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Direito Comercial e Empresas

Aula 19/09/2022:
 Introdução Histórica:
 O direito comercial começa fundamentalmente a surgir na Idade Média.
Capitalismo mercantil – surge com a necessidade de haver uma
cooperação de comércio – direito comercial, especialmente em Itália.
 Aqui começaram a surgir as corporações de comerciantes.
(No porto havia a corporação dos 24)
Estabeleciam regras sobre o horário de funcionamento, sobre as
características dos produtos (marca do artífice que fazia as espadas por
exemplo e a marca da corporação). Estas corporações disciplinavam
toda a atividade mercantil, criaram um direito para si próprios de
comerciantes para comerciantes.
 Duas características do Direito Comercial:
- É um direito especial em relação ao direito comum romano-canónico;
- É um direito clássico subjetivista criado pelos comerciantes para os
comerciantes.

Os comerciantes eram julgados nos seus tribunais mercantis.


 Maior aplicação do Princípio da Liberdade de Forma, a necessidade de o
crédito mercantil ter melhores garantias.
 Existiam já na Idade Média alguns traços objetivistas. Em Portugal não
tínhamos direito mercantil nesta época, o nosso direito era
consuetudinário. Havia algumas disposições de natureza mercantil, mas
na verdade tinham natureza administrativa.
 Pedro Santarém fez uma obra que foi publicada em Veneza sobre esse
direito mercantil.

Na época moderna:
 Tendência absolutista.
Criação de mecanismos de autorregulação, direito distinto do direito
comum.
 A lei adquire um papel relevante e temos uma evolução de um direito
comercial subjetivista para um direito comercial objetivista, com a
maior intervenção do Estado. Independentemente da pessoa que
pratica o ato ser comerciante ou não, o direito comercial começa-se a
aplicar a todos.
 Desenvolvimento das companhias coloniais e as companhias
pombalinas (de Marquês de Pombal) e tinham duas características – a
não responsabilização dos sócios; e o capital dividido em ações.
 Com a Revolução Francesa, surge o primeiro código comercial
objetivista em 1807. Os “sindicat” representavam as várias profissões.
 Em Portugal, surge em 1833, o nosso primeiro código de direito
comercial, na realidade uma compilação. E mais tarde, em 1888, surge o
nosso atual código comercial – regula objetivamente os atos de
comércio independentemente da pessoa que pratica os atos comerciais
ser ou não comerciante.

Nos dias de hoje estamos a evoluir para um direito subjetivista outra vez.
As associações nacionais do comércio.

Aula de 21/09/2022:
 Qual é o alcance do direito comercial – o comércio enquanto atividade
económica, mas também a indústria que apesar de não ser comércio é
abrangida por ele. Os serviços de turismo, transporte, seguros também estão
abrangidos pelo direito comercial, bem como a pesca. No entanto, por exemplo
o artesanato e as profissões liberais não estão abrangidos pelo direito
comercial.
 É o direito dos atos de comercio, dos comerciantes, mas é também um direito à
volta das empresas. É certo que nem todas os empresários são comerciantes
nem todos os comerciantes são empresários.
 Empresários que não são comerciantes – sociedades grandes de
advogados, que são profissões liberais.
 Comerciantes que não são empresários – bancas de artesanato na rua.
Quase sempre temos um direito comercial à volta das empresas de seguros,
transportes, etc.
 O direito comercial é um direito privado especial, não é excecional em relação
ao direito civil, mas consagra um regime especial relativamente ao direito civil.
Cria um regime especial geral comum – art.º 3º do Código comercial: em tudo o
que o direito comercial não abranger aplica-se o direito civil.
Particularidades do direito comercial em relação ao direito civil:
o Art.º 100º - obrigações comerciais plurais do lado passivo: se temos um
ato de comércio e do lado passivo temos dois obrigados, aplica-se o
regime das obrigações solidárias. No direito civil aplicar-se-ia o regime
da conjunção. Para proteger o crédito, o credor pode demandar quem
quiser para toda a divida enquanto no direito civil cada um responde
pela sua parte;
o Rapidez do direito comercial pelo menor formalismo em relação ao civil.
Art.º 396º CComercial e 1143º Civil. No mútuo civil temos exigências de
forma, mas no mútuo mercantil se for um empréstimo de 10M de euros
não é exigida qualquer forma.
o Facilidade de transmissão do crédito com segurança. É autónomo em
relação à dívida de base, a letra mantém-se e por isso é totalmente
segura a transmissão de crédito;
o Regime dos vícios das coisas – art.º 471º CComercial e art.º 916º CC –
no direito comercial são 8 dias para invocar os vícios da coisa e no
direito civil são 6 meses, regra geral.

