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Objetivismo vs subjetivismo
Época medieval
O direito comercial surge fundamentalmente na idade média (sec. XII, XIII, XIV) em cidades italianas como
Florença, Génova, Milão. Surge da necessidade de um direito mais específico, diverso do direito comum.
Confunde-se com o surgimento de corporações mercantis medievais, de atos e ofícios diversos, que
disciplinavam o comércio ou a atividade, estabelecendo regras. Disciplinavam toda a atividade mercantil,
como um direito da classe, um direito criado dos comerciantes para os comerciantes. O direito comercial
começa assim por ter 2 características: ser especial e de classe. Alguns exemplos de direito especial passam
por haver uma maior importância da maior liberdade de forma no direito mercantil, a necessidade de o
crédito mercantil ter melhores garantias, estabelecer as figuras da agência ou comissário, criação das
sociedades em nome coletivo, criar sinais distintivos do comércio, o surgimento de seguros marítimos. Pela
mesma altura, estas corporações começam por ter os seus próprios tribunais (consulares) de modo a
aplicar o seu direito.
A visão subjetivista mostrava já alguns traços objetivistas como por exemplo, um clérigo ou nobre não
comerciante, se praticasse atos de comércio, poderia estar sujeito ao direito mercantil e não ao direito
comum ou eclesiástico.
Em Portugal, no fim da idade média, ainda não tínhamos direito mercantil, havendo meros disposições
muito sumárias aparentemente comerciais, como nas regras de criação das feiras ou regras sobre preços,
mas ainda muito arcaicas e mais com natureza administrativa do que propriamente comercial.
Época moderna e queda do subjetivismo
Com o surgimento da época moderna temos um fenómeno político relevante, com o peso do
intervencionismo do estado influenciado pelo absolutismo que reinava no velho continente, afastando os
mecanismo de autorregulação que caracterizava o direito comercial, feito pelos comerciantes para os
comerciantes e aplicado pelos mesmos, e com o crescimento do peso do lei sustentando o absolutismo,
levando a que o direito comercial se torne tendencionalmente objetivista, regulando os atos de comercio
independentemente da pessoa que pratica o ato. Surgiram as companhias comerciais, que deram origem
as sociedades anónimas atuais, com 2 características: não responsabilidade dos sócios e o capital dividido
em ações livremente transmissíveis.
Portugal mantinha-se bastante afastado desta realidade crescente, surgindo apenas as companhias
pombalinas e coloniais como merecedoras de menção relevante.
Revolução francesa e fim (formal) do direito comercial subjetivista
A próxima mudança significativa surge com a revolução francesa, trazendo consigo grandes princípios de
liberdade e igualdade, pondo formalmente fim ao direito comercial subjetivista. O primeiro código
comercial de 1807 é um código objetivista, ou seja, quem pratique um ato de comércio fica sujeito ao
direito comercial, seja comerciante ou não, não afastando a necessidade da existência de um estatuto de
comerciante nem de o classificar como tal. As corporações medievais acabam por ser abolidas, apesar de
mais tarde surgirem os “sindicatos”, não sendo mais do que corporações bem organizadas. Apesar de tudo,
e daí o fim do direito comercial subjetivista ser apenas formal, o código comercial alemão de 1897 é
substancialmente subjetivista.
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Direito Comercial da Empresa
O primeiro código comercial português de 1833, de ferreira Borges, é mais uma compilação de diplomas
mercantis do que um verdadeiro código. Logo de seguida surge o código de Veiga beirão de 1888; o art. 1º
deste refere que a lei comercial rege os atos de comércio de uma visão objetivista. Por outro lado, o art.
13º refere que comerciante é aquele que tem capacidade para praticar atos de comércio e faz dessa
atividade profissão, tratando subjetivamente e objetivamente a atividade comercial, não deixando assim
totalmente de lado a visão subjetivista.
O regresso ao direito subjetivista
O direito comercial nos nossos dias evoluiu para um direito subjetivista novamente. Quando olhamos para
o comércio assistimos a uma internacionalização e uniformização do comércio mundial, estabelecidos por
modelos de associações e organizações internacionais de comércio estabelecendo direito para os
comerciantes. Há todo um direito internacional, de usos e costumes, além de convenções internacionais e
modelos contratuais. Os grandes comerciantes, que fazem trocas entre diversos países, sujeitam-se aos
tribunais e direito internacionais. Estamos assim perante um direito subjetivista.
Direito Comercial
Alcance
O direito comercial não se cinge apenas ao comércio enquanto atividade económica (de comprar bens
para venda) mas cobre áreas como indústria, serviços (turismo, transporte, pesca) excluindo outros como
profissões liberais, artesanato, agricultura de autossubsistência (art. 230º CCom.).
Abrangendo todas estas atividades, estamos perante um direito dos atos de comércio, dos comerciantes e
fundamentalmente um direito à volta das empresas. Nem todas os empresários são comerciantes nem
vice-versa: há empresários na área jurídica que não são considerados comerciantes, visto que as profissões
liberais não entram neste campo; no mesmo sentido comerciantes com pequenas bancas não são
empresários. Apesar disto, o grosso do comércio é a volta das empresas.
O direito comercial é um direito privado especial, não sendo excecional ao direito civil. Há um regime geral
a todos os atos de comércio e algum especial dirigido a certos atos de comércio. Neste sentido, o art. 3º do
CCom. refere que questões sobre direitos e obrigações comerciais que não poderem ser resolvidas pela lei
comercial, espírito desta ou casos análogos, “serão decididos pela lei civil”, salientando que o direito civil é
comum ao direito comercial, complementando o regime especial do direito comercial no que este não
tutelar.
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Direito Comercial da Empresa
livros e a atividade profissional do declarante e, portanto, não se verifica o requisito e o ato é tido como
civil de forma legítima.
Solidariedade - relevância substantiva da qualificação de um ato como comercial
A e B são estudantes e venderam um relógio a 2 comerciantes (C e D) que têm uma livraria. Teríamos um
ato subjetivamente comercial neste caso do lado passivo.
Porém imaginemos que os 2 comerciantes compraram o relógio para oferecer a E, resultando isso do ato,
e os estudantes compraram o relógio para revender. O ato é objetivamente comercial do lado ativo, não
do lado passivo, sendo um ato unilateralmente comercial. Nos termos do art. 99º CCom. este ato sujeita-se
ao direito comercial, excluindo disposições que apenas se apliquem àqueles cujo ato é comercial.
Ora, segundo o art. 100º CCom., nas obrigações mercantis, os coobrigados são solidários - a disposição
pode ser afastada pelas partes. Neste caso, A e B poderiam demandar C ou D pela satisfação da obrigação.
Ora, esta disposição, aplica-se aos comerciantes em relação a quem o ato é comercial e aplica-se aos não
comerciantes em relação a quem o ato é comercial (se os devedores fossem A e B inversamente), e aplica-
se aos comerciantes mesmo que o ato não seja comercial.
Neste sentido, imaginemos então que A e B herdaram o relógio e de forma a dividir o valor venderam-no a
C e D para oferecerem à sua irmã. Neste caso, este ato é civil em relação às duas partes. Porém, se
levarmos o artigo 100º CCom à risca, a solidariedade, ou seja, as normas do direito comercial, aplicar-se-
iam aos comerciantes apesar do ato ser civil e não mercantil.
Desta forma, torna-se errado o art. 100 CCom., visto que valoriza a atividade do agente e não apenas o
ato, tendo de se fazer uma interpretação corretiva deste artigo: apesar de serem comerciantes o que
importa é a finalidade do ato, se não se destina a atividade mercantil o art. 100 CCom. não se aplica, mas
sim o artigo 99º CCom. e a conjunção nos termos do direito civil.
De atentar que o art. 100 CCom. tem natureza supletiva.
Devemos atentar a duas outras classificações dos atos:
Atos de substancialmente comerciais ou formalmente comerciais
Atos que por si próprios são comerciais (como por exemplo o art. 463º CCom.). Quando estamos perante
fiança, depósito, penhor, é civil ou comercial? Só serão comerciais se forem acessórios de um ato
comercial – a fiança que se destine a garantir uma obrigação mercantil derivada de um ato de comércio,
será uma fiança mercantil. Deste modo é comercial por acessoriedade.
Há, por outro lado, atos comerciais embora não tenham conexão com a matéria mercantil, nem as partes
são comerciantes. Por exemplo, atos como um estudante que tem um automóvel para uso próprio e vende
a outro estudante; estamos perante uma compra e venda civil, porém, se para a garantia do cumprimento
do crédito for utilizada uma letra sacada por outro estudante, estamos perante um negócio cambiário,
sendo um ato formalmente comercial e está submetido à legislação comercial.
Qualificação do ato como bilateralmente ou unilateralmente comercial
Um ato bilateralmente comercial é um ato comercial em relação a ambas partes do contrato, como por
exemplo, um concessionário vende o automóvel a outro comerciante que o irá usar no transporte de
mercadorias da sua empresa.
Porém, se um estudante compra o mesmo automóvel para uso próprio, a venda é mercantil, mas a
compra é civil, sendo o ato unilateralmente comercial. E qual é o regime jurídico a que o ato está
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Direito Comercial da Empresa
subordinado? Nos termos do art. 99 CCom., nestes casos aplica-se por regra o direito comercial. Mas será
para ambos os lados do ato?
