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Direito Comercial - Noções

Direito comercial (Universidade Maputo)

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Apontamentos – Direito Comercial

1.Direito Comercial - noções gerais

Conceito de Direito: Conjunto de normas de conduta social impostas coercivamente pelo Estado (sentido que aqui
nos interessa).

Conceito de comércio: o conceito de Comércio deve ser considerado em dois sentidos, sendo:

✓ Sentido económico: é a actividade humana, de carácter especulativo, que consiste em pôr em circulação a
riqueza produzida, tornando disponíveis bens e serviços;
✓ Sentido jurídico: é o complexo de operações efectuadas entre produtor e consumidor, exercidas de forma
habitual, visando o lucro, com o propósito de realizar, promover ou facilitar a circulação de produtos da
natureza e da indústria.

Direito Comercial: É o ramo de direito que trata das relações jurídicas oriundas da prática do comércio. É o conjunto
de normas jurídicas que disciplinam as actividades das empresas e dos empresários comerciais, bem como os actos
considerados comerciais, ainda que não directamente relacionados às actividades das empresas.1

É Direito Comercial o conjunto de normas, conceitos e princípios jurídicos que regem os factos e as relações jurídicas
comerciais.

Assim entendido, o direito comercial abrange um conjunto variado de matérias, incluindo as obrigações dos
comerciantes, o regime dos nomes e sinais distintivos do comércio, as sociedades empresárias, os contratos
especiais de comércio, os títulos de crédito, a propriedade intelectual, entre outras.

Objecto do Direito Comerciais

O objecto do Direito Comercial é definido tendo em conta duas concepções:

A objectiva: segundo a qual o direito comercial teria como objecto os actos do comércio, sejam ou não comerciais
as pessoas que os pratiquem;

A subjectiva: segundo a qual o direito comercial teria como objecto os actos ou actividades dos comerciantes
relativos ao seu comércio

Características do Direito Comercial:

1
CORREIA, Miguel J. A. Pupo. Direito Comercial. 6ª edição, 1999

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a) Cosmopolitismo: é um ramo do Direito marcadamente internacional;

b) Dinamismo ou flexibilidade: é um ramo em rápida evolução;

c) Onerosidade: a actividade comercial envolve, via de regra, actos não gratuitos;

d) Simplicidade: busca formas menos rígidas do que o Direito Civil; em atenção à maior celeridade própria das
relações comerciais.

e) Fragmentação: não forma um sistema jurídico completo;

f) Presunção de solidariedade: visa à garantia do crédito.

Fontes de Direito Comercial

Fontes do Direito Comercial: chamam-se fontes do direito os diversos modos pelos quais se estabelecem as regras
jurídicas; são fontes do Direito Comercial:

a) A lei;
b) Os usos e os costumes;
c) A jurisprudência e;
d) A doutrina.

2.Actos de Comércio

Noção

O conceito legal de actos de comércio nos é dado pelos nºs 1 e 2 do art. 4º C.Com, a partir do qual surge-nos a ideia
de que certos actos jurídicos, ou seja, certos acontecimentos juridicamente relevantes são considerados como
comerciais quando preenchem determinadas especificidades, assim para a classificação de um dado acto como
comercial recorre-se ao critério legal ou objectivo e ao critério da qualidade da pessoa que os pratica ou subjectivo.

No entanto, a palavra “acto” deve ser tomada num sentido mais amplo, pois aqui ela abrange:

a) Qualquer facto jurídico, verificado na esfera das actividades comerciais e que sejam atribuídos efeitos
jurídicos, designadamente:

✓ Factos jurídicos naturais ou involuntários;


✓ Factos jurídicos voluntários, isto é, actos jurídicos, quer lícitos, quer ilícitos;

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✓ Negócios jurídicos voluntários, mormente de carácter bilateral ou contratos.

Juridicamente será acto de comércio todo aquele acto que em determinado pais e em dada conjuntura histórica, se
aplica o Direito Comercial desse país. Acto de Comércio é todo o acto de interposição nas trocas, de mediação entre
a oferta e a procura.

