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Sebenta de
Direito Comercial
Prof. Dr. Rodrigo Rocha Andrade
Aulas Práticas
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Faculdade de Direito da Universidade do Porto
Nota Introdutória
Esta sebenta respeita às aulas práticas de Direito Comercial do ano letivo de 2020/2021,
lecionadas pelo docente Rodrigo Rocha Andrade. A sebenta foi realizada com os apontamentos da
coordenadora Marta Correia e da vogal Helena Lourenço do Departamento de Pedagogia da Comissão
de Curso do 4º ano.
A sua elaboração foi realizada com o objetivo de auxiliar os estudantes para o exame de Direito
Comercial. Relevamos ainda que, a leitura desta sebenta não substitui a leitura da bibliografia
obrigatória ou recomendada, sendo apenas um instrumento de auxílio ao estudo.
Caso sejam detetados alguns erros, agradecemos que estes sejam comunicados através do email
da CC4: ccurso4fdup@gmail.com de modo a que o documento seja aperfeiçoado.
Bom estudo!
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Índice
▪ Página 4 – Os atos comerciais
▪ Página 42 – Firma
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Direito comercial
Aulas práticas
Os atos comerciais
A qualificação de um ato como comercial releva para efeitos de aplicação do regime comercial
(art. 1.º, C.Com.). Esta qualificação é importante por diversos motivos: em primeiro lugar, o regime
supletivo das obrigações plurais difere consoante o ato seja de natureza civil ou comercial – no
primeiro caso, aplica-se o regime supletivo da conjunção (art. 513.º, CC); no segundo caso, aplica-se
o regime supletivo da solidariedade (art. 100.º, C.Com.). O regime da solidariedade, contudo, não será
extensivo aos não comerciantes quanto aos contratos que, em relação a eles, não sejam comerciais.
Neste ponto, importa referir que, mesmo que o ato seja unilateralmente comercial, i.e., qualificado
como comercial em relação a apenas uma das partes, o regime mercantil alarga-se a ambas, embora
com algumas exceções, designadamente certas disposições que só são aplicáveis à parte cujo ato seja
comercial (art. 99.º, C.Com.).
Em segundo lugar, importa para efeitos de qualificação dos sujeitos como comerciantes (art.
13.º, C.Com.). Sendo um sujeito qualificado como comerciante, todos os atos por si praticados serão,
em princípio, considerados atos subjetivamente comerciais. Os comerciantes estão sujeitos a um
estatuto próprio, estando sujeitos a determinadas obrigações, previstas no art. 18.º, C.Com. Também
as dívidas comerciais contraídas por comerciantes apresentam um regime de responsabilidade próprio,
nos termos do qual serão responsabilidade de ambos os cônjuges as dívidas contraídas por qualquer
um deles no exercício do comércio, presumindo-se contraídas no âmbito do comércio todas as dívidas
que forem comerciais (arts. 15.º, C.Com. e 1691.º, n.º 1, al. d), CC).
Por último, releva, ainda, no domínio das taxas de juro mercantis, sujeitas a um regime especial
(art. 102.º, C.Com.). Os juros mercantis devem sempre ser fixados por escrito. No que diz respeito aos
juros moratórios legais e àqueles para os quais não se estabeleceu uma taxa, a lei estabelece que para
os titulares de empresas comerciais (comerciante em sentido subjetivo, titular de uma empresa
comercial) a taxa deve ser fixada por portaria conjunta do ministro da justiça e das finanças. Relevância
do DL n.º 62/2013, de 10/5, que transpõe a diretiva relativa aos atrasos nas transações comerciais.
Os atos comerciais, conforme o art. 2.º, C.Com., correspondem a “todos aqueles que se acharem
especialmente regulados neste Código, e, além destes, todos os contratos e obrigações dos
comerciantes, que não forem de natureza exclusivamente civil, se o contrário do próprio ato não
resultar”. É possível distinguir entre atos objetivamente comerciais, cuja comercialidade resulta da
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própria natureza do ato, e atos subjetivamente comerciais, cuja comercialidade resulta da qualidade do
sujeito que os pratica.
a. Os atos diretamente previstos no C.Com. Por exemplo, a compra e venda mercantil (art. 463.º,
C.Com.).
b. Os atos previstos em leis que substituam normas do C.Com.
c. Os atos previstos em leis que se autoqualificam como comerciais. Existe um conjunto de figuras
previstas no CC que, embora sejam civis, são materialmente comerciais, sendo encaradas
enquanto atos de comércio – é possível qualificar outros atos como atos comerciais atendendo
ao critério da satisfação de necessidades de caráter comercial (exemplo: art. 1112.º, CC).
d. Os atos qualificados como comerciais por força da analogia legis ou da analogia iuris, com base
nos princípios gerais de direito comercial. Todos os atos previstos no art. 230.º, C.Com., quando
praticados no âmbito de uma empresa, serão considerados atos objetivamente comerciais. Este
artigo apenas prevê o ato de fornecimento de géneros e produtos pelas empresas comerciais,
parecendo dele estarem excluídos os atos de fornecimento de serviços; contudo, recorrendo à
analogia legis, é possível considerar os atos de fornecimento de serviços praticados por uma
empresa como atos comerciais. Importa referir que fornecer serviços não equivale a prestar
serviços – o fornecimento pressupõe que as partes acordem a prestação por um determinado
preço e determinado período de tempo, enquanto a prestação se refere apenas a atos casuísticos,
nos quais o preço não é previamente convencionado pelas partes, mas determinado
casuisticamente, a cada prestação. A prestação de serviços não se inclui no elenco de atos do
art. 230.º, C.Com., embora possa ser qualificada como um ato comercial recorrendo à analogia
iuris. Todos os atos conexos aos atos previstos no art. 230.º serão, também, comerciais (por
exemplo, a compra, por uma empresa, de uma carrinha de forma a poder transportar os bens
que se propõe a fornecer). A qualificação de um ato como comercial recorrendo à analogia iuris
é feita com base em três princípios:
i. Toda a prestação de serviços no âmbito da empresa será comercial (art. 230.º);
ii. Todos os atos de interposição de trocas serão atos de comércio;
iii. Serão atos de comércio todos os negócios sobre empresas comerciais (trespasse ou
locação de estabelecimentos comerciais).
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Para que um ato seja considerado subjetivamente comercial, deverá cumprir determinados
requisitos:
a. Deve ser praticado por um comerciante. Conforme o art. 13.º, C.Com., são comerciantes as
sociedades comerciais e as pessoas que pratiquem atos de comércio de forma profissional. O
art. 14.º, C.Com. exclui alguns sujeitos da qualificação de comerciante. Um sujeito será
comerciante desde que:
i. Detenha capacidade comercial (art. 7.º, C.Com.), correspondente à capacidade de
exercício. Nos termos gerais, a capacidade de exercício apenas se adquire com a
maioridade (art. 123.º, CC). Todavia, é possível que menores de idade sejam
considerados comerciantes, desde que os seus atos sejam praticados pelos seus
representantes e devidamente autorizados pelo Ministério Público (art. 1889.º, CC e art.
2.º, DL n.º 272/2001).
ii. Exerça atos de comércio (em sentido objetivo);
iii. Exerça os atos de comércio de forma profissional, i.e., sistemática, reiterada e séria;
iv. Pratique os atos em nome próprio.
b. Não pode tratar-se de um ato exclusivamente civil, sem qualquer tipo de conotação comercial
(exemplos: casamento, adoção, testamento).
c. Do próprio ato não pode resultar a sua não comercialidade. Esta corresponde a uma qualidade
aferida no momento da prática do ato, de acordo com um juízo do ponto de vista do destinatário
normal, razoável ou médio (art. 236.º, CC).
1. Artur, estudante da FDUP, comprou uma máquina de café. No primeiro dia do período
de provas orais, instalou uma banca num dos pisos do edifício, servindo aos seus colegas café ao
preço de €0,40. Após ter sido proibido pelo Conselho Diretivo de exercer essa atividade revendeu a
máquina à Associação de Estudantes, que passou a utilizá-la para vender cafés na sala de convívio.
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• Artur: apesar de ter capacidade comercial e de praticar os atos em nome próprio, não é um
comerciante, uma vez que não exerce os atos de forma profissional, e a sua prestação de serviços
não corresponde a um ato objetivamente comercial, na medida em que não se insere no âmbito dos
atos previstos no próprio código, em leis que substituam normas do C.Com. ou em leis que se
autoqualificam como comerciais, nem pode ser qualificada como tal por analogia iuris de acordo
com os princípios do direito comercial.
• Associação de Estudantes: também não será comerciante, uma vez que não corresponde a um dos
sujeitos previstos no art. 13.º, C.Com. e o próprio art. 14.º exclui as associações do conceito de
comerciantes.
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a resposta será afirmativa, por analogia iuris. Pelo contrário, se se entender que os seus atos não
são praticados no âmbito de uma empresa, não serão considerados atos objetivamente comerciais.
• Carlos: será comerciante, na medida em que preencha os respetivos requisitos (ter capacidade
comercial, exercer atos de comércio de forma profissional e o faça em nome próprio). A exploração
de uma pensão é um ato comercial por analogia iuris (consiste numa prestação de serviços efetuada
no âmbito de uma empresa – art. 230.º, C.Com.). Se, contudo, Carlos fosse gerente de uma
sociedade comercial de exploração da referida pensão, já não seria considerado comerciante, uma
vez que os seus atos seriam praticados em nome da sociedade (a própria sociedade seria, nesse
caso, o comerciante).
• David: existe um conjunto de atividades que estão excluídas do comércio (previstas no art. 230.º/1,
2 e 3 C.Com.), no qual se inserem as atividades praticadas por artesãos pela própria mão. Assim,
na medida em que David exerce a sua atividade pela própria mão, não será comerciante. Mas se
tiver um conjunto de trabalhadores a realizar a atividade por si, será comerciante. Neste caso, não
parece ser comerciante.
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venda mercantil, não basta que uma compra e venda seja subjetivamente comercial, por estarem nela
envolvidos sujeitos comerciais, deve tratar-se de um ato também objetivamente comercial. Para efeitos
da aplicação do regime da compra e venda mercantil, será indiferente: 1) se o intuito lucrativo se
verificar pela parte do comprador ou do vendedor; 2) se o intuito lucrativo é ou não conhecido pela
contraparte; 3) se o intuito lucrativo foi ou não efetivamente concretizado; ou 4) se a compra se insere
ou não numa atividade empresarial profissional.
Na compra e venda comercial, o preço pode ser fixado por qualquer meio desde que haja
critérios de determinabilidade, caso contrário o negócio será nulo (art. 466.º, C.Com.). A lei admite a
venda de coisa incerta, bem como a venda de coisa alheia, contrariamente ao que ocorre no direito
civil (art. 467.º, C.Com.). Embora não transmita o direito de propriedade, o ato de venda não será nulo,
nascendo um dever, para o comerciante, de adquirir a propriedade da coisa alheia, sob pena de incorrer
em responsabilidade perante a outra parte. Existe um regime específico para as vendas feitas sobre
amostra ou fazenda, ou determinadas atendendo unicamente a uma qualidade conhecida no comércio
– estas consideram-se sempre feitas sob condição de a coisa ser conforme à amostra (art. 469.º,
C.Com.). Neste caso, recairá sobre o comprador, ao receber a mercadoria, o ónus de a examinar e
reclamar quanto à sua qualidade no prazo de 8 dias, sob pena de a transação se estabilizar (art. 471.º,
C.Com.). Na compra e venda mercantil, distingue-se consoante a venda seja feita à vista, caso em que
o bem deve ser entregue em 24 horas, ou não à vista, caso em que o comprador poderá fixar um prazo
judicialmente.
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Os sujeitos A e B são ambos comerciantes, uma vez que ambos são sociedades comerciais (arts.
1.º e 13.º, C.Com.). Sendo comerciantes, os atos por eles praticados serão subjetivamente comerciais.
Tendo o bem sido entregue, e não havendo qualquer cláusula de reserva de propriedade, o contrato
não poderia ser resolvido (art. 886.º, CC). Perante o incumprimento por parte de B, A deverá
transformar a mora em incumprimento definitivo através da interpelação admonitória.
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II. A, Warrior, SA, que se dedica à importação e revenda de máquinas industriais, vende a
B, Meridiano, SA, que se dedica à produção de sapatos, a 2 de janeiro de 2020, uma máquina
industrial com reserva de propriedade. O preço de € 150.000 foi fracionado em 15 prestações com
vencimento mensal. B, em graves dificuldades financeiras, revende a máquina a C, também
empresa de produção de sapatos, por € 100.000, a 2 de abril de 2020, que a instala na sua fábrica.
Face ao incumprimento da prestação de março por B, A, tomando conhecimento da revenda da
máquina, resolve o contrato e exige a sua restituição a C.
O contrato de compra e venda celebrado entre B e C parece não corresponder a uma compra e
venda mercantil, pois B não havia comprado a máquina com o objetivo de a revender (parece inserir-
se no âmbito do art. 464.º, C.Com.). Contudo, corresponde a um ato de comércio acessório, por estar
ligado a um ato comercial (a produção de sapatos para venda), sendo qualificado, também, como
comercial.
b) Caso C esteja em mora no cumprimento das suas obrigações, os juros que se vencem são
iguais aos juros que se venceriam caso C fosse agricultor? Porquê?
Se C estiver em mora, não tendo as partes estipulado nada em contrário, vencem-se os juros
previstos nos parágrafos 3.º e 5.º do art. 102.º, C.Com. – aplica-se uma ou outra taxa consoante se trate
ou não de uma transação comercial. Neste caso, está em causa uma transação comercial, aplicando-se
o parágrafo 5.º. Se C fosse agricultor, não seria comerciante à luz do art. 230.º, C.Com.. Contudo, B
continuaria a ser comerciante, correspondendo a venda a um ato unilateralmente comercial. A doutrina
considera que o art. 102.º, C.Com. se aplica inclusive aos atos unilateralmente comerciais. Assim,
mesmo que C fosse agricultor aplicar-se-iam os juros comerciais, dado estar em causa uma transação
comercial.
