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Aula 19/09/2022:
Introdução Histórica:
O direito comercial começa fundamentalmente a surgir na Idade Média.
Capitalismo mercantil – surge com a necessidade de haver uma
cooperação de comércio – direito comercial, especialmente em Itália.
Aqui começaram a surgir as corporações de comerciantes.
(No porto havia a corporação dos 24)
Estabeleciam regras sobre o horário de funcionamento, sobre as
características dos produtos (marca do artífice que fazia as espadas por
exemplo e a marca da corporação). Estas corporações disciplinavam
toda a atividade mercantil, criaram um direito para si próprios de
comerciantes para comerciantes.
Duas características do Direito Comercial:
- É um direito especial em relação ao direito comum romano-canónico;
- É um direito clássico subjetivista criado pelos comerciantes para os
comerciantes.
Na época moderna:
Tendência absolutista.
Criação de mecanismos de autorregulação, direito distinto do direito
comum.
A lei adquire um papel relevante e temos uma evolução de um direito
comercial subjetivista para um direito comercial objetivista, com a
maior intervenção do Estado. Independentemente da pessoa que
pratica o ato ser comerciante ou não, o direito comercial começa-se a
aplicar a todos.
Desenvolvimento das companhias coloniais e as companhias
pombalinas (de Marquês de Pombal) e tinham duas características – a
não responsabilização dos sócios; e o capital dividido em ações.
Com a Revolução Francesa, surge o primeiro código comercial
objetivista em 1807. Os “sindicat” representavam as várias profissões.
Em Portugal, surge em 1833, o nosso primeiro código de direito
comercial, na realidade uma compilação. E mais tarde, em 1888, surge o
nosso atual código comercial – regula objetivamente os atos de
comércio independentemente da pessoa que pratica os atos comerciais
ser ou não comerciante.
Nos dias de hoje estamos a evoluir para um direito subjetivista outra vez.
As associações nacionais do comércio.
Aula de 21/09/2022:
Qual é o alcance do direito comercial – o comércio enquanto atividade
económica, mas também a indústria que apesar de não ser comércio é
abrangida por ele. Os serviços de turismo, transporte, seguros também estão
abrangidos pelo direito comercial, bem como a pesca. No entanto, por exemplo
o artesanato e as profissões liberais não estão abrangidos pelo direito
comercial.
É o direito dos atos de comercio, dos comerciantes, mas é também um direito à
volta das empresas. É certo que nem todas os empresários são comerciantes
nem todos os comerciantes são empresários.
Empresários que não são comerciantes – sociedades grandes de
advogados, que são profissões liberais.
Comerciantes que não são empresários – bancas de artesanato na rua.
Quase sempre temos um direito comercial à volta das empresas de seguros,
transportes, etc.
O direito comercial é um direito privado especial, não é excecional em relação
ao direito civil, mas consagra um regime especial relativamente ao direito civil.
Cria um regime especial geral comum – art.º 3º do Código comercial: em tudo o
que o direito comercial não abranger aplica-se o direito civil.
Particularidades do direito comercial em relação ao direito civil:
o Art.º 100º - obrigações comerciais plurais do lado passivo: se temos um
ato de comércio e do lado passivo temos dois obrigados, aplica-se o
regime das obrigações solidárias. No direito civil aplicar-se-ia o regime
da conjunção. Para proteger o crédito, o credor pode demandar quem
quiser para toda a divida enquanto no direito civil cada um responde
pela sua parte;
o Rapidez do direito comercial pelo menor formalismo em relação ao civil.
Art.º 396º CComercial e 1143º Civil. No mútuo civil temos exigências de
forma, mas no mútuo mercantil se for um empréstimo de 10M de euros
não é exigida qualquer forma.
o Facilidade de transmissão do crédito com segurança. É autónomo em
relação à dívida de base, a letra mantém-se e por isso é totalmente
segura a transmissão de crédito;
o Regime dos vícios das coisas – art.º 471º CComercial e art.º 916º CC –
no direito comercial são 8 dias para invocar os vícios da coisa e no
direito civil são 6 meses, regra geral.
