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DE
DIREITO COMERCIAL
• A actividade dos mercadores tinha como fonte reguladora sobretudo cos tumes (regionais
ou locais), que foram, mais tarde, objecto de compilações, que consolidaram um conjunto
alargado de regras, institutos e princípios jurídicos próprios do ius mercatorum.
• O costume, sendo em abstracto admitido como fonte de direito comercial, tem hoje uma
importância meramente residual no domínio comercial.
• Os usos do comércio não têm uma vinculatividade própria. Apenas vincu lam, à partida, nos
termos do artigo 3.º do Código Civil, quando a lei reme ter para eles, o que sucede com
abundância no Código Comercial.
• Os usos podem ainda ser tornados relevantes pelas partes de contratos co merciais, no
âmbito da autonomia privada. Assim sucederá quando as par tes, através dos clausulados dos
contratos comerciais, remeterem para os usos mercantis.
• Os usos do comércio têm ainda relevância no preenchimento de cláusulas gerais civis, como
a do declaratário normal (artigo 236.º, n.º 1, do Código Civil) ou a da vontade hipotética das
partes (artigo 239.º do Código Civil), as quais disciplinam a formação e o conteúdo dos
contratos comerciais
• O sistema de fontes do direito comercial moderno caracteriza-se pela sua abertura a fontes
externas: relevam, a este propósito, as regras decorrentes de convenções internacionais em
matéria comercial e as regras integrantes da chamada lex mercatoria.
• São ainda fontes de direito comercial as normas regulamentares emiti das por autoridades
reguladoras de sectores do comércio (como o Banco 42 PARTE 1 — INTRODUÇÃO Nacional de
Angola, a Comissão do Mercado de Capitais e a Agência Ango lana de Regulação e Supervisão
de Seguros), bem como os actos de soft law.
• Sempre que uma questão jurídico-comercial não encontrar solução na legis lação comercial,
o critério de decisão deve ser preferencialmente procurado através de aplicação analógica de
regras comerciais não directamente aplicá veis. Apenas inexistindo uma regra de direito
comercial que regule um caso análogo ao caso que não encontra regulação nas fontes
comerciais se deve recorrer subsidiariamente ao direito civil, enquanto direito privado comum.
• Os actos de comércio podem ser contratos, negócios jurídicos unilaterais, simples actos
jurídicos ou até factos jurídicos ilícitos.
• São actos de comércio objectivos aqueles que se encontram referidos na primeira parte do
artigo 2.º do Código Comercial: «todos aqueles que se achem especialmente regulados na
presente lei e demais legislação com plementar».
• Os actos de comércio objectivos são aqueles (i) que se encontram previstos e regulados no
Código Comercial; e (ii) regulados na legislação extravagan te complementar, que pode ser
anterior ou posterior ao Código Comercial. Sendo posterior, esta tanto pode proceder a uma
substituição de partes re vogadas do Código Comercial ou de outra legislação mercantil, como
pode desenvolver matérias já previstas no Código Comercial ou pode simples mente integrar
uma regulamentação sobre uma figura nova no ordenamen to jus-comercial angolano.
• Por sua vez, são actos de comércio subjectivos aqueles que se encontram previstos na
segunda parte do artigo 2.º do Código Comercial: «todos os contratos e obrigações dos
comerciantes, que não sejam exclusivamente civis, se o contrário do próprio acto não
resultar».
• Perante a inexistência de norma especial, a validade dos actos mercantis não está sujeita a
nenhuma forma especial, podendo a vontade das partes ser exteriorizada por qualquer via:
oral ou escrita, física ou electrónica (des formalização do direito comercial).
• Em direito civil, a regra geral é a da parciariedade das obrigações plurais (artigo 513.º do
Código Civil); em direito comercial, no que respeita às po sições passivas, a regra é a da
solidariedade (artigo 100.º do Código Comer cial), atenta a necessidade de conferir uma tutela
reforçada aos credores CAPÍTULO 3 — ACTOS DE COMÉRCIO 69 que estabeleçam relações
jurídicas com comerciantes (favor creditoris).
• Do § 2.º do artigo 100.º do Código Comercial resulta que a regra da solida riedade passiva
nas obrigações comerciais, contida no corpo do artigo 100.º do Código Comercial, tem
natureza supletiva, salvo se houver normas que cominam, em âmbitos específicos, a natureza
solidária das obrigações.
• Existe um regime próprio em matéria de prescrição presuntiva dos créditos dos empresários
emergentes de contratos de compra e venda mercantis (ou tipos contratuais similares)
unilateralmente comerciais (artigo 317.º, alínea b), do Código Civil), uma vez que se pressupõe
que o comerciante cobra de forma rápida e eficiente os seus créditos. O prazo de prescrição
em causa é de dois anos a contar da data em que o crédito se torna exigível (artigo 306.º, n.º
1, do Código Civil), salvo se a presunção de cumprimento for ilidi da, nos termos dos artigos
313.º e 314.º do Código Civil.