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No caso, não seria aplicável o art. 886.º, CC, uma vez que foi convencionada uma cláusula de
reserva de propriedade. Poderia aplicar-se o art. 934.º, CC, que estabelece que para haver resolução
será necessário que o devedor incumpra mais do que uma prestação inferior à 8.ª parte do preço ou
que incumpra uma única prestação que exceda a 8.ª parte do preço.
Neste caso, está em causa um incumprimento grave que atingiu a relação de confiança entre as
partes, implicando a perda da confiança no devedor, uma vez que este vendeu algo que não lhe
pertencia; como tal, aplicam-se as regras gerais da resolução dos contratos.
O artigo 1301.º do CC contém um regime que visa tutelar as relações mercantis na medida em
que os dois referidos requisitos estejam preenchidos. Não havendo o preenchimento desses requisitos,
aplicar-se-ão as regras gerais, nos termos das quais: i) o proprietário do bem tem direito a recolher o
bem onde quer que ele esteja; e ii) o sujeito que perde o bem e que vê as suas expectativas lesadas
deverá ver os seus danos indemnizados pelo vendedor que lhe vendeu um bem que não era seu para
vender. O dono da coisa pode sempre exigir de terceiro a coisa por este adquirida, onerosa ou
gratuitamente, nos termos do art. 1311.º. Mas se o terceiro tiver adquirido a coisa móvel a comerciante
que negoceia em coisa do mesmo ou semelhante género, o dono da coisa é obrigado a restituir o preço
ao terceiro, se este estiver de boa fé. Nessa eventualidade, o dominus goza do direito de regresso contra
aquele que culposamente deu causa ao prejuízo, maxime contra o próprio comerciante.
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Dessa quantia, foi acordado que metade poderia ser levantado a qualquer altura e não
venceria juros e que a outra metade não poderia ser levantada durante dois anos, vencendo-se sobre
a mesma juros à taxa de 0,5%.
Contrato de depósito – contrato real quod constitutionem de prestação de serviços pelo qual
uma das partes, o depositário, se obriga a guardar uma coisa imóvel ou móvel que lhe seja entregue
para esse efeito pela outra, o depositante (contrato só se constitui com o depósito do bem). Trata-se de
um depósito bilateral, i.e., oneroso. Para o banco decorrem as obrigações de guardar e de restituir a
coisa ou dinheiro, enquanto para o depositante decorre a obrigação de pagar pelo depósito. As várias
formas de depósito que existem estão previstas no art. 1.º, DL n.º 430/91. Em causa, está um depósito
à ordem, que pode ser exigido a qualquer altura. Quanto à segunda parte do capital, está em causa um
contrato de depósito a prazo, no qual o depositante só terá direito a reaver a quantia depositada após
decorrido determinado período de tempo, recebendo, em contrapartida, juros do banco por
disponibilização do capital.
No dia seguinte, a X, Lda, precisando de fundos para a realização da sua atividade, celebrou
um contrato com K, seu sócio, nos termos do qual, este se obrigou a entregar 100.000,00€ à
sociedade, ficando a sociedade obrigada a restituir-lhe o referido montante no prazo de 10 anos.
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K, para ter a referida quantia disponível havia previamente celebrado dois contratos:
(i) um primeiro contrato com um seu amigo, G, nos termos do qual este se obrigava a
entregar a K a quantia de 50.000,00€, ficando K obrigado a restituir a quantia em
singelo.
Contrato de mútuo civil – contrato pelo qual uma das partes empresta à outra dinheiro, ficando
a segunda obrigada a restituir outro tanto do mesmo género e qualidade. Contrato real quanto à
constituição, que pode ou não ser garantido (só se constitui com a entrega do valor mutuado). Pode ser
gratuito ou oneroso, conforme, para além da obrigação de restituição do capital, exista uma obrigação
de pagamento de juros pela disponibilização do capital. No que diz respeito à forma, o mútuo civil de
valor superior a 25.000€ só é válido se for celebrado por escritura pública ou documento particular
autenticado.
Contrato de alienação em garantia – negócio fiduciário em que um sujeito transmite para outro
a propriedade do bem ou um crédito que visa garantir um empréstimo ou outro negócio. O adquirente
do bem torna-se, assim, titular fiduciário do bem. Se o sujeito pagar a dívida, o bem que foi transmitido
será restituído. Se o sujeito não pagar a dívida, aquele bem será utilizado pelo concedente do crédito
para satisfazer o valor em dívida, devendo o titular fiduciário alienar o bem a terceiro nas melhores
condições de mercado ou fazer sua a coisa – em qualquer dos casos, deverá entregar ao devedor o
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montante excedente (se obtiver mais dinheiro com a venda do bem do que o necessário para cobrir as
dívidas, terá de devolver o resto).
(ii) um segundo contrato com o Banco Y, nos termos do qual o banco lhe entregava
50.000,00€, ficando K obrigado a restituir a quantia acrescida de juros à taxa fixa de
3%, em 60 prestações mensais, de igual montante;
Contrato de mútuo bancário – previsto no art. 362.º, C.Com. O empréstimo comercial não
carece de forma se for celebrado entre comerciantes. Os contratos de mútuo, quando feitos por
estabelecimentos bancários autorizados, podem provar-se por escrito particular (DL n.º 32/65). Pode
ser ou não garantido, consoante o mutuante beneficie de garantias dos seus créditos, assentes na
titularidade de um direito. Quanto às modalidades de restituição do capital e dos juros, esta pode ser
realizada num só momento, decorrido o prazo do empréstimo; ou a quantia pode ser amortizada ao
longo do tempo, seja em prestações constantes, crescentes ou decrescentes. As taxas de juros podem
ser fixas ou variáveis (estas segundas têm uma parte fixa, o spread, e uma parte variável, a taxa
Euribor).
Quinze dias volvidos, e estando a X, Lda com dificuldades de tesouraria para pagamento das
rendas financeiras atinentes aos seus carros de serviço, (...)
Contrato de locação financeira – contrato pelo qual alguém se obriga, mediante retribuição, a
ceder à outra o gozo temporário de uma coisa, móvel ou imóvel, adquirida ou construída por indicação
desta, e que o locatário poderá comprar, decorrido o período acordado, por um preço nele determinado
ou determinável mediante simples aplicação dos créditos nele fixados (art. 1.º, DL n.º 149/95).
(...) contratou com o seu banco a disponibilização, por este último, de 5.000,00€, pelo prazo
de seis meses renováveis e reutilizável, para que esta os pudesse utilizar, sempre que necessário. Em
troco, a X, Lda pagou ao banco 500,00€.
Contrato de abertura de crédito – contrato pelo qual o banco (o creditante) coloca à disposição
da outra parte, o beneficiário, uma quantia pecuniária que este tem o direito de, nos termos aí definidos,
utilizar pelo período acordado ou por tempo indeterminado. A abertura de crédito poderá ser simples
(beneficiário poderá utilizar o crédito uma vez, na sua totalidade, ou recorrer a utilizações parciais até
se atingir o limite estabelecido no contrato) ou em conta-corrente (as restituições que o bem faça das
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quantias utilizadas permitem repor a disponibilidade). Este crédito pode ser a termo certo, por prazos
automaticamente prorrogáveis, ou por tempo indeterminado.
A instituição de crédito corresponde a uma devedora a pronto (na medida em que os contratos
de depósito celebrados com o banco exigem a disponibilização imediata do capital) e uma credora a
prazo (na medida em que o banco não pode exigir a restituição do crédito na íntegra aos seus
devedores).
I. O Banco A celebrou, por documento particular, com B, Editora, Lda um contrato nos
termos do qual se obrigou a, mediante o pagamento de 370 rendas mensais de 500€, ceder a B,
Editora, Lda o gozo temporário da fração A de um imóvel sito na Rua Gonçalves Cristóvão, tendo
esta última direito a comprar, findo o pagamento das rendas, a mesma fração por 15.000€.
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assinaturas devem ser presencialmente reconhecidas (art. 3.º, DL n.º 149/95). Terá por objeto
quaisquer bens suscetíveis de serem dados em locação (art. 2.º). Quanto ao prazo, o contrato não poderá
ter um prazo superior ao período normal de utilização económica do bem, tendo como limite máximo
30 anos (art. 6.º). Não havendo estipulação de prazo, considera-se celebrado pelo prazo de 18 meses
ou 7 anos, consoante se trate de bens móveis ou imóveis. Quanto às rendas, essas são livremente
estipuladas pelas partes, podendo ser progressivas, regressivas ou constantes. As rendas da locação
financeira são rendas financeiras, i.e., correspondem à amortização do capital acrescida dos juros do
crédito concedido.
Tratando-se de um contrato de locação financeira que tem por objeto um bem imóvel, deverá
ser celebrado pela forma escrita, com reconhecimento presencial das assinaturas. Não sendo observada
essa formalidade, o contrato será nulo por vício de forma. Tendo sido celebrado por 360 meses, i.e.,
por 30 anos e 10 meses, será imediatamente reduzido à luz do art. 6.º, n.º 2, DL n.º 149/95.
iii) Quid iuris se o Banco A desconfia que a B, Editora, Lda nunca chegou a mudar-se para
a fração, tendo aproveitado para a arrendar a jovens turistas que descuidam a sua conservação,
partindo paredes e danificando os corrimões das escadas da fração?
O locatário tem um conjunto de obrigações relativas à conservação do bem (art. 10.º, n.º 1, als.
d), e) e g), DL n.º 149/95). O locador poderá examinar o bem e exigir a manutenção efetiva do bem,
de forma a que este não sofra uma desvalorização. Verificado um incumprimento contratual, a
resolução do contrato de locação financeira seguirá os termos gerais previstos no CC (art. 17.º, DL n.º
149/95) – assim, havendo incumprimento, o banco poderá interpelar o devedor para o cumprimento,
através da interpelação admonitória, sob pena de converter a mora em incumprimento definitivo, com
as consequências relativas à resolução do contrato. Apenas haverá lugar, de imediato, à resolução do
contrato quando se verifique uma perda de confiança entre as partes. Resolvido o contrato, o bem
deverá ser restituído ao banco e este deverá restituir a parte das rendas relativa à amortização do capital
(e não dos juros). Poderá, ainda, ter direito a uma indemnização por incumprimento contratual.
iv) Quid iuris se o Banco A recebe carta do condomínio da fração A interpelando o banco
para o pagamento da sua quota-parte nas despesas correntes do condomínio?
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Aplica-se o art. 10.º, n.º 1, al. b), DL n.º 149/95. O banco não teria de pagar as despesas
correntes do condomínio. O banco só tem a propriedade da fração por questões de garantia de
cumprimento das obrigações previstas no contrato, sendo atribuídos ao locatário todos os encargos
referentes à conservação e reparação do imóvel.
v) Quid iuris se, findo o prazo do contrato, B, Editora, Lda decidiu não comprar a fração e,
quando a desocupava levou consigo as portas que havia colocado na fração quando para lá foi
morar.
A própria lei prevê que as coisas instaladas no próprio bem, findo o contrato, serão do locador,
e este não terá de indemnizar o locatário pelo valor das coisas instaladas (art. 9.º, n.º 2, al. c), DL n.º
149/95).
O locatário tem a obrigação de restituir o bem locado. Tudo o que coloca no objeto a título
acessório, deve manter no objeto. Ele não podia levar as portas. O banco não tem de pagar
compensação nos termos do artigo suprarreferido.
II. O Banco A celebrou com a Laboratórios, S.A. um contrato nos termos do qual se obrigou
a, mediante o pagamento de 10 rendas de 500€, ceder à Laboratórios, S.A. o gozo temporário de um
software produzido de propósito pela Softwares, S.A., tendo a Laboratórios, S.A. direito a comprar
o software, findo o pagamento das rendas, por um 1.000€.
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Existe uma outra modalidade de locação financeira – a locação financeira restitutiva (sale and
lease back), em que só intervêm dois sujeitos. Nesta modalidade, um sujeito vende ao locador um bem
seu, como forma de obter financiamento, e, posteriormente, o locador financeiro concede-lhe de
imediato o mesmo bem em locação financeira, passando o vendedor a ser locatário financeiro. Do
ponto de vista funcional, esta locação financeira consiste numa alienação em garantia, na medida em
que o sujeito transmite em garantia o valor da compra, correspondente ao valor do financiamento,
procedendo, mais tarde e através de rendas mensais, à amortização desse valor.
a) Que poderá a Laboratórios, S.A. fazer se, apesar de ter sido acordado que a entrega do
software no dia 1 de Dezembro, este ainda não tiver sido disponibilizado pela Softwares, S.A.?
Neste caso, está em causa uma relação tripartida: a Laboratórios, S.A. celebrou um contrato de
locação financeira com o Banco A e o Banco A celebrou um contrato de compra e venda com a
Softwares, S.A. Nos termos do art. 12.º, DL n.º 149/95, o locador não responde pelos vícios do bem
locado. Nos termos do art. 13.º, o locatário poderá exercer os direitos que normalmente poderiam ser
exercidos pelo locador relativamente aos terceiros. Assim, a Laboratórios, S.A. poderá interpelar a
Softwares, S.A. para o cumprimento e, caso não esse não se verifique, terá direito a resolver o contrato
nos termos gerais. Se o locatário resolver o segundo contrato, o primeiro contrato cessará também, e
terá direito a uma indemnização pelos danos causados ao próprio locatário.
b) Quid iuris se, o Banco A pretende resolver o contrato celebrado por ter tido conhecimento
da declaração de insolvência da Laboratórios, S.A.? Quais são os efeitos da declaração de
insolvência no contrato de locação financeira celebrado pelas partes?
Nos termos do art. 18.º, DL n.º 149/95, o contrato pode ser resolvido pelo locador no caso de
verificação de qualquer dos fundamentos da declaração de falência do locatário. Contudo, este art.
deve ser interpretado restritivamente – aplica-se apenas no caso em que a insolvência ainda não tenha
sido declarada. A partir do momento da declaração de insolvência, o administrador de insolvência
poderá optar entre cumprir os contratos celebrados pelo devedor ou não (art. 102.º, CIRE). Objetivo
de garantir que a empresa tenha viabilidade suficiente para cumprir as rendas futuras. Assim, se o
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Se o administrador de insolvência mantiver o contrato em curso, aplica-se o art. 51.º, n.º 1, al.
f), CIRE, nos termos do qual as dívidas decorrentes da aceitação do cumprimento do contrato serão
dívidas da massa. Assim, serão pagas com preferência face às outras dívidas (mesmo antes dos créditos
garantidos) e não carecem de ser reclamadas pelos credores em sede de reclamação de créditos.
