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RESUMO ESQUEMATIZADO

DE
DIREITO COMERCIAL

ELABORADO POR: SANDRO

PARTE I INTRODUÇÃO CAPÍTULO 1


EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO COMERCIAL 17
CAPÍTULO I EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO COMERCIAL
• A autonomização do direito comercial em sentido próprio, enquanto sis tema normativo
autónomo que tem por objecto regular a actividade mer cantil, surge associada a um direito
de classe, aplicável aos comerciantes organizados em corporações que tinham o seu estatuto
próprio, cujos lití gios eram dirimidos por juízes nomeados entre comerciantes (cônsules) em
tribunais próprios (consulados) – o que lhe conferiu, desde logo, um forte pendor subjectivista.

• A actividade dos mercadores tinha como fonte reguladora sobretudo cos tumes (regionais
ou locais), que foram, mais tarde, objecto de compilações, que consolidaram um conjunto
alargado de regras, institutos e princípios jurídicos próprios do ius mercatorum.

• O pendor subjectivista do direito comercial, enquanto direito da classe dos comerciantes,


manteve-se até à Revolução Francesa (1789), da qual resultou a promulgação do Code de
Commerce (1807), que mostrou ser incompatível com um direito da classe corporativa dos
comerciantes. De um Direito dos Comerciantes passou-se a um Direito do Comércio (dos actos
do comércio, da actividade mercantil).

• O Code de Commerce teve uma influência determinante nas codificações mercantis


oitocentistas (em Espanha, Portugal e Itália), destacando-se a existência, nestes
ordenamentos jurídicos, de um Código Civil e de um Có digo Comercial. Como excepções à
influência do Code de Commerce, deve apontar-se o código comercial alemão (1897), que
acolheu uma concepção subjectivista do direito mercantil, bem como o Codice Civile (1942),
obra do fascismo italiano, que aboliu a separação entre o Direito Civil e o Direito Comercial.
Em Portugal, até à chegada das codificações oitocentistas, a actividade co mercial
(especialmente o comércio marítimo, o abastecimento público e a estabilização dos preços)
era regulada sobretudo por costumes, não obs tante a sua importância de facto, resultante do
crescimento do comércio externo provocado pelas descobertas marítimas e ultramarinas. É,
todavia, de assinalar a constituição das companhias coloniais privilegiadas, em briões das
futuras sociedades anónimas, caracterizadas pela limitação da responsabilidade patrimonial
dos sócios e pela transmissibilidade das par ticipações destes. O Code de Commerce (1807)
foi a principal fonte de inspiração dos códigos comerciais oitocentistas portugueses (o Código
Comercial Ferreira Borges, de 1833, e o Código Comercial Veiga Beirão, de 1888), de pendor
marcada mente objectivista.
• O ordenamento jurídico angolano recebeu, aquando da independência, o direito comercial à
data vigente em Portugal, com destaque para o Código Comercial Veiga Beirão, ainda hoje em
vigor, não obstante numerosas alte rações e revogações. Nos primeiros tempos da
independência, a economia angolana foi marcada por um forte dirigismo, o que deixava pouca
margem de expansão ao direito comercial. Naturalmente, a produção legislativa neste domínio
foi escassa.Apenas com a alteração constitucional de 1992, que deu lugar a uma nova
Constituição Económica, e, em particular, com o fim da Guerra Civil, em 2002, foram criadas as
condições para o desenvolvimento do direito comer cial, tendo sido, nas duas décadas
subsequentes, aprovados numerosos di plomas sobre matérias comerciais específicas, que
deram lugar a um corpo de direito comercial especificamente angolano. Entre estes diplomas
pon tifica a Lei das Sociedades Comerciais, aprovada pela Lei n.º 1/2004, de 13 de Fevereiro.

• Com a aprovação da Constituição da República de 2010, o ordenamento an golano passou


a consagrar com maior amplitude a liberdade de iniciativa económica privada e a tutela da
propriedade privada. Ao nível legislativo, o impulso dado pelo progresso económico levou a
uma nítida aceleração da criação de legislação comercial e a um processo de modernização do
direito comercial angolano, o qual se encontra presentemente em curso

CAPÍTULO 2 AS FONTES DO DIREITO COMERCIAL


• A lei é hoje a fonte de direito comercial predominante. Isso exprime-se tan to a nível
quantitativo (a generalidade das regras de direito comercialsão regras legais), quanto anível
qualitativo (as mais importantes regras de di reito comercial são regras legais).