• O regime especial dos juros comerciais encontra-se plasmado no artigo 102.º do Código
Comercial, e as suas especificidades dependerão das moda lidades de juros em causa: juros
convencionais ou juros legais e juros remu neratórios ou juros moratórios.
• Nos juros comerciais também é aplicável (i) a proibição do anatocismo (ar tigo 560.º, n.º 1,
do Código Civil), salvo quando existir uso comercial que o admita, e (ii) a autonomia do crédito
de juro comercial face ao crédito prin cipal, a qual permite, designadamente, que cada um
desses créditos possa ser cedido ou extinguir-se sem o outro (artigo 561.º do Código Civil).
• Na ausência dos diplomas regulamentares para os quais a lei remete, a taxa de juro legal em
Angola deve ser determinada através da taxa de juro média praticada pelos bancos comerciais
a operar no país.
• Aos contratos com cláusulas contratuais gerais aplica-se a Lei das Cláusu las Contratuais
Gerais (Lei n.º 4/2003, de 18 de Fevereiro), caracterizando- -se estes pela adesão do aderente
a cláusulas pré-formuladas, geralmente num contexto de contratação em massa.
• A Lei das Cláusulas Contratuais Gerais visa assegurar que o predisponente actua de boa-fé e
que o programa contratual, ainda que unilateralmente fixado, é adequado e proporcional,
para protecção do aderente. Essa protec ção verifica-se tanto na fase de formação do
contrato de adesão (sobretudo com a cominação de deveres de informação), como no plano
do conteúdo do contrato de adesão (principalmente com um elenco de cláusulas
absolu tamente e relativamente proibidas).
• A compra e venda será objectivamente mercantil quando se encontre pre enchido o artigo
463.º do Código Comercial, não se exigindo a qualidade de comerciante e destacando-se o seu
carácter especulativo.
• Das várias modalidades de compra e venda mercantil são de destacar (i) a compra e venda
mercantil para pessoa a nomear (artigo 465.º do Código Co mercial); (ii) a compra e venda
mercantil sobre coisa alheia, incerta ou inexis tente (artigo 467.º do Código Comercial); (iii)
a compra e venda à consignação.
• O contrato de escambo ou de troca será mercantil nos mesmos casos em que o é a compra
e venda, e regular-se-á pelas mesmas regras estabelecidas para esta (artigo 480.º do Código
Comercial).
• O aluguer, que é uma das modalidades da locação comercial, «será mercantil quando a
coisa tiver sido comprada para se lhe alugar o uso» (artigo 481.º do Código Comercial) e será
regulado pelas disposições do Código Civil que re gem o contrato de aluguer e quaisquer
outras aplicáveis do Código Comercial.
• O mandato mercantil (artigos 231.º a 277.º do Código Comercial) consiste no contrato pelo
qual alguma pessoa (seja ou não comerciante) se encarrega de praticar um ou mais actos de
comércio em nome e por conta de outrem.
• A agência comercial (artigos 1.º a 36.º da Lei sobre os Contratos de Distri buição, Agência,
Franchising e Concessão Comercial) consiste no contra to pelo qual uma pessoa, singular ou
colectiva, se obriga a promover, por conta de outra, a celebração de contratos, de modo
autónomo e estável e mediante retribuição.
• A franquia comercial ou franchising (artigos 37.º a 48.º da Lei sobre os Con tratos de
Distribuição, Agência, Franchising e Concessão Comercial) consis te no contrato pelo qual
uma pessoa, singular ou colectiva (o franchisador ou licenciador), concede a outrem (o
franchisado ou licenciado), mediante contrapartidas, a comercialização dos seus bens ou
serviços, através da uti lização da marca e demais sinais distintivos do franchisador e
conforme o plano, o método e as directrizes prescritos por ele.
• A concessão comercial (artigos 49.º a 60.º da Lei sobre os Contratos de Dis tribuição,
Agência, Franchising e Concessão Comercial) consiste no contra to pelo qual uma pessoa,
singular ou colectiva (o concedente), concede a ou tra (o concessionário) o direito a distribuir,
em seu nome e por conta própria, certo produto fabricado pelo concedente, numa
determinada área, e a pro mover a sua revenda, participando ambas as partes nos resultados
obtidos, sendo que, durante a execução do contrato, o concedente e o concessionário
celebrarão sucessivos contratos de compra e venda de produtos.