• Exemplo 1: imaginemos que um bem valia, à data de celebração do contrato, 600.000€. Contudo,
à data da resolução do contrato vale 400.00€. Do contrato, já foram pagos 30.000€ de rendas,
restando pagar 500.000€. Neste caso, o locador terá direito a ficar com o bem locado, a fazer suas
as prestações efetuadas (30.000€) e a receber 100.000€ (500k – 400k).
• Exemplo 2: um bem vale 400.000€ (valia inicialmente 600.000€). Já tinham sido pagos 150.000€.
Em falta estavam 400.000€. Neste caso, o locador terá direito a ficar com o bem locado, a fazer
suas as prestações efetuadas (150.000€) e não terá direito a receber nada de indemnização (400k –
400k = 0€).
• Exemplo 3: a coisa vale 700.000€ (valia inicialmente 600.000€). Já foram pagos 150.000€. Em
falta estavam 400.000€. O locador terá de pagar 300.000€ (400k – 700k).
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No caso de insolvência do locador, aplica-se o art. 104.º, n.º 1, CIRE, nos termos do qual o
insolvente não poderá resolver o contrato se o locatário o quiser cumprir e o bem já lhe tiver sido
entregue.
III. O Banco C celebrou com a Transportes Eletrónicos, Lda. um contrato nos termos do
qual se obrigou a, mediante o pagamento de rendas no valor de 500€, ceder a Transportes
Eletrónicos, Lda., o gozo temporário de um automóvel, tendo a Transportes Eletrónicos, Lda. direito
a comprar o automóvel, findo o pagamento das rendas, por um 1.000€.
Poderá o Banco C resolver o contrato caso a Transportes eletrónicos, Lda. não pague uma
das rendas?
No caso de incumprimento de uma das rendas do locatário face ao locador, aplica-se o regime
do art. 934.º, CC (o art. 936.º estende o regime geral ao contrato de locação financeira, que, de certo
modo, visa efeitos semelhantes ao contrato de venda a prestações). Nestes termos, só haverá direito à
resolução do contrato por parte do locador se houver incumprimento de uma prestação superior à 8.ª
parte do preço ou se houver incumprimento de duas prestações.
Factoring (art. 2.º, DL n.º 171/95): contrato pelo qual uma das partes (facturizado) cede ou se
obriga a ceder a outra parte (factor) a totalidade ou parte dos seus créditos comerciais de curto prazo,
decorrentes de contratos já celebrados ou a celebrar com certos terceiros, para que este último os
administre e os cobre na data do seu vencimento, lhe conceda adiantamentos calculados sobre o valor
nominal desses créditos e/ou lhe garanta o cumprimento ou solvência dos devedores cedidos. Funções
desempenhadas:
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Contraprestação:
O contrato de factoring tem sempre por base: i) créditos de curto prazo; ii) as contrapartidas
relativas a contratos de venda de produtos ou de prestação de serviços. Vigora um princípio de
exclusividade em relação aos sujeitos que podem ser factors (art. 4.º, DL n.º 171/95).
a. Cessão financeira monofásica: o facturizado transmite ao factor, de uma só vez, uma série de
créditos presentes e/ou futuros, não havendo necessidade de celebração de um qualquer
segundo contrato.
b. Cessão financeira bifásica: decorre, para o facturizado, a obrigação de transmitir ao factor os
créditos previstos nesse contrato e, para este, o dever de os aceitar. O contrato inicial prevê e
impõe a celebração de contratos subsequentes de transmissão dos créditos.
i. Cessão com recurso – as partes não acordam a assunção do risco do crédito por parte do factor.
O banco não garante o cumprimento da obrigação.
ii. Cessão sem recurso – o risco de insolvência do devedor é assumido pelo factor, o qual, na
impossibilidade de cobrar o crédito devidamente confirmado pelo devedor, não o poderá exigir
ao facturizado. O banco garante o cumprimento da obrigação.
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i. Cessão com recurso e com adiantamento (factoring financeiro): o factor presta o serviço de
administração e cobrança de crédito, concede adiantamento sobre o valor nominal do crédito
e não garante o cumprimento pelo devedor cedido. Assim, caso o devedor não cumpra, o
factor retransmite o crédito e exige a restituição do adiantamento concedido, bem como o
pagamento dos juros e da comissão de cobrança. Caso o devedor cumpra, o factor deverá
creditar esse montante na conta corrente do factorizado, ao mesmo tempo que aí debita a
comissão de cessão financeira e os juros.
ii. Cessão com recurso e sem adiantamento: o factor presta só o serviço de administração e
cobrança dos créditos cedidos. O factor limita-se a cobrar o crédito em nome do cedente, não
prestando um adiantamento do valor nominal do crédito. Se o devedor cedido não pagar, o
factor retransmite o crédito ao facturizado e exige o pagamento da comissão de cobrança. Se
o devedor cumprir, o factor creditará a favor do facturizado.
iii. Cessão sem recurso e com adiantamento (full factoring): o factor garante o cumprimento pelo
devedor cedido, presta adiantamento do valor nominal do crédito e responsabiliza-se pela
cobrança desse crédito. Se o devedor cumprir, o factor abate as suas prestações e entrega o
montante ao cedente, abatido da comissão de garantia, da comissão de cobrança e dos juros.
Se não cumprir, o risco de insolvência do devedor é assumido pelo factor – alem de não
retransmitir o crédito, entrega à outra parte o valor abatido da comissão de garanta, da
comissão de cobrança e dos juros.
iv. Cessão sem recurso e sem adiantamento: nesta modalidade, só é prestada a função de garantia
do crédito e de administração dos créditos. Na impossibilidade de cobrar o crédito
devidamente confirmado pelo devedor, o factor não o poderá exigir ao facturizado. O factor
obriga-se, quer o devedor cumpra ou não num determinado período de mora após o
vencimento do crédito, a entregar ao facturizado um montante pecuniário correspondente ao
valor nominal desse direito. O facturizado está vinculado a pagar comissões de cobrança e de
garantia.
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O contrato de factoring tem na sua base uma cessão de créditos por parte do facturizado para
o factor. Como tal, está sujeito ao regime da cessão de créditos (arts. 577.º a 588.º, CC). Consiste na
transferência do direito de crédito da esfera do cedente para o cessionário, sem necessidade do
consentimento do devedor cedido. Possibilidade de aposição de cláusulas de intransmissibilidade do
crédito (art. 577.º, n.º 2, CC). A cessão produz-se por mero efeito desse negócio jurídico. Porém, a
transferência do crédito só é eficaz em relação ao devedor cedido após o conhecimento, notificação ou
aceitação (art. 583.º, n.ºs 1 e 2, CC). Existe uma dupla notificação: o factor impõe à outra parte que
insira nas faturas enviadas aos seus clientes uma indicação segundo a qual o direito de crédito
resultante desse contrato lhe foi transmitido e, consequentemente, só o pagamento ao factor será
liberatório.
Na cessão não notificada, o facturizado pretende que o devedor cedido não saiba da
transferência do crédito. Os contratos em que se exclui a notificação do devedor cedido acarretam para
o factor um aumento de riscos face aos contratos de factoring notificado, uma vez que há sempre
perigo de desvio de fundos por parte de quem cobra os créditos; da celebração, entre o cedente e o
cessionário, de negócios relativos ao crédito, inclusive a sua extinção (art. 583.º, n.º 2, CC); da dupla
cessão do crédito (art. 584.º, CC); e da extensão dos meios de defesa utilizáveis pelo devedor.
Vigora o princípio estruturante de impedir que devedor cedido seja prejudicado pela
transferência do direito. Assim, a lei permite-lhe opor ao cessionário todos os meios de defesa que lhe
seria lícito invocar contra o cedente, ainda que o adquirente do crédito os ignorasse, excetuando
somente aqueles que provenham de facto posterior ao conhecimento da cessão (meios de defesa que
existam à data da notificação da cessão – art. 585.º, CC). Tratando-se de meio de defesa que apenas
surja após a notificação da cessão, não poderá ser invocado (ex: compensação ou acordo de prestações
posteriores).
Para além destes, a doutrina admite que sejam usados todos os meios de defesa relativos à
própria relação contratual existente entre o credor inicial e o devedor, mesmo que posteriores à
notificação, nomeadamente:
1. Exceção do não cumprimento – uma vez que esta encontra na relação de correspetividade que
se estabelece entre as obrigações de ambas as partes do contrato
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2. Resolução do contrato – mesmo quando o facto aquisitivo desse direito se tenha verificado
depois do conhecimento por parte do devedor cedido da transferência de credito.
As garantias são transmitidas com a cessão de créditos (art. 582.º, CC). Na cessão, o cedente
deve garantir a existência e a exigibilidade do crédito ao tempo da cessão (art. 587.º, n.º 1, CC);
contudo, não garante a solvência do devedor (art. 587.º, n.º 2, CC). Supletivamente, os contratos de
factoring podem considerar-se sem recurso (i.e., existe sempre garantia de cumprimento por parte do
banco).
I.
Na mesma data, em reunião havida entre a «B, S.A.» e a «C, S.A.», esta última
aconselhou uma nova solução informática.
Tendo em conta que o projeto contratado ainda não foi concluído, quid iuris se a
«B, S.A.» se recusa a pagar qualquer quantia à «A, S.A.»?
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Nos termos do art. 585.º, CC, o devedor pode opor ao cessionário todos os meios de defesa que
lhe seria lícito invocar contra o cedente, excetuando somente aqueles que provenham de facto posterior
ao conhecimento da cessão. Deste modo, o acordo de pagamentos celebrado entre o devedor e o credor
não pode ser invocado pelo devedor, uma vez já ter ocorrido a notificação da cessão. Assim, porque
posterior a 8/3/2016, data da notificação da cessão, a revisão do acordo de fornecimento não é oponível
a A, S.A. Não lhe é, designadamente, oponível o pagamento efetuado ao cedente, não liberatório
consoante os arts. 769.º e 770.º, CC. Contudo, a exceção de não cumprimento poderá ser invocada, na
medida em que ocorreu antes da notificação; mesmo que tivesse ocorrido após a notificação, poderia
ser invocada, no entendimento da doutrina.
II.
Por acordo escrito celebrado em 17 de Junho de 2011, entre a TEKTALK Lda. e o Banco
BPW foram cedidos por aquela a este o crédito emergente do contrato de mútuo, com todos os
direitos e garantias inerentes, nomeadamente a hipoteca.
Em 16 de Maio de 2005, o Banco BPW intentou uma ação executiva para pagamento de
quantia certa contra NOISECANCELING S.A.. Poderia o Banco BPW fazer valer-se da hipoteca
constituída?
Sim. As garantias são transmitidas com a cessão de créditos, mesmo que as partes nada
estipulem (art. 582.º, CC).
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III.
O Banco BPW celebrou com a SelfCare S.A., sociedade importadora de tapetes, um contrato
de factoring por força do qual adquiriu créditos derivados da atividade desta última.
A cessão do crédito foi formalmente notificada nas próprias faturas, conforme decorre do
carimbo nelas aposto com os seguintes dizeres: "para que estas faturas sejam liquidadas, os
respetivos pagamentos deverão ser efetuados diretamente ao Banco BPW. que adquiriu este nosso
crédito".
A SelfCare S.A. forneceu à Imótapetes, Lda, os bens discriminados. Sabendo que por
contrato datado de 5 de Dezembro de 2019 a sociedade ImóveisdeTecido S.A. cedeu à Imótapetes,
Lda um crédito de 1.000€, que detinha a SelfCare S.A., pode a Imótapetes compensar os créditos
em causa?
No caso em apreço, está em causa o meio de defesa da compensação. Este meio de defesa
apenas pode ser invocado se for anterior à data da notificação (art. 585.º, CC).
IV.
No dia 16 de Abril de 2019 a sociedade comercial Tangerine Lda acordou com a BlakRoad
S.A. a realização de trabalhos na estrada de ligação entre a EN 206 e a nova Ponte sobre o rio
Tâmega. No referido contrato constava: “A Tangerine Lda não pode ceder ou dar como garantia o
presente contrato ou qualquer dos direitos ou obrigações nele estipulados, sem prévio acordo escrito
da BlakRoad S.A.”.
Em 19 de Maio de 2020 a Tangerine Lda enviou para a BlakRoad S.A. carta onde informa
que todas as faturas relativas à empreitada Estrada de Ligação entre a EN e a ponte sobre o rio
Tâmega e que venham a ser emitidas a partir de 19 de Maio de 2020 deverão ser liquidadas ao
Banco BPW até comunicação em contrário.
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Quid iuris se no dia 1 de Maio de 2020 a Tangerine Lda tiver enviado uma carta a BlakRoad
S.A. onde o informa que tinha cedido os seus créditos a LemonGrass S.A. por contrato celebrado
em 9 de Outubro de 2019?
Neste caso, está em causa uma proibição de cedência (art. 577.º, n.º 1, CC). Havendo uma
proibição de cedência, esta não afeta o cessionário se ele dela não tiver conhecimento (art. 577.º, n.º
2, CC). Se, apesar de proibição de cedência, o credor ceder o crédito a um terceiro, o devedor deverá
pagar ao terceiro se este não tivesse conhecimento dessa proibição. Assim, o crédito não deverá ser
pago à T., Lda., credora, mas antes ao cessionário. Se a cessão causar danos para o devedor, o credor
poderá responder por incumprimento contratual em virtude do desrespeito da proibição de cedência.
Estão em causa, ainda, duas cessões – T, Lda. cedeu os créditos que tinha sobre B, S.A. ao
Banco BPW, em 28/5/2019, e, mais tarde, em 9/10/2019, veio a ceder os mesmos créditos a L, S.A.
Contudo, a cessão ao Banco BPW apenas foi notificada a B, S.A. em 19/5/2020, tendo a notificação
da cessão à L, S.A ocorrido primeiro, a 1/5/2020. Nos termos do art. 584.º, CC, se o mesmo crédito
for cedido a várias pessoas, prevalece a cessão que primeiro for notificada ao devedor ou que por este
tiver sido aceite. Assim, prevalece a cessão de T, Lda. a L, S.A., por ter sido notificada em primeiro
lugar ao devedor.