Para responder a esta questão devemos analisar o art. 99º CCom. em 3 partes:
1ª parte: “Embora o ato seja mercantil só com relação a uma das partes será regulado pelas disposições
da lei comercial quanto a todos os contratantes”
2ª parte: “salvas as que só forem aplicáveis àqueles por cujo respeito o ato é mercantil”, significando que
só se aplica em relação aqueles a quem o ato é comercial, em relação a quem não é comercial não se
aplica o regime comercial, mas sim o civil
3ª parte: “ficando todos (…)” dá-se como não escrita.
Assim, podemos concluir pelo art. 99 CCom. refere que a lei comercial só se aplica aos quais o ato é
mercantil, ou seja, no caso acima apresentado o direito comercial aplicar-se-ia apenas ao vendedor de
carros e não ao estudante quer adquiriu o carro para uso próprio.
A classificação do ato como comercial ou não é relevante em relação a diversos tipos, para perceber o
direito que se aplica, comercial ou civil. Ao qualificarmos um ato como comercial em que difere o regime
jurídico?
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Direito Comercial da Empresa
2. A divida tenha sido contraída em proveito comum do casal
Basta qualquer tipo de proveito comum do casal, seja económico, moral, etc, conceito muito amplo. A
finalidade da contração daquela divida tenha sido para interesse de ambos. Nos termos do 1691º/d) CC,
tem o ónus de provar quer a divida não foi em interesse comum do casal é o cônjuge do comerciante, o
credor apenas tem de provar que há divida, que o devedor é comerciante e que este é casado. Tudo o
restante o cônjuge do comerciante é que tem o ónus da prova.
3. Vigore um dos regimes de comunhão de bens
Regime de comunhão de bens ou de comunhão de adquiridos.
4. Que a divida tenha sido contraída durante a atividade do comerciante
Que a divida esteja conexionada com o exercício do comercio do comerciante. imaginemos que um
comerciante de arte contrai divida num hotel. Nada tem a ver com a atividade do comerciante, portanto
não há transmissibilidade da divida. O art. 15º do CCom. estabelece a presunção de que as dividas do
cônjuge comerciante são contraídas no exercício do comércio, tendo de ser o cônjuge do comerciante a
provar que a divida contraída pelo comerciante nada tem a ver com a sua atividade mercantil.
Esta norma cria uma relação de privilégio do credor face ao comerciante, pois à partida caber-lhe-ia (ao
credor) a prova dos elementos constitutivos que lhe permitiriam usufruir desta prorrogativa mas, porém,
cria-lhe uma situação mais facilitada porque, em primeiro lugar, refere “salvo se se provar que a divida não
foi contraída em proveito do casal” (art. 1691º CC), tendo o propósito de presumir que há um proveito
comum, deixando o ónus da prova de que não houve proveito comum para o cônjuge – inversão do ónus
da prova através duma presunção legal. O benefício da comunicabilidade ficaria apenas dependente da
prova de que a dívida foi contraída no exercício do comércio do devedor, mas nem isso acontece pois dá-se
novamente a inversão do ónus da prova através de nova presunção relativa, ficando a cargo do cônjuge do
comerciante ser ilidida - art. 15 CCom.. Apesar disto, não dispensa o credor de provar que o devedor é
comerciante e que a divida é comercial, sendo substancialmente mais fácil pois basta que o facto caiba no
art. 13º CCom.. Para afastar a comunicabilidade o cônjuge do comerciante deve ilidir uma destas
presunções – ou do art. 15º CCom. ou provar que não foi realizada no proveito comum do casal.
Caso estes pressupostos se encontrem preenchidos dá-se a comunicabilidade da dívida, respondendo pela
mesma os bens identificados no artigo 1695º CC, ou seja, em primeira linha os bens comuns do casal e na
insuficiência destes, solidariamente, os bens próprios de qualquer dos cônjuges. Deste modo, podem, em
última instância, os bens próprios do cônjuge do comerciante contribuírem para a liquidação da dívida,
alguém que não contraiu a dívida.
Caso a comunicabilidade não opere, os bens que respondem pela divida são os previstos no art. 1696º CC
respondendo primariamente os bens próprios e subsidariamente os bens comuns do casal.
Empresas comerciais
Além do artigo 2º para classificação do ato como comercial, o art. 230º CCom. é também importante para
se perceber quando se aplica o direito comercial. Trata especificamente das empresas como comerciais e
pode ser analisado em 3 partes:
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Direito Comercial da Empresa
enunciativo e não taxativo. Além disso, é um auxiliar como classificação dos atos como comerciais visto
estabelecer as atividades das empresas e de quem as pratica como tal.
A enunciação deve muitas vezes sofrer uma interpretação extensiva como, por exemplo, no 2º
ponto (fornecer géneros) estende-se aos casos da água, gás, etc. No ponto 6º deve-se estender a
estradas, aeroportos, etc. O parágrafo 7º deve-se alargar ao transporte aéreo.
Os últimos 3 parágrafos classificam como não comerciais certo tipo de atividades como agricultura
de subsistência, artesanato e profissões liberais.
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Direito Comercial da Empresa
Decreto lei 62/2013 de 10 de maio, relativo a atrasos no pagamento de transações comerciais
O DL 62/2013, de 10 de maio, transpôs a diretiva 7/2011 da UE, que vem uniformizar certos prazos de
pagamento e taxas de juro moratórias. Ao contrário do que era usual em Portugal, esta diretiva estabelece
como regra geral 30 dias para pagamentos de remunerações de transações comerciais – art. 4º e 5º. Além
disso vem uniformizar alguns conceitos que no nosso país eram definidos de forma distinta.
O art. 3º deste decreto refere o que é uma transação comercial, um pouco distinto daquilo que é o
entendimento do nosso país (1248º CC), tal como aquilo que é uma empresa (com esta diretiva inclui-se as
profissões liberais como empresas, ao contrário do espírito do 230º CCom.). Excluem-se vários atos no art.
2º da aplicação deste diploma.
Em termos de mora no pagamento de transações comerciais, o art. 805º do CC considera que quando haja
mora o devedor este só fica constituído em mora quando interpelado para cumprir. Por outro lado, o art.
806º nº 1 CC, considera que quando estamos perante mora, os juros moratórios correspondentes
perfazem a indemnização, não havendo, em regra, espaço a qualquer outra compensação (salvo se se
tratar de responsabilidade por facto ilícito ou risco). O DL 62/2013 de 20 de maio, afasta-se destas regras
estabelecendo um regime legal em que não é necessária interpelação para constituir o devedor em mora –
art. 4º nº2 - e prevê uma indemnização complementar mínima de 40 euros por indemnização de custos de
cobrança de dívida, sem prejuízo de indemnização superior caso prove que suportou custos que superaram
este valor, desviando-se do art. 806º nº 3 CC.
Quanto ao vencimento automático dos juros aquando do término do prazo de pagamento, a regra, nos
termos do art. 4º nº 3 /a), estabelece que o pagamento deve ser efetuado em 30 dias a contar da data que
o devedor recebeu a fatura, não sendo necessário interpelação para caso ultrapassado esse prazo,
começar automaticamente a contar juros. Apesar disto é possível fixar outros prazos, nos termos do art. 8º
nº1/b), não sendo excessivos face ao caso concreto, sob consequência de nulidade dessa cláusula (e
apicação subjetiva do art. 4º).
São comerciantes em primeiro lugar, aqueles que têm capacidade para praticar comércio e fazem disso
profissão. Por vezes, referimo-nos à figura do empresário em nome individual confundindo com o
comerciante em nome individual. A capacidade dos comerciantes, nos termos do art. 7º CCom., é
basicamente a capacidade de exercício de direitos nos termos do código civil.
Afastamos da definição de comerciante os atos ocasionais: aquele que pratica atos apenas formalmente
comerciais, como é o caso do saque de letra, não é considerado comerciante. Para tal, pressupõe-se que a
pessoa singular exerça com carater habitual e sistemático atos de comercio, tanto subjetivamente como
objetivamente e em nome próprio, ainda que por representantes.
A atividade comercial deve ser exclusiva? Não, o comerciante pode mesmo ter outras atividades e pode
mesmo o comércio nem ser a sua atividade principal, mas deve praticá-lo de forma sistemática. Além
disso, o comerciante não necessita de ter uma empresa, apesar de o comerciante normalmente explorar
uma empresa, temos muitos comerciantes que não são empresários – pequeno comerciante que compra
objetos para vender.
O artigo refere também as sociedades comerciais como comerciantes. Existem outras pessoas coletivas
que são comerciantes: entidades públicas empresariais, agrupamentos complementares de empresas,
agrupamentos europeus de interesses económicos, as cooperativas, etc.
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Direito Comercial da Empresa
Quem não pode ser comerciante?
Há sujeitos que a lei afasta da qualificação como comerciante: os agricultores, os praticantes de
artesanato, os profissionais liberais. Neste sentido, o art. 17º CCom. exclui também o estado, autarquias
locais e freguesias; estes podem praticar atos de comércio, e quanto a esses ficar sujeitos ao direito
comercial, sem serem comerciantes. Esta situação aplica-se igualmente a instituições de beneficência e
caridade devido à sua característica altruísta.
Há pessoas coletivas que, por outro lado, estão proibidas de praticar atos de comércio – art. 14º CCom.
