso em concretos A proprietário de um estabelecimento, quer reagir


contra uma marca, baseando-se na violação do princípio da novidade. O nome
e a insígnia são coisas diferentes apesar de se encontrarem associados.
Diferentemente do que se passa com a constituição das firmas, em que a sua
constituição é obrigatória, a constituição de nome e de insígnia é facultativa.
Contudo, normalmente é usual a adopção de um nome, até porque grande parte

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do aviamento do estabelecimento está dependente da sua capacidade para se


distinguir dos restantes estabelecimentos concorrentes, sendo que essa
distinção passa em grande parte pelo nome do estabelecimento.
O nome pode ser entendido como o sinal nominativo constituído por palavras,
que designa ou individualiza um estabelecimento enquanto a insígnia diz
respeito a um sinal figurativo ou emblemático, constituído por, desenhos,
símbolos, sinais figurativos que identificam o estabelecimento, assim consta do
art. 284.º do código de propriedade industrial, (CPI). “ Considera-se insígnia
de estabelecimento qualquer sinal externo composto de figuras desenhos,
simples combinações com os nomes ou denominações referidos no artigo
anterior, ou com outras palavras ou divisas desde que o conjunto seja adequado
a distinguir o estabelecimento”.
Quer o nome quer a insígnia estão regulados nos artigos 282.º ss CPI. “ Todos
os que tiverem legítimo interesse, designadamente agricultores, criadores,
industriais, comerciantes e demais empresários, domiciliados ou estabelecidos
em qualquer lugar do território português, têm o direito de adoptar um nome e
uma insígnia para designar, ou tornar conhecido, o seu estabelecimento, nos
termos das disposições seguintes.”
De acordo com os artigos 283.º e 284.º CPI, a constituição do nome e insígnia
obedece ao princípio da liberdade, qualquer nome, expressão, desenho,
símbolo é válido, não tendo o nome de ter qualquer relação com o
estabelecimento ou com a actividade prestada. art. 283.º “ Podem constituir
nome de estabelecimento: As denominações de fantasia ou específicas; Os
nomes históricos, excepto se o do seu emprego resultar ofensa da consideração
que, geralmente, lhes é atribuída; O nome da propriedade ou do local do
estabelecimento, quando este seja admissível, ou acompanhado de um
elemento distintivo; O nome, os elementos distintivos da firma ou
denominação social e o pseudónimo, ou alcunha, do proprietário; O ramo de
actividade do estabelecimento, quando acompanhado por elementos
distintivos.”
A constituição da insígnia, obedece a este princípio, pelo que pode ser
adoptado qualquer insígnia desde que “ o conjunto seja adequado a distinguir o
estabelecimento”, art. 284.º n.º 1 CPI.
A constituição de um nome e insígnia, para cumprirem a sua função
individualizadora, têm de ser novidade nos sentido destes serem distinguíveis
dos demais nomes e insígnias anteriormente já registadas. Ao exigir-se que a
constituição de um nome e de uma insígnia obedeça a este princípio estão a
salvaguardar-se, simultaneamente os interesses dos comerciantes, mas também
interesses públicos, de protecção dos bons costumes. O princípio da novidade
vêm expresso no art. 285.º CPI: “ Não podem fazer parte do nome ou insígnia
de estabelecimento: O nome individual, que não pertença ao requerente, salvo
se provar o consentimento ou legitimidade do seu uso; a frima ou a
denominação social que não pertença ao requerente, ou apenas parte
característica das mesmas, se for susceptível de induzir o consumidor em erro
ou confusão, salvo se se provar o consentimento ou a legitimidade do seu uso;