Insolvência
A Insolvência está regulada no CIRE. O CIRE aplica-se, nos termos do artigo 2º a:
1. Todas pessoas singulares ou coletivas, com ou sem empresas;
2. Outras entidades – heranças, estabelecimentos individuais de responsabilidade limitada.
Apesar disto, o CIRE tem regimes parcialmente diferentes para cada entidade.
Todas as pessoas singulares ou coletivas estão sujeitas ao CIRE? O artigo 2º/2 exclui do CIRE as
entidades publicas empresariais, pessoas coletivas publicas e as pessoas da alínea b (sociedades
comerciais ligadas à banca ou ao sistema financeiro). Quando não exista regra especial que se aplique
a estas entidades, aplica-se o CIRE (que passa a ser o regime subsidiário).
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a. Critério do fluxo de caixa – O devedor é insolvente logo que se torna incapaz, por ausência
de liquidez suficiente, de pagar as suas dividas no momento em que se vencem. Este é o critério
usado pelo nosso legislador.
Este critério, por si só, não é perfeito. Ponto negativo: a insolvência pretende excluir do
mercado as entidades que não têm património suficiente para pagar as suas dividas. Este
critério permite que uma empresa com 10 000 000€ em imoveis, com divida de 500 000€ seja
insolvente. A empresa tem património, mas não é líquido. E por isso, não paga as dívidas.
b. Critério do balanço ou ativo patrimonial – está insolvente a entidade que tem um passivo
superior ao ativo.
Este critério também tem pontos negativos: o valor dos ativos pode ser muito instável. Uma
sociedade que tem por ativos as ações de bolsa, essas ações variam de preço, o que altera
rapidamente o património da sociedade. Para alem disso, este critério pode não ter em conta
uma série de questões relativas à avaliação do próprio ativo e do próprio passivo. No ativo da
sociedade, podem estar dívidas relativamente a sócios. Esses ativos não deviam ser
considerados para declarar a insolvência. por último, o ativo das empresas é a soma do valor
das mesas, cadeiras. Estes valores individuais não são iguais ao valor da empresa no seu todo,
quando desempenha as suas funções.
No artigo 3º, o legislador determina que o critério para determinar se uma pessoa singular ou
coletiva esta insolvente é a impossibilidade de cumprir as suas obrigações vencidas. Não interessa
se o passivo é superior ao ativo.
Para além disso, no nº2 prevê o critério do balanço: é insolvente a pessoa que rem um passivo
manifestamente superior ao ativo. Quis afastar as situações em que a diferença é mínima e variável.
O “manifestamente” é um conceito indeterminado, definido no caso concreto.
O legislador, no nº 3, faz correções ao critério:
❖ Alínea a – Consideram-se no ativo e no passivo os elementos identificáveis, mesmo que não
constantes do balanço, pelo seu justo valor. Ex: Na Uber, tem de se ter em conta o valor da
marca Uber.
❖ Alínea b – quando o devedor seja titular de uma empresa, a valorização baseia-se numa
perspetiva de continuidade ou liquidação, consoante o que se afigure mais provável, mas em
qualquer caso com exclusão da rubrica de trespasse.
❖ Alínea c – não se incluem no passivo dívidas que apenas hajam de ser pagas à custa de fundos
distribuíveis ou do ativo restante depois de satisfeitos ou acautelados os direitos dos demais
credores do devedor. É o caso dos suprimentos. Uma empresa com ativo de 90 000€ e um
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passivo de 100 000€. Se 70 000€ do passivo são suprimentos, não são considerados para
insolvência.
❖ Artigo 3º/4 – equipara-se à situação de insolvência atual a que seja meramente iminente, no
caso de apresentação pelo devedor à insolvência.
Processo de insolvência
O processo inicia-se com o requerimento.
Quem pode requerer? O devedor, os credores, o MP e outras pessoas que respondam pelas mesmas
dividas do devedor (exemplo: fiadores, avalistas, etc).
Requerimento apresentado pelo devedor – o devedor está obrigado a apresentar-se à insolvência
a partir do momento em que tenha conhecimento de que está insolvente. Presunção: se o devedor não
tiver conseguido cumprir as dividas durante 3 meses, presume-se que tinha conhecimento de que
estava em situação de insolvência. A partir desse momento, está obrigado a apresentar-se à insolvência.
Se não o fizer, presume-se que a insolvência é culposa (186º). Isto tem efeitos negativos previstos no
artigo 189º. A acrescentar, o artigo 228º do Código Penal criminaliza a insolvência negligente em
algumas situações.
Quanto às restantes categorias, pode ser complicado provar a existência dos critérios da declaração
de insolvência, porque as entidades, em princípio, são opacas. Por isso, o legislador apenas exige que
provem algum dos fatos-índice do artigo 20º CIRE:
Requerimento apresentado pelo credor - porque é que um credor tem interesse em requerer a
insolvência de outra entidade? O legislador atribui um benefício ao credor que requer a insolvência de
outra entidade: um crédito imobiliário geral. Artigo 98º nº1 CIRE: Os créditos não subordinados do
credor a requerimento de quem a situação de insolvência tenha sido declarada passam a beneficiar
de privilégio creditório geral, graduado em último lugar, sobre todos os bens móveis integrantes da
massa insolvente, relativamente a um quarto do seu montante, num máximo correspondente a 500 UC.
O devedor pode opor-se no prazo de 10 dias. Ele terá o ónus de provar ou a solvência ou a inexistência
do facto-índice.
Dedução de pedido infundado – se uma entidade pedir a insolvência de uma pessoa e esse pedido
for infundado, há lugar a responsabilidade civil do requerente. A declaração de insolvência pode trazer
graves prejuízos para o devedor.
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Declaração de insolvência
O CITIUS tem uma parte especifica sobre os insolventes. Pelo que há uma obrigação de consulta
regular para verificar se algum devedor foi declarado insolvente.
Declarada a insolvência, produzem-se determinados efeitos. O artigo 36º nº 1 CIRE dispõe o
seguinte:
1 - Na sentença que declarar a insolvência, o juiz:
a) Indica a data e a hora da respectiva prolação, considerando-se que ela teve lugar ao meio-dia na
falta de outra indicação;
b) Identifica o devedor insolvente, com indicação da sua sede ou residência;
c) Identifica e fixa residência aos administradores, de direito e de facto, do devedor, bem como ao
próprio devedor, se este for pessoa singular;
d) Nomeia o administrador da insolvência, com indicação do seu domicílio profissional;
e) Determina que a administração da massa insolvente será assegurada pelo devedor, quando se
verifiquem os pressupostos exigidos pelo n.º 2 do artigo 224.º;
f) Determina que o devedor entregue imediatamente ao administrador da insolvência os documentos
referidos no n.º 1 do artigo 24.º que ainda não constem dos autos;
g) Decreta a apreensão, para imediata entrega ao administrador da insolvência, dos elementos da
contabilidade do devedor e de todos os seus bens, ainda que arrestados, penhorados ou por qualquer
forma apreendidos ou detidos e sem prejuízo do disposto no n.º 1 do artigo 150.º;
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h) Ordena a entrega ao Ministério Público, para os devidos efeitos, dos elementos que indiciem a
prática de infracção penal;
i) Caso disponha de elementos que justifiquem a abertura do incidente de qualificação da insolvência,
declara aberto o incidente de qualificação, com caráter pleno ou limitado, sem prejuízo do disposto
no artigo 187.º;
j) Designa prazo, até 30 dias, para a reclamação de créditos;
l) Adverte os credores de que devem comunicar prontamente ao administrador da insolvência as
garantias reais de que beneficiem;
m) Adverte os devedores do insolvente de que as prestações a que estejam obrigados deverão ser feitas
ao administrador da insolvência e não ao próprio insolvente;
n) Designa dia e hora, entre os 45 e os 60 dias subsequentes, para a realização da reunião da
assembleia de credores aludida no artigo 156.º, designada por assembleia de apreciação do relatório,
ou declara, fundamentadamente, prescindir da realização da mencionada assembleia.
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medida em que dizem respeito ao processo de insolvência pelo que já vêm no processo e o
administrador de insolvência já tem conhecimento delas.
É possível responsabilizar o administrador da insolvência em caso de insuficiência da massa
insolvente para a satisfação das dividas que tenham sido constituídas por ato do administrador,
este pode ser responsável pessoalmente por esses dividas perante os respetivos credores.
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c. Créditos comuns – não beneficiam de garantias nem de privilégios e não são objeto de
subordinação.
Podem beneficiar outras garantias, as pessoais, mas estas não relevam na insolvência.
O pagamento dos créditos comuns é feito após a satisfação dos outros créditos.
Pagamento com base em rateio na proporção do valor nominal dos respetivos créditos.
d. Créditos subordinados (artigos 48º e 49º) – os artigos 48º e 49º determinam quais são os
créditos comuns. São pagos pela ordem do artigo 48º. Dentro deles, existe vários créditos
subordinados. Os suprimentos são os mais subordinados de todos. Nos termos do artigo 20º,
os créditos comuns atribuem legitimidade para requer a insolvência. Não conferem, em
princípio, o direito de voto na Assembleia de credores (73º/3) nem permitem o respetivo credor
integrar a comissão de credores. Não podem ser compensados dividas da massa. São pagos
apenas depois de satisfeitos os créditos comuns.
Caso Prático nº 6
I.
A Assembleia Geral de sócios da A, supermercados S.A. aprovou, no passado dia 15 de Março
o relatório de contas relativo ao ano passado. Do relatório de contas consta nomeadamente que
a sociedade tem um passivo de 1.5 milhões de euros e um ativo de 1.4 milhões de euros, sobretudo
por possuir 4 imóveis (onde explora 4 supermercados) que valorizaram bastante nos últimos
anos mas que cujas prestações do preço ainda não foram pagas.
i) Está a sociedade comercial mencionada em situação de insolvência?
Esta sociedade encaixa-se no âmbito subjetivo da declaração de insolvência, ao abrigo do
art. 2.º, CIRE. Não preenche o n.º 2 do art. 2.º, CIRE, que exclui determinadas sociedades
do regime da insolvência.
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ii) A resposta seria a mesma se estivéssemos perante um balanço aprovado pela B, águas
e energia de S. Cristóvão, E.P.E.?
Não, porque está excluída da insolvência.
Trata-se de um crédito subordinado. O facto de ser garantido por hipoteca não significa que
seja um crédito privilegiado ou garantido – uma vez que se trata de um crédito subordinado, as
respetivas garantias extinguem-se com a declaração de insolvência (art. 97.º, CIRE).
Este crédito será pago pela ordem do art. 48.º, CIRE, sendo satisfeito após a satisfação das
dívidas da massa, dos créditos privilegiados/garantidos e dos créditos comuns.
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Consiste num crédito privilegiado. Nos termos do art. 333.º, CT, os créditos do trabalhador
emergentes do contrato de trabalho gozam de privilégio imobiliário geral e de um privilégio
imobiliário especial sobre o imóvel do empregador no qual presta a sua atividade.
II.
A Sardinhas S.A., sociedade anónima que tem por objeto o fornecimento de sardinhas
possui, atualmente, um passivo de 100.000,00€ (onde se incluem 45.000,00€ relativos a suprimentos
realizados pelos acionistas da sociedade) e um ativo de 70.000.00€.
Segundo o critério do cash flow, a entidade estará insolvente quando não consiga, a cada
momento, pagar as dívidas que se vencem (art. 3.º, n.º 1, CIRE). Quanto a este critério, não há qualquer
informação.
Segundo o critério do balanço, uma entidade estará insolvente quando tenha um passivo
manifestamente superior ao ativo (art. 3.º, n.º 2, CIRE). Tendo em conta os critérios de correção do
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art. 3.º n.º 3, não são considerados para efeitos do critério do balanço os créditos provenientes de
suprimentos. Como tal, Sardinhas S.A. não terá um passivo superior ao ativo, pelo que não estaria
obrigada a apresentar-se à insolvência. A obrigação de apresentação à insolvência apenas recai sobre
sujeitos que se encontrem em situação de insolvência de acordo com os critérios previstos no CIRE.
A obrigação de apresentação à insolvência não existe no caso de o devedor ser uma pessoa singular
não titular de empresa (art. 18.º, n.º 2, CIRE).
Sim. A lei atribui legitimidade aos credores da sociedade, ao Ministério Público ou e a outras
pessoas que respondam pelas dívidas do devedor para requererem a insolvência do devedor. Estas
entidades requerem a declaração de insolvência com base em factos indiciários da situação de
insolvência (art. 20.º, CIRE). Assim, caberá ao devedor provar que não se verifica qualquer facto que
indicie a sua situação de insolvência ou que, mesmo que se verifique um desses factos, não está
efetivamente insolvente, por não se aplicar qualquer dos critérios que determinam a insolvência à sua
situação.
Na eventualidade de alguma destas entidades requerer a insolvência do devedor e esta vir a ser
declarada, passará a ser detentora de um privilégio mobiliário geral (art. 98.º, n.º 1, CIRE). Deste
modo, deixa de deter apenas um crédito comum, passando a ter um crédito privilegiado, podendo ver
o seu crédito satisfeito em primeiro lugar em relação a outros credores.
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Corresponde a um crédito subordinado (art. 48.º, CIRE), sendo satisfeito depois dos restantes
créditos sobre a insolvência.
Por um lado, quando haja a realização de uma prestação por uma parte sem a respetiva
contraprestação pela contraparte, o valor da diferença entre ambas será um crédito sobre a massa –
assim, a massa insolvente terá o direito de exigir o valor da contraprestação correspondente à prestação
já efetuada pelo devedor, na medida em que não tenha sido ainda realizada pela outra parte (art. 102.º,
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n.º 3, al. b), CIRE). Assim, p.ex., se a Sardinhas S.A. já tivesse pago 3 carros e só tivesse recebido 2,
terá o direito a exigir o valor desse terceiro carro a Camiões Lda.
