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Direito Comercial da Empresa

Introdução

Qual é o alcance do direito comercial? Será apenas a atividade económica no seu sentido
estrito?

Primeiramente importa referir-mos de que se trata o direito comercial. Este é um ramo do


direito privado que se destina a regular toda a atividade comercial e o mundo dos negócios.

Este abarca, por um lado, a indústria, enquanto atividade económica de produção de bens
pertencentes ao setor secundário da economia e também os serviços de seguros, transportes,
etc.

No entanto, não integram o âmbito do direito comercial, por razões essencialmente de


natureza histórica, a atividade agrícola, o artesanato e as profissões liberais.

Breve introdução histórica

O direito comercial começa a surgir na idade média, mas foi no fim desta que teve o seu
momento mais importante.

Aqui, houve um enorme desenvolvimento do comércio e surge então, a necessidade de um


direito comercial que regule as corporações de comerciantes e artífices. Estas corporações
disciplinavam toda a atividade mercantil e criam direitos próprios dos comerciantes para os
comerciantes como horários, regras de publicidade, regras de características de produtos, etc.

Relações entre o direito civil e o direito comercial

O direito comercial é um direito privado especial que se aplica a um certo tipo de relações
jurídicas: as mercantis. Este diz-se direito privado especial pois não é excecional em relação ao
direito civil, isto é, não consagra uma disciplina oposta ou contrária ao regime-regra.

O direito civil configura um direito privado geral.

No entanto, é legitimo recorrer ao direito civil para solucionar as questões de natureza


mercantil. Este aspeto impõe a análise do art. 3º CCom que demostra a existência de dois
regimes:

 Regime especial geral: Para todos os atos de comércio;


 Regime particular: Para certo atos de comércio.

Vantagens do direito comercial em relação ao direito civil

1. Art. 100º CCom

Direito civil: Se o ato não é comercial aplica-se o regime da conjunção.

Direito comercial: Aplica-se o regime da solidariedade para proteger o crédito e os interesses


do credor.

2. Rapidez

O direito comercial é muito mais rápido do que o direito civil:

-Art. 396º: Não exige forma;

-Art. 1143º CC: Temos exigências de forma.

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3. Facilidade de transmissão do crédito


4. Regime dos vícios das coisas

-Art. 471º CCom: Regime regra- 8 dias;

-Art. 916º CC: Regime regra- 6 meses.

5. Regime dos juros


6. Art. 15º CCom

As normas qualificadoras da matéria mercantil

Quando é aplicado o direito comercial?

O direito comercial é um direito dos atos de comércio, dos comerciantes e também o direito
que gira à volta das empresas, ou seja, é aplicado quando estivermos perante um ato
comercial.

Importa referir que nem todos os empresários são comerciantes e nem todos os comerciantes
são empresário.

Atos de comércio

A “definição” de atos de comércio é nos dada pelo art. 2º CCom. Este artigo, apesar de não nos
dar uma noção de ato de comércio ou mesmo uma enumeração dos mesmos, enuncia critérios
para a qualificação de um ato como tal.

Assim, de acordo com o art. 2º CCom, um ato de comércio tem de ser:

o Regulado no CCom;
o A obrigação tem de ser do comerciante;
o Não pode ter natureza exclusivamente civil;
o O contrario do próprio ato não pode resultar.

A qualificação de um ato de comércio

Existem dois tipo de correntes:

 Corrente objetivista: Estas prescindem do sujeito para determinar a qualificação da


relação jurídica. Aplicam-se às normas comercias independentemente da qualidade do
sujeito;
 Corrente subjetivista: A identificação do sujeito é um critério determinante para a
qualificação da relação jurídica. Regula a atividade profissional dos comerciantes. O
direito comercial nasceu de um direito de matriz subjetivista.

