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Aulas de Direito Comercial

Aula 23/09/2021

Direito da Insolvência – Menezes Leitão; Menezes Cordeiro; Coutinho de


Abreu (Coimbra)
Direito Comercial – ramo do direito que tem por objeto o comércio (em
sentido amplo, inclui as industrias, ramos lucrativos de prestação de
serviços); direito privado especial (autônomo em relação ao direito civil). A
liberdade contratual e de iniciativa econômica. Registo Comercial.
Para ser totalmente autônomo são necessários três fatores: autonomia de
legislação, autonomia de jurisdição e autonomia de processo. No Direito
Comercial existe apenas legislação autônoma, mas que em alguns casos pode
ser difícil separá-la do direito civil (já não é tão autônoma).
O Processo Comercial foi absorvido pelo Processo Civil, porém podem
existir juízes especializados no ramo do Comércio, voltando-se a ter alguns
tribunais especiais de comércio (mais ainda não há processo próprio). Tem
fontes próprias, precedeu o direito civil. Portugal manteve o Código
Comercial.
É um direito dos comerciantes ou da própria atividade comercial? Objetivo
ou Subjetivo? O Código Comercial no at. 1° tem uma concepção objetiva.
Porém no art. 2º existe uma concepção relativamente objetiva ainda com uma
ideia de concepção subjetiva quando define-se o que são os atos do comércio.
Art. 230º - quais são as empresas comerciais
Art. 3º - relação umbilical com o direito civil (direito subsidiário); é
possível aplicação analógica de normas comerciais para resolver problemas
de direito civil
Autonomia privada e liberdade de inciativa econômica, proteção dos
credores (solidariedade é regra), regulação do risco comercial (limitação da
responsabilidade comercial) e conhecimento dos usos e costumes comerciais

Aula 28/09/2021
Evolução Histórica do Direito Comercial – tese que funda o direito
comercial na baixa idade média (tese maioritária) e tese que diz o direito
comercial vem da antiguidade clássica (minoritária). Não se entendem sobre
o que é o direito comercial.
Tese minoritária – Regras aplicáveis ao comércio (definição de DC). EX:
regula compra e venda, independente de ser com comerciantes ou não
Tese maioritária – Só se pode falar em DC a partir do momento em que
surge um corpo de regras específico aplicável a uma determinada categoria
de pessoas e que regula as relações comerciais. EX: regula a compra para
revenda, protege o ciclo comercial (os comerciantes). Situa o DC na baixa
idade média, séculos XI e XII.
Ponto de vista da Cronologia – tempo em que depois da queda
do Império Romano (afetou toda a zona norte do império – invasões
bárbaras; causou uma enorme insegurança na circulação, o comércio)
as cidades começam a se proteger ao mesmo tempo que começa a
produção Árabe para oeste. OS povos germanos e árabes começam a
se estabelecer no norte e surge uma calma no plano político,
permitindo assim o reestabelecimentos das rotas comerciais.
Ponto de vista da Geografia – cidades italianas, cidades
costeiras. No território italiano existiam uma dança de unidades
políticas até o século XIX. Um território cujos poderes centralizados
nunca tiveram um exercício direto de poder sobre esses territórios,
permitindo o surgimento de unidades políticas autónomas; quem
exercia o poder dentro das cidades eram as classes dominantes das
mesmas (os comerciantes). Os comerciantes passam a ter acesso direto
ao poder político e consequentemente passam a criar suas próprias
regras que convém para a atividade comercia, que fortalecem o credor
(isto nunca antes na história havia se verificado, esse grupo social
nunca havia exercido o poder político). Tudo que não representava um
desfavor para a atividade comercial foi mantido, o desvio que o DC
representa para o direito civil é um sistema fragmentado.
Delimitação original – Direito de matriz subjetiva, seu âmbito de
demarcação se faz através de um critério subjetivo. Na fronteira do DC
encontramos relações mistas. Direito estatutário e consular. A sociedade
era essencialmente agregaria, as pessoas organizavam-se através de
corporações profissionais, que disciplinavam a concorrência entre seus
membros e regulavam a profissão (hierarquizada, juízes próprios – consuls,
grande parte do direito resulta das decisões dos consuls cujos estatutos da
profissão estavam agregados). Direito de caráter internacional. Na época
existiam os mercados de produção e distribuição (que eram internacionais,
conflitos resolvidos por decisões das feiras de troca, que mais tarde se tornam
costumeiras – conflitos privados internacionais).
Era moderna – o caráter internacional transmuta-se em caráter nacional
(nacionalização do direito comercial). Época em que há uma grande
afirmação das monarquias europeias (absolutismo), começam a ser os
próprios monarcas a criarem as suas próprias normas que serão aplicadas ao
seu território, numa tentativa de controlo político e económico.
Época contemporânea – com a revolução francesa surgem alguns vetores
que afetam o direito comercial (liberdade, igualdade e fraternidade). Ocorreu
a objetivação ao direito comercial, pois as regras comerciais pareciam não
respeitar a bandeira da revolução. A transição do núcleo subjetivo para um
núcleo objetivo, o objeto passa a ser não o comerciante, mas sim o ato de
comércio (introdução dessa expressão).

Aula 01/10/2021

Carácter internacional parcial para um carácter nacional – o controlo da


atividade comercial passa para as mãos da monarquia. O Direito comercial
da primeira época era autónomo porque era criado pelos próprios
comerciantes. O Direito comercial da era moderna era um direito
metronomo, criando pelo Estado.
No Século XIX, começam a surgir codificações civis e comerciais cujo
ponto de largada são as codificações francesas. Na França o código civil
antecede o comercial, ao contrário de Espanha, que o código comercial foi o
pioneiro.
O Código Comercial passou por um movimento de objetificação, passando
de uma matriz subjetiva para uma matriz objetiva.
No final do século XIX e no início do século XX, começa a desenhar-se
uma nova doutrina, por influência de um tribunal italiano. Na Alemanha,
começa um tiro-alvo à autonomia legislativa do direito comercial. Teve
algum sucesso, pois essa separação de códigos é algo criticável. Essa ideia
prevaleceu na Suíça e na Itália, onde não há uma separação formal entre
direito civil e comercial.
Art. 1º - objeto da lei comercial portuguesa. Art. 13º - quem é comerciante.
Há um dualismo na conjugação destes dois artigos. Os legisladores foram
misturando o critério subjetivo com o objetivo – criando leis de natureza
mista, não deixando de atribuir relevância ao comerciante.
Art. 2º - não define ato de comercio. Distinção entre ato de comércio típico
e atípico. O ato de comércio é um ato juridicamente relevante.
Classificação de atos de comércio – a distinção central é entre atos de
comércio objetivo (ato jurídico cuja qualificação depende apenas de
elementos objetivos, apenas do próprio ato) e subjetivo (ato que só é
comercial porque é praticado por um comerciante; qualificação depende de
um elemento subjetivo). Essa distinção não é 100% rigorosa, pois há alguns
atos que sua qualificação tem elementos objetivos e subjetivos.
Especialmente regulada neste código significa especialmente regulada na
legislação comercial.
Atos comerciais subjetivos – atos jurídicos cuja essência não é comercial,
só são relevantes no direito comercial por serem praticados por
comerciantes. Parte da doutrina diz que tem natureza exclusivamente civil e
outra parte diz que não é exclusivamente civil. O ato não poder ser alheio ao
exercício do comércio pelo comerciante; do próprio ato não pode resultar a
desconexão.
Ato de comércio objetivo – por natureza (comercialidade resulta de
características próprias, é comercial por si mesmo; EX: compra e venda
comercial, contrato de sociedade comercial), por forma (forma interna –
participa da própria essência do ato, se a forma não for cumprida não existe
o ato comercial; forma externa – condiciona a sua qualidade) e por
acessoriedade/conexão (busca a comercialidade em atos que estão no
comércio, atos por natureza) – critério da fonte da qual resulta a
comercialidade.