• O costume, sendo em abstracto admitido como fonte de direito comercial, tem hoje uma
importância meramente residual no domínio comercial.

• Os usos do comércio não têm uma vinculatividade própria. Apenas vincu lam, à partida, nos
termos do artigo 3.º do Código Civil, quando a lei reme ter para eles, o que sucede com
abundância no Código Comercial.

• Os usos podem ainda ser tornados relevantes pelas partes de contratos co merciais, no
âmbito da autonomia privada. Assim sucederá quando as par tes, através dos clausulados dos
contratos comerciais, remeterem para os usos mercantis.

• Os usos do comércio têm ainda relevância no preenchimento de cláusulas gerais civis, como
a do declaratário normal (artigo 236.º, n.º 1, do Código Civil) ou a da vontade hipotética das
partes (artigo 239.º do Código Civil), as quais disciplinam a formação e o conteúdo dos
contratos comerciais

• A jurisprudência não é fonte de direito comercial. Contudo, as especiais necessidades de


segurança e previsibilidade do tráfego comercial tornam imperioso que o estudo dos
problemas jurídico-comerciais atenda às ten dências jurisprudenciais e recomendam a
estabilidade no sentido de deci são dos mesmos

• O sistema de fontes do direito comercial moderno caracteriza-se pela sua abertura a fontes
externas: relevam, a este propósito, as regras decorrentes de convenções internacionais em
matéria comercial e as regras integrantes da chamada lex mercatoria.

• São ainda fontes de direito comercial as normas regulamentares emiti das por autoridades
reguladoras de sectores do comércio (como o Banco 42 PARTE 1 — INTRODUÇÃO Nacional de
Angola, a Comissão do Mercado de Capitais e a Agência Ango lana de Regulação e Supervisão
de Seguros), bem como os actos de soft law.

• Sempre que uma questão jurídico-comercial não encontrar solução na legis lação comercial,
o critério de decisão deve ser preferencialmente procurado através de aplicação analógica de
regras comerciais não directamente aplicá veis. Apenas inexistindo uma regra de direito
comercial que regule um caso análogo ao caso que não encontra regulação nas fontes
comerciais se deve recorrer subsidiariamente ao direito civil, enquanto direito privado comum.

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CAPÍTULO 3 ACTOS DE COMÉRCIO
A qualificação de um acto como comercial assenta na norma delimitadora constante do artigo
2.º do Código Comercial.

• Os actos de comércio podem ser contratos, negócios jurídicos unilaterais, simples actos
jurídicos ou até factos jurídicos ilícitos.

• São actos de comércio objectivos aqueles que se encontram referidos na primeira parte do
artigo 2.º do Código Comercial: «todos aqueles que se achem especialmente regulados na
presente lei e demais legislação com plementar».

• Os actos de comércio objectivos são aqueles (i) que se encontram previstos e regulados no
Código Comercial; e (ii) regulados na legislação extravagan te complementar, que pode ser
anterior ou posterior ao Código Comercial. Sendo posterior, esta tanto pode proceder a uma
substituição de partes re vogadas do Código Comercial ou de outra legislação mercantil, como
pode desenvolver matérias já previstas no Código Comercial ou pode simples mente integrar
uma regulamentação sobre uma figura nova no ordenamen to jus-comercial angolano.

• Admite-se o recurso à analogia legis na atribuição de comercialidade a um acto, mas já não o


recurso à analogia juris, dado que esta implica o recurso a princípios gerais de direito
comercial, o que não se compadece com a falta de unicidade do conceito de acto de comércio.
25 Neste sentido, veja-se o acórdão do Tribunal Provincial de Luanda, referente ao processo
n.º 0985/09-B, de Mar ço de 2013, que entendeu que a taxa de juro legal correspondia a dez
por cento (10%), valor que foi determinado através da média das taxas de juro praticadas
pelos bancos comerciais a operarem em Angola. Mais recentemente, o Tribunal Supremo
determinou uma taxa de juro legal de doze por cento (12%), que teve por referência a taxa de
juro de oito vírgula setenta e cinco por cento (8,75%) fixada pelo Banco Nacional de Angola
(acórdão proferido no processo n.º 1901/2012, de 25 de Setembro de 2014).