As Subjetivistas:
Identificação do sujeito que é vista como critério essencial para a identificação
das relações jurídicas comerciais.
O direito comercial nasce de um esforço de autorregulação das corporações na
Idade Média. Criaram um direito de classe, privativo, no sentido em que foi
criado pelos comerciantes para os comerciantes, daí ser subjetivista.
As Objetivistas:
Baseiam-se na circunstância de se prescindir da qualidade de sujeito para
catalogar a relação jurídica. As relações jurídicas passam a ter uma natureza
objetiva que lhes permite que obtenham uma qualidade comercial
independentemente da qualidade do sujeito, isto é, independentemente de ser
comerciante ou não.
Aula de 28/09/2022:
o 3º requisito do art.º 2º/2ª parte – “se o contrário do próprio ato não resultar” –
o ato será comercial se não resultar do ato que não tem conexão com o
comércio. Se do ato nada resulta. Se do ato praticado resultar que esta
conexionado com o comércio então o ato é comercial. Se do ato não resulta
que não esta conexionado comércio com o comércio – se nada resulta do ato,
assume-se que é um ato subjetivamente comercial.
Alguém vai comprar uma carrinha automóvel e diz ao vendedor que vai usar a
carrinha para transportar os livros da sua livraria – o ato é comercial. Se utilizar
a carrinha para as suas férias então o ato não é comercial.
Art.º 230º CComercial – trata das empresas e podemos dividir em três partes:
- 1ª parte: as empresas singulares ou coletivas – as pessoas que são titulares
dessas empresas poderão ser singulares ou coletivas. É meramente
qualificativo.
Estamos perante a prática de uma série de atos praticados por estas empresas
– este artigo também pode ser utilizado para ajudar a qualificar atos como
comerciais ou não comerciais.
CASO 1
A, vendedor de automóveis e casado com B no regime supletivo, adquiriu a C um
automóvel que pretende oferecer à sua filha no dia em que ela fizer 18 anos.
De acordo com o contratualizado, o preço do automóvel deveria ser liquidado no
prazo de 3 meses contados da aquisição. Decorrido o referido prazo, A não procedeu
ao pagamento voluntário do automóvel.
Que bens respondem pelo pagamento da dívida?
O objetivo é obter coercivamente o pagamento que não obteve voluntariamente, mas
pretende também alargar o espectro de garantia patrimonial, ou seja, em vez de ter à
sua disposição para garantir o pagamento da divida apenas o património do devedor,
também pretende ter o património do cônjuge.
Essa possibilidade prende-se no cumprimento dos requisitos da alínea d) do 1691º CC.
O comerciante é casado e o regime de bens vigente não é o da separação, pelo que o
credor comerciante para beneficiar desta vantagem tem de cumprir aos requisitos
desta alínea, ou seja a divida tem de ser contraída no exercício do comércio e esta tem
de ser contraída em proveito do casal.
Sabemos, todavia, que o credor do comerciante não esta obrigado à prova destes dois
requisitos, apesar de terem de estar verificados, eles são presumidos. O proveito
comum do casal na alínea d) do art.º 1691º CC, e a dívida contraída no exercício do
comércio no art.º 15º CComercial.
Todavia, as presunções embora tenham a mesma natureza pois são duas presunções
ilidíveis, a verdade é que não são similares, isto é, o benefício da presunção do
proveito comum é automático ao passo que o benefício da presunção do exercício do
comércio importa o esforço probatório por parte de quem dela quer beneficiar:
Importa, então, provar que o devedor é comerciante e que a divida é comercial.
Na hipótese prática, sim o devedor é comerciante à luz do art.º 13º CComercial.
Adquire, portanto, a qualidade de comerciante porque pratica reiteradamente atos
objetivos de comércio (aqueles que estão previstos na lei comercial) – a compra para
revenda do art.º 463º CComercial.
Em relação há divida, esta não é comercial uma vez que o ato do qual a diverge não é
um ato de comércio pois o bem foi comprado para oferecer não sendo, portanto, um
ato objetivamente comercial. Importa, agora, saber se o ato pode ser subjetivamente
comercial (se pode ser qualificado como comercial à luz da 2ª parte do art. 2º).