• A locação financeira (também designada por leasing) consiste no contrato pelo qual uma
das partes (o locador) se obriga, contra retribuição, a conce der à outra (o locatário) o gozo
temporário de uma coisa, móvel ou imóvel, adquirida ou construída por indicação desta, e que
a mesma pode comprar total ou parcialmente (a um fornecedor) num prazo convencionado,
me diante o pagamento de um preço determinado ou determinável. O seu regi me encontra-
se plasmado no Regulamento do Contrato de Locação Finan ceira (Decreto Presidencial n.º
64/11, de 18 de Abril).
• A cessão financeira (ou factoring) consiste no contrato pelo qual uma das partes (cedente
ou aderente) cede ou se obriga a ceder a outra (cessionário financeiro ou factor) a totalidade
ou parte dos créditos de curto prazo de que é titular sobre um ou mais terceiros (devedor),
mediante o pagamento de uma remuneração pelo factor. O seu regime está vertido no
Regulamen to das Sociedades de Cessão Financeira – Factoring (Decreto Presidencial n.º
95/11, de 28 de Abril) e no Aviso n.º 16/12, de 3 de Ab
• A prática de actos de comércio mencionada no artigo 13.º do Código Comer cial refere-se à
prática de actos de comércio objectivos (artigo 2.º, 1.ª parte, do Código Comercial).
• O exercício profissional do comércio, também exigido pelo artigo 13.º do Código Comercial,
deve ser aferido em função de quatro critérios: (i) prática reiterada ou habitual, (ii) escopo
lucrativo, (iii) prática juridicamente autó noma, e (iv) prática tendencialmente exclusiva.
• Existem várias figuras cuja qualificação como comerciantes suscita dúvi das, por se
revelarem como situações de fronteira.
Lei das Sociedades Comerciais, de acordo com o qual, «salvo disposição em contrário, o
número mínimo de partes de um contrato de sociedade é dois».
• A unipessoalidade, enquanto elemento do tipo societário, pode ser origi nária (aquelas
constituídas ab initio por apenas um sócio) ou supervenien te (resulta da concentração, num
único sócio, das participações sociais de uma sociedade comercial já constituída, devendo ser
transformada numa sociedade unipessoal por quotas ou numa sociedade anónima).
• Nas sociedades unipessoais, o sócio único responde subsidiariamente com a sociedade até
ao limite do capital social, podendo ainda, sempre que tal se encontre fixado nos estatutos,
responder solidária, subsidiária ou con juntamente com a sociedade pelas dívidas desta
perante terceiros, em fase de liquidação.
• Uma das primeiras obrigações do comerciante é a de adoptar uma firma, que corresponde
ao nome comercial do comerciante e funciona como um sinal distintivo e individualizador do
comerciante.
• Os princípios que presidem à constituição da firma são (i) o princípio da verdade, (ii) o
princípio da novidade e da exclusividade, (iii) o princípio da capacidade distintiva, (iv) o
princípio da unidade e, residualmente, (v) o princípio da licitude.
• Não há qualquer disposição legal que regule a extinção do direito à firma, mas parece
pacífico que ela ocorrerá com o cancelamento do respectivo re gisto. Mais duvidoso é saber
se a firma se extingue com a cessação de acti vidade, tendo sido sustentado que não, sendo
sempre necessária a extinção do próprio estabelecimento.
• São obrigatórios os seguintes livros: (i) inventário e balanços, (ii) diários, (iii) razão, (iv)
copiador e (v) livros de actas.
• Nos termos do artigo 18.º do Código Comercial, os comerciantes estão obri gados a
inscrever no registo os factos a ele sujeitos.
• O registo comercial destina-se a dar publicidade aos actos e factos a ele su jeitos e a
garantir a segurança do tráfego jurídico.
• Em sede de registo comercial, vigora o princípio da taxatividade. Este prin cípio tem uma
incidência objectiva – respeitante aos factos sujeitos a regis to – e uma incidência subjectiva –
respeitante aos sujeitos onerados com a obrigação de levar factos a registo.
• O registo tem três efeitos: (i) um efeito presuntivo, (ii) um efeito central e (iii) um efeito
constitutivo.
• O efeito presuntivo do registo traduz-se na circunstância de ele permitir presumir (de forma
ilidível) que os factos registados existem e têm os con tornos narrados no registo. O efeito
presuntivo do registo estende-se tam bém à matrícula.
• Fala-se em efeito central do registo porque este é condição de eficácia dos factos a ele
sujeitos perante terceiros. Terceiro, para estes efeitos, é quem, tendo obtido o registo sobre
um determinado bem, veja o seu direito afas- tado por um acto jurídico não registado ou
registado posteriormente, inci dente sobre esse mesmo bem.
• O efeito constitutivo do registo resulta das situações em que é condição de eficácia dos
actos, mesmo entre as partes.
• Ainda que não se trate de uma obrigação exclusiva dos comerciantes, estes têm o dever de
emitir factura sempre que transmitirem bens ou prestarem serviços de forma remunerada.