• Por sua vez, são actos de comércio subjectivos aqueles que se encontram previstos na
segunda parte do artigo 2.º do Código Comercial: «todos os contratos e obrigações dos
comerciantes, que não sejam exclusivamente civis, se o contrário do próprio acto não
resultar».

• Em princípio, todos os actos e responsabilidades dos comerciantes são sub jectivamente


comerciais. Só não serão qualificados como actos de comércio subjectivos (i) aqueles que
forem exclusivamente civis, por não serem en quadráveis num género que tenha, pelo menos,
uma espécie comercial, e por não serem conexionáveis com o exercício do comércio do
comerciante, e (ii) aqueles que o comerciante consiga provar que são exteriores ao exer cício
do seu comércio.
• São actos de comércio autónomos aqueles actos cuja comercialidade lhes assiste de per se
ou lhes é inerente de forma autónoma, independentemen te de terem sido praticados por
comerciantes, ou de terem uma especial ligação com outro acto de comércio; são actos
acessórios aqueles cuja qua lificação depende duma especial conexão com o comerciante
(caso em que se fala de conexão subjectiva) ou com outro acto de comércio (falando-se, então,
de conexão objectiva).

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• São actos bilateralmente comerciais aqueles que revestem natureza comer cial para todas
as suas partes; são actos unilateralmente comerciais aqueles que apenas revestem
comercialidade para uma das partes, tendo natureza civil para outra parte.

• Perante a inexistência de norma especial, a validade dos actos mercantis não está sujeita a
nenhuma forma especial, podendo a vontade das partes ser exteriorizada por qualquer via:
oral ou escrita, física ou electrónica (des formalização do direito comercial).

• O princípio da liberdade de forma tem também como corolário o princípio da liberdade de


língua: salvo disposição em contrário, são válidos os títulos comerciais exarados em qualquer
língua (artigo 96.º do Código Comercial).

• Actualmente, verifica-se um renascimento do formalismo, com a introdu ção de exigências


de forma legal a propósito de um conjunto de contratos comerciais.

• Em direito civil, a regra geral é a da parciariedade das obrigações plurais (artigo 513.º do
Código Civil); em direito comercial, no que respeita às po sições passivas, a regra é a da
solidariedade (artigo 100.º do Código Comer cial), atenta a necessidade de conferir uma tutela
reforçada aos credores CAPÍTULO 3 — ACTOS DE COMÉRCIO 69 que estabeleçam relações
jurídicas com comerciantes (favor creditoris).

• Do § 2.º do artigo 100.º do Código Comercial resulta que a regra da solida riedade passiva
nas obrigações comerciais, contida no corpo do artigo 100.º do Código Comercial, tem
natureza supletiva, salvo se houver normas que cominam, em âmbitos específicos, a natureza
solidária das obrigações.

• Existe um regime próprio em matéria de prescrição presuntiva dos créditos dos empresários
emergentes de contratos de compra e venda mercantis (ou tipos contratuais similares)
unilateralmente comerciais (artigo 317.º, alínea b), do Código Civil), uma vez que se pressupõe
que o comerciante cobra de forma rápida e eficiente os seus créditos. O prazo de prescrição
em causa é de dois anos a contar da data em que o crédito se torna exigível (artigo 306.º, n.º
1, do Código Civil), salvo se a presunção de cumprimento for ilidi da, nos termos dos artigos
313.º e 314.º do Código Civil.

• O regime especial dos juros comerciais encontra-se plasmado no artigo 102.º do Código
Comercial, e as suas especificidades dependerão das moda lidades de juros em causa: juros
convencionais ou juros legais e juros remu neratórios ou juros moratórios.