Aula 07/10/2021

Atos de comércio subjetivos no art. 2º - contratos e obrigações dos


comerciantes. Art. 7º - qualquer pessoa pode praticar atos de comércio. Mas
nem todos são comerciantes – categoria no art. 13º, com 2 categorias dos
comerciantes:
Pessoas que, tendo capacidade para praticar atos de comércio,
fazem deste profissão
Sociedades comerciais
Art. 14º define quem não pode ser comerciante – associações ou
corporações sem objeto interesses materiais e aos que não possam, pela lei
comercial.
Para ser comerciantes pela prática de atos de comércio, não basta apenas
praticar esses atos – há requisitos especiais da prática:
Prática tem de ser reiterada ou habitual – não pode ser
esporádico
Prática tem de ter fins lucrativos – não fins beneméritos ou
sociais
Prática tem de ser realizada com autonomia – em nome próprio
e por conta própria
Quem representa e faz em nome de outrem não é comerciante
Prática tem de ser exercida com exclusividade – comerciante
tem património todo afetado a seu comércio
Obrigações dos comerciantes (art. 18º): Adotar uma firma, ter escrituração
mercantil, inscrever-se no registo comercial atos sujeitos, dar balanço e
prestar contas.
Mas estatuto também gera privilégios – proteger privilégios dos
comerciantes
Atos de comércio unilaterais ou mistos – atos são mercantis apenas para
uma das partes. Mas o art. 99º absorve atos pela lei comercial – para os dois
lados. Mesmo que seja comercial apenas para uma das partes – estende
regime a outros contratantes, exceto questões em que não é possível. ML –
mais relevante na altura, porque havia jurisdição comercial.
Confusão entre comerciante e empresário – caráter polissémico de conceito
de empresa.
Classificações de Comerciantes – Pessoas singulares – art. 61º/1 CRP
permite a qualquer pessoa direito à iniciativa económica. Distinto do
condicionamento industrial – necessário licença do governo para lançar e
modificar indústria. Governo só aceitava depois de consultar concorrentes
instalados. Atualmente há regime especial que regula acesso ao exercício das
atividades comércio, serviços e restauração – DL 10/2015. Liberdade a
acesso a atividade comercial e condições de acesso
Capacidade dos Comerciantes – Questão – se “capacidade” no CCom. (art.
7º e 13º) é capacidade de gozo ou de exercício:
OA – incapaz poderia adquirir capacidade de comerciante, se
fosse praticado por representantes legais autorizados
MC – incapazes poderiam praticar atos através dos
representantes legais
ML – concorda, não vendo obstáculo a representantes praticar
atos de comércio
Art. 1899º/1/c – se filho adquiriu estabelecimento comercial, pais só
podem representar com autorização. Não é tribunal que autoriza – é MP.
Proibições de exercício de atividade – há certas atividades comerciais
limitados por própria natureza do sujeito em causa: Comércio bancário e
atividade seguradora – só por sociedades anónimas autorizadas, não podendo
ser comerciante individual.
Incompatibilidades para exercício do comércio – certas entidades com
relações públicas especiais impedidos de exercer comércio: Magistrados,
militar, ...
“Falido”, atualmente, o insolvente – antigamente lei proibia exercício de
comércio a falido. Atualmente, art. 81º/1 – declaração de insolvência …
Impedimentos para exercício da mesma atividade comercial – não é
proibição geral, mas da mesma atividade, por haver conflito de interesses:
Gerente de comércio (art. 253º) – não podem negociar por conta própria nem
tomar interesse; Sócios das sociedades coletivas e por quotas e
administradores nas sociedades anónimas.
Sociedades Comerciais – Comerciante pessoa coletiva. Art. 1º/2 CSC –
sociedades comerciais são aquelas que tenham por objeto prática de atos de
comércio. CSC alterou regime do CCom. Têm de adotar forma de sociedades
no art. 1º/3.
Sociedades civis sob forma comercial (art. 1º/4) – os que têm por objeto
exclusivamente prática de atos não comerciais, podem adotar outra forma.
Diferença – não funcionam para qualificar atos subjetivamente comerciais.
Sujeitos a regras, mas não são comerciantes.
Ideia que pessoas no art. 13º/1 não são necessariamente pessoas singulares
(art. 14º)
Empresas públicas – discutiam-se se tinham natureza de comerciantes. ML
– acha que questão está ultrapassada.
Outras Pessoas – Pessoas semelhantes a comerciantes – certas entidades
no CCom: Mandatária comercial, gerentes, … comissários, corretores,
agente comercial, sócios …, farmacêuticos, artistas. MC – pessoas
semelhantes a comerciantes, não cabendo no art. 13º, mas têm características
similares a comerciante. São autónomas – não vinculadas a outras entidades
por contrato de trabalho. Praticam atos jurídicos com fins lucrativos.
Dispõem de organização mínima - ainda que rudimentar.
Sistema alemão e CC1966 – distingue-se mandato com ou sem
representação, consoante vier ou não com procuração
Dissocia mandato da procuração – pode haver sem procuração
Antes vigorava sistema francês – mandato sempre
representativo
Mandato comercial (art. 231º e ss.) – segue sistema anterior,
sendo sempre mandato representativo
Se não for representativo é contrato de comissão e comissário
Mandatário comercial tem poderes de representação –
comissário não tem

Aula Prática 08/10/2021

Coutinho de Abreu, Menezes Cordeiro, Pedro Pais Vasconcelos, Menezes


Leitão.

O direito comercial é um direito autônomo, mas se houver dúvida se algo


é regulado ou não pode-se verificar no direito civil. Aplica-se o código
comercial independentemente de ser comerciante ou não.
Art. 2º, 13º, 230º, 15º, 100º, 102º, 109º.
Sociedades comerciais – pessoas coletivas cujo objeto é a atividade do
comércio.
Requisitos para ser comerciante – capacidade, prática de atos de comércio,
fazer disto profissão (art. 13º, 7º). A maior parte da doutrina exige a
capacidade de exercício, e não a mera capacidade de gozo.
Art. 123º, 124º e 127º (excepções em que o menor pode exercer atos de
comércio). Art. 1889º do CC.
Para interpretar o art. 2º é necessário saber o que é comerciante. Atos de
comércio em sentido objetivo – serão atos de comércio todos aqueles
regulados neste código, praticar um dos atos do código é praticar um ato de
comércio.
As vezes a própria lei se auto titula comercial.
Os negócios cambiários não se trata propriamente de um ato comercial,
como por exemplo a compra e venda é. Não é propriamente uma atividade,
são atos formalmente comerciais, mas se alguém pratica estes não pode ser
considerado comerciante.
“Fazem deste profissão” é debatível entre os autores. Menezes Cordeiro –
4 vetores para ser profissão.
Prática reiterada habitual (não pode ser algo eventualmente praticado),
lucrativa (tem de visar lucro), juridicamente autônoma (praticar os atos por
seu nome e por sua conta) e tendencialmente exclusiva (prende-se com o
patrimônio que afeta o ato). Concretizar e explicar cada um destes vetores.
Art. 2º/2ª parte – contratos e obrigações – ato de comércio subjetivo.
Existem atos que, por ser o comerciante quem faz, tem comercialidade.
Existem determinados tipos de atos que tem uma feição demasiado civilística
que não podem ser nunca considerados comerciais (exclusivamente civil não
significa o mesmo para todos os autores). Se o contrário do próprio ato não
resultar – ex: um comerciante compra uma geladeira par uso próprio – não
resultar sua ligação com o comércio.
O que acontece se eu for considerado comerciante e for aplicada a lei
comercial? Art. 18º. Não sou um cidadão comum. Art. 15º, 100º e 102º -
regra é a solidariedade.
Estudar Teoria do Acessório, casos práticos, pessoas semelhantes a
comerciantes, questões doutrinárias do art. 230º.