APONTAMENTOS - T.Nogueira
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As expressões “antigo armazém, antiga casa, antiga fábrica,” e outras


semelhantes, referidas a estabelecimentos cujo o nome ou insígnia sejam
registados a favor de outrem, a não ser que se prove o consentimento do
respectivo proprietário; As expressões “antigo empregado, antigo mestre,
antigo gerente “ e outras semelhantes, referidas a outra pessoa singular ou
colectiva, salvo se se provar o consentimento desta; as indicações de
parentesco e as expressões de “herdeiro, sucessor, representante, ou agente” e
outras semelhantes, excepto se se provar a legitimidade do seu uso” para
sabermos se um nome ou insígnia, é ou não confundível com outros já
existentes, temos de atender à sua fonética, grafia, ao ramo de actividade em
que se encontra, à localização geográfica, dimensão, etc. No âmbito das
firmas, a sua designação abrangia firma concorrentes e não concorrentes, pelo
que o nome não poderia em caso algum ser usado, assim sucede porque uma
firma apode exercer várias actividades. Relativamente ao nome e à insígnia de
um estabelecimento ou empresa, apesar deles se distinguirem uns dos outros
com base sobretudo no nome, não lhes é atribuída personalidade jurídica,
assim, este princípio quanto as empresas vale apenas para estabelecimentos
concorrentes. Assim podemos afirmar o princípio da especialidade, uma vez
que a novidade é apenas exigida para estabelecimentos com objecto idêntico
ou afim. Esta orientação retira-se literalmente do art. 285.º al. g CPI: “Não
podem fazer parte do nome ou insígnia de estabelecimento: Os elementos
constitutivos da marca, ou desenho ou modelo, protegidos por outrem para
produtos idênticos ou afins aos que se fabricam ou vendem no estabelecimento
a que se pretende dar o nome ou a insígnia, ou para serviços idênticos ou afins
aos que nele são prestados.” Assim, não podem fazer parte do nome de um
estabelecimento, nomes confundíveis com marcas e produtos afins produzidos
por outro estabelecimento.
Como sabemos, o nome do estabelecimento apenas é protegido no caso de
estarmos perante um nome registado, partindo do princípio que este requisito
está preenchido, para que se possa reagir é ainda necessário que a actividade
em causa seja concorrente e que haja possibilidade de gerar confusão no
público. Atendendo ao caso podemos concluir que as actividades são pelo
menos de modo indirecto concorrentes, pele que A terá possibilidade de reagir,
de acordo com os seguintes mecanismos:
Poderá haver desde logo haver a possibilidade de requerer a inibição do uso da
marca nos termos do ar. 258.º CPI mediante a acção inibitória,” O registo da
marca confere ao seu titular o direito de impedir terceiros, sem o seu
consentimento, de usar, no exercício de actividades económicas qualquer sinal
igual, ou semelhante em produtos ou serviços idênticos ou afins daqueles para
os quais a marca foi registada, e que, em consequência da semelhança entre os
sinais e da afinidade dos produtos e serviços, possa causar um risco de
confusão, ou associação no espírito do consumidor” sendo que se este uso
gerar danos será ainda possível accionar o infractor mediante responsabilidade
civil nos termos do art., 483.º CC.

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Poderá ainda haver lugar à declaração de nulidade ou anulação do registo do


nome e da insígnia, nos termos do art. 298.º e 299.º CPI. Paralelamente poderá
ainda haver lugar a responsabilidade civil nos termos gerais no caso de haver
danos resultantes do uso indevido do nome ou insígnia confundível. O art.
333.º CPI, estabelece ainda a possibilidade de aplicação de coima, poderá por
fim o lesado ser indemnizado nos termos gerais, art. 483º CC.

4. Neste caso estamos perante uma situação contrária da que se passava


no número anterior, temos uma marca que quer reagir contra o nome de uma
empresa que usurpou o nome da marca. Não estamos no caso em que uma
marca imita o nome de uma empresa, mas sim num caso em que um
estabelecimento imita o nome de uma marca. Mais uma vez estamos no âmbito
do princípio da novidade, sendo que a protecção da marca se faz nos termos do
art. 285.º n.º 1 al. g CPI “Fundamentos de recusa
1 - Não podem fazer parte do nome ou insígnia de estabelecimento: Os
elementos constitutivos da marca, ou desenho ou modelo, protegidos por
outrem para produtos idênticos ou afins aos que se fabricam ou vendem no
estabelecimento a que se pretende dar o nome ou a insígnia, ou para serviços
idênticos ou afins aos que nele são prestados;”. Mais uma vez, o requisito em
causa é que possa haver possibilidade de indução do público em erro.