Neste incluem-se as “associações ou corporações sem interesses materiais e outros que por lei não possam
comerciar”. As associações ou corporações incluem associações sem fins lucrativos. Estes praticam
pequenos atos de comércio desde que o façam acessoriamente sem colocar o fim altruístico em causa, que
deve ser a atividade principal, sendo fundamento de nulidade da associação; um exemplo desta situação
são as associações desportivas que têm um pequeno bar para apoiar nos custos desportivos.
Estabelecimento comercial
O estabelecimento comercial é usado como unidade técnica enquanto a empresa representa o conjunto
dos diversos elementos que compõe a atividade comercial (aulas práticas).
O estabelecimento comercial enquanto objeto de negócio
O estabelecimento comercial é uma organização de diversos fatores produtivos organizados; se não existir
essa organização não existe estabelecimento comercial. Esses fatores isoladamente não têm o mesmo
valor que têm devidamente organizados. O conjunto de fatores constitui uma unidade económica e além
disso jurídica (pelo direito), sendo possível vender o estabelecimento comercial como um todo.
E que coisa é esta? O art. 204º CC, sendo taxativo quanto ao que é uma coisa imóvel, não refere o
estabelecimento comercial. Porém, o art. 205º CC diz que são moveis o que não estiver no art. 204º CC,
sendo o estabelecimento comercial uma coisa móvel, neste sentido. Porém, deve ser tratado como uma
coisa movel anómala, ao qual por vezes podemos ter de aplicar o regime dos imóveis, no sentido da
jurisprudência.
NOTA: Quando o estabelecimento comercial é objeto de locação a lei nunca refere aluguer ou
arrendamento, pois abstém-se de qualificar, tratando como locação e antes em cessão da exploração do
estabelecimento comercial.
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Direito Comercial da Empresa
irá continuar e não podemos culpar o vendedor por causa de ela ser menor. Terá sim responsabilidade se
vender o estabelecimento comercial e após isso abrir novo estabelecimento perto do vendido e a clientela
muda para esse. E por isso a clientela é um elemento relevante, mas não essencial. É um elemento natural,
como veremos a seguir.
Elementos naturais
São todos os elementos do estabelecimento comercial que se nada mais se disser transmitem-se para o
adquirente com a transmissão do estabelecimento comercial.
Elementos mínimos
Na transmissão há um conjunto de elementos mínimo que tem de se transmitir para o transmissário para
ser a transmissão do estabelecimento comercial (art. 1112º CC). Se um conjunto de regras excecionais não
se aplicarem pode ocorrer a simulação de negócio jurídico.
Elementos de âmbito máximo
Aqueles cuja transmissão depende de previsão expressa.
Aviamento
Não é elemento do estabelecimento. É a capacidade de a exploração do estabelecimento gerar lucros.
Essa qualidade do estabelecimento deriva da gestão do próprio estabelecimento comercial, do
transmissário.
Estabelecimento comercial e o imóvel onde o mesmo se fixa
Não se pode confundir o estabelecimento comercial com o imóvel. Há estabelecimentos comerciais que
não precisam de imóveis – bar instalado num iate por exemplo. Ou até muitos que não necessitam de
imóveis sequer visto que podem ser somente virtuais. Não só podem incidir sobre o imóvel e o
estabelecimento direitos de natureza diferente – o dono do imóvel não ser o dono do estabelecimento
comercial e o dono do estabelecimento ter um direito sobre o imóvel, obrigacional ou real, como o
arrendamento por exemplo – como são na verdade direitos de natureza diferente: o dono do imóvel pode
ter um direito de natureza real e o dono do estabelecimento comercial um direito obrigacional com o
imóvel como objeto. Imaginemos que A tem um imóvel onde tem um estabelecimento comercial também
seu. A pode querer vender o seu estabelecimento, mas uma das condições ser ele ser transportado para
outro local.
Pode haver certos casos excecionais em que aquele estabelecimento não faria sentido noutro imóvel,
como a livraria Lello por exemplo, visto que os elementos do imóvel são intimamente relacionados com o
estabelecimento comercial.
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Direito Comercial da Empresa
Está sujeito a forma escrita (documento particular) nos termos do art. 1069º nº 1 CC, na forma de
documento particular, sendo nulo nos termos do art. 220º CC, caso contrário. Apesar da nulidade, o artigo
1069º nº 2 CC tutela a posição do arrendatário tendo este meios para provar a existência do contrato de
modo a não ser afetado pelas consequências da nulidade: demonstrando a utilização sem oposição do
senhorio e o pagamento da renda pelo período de 6 meses.
Se o arrendamento tiver duração superior a 6 anos está sujeito a registo nos termos do art. 5º nº 5 do
CRPr..
Conteúdo do contrato de arrendamento
O art. 1070º nº 2 CC – DL 160/2006 veio consagrar um conjunto de elementos a constar no contrato de
arrendamento:
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Direito Comercial da Empresa
Legitimidade para receber e pagar renda
O senhorio é que tem legitimidade para receber a renda ou aquele que o mesmo indicar (representante,
art. 239º CC). Se o senhorio alienar o imóvel, para um novo adquirente, o senhorio deve comunicá-lo ao
arrendatário e após a comunicação o arrendatário deve pagar ao novo senhorio, mas somente após a
comunicação.
Para pagar a renda, tem legitimidade o arrendatário, aquele que esse indicar ou qualquer terceiro– art.
767º CC
Lugar do pagamento
Em regra, o pagamento deveria ser efetuado o domicílio do credor, neste caso do senhorio – art. 774º CC.
Porém, o art. 1039º nº 1 desvia-se da regra geral e diz que deve ser efetuado no domicílio do locatário. O
contrato de arrendamento normalmente desvia-se desta norma por convenção. O nº 2 deste artigo refere
que se o lugar do pagamento da renda é o domicílio do locatário, e caso a renda não tiver sido paga,
presume-se mora do credor.
Autonomia da renda
Cada uma das rendas é autónoma em relação às outras. Imagine-se que o arrendatário não paga a renda.
Durante quanto tempo pode vir o senhorio exigir o cumprimento da obrigação não paga? Imaginemos que
o arrendatário não paga o mês de dezembro ficando em mora? Tem 5 anos a partir desse mês – art.
310º/d) CC. Se surgir outra situação de mora passado 1 ano, contam os 5 a partir desse momento. A
autonomia da renda prende-se com a caducidade do direito de execução. Conta-se autonomamente face a
cada uma das rendas.
Duração do contrato – art. 1110º nº 1 CC
Resulta deste artigo que as partes podem estabelecer a duração do contrato. Supletivamente aplicam-se
as regras do arrendamento.
O contrato pode ser de prazo certo ou sem prazo determinado – art. 1094º CC. Se nada for dito quanto à
duração do contrato, o art. 1110º CC nº 2 estabelece que este se dá como estabelecido com prazo certo,
pelo período de 5 anos. O nº 3 deste artigo refere que se nada for dito o contrato renova-se
automaticamente por período igual à sua duração ou por 5 anos se o prazo for inferior a este, excetuando
nos casos de habitação permanente ou para fins especiais transitórios (art. 1096º nº 2 CC).
O nº 4 deste artigo, estabelece que o senhorio não se pode opor à renovação até que o contrato tenha a
w2duração de pelo menos 5 anos excetuando no caso de um contrato pelo período de 1 ano, por exemplo,
que fixa o seu término no fim desse, caso contrário terá de esperar 5 anos. Pode, deste modo, fixar-se um
período mínimo e expressamente estar afastada a renovação – caducidade automática sem renovação.
Levantam-se 2 problemas: se há prazos diminutos, pode-se instalar por exemplo um restaurante pelo
período de 1 mês sem renovação, tendo em conta o dispêndio? Tem de haver o tempo suficiente para o
arrendatário instalar o seu negócio, analisando-se casuisticamente, de modo a proteger os interesses
mercantis do locatário.
O prazo máximo é de 30 anos, podendo ser renovado.
Contratos de duração indeterminada
Tem de estar expresso no contrato que ele é de duração indeterminada. Tem algumas normas especiais,
nos termos dos arts. 1099º e ss. Que analisaremos mais à frente
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Direito Comercial da Empresa
Extinção do contrato de arrendamento mercantil
Extinção por mútuo acordo – art. 1082º CC
As partes podem a todo o tempo revogar o contrato por acordo. Se o contrato contiver certas
particularidades, a extinção terá de ser feita por escrito – nº 2. Se foi celebrado acordo de revogação do
contrato de arrendamento, mas o arrendatário mantém-se no local, com base no contrato de
arrendamento e no acordo, pode dar-se início a procedimento especial de despejo – art. 15º do novo
regime de arrendamento urbano.
Incumprimento das obrigações do arrendatário – art. 1083º CC
O nº 2 do artigo 1083º CC, refere que o comportamento que torne, pelas suas circunstâncias e gravidade,
inexigível a manutenção do contrato de arrendamento, tipificando a lei 5 casos.
Falta de pagamento da renda
Como referido, nos termos do art. 1075º nº 2 do CC, o momento do vencimento da renda é o dia 1 do mês
anterior a que o mês respeita. Desde que dia 1 seja dia útil, não pagando o devedor entra em mora - art.
279º CC.