• Nos juros comerciais também é aplicável (i) a proibição do anatocismo (ar tigo 560.º, n.º 1,
do Código Civil), salvo quando existir uso comercial que o admita, e (ii) a autonomia do crédito
de juro comercial face ao crédito prin cipal, a qual permite, designadamente, que cada um
desses créditos possa ser cedido ou extinguir-se sem o outro (artigo 561.º do Código Civil).
• Na ausência dos diplomas regulamentares para os quais a lei remete, a taxa de juro legal em
Angola deve ser determinada através da taxa de juro média praticada pelos bancos comerciais
a operar no país.

CAPÍTULO 4 CONTRATOS COMERCIAIS


• Os contratos comerciais são um instrumento jurídico de constituição, or ganização e
exercício da actividade comercial e têm regras próprias que os distinguem dos contratos civis.

• Aos contratos com cláusulas contratuais gerais aplica-se a Lei das Cláusu las Contratuais
Gerais (Lei n.º 4/2003, de 18 de Fevereiro), caracterizando- -se estes pela adesão do aderente
a cláusulas pré-formuladas, geralmente num contexto de contratação em massa.

• A Lei das Cláusulas Contratuais Gerais visa assegurar que o predisponente actua de boa-fé e
que o programa contratual, ainda que unilateralmente fixado, é adequado e proporcional,
para protecção do aderente. Essa protec ção verifica-se tanto na fase de formação do
contrato de adesão (sobretudo com a cominação de deveres de informação), como no plano
do conteúdo do contrato de adesão (principalmente com um elenco de cláusulas
absolu tamente e relativamente proibidas).

• O direito do consumo disciplina as relações dos comerciantes com os consumidores, visando


a protecção destes últimos, que geralmente se encontram numa situação de inferioridade
negocial perante uma contra parte profissional, sendo aplicável a Lei de Defesa do
Consumidor (Lei n.º 15/2003, de 22 de Julho).

• Devem distinguir-se, para efeitos de aplicação da Lei de Defesa do Consu midor, os


contratos celebrados entre comerciantes (relações B2B) e os con tratos celebrados entre
estes e os consumidores (relações B2C).

• A compra e venda será objectivamente mercantil quando se encontre pre enchido o artigo
463.º do Código Comercial, não se exigindo a qualidade de comerciante e destacando-se o seu
carácter especulativo.

• Das várias modalidades de compra e venda mercantil são de destacar (i) a compra e venda
mercantil para pessoa a nomear (artigo 465.º do Código Co mercial); (ii) a compra e venda
mercantil sobre coisa alheia, incerta ou inexis tente (artigo 467.º do Código Comercial); (iii)
a compra e venda à consignação.

• As particularidades do regime da compra e venda mercantil face ao regime do tipo


contratual da compra e venda civil (artigos 874.º a 938.º do Código Civil) reportam-se
sobretudo à obrigação de pagamento do preço e à eficácia real ou obrigacional da compra e
venda mercantil.

• O contrato de escambo ou de troca será mercantil nos mesmos casos em que o é a compra
e venda, e regular-se-á pelas mesmas regras estabelecidas para esta (artigo 480.º do Código
Comercial).

• O aluguer, que é uma das modalidades da locação comercial, «será mercantil quando a
coisa tiver sido comprada para se lhe alugar o uso» (artigo 481.º do Código Comercial) e será
regulado pelas disposições do Código Civil que re gem o contrato de aluguer e quaisquer
outras aplicáveis do Código Comercial.
• O mandato mercantil (artigos 231.º a 277.º do Código Comercial) consiste no contrato pelo
qual alguma pessoa (seja ou não comerciante) se encarrega de praticar um ou mais actos de
comércio em nome e por conta de outrem.

• No contrato de comissão (artigos 266.º a 277.º do Código Comercial), o man dante


(também designado comitente) encarrega o mandatário (também designado comissário) da
prática de actos de comércio, mas sem que sejam conferidos a este último poderes de
representação – permitindo-se, assim, ocultar a intervenção do comitente no negócio, o que
lhe pode ser conve niente quando pretenda que a contraparte do comitente nas relações
exter nas não conheça a sua identidade. O comissário actua em nome próprio, embora por
conta do comitente, ficando vinculado «como principal e único contraente» (artigo 266.º do
Código Comercial).