CASO PRÁTICO - LETRAS

A dono de uma empresa de construção civil adquiriu a B, empresa de


construção, vários materiais no valor de 500.000 €. Acordaram os titulares das
respectivas empresas que o devedor aceitaria uma letra a 30 (trinta) dias no
valor de 100.000 €, aceitaria uma letra a 60 (sessenta) dias no valor de 200.000
€ e aceitaria uma letra a 90 (noventa) dias no valor restante (200.000 €). Todas
as letras eram pagáveis em dia fixo e no banco X.
Na segunda letra (200.000 € a 60 dias) verifica-se uma cadeia de
endossos, estando o título na data de vencimento, nas mãos do Senhor E,
portador legítimo.
O portador resolveu, neste segundo título, apôr uma cláusula “não à
ordem” e transmiti-la a C, seu credor. Não esquecendo que hoje, o título se
encontra nas mãos do Senhor E.

QUESTÕES:

1º) Indique os intervenientes na cadeia cambiária e justifique as suas


posições.

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RESPOSTA
A – Sacado (art.º 1.º LULL) , pessoa sobre a qual se emite o saque, a
quem é dada a ordem de pagamento, tornando-se somente obrigado cambiário
quando a mesma lhe seja apresentada e ele a subscreva (aceite) conforme art.º
28º da LULL, sendo que o aceite é escrito na própria letra e exprime-se pela
palavra “aceite”, ou outra equivalente, e é assinada pelo sacado. Como o saque
também o aceite terá de ser puro e simples.
A letra pode ser apresentada ao aceite do sacado até ao vencimento,
pelo portador ou até por um simples portador (nos termos do disposto no art.º
21 da LULL).
Se o sacado recusar o aceite, não se tornará obrigado pelo pagamento da
letra, nem será garante das obrigações cambiárias nelas expressas, sendo
legítimo ao portador fazer lavrar um protesto por falta de aceite (art.º 44º
LULL) e a exercer imediatamente os seus direitos (art.º 43º LULL).

B – Sacador (art.º 1 LULL), pessoa que emite o saque, isto é, que emite
uma ordem incondicional de pagamento de uma determinada soma pecuniária,
a realizar pelo destinatário (sacado), a certa pessoa (tomador) ou à sua ordem o
que acontece neste caso sendo por isso sacador/tomador, prometendo assim o
tomador (e aos sucessivos possuidores da letra)que fará com que o sacado
assuma a responsabilidade cambiária do pagamento (aceite) e pague a letra. De
acordo com o disposto no art.º 3.º da LULL o saque pode fazer-se :
a) à ordem do próprio sacador,
b) contra o próprio sacador,
c) por ordem e conta de terceiro.

C – Portador (art.º 6 LULL), que por endosso – nova ordem de


pagamento que acresce ao saque daí o dizer-se que “ o endosso é um novo
saque” emitida pelo portador actual ao novo portador e que se exprime pela
fórmula aposta na letra “pague-se a ...”, (o qual deve ser puro e simples e
compreender o valor total do título, sendo nulo o endosso parcial - art.º 12
LULL) – de B será a pessoa a quem o pagamento deverá vir a ser feito)

X – Lugar de pagamento (art.º 1.º LULL)

2º) Imagine que a primeira letra foi parcialmente paga. Pode o portador
exigir, nesse momento o restante? justifique.

RESPOSTA
O pagamento executa o cumprimento da ordem emitida pelo sacador.
O portador não pode ser obrigado a receber o se pagamento antes do
vencimento da letra (art.º 40 LULL), não pode igualmente recusar o
pagamento parcial, podendo o sacado exigir que o se faça menção da parte
paga na letra e dela lhe seja dada quitação (art.º 39 LULL), podendo

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relativamente na situação concreta reformar a letra pelo valor não sujeito a


pagamento.
Assim, o portador a quem não seja satisfeito o pagamento integral pelo
sacado ou seu avalista, poderá então apresentá-la a pagamento da diferença
não satisfeita aos outros subscritores da letra, que com a sua intervenção se
tornam também garantes, para isso porém é necessário e indispensável que se
faça certificar o não acatamento do sacado através do protesto.

3º) De quem pode o portador E exigir o pagamento do título? O que


significa a clásula “não à ordem” aposta pelo sacador?