Aula 12/10/2021
Gerentes, Auxiliares e Caixeiros. Esta trilogia surge-nos no CComercial
no enquadramento do mandato. Em 1888, a forma de articular o CC e o
CComercial (em Portugal, na Alemanha e Espanha a codificação comercial
surgiu antes da codificação civil > quando existe esta precedência a técnica
de construção dos tipos de contratos comerciais esta na dependência do
direito civil)
Na generalidade dos casos, a lei comercial não nos dá tipo, mas sim o
desvio em relação ao tipo civil (ex.: mandato transformado em mandato
comercial; art. 463.º diz nos as circunstância em que a compra e venda é
comercial).
Os gerentes, auxiliares e caixeiros têm um enquadramento no nosso
código, pese embora não ser original, a integração sistemática que o
CComercial português lhe dá é original, mas trazendo isso uma
problemática.
O art. 231.º dá-nos a noção de mandato social. À luz daquilo que é o CC
de 1966 a doutrina tende a estabilizar que este tipo comercial é a espécie
comercial daquilo que no direito civil se designa por mandato de
representação.
No art. 266-º esta regulado um contrato de comissão > mandato civil sem
representação
O Gerente de comércio é apresentado como uma figura de mandatário –
art. 249º do CCom.
Art. 259º do CCom. – Caixeiros
Gerentes, auxiliares e caixeiros – são mandatários particulares/diferentes.
Nenhum deles atua por conta ou em nome de outrem. Não está identificado
o requisito do art. 13º. São funcionários do comerciante. Art. 158º do CC e
11º do Código do Trabalho – essas pessoas são tidas como trabalhadores por
conta de outrem – o mandado pode ou não ser representativo, pode haver
representação sem que exista contrato; clara separação entre mandato e
representação.
Hoje estamos a falar de um contexto muito modificado, em termos
normativos, em relação a 1888. Hoje, se olharmos para o Código do
Trabalho, temos regulação destas figuras como autênticos funcionários.
O sistema jurídico evolui para uma caracterização em que estas pessoas
devem qualificar-se, na realidade, como trabalhadores por conta de outrem.
Basta esta consideração evolutiva do sistema para concluir que estas pessoas
não são comerciantes à luz do art. 13 do CComerical.
O mandato pode ou não ser representativo, da mesma maneira que se
assume também na sequencia daquilo que é a teorização alemã, que pode
haver representação sem que exista mandato, podendo esta agregar-se a
contratos que não são de mandato, como por exemplo, contratos de trabalho.
(ex.: quando passamos um artigo na caixa do supermercado não perguntamos
à pessoa que lá está a trabalhar se nos quer vender aqueles produtos)
Art. 266 e 268º - comissário – versão comercial do mandato sem
representação. Atua em nome próprio, mas por conta de outrem, existindo
um contrato de comissão. É comerciante, faz disso profissão.
A comissão, nesta conjugação que a doutrina hoje considera unanimemente
como sendo a versão comercial do mandato sem representação, durante
algum tempo a questão colocou-se nestes termos: é verdade que à luz do ar.t
268.º quando o comissário realiza atos de comercio fá-lo em nome próprio,
mas no interesse do seu comitente. Isto levou alguma doutrina, muito
minoritária, anegar ao comissário a qualidade de comerciante. Hoje em dia
a doutrina entende que a comissão é em si mesmo um negócio comercial.
Assim, o comissário considera-se comerciante na medida em que pratique
profissionalmente a atividade de comissão
A lei comercial não trata do contrato de mediação. Agenciar – mediar
(figura do Mediador). Promover celebração de negócios para outras pessoas
mediante outras partes. Profissionalmente promove negócios para outrem,
procura uma contraparte para o negócio que o ordenante pretende negociar.
O mediador em si mesmo não celebra negócios, limita-se a juntar as partes.
Em geral, a doutrina situa-se: se o mediador exercer sua atividade, que é mais
intermediadora, será comerciante na medida em que sejam respeitados os
requisitos do art. 230º parágrafo 3º.
Em 1888, ainda não tinha sido identificado como um tipo comercial e,
muito menos, como um tipo jurídico. Ainda assim, podemos observar uma
subtil referência no art. 230.º, parágrafo primeiro.
O mediador, em sentido amplo, é alguém que profissionalmente promove
negócios para alguém que lhe pede isso – o “ordenante” -, isto, é se dedica p
por solicitação de outrem a procurar uma contraparte para o negócio que o
ordenante pretende realizar, sendo que esta relação não é um contrato que
implique subordinação do mediador ao ordenante.
Na ordem jurídica portuguesa, não temos uma figura de mediação geral.
Temos sim este espon-talho porque este agenciar pode interpretar-se como
mediar. Ex.: legislação específica mediação de seguros, mediação
relativamente à compra e venda de títulos, mediação imobiliária.
O mediador em si mesmo não celebra negócios, limita-se a juntar as partes.
Relativamente ao mediador, a doutrina, em geral, situa-se nestes termos:
se o mediador exercer a sua atividade, que é uma atividade mais
intermediadora (consiste na junção de partes), será co-merciante na medida
em que seja titular de uma empresa. Coutinho de Abreu diz que desde que
existe profissionalidade, mesmo que não exista empresa. – esta questão lev
anatava alguns pontos de interrogação, mas com a digitalização da economia
esta questão já não é estranha.
Agente comercial – modernização do contrato de comissão. A estrutura do
grande comércio internacional é em rede. Contrato de agência – Umas das
partes se obriga a promover por contra da outra a celebração de contratos de
modo autônomo, estável e oneroso; deve exercer sua atividade de modo
organizado e profissional. Não envolve necessariamente representação. Não
é celebração de negócios em nome do principal.
O agente comercial é uma das partes no contrato de agencia, o qual consiste
numa modernização do contrato de comissão.
Obriga-se a promover, por sua conta, contratos para outrem > contrato
organizado e oneroso (é remunerada pelo principal). Conjunto de operações
materiais que passa pela publicitação da existência do produto, que
reproduzem a ideia de promover negócios para o principal.
A generalidade da doutrina tende a considerar o agente como comerciante
na medida em que exista organização, ou seja, tal como sucede com o
comissário e o mediador. Algo que é uma nublosa doutrinaria é a situação
dos profissionais liberais, tais como os advogados.
Embora em Portugal, existe uma corrente doutrinaria fortíssima que nega
a inserção destes profissionais na categoria dos comerciantes, o Prof JES tem
uma ideia jus comercial dos profissionais liberais como empresas, não
encontrando no direito português um conjunto de normas concreto que
bloqueie essa situação (o que existe são meras considerações da doutrina).
Este assunto está envolto numa nébula de preconceito que tem que ver com
a velha nobreza de certas profissões, de que nobres e comerciantes não se
misturam. Padece deste preconceito, porque do ponto de vista legal não há
uma norma/conjunto de normas que bloqueie esta qualificação. Este é um
resultado interpretativo mais do que duvidosos e assente num preconceito
A questão contra aos corretores surgiu de uma regulação ordinária que hoje
já não existe, nos arts. 64.º a 81.º, tendo estes intervenção nas bolsas. O
código regulava em paralelo as bolsas e os mercados, nos arts. 82.º a 92.º A
atividade de corretagem de títulos atualmente só pode ser exercida em
estrutura societária, sendo estas estruturas sociedades comerciais > estrutura
irreconhecível face ao que se passava em 1888
A qualificação de comerciante não é em direito uma mera definição. A
principal consequência é o fato de isto ser a chave de entrada para qualificar
um ato jurídico como ato de comércio via art. 2º/2ª parte. Estão sujeitos a um
conjunto específico de obrigações.
Firma – é o nome do comerciante enquanto comerciante, sinal distintivo
civil enquanto tal. Sua identificação. Instituição medieval.