Classificação dos actos de comércio

Conforme a doutrina os actos de Comércio classificam-se em:

a) Objectivos e subjectivos;
b) Autónomos e por conexão;
c) Causais e abstractos;
d) Substancialmente e formalmente comerciais;
e) Bilateralmente e unilateralmente comerciais, etc.

a) Actos de comércio objectivos e subjectivos

São actos de comércio objectivos, os que são regulados na lei comercial, em razão do seu conteúdo ou
circunstâncias, ou seja, actos que são sempre comerciais independentemente da qualidade de quem os prática, no
nosso caso estão previstos no nº 1 al. a) 1ª parte do art. 4 do C.Com. Existem duas categorias distintas de actos de
comércio objectivos sendo:

1. Os actos regulados única e exclusivamente pelo Código Comercial. Ex: letra(art.704 c.com),
livrança(art.778 C.Com), cheque(782 C.Com) etc.
2. Os actos regulados simultaneamente no código Comercial e no Código Civil. Ex: o depósito, a compra e
venda, o empréstimo etc.

São estas algumas situações que têm regulamentação tanto na lei comercial como na civil e que adquirem a
natureza comercial quando se verificarem as condições especiais impostas pela lei comercial.

São actos de comércio subjectivos, aqueles cuja lei atribui comercialidade pela circunstância de serem tais actos
conexos com a actividade comercial dos seus autores. São os previstos no nº 2, art. 4º C.Com, ou seja os que forem
praticados por um empresário comercial no exercício e em beneficio da respectiva empresa, são actos de comercio
em atenção à pessoa que os pratica.

Estão, portanto, excluídos desta categoria os actos relacionados com a vida pessoal/familiar ou lazer do empresário.

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b) Actos de comércio autónomos e por conexão

Os actos de comércio autónomos: são comerciais devido à sua natureza intrínseca, que radica do próprio comércio,
na vida mercantil. São actos de comércio em si mesmo, independentemente da ligação com outros actos ou
actividades comerciais.2

Os actos de comércio por conexão ou acessórios são comerciais apenas em virtude da sua especial ligação a um acto
de comércio absoluto ou a uma actividade qualificada comercial, ou seja, São actos gerados e tipificados pelas
necessidades da vida comercial – art. 4º nº 1, al.b) C.Com. apesar da natureza ampla deste preceito, entendemos
que ele apenas abrange os auxiliares ou colaboradores, dado que os actos comerciais do empresário comercial estão
previstos no nº 2 daquele artigo

c) Actos substancialmente e formalmente comerciais

Actos formalmente comerciais, os que são regulados na lei comercial como um esquema formal, que permanece
aberto para dar cobertura a um qualquer conteúdo, mas abstraem no seu regime do objecto ou fim para que são
utilizados. Ex: são exemplos desses actos os negócios cambiários (relativos às letras de câmbio). Estes negócios
cambiários (saque e aceite), porque regulados especialmente na lei comercial (Livro IV do C.Com), são actos de
comercio – apesar da sua comercialidade ser formal uma vez que a causa deles pode não ter nada a ver com o
comercio ou com os actos do comercio, sendo que é irrelevante o conteúdo substancial da transacção. 3

Actos substancialmente comerciais, os que têm comercialidade em razão da própria natureza, ou seja, por
representarem, em si mesmos, actos próprios de actividades materialmente mercantis. Nestes termos serão
substancialmente comerciais, todos contratos regulados no Livro III do C.Com, uma vez que são actos próprios da
actividade materialmente mercantis.

Actos de comércio causais e abstractos4

2 ABREU, Jorge Manuel Coutinho. Curso de direito comercial. Vol.I, 5º edição; Almedina, Coimbra, 2004.

3
ASCENSÃO, Oliveira. Direito Comercial. Vol. I. Lisboa, 1994, pág. 92
4
Esta classificação concretamente os actos causais, não é especifica dos actos de comercio, uma vez que podemos
encontrar actos daquele tipo que tenham uma natureza puramente civil, como é o caso da compra e venda civil, esta
tal como a compra e venda mercantil destinam-se a realizar uma determinada e especifica causa - função jurídico
económica de transmissão de coisa, entre vivos mediante um preço. Em relação aos actos de comércio abstractos a
sua comercialidade resulta do facto de estarem regulados na lei comercial – são comerciais em razão da forma, uma

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Diz-se causal, todo o acto que a lei regula em ordem a preencher ou a realizar uma determinada e específica causa-
função jurídico-económica. Ex: a compra e venda tendo em conta que esta destina-se a realizar uma causa função
jurídica económica de transmissão de coisas, entre vivos mediante um preço.