Em Portugal, temos uma solução mitigada, isto é, o nosso código colhe influências diretas de
ambas as correntes (art. 2º CCom). O artigo 2º está dividido em duas partes, sendo a primeira:

“Serão considerados atos de comércio todos aqueles que se acharem especialmente regulados
neste Código…”

O critério usado para a qualificação do ato é assim objetivo. Ao eleger o critério determinante,
prescinde da qualidade de comerciante. Esta é radicalmente objetivista porque é formalista.

Já na segunda parte:

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“… e, além deles, todos os contratos e obrigações dos comerciantes, que não forem de
natureza exclusivamente civil, se o contrário do próprio ato não resultar.”

Aqui é possível verificar a existência da corrente subjetivista que prevê a possibilidade do ato
ser considerado como comercial ainda que não esteja previsto no Código. Para que um ato
seja considerado um ato subjetivamente comercial, tem de cumprir determinados requisitos
cumulativos:

 A obrigação tem que ser do comerciante: Aqui surge a primeira questão, quem é
comerciante no direito português? Art. 13º CCom. indica-nos que comerciante são
aqueles que tendo capacidade, se dedicam de forma reiterada e profissional à prática
de atos comerciais. No entanto, nem todos os atos permitem a qualificação de
comerciante, mesmo que esta seja reiterada;
 O ato não pode ter natureza exclusivamente civil : Aqui temos de identificar, em
abstrato, qual é o tipo negocial para depois sabermos se este terá natureza
patrimonial (nunca terá natureza exclusivamente civil) ou natureza pessoal (tem
natureza exclusivamente civil);
 Se do próprio ato o contrario não resultar: Pretende-se apurar qual é a conclusão que
o real declaratário que contratou com o nosso comerciante retira a propósito da
eventual ligação entre o ato praticado e a atividade profissional do comerciante. No
fundo, tenciona-se saber se o ato foi praticado no âmbito do exercício da atividade do
comerciante.

Exemplo: Imaginando que A se dedica a construção civil e encomenda uma tonelada de


cimento a B. aqui podem ocorrer três situações distintas:

1. B vai assumir que A está a comprar o cimento para o exercício da sua atividade
profissional e assim estaríamos perante um ato comercial;
2. B assume que não tem nada a haver com a atividade praticada por A: ato praticado
fora do âmbito do exercício da sua atividade profissional e não se cumpre o requisito;
3. Não se pode retirar uma conclusão, fica na duvida. O requisito encontra-se
preenchido.

Art. 230º CCom.

Complemento do art. 2º CCom. Entende se que este artigo também contempla a previsão de
atos objetivos de comércio. Aqui estão contempladas as empresas comerciais. Todos os atos a
que as empresas aqui elencadas se dedicam também se consideram atos objetivos de
comercio. Este art. Divide-se em três partes:

1. Trata das empresas comerciais e mercantis e ajuda na qualificação de ato comercial;


2. Tem um elenco de empresas denominadas como comerciais. Impõem-se fazer uma
interpretação extensiva/ analógica das empresas aí numeradas;
3. Três últimos parágrafos. Não qualifica como comerciais certas empresas. Aqui define a
agricultura, o artesanato e as profissões liberais como não sendo empresas.

Tipos de atos de comércio

Os atos de comércio autonomamente comerciais (são comerciais por si próprios).

As fianças, os mandatos e os depósitos serão civis ou comerciais? Só são comerciais se forem


acessórios aos atos de comercio. Estes tratam-se de atos de comercio acessórios.

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Atos formalmente comerciais (ato que é comercial em relação a ambas as partes do contrato)
ou unilateralmente comercial (um estudante que vai comprar um automóvel para uso
próprio: temos uma venda mercantil e uma compra civil- só comercia em relação a umas das
partes. O regime jurídico a que este está subordinado será o direito comercial- art. 99ºCCom.).

Art. 99ºCCom: Divide-se em duas partes:

1. O ato é comercial apenas em relação a uma das partes, o ato está sujeito ao regime
comercial;
2. Há disposições de direito comercial que só se aplicam aqueles em relação aos quais o
ato é mercantil, em relação aos outros em que o ato não é comercial aplica-se o
regime civil e comercial.