Aula 14/10/2021

A qualificação de comerciante e juridicamente relevante, pelo que cabe


perguntar onde está o domínio da sua relevância:
1. Esta qualificação e a porta d entrada de roda uma categoria de
atos do comércio, que está no art. 2, segunda partes: os atos de
comércio subjetivos. Esta categoria assenta num aspeto
subjetivo, pois só existe este ato caso seja praticado por um
comerciante
2. Estatuto subjetivos: art 13, pelo facto de alguém ser qualificado
como comerciante a luz deste artigo, faz com que essas pessoas
estejam sujeitas a uma série de obrigações que as outras pessoas
não estão. Na versão originais do código, cada uma destas
obrigações era sequên-cias por subdivisões cada uma destinada
a designar estas qualificações (firma, escrituração, re-gisto,
balanço, corretores)
Firma – Sinal distintivo do próprio comerciante, tendo uma função de
identificar alguém como comerciante, pelo que tem uma função paralela ao
nome civil. Tinha uma função específica para pessoas em nome singular ou
coletiva, na versão originária do código.
Em relação as sociedades comerciais, vigora um princípio da tipicidade,
correspondendo a 5 tipos, sendo que a no in ação de qualquer sociedade
comercial contém necessariamente um elemento linguístico que identifica
imediatamente o tipo (sociedade por quotas, sociedade ...). À nominação
deve ser adicionado um elemento gráfico que permite identificar de imediato
o tipo de sociedade que está em causa (ex.: pneus do oriente S.A.; pastelaria
princesa LDA).
Distinção entre firma e denominação – A firma é um elemento medieval
de identificação do comerciante enquanto tal, seja comerciante individual ou
pessoa coletiva, designadamente sociedade comercial. Na Origem do
sistema firma tinha um significado distinto do que tem atualmente, que se
confundia com o civil.
No caso das sociedades, os vários tipos societários são produto histórico,
não tendo sido criados pelo legislador por vontade própria: há tipos de
origem medieval, há tipos de origem moderna (ex.: companhias coloniais
transitaram para o direito privado como formas de organizar privada,
sociedade por quotas no final do século XX, conhecia por sociedade de
responsabilidade limitada)
A firma necessariamente era composta por nomes de pessoas, explicitando
quais eram as pessoas responsáveis pelo cumprimento das obrigações da
sociedade. Ex.: sociedades de responsabilidade limitada, a firma era
composta pelo nome dos sócios. Com o surgimento da grande empresa e a
sociedade anónima, nenhum sócio respondia pessoalmente pela
responsabilidade da própria sociedade.
A responsabilidade limitada de uma sociedade serve para haver uma
divisão do risco pelos credores.
A sociedade é anónima porque na sua identificação não entram nomes de
sócios. Não se sabe quem são os sócios. A denominação era o nome da
pessoa coletiva, onde não entravam nomes de sócios, isto é, era um sinal
identificativo sem nomes de pessoas (designação particular).
A parir da década de 30, do século XX, há uma evolução do sistema que
vai misturar os dois conceitos, com o desenvolvimento do conceito de firma
para um sentido muito amplo. A firma começou a ser a denominação
genérica para os sinais identificativos dos comerciantes, podendo ter uma
composição com nomes (firma pessoa) ou sem nomes (firma denominação).
> sinais distintivos uns que envolvem nomes, outros que não os envolvem.
Mesmo no caso das sociedades anónimas, a firma pode ter uma
composição mista: ter uma composição particular e nomes de pessoas. Hoje,
firma e denominação podem ser distintas da mesma maneira, mas há a
possibilidade de haver uma junção das duas (ex.:António da Silva e filhos
comércio de pneus, LDA)
Onde está a regulação da firma hoje? Revogação feita por duas fases:
1. 1986 - código das sociedades
2. Legislação específica - dl 42/89 já fora revogado. Regime do
registo comercial das pessoas coletivas 199/98 (institui o registo
nacional de pessoas coletivas. Cria como instituição o próprio regime
comercial, abrangendo sociedades, mas que não são sociedades,
gerando um ficheiro nacional de pessoas coletivas.
A firma está sujeita na sua composição a três princípios
Princípio da verdade - não pode conter elementos enganosos;
Princípio da novidade - o pedido da admissibilidade de uma
nomeava firma deve respeitar as firmas já registadas;
Princípio da exclusividade - o titular da firma tem o direito ao
seu uso exclusivo, pelo que pode acionar juridicamente aqueles que
usem abusivamente a firma que tem ser registrada.
Artigos importantes: art. 37.º e 38.º
A constituição de uma sociedade comercial pressupõe como formalidade
prévia constitui a concessão por parte do registo nacional de pessoas
coletivas, um certificado de admissibilidade de firmas > registo competente
para decidir administrativamente se aquilo que os sócios pretendem adotar
como firma, é admissível no sentido de respeitar o princípio da novidade.
O sistema evolui, a partir de 2006, para formas novas de criação,
nomeadamente com a informática, com o balcão único (sistema utilizado
atualmente).
Escrituração comercial – A escrituração é uma obrigação de manter
registos escritos da sua atividade. Antes eram até mencionados os livros
específicos que o comerciante devia de ter.
Agora, e fortemente influenciada põe legislação comunitária. O estado foi
progressivamente interessando se por esta matéria, porque viu aqui um modo
de fazer o controlo da matéria fiscal.
Há duas grandes áreas responsáveis: 1. Área estadual no sentido do
controlo fiscal (declarações fiscais correspondem ao que está na escrituração
comercial). 2. Núcleos mais gerais da própria negociação de empresas.
Permitem fazer uma avaliação do valor das empresas, que podem ser
relevantes para os valores das empresas > interesse social mais vasto
Esta matéria está essencial regulado no diploma 158/2009, 13 de junho:
aprovou o sistema de Noé avaliação contabilística. > peso significativo do
direito derivado europeu (diretivas de harmonização dos sistemas de
contabilidade, que tem progressivamente aumentado a sua importância e
impacto nesta área) > hoje já se fala num direito de prestação de contas.
Registo comercial – É também uma obrigação de origem medieval, outrora
tendo sido a forma de controlar quem entrava ou não na profissão. Institui
que passa toda a idade média e moderna, até chegar à idade contemporânea.
Esta matéria do descodificada a partir da década de 50, do século passado,
com vista à aprovação de um código de registo comercial. A par deste
código, temos o regulamento do registo comercial, que trata a matéria com
mais detalhe técnico.
Data de 1986, sendo que visa dar publicidade a situação jurídica de algo,
no caso em apreço, dar conhecimento à situação jurídica dos comerciantes
individuais, etc., tendo em vista a segurança do comércio jurídico > instituto
mais irrelevante no sentido de estatutos jurídicos comerciais.
Ondulação evolutiva do sistema que acaba por tornar em certas áreas a
tanta irrelevante o papel do registo como forma a dar publicidade aos registos
comerciais.
Art. 3º/1/a) - a constituição > da origem a um registo específico que designa
por matrícula. O registo chama se comercial mas é um nome enganoso, pois
estão sujeitas a registo pessoas que não são propriamente comerciantes > art.
4.º e 5.º
Alguns artigos e legislação a termos em atenção: Art. 14º/1 > inoponível a
terceiros. Art. 17º. Portaria 657/a/2006, 19 de junho > requerimentos de
registo.
Empresa comercial – Tema mais nubloso: De onde vem a empresa
comercial e a sua importância no direito? Ao contrário do que se possa
pensar, isto não é uma novidade do século XX.
A empresa faz a sua entrada no mundo do direito, no século XIX. A
primeira. Entrada do conceito de empresa no direito comercial resulta do
código comercial francês de 1807.
Os litígios relativos a atos de comércio são da competência dos tribunais
do comércio, explicitando em forma de catálogo os atos de comércio. No
enunciado destes, o legislador francês refere a empresa de manufaturas, ou
seja, a denominação empresa entra através d eu a referência em catálogo aos
atos de comércio.
Todavia, a empresa como conceito já tinha entrado na linguagem dos
economistas. Esta noção não foi criada pela ciência jurídica, mas sim pela
ciência económica.
Por todo o fenómeno de codificação que se dá no século XIX, a empresa
vai entrar na codificação latina nos mesmos moldes, ao enunciar os atos de
comércio. O legislador português, em matéria de contratos comerciais, faz
surgir no art. 230º, correspondendo ao título V, num esquema de inserção
sistemática. Não nos diz que a empresa é ato de comércio, mas o tipo
correspondendo a uma divisão sistemática do título II, do que são atos de
comércio.
Ninguém se entende sobre o papel que este artigo tem no direito português.
Como relacionar este artigo com o art 2.º, 3.º e 13.º?
Existem duas posições em relação ao art. 230.º:
Posição subjetivista > Extensão do art. 13.º;
Tese objetiva > Enunciado especial de atos de comércio >
fazendo um enquadremo-nos historiei o, o legislador português teve
aqui uma originalidade que olha para a empresa como ato de comércio:
enunciado particular de atos de comércio (quem adota está perspectiva
consegue construir a partir dele uma nova classifica-o de atos
comércio: atos de comércio isolados, na medida em que a prática
apenas de um seria qualificados como comercial, outros, os integrados
na empresa, só obtém comercialidade na medida que forem praticados
em contexto empresarial).
Aula Prática 15/10/2021