 Regime dos juros – art.º 15º CComercial;


TEMA I – Quando é que se aplica o Direito Comercial?
 Quando uma matéria se qualifica como comercial/mercantil aplica-se o
respetivo direito comercial.
 Um ato comercial pode ser um contrato, um negócio jurídico unilateral,
simples atos jurídicos ou até factos jurídicos ilícitos.
O que vamos estudar são os contratos.
 Art.º 2º CComercial - qualifica um ato objetivamente ou subjetivamente
comercial.
 Todos os atos regulados neste código são objetivamente comerciais.
Por exemplo a compra e venda do art.º 463º CComercial - se se compra
uma coisa para revender trata-se de uma compra e venda,
independentemente se depois revende ou não, basta que seja essa a
vontade do sujeito comercial/mercantil – é comercial
independentemente do sujeito ser comerciante ou não.

Atos Objetivamente Comerciais:


Os atos comerciais que saíram do código comercial também estão em atos
objetivamente comerciais – o art.º 4º da carta de lei que aprovou o código diz que
tudo o vier a ser substituído ou alterado por outros diplomas continuará a ser
considerado como fazendo parte do código comercial.
Há matérias novas que nem estão nem nunca estiveram no código comercial –
diplomas 73 e 74 (procurar exemplos – contrato de agência, locação financeira).
Há casos de atos de comércio que estão em outros diplomas que formalmente não
tratam – arrendamento – é mercantil, ainda que regulados no código civil.
Podemos temos atos objetivamente comerciais por analogia ou interpretação
extensiva – art.º 230º - compra de imóveis para arrendar. O art.º 463º e o 481º.

Atos Subjetivamente Comerciais:


2ª parte do art.º 2º CComercial
-Todos os contratos e obrigações dos comerciantes (princípio de que os atos praticados
pelos comerciantes são comerciais, pressupõe logo que o sujeito tem de ser
comerciante – art.º 13º)
-Que não forem de natureza exclusivamente civil (por exemplo o casamento tem
natureza exclusivamente civil),
-Se o contrário do próprio ato não resultar (ex.: loja de roupa em que o comerciante
comprou uma máquina de lavar roupa – sem nada mais se saber este é um ato (?))

art.º 230º CComercial

Aula Prática de 21/09/2022:


 Em regra, o direito civil não se revela adequado para regular o mundo
comercial, das empresas.
 Como é que identificamos as relações jurídicas que estão sujeitas ao direito
comercial – através das correntes objetivistas e as correntes subjetivistas.

As Subjetivistas:
Identificação do sujeito que é vista como critério essencial para a identificação
das relações jurídicas comerciais.
O direito comercial nasce de um esforço de autorregulação das corporações na
Idade Média. Criaram um direito de classe, privativo, no sentido em que foi
criado pelos comerciantes para os comerciantes, daí ser subjetivista.

As Objetivistas:
Baseiam-se na circunstância de se prescindir da qualidade de sujeito para
catalogar a relação jurídica. As relações jurídicas passam a ter uma natureza
objetiva que lhes permite que obtenham uma qualidade comercial
independentemente da qualidade do sujeito, isto é, independentemente de ser
comerciante ou não.

Em Portugal temos uma situação que é tributária de ambas as correntes.


Art.º 2º CComercial – a primeira parte do artigo manifesta a corrente
objetivista e a segunda parte do artigo manifesta a corrente subjetivista.

Três Requisitos Cumulativos do art.º 2º/2ª parte CComercial:


1. A obrigação tem de ser de um comerciante – o primeiro requisito é o
sujeito ser comerciante.
Quem é comerciante? Art.º 13º CComercial – sociedades comerciais
regularmente constituídas e as pessoas que, tendo capacidade para praticar
atos de comércio (definidos como objetivos, à luz da 1ª parte do art.º 2º),
fazem deste profissão.
2. O ato não pode ter natureza exclusivamente civil – se tiver natureza
patrimonial nunca será exclusivamente civil, apenas se tiver natureza
pessoal, como só casamentos.
3. Se do próprio ato o contrário não resultar.