Por outro lado, também a outra parte terá o direito de exigir, como crédito sobre a insolvência,
o valor da prestação do devedor, na parte incumprida, deduzido do valor da contraprestação
correspondente que ainda não tenha sido realizada (art. 102.º, n.º 3, al. c), CIRE). Assim, se Camiões
Lda. já tiver entregado 3 carros e Sardinhas S.A. só tiver pagado 2, a primeira terá direito a receber o
valor do terceiro carro. As als. b) e c) do art. 102.º, n.º 3 aplicam-se quando haja incumprimentos
parciais ao correspetivos ou quando haja um incumprimento total de um contraente e parcial do outro.
Pode, ainda, haver lugar a indemnização por parte da massa relativamente ao credor (art. 102.º,
n.º 3, al. d), CIRE). Esta indemnização será um crédito sobre a insolvência que, não tendo uma garantia
nem estando sujeito a qualquer motivo de subordinação, será comum. O direito à indemnização apenas
existe até ao valor da obrigação eventualmente imposta nos termos da al. b) – assim, o valor da
indemnização está limitado ao valor da contraprestação a que o insolvente poderia ter direito por ter
cumprido mais do contrato do que o credor. Parte da doutrina entende que esta aplicação se aplica
sempre, a qualquer tipo de indemnização. O professor Pestana Vasconcelos, contudo, considera que
esta limitação apenas se aplica quando efetivamente exista algum valor nos termos da al. b). neste
caso, não havendo uma limitação, cabe ao credor provar efetivamente qual o dano que sofreu e será
esse o valor a que terá direito com a indemnização. Por fim, do valor desta indemnização, calculada
segundo as regras anteriores, deverá ser abatido do quantitativo a que a outra parte tenha direito, por
aplicação da al. c), de forma a que não haja enriquecimento sem causa.
Inicia-se desde que a empresa obtenha acordo com credores que não estejam especialmente
relacionados com ela e que sejam titulares de 10% de créditos não subordinados para encetarem
negociações conducentes à revitalização daquela por meio de aprovação de um plano de recuperação.
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recebida a comunicação, a empresa deve comunicar a todos os seus credores que se iniciou um plano
de revitalização, para que todos sejam convidados a participar na negociação (art. 17.º-D, n.º 1, CIRE).
Os credores terão 20 dias para virem ao processo reclamar os seus créditos. Com a nomeação, a
empresa fica impedida de exercer, por si só, um conjunto de atos considerados de especial relevo, que
necessitam da aprovação do administrador judicial provisório – ex: venda da empresa, alienação de
bens necessários à exploração de empresa, alienação de participações sociais, aquisição de imóveis,
celebração de novos contratos de execução duradoura, entre outros. Uma série de serviços deve ser
continuado a ser prestado durante o PER – art. 17.º-E, n.º 8, CIRE. Esses efeitos visam colocar as
partes numa posição confortável para poderem, durante determinado período de tempo, chegar a um
acordo quanto a um plano de revitalização.
III.
Imagine agora que a Camiões Lda. se encontra em risco de deixar de conseguir pagar aos
seus credores.
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ii. A Camiões Lda. pretende iniciar o seu processo especial de revitalização. Que terá de fazer
para o efeito?
iii. Tendo já sido nomeado um administrador judicial provisório, diga se poderá a sociedade
comercial Motores, S.A. propor ação declarativa de condenação ao cumprimento de obrigação
pecuniária contra a Camiões Lda..
Corresponde a um crédito privilegiado. A lei atribui uma garantia especial ao fresh money, ou
seja, ao financiamento concedido ao devedor pelos seus credores, através da concessão de um
privilégio mobiliário geral especialmente forte, graduado acima dos restantes (art. 17.º-H, n.º 2, CIRE).
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A obrigação de adotar firma é uma obrigação de qualquer comerciante (art. 18.º, C.Com.).
Contudo, esta obrigação não recai apenas sobre sujeitos comerciantes, na medida em que existem
entidades não comerciantes que estão obrigadas a adotar uma firma.
As noções de firma, empresa e sociedade comercial são distintas. A firma corresponde ao nome
do comerciante e é algo que todos os comerciantes devem ter, seja um comerciante em nome individual
ou uma pessoa coletiva.
A empresa, em sentido objetivo, é uma organização de meios, i.e., uma organização produtiva
com uma determinada independência que visa a produção de determinado bem ou serviço.
A sociedade comercial é uma pessoa coletiva com personalidade própria que está obrigada,
enquanto comerciante, a ter uma firma, embora possa não ter uma empresa em sentido objetivo.
Existem sociedades comerciais constituídas única e exclusivamente para deter determinados bens
(sociedades comerciais fantasma) – por exemplo, certas sociedades comerciais existem apenas com o
objetivo de serem proprietárias de aviões. Assim, se o sujeito pretender vender os bens detidos pela
sociedade comercial, terá que vender toda a sociedade que detém esses mesmos bens, o que poderá
trazer benefícios em termos fiscais ou em termos das formalidades necessárias para a transação do
bem.
Uma sociedade comercial tem sempre que ter uma firma, mas nem sempre tem uma empresa,
da mesma forma que pode haver uma empresa detida por um comerciante em nome individual, sem
que haja uma sociedade comercial por trás. No direito comercial, os conceitos de firma, empresa e
sociedade comercial têm um significado próprio, pelo que não podem ser confundidos.
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Tipos de firma:
• Firma-nome – constituída pelo nome total ou parcial do comerciante em si ou dos vários sócios da
sociedade.
• Firma-denominação – constituída pela alusão ao objeto social da sociedade, isto é, à atividade
exercida pelo comerciante ou por expressões de fantasia (expressões inventadas, não relacionadas
com o nome dos sócios ou com o objeto social).
• Firma mista – combinam ambos os elementos.
No que diz respeito ao comerciante em nome individual, o regime encontra-se previsto no art.
38.º, RRNPC. A sua firma deve ser uma firma-nome, i.e., deve ser composta pelo nome do
comerciante, completo ou abreviado, na medida em que seja possível identificar a pessoa. Pode, ainda,
ser aditada alguma alcunha ou expressão relativa à atividade exercida. Não é possível adotarem uma
firma-denominação, uma vez que deve haver sempre uma referência ao nome do comerciante. Ao
nome do comerciante podem anteceder títulos académicos, profissionais ou nobiliárquicos a que o
sujeito tenha direito. Não pode incluir quaisquer outras expressões ou siglas.
Em princípio, uma firma de um comerciante em nome individual não é exclusiva, uma vez que
podem existir sujeitos comerciantes distintos com o mesmo nome. O princípio da novidade não se
aplica completamente aos comerciantes em nome individual, pois reconhece-se o direito ao nome da
cada comerciante. Contudo, existe uma exceção: há a possibilidade de haver uma proteção da firma
do comerciante ao nível do seu concelho de atividade, na medida em que ao nome do comerciante se
junte uma alcunha ou uma expressão alusiva à sua atividade.
No que toca às sociedades em nome coletivo, o regime das firmas vem previsto no art. 177.º,
CSC. A firma deve ser constituída pelo nome ou firma de um ou vários dos sócios e deve conter um
aditamento abreviado ou por extenso que indique a existência de mais sócios.
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sociedades não seja tão frequentemente utilizado – os sujeitos, ao constituir uma sociedade comercial,
pretendem, em regra, limitar a sua responsabilidade. O regime das firmas das sociedades em nome
coletivo visa, portanto, identificar quais os responsáveis pelas dívidas da sociedade, de forma a que
quem contrate com esta sociedade saiba, à partida, que haverá mais do que uma pessoa responsável
pelas suas dívidas.
Coutinho de Abreu entende que, apesar de não vir expressamente previsto no art. 177.º, CSC,
é possível a inclusão de uma sigla, expressão de fantasia ou alusão ao objeto da sociedade, desde que
haja sempre referência à parte da firma-nome (por analogia ao art. 42.º, n.º 1, RRNPC). É, portanto,
possível que adotem uma firma mista.
A lei admite, ainda, que da firma conste o nome de um sujeito que não seja sócio da sociedade.
Nesse caso, o sujeito que autorize que o seu nome conste da firma da sociedade em nome coletivo será
responsável nos mesmos termos que os sócios, de forma pessoal, solidária e ilimitada.
Quanto às sociedades por quotas e às sociedades anónimas, podem adotar uma firma-nome,
uma firma-denominação ou uma firma mista, conforme a escolha dos sócios (arts. 200.º e 275.º, CSC).
Devem sempre incluir uma expressão que identifique o tipo de sociedade em causa – “Limitada ou
Lda.” em caso de sociedades por quotas ou “Sociedade Anónima” ou “SA” em caso de sociedade
anónima.
No regime das firmas das sociedades por quotas e das sociedades anónimas relevam dois
aspetos relativos ao princípio da verdade – as firmas não podem conter expressões indicativas de um
objeto social que não esteja especificamente previsto na respetiva cláusula do contrato de sociedade.
Por outro lado, no caso de objeto contratual da sociedade ser alterado, deixando de incluir a atividade
especificada na firma, a alteração do objeto deve ser simultaneamente acompanhada da modificação
da firma.
A firma da sociedade em comandita deve ser composta pelo nome de um ou mais sócios
comanditados, de forma a que quem contrate com a sociedade saiba que existe pelo menos um sócio
que poderá ser responsabilizado pelas dívidas da sociedade no caso de o património desta ser
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insuficiente. Podem, ainda, conter outras siglas ou expressões de fantasia. Se figurar na firma o nome
de um sócio que não era comanditado, na medida em que o seu nome aparece na firma, os credores
poderão responsabilizar o património desse sujeito nos exatos termos em que poderiam responsabilizar
o património dos sócios comanditados. Isto só não ocorre se se demonstrar que os credores sabiam que
o sócio em causa era comanditário, apesar de o seu nome figurar na firma.
1. Princípio da verdade: a firma não pode induzir em erro as pessoas que contactam com o
comerciante, sobretudo quanto a três aspetos centrais – quanto à identificação do comerciante,
quanto à natureza do comerciante e quanto à atividade desenvolvida pelo comerciante. Como tal,
em princípio, a firma não pode conter o nome de alguma pessoa que não seja sócio da sociedade,
a não ser que essa pessoa o autorize, caso em que poderá ser responsabilizado pelas dívidas dessa
sociedade. Também não pode conter referência a uma atividade que não seja efetivamente
realizada, nem conter elementos que induzam em erro quanto à caracterização jurídica dos
respetivos titulares.
Este princípio dita que se o objeto da sociedade for alterado, a firma deve ser alterada em
conformidade, no caso de incluir referência ao objeto social. Se um sócio cujo nome conste da
firma sair da sociedade, a firma deve ser alterada em conformidade, salvo se o próprio sócio
consentir na sua manutenção.
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3. Princípio da capacidade distintiva: em princípio, as firmas das sociedades comerciais não podem
ser constituídas por elementos de fraca distinção, isto é, por palavras abrangentes, usadas no
quotidiano. Este princípio não se aplica aos comerciantes em nome individual nem às firmas-nome
ou firmas mistas. Quando as firmas envolvem o nome dos sócios ou dos comerciantes, isso, por si
só, basta para que haja capacidade distintiva – estas têm capacidade distintiva por inerência.
4. Princípio da unidade: como regra geral, um comerciante apenas pode ter uma firma, exceto no
caso dos EIRLs. Nesse caso, terá uma firma enquanto comerciante e uma firma enquanto titular de
um EIRL.
5. Princípio da ilicitude residual: as firmas não podem incluir uma série de elementos considerados
ilícitos, nomeadamente expressões proibidas por lei ou ofensivas da moral e dos bons costumes,
expressões incompatíveis com as liberdades individuais ou expressões relativas a símbolos
nacionais ou personagens históricas.
Alteração da firma
A firma pode ser livremente alterada pelo comerciante. Existem situações em que essa alteração
será obrigatória, nomeadamente quando saia da sociedade algum sócio cujo nome conste da firma,
quando seja alterado o objeto social da sociedade e quando haja transformação da natureza da
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sociedade. No caso da liquidação da sociedade, quando os sócios determinam encerrar uma sociedade
comercial, a firma deve passar a incluir a expressão “Sociedade em Liquidação”.
Transmissão da firma
Em princípio, a firma, sendo um nome, não poderia ser transmissível. Contudo, a firma detém
um valor comercial próprio, distinto do comerciante em si, podendo ser objetivada na medida em que
passa a ser relacionada com um estabelecimento comercial específico. O legislador visou proteger dois
interesses: por um lado, o interesse da firma como um objeto com valor próprio e, por outro lado, o
interesse dos credores que normalmente contratam com essa firma.
Nos termos do art. 44.º, RRNPC, é possível a transmissão da firma, desde que se transmita
também a empresa, de forma a que o público continue consciente de que àquela empresa corresponde
aquela firma, e que as partes o consintam por escrito. O princípio da verdade determina que, em caso
de transmissão da firma, seja incluída a qualidade de sucessão na firma.
Também é possível a transmissão da firma por morte, caso em que deverá ser aditada a
expressão “Herdeiro de” ou “Sucessor de”.
Tutela da firma
A firma pode ser protegida de duas formas – preventivamente, através dos certificados de
admissibilidade da firma (oferece uma confirmação prévia, a priori, da legalidade de uma firma) ou
posteriormente, através da tutela das primeiras firmas existentes. Esta tutela faz-se, pelo menos, através
da possibilidade de o titular da primeira firma pedir ao RRNPC a revogação da outra firma, pela
possibilidade de interpor uma ação de nulidade de uma firma (art. 35.º, n.º 4, RRNPC) e pela
possibilidade de pedir uma indemnização pelas perdas e danos causados (art. 62.º, RRNPC).
I.
António Manuel Ferreira da Silva é dono e explora uma quinta, situada em Baião, na qual
produz um vinho de mesa, que comercializa sob a firma “Dr. António Manuel Ferreira”, e que tem
tido um enorme sucesso nos restaurantes da zona norte.
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b. Entretanto, António Carlos Felisberto Silva abriu uma loja de venda de vinhos, no Porto,
onde para além do mais, vende vinhos da zona de Baião, tendo adotado a firma “AFS – António F.
Silva, Vinhos”. António Manuel Ferreira da Silva quer reagir contra a utilização daquela firma por
parte do Felisberto, porquanto entende que a mesma induz em erro o mercado. Quid iuris?