Verificamos, então, que o ato foi praticado por um comerciante, que é uma compra e
venda com natureza patrimonial e, portanto, não é exclusivamente civil e que resulta
que há conexão, pois a aquisição foi feita no exercício da atividade do outro. Logo o
ato é subjetivamente comercial e a divida é comercial. Sendo assim, estão verificadas
as condições de funcionamento da presunção do art.15º CComercial.
O cônjuge do devedor poderia tentar ilidir qualquer uma das presunções, e se a ilisão
da presunção do proveito comum não era admissível, é evidente que ela poderia
reunir a presunção do exercício do comércio pois é obvio que a divida não foi
contraída nesse.
Se conseguisse ilidir, afastava a presunção, o que afastaria também a
comunicabilidade, logo a dívida seria da responsabilidade de um dos cônjuges e os
bens que corresponderiam pela mesma seriam os do art.1696º CC.
Se não conseguisse afastar a presunção, então a divida seria da responsabilidade de
ambos os cônjuges e os bens que responderiam seriam os do art.1695º CC.
Aula de 3/10/2022:
Nas obrigações comerciais os coobrigados são solidários salvo disposição em contrário.
Se estivermos perante uma obrigação mercantil (derivada de um ato comercial) e
houver uma pluralidade de coobrigados o regime é o da solidariedade.
Exigências de forma e exigências de prova:
Art.º 1143º CC – mútuo tem exigências de forma;
Art.º 396º CComercial – qualquer meio de prova é admitido, no empréstimo mercantil
que não seja bancário.
No quadro do penhor, no civil a regra é que o penhor implica a entrega da coisa e no
mercantil não é necessária a entrega da coisa.
No arrendamento o regime é semelhante no civil e no comercial.
Prescrições Presuntivas – art.º 312º e ss. CC – significa que passado algum tempo se
presume o cumprimento da obrigação. Em regra, estamos perante contratos que
implicam valores diminutos, que são pagos num prazo breve e que, em regra, não
exigem recibo, ou prova de pagamento, pelo que se presume o cumprimento da
obrigação. Têm um prazo ainda mais curto quando estamos perante atos comerciais
relativamente ao vendedor – 316º CC e 317º (podemos estar ou não em matéria
mercantil). O art.º 316º CC diz que prescrevem no prazo de 6 meses porque é sempre
matéria mercantil (diferente da regra do 309º CC que diz que a prescrição são 20 anos)
– ex.: restaurantes, hotéis, etc. Já o art.º 317º CC estabelece um prazo de prescrição de
2 anos – ex.: cantina da universidade – porque em alguns casos não estamos em
matéria mercantil.
Art.º 317º/b) CC
Obrigação solidária imperativa – art.º 101º CComercial:
Temos uma fiança mercantil (estabelecida por acessoriedade, ou seja, ato
acessório de um outro ato considerado como mercantil), em que o fiador não tem de
ser comerciante. No entanto, o fiador responde solidariamente (...);
Particularidades:
Desvio ao art.º 638º CC – benefício da excussão prévia. O credor pode demandar
imediatamente o fiador e ele terá de responder, pagando toda a dívida liberta todos os
?
Esta norma tem natureza imperativa
É um regime solidário imperfeito porque: o senhor A é credor, o senhor B, C, D e E são
devedores e o senhor H é o fiador – a primeira coisa a resolver é saber se estamos ou
não perante um ato mercantil. Se for esse o caso, estamos perante uma fiança
mercantil, pelo que o fiador não goza do benefício da excussão prévia. Se não
houvesse fiador, ao abrigo do art.º 100º CComercial, o A podia demandar qualquer um
dos devedores.
O A demanda o H, porque ele é fiador, ...
É imperfeito porque o senhor H não é devedor.
Continuação...