É abstracto, aquele que se revela adequado a preencher uma multiplicidade indeterminada de causas funções,
podendo a relação jurídica que dele resulta ter uma vida independente da relação que lhe deu origem. São actos
que para além de encerrar em si a possibilidade de preencher várias causas-funções, vive de certo modo
independentemente da causa que lhe deu origem. Ex: são exemplos destes actos os praticados no âmbito da letra
de câmbio (saque, aceite, endosso), os quais podem ter subjacentes uma compre e venda, um empréstimo, uma
dação em cumprimento entre outros, mas dão sempre origem a uma relação jurídica que é independentemente
daquele que lhe subjaz.

Nestes termos o acto abstracto tem sempre subjacente um outro acto ou uma relação jurídica, que é a sua mediata
– uma vez que a causa imediata é a convenção relativa á prática do próprio acto abstracto, ou seja é uma convenção
executiva5

Actos bilateralmente comerciais e actos unilateralmente comerciais

São bilaterais ou puros os actos que têm carácter comercial em relação às duas partes. Ex: os contratos celebrados
por empresários comerciais, entre si, no exercício da actividade comercial art. 458 C.Com.

São unilaterais ou mistos os actos que apenas são comerciais em relação a uma das partes, e civis em relação à
outra. Assim são unilateralmente comerciais os contratos celebrados por um empresário comercial com o seu cliente
no exercício da sua actividade comercial (art.458º C.Com).

Apesar destes actos serem comerciais em relação a uma das partes, estão sujeitos às disposições da lei comercial
quanto a todos intervenientes ou contratantes nos termos do art. 5º C.Com. no entanto, aos contratantes que não
tem natureza comercial são inaplicáveis as disposições relativas àquele por cujo respeito o acto é mercantil – art.5º
C.Com.2ªparte.

Portanto o nosso legislador adoptou o sistema da unidade, que consiste em sujeitar o acto unilateralmente comercial
a um só regime quanto a todos os sujeitos 6, exceptuando as disposições que só se aplicam aos sujeitos com a

vez que, tais como os formalmente comerciais, para além de serem utilizados para operações de natureza comercial,
podem igualmente ser utilizados para operações de natureza económica que não tenham essa natureza.

5 CORREIA, Miguel J. A. Pupo. Op. Cit. P 71

6
ABREU, Jorge Manuel Coutinho. Op. Cit. Pp 83

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natureza mercantil. Ex: temos como exemplos destes actos as obrigações impostas aos empresários comerciais pelo
artigo 16º C.Com, dispensada em todo ou em partes em aos outros empresários, concretamente aos pequenos
empresários nos termos do art. 17º C.Com.

3.O Empresário Comercial – suas obrigações

O código comercial define no seu artigo 1º como sendo empresários comerciais:

a) As pessoas singulares ou colectivas que, em seu nome, por si ou por intermédio de terceiros, exercem uma
empresa comercial;

b) As sociedades comerciais.

As obrigações impostas aos empresários comerciais vêm estabelecidas no artigo 16º do C.Com que fixa:

a) Adoptar uma firma


b) Escriturar em ordem uniforme as operações ligadas ao exercício da sua empresa;
c) Fazer inscrever na entidade competente os actos sujeitos ao registo comercial;
d) Prestar contas.

Como se pode perceber a adopção de uma firma pelo empresário comercial é obrigatória (art.18ºC.Com.) na medida
em que é a partir dela que o empresário é identificado nas suas transacções. O processo de adopção da firma deve
obedecer a determinados requisitos igualmente impostos por Lei, trata-se do princípio da verdade art. 19º e o
principio da Novidade art.20º todos do C.Com.

O princípio da verdade

No sentido de que a firma de um comerciante individual deve conter o nome dele e não de outrem, as firmas não
devem conter palavras, expressões ou abreviaturas que induzam em erro quanto a actividade exercida. A mesma
preocupação da verdade resulta do art. 19º nº2. al b) C.Com. em relação a capacidade ou fim que a empresa visa,
isto é, não se pode adoptar uma firma que induza em erro quanto a natureza lucrativa da empresa.

Princípio da novidade (art.20C.Com.)

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No sentido de que as firmas não podem ser enganosas, podem omitir, mas devem retratar a realidade efectivamente
subjacente, não devem transmitir uma imagem que não lhe corresponda no que respeita à sua identificação,
actividade ou natureza empresarial.