Aula de 28/09/2022:
o 3º requisito do art.º 2º/2ª parte – “se o contrário do próprio ato não resultar” –
o ato será comercial se não resultar do ato que não tem conexão com o
comércio. Se do ato nada resulta. Se do ato praticado resultar que esta
conexionado com o comércio então o ato é comercial. Se do ato não resulta
que não esta conexionado comércio com o comércio – se nada resulta do ato,
assume-se que é um ato subjetivamente comercial.
Alguém vai comprar uma carrinha automóvel e diz ao vendedor que vai usar a
carrinha para transportar os livros da sua livraria – o ato é comercial. Se utilizar
a carrinha para as suas férias então o ato não é comercial.

 Art.º 230º CComercial – trata das empresas e podemos dividir em três partes:
- 1ª parte: as empresas singulares ou coletivas – as pessoas que são titulares
dessas empresas poderão ser singulares ou coletivas. É meramente
qualificativo.
Estamos perante a prática de uma série de atos praticados por estas empresas
– este artigo também pode ser utilizado para ajudar a qualificar atos como
comerciais ou não comerciais.

- 2ª parte: elenco de empresas comerciais – não é uma enumeração taxativa


nem exaustiva. Importa fazer uma interpretação extensiva ou analógica das
empresas aqui referidas. “Fornecer Géneros” – abrange fornecimento de
energia, água, etc. “Edificar ou construir casas” – engloba estradas, aeroportos,
etc. “Transportar água ou por terra” – abrange o transporte aéreo.

- 3ª parte: 3 últimos parágrafos – não qualificar como não comerciais certas


empresas – como o artesanato, agricultura de autossubsistência, etc.

 Atos Autonomamente Comerciais – 403º CComercial – compra para revenda;


 Atos Acessoriamente Comerciais - fiança, mandato, depósito, empréstimo,
penhor, etc. – depende porque estão previstos em ambos os códigos, civil e
comercial, mas só serão comerciais se forem acessórios de um ato comercial.
 Atos Formalmente Comerciais – um estudante com um automóvel de uso
próprio que vende a outro estudante o automóvel (compra e venda civil). Mas
se para garantia de crédito é constituída uma letra de câmbio já é comercial.
 Atos substancialmente comerciais – traduzem-se na prática de atos de
comércio – substancialmente o ato é mercantil – compra e venda para revenda.
 Ato Bilateralmente Comercial – é um ato que é comercial em relação a ambas
as partes do contrato. É comercial para o vendedor do concessionário e é
comercial para o comerciante que compra o carro para utilizar na sua atividade
comercial.
 Atos Unilateralmente Comercial – se for um estudante que compra um
automóvel para seu uso próprio, a venda é mercantil, mas a compra do
automóvel é meramente civil. Qual é o regime jurídico aplicável? Civil ou
Comercial? Nos termos do art.º 99º CComercial, aplica-se por regra o direito
comercial.
Art.º 99º CComercial:
1ª parte – princípio de que o ato mercantil no seu todo está sujeito ao direito
comercial;
2ª parte – diz-nos que deve ter-se em consideração que há disposições do
direito comercial que só se vão aplicar aqueles em relação ao qual o ato é
mercantil, ou seja, ao estudante aplica-se o direito civil e ao concessionário
aplica-se o direito comercial.
3ª parte – revogada.
A qualificação e ato como comercial ou não é relevante (relevância substantiva) – art.º
99º e art.º 100º CComercial – porque, dessa forma, aplica-se o direito comercial e não
o direito civil. Que regime jurídico vai ter diferente do direito civil?
Art.º 100º CComercial:
- A e B são estudantes e venderam um relógio a C e D que são comerciantes
numa livraria. Este ato seria civil ou mercantil? – esta compra e venda ao abrigo
da segunda parte do art.º 2º podia ser mercantil – art.99CComercial;
- C e D que são irmãos compraram o relógio para oferecer à irmã e os
estudantes, A e B compraram o relógio para revender – o ato é comercial
porque A e B praticaram um ato objetivamente comercial do lado ativo, ou
seja, unilateralmente comercial – art 99º 1ª parte – sujeito ao direito comercial
e art. 100º – nas obrigações comerciais os coobrigados, C e D, são solidários,
pelo que o A e B podiam demandar qualquer um deles. C e D são comerciante,
mas não no ato comercial em questão – aplica-se o regime da consunção;
- A e B herdaram o relógio e venderam a C e D (mesma hipótese, mas agora
com o relógio herdado) – ato civil – regime da conjunção.