Relevância substantiva da qualificação de um ato como comercial

Art. 100º CCom: Tem a haver com o art. 99º CCom.

Exemplo: A e B são estudantes e venderam um relógio a dois comerciantes que tem uma
livraria. Este ato é civil ou mercantil?

O ato de A e B é comercial (lado ativo). Se o ato não se destina à atividade mercantil, não se
aplica o art. 100º CCom, aplica-se sim o regime da conjunção.

Exigências de forma e de prova

Art. 1143º CCom: contrato de mutuo no direito comercial.

Art. 346º CCom: qualquer meio de prova é admitido.

Existem diversos diferenças entre o direito civil e o direito mercantil:

 Casos em que direito civil é mais exigente: No penhor civil, a regra geral é a entrega da
coisa já no direito comercial, tal não é necessário.
 Casos em que é igual em ambos: No arrendamento para habitação civil, basta o
documento particular, tal como no direito mercantil.
 Casos em que o direito mercantil é mais rigoroso: Nas sociedades comerciais.

Prescrições presuntivas

Art. 312º e ss CC: Passado algum tempo, presume-se o cumprimento da obrigação.

Estas tem um prazo muito curto quando estamos perante atos que são comercias em relação
ao vendedor (art. 316º- 6 meses, art. 317º- 2 anos, atividades não mercantis). Sendo que o
normal prazo de prescrição presuntiva é de 20 anos, nos termos do art. 309º.

Art. 101º CCom

Temos aqui uma fiança mercantil, estabelecida por acessoriedade.

O fiador não tem que ser comerciante.

Se a fiança é mercantil, o fiador será solidário com o afiançado. O credor pode demandar
imediatamente o fiador, não gozando do benefício da execução prévia.

Art. 638º CC: Esta norma tem natureza imperativa, qualquer cláusula contratual e nula por
violação de uma norma de natureza imperativa (art. 294º).

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Exemplo: A é credor de B, C e D. H é o fiador. Primeiro verifica-se se a relação jurídica tem


natureza mercantil, se é um ato comercial. Se é comercial, a fiança será mercantil e A poderá
demandar o H, pois é possível no direito comercial. É solidária imperfeita porque o fiador não é
devedor e pode exigir o regresso total da dívida aos devedores.

Regime das dividas comerciais

Em regra, o responsável pelo pagamento de uma dívida é quem o contrai. O património do


devedor é a garantia geral dos credores e perante a incapacidade do devedor efetuar o
pagamento é em última linha que o seu património responde. Excecionalmente existem
situações em que pessoas não devedores são os responsáveis pelo pagamento da dívida e em
regra essa exceção está estritamente relacionada com a constituição das garantias pessoais.
Há alguém que voluntariamente assume a qualidade de garantia do pagamento de uma
obrigação- Fiança e o aval.

Existem ainda casos onde alguém pode ser responsabilizado pela dívida de alguém sem este se
ter voluntariado. Este caso está regulado pela lei- casamento (art. 1691º/D CC).

Exemplo: Se os cônjuges não tiverem casado no regime de separação, e a dívida tiver sido
contraída na constância do matrimónio. Se tiver sido contraída no exercício do comércio do
devedor e se não se provar que a mesma não foi contraída em proveito comum do casal,
então, a dívida será da responsabilidade de ambos os cônjuges.

Existem dois requisitos para que tal aconteça:

1. Tem que estar casados num regime que não seja a separação de bens;
2. A divida te, que ser contraída na constância do matrimonio.

Já os requisitos comerciais são (art. 1645º CC):

1. Tem que ser contraída em proveito comum do casal: Tem que ser provado que não
houve proveito comum. Esta é uma presunção legal ilidível, estas servem para inverter
o ónus da prova que cabe, assim, ao outro cônjuge;

O que é proveito comum do casal? Basta qualquer tipo de proveito, seja económico, moral.
Qualquer benefício é proveito.