Se o arrendatário entrar em mora, o art. 1041º CC atribui tem 8 dias (1 semana) para cessar a sua mora
sem que ela se torne relevante. Deste modo: a renda relativa ao mês de dezembro vence-se no dia 1 de
novembro. Dia 1 de novembro é feriado então a renda vence-se no dia 2 de novembro. O arrendatário não
pagou dia 2, e não acontece nada se não pagar até dia 9 de novembro. A partir deste momento o
arrendatário entra em mora, e pode o arrendatário exigir a prestação em atraso acrescido de
indemnização de 20% do valor da renda; caso o senhorio pretenda a renda em mora e resolver o contrato,
não tem direito a indemnização. Se o arrendatário não pagar a renda em atraso nem pagar a indemnização
o senhorio, com base no contrato e com a notificação da mora, nos termos do art. 15º A do novo regime
do arrendamento urbano, pode iniciar ação executiva para pagamento de quantia certa. Pretendendo
resolver contrato o senhorio tem 2 vias possíveis:
Via extrajudicial – art. 1083º nº 3 CC: só é possível em alguns casos. O senhorio aguarda 3 meses a contar
da mora relevante. Basta que os 3 meses se contem de cada renda em mora para passado esse período o
senhorio, nos termos do 1084º nº 2 CC, notificar o arrendatário nos termos do art. 9º nº 7 alíneas a), b) ou
c) no novo regime do arrendamento urbano, sobre a sua pretensão de resolver o contrato. A notificação
deve claramente expressar a causa (o incumprimento) e que pretende cessar o contrato. Porém, nos
termos do art. 1084º nº 3 CC, a resolução fica sem efeito se o arrendatário puser fim à mora no prazo de 1
mês a contar da notificação de resolução do contrato, pagando a renda em atraso mais os 20% de
indemnização. Se após a notificação e este mês o arrendatário não pagar a renda mais indemnização, o
contrato está resolvido; caso o arrendatário não abandone o estabelecimento, o senhorio pode iniciar um
processo especial de despejo nos termos do art. 15º do novo regime do arrendamento urbano. O art.
1084º nº 4 refere que esta faculdade do nº 3 só pode ser utilizada uma única vez em cada contrato.
Via judicial – art. 1048º CC: interpor ação declarativa de despejo. O arrendatário pode por termo a esta
desde que, até ao fim do prazo para a contestação, pague as rendas em atraso e a respetiva indemnização,
só podendo utilizar esta faculdade 1 vez em cada contrato.
O art. 1083º nº 4 CC estabelece que o arrendatário que entre em mora relevante pelo menos 5 vezes no
período de 12 meses, permite que o senhorio resolva o contrato. Porem, no nº 6 do mesmo artigo,
consagra-se que nesta situação o senhorio apenas pode resolver o contrato se ao 3º atraso no pagamento
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Direito Comercial da Empresa
da renda avisar o arrendatário por carta registada que caso se atrase mais duas vezes tem o direito a
resolver o contrato e que é essa a sua intenção.
A alínea c) do nº 2 do mesmo artigo refere o uso do prédio para fim diverso do que o
mesmo se destina.
Não se inclui um contrato de arrendamento que refira que o prédio se destina a qualquer arrendamento
mercantil, dificilmente havendo incumprimento. Se o arrendatário utilizar para o fim diverso do que está
previsto no contrato o senhorio pode resolver o mesmo. Porém imaginemos que, num arrendamento
previsto para restauração, a certa altura o arrendatário coloca algumas obras de arte à venda; se for algo
acessório, temporário, pelo princípio da boa-fé deve-se permitir; porém se tiver carater sistemático e
constante não é permitido. Tem havido jurisprudência que considera que, no caso de uma loja de arte que
produz as molduras para as suas obras, ao fazê-lo respeita o contrato, porém, além disso, não estando
previsto no contrato, repara molduras de outras obras de arte, a jurisprudência entende que pequenas
reparações sejam possíveis desde que sejam somente complementares da atividade principal, analisando
caso a caso segundo o princípio da boa-fé.
Outra causas de resolução do contrato de arrendamento:
reporta-se à alínea d): não uso do locado pelo prazo de 1 ano, exceto casos de força maior. Não é
relevante que mostre atividade algumas vezes para interromper esta causa.
É também fundamento de resolução do contrato, nos termos do artigo 1043º CC, a realização de
obras ilícitas.
Caducidade do direito de resolução do contrato – art. 1085º CC
A resolução deve ser efetuada dentro do prazo de 1 ano a contar da verificação da causa de resolução do
contrato.
Além disso, o prazo é reduzido para 3 meses quando o fundamento de resolução é a mora no pagamento
da renda ou falta desse – nº 3 e 4 do art. 1084º CC. São 3 meses a contar do momento em que se verificou
a causa de resolução do contrato.
Quando se trate de caso duradouro ou continuado (como uso para fim diverso) tem 1 ano da cessação
desse para resolver o contrato.
A resolução pode cumular-se com outras causas como a denuncia, oposição à renovação, etc.
Caso seja resolvido o contrato de arrendamento
O art. 1087º nº 1 refere que uma vez resolvido o contrato o arrendatário tem 1 mês para abandonar o
estabelecimento comercial, caso contrário o senhorio pode iniciar um procedimento especial de despejo
nos termos do art. 15º do NRAU.
Denúncia do contrato de arrendamento
Consiste na comunicação escrita da vontade de fazer cessar o contrato de arrendamento.
Denuncia pelo inquilino em contrato de arrendamento de prazo certo
O artigo 1110º do CC refere que as regras da denúncia são livremente definidas pelas partes. Quando
assim não fizerem, o regime supletivo está no arrendamento para a habitação – artigo 1098º nº 3 CC.
Decorrido 1/3 do prazo de duração inicial do contrato o arrendatário pode renunciar a todo o tempo com
pré-aviso nas datas estabelecidas. Se tiver a duração de 6 anos só pode o pode fazer após 2 anos
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Direito Comercial da Empresa
decorridos e aí tem de dar pré-aviso de 120 dias - alínea a) do nº 3 do artigo 1098º CC. Nos termos do
artigo 1098º nº 6 a inobservância destes prazos obriga ao pagamento das rendas relativas aos prazos não
cumpridos, com algumas exceções.
A denuncia do contrato produz efeitos no fim do mês do calendário gregoriano – artigo 1098º nº 5 CC.
O artigo 1098º nº 3 refere que deve passar 1/3 do período do contrato e dar pré-aviso de 120 dias; o
problema levanta-se quando o nº 2 do artigo 1110º CC, por remissão do nº 1 do mesmo artigo, que o
arrendatário não pode denunciar o contrato no primeiro ano. Estes 12 meses conjugam-se com 1/3 de
duração do contrato mais 120 dias? Seriam 2 anos para cumprir 1/3 mais 1 ano do artigo 1110º CC. A
leitura feita é de que a norma do 1110º CC deve-se aplicar este artigo e não o artigo 1098º nº 3 CC por a
primeira ser especial.
Caso as partes estabeleçam regras quanto a denuncia: imaginemos que se celebra contrato por 5 anos e a
denuncia pode ser feita com pré-aviso de 4 anos; a liberdade contratual não pode ir até este ponto, visto
que este prazo é demasiado longo, contrariando as regras de boa-fé contratual, esgotando praticamente o
direito de denuncia do contrato. Pode ser um período curto e não demasiado longo, caso contrário apenas
tutelaria os direitos do senhorio.
Denuncia pelo senhorio em contrato de arrendamento com prazo certo
Não é possível o senhorio recorrer a esta hipótese. Pode opor-se à renovação, mas não denunciar. E
apenas um direito do arrendatário.
Denúncia pelo arrendatário de contrato de duração indeterminada
No artigo 1110º CC atribui-se liberdade às partes de fixarem regras da denuncia e se nada disserem
remete para o regime supletivo do artigo 1100º CC. Após 6 meses de duração efetiva do contrato o
arrendatário pode denunciar o contrato com pré-aviso nas datas estabelecidas.
As partes podem fixar um prazo para a denúncia pelo arrendatário nestes casos. Não poderá ser,
novamente, prazo excessivamente longo.
Denuncia pelo senhorio de contrato de duração indeterminada
Neste caso pode recorrer à denuncia, ao contrário do referido no contrato de arrendamento com duração
certa. O regime supletivo legal é o art. 1101º CC, podendo denunciar o contrato mediante pré-aviso de 5
anos ou quando forem necessárias obras profundas – art. 1110º A nº 2 CC. Obriga igualmente o senhorio a
indemnizar o arrendatário pelos prejuízos que venha a ter pela cessação do contrato de arrendamento e os
funcionários desse estabelecimento. A última parte da norma deixa sérias dúvidas sobre a sua
constitucionalidade. Quando ao arrendatário a indemnização deixa de ser necessária caso o
estabelecimento comercial seja trespassado nos 3 anos anteriores.
As partes podem estabelecer outros prazos. Imagine-se que se estabelece um prazo de denuncia pelo
senhorio de 15 dias de antecedência; este prazo é excessivamente curto, visto que é necessário que se dê
tempo do arrendatário se instalar sequer, sendo demasiado curto pelos tramites da boa-fé.
Oposição à renovação do contrato de arrendamento
Apenas faz sentido nos contratos de arrendamento com prazo certo, visto que nos contratos de prazo
indeterminado não há necessidade de renovação.
Nada sendo estabelecido entre as partes sobre os prazos de pré-aviso, o art. 1110º nº 1 CC estabelece que
se aplica o art. 1098º nº 1 CC: o arrendatário pode impedir a renovação automática do contrato
16
Direito Comercial da Empresa
comunicando nos prazos estabelecidos no artigo (60 ou 120 dias); estes prazos podem ser outros se assim
for convencionado, vigorando igualmente o princípio de boa-fé; já o senhorio, nada sendo convencionado
entre as partes, aplica-se o art. 1097º CC por remissão do art. 1110º nº 1 CC.