Aula Prática de 28/09/2022:


 Especificidades do Direito comercial: (?)
o Sentido da exigência/penalização acrescida para o incumprimento
São normas que se destinam a proteger de forma direta o credor no circuito
comercial.

 Regime das Dívidas Comerciais – em regra o responsável pelo pagamento de


uma dívida é aquele que a contrai e o património do devedor é uma garantia
geral dos credores. Perante a incapacidade de promover o pagamento, o seu
património responde por essa responsabilidade. Se o credor não obtiver o
pagamento voluntário da dívida deve lançar mãos dos mecanismos.
Excecionalmente existem situações em que pessoas que não são os devedores
são responsáveis pelo pagamento da dívida – Garantias Pessoais – alguém
voluntariamente assume a qualidade de garantir o pagamento de uma
obrigação de terceiro – Fiança e o Aval.
Alguém pode, ainda, ser responsabilizado pela dívida de terceiro não porque o
deseja, mas porque a lei o determina – Instituto do Casamento – art.º 1691º/1
CC (causas de comunicabilidade das dívidas). São situações em que um dos
cônjuges contrai uma dívida e que por via deste artigo a dívida passa também a
ser responsabilidade do outro cônjuge – exercício da atividade comercial, na
alínea d) do mesmo artigo. Se os cônjuges não tiverem casado no regime da
separação de bens, ou seja, se for o regime da comunhão de adquiridos ou da
comunhão geral, e a dívida tiver sido contraída na constância do matrimónio;
se tiver sido contraída no exercício do comércio do devedor e se não se provar
que a mesma foi contraída em proveito comum do casal, então a dívida será da
responsabilidade de ambos os cônjuges.
Dois Requisitos – para a dívida ser comunicável têm de estar casados num
regime que não seja o da separação de bens e a dívida tem de ter sido
contraída na constância do matrimónio.
Dois Requisitos Materiais (Comerciais) – são os que constam da própria alínea
- a dívida tem de ser contraída no exercício do comércio do devedor e tem de
ter sido contraída em proveito do casal. Art.º 1695º CC:
- Se se concluir pela comunicabilidade, os bens que respondem pela dívida são
os bens comuns do casal, pelo que se não forem suficientes podem os bens
próprios responder pela mesma. Está, portanto, aqui em causa um mecanismo
que permite aumentar o espectro de garantia do credor. O regime confere-lhe
vantagens acrescidas no plano probatório.

o Requisito do Proveito Comum do Casal – presunção legal ilidível (que admite


prova em contrário) – existem para a inversão do ónus da prova, ou seja,
facilitar a vida a quem contraiu a dívida. Terá de ser o cônjuge a provar que a
divida não foi contraída no proveito do casal.
Art.º 15º CComercial – 1691º/1/d) CC: as dívidas comerciais dos comerciantes
presumem-se contraídas no exercício da sua atividade. Passa assim a ser o cônjuge
do comerciante a ilidar a presunção. Mas no caso do art.15º, o funcionamento
impõe ao comerciante algum esforço probatório: não tem de provar que a divida
foi contraída no exercício do comércio, mas sim que quem a contraiu foi um
comerciante e esta divida tem natureza comercial (art.13º/1 e 2 do. CComercial).

Aula Prática de 30/09/2022:

CASO 1
A, vendedor de automóveis e casado com B no regime supletivo, adquiriu a C um
automóvel que pretende oferecer à sua filha no dia em que ela fizer 18 anos.
De acordo com o contratualizado, o preço do automóvel deveria ser liquidado no
prazo de 3 meses contados da aquisição. Decorrido o referido prazo, A não procedeu
ao pagamento voluntário do automóvel.
Que bens respondem pelo pagamento da dívida?
O objetivo é obter coercivamente o pagamento que não obteve voluntariamente, mas
pretende também alargar o espectro de garantia patrimonial, ou seja, em vez de ter à
sua disposição para garantir o pagamento da divida apenas o património do devedor,
também pretende ter o património do cônjuge.
Essa possibilidade prende-se no cumprimento dos requisitos da alínea d) do 1691º CC.
O comerciante é casado e o regime de bens vigente não é o da separação, pelo que o
credor comerciante para beneficiar desta vantagem tem de cumprir aos requisitos
desta alínea, ou seja a divida tem de ser contraída no exercício do comércio e esta tem
de ser contraída em proveito do casal.
Sabemos, todavia, que o credor do comerciante não esta obrigado à prova destes dois
requisitos, apesar de terem de estar verificados, eles são presumidos. O proveito
comum do casal na alínea d) do art.º 1691º CC, e a dívida contraída no exercício do
comércio no art.º 15º CComercial.
Todavia, as presunções embora tenham a mesma natureza pois são duas presunções
ilidíveis, a verdade é que não são similares, isto é, o benefício da presunção do
proveito comum é automático ao passo que o benefício da presunção do exercício do
comércio importa o esforço probatório por parte de quem dela quer beneficiar:
Importa, então, provar que o devedor é comerciante e que a divida é comercial.
Na hipótese prática, sim o devedor é comerciante à luz do art.º 13º CComercial.
Adquire, portanto, a qualidade de comerciante porque pratica reiteradamente atos
objetivos de comércio (aqueles que estão previstos na lei comercial) – a compra para
revenda do art.º 463º CComercial.
Em relação há divida, esta não é comercial uma vez que o ato do qual a diverge não é
um ato de comércio pois o bem foi comprado para oferecer não sendo, portanto, um
ato objetivamente comercial. Importa, agora, saber se o ato pode ser subjetivamente
comercial (se pode ser qualificado como comercial à luz da 2ª parte do art. 2º).
Verificamos, então, que o ato foi praticado por um comerciante, que é uma compra e
venda com natureza patrimonial e, portanto, não é exclusivamente civil e que resulta
que há conexão, pois a aquisição foi feita no exercício da atividade do outro. Logo o
ato é subjetivamente comercial e a divida é comercial. Sendo assim, estão verificadas
as condições de funcionamento da presunção do art.15º CComercial.
O cônjuge do devedor poderia tentar ilidir qualquer uma das presunções, e se a ilisão
da presunção do proveito comum não era admissível, é evidente que ela poderia
reunir a presunção do exercício do comércio pois é obvio que a divida não foi
contraída nesse.
Se conseguisse ilidir, afastava a presunção, o que afastaria também a
comunicabilidade, logo a dívida seria da responsabilidade de um dos cônjuges e os
bens que corresponderiam pela mesma seriam os do art.1696º CC.
Se não conseguisse afastar a presunção, então a divida seria da responsabilidade de
ambos os cônjuges e os bens que responderiam seriam os do art.1695º CC.

Aula de 3/10/2022:
Nas obrigações comerciais os coobrigados são solidários salvo disposição em contrário.
Se estivermos perante uma obrigação mercantil (derivada de um ato comercial) e
houver uma pluralidade de coobrigados o regime é o da solidariedade.
Exigências de forma e exigências de prova:
Art.º 1143º CC – mútuo tem exigências de forma;
Art.º 396º CComercial – qualquer meio de prova é admitido, no empréstimo mercantil
que não seja bancário.
No quadro do penhor, no civil a regra é que o penhor implica a entrega da coisa e no
mercantil não é necessária a entrega da coisa.
No arrendamento o regime é semelhante no civil e no comercial.

Prescrições Presuntivas – art.º 312º e ss. CC – significa que passado algum tempo se
presume o cumprimento da obrigação. Em regra, estamos perante contratos que
implicam valores diminutos, que são pagos num prazo breve e que, em regra, não
exigem recibo, ou prova de pagamento, pelo que se presume o cumprimento da
obrigação. Têm um prazo ainda mais curto quando estamos perante atos comerciais
relativamente ao vendedor – 316º CC e 317º (podemos estar ou não em matéria
mercantil). O art.º 316º CC diz que prescrevem no prazo de 6 meses porque é sempre
matéria mercantil (diferente da regra do 309º CC que diz que a prescrição são 20 anos)
– ex.: restaurantes, hotéis, etc. Já o art.º 317º CC estabelece um prazo de prescrição de
2 anos – ex.: cantina da universidade – porque em alguns casos não estamos em
matéria mercantil.
Art.º 317º/b) CC
Obrigação solidária imperativa – art.º 101º CComercial:
Temos uma fiança mercantil (estabelecida por acessoriedade, ou seja, ato
acessório de um outro ato considerado como mercantil), em que o fiador não tem de
ser comerciante. No entanto, o fiador responde solidariamente (...);
Particularidades:
Desvio ao art.º 638º CC – benefício da excussão prévia. O credor pode demandar
imediatamente o fiador e ele terá de responder, pagando toda a dívida liberta todos os
?
Esta norma tem natureza imperativa
É um regime solidário imperfeito porque: o senhor A é credor, o senhor B, C, D e E são
devedores e o senhor H é o fiador – a primeira coisa a resolver é saber se estamos ou
não perante um ato mercantil. Se for esse o caso, estamos perante uma fiança
mercantil, pelo que o fiador não goza do benefício da excussão prévia. Se não
houvesse fiador, ao abrigo do art.º 100º CComercial, o A podia demandar qualquer um
dos devedores.
O A demanda o H, porque ele é fiador, ...
É imperfeito porque o senhor H não é devedor.