Atos de comércio acessórios: qualificados de mercantis pelo facto de se


ligarem ou conexionarem a atos mercantis. atos de não comerciantes não
especialmente regulados na lei mercantil, mas acessórios de objetivamente
comerciais, são havidos como atos comerciais?
Teoria do acessório: todo o ato de um não comerciante efetivamente
conexionado com ato objetivamente comercial é ato de comércio. Rejeição
da teoria do acessório [Coutinho Abreu]: não parece legítimo afirmar um
princípio geral segundo o qual todo e qualquer ato de não comerciante será
mercantil quando conexionado com atos objetivos de comércio (rejeição da
analogia iuris).
Caso Pratico I:
António, bancário em pré-reforma, dedica-se há vários anos a adquirir
peças de mobiliário para as recuperar e depois vender numa pequena
loja na zona das Amoreiras. Como ainda tem compromissos laborais
com o banco, teve de contratar Barnabé para assegurar o
funcionamento da loja entre as 10h e as 17h todos os dias da semana,
ficando António responsável pelo encerramento da loja entre as 17h e as
18h às segundas e quintas-feiras, dias em que aproveita para fazer as
encomendas de material e para despachar os trabalhos de restauro
encomendados online.
1.António é comerciante?
Para responder a questão é preciso verificar se os requisitos do art. 13º do
CCom foram cumpridos. O primeiro requisito é o da capacidade de exercício
(divergência doutrinária). Como o caso não fornece nenhum indício da
incapacidade de Antônio, presume-se que o mesmo é capaz.
É possível afirmar também que António pratica actos de comércio
(objectivos; v. art. 2.º 1.ª parte CCom), visto que ele adquire, restaura e vende
peças de mobiliário, possuindo estabelecimento próprio, vendas online e um
funcionário. Art. 230º/parágrafo nº1. Art. 463º.
Por fim, resta saber se António faz dessa prática sua profissão. De acordo
com o professor Menezes Cordeiro, podemos classificar a prática
profissional de comércio quando verificados quatro vectores: a prática deve
ser reiterada/habitual (efetua a prática constantemente), orientada para o
lucro (tem que visar adquirir dinheiro), juridicamente autónoma (tem de agir
em nome próprio e por conta própria) e tendencialmente exclusiva (o que eu
invisto do ponto de vista monetário na atividade de comércio? Pode ter duas
atividades, mas tem que investir mais na atividade de comércio).
Pode-se afirmar que a pratica é reiterado pois Antônio já a pratica há vários
anos, mas vai na loja duas vezes por semana por 2 horas. Também é uma
prática orientada para o lucro, visto que Antônio depois de adquirir as peças
as revende (nada nos diz que não visa ganhar dinheiro). É juridicamente
autônoma pois o mesmo atua em nome e por conta própria. E apesar de
António ter outra profissão, existe uma efectiva ocupação de António coma
atividade comercial, sendo ela também tendencialmente exclusiva.
Como António também não se encaixa em nenhuma das proibições do art.
14º, e sendo verificados todos os requisitos do art. 13º, conclui-se que
António é comerciante.

2. A sua resposta seria a mesma se a loja de móveis pertencesse à


Fundação António Benemérito, destinada ao auxílio aos pobres e
desfavorecidos?
Não. Primeiramente porque esta fundação não teria como fim o lucro, mas
sim a prossecução de interesses sociais, não se encaixando, portanto, no nº 1
do art. 13º. E também porque não se encaixa no nº2 do mesmo artigo, visto
que fundações não são o mesmo que sociedades comerciais (tem como objete
a prática de atos de comércio). Art. 17º. Divergência doutrinária sobre isso.
As fundações não podem ser consideradas como comerciantes, mas podem
praticar atos de comércio. Art. 14º.

3. Com o aproximar do tempo frio, António que é cauteloso resolve


adquirir um novo equipamento de ar-condicionado para a sua casa, na
loja de Carlota que fica na mesma rua que a sua loja de móveis. Sucede
que António não pagou o preço devido e Carlota pretende agora
demandar apenas Dionísia, esposa de António, peticionado o valor em
dívida. Quid iuris?
Em primeiro lugar, é importante ressaltar que apesar de António ser
comerciante, ao comprar o ar-condicionado não está a praticar um ato de
comércio, pois comprou o equipamento para sua casa, não estando, portanto,
esta compra e venda relacionada com sua atividade comercial. Quanto a
Carlota, a hipótese não nos oferece informações suficientes para saber se os
requisitos do art. 13º do CCom. foram preenchidos. Assim, pelo fato da
mesma obter uma loja própria presume-se que ela é comerciante. Dessa
forma, conclui-se que estamos perante um ato de comércio unilateral, ou
seja, o ato é comercial em relação a apenas uma das partes. De acordo com
o art. 99º do CCom, apesar de o ato ser comercial com relação a apenas uma
parte, o mesmo será regulado pela lei comercial quanto a todas as partes.
Em relação a dívida contraída por António, de acordo com o art. 1691º/1
al. B do CC, a mesma é da responsabilidade de ambos os conjugues, pois a
compra de eletrodomésticos consiste num encargo normal da vida familiar.
Porém, para saber como a dívida será satisfeita é necessário verificar o
regime de bens pelo qual António e Dionísia se casaram.
Caso o regime seja o da separação de bens, consoante o art. 1695º/2 do CC,
a responsabilidade dos conjugues não será solidária. Assim, o património de
cada um responde pela parte da dívida que lhe incumbe, devendo Carlota
demandar a satisfação do crédito contra ambos os conjugues.
Se o regime for o da Comunhão Geral ou da Comunhão de Adquiridos,
responderão primeiramente os bens comuns do casal e caso sejam
insuficientes os bens próprios de um dos conjugues (art. 1695º/1 do CC).
Para aplicar o gravoso art. 15º devemos estar perante um comerciante, daí
a relevância de saber se é comerciante ou não. Qual regime de bens dos
conjugues? O art. 15º não se aplica no regime da separação de bens. Proveito
comum do casal – presunção de que o ar condicionado não é destinado para
o comércio.

4. Felipe que também é aficionado no restauro de mobiliário, decide


juntar-se a António na atividade de compra para restauro e revenda de
mobiliário. Como o negócio aumentou e o espaço da loja se começa a
revelar insuficiente, António e Felipe contratam com Ernesto um espaço
no armazém deste último para irem lá colocando o “excesso” de peças
de mobiliário.
Ernesto para se salvaguardar exige (i) que António dê em garantia uma
valiosa escultura de Júlio Pomar e (ii) que Diogo, irmão de Felipe,
garanta pessoalmente a dívida.
a. Se António não cumprir o contrato com Ernesto, Diogo poderá
argumentar que, apenas quando se esgotar o património de António, é
que Ernesto o pode demandar?
Consoante o art. 513º do CC a solidariedade só existe quando a mesma
resulte da lei ou da vontade das partes. Como estamos perante uma fiança
mercantil, de acordo com o art. 101º do CCom. aplica-se o regime da
solidariedade.
De acordo com o art. 518º o devedor solidário deve efectuar a
prestação por inteiro, podendo assim Ernesto exigir à Diogo todo o valor da
dívida. Diogo, se pagar por completo a dívida, terá o direito de regresso
contra António e Felipe (art. 524º do CC).
Não há execução prévia do regime da fiança (art. 638º do CC) – não
existe em direito comercial, o fiador do art. 101º não precisa ser comerciante.
Depósito mercantil – art. 403º - contrato comercial, um ato mercantil, surgem
obrigações mercantis.

b. Pode Felipe argumentar que apenas é devedor de metade do


valor em dívida?
Não, pois de acordo com o art. 100º do CCom. nas obrigações
comerciais os co-obrigados são solidários, salvo estipulação em contrário,
independentemente de só um deles serem comerciantes. Se for demandado,
consoante o art. 518º do CC, Felipe deverá pagar a totalidade da dívida,
possuindo depois o direito de regresso contra António, previsto no art. 524º
do CC.