Extinção do contrato de arrendamento por caducidade
1. O contrato caduca sem que o locador tenha de indemnizar o locatário – artigo 790º CC.
2. Expropriação por utilidade pública: o contrato de arrendamento caduca, salvo se for possível manter o
arrendatário, sendo que a entidade expropriante terá de indemnizar o locatário.
3. Morte do arrendatário - art. 1113º CC. Não caduca por morte do arrendatário, porém podem os
sucessores renunciar à transmissão. O art. 1107º CC refere a comunicabilidade do arrendatário em caso de
morte – esta regra é diferente do art. 1113º CC.
Trespasse
Introdução
O objeto do contrato de arrendamento é o imóvel onde é instalado o estabelecimento comercial. Neste
ponto analisamos a negociação do estabelecimento comercial. O dono do estabelecimento comercial não
é o proprietário do imóvel, e normalmente entre estes há um contrato de arrendamento de imóvel.
Em primeiro lugar temos de olhar para o estabelecimento comercial como objeto de negócio jurídico,
como coisa, que pode ser objeto de constituição de direitos. E que coisa é esta? Não é uma coisa imóvel,
visto que não está presente na enumeração do art. 204º CC. É uma coisa móvel, porém anómala (sui
generis), visto que nem sempre se vai aplicar o regime das coisas móveis ao estabelecimento comercial. O
estabelecimento comercial é, deste modo, uma coisa composta funcional, que está devidamente
organizada com os seus fatores produtivos - o direito considera como unidade técnica composta por
unidades económicas. É uma coisa imaterial enraizada em coisas materiais.
Existe sobre esta coisa um direito de propriedade sobre o estabelecimento comercial como um todo. O
dono do estabelecimento comercial é proprietário daquela coisa, mas não significa que seja proprietário
de todas as coisas que fazem parte do estabelecimento comercial. Imaginemos alguém que tem um
restaurante, e algumas das maquinas de maior valor estão em regime de locação financeira; quando o
proprietário do estabelecimento comercial vender (ou mesmo alienar doutro modo) o mesmo, ele irá
vender a propriedade do estabelecimento comercial, o que inclui mesmo as coisas que ele não é
proprietário; quando há uma transmissão de direito de propriedade, o que acontece aos contratos de
trabalho, locação financeira, contratos de compra e venda a prestações com reserva de propriedade,
dívidas, créditos, contratos de prestação de serviços, e todos os contratos conexionados com o
estabelecimento comercial e realizados pelo proprietário do mesmo quando e transmite o direito de
propriedade, sobre a coisa composta do estabelecimento comercial?
Havendo direito de propriedade há também direito de sequela podendo o proprietário reivindicar o todo
do estabelecimento comercial nos termos do art. 1311º CC, mesmo sobre as coisas que ele não é
proprietário.
Pode o estabelecimento comercial ser objeto de posse? Tem sido admitido a posse de coisas incorpóreas.
O proprietário do estabelecimento comercial é assim possuidor, podendo utilizar os meios de
defesa/tutela da posse – ação de prevenção, legitima defesa, ação de restituição da posse se for perdida,
embargo de terceiro, etc. Também o locatário do estabelecimento comercial (e não do imóvel) pode
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Direito Comercial da Empresa
recorrer aos instrumentos de tutela da posse, apesar de ser mero detentor. Se é possível a posse também
é possível a usucapião, sendo o prazo relativo a este o dos imóveis.
O que é o trespasse?
Não há um regime específico do trespasse de estabelecimento comercial, havendo multiplicidade de
normas aplicáveis. Apesar de não haver uma definição especifica, o trespasse implica transmissão
definitiva do estabelecimento comercial, do direito de propriedade sobre o estabelecimento comercial,
entre vivos, e é uma transmissão que pode ser onerosa ou gratuita.
O trespasse é um negócio que versa sobre estabelecimento comercial que existe (coisa presente). Apesar
disso não tem de estar a funcionar, ou pode até mesmo nunca ter funcionado, ou estar interrompida a
atividade.
O trespasse não tem de envolver todos os elementos do estabelecimento comercial, podemos por
exemplo manter a marca para utilizações futuras. Podemos ficar com um dos contratos de trabalho, não
deixando por isso de ser um trespasse. Se forem excluídos muitos dos elementos não será um trespasse,
estamos apenas a alienar o imóvel, visto que o objeto do trespasse deve ser o estabelecimento comercial.
O trespasse é uma transmissão a título singular, versando apenas sobre o estabelecimento comercial,
aquela unidade técnica; não é uma transmissão a título universal, por isso a transmissão de mortis causa
não é um trespasse, pois nesse transmite-se o património de modo universal. Também não o são a fusão e
cisão de sociedade comercial, que constituem uma transmissão a título universal visto que se junta ou
transmite-se o património completo da sociedade.
Por fim este contrato envolve muitos negócios jurídicos, não somente a compra e venda: pode incluir
troca, entrada em sociedade, dação em cumprimento, doação.
Quando não há trespasse?
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Direito Comercial da Empresa
Transmissão do estabelecimento comercial
Relativamente a transmissões contratuais, o regime regra do CC exige:
A tem contrato celebrado com B que implica prestações recíprocas. Pretende transmitir a sua posição
contratual a C, a lei exige que consentimento de B– art. 424º CC. Existem, porém, alguns desvios a regra
geral do art. 424º CC:
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Direito Comercial da Empresa
É necessário que haja um trespasse, apesar de se prescindir do consentimento do senhorio. Concede a lei
alguns indícios de que pode não haver trespasse:
O art. 1112º nº 2 CC refere que não há trespasse quando não seja acompanhado de um conteúdo
mínimo de elementos que demonstrem que há trespasse de estabelecimento comercial. Não se
exige que passe todo o estabelecimento podendo o trespassante manter certos elementos. A
alínea b) refere que também não haverá trespasse quando há uma mudança do tipo de atividade,
visto que o trespassário pretendia era o gozo do prédio sem necessidade da autorização do
senhorio; isto consiste num negócio simulado sendo nulo e podendo resolver o contrato de
arrendamento – art. 1083º nº 2/e) CC.
Havendo trespasse, há uma transmissão da posição contratual do arrendatário sem necessidade de
consentimento do senhorio – art. 1112 º nº1/a) CC. Implica que o trespassário se subjugue à posição
jurídica do arrendatário. Se nada constar, faz parte do âmbito natural da entrega.
A norma do art. 1112º do CC é uma norma imperativa, não podendo as partes afastar a mesma, sendo
nula se as partes convencionarem em contrato, nos termos do art. 224º do CC. Apesar deste regime,
desviando-se do art. 424º do CC, é necessário: que obedeça a forma legal – documento escrito particular
no mínimo, dependendo dos elementos que componham o trespasse, art. 1112º do CC – e a não
observância implica nulidade do contrato – art. 220º CC. Caso se verifique a nulidade este produz efeitos
na relação jurídica no contrato de arrendamento, isto é, a invalidade por nulidade por vicio de forma
implicará que o senhorio possa resolver o contrato de arrendamento – art. 1083º nº 2/e) CC.
Comunicação do trespasse
É necessário, alem de tudo já referido, que realizado o trespasse haja comunicação ao senhorio – art.
1112º nº 3 CC – de modo a exercer o direito de preferência, e verificar posteriormente se o que lhe foi
comunicado tem na realidade o mesmo conteúdo e elementos essenciais, além de permitir conhecer o
novo arrendatário. A comunicação pode ser feita pelo trespassante ou trespassário, apesar de quem na
verdade tem obrigação de comunicabilidade em princípio é o trespassante – arts. 1038º/g) e 1049º CC. A
comunicação deve ser feita através de carta registada com aviso de receção. O prazo para a comunicação
pode ter várias respostas possíveis
Âmbito máximo: o que não passa para o trespassário se não for acordado no contrato
Âmbito natural: aquilo que se nada for dito passa para o trespassário
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Direito Comercial da Empresa
Âmbito mínimo: Na transmissão há um conjunto de elementos mínimo que tem de se transmitir
para o transmissário para ser a transmissão do estabelecimento comercial. Se um conjunto de
regras excecionais não se aplicarem pode ocorrer a simulação de negócio jurídico.
O âmbito mínimo deve ser analisado casuisticamente pois pode não dispensar uma firma, um prédio, uma
marca, patente, certas máquinas.
As dívidas de rendas do anterior arrendatário transmitem-se? Em regra, não – art. 595º CC – salvo acordo
entre as partes implicando que fiquem codevedores salvo se o senhorio libertar o trespassante das suas
dívidas.
Se nada for dito os prédios transferem-se naturalmente, apesar de certas divergências doutrinais. Deve
assim atentar se pela interpretação do negócio se pode concluir que o prédio não se transmite: caso
estejamos perante um trespasse acordado no valor de 100.000 euros, porém o prédio tem um valor de
200.0 euros.
Os logotipos e as marcas incluem-se no âmbito natural – arts. 295º e 256º/2 CPI, excetuando nos casos do
nº 30.
Código da Propriedade Industrial
Sem prejuízo do disposto no n.º 3 do artigo 30.º, a transmissão do estabelecimento envolve o respetivo
logótipo, que pode continuar tal como está registado, salvo se o transmitente o reservar para outro
estabelecimento, presente ou futuro – art. 295º.