Dívidas do comerciante casado e a sua comunicabilidade ao seu cônjuge – art.º 1691º


CC:
Alínea d) – não é relevante para o direito comercial que o comerciante esteja casado.
Requisitos cumulativos: para a comunicabilidade da dívida
1. Tenha sido a dívida contraída sem o consentimento do cônjuge do comerciante
– é um comerciante a nível individual, ou seja, não é uma sociedade.
2. Que a dívida tenha sido contraída em proveito comum do casal – proveito
comum do casal traduz-se em qualquer tipo de benefício para o casal. A
finalidade da contração daquela dívida tenha sido o interesse comum do casal.
Compete ao cônjuge do comerciante provar que a dívida não foi contraída em
proveito comum do casal (não é o credor do comerciante que tem o ónus);
3. Que não vigore o regime de separação de bens;
4. Que a dívida tenha sido contraída no exercício do comércio do comerciante, ou
seja, que esteja conexionada com a atividade mercantil do comerciante –
imaginando que o comerciante vende arte e contrai uma dívida num hotel, isto
nada tem a ver com a sua atividade mercantil. Art.º 15º CComercial – terá de
ser o cônjuge do comerciante a provar que dívida nada tem a ver com a
atividade mercantil do comerciante.

Efeitos patrimoniais: art.º 1695º/1 CC – respondem os bens comuns do casal e na falta


ou insuficiência desses respondem os bens próprios de qualquer dos cônjuges.

Continuação...
Juros
Quanto à origem: Juros legais vs. juros convencionais – os primeiros resultam
da lei quando as partes nada estabelecem, os segundos resultam do acordo das partes;
Juros remuneratórios (capital); juros moratórios (devedor entrar em mora); juros
compensatórios; juros indemnizatórios.
No direito comercial vigora o Princípio da Onerosidade – art.º 102º CComercial
– e não o da Gratuitidade – ex.: 395º - empréstimo mercantil. O mandato mercantil e o
deposito são onerosos ao contrário do direito civil onde é gratuito.