Quanto à firma de António Carlos Felisberto Silva, não poderia ser antecedida de qualquer
outra expressão que não título académico ou nobiliárquico. Assim, não poderia incluir “AFS” na sua
firma, por violação do art. 38.º, n.º 3, RRNPC.
II.
Neste caso, estão em causa duas sociedades por quotas (art. 200.º, CSC). Em princípio, as
sociedades por quotas podem adotar uma firma-nome, uma firma-denominação ou uma firma mista,
pelo que dificilmente haverá violação do regime das firmas das sociedades por quotas.
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Não parece, também, haver violação de qualquer princípio conformador da firma. Poderiam
surgir dúvidas quanto à violação do princípio da exclusividade ou da novidade. Se se considerar que,
à luz do homem médio, estas duas firmas são confundíveis, quer pelo seu aspeto isolado, quer pela sua
fonética, haverá confundibilidade. Em causa, estão duas sociedades com objetos sociais totalmente
distintos. Em princípio, o objeto social, apesar de dever ser tido em conta, não é elemento suficiente
para averiguar da violação do princípio da confundibilidade. Apesar de estas firmas terem apenas uma
palavra em comum, as firmas em causa apontam para alguma confundibilidade, na medida em que são
utilizadas expressões muito semelhantes.
2. Imagine que, para resolver a situação, Agostinho e Bonifácio fazem uma proposta de
aquisição da firma (e só da firma) à sociedade da Guarda. Podem fazê-lo?
Nos termos do art. 44.º, RRNPC, a transmissão da firma é possível. Porém, a transmissão da
firma apenas é possível se for acompanhada da transmissão da empresa. Não é possível comprar
simplesmente a firma sem mais.
3. Bonifácio pretende abrir um restaurante por conta própria e adotar a firma "O imperador
das sardinhas". Poderá fazê-lo? E poderá adotar a firma “Bonifácio, o Rei das Sardinhas”, e a
mesma ser protegida nos termos do RRNPC? E se a sua firma for tão-só “Bonifácio Joaquim da
Silva Costa”, o regime dessa proteção será o mesmo?
Conforme o art. 38.º, os comerciantes em nome individual devem adotar uma só firma
composta pelo seu nome conforme seja necessário para a identificação da pessoa. Devem adotar uma
firma-nome ou uma firma mista. Como tal, a firma “O imperador das sardinhas” não seria admissível.
Se o comerciante em nome individual tiver uma firma-nome, apenas pode beneficiar da tutela
geral conferida pelo direito ao nome e pela proibição da concorrência desleal.
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Por regra, vigora o regime do art. 601.º, CC, nos termos do qual pelo cumprimento das dívidas
responde o património do devedor. No entanto, em determinadas situações, é difícil perceber qual o
património do devedor, nomeadamente no caso de dívidas dos cônjuges, uma vez que, nos casos de
regime de comunhão de bens, existe uma confusão de patrimónios.
Estabelece o art. 1691.º, n.º 1, al. d), CC que serão dívidas de ambos os cônjuges as dívidas
contraídas por qualquer um dele no exercício do comércio, salvo se se provar que não foi feita em
proveito comum do casal ou se vigorar o regime de separação de bens. Sendo estas dívidas comuns,
irão responsabilizar, em primeiro lugar, o património comum do casal e, solidariamente, o património
do comerciante ou o património do seu cônjuge não comerciante (art. 1695.º, CC). Se se provar que
que a dívida é exclusiva de um dos cônjuges, responderá, em primeiro lugar, o património próprio
desse cônjuge e, em segundo lugar, a sua meação dos bens comuns do casal (art. 1696.º, CC).
A aplicação do art. 1691.º, n.º 1, al. d), relativa à comunicabilidade das dividas dos
comerciantes, está sujeita a requisitos:
Preenchidos estes requisitos, a dívida será comum de ambos dos cônjuges, pelo que os credores
poderão atacar o património de ambos para satisfazer os seus créditos.
I.
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Recusando-se Belmiro a pagar parte do preço acordado, diga quem e que bens pode António
responsabilizar, sabendo-se que está a correr o processo de divórcio entre Belmiro e Carla, casados
em regime de comunhão de adquiridos.
Sendo Belmiro comerciante, a sua dívida será comercial, e presume-se que foi contraída no
exercício do seu comércio (art. 15.º, C.Com.). Estando os cônjuges casados em regime de comunhão
de bens e presumindo-se que a dívida foi contraída em proveito comum do casal, a dívida será da
responsabilidade de ambos os cônjuges. Apenas poderia ser considerada uma dívida exclusiva de
Belmiro se se provar que não foi contraída no exercício do seu comércio, ilidindo a presunção do art.
15.º, C.Com., ou se se provar que não foi feita em proveito comum do casal.
II.
Armindo, casado em regime de comunhão geral de bens com Belmira, é dono de uma
empresa gráfica (conhecida por “Grafimpress”), a qual explora três pequenas oficinas de
impressão.
b) Que bens de Armindo e de Belmira responderão pelo preço das 5 impressoras que
Armindo comprou para uma das oficinas?
Preenchidos os requisitos do art. 1691.º, n.º 1, al. d), CC, a dívida será comum do casal. Para
que haja comunicabilidade, a dívida deve ter sido contraída pelo comerciante no âmbito do seu
comércio. Nos termos do art. 15.º, C.Com., quando se trate de dívida comercial, presume-se que foi
contraída no exercício do comércio. A dívida será comercial se resultar de um ato objetiva ou
subjetivamente comercial. Neste caso, a dívida de Armindo parece ser comercial, por estar em causa
um ato subjetiva e objetivamente comercial. Quanto ao segundo pressuposto, relativo ao regime de
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comunhão de bens do casal, também se encontra verificado. Por último, se não se provar que não
houve proveito comum do casal, isto é, que Belmira não beneficiou de forma nenhuma daquele ato de
comércio, será uma dívida própria de Armindo. Se Belmira não conseguir provar a total separação de
patrimónios do casal, a dívida será comum do casal.
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Trespasse
❖ É sempre uma transmissão definitiva da empresa;
❖ Negócio que pode ser gratuito ou oneroso;
❖ Para efeitos do direito de preferência do artigo 1112º/4 CC, o trespasse tem sempre de ser um
negócio oneroso, ou seja, o senhorio só tem direito de preferência no trespasse se ele for
oneroso;
❖ Segundo Coutinho de Abreu, o trespasse tem que (pelo menos) ser celebrado por escrito
(aplicação extensiva do artigo 112º/3 CC).
Cassiano dos Santos diz que há liberdade de forma, não é necessário celebrar um trespasse por
forma escrita.
No caso especial de transmissão de um imóvel, em princípio, na prática, tem de ser celebrado
por escritura pública. Há autores que dizem que não é necessário, basta um documento escrito.
É sempre necessário ter em conta a interpretação do contrato.
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3. Âmbito convencional – constituído por elementos empresariais que apenas se transmitem por
estipulação ou conceção expressa ou tácita entre trespassante e trespassário.
Incluem-se neste âmbito:
Firma;
Logótipos e marcas com nomes;
Dívidas, créditos e relações contratuais:
- A transmissão só exonera o trespassante havendo declaração expressa dos credores,
respondendo ele solidariamente com o trespassário caso não haja essa declaração;
- As dívidas laborais e segurança social – responsabilidade do trespassário (285º CT).
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Além do trespassante, outras pessoas podem ficar vinculadas à obrigação de não concorrência:
é o caso do cônjuge, dos seus filhos e de alguns sócios (se em causa estiver uma sociedade comercial).
Porque é que estas pessoas podem ficar vinculadas à obrigação de não concorrência?
❖ Os familiares têm de conhecer os valores da organização e de exploração da empresa cedida,
representando um perigo acrescido;
❖ Têm de continuar a retirar proveito económico da empresa cedida e continuar em economia
comum com o empresário.
Esta obrigação tem limites. Ela justifica-se apenas na medida em que seja necessária para uma
entrega efetiva do estabelecimento trespassado. Por isso:
➢ Limites objetivos – atividade concorrente;
➢ Limites espaciais – irradiação geográfica do estabelecimento;
➢ Limites temporais – enquanto o comerciante não consolidar os elementos do estabelecimento.
O artigo 1112º termina dizendo que quando após a transmissão seja dado outro destino ao prédio,
o senhorio pode resolver o contrato.
Direito de preferência
Segundo o artigo 1112º/4, o senhorio tem direito de preferência nos trespasses onerosos (e
apenas nestes).
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O exercício do direito de preferência é feito de acordo com as regras gerais dos arts. 416.º e
1410.º, CC. A violação desta comunicação para preferência permite apenas propor ação para
preferência.
Assim, o trespassante tem que proceder a duas notificações ao senhorio:
1. Uma notificação com a intenção de venda, comunicando o negócio que pretende realizar com
o trespassário, de forma a que o senhorio, querendo, possa exercer o direito de preferência no
trespasse no prazo de 8 dias (art. 416.º, CC). A violação desta comunicação apenas dá direito
a exercer ação de preferência (art. 1410.º, CC).
2. Uma notificação da cedência da posição de arrendatário, no prazo de 15 dias (art. 1038.º, al.
g), CC). Parte da doutrina adota uma interpretação extensiva do art. 1109.º, CC, defendendo
um prazo de 30 dias para comunicação da cedência da posição de arrendatário ao senhorio,
através da analogia com o regime da locação de empresa. Contudo, tem sido de defender a
aplicação do art. 1038.º, al. g), CC, relativo ao prazo de 15 dias.
A falta desta comunicação pode ser motivo de despejo, isto é, de resolução do contrato de
arrendamento. Segundo o artigo 1049º, a não comunicação não dá direito a resolução do
contrato se o senhorio tiver reconhecido o beneficiário da cedência como tal ou se a
comunicação lhe tiver sido feita por este no caso da alínea g).
Locação da empresa
A locação consiste na transmissão temporária da empresa. Esta transmissão tem sempre de ser
onerosa.
Âmbitos de entrega
Mantém-se o referido quanto ao trespasse com algumas especificidades, por exemplo:
➢ As marcas e logótipos transmitem-se sempre;
➢ A propriedade dos meios empresariais mantém-se no locador – existe apenas um direito de
disposição.
Sob o locador da empresa recai a obrigação de não concorrência. Há uma obrigação de entrega da
empresa com todas as suas características, com todos os seus valores sui generis de organização e de
exploração.
Esta obrigação tem os limites referidos anteriormente (temporais, geográficos e objetivos).
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O locatário da empresa também está impedido de concorrer durante todo o período da locação de
empresa, pois, se o pudesse fazer, podia facilmente desviar a clientela para uma nova empresa, afetar
os valores de organização e exploração para outra empresa, etc. Portanto a violação do dever de
manutenção e restituição da coisa está a cargo do locatário (artigo 1043º).
Esta obrigação tem os limites temporais, geográficos e objetivos explicados anteriormente.
I.
Ambrósio é proprietário da Roque & Role, uma loja de venda de discos situada no centro do
Porto que funciona num prédio arrendado a Casimiro. O seu negócio tem prosperado graças aos
contactos privilegiados que mantém com distribuidores discográficos, e que lhe permitem ter em
primeira mão as novidades musicais. Ambrósio acaba por aceitar uma oferta de Barata,
trespassando-lhe o estabelecimento por €250.000. No contrato apenas se diz que o estabelecimento
é transmitido "com todo o seu património".
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1. Dias após a celebração do contrato, Barata telefona a Ambrósio com vista a combinar um
dia para procederem às formalidades relativas à transferência da firma ("Ambrósio Roque, discos
e cassetes"), e para que este o apresente pessoalmente a alguns distribuidores de discos. Ambrósio
recusa-se, dizendo que não queria nem era obrigado a transmitir a firma e que só apresentava os
seus conhecidos a quem quisesse. Quid iuris?
Neste caso, está em causa um trespasse, que corresponde a um negócio com vista à transmissão
definitiva de uma empresa. Subjacente a um contrato de trespasse podem existir diversas figuras,
designadamente um contrato de compra e venda. Não está em causa uma locação temporária da
empresa, mas antes um trespasse, na medida em que a transmissão tem caráter definitivo.
A questão da apresentação pelo trespassante dos distribuidores dos discos ao novo dono do
estabelecimento comercial prende-se, não com o âmbito de negociação da empresa, mas com o modo
de entrega da mesma. O trespassante deve entregar não apenas os elementos que fazem parte da
empresa, mas todas as qualidades e valores de organização e exploração, que são valores sui generis.
Portanto, o trespassante tem obrigações não apenas de dare, mas também de facere ou non facere,
relacionadas com o assegurar na pessoa do adquirente as qualidades específicas da própria empresa.
O trespassante tem a obrigação de avisar quem será o novo dono da empresa, tanto a montante, seja a
distribuidores e fornecedores, como a jusante, seja a clientes. A apresentação dos distribuidores dos
discos ao novo proprietário é, portanto, uma obrigação de facere que recai sobre o trespassante. Se não
o fizer, aplicam-se as regras gerais das obrigações: o trespassário pode recorrer à resolução do contrato
ou pode preferir manter o contrato e pedir uma indemnização pelos prejuízos causados.
2. Dois meses após Barata ter tomado posse do estabelecimento, recebe uma carta de
Casimiro em que este lhe comunica a intenção de o despejar. Invoca, para o efeito, os seguintes
fundamentos:
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a. Apesar de ter já por duas vezes aceite o pagamento da renda por Barata, Casimiro não foi
devidamente notificado do trespasse do estabelecimento, o que o impediu de exercer (como
alegadamente pretendia) a preferência legal que a lei lhe atribui;
Nos termos do art. 1112.º, n.º 4, CC, nos casos de trespasse por venda ou dação em
cumprimento, o senhorio terá direito de preferência no trespasse. Sendo notificado das condições
essenciais do negócio de trespasse, o senhorio terá 8 dias para exercer o seu direito de preferência,
sendo que, se nada disser, o seu silêncio equivale a dizer que não pretende preferir (neste caso, o
silêncio tem valor declarativo), conforme resulta do art. 416.º, CC.