A transmissão da totalidade da empresa implica a transmissão da marca, salvo estipulação em contrário
ou se das circunstâncias decorrer claramente o contrário – art. 256º nº 2.
Os direitos emergentes de patentes, de modelos de utilidade, de registos de topografias de produtos
semicondutores, de desenhos ou modelos e de marcas podem ser transmitidos, total ou, com exceção dos
direitos emergentes de patentes, de modelos de utilidade e de registos de topografias de produtos
semicondutores, parcialmente, a título gratuito ou oneroso – art. 30º nº 1.
Se no logótipo ou na marca figurar o nome individual, a firma ou a denominação social do titular ou
requerente do respetivo registo, ou de quem ele represente, é necessária cláusula para a sua transmissão –
art. 30º nº 3, faz parte do âmbito máximo/convencional.
A firma inclui-se no âmbito convencional/máximo – art. 44º nº 1 RRNPC – à imagem do logotipo e marca
em nome individual.
Não se inclui no âmbito natural:
Patentes
Modelos de utilidade
Desenhos ou modelos
Marcas objeto de licença de exploração – art. 31º nº 1 a 8 CPI
Máquinas, veículos, moveis, etc, emprestados – arts. 1059º e 1135/f) CC
Transmissão dos créditos e dos débitos
Os créditos fazem parte do âmbito natural da entrega do estabelecimento comercial. Os débitos, por sua
vez, não se transmitem para o trespassário, uma vez que fazem parte do âmbito máximo.
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Direito Comercial da Empresa
É necessário:
Âmbito negocial:
Se um trabalhador for trabalhar de um restaurante para outro, não há qualquer violação de
não concorrência
Se já havia um restaurante antes, será que infringe a sua obrigação de não concorrência?
Em princípio não, mas se o dono era um elemento atrativo da clientela
Âmbito objetivo:
Entre dois tipos diferentes de restaurantes não há a obrigação de não concorrência, porque
a clientela é outra, em abstrato.
Âmbito subjetivo:
é gerente duma sociedade com mais membros da sua família – EC com restaurante. Aqui, B
viola a obrigação de não concorrência.
C, credor de uma obrigação que vendeu um EC por trespasse, não está obrigado à não
concorrência
Âmbito espacial:
Se na rua existem muitos restaurantes de cozinha tradicional portuguesa e aquele não se
distingue dos outros. O que está aqui em causa é a área de projeção do EC.
Âmbito temporal:
O trespassante pode abrir um novo EC entre 2 a 5 anos, havendo divergência.
Não estando a obrigação prevista na lei, pode ser confrontada no contrato de trespasse por cautela do
trespassário, impondo um conjunto de regras que limitem os termos de obrigação de não concorrência,
caso contrário deixa sempre e aberto a discussão. Os estabelecimentos comerciais têm zona de radiação
muito diferentes e casuísticos, podendo ser somente a rua e vizinhança em certos casos, e noutros a
captação da clientela estender-se a regiões ou mesmo o país inteiro. Não há nenhuma norma que preveja
os seus limites quer espacial quer temporal; porém, em regra, a obrigação não tem limite temporal inferior
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Direito Comercial da Empresa
a 3 anos e dificilmente superior a 5, em linha com a jurisprudência italiana. O caso concreto é relevante a
este propósito.
Havendo provada a violação da não concorrência, o trespassário pode interpor uma ação de cumprimento
(art. 817º CC). Pode também exigir indemnização nos termos do art. 798º CC ou resolver o contrato de
trespasse nos termos do art. 801º nº 2 CC. Pode ainda requerer sanção pecuniária nos termos do art. 829º
nº 1 CC e até mesmo exigir o encerramento do novo estabelecimento (art. 829º nº 1 CC).
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Direito Comercial da Empresa
ou das coisas em regime de aluguer (C) será responsável perante o locador se eventualmente o locatário
do estabelecimento (D) fizer um uso anormal ou provoque danos.
Contratos de trabalho
Quanto aos contratos de trabalho transmite-se a posição do empregador – arts. 285º e ss. CT. Quando
terminar a locação do estabelecimento comercial haverá nova transmissão da posição contratual de
empregador de D para C.
Art. 285º CT
3: Com a transmissão constante dos n.ºs 1 ou 2, os trabalhadores transmitidos ao adquirente mantêm
todos os direitos contratuais e adquiridos, nomeadamente retribuição, antiguidade, categoria profissional e
conteúdo funcional e benefícios sociais adquiridos.
2: O disposto no número anterior é igualmente aplicável à transmissão, cessão ou reversão da exploração
de empresa, estabelecimento ou unidade económica, sendo solidariamente responsável, em caso de cessão
ou reversão, quem imediatamente antes tenha exercido a exploração.
Contratos de seguro
Transmite-se a posição jurídica de segurado - art. 95 DL 72/2008.
Art. 95, DL 72/2008
2 - Salvo disposição legal ou convenção em contrário, em caso de transmissão do bem seguro, sendo
segurado o tomador do seguro, o contrato de seguro transmite-se para o adquirente, mas a transferência
só produz efeito depois de notificada ao segurador.
3 - Salvo disposição legal ou convenção em contrário, em caso de transmissão do bem seguro por parte de
segurado determinado transmite-se a posição de segurado para o adquirente, sem prejuízo do regime de
agravamento do risco.
4 - Verificada a transmissão da posição do tomador do seguro, o adquirente e o segurador podem fazer
cessar o contrato nos termos gerais.
5 - A transmissão da empresa ou do estabelecimento determina a transferência para o adquirente dos
seguros associados a essa unidade económica, nos termos previstos nos n.º 2 e 3.
Créditos e débitos na esfera jurídica do locador
A regra é da não transmissibilidade dos créditos, sendo certo que convencionalmente é possível a
transmissão de créditos ou débitos.
Ao abrigo do art. 577º CC, é possível essa transmissão do crédito convencionalmente, que implica que haja
notificação ao devedor. Os créditos que surjam durante a exploração na esfera do locatário (clientes que
não pagam mercadorias adquiridas, p. ex.) não se transmitem também, salvo em convenção ao contrário.
Relativamente aos débitos anteriores à celebração do contrato de locação, na esfera jurídica do locador a
regra é não serem transmissíveis, salvo convenção em contrário e algumas exceções:
as dividas aos trabalhadores, apesar de estarmos no quadro de um contrato de
locação temporário, o art. 285º do CT estabelece responsabilidade solidária do
locador e locatário.
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Direito Comercial da Empresa
O mesmo se verifica relativamente a coimas não pagas relativas a contraordenações
laborais.
Em relação a dividas a segurança social o regime é o mesmo, havendo
responsabilidade solidaria.
As dividas contraídas na pendencia do contrato de locação pelo locatário, no geral é o mesmo, não se
transmitindo, salvo convenção, ressalvando-se as mesmas exceções do locador:
Relativamente as dividas aos trabalhadores, haverá responsabilidade solidária do
locatário e locador
O mesmo em relação a coimas contraídas pelo locatário por contraordenações
laborais.
A dúvida surge nas dividas a segurança social, visto que o CT não é claro quando às
contraídas pelo locatário (DL 110/2009, de 16 de setembro, art. 209º nº 2 CC) visto
que não se refere à reversão. Entende-se sem suporte da letra da lei literal, haverá
responsabilidade solidária por analogia retirada das dividas e coimas não pagas por
contraordenações laborais.
Art. 209º do CRCSS
1 - No momento da realização do registo de cessão de quota ou de quotas que signifique a alienação a
novos sócios da maioria do capital social, o respetivo ato é instruído com declaração comprovativa da
situação contributiva da empresa.
2 - Em caso de trespasse, cessão de exploração ou de posição contratual o cessionário responde
solidariamente com o cedente pelas dívidas à segurança social existentes à data da celebração do negócio,
sendo nula qualquer cláusula negocial em contrário.
Aqui parece que se pode aplicar o direito de regresso, na opinião do professor.
Forma
O contrato de locação está sujeito ou não a forma escrita? O art. 1109º nº 1 CC refere que a transferência
temporária do gozo do prédio se rege pelas regras de forma do art. 1069º CC, sendo necessária forma
escrita. Não havendo forma escrita o contrato será nulo, e havendo nulidade do contrato de locação, o
senhorio pode proceder à resolução do contrato de arrendamento nos termos do art. 1083º nº 2/e) CC,
visto que há um gozo do prédio cedido a D por parte de C ao abrigo de contrato nulo.
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Direito Comercial da Empresa
Obrigação de não concorrência - art. 1038º CC
Ao contrário do que acontece no trespasse, a obrigação de não concorrência está prevista na lei. O regime
jurídico não especifica esta obrigação visto ser um regime geral, mas das obrigações que se estabelece
para ambas as partes não deixa dúvida que a obrigação de não concorrência está presente – arts. 1031º e
1038º CC.
No que toca ao locador, as obrigações previstas no art. 1031º CC impõe esta obrigação de não
concorrência na locação, caso contrário impediria que o locatário tirasse do estabelecimento todas as suas
valências.