2. Tem que ser contraída no exercício do comércio (art. 15º CCom): As dívidas comercias
dos comerciantes presumem-se contraídas no exercício do comércio. Quem tem de
provar que tal não aconteceu é o cônjuge do comerciante, mas no caso desta
presunção, o funcionamento da mesma impõe ao credor do comerciante algum
esforço probatório. Este fica obrigado a provar os elementos constitutivos da
presunção: a qualidade de comerciante e a natureza comerciante da dívida.

No final, tudo resulta num combate processual entre credor e o cônjuge do comerciante.

Consequência

Art. 1695º: Respondem os bens do casal e na falta destes, respondem os bens próprios de
qualquer dos cônjuges.

Juros

No direito comercial vigora o principio da onerosidade e não o da gratuitidade (esta apenas


ocorrerá no caso de empréstimo, juros).

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Juros moratórios legais e juros convencionais

Quando o contrato nada diz, estamos perante juros moratórios legais. Isto vem determinado
no DL 62/2013 de 10 de maio, 2º parágrafo.

Não sendo estabelecido uma taxa de juros ou, nos casos em que a taxa de juros não é
especificada e o devedor entrar em mora, esta está concretizada na Portaria 277/2013 de 26
de agosto (art. 102º/4 C CCom).

A Portaria diz-nos que a taxa de juros é a taxa do Banco Central Europeu +7% ou +8%. Neste
momento, a taxa do BCE é de 0%.

Nos juros convencionais, as partes podem fixar um juro diferente (art. 102º CCom.). Esta
apenas pode ser fixada por escrito pois, no caso contrário, será nula (art. 294º CCom.).

Até onde podem as partes aumentar as taxas?

Art. 1146º CC: Nas transações comerciais se existir garantia real pode aumentar 3 (10%) se não
existir garantia real só pode ir até 5 (12%). A título de clausula penal por mora a taxa pode ir
até 7 (14%), se existir garantia real é 9 (16%) se não existir garantia real.

Se for fixada uma taxa mais alta (art. 1146º/3), há uma redução automática para a taxa
máxima legal.

O DL 62/2013 vai afastar os art. 805º e 806º do CC:

 Vai estabelecer juros moratórios mais altos;


 A taxa de juro legal nas transações legais passa a ser de 8%.
 Vai estabelecer uma indeminização complementar (art. 7º) e passa a poder pedir mais
40 euros, bem como uma indeminização superior.

Nº3: Dá-se o vencimento automático dos juros quando o prazo do pagamento terminar. O
devedor, em regra, tem 30 dias a contar do recebimento da fatura. Não é necessário a
interpelação para que seja constituída mora, este prazo pode ser estabelecido entre as partes
embora não tenham muita liberdade.

Art. 13º CCom.- Quem é comerciante

Este artigo tenta qualificar como comerciante uma pessoa singular, empresário individual. Para
que alguém seja considerado comerciante, necessita de:

 Capacidade de exercício dos direitos;


 Fazer deste profissão (para ser comerciante não necessita de ter uma empresa).

Há sujeitos que a lei afasta como sendo comerciantes, mesmo estes sendo empresários ou
praticando atos comerciais (agricultura, artesão, profissionais liberais).

As entidades proibidas de praticar atos de comercio estão determinadas no art. 14º CCom.

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2º Teste

Quem não é comerciante

Há sujeitos que até podem ser empresário e praticam atos de comércios, mas são afastados
pela lei, não sendo considerados comerciantes. Ex: agricultores, artesãos, profissionais liberais
(art. 230º CCom.).

Pessoas coletivas e pessoas coletivas públicas que praticam atos de comercio, mas não são
comerciantes

Art. 17º CCom.: Estados, Municípios e Paróquias- Podem praticar atos de comércio, mas não
são comerciantes. Qualquer pessoa coletiva pública da administração direta ou indireta do
Estado não são comerciantes.