Neste caso, o senhorio pretende terminar o contrato de arrendamento, alegando que não foi
notificado do trespasse e que não foi permitido exercer a preferência no trespasse. O senhorio confunde
a comunicação do trespasse com a comunicação para preferência. Portanto, o senhorio pretende
resolver o contrato de arrendamento, despejando o inquilino, com base na falta de notificação para a
preferência. O incumprimento da obrigação de comunicação para a preferência no trespasse não é
fundamento de resolução do contrato de arrendamento. Em caso de omissão da comunicação para a
preferência, o senhorio pode apenas intentar ação para a preferência no prazo de 6 meses (art. 1410.º,
CC).
Para além do mais, não existe uma obrigação de comunicação do trespasse ao senhorio, mas
antes da cedência da posição de arrendatário, para a qual não é necessário o seu consentimento (art.
1112.º, n.º 1, CC). Assim, a única maneira que o senhorio tem de se opor a esta cedência é através do
exercício do direito de preferência ou da ação para a preferência. Contudo, em caso de violação da
obrigação de comunicação da cedência da posição de arrendatário no prazo de 15 dias, o senhorio
poderá resolver o contrato de arrendamento (art. 1038.º, al. g), CC). Neste caso, aplica-se o art. 1049.º,
CC, que estabelece que não haverá direito à resolução do contrato se o senhorio tiver conhecimento
do novo inquilino, caso que se verificou através do recebimento das rendas por parte de Barata.
b. O trespasse não acarretou, como deveria por força da lei, a transferência de todos os bens
que compunham o estabelecimento, tendo Ambrósio ficado para si com um gira-discos, as colunas
de som e um disco autografado de Elvis Presley (que desde sempre decorava a loja e que se tornara
mesmo na sua imagem de marca, aparecendo como imagem de fundo na publicidade incluída em
jornais da especialidade);
O art. 1112.º, n.º 2, al. a), CC estabelece que não haverá trespasse quando a transmissão não
seja acompanhada da transferência, em conjunto, das instalações, utensílios, mercadorias ou outros
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elementos que integram o estabelecimento. Contudo, não se pode fazer uma interpretação literal deste
art., antes devendo ler-se como exigindo a transmissão de todos os elementos do âmbito mínimo da
empresa, sob pena de não haver trespasse. Se não houver trespasse, não se aplica a dispensa do
consentimento do senhorio para a cedência da posição de arrendatário no art. 1112.º, n.º 1, al. a), CC,
aplicando-se o regime geral.
Quais são os elementos do âmbito mínimo? Esta questão não pode ser respondida em abstrato,
pois cada empresa funciona à sua maneira e, em determinados casos, o âmbito mínimo pode incluir a
localização, noutros casos a marca, noutros casos o know-how. Em termos gerais, o âmbito mínimo
corresponde ao conjunto de elementos sem os quais aquela empresa se torna irreconhecível aos olhos
do público. Assim, nenhum dos elementos referidos no argumento apresentado parece estar dentro do
âmbito mínimo, pelo que, em princípio, haverá trespasse.
Nos termos do art. 1112.º, n.º 2, al. b), CC, não haverá trespasse quando a transmissão vise o
exercício, no prédio, de outro ramo de comércio ou indústria ou, de um modo geral, a sua afetação a
outro destino. Contudo, na aferição deste elemento, interessa apenas a vontade das partes no momento
do trespasse. A mudança posterior deve ser entendida como um indício de que não houve trespasse;
contudo, não há uma presunção de que não há trespasse, mas apenas um sinal de que porventura as
partes não quiseram trespassar a empresa. Esta mudança é apenas um sinal, pelo que, caso pretenda
invocar que não houve trespasse, o sujeito deve provar a vontade das partes no sentido da afetação do
prédio a outro destino.
3. Cerca de seis meses depois do trespasse, Ambrósio resolve retomar a atividade profissional
e abre uma nova loja de discos em Valongo. Ao saber disso, Barata procura saber se pode ou não
impedir Ambrósio de realizar esse propósito, e quais os meios legais ao seu dispor para o efeito.
Qual é a sua opinião?
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Neste caso, está em causa o modo de entrega da empresa, que corresponde à forma como a
entrega se deve fazer, isto é, ao conjunto de atos materiais que devem acompanhar a transmissão da
empresa, bem como de atos que o trespassante ou locador se deve inibir de praticar quando transmite
a empresa de forma a que essa transmissão se faça com todas as características, nomeadamente no que
diz respeito aos valores de organização da empresa, permitindo assim ao adquirente da empresa
continuar a ocupar a mesma posição de mercado que o trespassante ocupava. A par destas obrigações
de facere, existe uma outra obrigação, muito concreta e desenvolvida na nossa jurisprudência, apesar
de não ter consagração positiva na nossa lei, que é uma obrigação de non facere – a obrigação de não
concorrência.
A obrigação de não concorrência é, portanto, uma obrigação implícita, nos termos da qual o
trespassante de estabelecimento fica obrigado, num certo espaço e durante certo tempo, a não concorrer
com o trespassário e sucessivos adquirentes. Nomeadamente, fica vinculado a não iniciar atividade
similar à exercida através do estabelecimento trespassado. O fundamento desta obrigação reside na
obrigação do alienante entregar a coisa alienada e assegurar o seu gozo pacífico.
Além do trespassante, outras pessoas podem ficar vinculadas pela obrigação implícita de não
concorrência. É o caso do cônjuge do trespassante, dos seus filhos e, se o alienante for uma sociedade
comercial, também de alguns sócios (designadamente aqueles que possuem conhecimentos relativos à
empresa trespassada indispensáveis a uma concorrência qualificada).
A resposta seria a mesma no caso de a proprietária do novo estabelecimento ser Dora, com
quem este é casado em regime de separação de bens, ou a sua filha Ester?
Há dois critérios cumulativos para impor essa obrigação de não concorrência a familiares: em
primeiro lugar, os familiares do trespassante têm de conhecer, de facto, os valores de organização e de
exploração da empresa cedida, representando um perigo acrescido; em segundo lugar, têm de continuar
a retirar proveito económico da empresa cedida e continuar em economia comum com o empresário.
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Se os obrigados a não concorrer violarem a sua obrigação, o trespassário pode optar entre várias
alternativas: pode exigir uma indemnização por perdas ou danos, resolver o contrato de trespasse,
intentar ação de cumprimento e requerer sanção pecuniária compulsória ou exigir que o novo
estabelecimento do obrigado seja encerrado. Se o prejuízo causado pelo encerramento do
estabelecimento comercial for superior ao benefício esperado por esse mesmo encerramento, cessa a
obrigação de encerramento, restando sempre a obrigação de indemnização pelo prejuízo patrimonial
causado pela abertura do estabelecimento comercial.
Neste caso, está em causa a questão da transmissão das dívidas no caso de transmissão da
empresa.
II.
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Decidido a tirar umas prolongadas férias, António celebrou com Bento, em Outubro, um
contrato que designaram como "cessão de exploração", nos termos do qual o segundo explorará o
restaurante por um período de dois anos, pagando ao primeiro uma renda mensal de € 7500.
a. para que o prédio fosse ocupado por alguém que não o arrendatário seria necessário o
consentimento da senhoria, que não foi pedido nem prestado;
Neste caso, está em causa uma locação temporária de empresa, que corresponde à cedência de
um estabelecimento comercial, temporariamente, mediante retribuição. Nos termos do art. 1109.º, CC,
a transferência temporária onerosa de estabelecimento instalado em local arrendado não carece de
autorização do senhorio, mas deve ser-lhe comunicada no prazo de um mês. O que diz o art. 1109.º,
n.º 2, CC é que a locação da empresa não carece do consentimento do senhorio. Isto é um erro enorme
do legislador, porque nunca a transferência temporária da empresa precisaria do consentimento do
senhorio. O consentimento do senhorio apenas seria necessário para ceder o gozo do prédio ao
locatário da empresa.
b. ainda que assim não se entenda, seria sempre obrigação do arrendatário comunicar a
cedência do local ao senhorio;
c. sendo sabido por todos que o sucesso do restaurante se devia em grande parte à arte da
cozinheira Deolinda (esposa de António, e que deixou de trabalhar no restaurante durante o período
da locação), só por falácia se poderá dizer que o estabelecimento que agora funcionava no locado
era o mesmo que António explorava; prova clara disso era o facto de o Espadarte à Deolinda, o
prato mais célebre da casa, ter sido suprimido da ementa.
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Nos termos do art. 1109.º, CC, a transferência temporária e onerosa do gozo de um prédio ou
de parte dele, em conjunto com a exploração de um estabelecimento comercial ou industrial nele
instalado, rege-se pelas regras do trespasse, com as necessárias adaptações. A não ser em casos
contados, excecionais, o cozinheiro não é essencial ao funcionamento da empresa. Caso contrário, com
a morte desta a empresa desapareceria. Assim, a não transferência do know-how da cozinheira na
locação da empresa não põe em causa a subsistência do restaurante enquanto tal. O senhorio pretendia
com este argumento alegar que não havia locação e que, por isso, seria aplicável o art. 1112.º, n.º 2,
al. a), CC (por remissão do art. 1109.º, n.º 1, CC). Baseia-se na não transmissão dos elementos do
âmbito mínimo, havendo uma cessão da posição de arrendatário e violação das suas obrigações. No
entanto, o senhorio não tem razão, uma vez que, apesar de os elementos não transmitidos serem
importantes, não são essenciais ao ponto de descaracterizarem a empresa no seu âmbito mínimo.
2. Um ano após o contrato, António resolveu retomar a sua atividade. Arrenda para o efeito
um espaço na praça da alimentação num centro comercial no Porto onde, com a inestimável
colaboração da sua esposa Deolinda, serve peixe frito. Sabendo desse facto, Bento ameaça recorrer
aos tribunais se António não encerrar imediatamente o negócio. Quid Juris? E se António
adquirisse um restaurante de peixe na Afurada, cujos gerentes eram os seus filhos Manuel e
Joaquim?
Neste caso, está em causa a obrigação de não concorrência. Nos termos do art. 1037.º, CC, o
locador não pode praticar atos que impeçam ou diminuam o gozo da coisa pelo locatário, com exceção
dos que a lei ou os usos facultem ou o próprio locatário consinta em cada caso, mas não tem obrigação
de assegurar esse gozo contra atos de terceiro. A obrigação de não concorrência tem limites,
justificando-se apenas na medida em que seja necessária para uma entrega efetiva do estabelecimento
trespassado.
O locatário da empresa está também impedido de concorrer durante todo o período da locação
da empresa, pois, se o pudesse fazer, podia facilmente desviar a clientela para a nova empresa, afetar
os valores de organização e exploração para outra empresa, etc., violando o dever de manutenção e
restituição da coisa a cargo do locatário (art. 1043.º, CC). Assim, estará impedido de concorrer durante
todo o período de exploração da empresa (limite temporal), apenas quanto a empresas com o mesmo
objeto da empresa (limite objetivo) e apenas no âmbito de irradiação da empresa locada (limite
geográfico).
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O locatário da empresa tem direito de explorar a empresa pelo período que foi convencionado,
mas ele tem mais do que isso, tem um poder-dever de explorar a empresa, porque ele tem que
assegurar, nos termos dos arts. 1038.º e 1043.º, CC, a devolução da empresa com todas as suas
qualidades e valores. Se ele deixar de explorar a empresa, isso vai afetar a empresa que tomou de
locação. O locatário tem este poder-dever que implica que ele explore a empresa (isto é, que não a
possa encerrar) e mantenha a empresa com as suas características e qualidades.
III.
No caso em apreço, está em causa um trespasse. Por regra, o logótipo insere-se no âmbito
natural de entrega, sendo transmitido sem necessidade de consentimento das partes nesse sentido.
Neste caso a transmissão do logótipo requeria convenção expressa nesse sentido (art. 31.º, n.º 5, CPI).
Em abstrato, a não transmissão do logótipo não coloca em causa a existência de trespasse para efeitos
da aplicação do art. 1112.º, n.º 2, al. a), CC, por não parecer fazer parte do âmbito mínimo da empresa.
Assim, este não seria um fundamento de resolução do contrato.
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Nos termos do art. 1112.º, n.º 5, CC, o senhorio tem direito a resolver o contrato quando, após
a transmissão, seja dado outro destino ao prédio.
A falta de notificação a Hugo pode levar à resolução do contrato, mas apenas se este não tiver
reconhecido Givanildo como seu inquilino no período que decorreu desde o trespasse, e se demonstrar
que essa situação tem gravidade suficiente (arts. 1049.º, 1083.º, n.º 2 e 1112.º, n.º 3, CC).
Os títulos de crédito
O título de crédito é um documento que incorpora um direito literal e autónomo que legitima
o seu titular a exercê-lo e serve de suporte à sua circulação e mobilização. Desempenha como função
titular e incorporar direitos de modo a permitir e facilitar a sua circulação e mobilização, tutelando
terceiros de boa-fé. Existe um grande número de títulos de crédito, sendo os mais comuns as letras de
câmbio, as livranças e os cheques.
A letra de câmbio é um documento em papel que contém uma ordem de pagamento de uma
quantia determinada dada por um sujeito (o sacador) a outro sujeito (o sacado) e à ordem de um terceiro
(o tomador). O sacador (aquele que dá a ordem) garante que o sacado (a pessoa a quem deu a ordem)
vai pagar perante o tomador. O sacador promete, ainda, pagar uma quantia ao beneficiário ou à sua
ordem. Existe uma relação tripartida.
Na livrança, por sua vez, há uma estrutura bipartida, uma vez que não há uma ordem de
pagamento, mas antes uma promessa de pagamento que é dada pelo subscritor a favor do tomador.
Neste caso, é o próprio subscritor que promete pagar ao tomador ou à sua ordem no prazo estipulado.
Fora a sua particularidade, o regime é basicamente o mesmo do das letras, por aplicação do art. 77.º,
LULL.