RESPOSTA
A cláusula “não à ordem” ou equivalente (art.º 11º 2.ª parte, e art.º 77º
da Lei Uniforme) aposta na letra, implica que o direito nela representada só
possa transmitir-se pela forma e com os efeitos da cessão de créditos
disciplinada nos art.º s 577º e 588º do C. Civil, dominando aí o princípio nemo
plus iuris ad alium tranferre potest quam ipse haberet, e a posição do
adquirente é profundamente vulnerável dado que de acordo com as regras da
cessão de créditos (cfr. o disposto no art.º 583º n.º 1 do C. Civil) esta só produz
efeitos desde que seja notificada ao devedor ou que este a aceite, o qual
poderá opor ao cessionário, mesmo que este o ignore (art.º 789º do Código
Civil), todos os meios de defesa que lhe seria lícito invocar contra o cedente,
com ressalva dos que provenham de facto posterior à cessão (cfr. art.º 585º C.
Civil).
Assim, e porque o tomador da letra sacada “não à ordem” pode
endossá-la a terceiro, simplesmente esse endosso está privado da eficácia
normal, os efeitos que surte são os da cessão, daí que o endossante só assuma a
responsabilidade de um cedente de um crédito, respondendo pela sua
existência e legitimidade, já não pelo pagamento do sacado. Pelo que E pode
exigir o pagamento de A aceitante, dado que E é não é um portador autónomo,
é mero cessionário do seu antecessor e independentemente de boa fé podem-
lhe ser opostas todas as excepções relevantes em face dos portadores
anteriores.

4º) Imagine que no terceiro título (200.000 € a 90 dias), o aceitante


possui um avalista, Z, poderá o portador, D , demandar Z em primeiro lugar?
Justifique.

Z – Avalista, que se traduz numa obrigação de garantia dada por uma


pessoa a favor de outra que já é obrigada na letra, obrigação que pode ser
chamada a cumprir não beneficiando da excussão prévia da pessoa por quem
se vinculou dada a disposição expressa do art.º 47.º da LULL que determina
que os sacadores, aceitantes, endossantes ou avalistas são todos
“solidariamente” responsáveis para com o portador, e este tem o direito de

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accioná-las individual ou colectivamente, sem estar adstrito a observar a


ordem por que elas se obrigam.
O dador de aval torna-se responsável da mesma forma que a essa por
ele afiançada (art.º 39 LULL), mas a sua obrigação mantém-se , mesmo no
caso de a obrigação que ele garantiu ser nula por qualquer razão que não seja
um vício de forma (art.º 32 LULL).
Não pode contudo invocar contra a o portador que estiver na relação
imediata com a pessoa avalizada os meios de defesa que se baseiem na relação
fundamental invocáveis pelo avalizado, uma vez que não é sujeito de tal
relação e não estará assim na relação imediata com o portador, pelo facto de
ser só avalista de um obrigado imediato do portador.

RESPOSTA
Dada a desnecessidade de protesto para accionar o aceitante, para o
exercício da obrigação cambiária principal, bastando a apresentação do título a
pagamento na data de vencimento, o direito de acção do portador da letra de
câmbio contra o avalista do aceitante não depende igualmente de protesto por
falta de pagamento contra o avalista (art.º 53 LULL).
Assim, D pode demandar em primeiro lugar Z.

5º) D é o portador legítimo da terceira letra e constata que o endossante


C apôs uma cláusula “não à ordem” e que o sacador apôs uma cláusula “sem
despesas”.