 Parágrafo único: Misericórdias, asilos, instituições de beneficência e caridade- A lei


afeta a sua qualificação como comerciante devido a terem finalidades altruístas.

Pessoas coletivas que estão proibidas de praticar atos de comercio

Art. 14º CCom: É proibida a profissão de comércio as associações sem fins lucrativos pois não
tem nenhum interesse material, um interesse em obter lucro.

Estabelecimento comercial e os negócios sobre o estabelecimento comercial

Estabelecimento e empresa, distinção

O estabelecimento comercial tem como objeto uma unidade técnica que pode se encontrar
em um espaço destinado a alienação/serviços, mas é apenas aquela unidade técnica.
Enquanto a empresa, num sentido objetivo significa toda uma estrutura empresarial de que
um sujeito é titular. Ou seja, no sentido objetivo a empresa é obviamente a empresa do
sujeito. O sujeito pode ser uma sociedade comercial ou ser um sujeito individual que explora
uma empresa e a empresa pode ter diversos estabelecimentos comerciais e unidades técnicas.
A empresa também é as vezes utilizada no sentido subjetivo, como sujeito, mas está errado. A
empresa é o objeto que tem um sentido mais amplo, abrangendo todas as unidades
respetivas.

O que é um estabelecimento comercial

 Organização de diversos fatores produtivos;


 Implica que um conjunto de coisas esteja devidamente organizadas, na perspetiva do
comerciante;
 Constitui uma unidade económica, mas também uma unidade jurídica;

O estabelecimento comercial não se encaixando como bem imóvel, será um bem móvel,
contudo com a denominação de bem móvel anómalo, diferente dos restantes, onde a
jurisprudência muitas vezes aplica o regime dos bens imóveis.

Composição:

 Elementos corpóreos: Natureza tangível (utensílios, máquinas, prateleiras);


 Elementos incorpóreos: Firma, marca, patente;

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 Relações de facto: Relaciona-se com os factos incorpóreos (distribuição exclusiva para


certo território);
 Clientela: Elemento polémico;
 Elementos naturais: Todos os elementos sobre os quais se nada mais disser passa para
ao adquirente, transmitindo-se o estabelecimento comercial, estes elementos
transmitem-se também.
 Aviamento: Este não é um elemento, é a capacidade de o estabelecimento comercial
gerar lucros. Essa qualidade não é um elemento, isso deriva da própria gestão que vai
ser feita do estabelecimento comercial.

Arrendamento mercantil

Este, sendo superior a 6 anos, deve ser registado.


Havendo falta de licenças, poderá ser exigido o pagamento de coimas. Se o arrendamento for
efetuado para fim diversos daquele que foi contratualizado: o contrato será nulo (art. 5º DL de
2006).
Este é um contrato sinalagmático.

Elementos principais:

 Identificar as partes;
 Montante da renda;
 Data.

Elementos acessórios:

 Regime que se aplica ao condomínio;


 Determinar quais são as partes que são comuns.

Licença de utilização

Em relação a alguns prédios é necessário licença de utilização (art. 1070º/1 C.C). Só estão
dispensados os imóveis construídos antes de 1951. Se houver alteração da finalidade do
prédio, mesmo os mais antigos, já estarão sujeito à licença.
Consequência da não utilização de licença: o senhorio tem que pagar coimas. Poderá o
arrendatário resolver o contrato. Em particular há uma punição mais agravada se o prédio for
utilizado para fins tivermos daqueles que estão na licença, sendo o contrato nulo.

Renda

A renda é uma prestação pecuniária e periódica nos termos do art. 1075º/1. Consequências
desta disposição:

 Art. 781º: Não se aplica. Isso porque a renda não é uma divisão da obrigação em
prestações, mas antes uma prestação periódica. Mas aplica-se antes o art. 434º/2,
dizendo que a resolução não abrange as prestações já efetuadas;
 Art. 1075º/2: Vencimento da renda. Se as rendas estiverem em correspondência com
o calendário gregoriano, a primeira vencer-se-á no momento da celebração do

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contrato e cada uma das restantes no 1º dia útil do mês imediatamente anterior
àquele a que diga respeito.