Art. 230º do CCom. – empresa-organização ou empresa-atividade. Está a


dizer quem é comerciante ou está a determinar um conjunto de atos que a
serem praticados são atos de comercio.
Se estivesse a dizer quem é comerciante porque estaria
deslocado do art. 13º? Qual seria o motivo do art. 13º? O conceito de pessoa
coletiva só surge depois da feitura do código Comercial. Uma empresa não
tem emoções, como que há interpretação diferente de conjunto de atos?
Se for considerado um conjunto de atos insere-se ao abrigo do
art. 2º/1ª parte.

Aula 19/10/2021
Empresa – conceito polissêmico.
Art. 316º, 317º e 445º do CC – estabelecimento como sujeito comercial
A qualificação do estabelecimento como objeto comercial – art. 1559º e
1560º, 1109º, 1112º do CC
Estabelecimento como tal – 263º do CCom.
Estabelecimento como instituição – art. 1669º
Estabelecimento – Conjunto de coisas corpóreas e incorpóreas que está
devidamente organizado para a prática do comércio. Neste sentido se
identifica como empresa. Esse entendimento varia consoante os diversos
ordenamentos.
Art. 281º do Código da Propriedade Industrial – sinal distintivo do
estabelecimento. Logótipo. “O logótipo pode ser constituído por um sinal
ou conjunto de sinais suscetíveis de representação gráfica, nomeadamente
por elementos nominativos, figurativos ou por uma combinação de ambos,
ou por um sinal ou conjunto de sinais que possam ser representados de
forma que permita determinar, de modo claro e preciso, o objeto da proteção
conferida ao seu titular.”. Não há nome nem insígnias. É o logótipo que nos
permite identificar e distinguir uma entidade que preste serviços ou que
comercialize os produtos, como, por exemplo, um estabelecimento.
Aviamento – representa o acréscimo de valor que o estabelecimento
oferece para seus outros elementos. Clientela – conjunto real ou potencial de
pessoas postas para contratar a prestação de serviços; está sempre em
disputa, concorrência leal. Estas figuras não são direitos subjetivos, mas são
objeto de tutela jurídica. Estas figuras também podem influenciar o valor do
estabelecimento.
Quando que surge este valor do estabelecimento? Surge no arrendamento
comercial. Nas situações de contrato de trabalho. Nos casos de expropriação.
O estabelecimento contém elementos corpóreos e incorpóreos. Ele é objeto
de posse? Divergência doutrinária.
Estabelecimento individual de responsabilidade limitada – é um formato
jurídico que corresponde a uma empresa titulada por um só indivíduo, onde
há a separação entre os bens próprios do titular (património pessoal) e os
bens afetos à exploração da atividade económica. Uma das principais
responsabilidades do empresário do referido estabelecimento, criado com a
finalidade de exercer uma atividade comercial, consiste no próprio responder
de forma limitada pelas dívidas contraídas no exercício da sua atividade
perante os seus credores. Esta figura não vingou. Tem pouca aplicação
prática.

Aula Prática 19/10/2021

A questão de aplicar ou não o direito comercial manifesta-se nos artigos


99º e 100º. Apesar de não estamos perante comerciante pode lhes ser
aplicada a legislação comercial. Art. 100º não se aplica quando o acto não é
comercial.

Caso Prático 2:
Antónia desde criança que sempre gostou de pintar. Com o avançar dos
tempos foi fazendo vários cursos e foi aperfeiçoando as diversas técnicas
de pintura, passando as suas obras a ser um imenso sucesso a nível
nacional e internacional.
Atualmente, tem o seu atelier localizado em Belém mesmo ao lado da
galeria onde expõe os seus quadros, tendo mais de 20 funcionários
especificamente adstritos à exposição e à negociação dos seus quadros e
à organização das exposições que Antónia vai realizando pelo mundo
fora, já para não falar da invejável frota de veículos de transporte das
suas preciosas obras de arte.
1. Antónia é comerciante?
O art. 13º exige a prática de atos de comércio. Remete para o art. 230º.
Não é comerciante, pois não pratica atos de comércio. Não respeita o
primeiro requisito. A prática da arte não é considerada como um acto de
comércio. Pessoa semelhante a comerciante – prática autônoma,
pratiquem em serie atos jurídicos com fins lucrativos, dispor uma
organização mínima figurativa de emprego (Menezes Cordeiro);
ponderar aplicar certas regras de direito comercial a esta pessoa.

Aula 21/10/2021
Insolvência – processo de execução coletiva. É no âmbito das cidades
italianas que surgiu o conceito de “falência” e representava a fuga dos
comerciantes e era considerada um crime, pois era considerado uma situação
de fraude aos credores. O processo de falência tinha como consequência a
retirada de todo o património do falido ou a concordata. Era uma medida de
proteção aos credores.
A partir do século XIX e XX surge a ideia de permitir a cooperação em vez
de a falência representar apenas uma punição. A partir dos anos 80 ocorreu
um acordo entre os EUA e a Arábia Saudita para abaixar o preço do petróleo,
fazendo com que muitas economias crescessem.
O entendimento de falência na Europa e nos EUA é diferente. A falência
no EUA é vista como uma espécie de proteção contra credores. Na Europa,
a partir do momento que há falência os poderes públicos começam a intervir.
Surgem a nível europeu várias leis para tentar estabilizar os mercados e
regular a falência.
Falência liquidação (quebra da empresa e sanções) e falência saneamento.
Quando a falência surge ela era entendida como o instituto privativo dos
comerciantes. A insolvência surge depois e passa a abranger também os não
comerciantes – comerciantes eram sujeitos a falência e os não comerciantes
eram sujeitos a insolvência.
Decreto Lei 177/86 de 2 de Julho – permitiu o processo de recuperação de
empresas no sistema de falência saneamento.
A lei 16/2012 – criou o processo especial de revitalização de empresas.
Programa Capitalizar – destinado a reduzir o passivo das empresas.
Processo Especial para Curto Pagamento – a ideia era de evitar a Insolvência.