CONSIDERAÇÕES PERTINENTES

A cláusula “não à ordem” ou equivalente (art.º 11º 2.ª parte, e art.º 77º
da Lei Uniforme) aposta na letra, implica que o direito nela representada só
possa transmitir-se pela forma e com os efeitos da cessão de créditos
disciplinada nos art.º s 577º e 588º do C. Civil, dominando aí o princípio nemo
plus iuris ad alium tranferre potest quam ipse haberet, e a posição do
adquirente é profundamente vulnerável dado que de acordo com as regras da
cessão de créditos (cfr. o disposto no art.º 583º n.º 1 do C. Civil) esta só produz
efeitos desde que seja notificada ao devedor ou que este a aceite, o qual
poderá opor ao cessionário, mesmo que este o ignore, todos os meios de defesa
que lhe seria lícito invocar contra o cedente, com ressalva dos que provenham
de facto posterior à cessão (cfr. art.º 585º C. Civil).
O sacador, um endossante ou um avalista podem, pela cláusula “sem
despesas”, “sem protesto” ou outra equivalente (art.º 46 da Lei Uniforme)
aposta na letra dispensar o portador de fazer o protesto por falta de aceite ou de
pagamento,, para se habilitar a exercer os seus direitos de acção (art.º 46
LULL).
- a) Diga de quem pode o portador exigir o pagamento do título e
porquê ?

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RESPOSTA
Os efeitos restritivos da cláusula “não à ordem” apenas aproveitam ao
endossante que a apôs, sendo que os efeitos da cláusula não se estendem ao
endossado imediato, o endossante que a apôs tem a normal responsabilidade
cambiária, não aproveitando igualmente ao contrário do que acontece quando
inserida pelo sacador, aos demais endossantes (art.º 15 LULL).
A cláusula “sem despesas” quando inscrita pelo sacador estende-se a
todos os signatários da letra produzindo todos os seus efeitos em relação a
todos eles (art.º 46LULL).
Pelo que o portador D pode exigir o pagamento da letra do aceitante.

- b) Imagine que o portador quer accionar os obrigados de garantia


conjuntamente, mas não realizou protesto.

RESPOSTA
Impende sobre o portador o ònus do protesto, bem como o de avisar da
falta de aceite ou pagamento o seu endossante e o seu sacador - nos termos do
artigo 45 da LULL - terá de o fazer dentro de quatro dias úteis que se seguirem
ao que teria para apresentação do protesto.
Devendo cada um dos endossantes por sua vez, dentro dos dois dias
úteis que se seguirem à recepção do aviso, avisar o endossante do aviso que
recebeu .
A cláusula “sem despesas” quando inscrita pelo sacador estende-se a
todos os signatários da letra produzindo todos os seus efeitos em relação a
todos eles.
Pelo que o portador pode accionar os obrigados de garantia sem a
realização do protesto.

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INDICE

Titulo I......................................................................................................................1
Parte geral................................................................................................................1
1. Evolução histórica do direito comercial...............................................................1
2. Noção de direito comercial português.................................................................2
3. Fontes do direito comercial português.................................................................3
4. A autonomia do direito comercial e a sua relação com o direito civil................3
Titulo II....................................................................................................................5
Dos actos de comércio em geral.............................................................................5
1. Noção de acto de comércio..................................................................................5
2. Actos de comércio objectivos..............................................................................6
3. Qualificação dos actos de comércio por analogia:...............................................7
4. Princípios de direito comercial............................................................................7
5. Actos de comércio subjectivo..............................................................................8
6. Classificação dos actos de comércio..................................................................10
6.1 Actos de comércio autónomos:....................................................................10
6.2 Actos de comércio acessórios:.....................................................................10
6.4 Actos formalmente comerciais.....................................................................11
6.5 Actos substancialmente comercias...............................................................11
6.6 Actos bilateralmente comerciais.................................................................11
6.7 Actos unilateralmente comerciais................................................................11
Capítulo I................................................................................................................17
Secção I..................................................................................................................17
Dos comerciantes...................................................................................................17
1. Sujeitos qualificáveis como comerciantes.........................................................17
1.1 Requisitos essenciais para obtenção da qualidade de comerciante no caso
das pessoas singulares:.......................................................................................17
1.2 As pessoas colectivas como comerciantes:..................................................19
2. Sujeitos não qualificáveis como comerciantes...................................................20
3. Consequências jurídicas da qualificação de um acto como comercial..............22
3. Estatuto dos comerciantes..................................................................................23
Secção II.................................................................................................................23
A empresa..............................................................................................................23
1. A empresa em sentido jurídico...........................................................................23
1.1 A empresa em sentido objectivo e subjectivo..............................................24
1.2 Quando é que temos uma empresa?.............................................................25
2. Tipologia das empresas......................................................................................26
Titulo II..................................................................................................................30
Sinais distintivos de comércio................................................................................30
1. A firma...............................................................................................................30
1.2 Noção...........................................................................................................30
1.3 Formas de constituição de uma firma..........................................................30
2. Nome do estabelecimento:.................................................................................31
3. Insígnia do estabelecimento...............................................................................31
4. Princípios jurídicos............................................................................................31