Por outro lado, uma das obrigações do locatário, pós-contratualmente, impõe-se a obrigação de não
concorrência – obrigação de restituir com as mesmas valências o estabelecimento como lhe tinha sido
entregue – art. 1043º nº 1 CC. Acontece que, em relação ao locatário coloca-se a questão se este fica
durante algum período obrigado a não concorrer com o estabelecimento que devolveu ao locador; é
evidente que o locatário pode fazer concorrência privilegiada, porém esse é uma consequência natural da
locação, da própria natureza, e o próprio locador obteve frutos dessa locação, portanto a relação não se
estende além do cotrato. Neste sentido, nada proíbe que o locador, para evitar esta concorrência
privilegiada, pode estabelecer uma clausula no contrato para durante certo período proibir a mesma.
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Direito Comercial da Empresa
Na venda executiva dá-se preferência à venda do estabelecimento comercial, se assim for mais vantajoso,
para o credor exequente – 829º CPC. Pode também, fundamentadamente pedir que sejam vendidos
elementos do estabelecimento comercial.
Quando é feita a penhora do estabelecimento comercial, se já existir penhora sobre os bens que compõe
o estabelecimento comercial em favor de terceiro, se essa penhora for anterior, é possível compatibilizar
as duas – nº 5 do art. 782º CC
Art. 782º CPC
1 - A penhora do estabelecimento comercial faz-se por auto, no qual se relacionam os bens que
essencialmente o integram, aplicando-se ainda o disposto para a penhora de créditos, se do
estabelecimento fizerem parte bens dessa natureza, incluindo o direito ao arrendamento.
2 - A penhora do estabelecimento comercial não obsta a que possa prosseguir o seu funcionamento
normal, sob gestão do executado, nomeando o juiz, sempre que necessário, quem a fiscalize, aplicando-se,
com as necessárias adaptações, os preceitos referentes ao depositário.
3 - Quando, porém, o exequente fundadamente se oponha a que o executado prossiga na gestão do
estabelecimento, cabe ao juiz designar um administrador, com poderes para proceder à respetiva gestão
ordinária.
4 - Se estiver paralisada ou dever ser suspensa a atividade do estabelecimento penhorado, o juiz nomeia
depositário para a mera administração dos bens nele compreendidos.
5 - A penhora do direito ao estabelecimento comercial não afeta a penhora anteriormente realizada sobre
bens que o integrem, mas impede a penhora posterior sobre bens nele compreendidos.
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Direito Comercial da Empresa
Dever de informação: Deriva de um dever de boa-fé. Há uma relação de confiança entre as pessoas
tanto singulares como coletivas e a instituição bancária, visto que o cliente acredita na entidade. Os
produtos oferecidos pelo banco, desde simples deposito até outros, são bastante complexos e
mesmo que o cliente tenha alguma formação dificilmente domina o produto que está a subscrever
e geralmente acredita na informação dada. Os bancos devem fornecer toda a informação de forma
que o cliente perceba. O funcionário pode não ter interesse em dar toda a informação, mas os
tribunais esclarecem que os funcionários devem explicar exatamente o que o cliente esta a
subscrever. Pode até o funcionário não dominar o produto financeiro em causa, e aí é o banco que
deve dar formação ao funcionário. Os funcionários devem-se sentir inteiramente livres para dar
essa informação e desse modo a venda de produtos financeiros não podem estar associados a
comissão financeira.
Dever de proteger o património do cliente
Dever de aconselhamento: Tendo em conta o perfil do cliente deve o banco aconselhá-lo nesse
sentido.
Qualificação
Há um conteúdo mínimo e outros contratos em que as partes poderão ou não vir a celebrar, com ponto
de partida na abertura de conta. Há desde logo alguns associados como de transferência, depósitos, cartão
bancário. São contratos bilaterais, onerosos. Inserem-se como contratos de prestação de serviços. Estão
relacionados os contratos de franquia, factoring, conceção, cessão financeira, abertura de crédito.
Cessação destes contratos
Neste sentido tem de vigorar o princípio de boa-fé, visto que normalmente tem duração indeterminada.
Pode ser desfeito por acordo ou denuncia.
A denúncia, em particular por parte do banco, deve obedecer ao princípio da boa-fé. Deve ser feito um
pré-aviso longo, fundamentado (apesar de não se obrigar), de modo que o cliente possa transferir os seus
valores e aplicações.
Contratos de crédito
Mútuo bancário
Traduz-se numa dilação no tempo. Surge dele a obrigação de restituição de capital, de pagamento de juros
(não obrigatório, pode participar nos lucros que daí advenham) e é um contrato fiduciário (assente na
confiança). O recurso ao crédito acontece em muitos outros contratos: venda a retro, venda a prestações
com reserva do direito de propriedade, factoring.
É um contrato consensual (não é unilateral, mas sim obrigacional visto que há obrigação de entrega do
capital por parte do banco, sendo atípico face ao código civil), não está sujeito à forma do código civil
estando sujeito somente a documento escrito, embora não se afaste o regime mercantil (apesar de se
afastar o regime civil): se for entre banco e comercial, neste sentido, já se aplica o regime mercantil
podendo nem haver forma alguma. Haverá juros, com um regime jurídico divergente do código civil.
Mútuo pecuniário oneroso
Mútuo civil – art. 1142º CC
Contrato real quanto à sua constituição, unilateral (art. 1144º CC), gratuito (art. 1145º CC). Implica
obrigação de restituição do capital.
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Direito Comercial da Empresa
Este mútuo pode ser com garantias ou sem garantias; pode ser simples (quando não se diz o destino da
coisa mutuada) ou de escopo (com um certo fim).
Nada impede que por convenção entre as partes possa ser um contrato consensual, passando a ser
bilateral, visto que o mutuante passa a ter obrigação de entrar com o capital, enquanto se for real quanto
à sua constituição é necessário a entrega do capital de forma que exista contrato. É um contrato fiduciário
visto que ao implicar a transferência do direito de propriedade das coisas mutuadas, assenta numa relação
de confiança, sem prejuízo de haver garantias.
Regra geral não há entrega da moeda real, sendo normalmente em moeda escritural.
O art. 1143º CC exige que se a quantia mutuada for superior a 25.000 euros o contrato deve ter a forma
de escritura pública ou documento particular autenticado; se for superior a 2.500 euros exige documento
assinado pelo mutuário, e se for inferior a este quantia mas houver juros está sujeito a forma escrita.
O art. 1148º CC estabelece o prazo de duração de contrato: mínimo de 30 dias. Impõe-se um princípio de
boa-fé visto que se o contrato dura à muito tempo não pode haver denuncia com antecedência de 30 dias
visto que pode ser muito curto para se devolver o capital – exige uma interpretação.
O mutuário está obrigado a restituir o capital e os juros: pode fazê-lo de uma só vez se estiver assim
estabelecido, mas normalmente estabelece-se que é pago em prestações.
Imagine-se um contrato de mútuo por 10 anos em que ao fim de 5 anos o mutuário entra em
incumprimento; ao abrigo do art. 781º o mutuante utiliza o instituto da perda do benefício do prazo; ou
até o mutuário pretende pagar a divida total, tendo de pagar os juros correspondentes ao tempo total pré-
estabelecido: o art. 1147º CC esclarece esta situação dizendo que se a meio do prazo do contrato, seja por
antecipação voluntaria ou incumprimento, deve pagar igualmente os juros. Este artigo está pensado para
os casos de mútuo entre cidadãos; neste sentido, o mutuante fica sem aquele capital que poderia estar em
aplicações financeiras ou outra forma que daria retorno, tutelando-se este interesse, caso contrário apenas
se beneficiaria o mutuário. No direito bancário esta norma não faz sentido, visto que o banco ao ser
antecipado o pagamento irá aplicá-lo de outra forma que lhe trará igualmente benefícios; neste sentido
devemos interpretar restritivamente esta norma no sentido da antecipação do pagamento do crédito.
Todavia houve um acórdão de 25 de marco de 2009 que estabelece que no caso de incumprimento (art.
781º CC) não implica o pagamento de juros nela incorporados. Temos 2 casos consagrados na lei, porém,
que são do mútuo bancário para habitação, e no crédito ao consumo, que se o mutuário antecipar o
pagamento não tem de pagar os juros, podendo haver exigência de pagamento de compensação, mas não
todos os juros futuros – exceção ao art. 1147º CC.
Estas regras valem para o mútuo civil quer mercantil ou bancário.
Mútuo bancário
Está sujeito a escrito particular independentemente do valor – art. 396º CCom., se o mutuário for
comerciante nada impede que se aplique o disposto no CCom. (não está sujeito a forma), e a banca é um
comerciante. O mútuo bancário é um mútuo consensual, gerando obrigações para ambas as partes.
Pode ser um mútuo simples (concedido por um banco) ou concedido por sindicato de bancos (se for um
valor elevado). O mútuo pode ser simples ou de escopo quanto à finalidade (muitas vezes neste último o
banco quer acompanhar o investimento e que o empréstimo seja concedido conforme o investimento).
Relativamente à restituição do capital e juros pode ser num só momento ou a prestações (constante,
crescentes ou decrescentes), serão compostos e regra geral há garantia.
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Direito Comercial da Empresa
Pode haver alguns convénios acessórios (covenants), comuns no mútuo bancário com empresas, em que,
por exemplo, pode-se exigir acompanhamento do investimento, informação sobre a própria sociedade, e
em função dessas informações o banco pode exigir aumento de capital da sociedade, aumento de taxas de
juro, reforço de garantias, mas tentará sempre evitar resolução do contrato. Pode ser exigido celebração
de contratos de seguro, obrigação do mutuário ter particular cuidado de direitos de propriedade
intelectual (patentes, marcas, etc). Mesmo que a sociedade comercial esteja em situação difícil com
diversos créditos bancários, os bancos evitam a resolução do contrato, negociando o contrato de forma a
exigir mais garantias, dando mais tempo, provavelmente com taxas mais altas, mas evitando o default
(incumprimento). Se o banco resolve o contrato irá resultar num cross-default, levando a que os outros
bancos onde a sociedade tem mais créditos, resolvam igualmente os seus contratos com essa sociedade.