Aula Prática 22/10/2021

Caso Prático 2
2.Tintas do Sucesso, S.A. é a atual fornecedora de tintas de Antónia. O
último fornecimento realizado em 15 de julho, no valor de EUR
150.000,00 não foi ainda pago. A Tintas do Sucesso, S.A. pretende saber
se a dívida do fornecimento se encontra vencida (ou ainda terá de
interpelar Antónia para o efeito…) e que outros direitos poderá exercer
contra Antónia em caso de mora ou incumprimento da obrigação de
pagamento?
Consoante o art. 1º/2 do Código das Sociedades Comerciais as Tintas do
Sucesso, S.A. é uma sociedade comercial. Assim, de acordo com o art. 13º/2
do CCom., é comerciante. Sociedade anónima. Antónia não é comerciante.
Estamos perante um ato de comércio em sentido subjetivo? Se sim, é um ato
de comércio unilateral (art. 99º). Art. 102º do CCom. (fazer remissão para o
DL). Ler preambulo do DL.
O Decreto Lei 62/2013, de 10 de maio, regula a matéria de atrasos no
pagamento de transações comerciais. De acordo com o art. 2º/1, este diploma
aplica-se a todos os pagamentos efetuados como remuneração de transações
comerciais. Art. 4º/1 e 2. Tinha prazo estabelecido. Aplica-se o número 2 do
art.4
Consoante o art. 4º/3 al. B, quando não resulta do contrato um prazo de
vencimento, a obrigação vence 30 dias a contar da data de recepção
efectiva dos bens, sendo, portanto, devido juros de mora sem necessidade
de interpelação. Assim, a obrigação de pagamento vencerá em 15 de agosto.
Se até este prazo Antónia não cumprir com a obrigação, de acordo com o art.
4º/2 do diploma, o credor terá direito a juros de mora (pagar uma taxa por
cada dia de atraso), sem necessidade de interpelação, a contar do dia
subsequente à data do vencimento.
Art. 102º parágrafo 5 – Aviso 13486/2021 – taxa de jurus supletivamente
aplicável – 8%
O art. 7º do mesmo diploma diz que, uma vez vencido o pagamento, os custos
suportados com a cobrança da dívida deverão ser indemnizados, sendo que
o credor terá direito a um montante mínimo de 40 euros, podendo provar que
teve custo superior a este.
Por fim, o art. 10º/1 garante ao credor o direito a recorrer à injunção, não
sendo relevante aqui o valor da dívida.

3. Berto, sócio e administrador da Tintas do Sucesso, S.A. é


comerciante?
Berto, sendo sócio e administrador da Tintas do Sucesso, faz parte de dois
órgãos da sociedade comercial, nomeadamente a Assembleia Geral e a
Administração. Uma sociedade comercial, como pessoa colectiva, manifesta
e forma suas vontades através dos órgãos sociais. Dessa forma, sempre que
Berto agir o fará em representação da sociedade e não em nome próprio.
Todos os efeitos jurídicos resultantes dos actos realizados por Berto irão se
repercutir na esfera jurídica da sociedade comercial. Assim, quem
verdadeiramente estará a praticar atos de comércio será a Tintas de Sucesso.
Portanto, Berto não é comerciante, pois não preenche um dos requisitos do
art. 13º/1 do CCOM.

Aula 26/10/2021

Situações pré-insolvenciais – Lei 16/2012 – processo especial de


revitalização. Esta destina-se a que o devedor obtenha um acordo com pelo
menos um dos seus credores.
Administrador especial provisório – juiz comunica os credores que deu-se
início o processo de revitalização, convidando os credores a negociar.
Processo especial para acordo de pagamento
Lei 8/2018 – mediador de recuperação de empresas. Não tem intervenção
judicial.
O sistema do CIRE serve para impor a declaração de insolvência.
Dívidas da massa do art. 51º - são pagas antes dos créditos sobre
insolvência e na data de seu vencimento (art. 172º).
Reclamação de créditos – art. 128º
Efeitos patrimoniais da declaração de insolvência – é o administrador da
insolvência que passa a administrar os bens. Efeitos processuais. Efeitos
sobre os créditos (art. 90º e seguintes).

Aula Prática 26/10/2021

Caso Prático 3:
Rui efetuou um contrato de arrendamento com Beatriz e Carlos de um
espaço no qual instalou um restaurante, denominado “Sabor Apetitoso”
em 1996.
O espaço nunca tinha antes sido usado, pelo que Rui teve de comprar e
pagar todos os móveis e equipamentos necessários ao funcionamento do
seu restaurante, ou pelo menos Rui assim conta.
Em 2004, Rui, decidiu passar o negócio ao seu irmão, Diogo. Para o
efeito, contactou Beatriz e Carlos para saber se nada tinham a opor e
estes comunicaram-lhe que se opunham perentoriamente, por terem
ouvido em praça pública que o seu irmão era “um vigarista do pior!”.
Perante esta recusa, Rui continuou a servir refeições, tendo acabado por
melhorar o seu serviço ao nível de anunciar o seu estabelecimento como
“o melhor restaurante do universo!”.
Dois anos mais tarde (2006), porém, um seu cliente de longa data,
Emílio, disse-lhe “a Beatriz e o Carlos adoram-me! Se quiseres, eu
assumo o negócio!”. Dito isto, logo ali chegaram a um acordo quanto ao
preço, momento de transmissão, entre outros aspetos do acordo,
apertaram as mãos e concluíram o negócio.
Filipa, filha de Rui, zangou-se com o pai, visto que queria ficar com o
restaurante, porque tinha planos para expandir o negócio. Rui, não
querendo desiludir a filha, disse-lhe: «Abriremos um novo restaurante,
melhor, e em tudo semelhante a dois “passos” daquele: vamos chamar-
lhe Novo Sabor Apetitoso e diremos, que sim esse, é “o melhor
restaurante do universo”!».
1.Perante o primeiro acordo de Rui com o seu irmão, Beatriz e Carlos
pretendiam reagir. Segundo estas, o contrato celebrado não era de
arrendamento, mas de “cessão de exploração”. Para tanto estas
argumentaram que foram estes que adquiriram o mobiliário e
equipamento, não tendo Rui comprado estes produtos para o
restaurante. Não existiam, porém, empregados e clientela. Quid iuris?
A cessão de estabelecimento seria a transferência temporária do
estabelecimento, efetuada a qualquer título. Para que o contrato seja
qualificado como de cessão de exploração, é essencial que se pretenda a
manutenção pelo cessionário da exploração do estabelecimento no
respectivo ramo de actividade e que a transmissão seja acompanhada de
elementos que integram o estabelecimento, mas não é necessário que o
estabelecimento já tenha funcionado antes ou já esteja completo.
2.Desconsidere a pergunta anterior: seria necessário Rui obter o
consentimento dos senhorios para transmitir a sua posição a Diogo? E
como é que os senhorios se poderiam proteger face à perspectiva de ter
um “vigarista” como arrendatário?
De acordo com o art. 1112º/1 al. A, em caso de trespasse de estabelecimento
comercial ou industrial instalado em prédio arrendado, o trespassante-
arrendatário pode ceder a sua posição de arrendatário ao trespassário sem
necessidade de autorização do senhorio.
Todavia, consoante o nº 2 do mesmo artigo, não há trespasse quando o
estabelecimento não seja acompanhado de todos os elementos essenciais do
âmbito da entrega ou quando exista a intensão de dar outro destino ao prédio.
Assim, caso os senhorios provem que não ocorreu trespasse, a cessão da
posição de arrendatário será inválida e poderá ser fundamento de resolução
do contrato de arrendamento, de acordo com o art. 1083º/2 al. E. Além disso,
se for dado outro destino ao prédio após o trespasse, podem os senhorios
resolver o contrato consoante o art. 1112º/5.
Ademais, o número 3 do mesmo artigo estipula que apesar de não ser
necessária a autorização do senhorio, este precisa ser comunicado sobre a
cessão da posição de arrendatário. De acordo com o art. 1038º/al. G, a
comunicação deve ocorrer dentro de 15 dias. Não sendo feita a comunicação,
a cessão da posição de locatário é ineficaz, consoante os art. 1059º/2 e 424º/2.
E o art. 1049º diz ainda que o locador pode resolver o contrato com base na
violação da alínea G do art. 1038º salvo se tiver reconhecido o beneficiário
da cedência como tal ou se a comunicação lhe tiver sido feita por este.
Rui e Diogo parece ser celebrado um contrato de doação, parece ter uma
prestação onerosa. O art. 1112º/4 – não existe direito de preferência.
Remissão para o 1410º.