• O tipo contratual da mediação ou corretagem apresenta como característi ca a existência


de uma intermediação entre o comprador e o vendedor, ou entre as partes noutro negócio
que não a compra e venda, em que o inter mediário (o mediador) aproxima as partes e
promove a celebração de um ou mais negócios entre estas. O mediador não actua com
poderes de repre sentação das partes nem intervém no negócio que vem a ser celebrado. É
de destacar, em sectores especiais do comércio, a mediação imobiliária (Lei n.º 14/12, de 4 de
Maio, também conhecida por Lei da Mediação Imobiliária) e a mediação e corretagem de
seguros (Decreto Executivo n.º 7/03, de 24 de Janeiro, também designado Regulamento sobre
a Mediação e Corretagem de Seguros).

• O contrato de seguro é aquele pelo qual a seguradora se obriga, mediante a cobrança de


um prémio e caso se verifique o evento cujo risco é objecto da cobertura, a indemnizar, dentro
dos limites contratados, o dano produ zido ao segurado ou a satisfazer um capital, uma renda
ou outra prestação convencionada, encontrando-se o seu regime jurídico geral plasmado no
Decreto n.º 2/02, de 11 de Fevereiro (sobre o Contrato de Seguros).

• A agência comercial (artigos 1.º a 36.º da Lei sobre os Contratos de Distri buição, Agência,
Franchising e Concessão Comercial) consiste no contra to pelo qual uma pessoa, singular ou
colectiva, se obriga a promover, por conta de outra, a celebração de contratos, de modo
autónomo e estável e mediante retribuição.

• A franquia comercial ou franchising (artigos 37.º a 48.º da Lei sobre os Con tratos de
Distribuição, Agência, Franchising e Concessão Comercial) consis te no contrato pelo qual
uma pessoa, singular ou colectiva (o franchisador ou licenciador), concede a outrem (o
franchisado ou licenciado), mediante contrapartidas, a comercialização dos seus bens ou
serviços, através da uti lização da marca e demais sinais distintivos do franchisador e
conforme o plano, o método e as directrizes prescritos por ele.

• A concessão comercial (artigos 49.º a 60.º da Lei sobre os Contratos de Dis tribuição,
Agência, Franchising e Concessão Comercial) consiste no contra to pelo qual uma pessoa,
singular ou colectiva (o concedente), concede a ou tra (o concessionário) o direito a distribuir,
em seu nome e por conta própria, certo produto fabricado pelo concedente, numa
determinada área, e a pro mover a sua revenda, participando ambas as partes nos resultados
obtidos, sendo que, durante a execução do contrato, o concedente e o concessionário
celebrarão sucessivos contratos de compra e venda de produtos.

• A locação financeira (também designada por leasing) consiste no contrato pelo qual uma
das partes (o locador) se obriga, contra retribuição, a conce der à outra (o locatário) o gozo
temporário de uma coisa, móvel ou imóvel, adquirida ou construída por indicação desta, e que
a mesma pode comprar total ou parcialmente (a um fornecedor) num prazo convencionado,
me diante o pagamento de um preço determinado ou determinável. O seu regi me encontra-
se plasmado no Regulamento do Contrato de Locação Finan ceira (Decreto Presidencial n.º
64/11, de 18 de Abril).

• A cessão financeira (ou factoring) consiste no contrato pelo qual uma das partes (cedente
ou aderente) cede ou se obriga a ceder a outra (cessionário financeiro ou factor) a totalidade
ou parte dos créditos de curto prazo de que é titular sobre um ou mais terceiros (devedor),
mediante o pagamento de uma remuneração pelo factor. O seu regime está vertido no
Regulamen to das Sociedades de Cessão Financeira – Factoring (Decreto Presidencial n.º
95/11, de 28 de Abril) e no Aviso n.º 16/12, de 3 de Ab

CAPÍTULO 5 OS COMERCIANTES EM NOME INDIVIDUAL E AS SOCIEDADES


UNIPESSOAIS
• O artigo 13.º do Código Comercial contém os requisitos necessários para a aquisição da
qualidade de comerciante. Terá de ser uma pessoa que, tendo capacidade para praticar actos
de comércio, faça do comércio a sua pro fissão. Tanto poderá ser um comerciante em nome
individual (n.º 1) como uma sociedade comercial (n.º 2).