Quem tem legitimidade para receber a renda e para pagar a renda?

 Legitimidade para receber: O senhorio ou quem ele indicar (no caso de um


representante). No caso do senhorio transmitir a sua posição contratual, o senhorio
deve indicar que há um novo dono do imóvel e o arrendatário está obrigado a pagar
ao novo senhorio;
 Legitimidade para pagar: O arrendatário, quem ele indicar ou um qualquer terceiro
(art. 767º).

Lugar ao pagamento

Se a obrigação tiver certa quantia em dinheiro, o lugar para o pagamento é o lugar do


domicílio do domicílio do credor (senhorio).
No entanto, no arrendamento, o art. 1039º/1, 2º parte é uma exceção ao art. 774º ,
estipulando que tem que ser efetuado no domicilio do locatário à data do vencimento.
Todavia, é normal que no contrato seja convencionado outro regime, sendo o arrendatário
que tem que ir à casa do senhorio pagar a renda.

Cada uma das rendas é autónoma em relação às outras

É preciso que seja invocada a prescrição em relação a cada uma das rendas. Além disso, o art.
303º CC diz que a prescrição tem que ser invocada, não sendo do conhecimento oficioso.

Consequências da autonomia:

 O senhorio tem a possibilidade de resolver o contrato por falta de pagamento da


renda;
 A autonomia da renda prende-se também com a caducidade do direito de resolução.
Esta caducidade conta-se autonomamente em relação a cada uma das rendas;
 A renda começa a ser cobrada no momento da celebração do contrato e o
arrendatário paga a renda do mês que respeita o mês seguinte. No entanto o art.
1076º CC indica-nos que o pagamento da renda pode ser antecipado por um período
não superior a 3 meses.

Duração do contrato

Art. 1110º CCom.: Vigora o principio da liberdade contratual. Pode ser um contrato de prazo
certo ou de duração indeterminada.

 Nº2: Se nada for dito, remete para as regras do arrendamento para a habitação, é
prazo certo, pelo período de 5 anos;
 Nº3: Quando o contrato se renova é igual ao prazo inicial, nunca inferior a 5 anos (se o
contrato for inferior a 5 anos, renova-se por 5 anos);
 Nº4: O senhorio não pode opor-se à renovação até que o contrato tenha uma duração
mínima de 5 anos.

Extinção do contrato

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Art. 1082º CC: As partes podem, a todo o tempo, revogar o acordo, sem haver a necessidade
de ser por escrito. Apenas se houver particularidades, deverá ser reduzido a escrito.

Se o civil quer resolver o contrato, este tem direito à renda, mas não à indemnização de 20%.

Resolução extrajudicial:

 Deverá cumprir os requisitos do art. 15º NRAU;


 Se o arrendatário entrar em mora, o senhorio pode resolver o contrato, tendo de
aguardar 3 meses, para que a mora seja relevante;
 Pelo art. 1084º CC: Passados os 3 meses de mora relevante, o senhorio tem de
notificar o arrendatário, nos termos do art. 9º/7A, B, C do Novo Regime do
Arrendamento Urbano. A notificação deve ser devidamente motivada, ou seja, deve
ser apresentado o motivo;
 Pelo art. 1084º/3 CC: O arrendatário, depois de notificado, pode impedir a resolução
do contrato se este meter fim à mora, no prazo de um mês, pagando também a
indemnização de 20%.

Resolução judicial:

 Art. 1048º CC: Uma vez em mora, a senhoria poderá intentar uma ação de despejo;
 O arrendatário, depois de notificado, pode impedir a resolução do contrato se este
meter fim à mora, no prazo de um mês, pagando também a indemnização de 20% (só
pode esta faculdade uma vez)

Uma vez extinto o contrato, o arrendatário tem um mês para sair.