Marca a prioridade da firma já registada ou licenciada procurando evitar surgir outra firma com a mesma
denominação da existente. Impõe inovação e imaginação aos mais recentes empresários, no sentido de que tem
de criar novas firmas distintas das já existentes e definitivamente registadas afim de evitar-se confundir o público.

O princípio da novidade está preenchido quando um nome se apresenta como suficiente para distinguir um sujeito
de outros. Não basta um elemento diferenciador qualquer, é essencial que o nome além de diferente não possa ser
confundido com outros nomes empresariais. O nome empresarial não pode ser idêntico, nem semelhante a outros
já existentes no mesmo âmbito de protecção. A distinção entre os nomes deve ser suficiente para que uma pessoa,
usando a atenção que normalmente se usa, possa distinguir os dois nomes.

Transmissão da firma

Ao contrário do que poderia se esperar, a lei permite a transmissão da firma – art.36º C.Com – e impõe como
requisitos para tal os seguintes:

a) A transmissão simultânea do estabelecimento comercial,


b) Acordo das partes nesse sentido,
c) A indicação dada pelo novo titular de haver sucedido ao antigo,
d) A limitação do uso da firma às relações emergentes da exploração do estabelecimento adquirido 7

Exige-se portanto, antes de mais a indicação da transmissão, fixada pelo nr.1 do art.36 C.Com, tal transmissão ou
aquisição pode ocorrer inter vivos ou mortis causa. Exige-se igualmente que a transmissão da firma tenha que ser
feita juntamente com o estabelecimento comercial a que esteja ligada art.36 nr.6 C.Com, devendo também
entender-se que a transmissão da firma e do estabelecimento tanto pode ser feita a título definitivo (trespasse)
como a título temporário (ex. locação, usufruto).

Em relação ao acordo das partes, impõe-se ao transmitente da firma a redução do seu consentimento por escrito
normalment´´´´´´´´´´e no documento que enforma a transmissão do estabelecimento 8.

7 ASCENSÃO, José Oliveira. Direito Comercial. Vol.I. Lisboa. 1986. Pp.274-275


8 DE ABREU, Jorge M. Coutinho. Curso de Direito Comercial. Vol.I. 5ª edição. Almedina, Coimbra, 2004. Pp 162.

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Julgamos ser indispensável o consentimento do transmitente pelas incidências pessoais inerentes a firma-nome uma
vez que entre nós a firma é o nome do comerciante.

A escrituração mercantil (art.42º e ss C.Com.)

A escrituração mercantil é, igualmente com a adopção da firma, uma das obrigações impostas aos empresários
comerciais com a finalidade de garantia da actividade comercial. Diz-se escrituração a arte de registar todas as
operações duma empresa, que afectem ou possam afectar o seu património.

A contabilidade através da escrituração, revela ao comerciante a sua situação económica e financeira em


determinado momento, bem como os resultados – lucros e perdas – de cada exercício e lhe põe igualmente em
evidência os erros da sua actuação em certos aspectos do seu comércio, permitindo-lhe modificá-la, também lhe
mostra os benefícios trazidos pela sua orientação em outros aspectos animando-os a continuá-la.

O carácter da sua obrigatoriedade justifica-se para a salvaguarda do interesse geral do público porque demonstra a
maneira de negociar do comerciante, o seu procedimento honesto ou de má fé nas transacções, sobretudo no caso
de falência em que se tem de reconstituir sua vida, para averiguar se houve negligência, fraude ou culpa sujeitas a
punição.

Em resumo a importância da escrituração mercantil e a sua obrigatoriedade revelam-se em três aspectos


fundamentais:

✓ O interesse do próprio comerciante;


✓ O interesse das pessoas que com ele contratam;
✓ O interesse geral do público.9

Força probatória dos livros de escrituração (art.53C.Com)

A lei atribui aos livros de escrituração uma força probatória que embora não seja plena tem consequências jurídicas
bem mais amplas do que as da maioria dos documentos particulares e como já varias vezes a doutrina se refere é
exactamente a função de prova uma das mais importantes e úteis da escrituração mercantil.

9 CARDOSO, Pires J. Noções de Direito Comercial. 12ª ed. Rei dos livros, Lisboa. Pp 103 a 105.

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