• A capacidade referida no artigo 13.º do Código Comercial é a capacidade de exercício,


admitindo-se que, em caso de incapacidade de exercício, a mes ma seja suprida por via da
representação legal, não obstando à qualificação como comerciante.

• A prática de actos de comércio mencionada no artigo 13.º do Código Comer cial refere-se à
prática de actos de comércio objectivos (artigo 2.º, 1.ª parte, do Código Comercial).

• O exercício profissional do comércio, também exigido pelo artigo 13.º do Código Comercial,
deve ser aferido em função de quatro critérios: (i) prática reiterada ou habitual, (ii) escopo
lucrativo, (iii) prática juridicamente autó noma, e (iv) prática tendencialmente exclusiva.

• Existem várias figuras cuja qualificação como comerciantes suscita dúvi das, por se
revelarem como situações de fronteira.

• O comerciante, em regra, responde com a totalidade do seu património pe las dívidas


emergentes do exercício do seu comércio, de acordo com o prin cípio geral inscrito no artigo
601.º do Código Civil. Esta regra de ilimitação da responsabilidade patrimonial do comerciante
apenas cederá perante mecanismos específicos de limitação dessa responsabilidade,
assumindo especial relevância o fenómeno da unipessoalidade societária.

• No ordenamento jurídico angolano prevê-se expressamente, com a Lei n.º 19/12, de 11 de


Junho (Lei das Sociedades Unipessoais), a figura das socie dades unipessoais, que vem
completar o disposto no artigo 8.º, n.º 2, da 25 Assinale-se que esta possibilidade de
dissolução e liquidação não resulta necessariamente da aplicação do artigo 37.º da Lei das
Sociedades Comerciais. Com efeito, este preceito normativo regula a perda de metade do
capital, e a subcapitalização referida em texto pode ocorrer, ainda que os capitais próprios
sejam superiores a metade do capital social.

Lei das Sociedades Comerciais, de acordo com o qual, «salvo disposição em contrário, o
número mínimo de partes de um contrato de sociedade é dois».
• A unipessoalidade, enquanto elemento do tipo societário, pode ser origi nária (aquelas
constituídas ab initio por apenas um sócio) ou supervenien te (resulta da concentração, num
único sócio, das participações sociais de uma sociedade comercial já constituída, devendo ser
transformada numa sociedade unipessoal por quotas ou numa sociedade anónima).

• Nas sociedades unipessoais, o sócio único responde subsidiariamente com a sociedade até
ao limite do capital social, podendo ainda, sempre que tal se encontre fixado nos estatutos,
responder solidária, subsidiária ou con juntamente com a sociedade pelas dívidas desta
perante terceiros, em fase de liquidação.

• Para além dos fundamentos gerais que conduzem à desconsideração da personalidade


jurídica, e que se enquadram nos casos de imputação ou nos casos de responsabilidade, nas
sociedades unipessoais deve ainda atender- -se às situações que, por determinação legal,
constituem casos específicos de desconsideração da personalidade colectiva, seja
concretizando a cons telação de situações típicas de desconsideração, seja prevendo outras
situ ações de desconsideração que não se deixem reconduzir a nenhuma das situações típicas.

CAPÍTULO 6 ESTATUTO DO COMERCIANTE


• Os comerciantes gozam de um estatuto especial associado ao exercício des sa actividade,
que se traduz num conjunto de regras próprias (i) quanto à natureza das obrigações
comerciais, (ii) quanto à natureza jurídica dos actos praticados pelos comerciantes, (iii) em
matéria de prescrição e quanto à prova de certos factos, e ainda de (iv) regras que enunciam
obrigações específicas dos comerciantes.

• Uma das primeiras obrigações do comerciante é a de adoptar uma firma, que corresponde
ao nome comercial do comerciante e funciona como um sinal distintivo e individualizador do
comerciante.