Juros
Quanto à origem: Juros legais vs. juros convencionais – os primeiros resultam
da lei quando as partes nada estabelecem, os segundos resultam do acordo das partes;
Juros remuneratórios (capital); juros moratórios (devedor entrar em mora); juros
compensatórios; juros indemnizatórios.
No direito comercial vigora o Princípio da Onerosidade – art.º 102º CComercial
– e não o da Gratuitidade – ex.: 395º - empréstimo mercantil. O mandato mercantil e o
deposito são onerosos ao contrário do direito civil onde é gratuito.
JUROS MORATÓRIOS:
1. Legais – aplicam-se quando o contrato comercial nada diz. Se estamos
perante um empréstimo mercantil e o devedor entra em mora qual é o juro
que se aplica? Decreto-lei 62º/2013 de 10 de maio. Não sendo estabelecida
taxa de juro ou é referida taxa de juro, mas não se diz qual aplica-se o
disposto no art.º 102º/2 e 3 e a taxa está concretizada na Portaria
277/2013 de 26 de agosto – alínea a) do seu art.º 1º. A taxa de juro é a taxa
de referência do Banco Central Europeu para as suas operações de
financiamento mais 7 ou 8 pontos percentuais (art.º 2º/1 da Portaria).
A taxa de refinanciamento do BCE até 30 de junho era de 0%. Neste
momento vamos manter essa taxa de 0%, mas em janeiro a taxa já subiu.
Se nada for estabelecido entre as partes o devedor entrar em mora, a taxa
de juro de mora é de 7% - o juro de mora legal para as operações mercantis
é de 7% no mínimo. É uma taxa elevada, com função preventiva, mas no
direito civil a taxa de mora legal é de 4%.
O DL 62/2013 de 10 de maio veio (?) – transações comerciais reguladas pela
Diretiva 2011/7 /UE – reduzimos os prazos de pagamento, a regra geral são
30 dias e a taxa de juro passou a ser mais alta. Tem objetivo de proteger os
credores para não existirem atrasos significativos. O art.º 3º dessa Diretiva
diz-nos o que é uma transação comercial (entre empresas ou entre
empresas e entidades públicas destinada ao fornecimento de bens ou
prestação de serviços. Na alínea d) diz o que é uma empresa – aqui inclui-se
o artesanato e os profissionais liberais ao contrário do código comercial. A
transação comercial daqui é diferente da nossa transação comercial do art.º
1248º CC. O fornecimento de bens tem um sentido muito mais amplo. Estão
excluídos, quanto ao âmbito subjetivo, os contratos celebrados entre
consumidores, os juros no quadro dos contratos cambiários, alíneas a), b) e
c) do art.º 2º).
O art.º 805º CC exige como regra que quando haja mora, o devedor só fica
constituído em mora depois de ter sido interpelado judicialmente.
Nos termos do nº2 do art.º 806º CC, nas obrigações pecuniárias a
indemnização corresponde aos juros, em regra não há mais indemnização.
O nº3 diz que o credor, se se tratar de responsabilidade por factos ilícitos
ou risco, pode comprovar que a mora lhe causou dano e que, por isso,
estabelecer um regime legal em que não é necessária a interpelação –
desvia-se do art.º 805º/1 – vai estabelecer juros moratórios mais altos e vai
estabelecer uma indemnização complementar mais alta. Quanto ao
vencimento automático dos juros quando o prazo de pagamento termina
(em regra 30 dias – art.º 4º/3/a)), sem necessidade de interpelação. Não se
afastou totalmente a liberdade contratual, pelo que é possível fixar
contratualmente outros prazos – art.º 4º/2 e 3 e art.º 8º/1 -, desde que o
prazo não seja face ao caso concreto um prazo excessivo de pagamento.
Quanto à taxa de juro, aqui mais alta, o DL 62/2013 de 10 de maio
estabelece no caso das transações comerciais a taxa de juro de mora legal a
taxa do BCE mais 8 pontos percentuais, o que significa que a taxa de juro
passa a ser de 8% (na falta de convenção diferente). O art.º 7º deste
decreto estabelece uma indeminização complementar, pode começar por
pedir mais 40 euros e uma indemnização superior.