JUROS MORATÓRIOS:
1. Legais – aplicam-se quando o contrato comercial nada diz. Se estamos
perante um empréstimo mercantil e o devedor entra em mora qual é o juro
que se aplica? Decreto-lei 62º/2013 de 10 de maio. Não sendo estabelecida
taxa de juro ou é referida taxa de juro, mas não se diz qual aplica-se o
disposto no art.º 102º/2 e 3 e a taxa está concretizada na Portaria
277/2013 de 26 de agosto – alínea a) do seu art.º 1º. A taxa de juro é a taxa
de referência do Banco Central Europeu para as suas operações de
financiamento mais 7 ou 8 pontos percentuais (art.º 2º/1 da Portaria).
A taxa de refinanciamento do BCE até 30 de junho era de 0%. Neste
momento vamos manter essa taxa de 0%, mas em janeiro a taxa já subiu.
Se nada for estabelecido entre as partes o devedor entrar em mora, a taxa
de juro de mora é de 7% - o juro de mora legal para as operações mercantis
é de 7% no mínimo. É uma taxa elevada, com função preventiva, mas no
direito civil a taxa de mora legal é de 4%.
O DL 62/2013 de 10 de maio veio (?) – transações comerciais reguladas pela
Diretiva 2011/7 /UE – reduzimos os prazos de pagamento, a regra geral são
30 dias e a taxa de juro passou a ser mais alta. Tem objetivo de proteger os
credores para não existirem atrasos significativos. O art.º 3º dessa Diretiva
diz-nos o que é uma transação comercial (entre empresas ou entre
empresas e entidades públicas destinada ao fornecimento de bens ou
prestação de serviços. Na alínea d) diz o que é uma empresa – aqui inclui-se
o artesanato e os profissionais liberais ao contrário do código comercial. A
transação comercial daqui é diferente da nossa transação comercial do art.º
1248º CC. O fornecimento de bens tem um sentido muito mais amplo. Estão
excluídos, quanto ao âmbito subjetivo, os contratos celebrados entre
consumidores, os juros no quadro dos contratos cambiários, alíneas a), b) e
c) do art.º 2º).
O art.º 805º CC exige como regra que quando haja mora, o devedor só fica
constituído em mora depois de ter sido interpelado judicialmente.
Nos termos do nº2 do art.º 806º CC, nas obrigações pecuniárias a
indemnização corresponde aos juros, em regra não há mais indemnização.
O nº3 diz que o credor, se se tratar de responsabilidade por factos ilícitos
ou risco, pode comprovar que a mora lhe causou dano e que, por isso,
estabelecer um regime legal em que não é necessária a interpelação –
desvia-se do art.º 805º/1 – vai estabelecer juros moratórios mais altos e vai
estabelecer uma indemnização complementar mais alta. Quanto ao
vencimento automático dos juros quando o prazo de pagamento termina
(em regra 30 dias – art.º 4º/3/a)), sem necessidade de interpelação. Não se
afastou totalmente a liberdade contratual, pelo que é possível fixar
contratualmente outros prazos – art.º 4º/2 e 3 e art.º 8º/1 -, desde que o
prazo não seja face ao caso concreto um prazo excessivo de pagamento.
Quanto à taxa de juro, aqui mais alta, o DL 62/2013 de 10 de maio
estabelece no caso das transações comerciais a taxa de juro de mora legal a
taxa do BCE mais 8 pontos percentuais, o que significa que a taxa de juro
passa a ser de 8% (na falta de convenção diferente). O art.º 7º deste
decreto estabelece uma indeminização complementar, pode começar por
pedir mais 40 euros e uma indemnização superior.

2. Convencionais – é possível fixar um juro diferente, por acordo das partes,


seja este mais alto ou mais baixo, sendo que é geralmente mais alto. A taxa
de juros convencional só pode ser fixada por escrito, sob pena de ser nula e
se aplicar a taxa supletiva legal – parágrafo 1º do art.º 102º CComercial.
Limites máximos – 1146º CC e art.º 102º/parágrafo 2º do CComercial – se
existir garantia real a taxa de juro pode ser mais 3 pontos percentuais, se
não existir garantia real pode aumentar mais 5 pontos percentuais, pelo
que a taxa de juro de mora pode ir até aos 10 ou 12 %, respetivamente. Nos
termos do 1146º/2 é possível fixar, a título de cláusula penal, 14% se existir
garantia real e 16% se não existir garantia real.
Se for fixada uma taxa mais alta não acontece nada demais – 1146º/3 CC –
considera-se reduzida aos máximos legais, não é fundamento de nulidade
da cláusula, é simplesmente reduzida à taxa legal máxima.

Aula prática de 7/10:


Caso Prático 2:
A sociedade AConstruções, conjuntamente com a sociedade BConstruções em
regime de consórcio, contrataram a empresa BConstruções para lhes decorar o andar
modelo de um prédio que edificaram
Decorrido o prazo de pagamento combinado, as devedoras incumpriram o
compromisso assumido que, além demais, tinha sido afiançado por D.
a) Pode o credor reclamar o pagamento na íntegra à empresa A?
A dívida é comercial porque veio de um ato de comércio – para ser ato de
comércio tem de estar descrito no art.º 2º CComercial. Para ser ato comercial
tem de estar previsto no código comercial – parágrafo 6º do art.º 230º. Nas
obrigações comerciais a regra é a solidariedade, pelo que se o A pagasse a
dívida na totalidade poderia pedir a parte em excesso aos restantes devedores.
b) Pode o credor reclamar o pagamento na íntegra ao fiador?
Solidariedade da fiança comercial – depois tem um direito de regresso sobre o
remanescente.
c) Qual a taxa de juro aplicável?
É de 8% porque é uma transação entre empresas comerciais.

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