A taxa de juro do mútuo bancário pode atingir juros negativos. Quando se fala em deposito bancário ele é
oneroso, tendo de ter taxa de juro. No mútuo bancário, se o banco concede empréstimo num certo valor e
a taxa de juro começa a ser negativa, imaginando-se um empréstimo de 1000 euros, o banco receberia
menos do que o valor mutuado; pode a taxa de juro então afetar o capital? Foi estabelecido o regime
especial do art. 21º A do DL 74º/2017 de 23 de junho, podendo o regime negativo da taxa de juro atingir o
capital, podendo o banco receber menos daquilo que empresta. Dirige-se apenas ao crédito a habitação,
porém afeta o direito de propriedade, e pode levantar algumas inconstitucionalidades.
Locação financeira/leasing
Tem função de crédito e de garantia. Está regulada no DL 149/95 de 24 de junho
Como funciona o leasing?
Exemplo base: C pretende adquirir um camião, que B tem. Dirige-se a A (banco, instituição de crédito,
sociedade financeira), visto não ter dinheiro para o comprar, e A celebra contrato de compra e venda com
B, tornando-se proprietário do camião, e realiza contrato de locação desse camião a C durante
determinado período. Muitas das vezes há já acordos entre os vendedores (B) e as instituições financeiras
(A), de modo a facilitar e potenciar potenciais compradores.
A nunca vai ter o camião, apesar de ser proprietário, sendo B que encarregue de entregar o camião a C. C
terá de pagar uma renda financeira – não idêntica à locação. Essa renda tem a amortização do capital e
juros, além de eventuais comissões. A renda irá ser cobrada por um período - normalmente as prestações
são mensais. Haverá depois um valor residual acordado entre A e C, de modo que se C pretender ficar com
o camião deve pagar o valor residual, e aí transmite-se a propriedade para o mesmo; não pretendendo,
normalmente A, a instituição financeira, tem um contrato de recompra com outra entidade, podendo ser
com B ou outra com o qual tenha contrato habitual para recompra desse bem. De salientar que A não está
obrigado a assegurar o gozo da coisa, mas apenas a ceder (a ver mais a frente).
A função de garantia existe no sentido em que A o credor, é proprietário do bem, guardando para si uma
segurança caso C não efetue o pagamento das rendas financeiras.
Há uma relação trilateral derivada do art. 13º do DL: Na prática é B quem entrega a C o bem, apesar de
não haver entre eles contrato. Se o camião tiver vícios, C dirige-se a B e não ao proprietário (A) como seria
mais logico. Ele não está obrigado a assegurar o uso da coisa.
Funções
De crédito e garantia. A é um proprietário meramente formal, porque na verdade concede crédito, e o seu
direito de propriedade tem meramente efeito de garantia. É meramente o proprietário financeiro.
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Direito Comercial da Empresa
Diferença entre leasing (locação financeira) e locação financeira restitutiva:
Nesta última temos os mesmos A e C: imaginemos que C precisa de dinheiro para a sua empresa, dona das
instalações do estabelecimento comercial, com valor significativo. C transmite o direito de propriedade
para A, ou máquinas que percam pouco valor, de modo que sirva de garantia. A irá depois locar as
instalações a C, mediante renda financeira – preço, juros e eventuais comissões.
Partes envolvidas na locação financeira
Apenas as sociedades com cariz financeiro, sociedades financeiras e instituições de crédito podem exercer
esta profissão. Do lado do locatário financeiro interessa se o locatário é habitualmente comerciante ou
habitualmente consumidor.
Forma e publicidade
Art. 3º DL 149/95 - está sujeito a forma de documento particular, e no caso dos imoveis as assinaturas
devem ser presencialmente reconhecidas – nº 2 e nº 4 referem que pode estar sujeito a registo.
Objeto do contrato
Coisas moveis, imoveis, corpóreas, incorpóreas – incluindo o estabelecimento comercial.
Renda financeira
O montante da renda e valor residual é livremente estipulado pelas partes. Contem a amortização do
preço do bem, juros, comissões e o que venha a ser negociado pelas partes
Fixação de prazos – art. 6º DL 149/95
Se se tratar de coisas moveis não deve ultrapassar o prazo presumível do desgaste da coisa. Não pode
igualmente ser superior a 30 anos.
Nada sendo dito quanto ao prazo este considera-se de 18 meses se tiver por objeto coisas moveis e 7 anos
se se tratar de coisas imoveis.
O prazo de prescrição de pagamento das rendas é de 5 anos– art. 310º/d) e e) CC
Locação financeira e a locação do código civil
A locação financeira é um instrumento de financiamento. Tem como garantia a propriedade do bem. O
objetivo pretendido não é explorar economicamente a coisa, como o locador do código civil, mas sim
conceber crédito.
No código civil o risco de perda da coisa corre por conta do proprietário; o risco corre por conta do
locatário na locação financeira, por outro lado. Então imagine-se com o exemplo acima, que se perde o
camião; o que significa aqui o risco correr por conta do locatário? O contrato de locação financeira
termina, porque se perde o objeto, sendo obrigatória a criação de seguro pelo locatário - 10º nº 1/j) DL –
que cubra risco de perda ou deterioração da coisa. Na locação do código civil é o proprietário quem tem de
ter seguro da coisa.
No código civil é o locador que tem de reparar a coisa e é responsável pela sua manutenção porque está
obrigado a assegurar o gozo da coisa. Ora, na locação financeira a reparação e conservação da coisa serão
por conta do locatário – art. 10º nº 1/e) e f) CPC – pois o locador financeiro apenas tem de ceder o gozo da
coisa.
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Direito Comercial da Empresa
Relativamente aos vícios da coisa, o locado responde pelos mesmos no código civil (art. 1032º CC). Na
locação financeira o locador não responde por eles – art. 12º DL – pois nos termos do art. 13º o locatário
poderá exigir que se afastem esses vícios junto do vendedor.
No fim do contrato, pagando o valor residual pode o locatário financeiro ficar com a coisa para si,
enquanto na locação civil isso não pode ocorrer.
Deveres do locador financeiro – art. 9º DL 149/95
Adquirir o bem
Dever de conceder o gozo do bem
Entregar o bem ao locatário - sendo na verdade entregue pelo vendedor ao locatário
Vender o bem ao locatário caso este o pretenda no fim do contrato
Nos termos na o art. 13 se o vendedor não entregar o bem ao locatário, este tem de reagir contra o
vendedor e não contra o locador financeiro. O locatário quando recebe o bem do vendedor deverá assinar
um auto de receção e conformidade do bem, começando os contratos a ter efeito e o locador a pagar o
bem ao vendedor.
Direitos do locador financeiro – art.9º/2 DL 149/95
Pagar as rendas
Direito de pagar despesas correntes necessária a fruição das partes comuns (condomínio se o
objeto for imóvel em regime de propriedade horizontal)
Facultar ao locador o exame do bem locado
Não pode aplicar o bem a fim diverso
Efetuar a conservação do bem
Efetuar seguro do bem locado
Restituir o bem se não pretender ficar com o mesmo no fim da locação
Direitos do locatário – art. 10º/2 DL 149/95
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Direito Comercial da Empresa
Resolução do contrato - art 17º DL 149/95
Se o incumprimento derivar do não pagamento das rendas: num preço de 100, pago em 10 prestações,
para efeitos de exemplo. A certa altura o locatário deixa de pagar a renda. Poderá ser fundamento para
transformar a mora em incumprimento definitivo - art 808º e 802º CC.
Pode o locador recorrer do art. 781º CC, resolver o contrato e ficar com o bem? A jurisprudência admite
que o locador financeiro pode reter as prestações recebidas, exigir as vencidas e não pagas, e 20% das
vincendas, mais o valor residual. A solução parece desproporcional; não deixa de se aplicar o art. 802º nº 2
CC; não haverá outras normas a aplicar?
Ao abrigo do art. 936º do CC estende-se os arts. 934º e 935º à locação financeira. Alguma doutrina vem a
defender a aplicação deste regime, e neste sentido a falta de pagamento de uma só prestação que não
exceda a oitava parte do preço não dá lugar à resolução do contrato nem à perda do benefício do prazo
(do art. 781º CC); quanto à cláusula penal, refere o art. 935º CC que não pode ultrapassar metade do
preço, salvo a faculdade de as partes estabelecerem a ressarcibilidade total do prejuízo; porém nos termos
do nº 2 se for estabelecido montante superior é reduzido para metade do preço total. Imaginemos que
foram pagas 6 das 10 prestações, a cláusula penal é reduzida para o valor de 5 prestações caso seja
superior; assim o locador terá de devolver 10 e reter os 50. Se convencionarem nesse sentido o locador
pode reter os 60. Se o prejuízo for superior a 60, havendo prejuízo superior, será ressarcido até ao limite
convencionado pelas partes. Será também de aplicar o regime das cláusulas contratuais gerais e o art. 812º
do CC.
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