• Os princípios que presidem à constituição da firma são (i) o princípio da verdade, (ii) o
princípio da novidade e da exclusividade, (iii) o princípio da capacidade distintiva, (iv) o
princípio da unidade e, residualmente, (v) o princípio da licitude.

• Existe um princípio de liberdade de alteração das firmas; diferentemente, a transmissão da


firma apresenta-se mais condicionada, dado que depende de três requisitos: (i) não pode
operar separadamente em relação ao esta belecimento (i. e., só se pode transmitir a firma
transmitindo o estabeleci mento), (ii) tem de haver acordo entre as partes, e, (iii) em caso de
sucessão na firma, tem de se fazer expressa menção desse facto.

• O direito à firma é protegido por mecanismos de tutela preventiva e de tu tela repressiva.

• Não há qualquer disposição legal que regule a extinção do direito à firma, mas parece
pacífico que ela ocorrerá com o cancelamento do respectivo re gisto. Mais duvidoso é saber
se a firma se extingue com a cessação de acti vidade, tendo sido sustentado que não, sendo
sempre necessária a extinção do próprio estabelecimento.

• É controversa a questão da natureza jurídica do direito à firma, sustentan do-se que o


mesmo reveste uma natureza real – seria um direito real sobre uma coisa incorpórea, com as
vestes de propriedade ou de usufruto, conso ante os casos.

• A escrituração e a prestação de contas é outra das obrigações do comercian te previstas no


artigo 18.º do Código Comercial
• Entende-se por escrituração o registo em livros próprios dos factos relati vos à actividade do
comerciante, servindo não só para a organização do pró prio comerciante, como também
para tutela de terceiros.

• No domínio da escrituração, existem livros obrigatórios e livros facultativos.

• São obrigatórios os seguintes livros: (i) inventário e balanços, (ii) diários, (iii) razão, (iv)
copiador e (v) livros de actas.

• A possibilidade de existirem livros facultativos resulta da liberdade de or ganização da


escrita, decorrente do artigo 30.º do Código Comercial.

• Discute-se se se poderá ou não falar de um princípio do segredo ou do ca rácter secreto da


escrituração. Apesar de o artigo 41.º do Código Comercial apontar nesse sentido, o certo é que
são cada vez mais os casos em que o comerciante está obrigado a facultar o acesso aos seus
livros de escrita.

• Os comerciantes estão ainda obrigados à prestação de contas: a lei contém regras


específicas sobre o balanço anual e a prestação de contas no domínio das sociedades
comerciais.

• Nos termos do artigo 18.º do Código Comercial, os comerciantes estão obri gados a
inscrever no registo os factos a ele sujeitos.

• O registo comercial destina-se a dar publicidade aos actos e factos a ele su jeitos e a
garantir a segurança do tráfego jurídico.

• Em sede de registo comercial, vigora o princípio da taxatividade. Este prin cípio tem uma
incidência objectiva – respeitante aos factos sujeitos a regis to – e uma incidência subjectiva –
respeitante aos sujeitos onerados com a obrigação de levar factos a registo.

• O registo tem três efeitos: (i) um efeito presuntivo, (ii) um efeito central e (iii) um efeito
constitutivo.

• O efeito presuntivo do registo traduz-se na circunstância de ele permitir presumir (de forma
ilidível) que os factos registados existem e têm os con tornos narrados no registo. O efeito
presuntivo do registo estende-se tam bém à matrícula.

• Fala-se em efeito central do registo porque este é condição de eficácia dos factos a ele
sujeitos perante terceiros. Terceiro, para estes efeitos, é quem, tendo obtido o registo sobre
um determinado bem, veja o seu direito afas- tado por um acto jurídico não registado ou
registado posteriormente, inci dente sobre esse mesmo bem.

• O efeito constitutivo do registo resulta das situações em que é condição de eficácia dos
actos, mesmo entre as partes.

• Ainda que não se trate de uma obrigação exclusiva dos comerciantes, estes têm o dever de
emitir factura sempre que transmitirem bens ou prestarem serviços de forma remunerada.

ELABORADO POR: SANDRO

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