O cheque é um título de crédito emitido por uma pessoa para benefício da entidade nele
indicada ou ao portador, contendo uma ordem pura e simples de pagamento da quantia nele inscrita
dirigida a um estabelecimento bancário e no qual o seu emitente possua fundos disponíveis. Existe,
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também, uma relação tripartida, mas o sacado (a entidade a quem é dada a ordem de pagamento) é
sempre um banco. Nessa medida, deixa de haver necessidade de haver espaço para preencher a
informação relativa à identificação do sacado. O cheque tem um regime específico, previsto na LUC
e no DL n.º 454/91, que prevê o crime de emissão de cheque sem provisão (art. 11.º). Sendo o cheque
uma parte fundamental do comércio, é importante que os beneficiários saibam que quem o passa
efetivamente terá a provisão suficiente para pagar os valores que está a ordenar ao banco que pague.
Definições prévias
Desde logo, importa distinguir o direito cartular do negócio subjacente. O direito cartular é o
direito incorporado no título e do qual são devedores todos os obrigados cambiários, que vão dando,
através da sua assinatura, a garantia de pagamento futuro. É um direito pecuniário e o seu montante é
o que está inscrito no título. O seu prazo de prescrição é diferente do prazo de prescrição do negócio
subjacente.
Por outro lado, o negócio subjacente é o negócio que explica o direito cartular, isto é, é o
direito que lhe deu origem. Não tem de ser necessariamente pecuniário, desde que crie, de alguma
forma, a necessidade de efetuar determinado pagamento. Na verdade, nem tem de haver pagamento
efetivo, basta que seja, por exemplo, uma garantia. No âmbito da compra e venda de empresas e da
transmissão de sociedades comerciais, é comum a passagem de letras em branco como garantia. Sendo
estas letras em branco, apenas serão preenchidas caso, por algum motivo, o contrato for incumprido
pela parte que passa a letra.
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• Sacador – aquele que dá a ordem de pagamento e que saca a letra. Compromete-se a pagar caso o
sacado não pague.
• Sacado – aquele que recebe a ordem de pagamento. Quando aceita a ordem, passa a ser aceitante.
O subscritor de uma livrança é responsável da mesma forma que o aceitante de uma letra.
• Tomador/beneficiário – aquele que vai ser pago em determinada data pelo sacador e que pode,
nalguns casos, ser o próprio sacador.
• Endossatário – o novo tomador. Sujeito a quem a letra foi endossada.
• Endossante – o tomador que transmite a letra. Fica obrigado a garantir o pagamento se o aceitante
não pagar.
• Relações imediatas: quando entre dois intervenientes num título existe uma relação subjacente,
diz-se que a sua relação é imediata. Corresponde à relação existente entre o portador da letra e a
pessoa a quem está a ser exigido o pagamento da letra. Apenas estas podem ser invocadas nas
letras como forma de se opor à obrigação de pagamento da quantia prevista na letra.
• Relações mediatas: quando os intervenientes não estão ligados por uma relação subjacente
específica, diz-se que a relação é mediata. Corresponde à relação existente entre os obrigados da
letra, mas que não envolve diretamente, por um lado, o portador da letra, e, por outro lado, a pessoa
a quem o portador está a exigir o cumprimento.
• Saque: negócio que cria o título. Corresponde à ordem de pagamento dada pelo sacador ao sacado
para que pague uma determinada quantia em determinada data à ordem do sacador ou do tomador.
Com o saque, o sacador garante que o sacado aceita e que pagará (contém uma espécie de garantia
– art. 9.º, LULL).
• Aceite: negócio jurídico cambiário unilateral pelo qual o sacado aceita a ordem de pagamento que
lhe foi dirigida pelo sacador e promete pagar a letra no vencimento ao tomador ou à sua ordem
(art. 28.º, LULL). O sacado, antes de aceitar, não tem qualquer responsabilidade na letra (não está
obrigado a pagar ao tomador – apenas passa a ser obrigado cambiário a partir do aceite). O sacado
não é obrigado a aceitar a letra. O aceite pode ser parcial. No caso do cheque, não há aceite, não
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a. Literalidade: os títulos de crédito são sempre documentos escritos, pelo que das palavras e
algarismos escritos no documento resulta o direito neles incorporado. O conteúdo e extensão do
direito incorporado no título são aqueles que dele constarem escritos. Não podem ser contestados
com o auxílio de elementos estranhos ao título (ex: condições não previstas no título). Sempre que
é emitida uma letra em branco, tem que ter havido, prévia ou simultaneamente à emissão, um
acordo quanto ao critério do preenchimento. Porém, o preenchimento abusivo não é oponível ao
portador (art. 10.º, LULL). Ao demandado prejudicado restará demandar aquele com quem
convencionou o preenchimento.
b. Autonomia do direito cartular: o direito emergente e incorporado no título é autónomo em
relação ao direito não cambiário subjacente que lhe deu origem. Esta autonomia deve-se ao facto
de estes direitos terem devedores diferentes e prazos de prescrição distintos.
c. Autonomia da posição do portador do título: existe uma autonomia da titularidade do título em
relação a outros portadores anteriores que tenham sido desapossados (arts. 16.º, 17.º e 77.º, LULL
e arts. 21.º e 22.º, LUC). O detentor de uma letra é considerado portador legítimo se justificar o
seu direito por uma série ininterrupta de endossos, mesmo se o último for em branco. Assim, se
uma pessoa foi, por qualquer maneira, desapossada de uma letra, o portador dela, desde que
justifique o seu direito por uma série ininterrupta de endossos, não é obrigado a restituí-la, salvo
se a adquiriu de má fé ou se, adquirindo-a, cometeu uma falta grave.
d. Incorporação: o direito cambiário só existe na medida em que exista um título. Estabelece a
necessidade da presença do título para o exercício do direito cartular e para a sua própria circulação.
O portador da letra ou da livrança, para exercer o direito de crédito incorporado, deve apresentar a
letra ou a livrança ao obrigado. Também na transmissão e circulação é necessária a presença do
título.
e. Legitimação: a posse do título de acordo com a lei de circulação legitima o portador a exercer o
direito cartular (arts. 35.º, LUC e 40.º, n.º 3, LULL). O portador não precisa, assim, de provar a
titularidade e ela não lhe pode ser contestada. Do lado passivo, o devedor fica habilitado a cumprir
perante quem se apresentar portador de acordo com a lei de circulação. O obrigado, ao apresentar-
se-lhe alguém portador de acordo com a lei de circulação, não precisa de investigar a verdadeira
titularidade do credor e, ao cumprir perante esse portador, fica desonerado sem que lhe possa ser
oposta a eventual ilegitimidade da pessoa a quem pagou.
f. Circulabilidade: os títulos de crédito destinam-se a circular. Estes circulam de acordo com o
regime que a lei lhes atribui e que se designa usualmente por lei de circulação.
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Meios de defesa
Dada a virtude do direito cartular face aos direitos subjacentes, nas letras, livranças e cheques
não são, em princípio, invocáveis contra o portador que cobra o título as exceções fundadas nas
relações extracartulares, designadamente na relação subjacente (arts. 17.º, LULL e 22.º, LUC).
Contudo, existe uma exceção – segundo o art. 17.º, LULL, as pessoas acionadas em virtude de
uma letra não podem opor ao portador as exceções fundadas nas relações pessoais delas com o sacador
ou com os portadores anteriores, a menos que o portador, ao adquirir a letra, tenha procedido
conscientemente em detrimento do devedor (com dolo). É possível invocar exceções como meios de
defesa relativamente ao portador na medida em que se esteja perante relações imediatas, entre o
portador e o obrigado ao cumprimento. Ao portador que se apresenta a cobrar a letra podem ser opostas
exceções fundadas nas relações extracartulares vigentes com o obrigado e o próprio portador.
Se uma letra incompleta no momento de ser passada tiver sido completada contrariamente aos
acordos realizados, não pode a inobservância desses acordos ser motivo de oposição ao portador, salvo
se este tiver adquirido a letra de má fé ou, adquirindo-a, tenha cometido uma falta grave (art. 10.º,
LULL).
I.
Xavier, por sua vez, endossou a letra a Teodoro, que desconhecia as relações entre os outros
sujeitos cambiários, e que dois dias antes do vencimento a apresentou a pagamento.
Neste caso, a sociedade saca sobre Ulisses, a favor de Xavier, que endossa a Teodoro, uma
letra de 2500€, sendo que a sociedade só deve 1500€. Teodoro pode exigir a letra, desde que seja o
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legítimo portador, isto é, se justificar a sua posse numa série ininterrupta de endossos (art. 16.º, LULL),
o que se verifica. Na data de vencimento, tem de exigir a letra ao sacado para que aceite e pague, ou,
se já tiver aceite, para que pague. Assim, Teodoro pode exigir o pagamento a Ulisses. Se Ulisses não
pagar, Teodoro terá que fazer protesto em 4 dias úteis e, feito o protesto, pode exigir o pagamento a
qualquer obrigado cambiário, sendo a sua responsabilidade solidária. Assim, poderá exigir o
pagamento a Zénon ou a Xavier.
Havendo um erro no preenchimento da letra, isso não poderá ser invocado contra Teodoro.
Prevê o art. 17.º, LULL que as pessoas acionadas em virtude de uma letra não podem opor ao portador
as exceções fundadas sobre as relações pessoais delas com o sacador ou com os portadores anteriores,
a menos que o portador, ao adquirir a letra, tenha procedido conscientemente em detrimento do
devedor. Este meio de defesa não pode ser invocado contra Teodoro, uma vez que se trata de um meio
de defesa relativo a uma relação mediata e Teodoro não atuou em detrimento do devedor.
Se Ulisses não pagar, Teodoro terá que fazer protesto (ato formal comprovativo da recusa de
aceite ou de pagamento) em 2 dias úteis e, feito o protesto, pode exigir o pagamento a qualquer
obrigado cambiário, sendo a responsabilidade de todos solidária (arts. 43.º e 44.º, LULL). Assim,
poderá exigir o pagamento de Zénon e de Xavier.
Se Teodoro fez o protesto e vier a exigir o pagamento a Xavier, este deve pagar e exigir o título
de volta. Xavier também pode exigir a todos os que estão através dele na cadeia cambiária, isto é, a
Ulisses e à Sociedade, porque é deles credor (art. 47.º, LULL). Se Xavier pagar, pode exigir à
sociedade o pagamento. Contudo, se o fizer, a sociedade pode invocar a situação de erro, na medida
em que se está perante uma relação imediata.
II.
Como forma de satisfazer créditos e débitos recíprocos resultantes das suas sessões de poker,
Silva sacou uma letra sobre Rocha, que aceitou, à ordem de Queirós no valor de 2000€.
Queirós endossa posteriormente a letra a Paula, uma jovem de 21 anos com quem mantinha
uma relação extramatrimonial, perante a ameaça formulada por esta de contar o caso à sua mulher.
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Paula, por sua vez, endossa a letra a Olegário, dono de uma loja de pronto-a-vestir onde esta
tinha crédito e também ele parceiro ocasional daquelas sessões de poker. De quem pode Olegário
exigir o pagamento?
O portador só pode exigir o pagamento se for portador legítimo, justificando a sua posse numa
série ininterrupta de endossos. Sendo o portador legítimo, deve exigir o pagamento ao aceitante, que é
o Rocha e, se este não pagar, deve fazer um protesto no prazo de 2 dias úteis. A partir do protesto, o
portador pode exigir indistintamente todos os obrigados cambiários, que respondem solidariamente.
No âmbito das relações mediatas, em princípio, não são oponíveis as exceções causais, pelo que o
argumento da dívida ser uma dívida de jogo não é oponível a Olegário.
Se conhecia que a dívida era de jogo, questiona-se se estaria de boa-fé. Nesse caso, a boa-fé
intermédia de Paula sanaria a má fé de Olegário, pelo que não se pode dizer que Olegário, sendo um
portador mediato, seja um portador de má fé, porque Rocha sempre teria que pagar a letra a Paula.
Quanto a Paula, esta não poderá exigir o pagamento a Queirós. Estamos no âmbito das relações
imediatas, pelo que, sabendo que foi vítima de coação moral, Queirós poderia recusar o pagamento,
invocando esta exceção.
III.
Guilherme, com o aval de Hugo, aceita uma letra no valor de 5000€, sacada por Filomena
(a quem tinha encomendado tecidos nesse valor) à ordem de Elizabete. A letra é endossada por
Elizabete a Daniel, um carpinteiro que conhece bem os demais obrigados cambiários, e sabe (ao
contrário de Elizabete) que os tecidos comprados por Guilherme a Filomena nunca tinham sido
entregues.
a) Daniel quer saber de quem pode exigir o pagamento da letra, que se venceu há
precisamente uma semana.
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Daniel pode exigir o pagamento da letra se for o legítimo portador, justificando a sua posse
numa série ininterrupta de endossos. Na data de vencimento, deve exigir o pagamento ao aceitante.
Daniel apenas poderá exigir o pagamento aos outros obrigados cambiários depois de ter feito o protesto
nos 2 dias úteis seguintes à recusa de cumprimento. Tendo passado esse prazo, já não pode exigir o
pagamento aos restantes obrigados cambiários.
Quanto à exceção de não cumprimento, se estivéssemos no âmbito da relação causal, não teria
de pagar a dívida. No entanto, estando no âmbito das relações cambiarias, as exceções causais não são
oponíveis ao portador mediato de boa fé. Porém, Daniel tem conhecimento da existência da exceção
causal que poderia ser exigida por G, pelo que, como tal, questiona-se se será portador de má fé. Para
que haja má fé, não basta o mero conhecimento, é preciso que haja comportamento doloso no senido
de ser intencional para prejudicar o devedor.
IV.
Para garantia de pagamento de equipamentos que comprou, a Carlos, para a loja, António
aceitou uma letra de câmbio em branco sacada por aquele. Na letra não foram colocados o valor e
a data de vencimento, porque ficou acordado entre as partes que a mesma se venceria no prazo de
três meses depois da entrega de uns móveis e que o valor corresponderia ao montante global dos
fornecimentos efetuados por Carlos.
Entretanto, Carlos preencheu os elementos em falta e endossou a letra a Daniel que, por sua
vez, a endossou a Ernesto.
Diga quem, e em que termos, poderá exigir o pagamento da letra, sabendo-se que
ii) Por seu turno, Carlos, também se recusa a pagar a letra, invocando que é credor de
Ernesto de montante superior ao que consta da letra de câmbio.
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Carlos pode invocar a existência de créditos face a E para se eximir ao pagamento da letra, pois
está-se no âmbito de uma relação imediata.
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