Caducidade do contrato de arrendamento- art. 1051º

 Morte do arrendatário- al. D);


 Destruição da coisa;
 Perda da coisa locada- al. E), art. 790º;
 Expropriação por utilidade pública- al. F)

Denúncia

Denúncia pelo inquilino

 No contrato com prazo certo, quando as partes nada disserem

Nada sendo estabelecido pelas partes quanto ao regime da denúncia, o art. 110º/1 CC,
permite que as regras sejam livremente estabelecidas pelas partes.

 No contrato co prazo certo, quando as partes estabelecem regras quanto à denúncia

A liberdade contratual não pode decretar um prazo tão elevado pois contraem as regras de
boa fé. Pode ser um prazo curto se o senhorio aceitar.

 Contratos de duração indeterminada se as partes nada disserem

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O legislador do art. 1110º dá essa liberdade as partes de fixarem as regras da denúncia, se


nada disserem remete para o arrendamento para habitação (art. 1100º).

No arrendamento mercantil sem prazo, o arrendatário pode vir denunciar passado 6 meses e
com um pré-aviso ou de 120 dias ou de 60 dias.

 Contratos de duração indeterminada se as partes estabelecerem regras quanto à


denúncia

Todavia as partes podem fazer uso do art. 1110º/1 e ir fixar um prazo para denúncia do
arrendatário. Mais uma vez vale o que dissemos que não pode ser um prazo excessivamente
longo.

Denúncia pelo senhorio

 No contrato com prazo certo

Sendo um contrato com prazo certo, o senhorio não pode denunciar o contrato. Entende-se
que ele pode denunciar um contrato com prazo indeterminado, mas com prazo certo ele
apenas pode opor-se a renovação. A denúncia é um direito do arrendatário e não do senhorio.

 Contratos de duração indeterminada se as partes estabeleceram regras quanto à


denúncia

O regime supletivo que se aplica é o disposto no art. 1101ºC: tem que ser uma antecedência
não inferior a cinco anos.

 Contratos de duração indeterminada se as partes estabeleceram regras quanto à


denúncia

Imaginemos que é fixado um prazo para o senhorio vir denunciar o contrato ao fim de 15 dias.
É um prazo excessivamente curto, consoante a natureza do estabelecimento comercial, pois
tem que dar tempo ao arrendatário além de se instalar

Oposição à renovação

Só faz sentido nos contratos de arrendamento com prazo certo, não faz sentido nos contratos
de duração indeterminada porque nesses não há renovação. A oposição a renovação pode ser
quer pelo arrendatário quer pelo senhorio.

Arrendatário

Nada sendo estabelecido entre as partes, não havendo convenção entre as partes quanto aos
prazos de pré-aviso em relação a oposição a renovação, art. 1110º/1, se as partes nada
estabeleceram, aplica-se as disposições para arrendamento a habitação, no caso concreto o
art. 1098º/1.

Senhorio

Essa é a única hipótese que o senhorio tem de por termo a um contrato com prazo certo. Se
nada no contrato for estabelecido, aplica-se o art. 1097º.

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O art. 1010º/1 permite outros prazos desde que o princípio da boa fé não seja infringido.

Fica a dúvida se o art. 1110º: A se aplica a oposição da renovação, uma vez que, embora a
epígrafe se refira a oposição pela renovação, todo o corpo do artigo se refere apenas a
renúncia.

Estabelecimento comercial

 É uma coisa móvel anómala, ou seja, nem sempre se irá aplicar o regime da coisa
móvel;
 É uma coisa composta funcional;
 Existe sobre esta coisa um direito de propriedade, não significando que o proprietário
seja proprietário de tudo o que compõe o estabelecimento: quando vende o
estabelecimento, vende tudo, mesmo aquilo de que não é proprietário - também
existe direito de sequela.

Trespasse

Que coisa é esta?

Não é uma coisa como as outras. Não é propriamente uma coisa móvel mas também não é
uma coisa imóvel. É uma coisa móvel anômala, porque nem sempre se vai aplicar o regime das
coisas móveis.