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5. Mecanismos de protecção da firma:...................................................................34


6. Alteração da firma..............................................................................................35
7. Transmissão da firma.........................................................................................35
8. Vicissitudes das firmas.......................................................................................36
Secção II.................................................................................................................37
A propriedade industrial.........................................................................................37
O nome e a insígnia................................................................................................37
1. Noção.................................................................................................................37
2. A constituição do nome e insígnia.....................................................................38
3. Princípios jurídicos............................................................................................39
4. Protecção do nome e da insígnia de um estabelecimento:.................................42
4.1 A concorrência desleal.............................................................................43
5. Transmissão do nome e da insígnia:..................................................................43
6. Extinção dos direitos emergentes do uso do nome e insígnia:...........................44
Secção III...............................................................................................................46
A marca..................................................................................................................46
1. Noção.................................................................................................................46
1.1 Constituição de uma marca..........................................................................46
2. Espécies de marcas.............................................................................................46
2.1 natureza das actividades a que se ligam.......................................................46
2.2 Atendendo aos possíveis titulares das marcas..............................................46
2.3 As marcas podem ainda ser notórias ou marcas de prestígio:.....................47
3. Função das marcas.............................................................................................48
4. princípios jurídicos.............................................................................................48
5. A tutela legal das marcas...................................................................................51
5.1 O princípio da prioridade cronológica.........................................................51
5.2 O registo.......................................................................................................52
6. Tutela das marcas:..............................................................................................53
6.1 Tutela marcas não registadas ou marcas de facto........................................54
6.2 Limitações dos direitos conferidos pelo registo...........................................54
7. Extinção dos direitos conferidos pelas marcas, art. 265.º CPI:..........................55
8. Transmissão das marcas.....................................................................................55
9. Licenciamento da marca....................................................................................57
10. Recompensas (arts. 271.º e ss).........................................................................58
Titulo III.................................................................................................................61
Títulos de crédito...................................................................................................61
1. Conceito de crédito............................................................................................61
2. Características....................................................................................................61
2.1 Classificação dos TC quanto à circulabilidade:...........................................62
3. Prescrição – Art.º 70 LULL: Em relação aos intervenientes:............................63
4. Função e conceito de título de crédito:..............................................................66
5. Características gerais do título de crédito..........................................................67
6. Títulos impróprios..............................................................................................71
7. Tipologia – Classificações:................................................................................71
8. Critério do conteúdo do direito cartular:............................................................72
10. Critério da natureza da entidade emitente:.......................................................74
11. Principais títulos de crédito - Os títulos cambiais: Letra, Livrança e Cheque. 75

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11. Extinção e reforma dos títulos de crédito:.......................................................83


12. Ineficácia do título:..........................................................................................84
13. Extinção do direito cartular:.............................................................................84
Parte 1....................................................................................................................85
A Letra de câmbio:.................................................................................................85
1. Requisitos formais da letra.................................................................................85
2. Falta dos requisitos essenciais. A letra em branco.............................................86
3. Os negócios jurídicos cambiários:.....................................................................86
3.1 O Saque:.......................................................................................................86
3.2 O Aceite – Art.º 28 LULL:..........................................................................87
3.3 O Endosso – Art.º 11 e ss. LULL:...............................................................87
3.3.1 A cláusula “não à ordem”.....................................................................88
3.4 O Aval – Art.º 30 a 32 LULL:.....................................................................89
4. Características da obrigação cambiária:.............................................................89
5. Vencimento e pagamento da letra – Art.º 33 e ss. LULL:.................................91
6. Protesto – Art.º 44 LULL:..................................................................................91
6.1 O protesto por falta de aceite......................................................................91
6.2 O protesto por falta de pagamento...............................................................92
7. Prescrição – Art.º 70 LULL:..............................................................................92
8. Acções de regresso – Art.º 43, 47 e 48 LULL:..................................................92

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