Também não é uma coisa corpórea, é uma coisa imaterial enraizada em elementos material.

Existe sobre essa coisa um direito de propriedade sobre o estabelecimento como um todo. O
proprietário é proprietário da coisa, mas não significa que seja proprietário de todas as coisas
que estejam lá.

Quando é transmitido o estabelecimento comercial, o que acontece aos contratos de trabalho,


os contrato de locação financeira, esse contrato de compra e venda com reserva do direito de
propriedade, as dívidas, os créditos que o titular do estabelecimento comercial tem?

Se há o direito de propriedade, também há o direito de sequela no abrigo do art. 1311º do C.C,


podendo reivindicar o todo, mesmo daqueles elementos de que ele não é proprietário.

Pode o estabelecimento comercial ser objeto de posse?

O nosso ordenamento admite posse sobre coisa incorpóreas, logo poderá haver posse sobre o
estabelecimento comercial, que não é uma coisa incorpórea pura. Isso significa que o dono do
estabelecimento comercial também é possuidor, que pode fazer uso dos instrumentos de
tutela: ação direta, legitima defesa, ação de prevenção, ação de manutenção da passa, ação de
restituição da posse, embargo de terceiros.

O locatário do estabelecimento comercial também pode recorrer aos instrumentos de tutela


da posse, sendo um detentor, não sendo possuidor, mas ao abrigo do art. 1037º/2 do C.C pode
recorrer aos meios de tutela da posse.

Pode o estabelecimento comercial ser objeto de usucapião?

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Sim, é possível. Mas o prazo é, tendo em conta a sua natureza jurídica anômala, tem sido
pacífico na doutrina e na jurisprudência que o prazo a se aplicar é o dos imóveis.

Quanto ao trespasse:

Não há um regime próprio e autônomo para o trespasse. Havendo um trespasse, o que


acontece aos contratos de trabalhos? Vamos ter que ir ao Código do Trabalho. O que acontece
aos contratos de dívidas e créditos? Vamos ter aplicar o C.C sobre a cessão de créditos e
extinção de dívidas. O que acontece aos contratos de fornecimento ou distribuição? Vamos ter
que ir aos artigos 424º e seguintes do C.C sobre cessão de posição contratual. O que acontece
a dívidas da segurança social? Vamos ter que ir ao diploma da Segurança Social.

Também não temos uma noção de trespasse. Mas que é passivo na Doutrina e na
Jurisprudência é que:

 O trespasse implica a transmissão definitivas do direito de propriedade sobre o


estabelecimento comercial;
 Só há trespasse se for uma transmissão entre vivos;
 Pode ser onerosa ou gratuita, de uma estabelecimento comercial.

O trespasse é um negócio jurídico que versa sobre um estabelecimento comercial que existe,
mas não precisa estar a funcionar. Mas não tem que envolver todos os elementos do
estabelecimento comercial, posso ficar com uma máquina, com um dos cozinheiros etc.
Analisar se o conjunto mínimo de elementos é ou não objeto do trespasse tem que ser feito
casuisticamente.

O trespasse implica a transmissão do direito de propriedade sobre o estabelecimento


comercial. Se eu locar o estabelecimento comercial isso não é um trespasse. Se eu constituir
um usufruto sobre o estabelecimento comercial, não é trespasse.

O trespasse é uma transmissão a titulo singular, oque significa que versa apenas sobre o
estabelecimento comercial. Não é uma transmissão a título universal. Por isso que a
transmissão mortis causa não é uma transmissão a título singular, mas um transmissão a título
universal. Mas a transmissão mortis causa não é trespasse.

Tal como não é a fusão ou cisão das sociedades comerciais – isso não é um trespasse, é uma
transmissão a título universal. (mas isso não é relevante para casos práticos).

O trespasse envolve muitos negócios jurídicos, podendo ser muitos outros, desde que seja
uma transmissão definitiva, a título gratuito ou oneroso e a título singular.

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Sofia Escudeiro

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