3. O que transmitiu Rui a Emílio?


De acordo com os dados do caso, parece que ocorreu para além de uma
cessão da posição de arrendatário, um trespasse do estabelecimento, ou seja,
a transmissão a título definitivo do estabelecimento comercial. Tal
transmissão abrange não só as coisas corpóreas articuladas, mas também
todas as realidades envolvidas, incluindo o passivo.
O trespasse do estabelecimento tem de respeitar forma escrita, sendo exigida
uma transmissão do estabelecimento no seu todo ou como universalidade: é
insuficiente aquela que incida sobre apenas alguns dos seus elementos.
Falta de forma escrita. Uma coisa é o trespasse não ter forma escrita e outra
é o contrato de arrendamento não ter forma escrita. Interpretação extensiva
no art. 1112º/3. Art. 44º do RRRPC. Nº 4 do 1112º não observância do direito
de preferência. As partes devem respeitar o âmbito mínimo necessário para
identificar o estabelecimento. Deve se transmitir tudo que a lei não proíba ou
que a lei diga que deva existir acordo e tudo que as partes nada digam sobre
– âmbito natural.

4. Emílio está furioso com a traição de Rui ao ajudar a filha a abrir o


Novo Sabor Apetitoso ali tão perto. O que pode fazer?
Com relação ao trespassante do estabelecimento existe uma obrigação
implícita de não concorrência. Construção doutrinária. De acordo com esta
obrigação, o trespassante não pode iniciar uma atividade similar à exercida
através do estabelecimento trespassado em um certo espaço e durante um
certo tempo. Isto porque, como antigo titular do estabelecimento, o
trespassante conhece a organização do mesmo e tem contato com os
fornecedores e clientes, de forma que caso exercesse atividade parecida
poderia criar uma concorrência diferencial que comprometesse o bom
funcionamento do estabelecimento. Assim, tal obrigação tem como
fundamento principal assegurar o gozo pleno e pacífico da coisa não jurídica
transmitida ou alienada. Princípio da boa fé, princípio da concorrência leal.
Não é cumprir o contrato entregar algo que depois vou vir a perturbar,
trespassário vai adquirir algo que vale pouco. Um pouco violadora da livre
iniciativa privada. As partes podem afastar esta obrigação.
Não é apenas o trespassante que fica vinculado a esta obrigação, mas
também os seus filhos que tenham colaborado na exploração da coisa
alienada, visto que este também podem deter conhecimento sobre a clientela,
os financiadores e a organização do antigo estabelecimento, além de que o
trespassante poderá intervir no estabelecimento adquirido por seus filhos.
Todavia, tal obrigação tem limites. Os sujeitos passivos da obrigação só
ficam proibidos de abrir uma atividade concorrente com a exercida no
estabelecimento trespassado. Além disso, só não podem iniciar tal atividade
dentro da área de atuação do estabelecimento e durante o tempo necessário
para o novo estabelecimento se consolidar.
Caso Rui ou Filipa violem esta obrigação, Emílio, como trespassário,
consoante o art. 798º do CC, pode exigir indemnização por perdas e danos.
Pode também resolver o contrato (art. 801º/2) ou exigir que o novo
estabelecimento seja encerrado (art. 829º/1).

A qualificação de pessoa semelhante a comerciante depende de três


requisitos: pessoa autónoma, práticas de atos jurídicos com fins lucrativos e
uma organização mínima.
Estabelecimento comercial – traduz um conjunto de coisas corpóreas e
incorpóreas devidamente organizado para a prática do comércio. Aquilo que
faz de um estabelecimento comercial numa é igual, assim como as feições
dos vários estabelecimentos.
Definir se estamos ou não um estabelecimento comercial. Foi realizado um
trespasse? Que direitos assistem ao senhorio e ao arrendatário, bem como a
terceiros?
Trespasse – transmissão definitiva da propriedade do estabelecimento
comercial. Doação, compra e venda ou dação em cumprimento. Não existe
um regime exclusivo para o trespasse.
Se ocorrer um trespasse o que acontece com o arrendamento? Art. 1112º
do CC. Não depende da autorização do senhorio.

Aula 28/110/2021

Art. 102º e seguintes do Código da Insolvência – quando se verifica a


declaração de insolvência o que está pra trás são créditos da insolvência
(pagas na data de vencimento) e o que está para frente são consideradas
dívidas da massa insolvente (não sujeitas ao regime do rateio).
Os negócios em cursos se caracterizam opor terem alguma limitação no
âmbito da intervenção da insolvência. Escolha das laranjas. Escolhe os
melhores contratos e cancela os outros.
Negócios não cumpridos – princípio de escolha do atestador da
insolvência. Opta pela recusa do cumprimento ou não (art. 102º e seguintes
do CI). Art. 102º/3 – consequência da recusa do contrato. O art. 51º/1 al. F –
o contrato não reusado constitui dívida da massa insolvente.
Algumas particularidades – prestações divisíveis, venda com reserva de
propriedade, contratos translativos de direitos reais de gozo (art. 105º). Art.
116º.
Contrato-promessa (art. 106º) – a eficácia real faz com que seja irrelevante
a tradição da coisa. Um contrato promessa relativo a direitos reais se houver
tradição da coisa não pode ser recusado (interpretação ML). A forma de
indemnizar também coloca dúvidas. O sinal conta ou não?
Art. 113º - o CI está preocupado com a insolvência do trabalhador e não
do empregador.
Art. 120º - os atos celebrados nos dois anos anteriores da insolvência
podem ser resolvidos se forem prejudiciais a massa insolvente.
Verificação e reclamação de créditos – os credores devem reclamar no
processo. O atestador da insolvência apresenta uma lista de créditos
reconhecidos e não reconhecidos.
Restituição e separação de bens não se confundem com os créditos da
insolvência.

Aula 02/11/2021

Aula Prática 02/11/2021

Caso Prático 4:
1. Imagine que Adalberto pretende transmitir a Pedro um sushi no
Chiado, “Verde e Amarelo”.
Abaixo analise os termos do presente contrato:
«1. Nos termos do presente contrato, Adalberto transmite a Pedro o
restaurante de sushi incluindo a sua posição contratual em todos os
contratos, por 100.000 euros, inclusive os de fornecimento.
2. Vencem-se, automaticamente, todas dívidas já vencidas a todos os
fornecedores, ficando Adalberto exonerado do seu pagamento.
3. Encontra-se especificamente excluído:
a) O direito a usar o nome “Verde e Amarelo” para identificar o
estabelecimento;
b) A tábua que permite fazer “o melhor sashimi do mundo”;
c) A trabalhadora Gertrudes.
4. Não negligenciando o disposto na alínea a) Pedro poderá usar a
referência à “Verde e Amarelo” na sua firma pessoal.»
Estamos perante um caso de trespasse. O trespasse está referido no art. 1112º
do CC e traduz-se em uma transferência definitiva da propriedade de um
estabelecimento. É um negócio que não está regulado. Juridicamente, essa
transmissão faz-se pelas vias normais.
Quando há um trespasse, as partes podem excluir da transmissão alguns dos
elementos do estabelecimento, desde que nestes não se incluam os bens
essenciais ou necessários para identificar o estabelecimento. Caso não seja
respeitado o âmbito mínimo da entrega o trespasse não poderá ocorrer.
Art. 405º. Posição do professor Coutinho e MC. Corrente doutrinária que não
aplica o art. 424º.
Quanto ao primeiro ponto do contrato, cabe mencionar que os créditos do
trespassante ligados à exploração da empresa que não tenham por objeto os
meios do estabelecimento são parte do âmbito convencional da entrega do
estabelecimento. De acordo com o art. 577º/1 do CC, o trespassante credor
pode transmitir seu crédito sem o consentimento do devedor se a cessão não
for impedida por lei ou por convenção das partes e se a prestação não estiver
ligada a pessoa do credor.
Já os contratos ligados à exploração da empresa, cujos objetos não sejam
elementos do estabelecimento, podem ser transmitidos juntamente com o
estabelecimento trespassado. Porém, tal transmissão fica sujeita as regras dos
artigos 424º e seguintes do CC. Consoante o nº1 do art. 424º é necessário
para além do acordo entre o trespassante e o trespassário também o
consentimento do outro contraente para que a posição contratual seja
transmitida.
Referente ao segundo ponto do contrato, quanto a transmissão singular de
dívidas, ou seja, a responsabilização do trespassário pelas dívidas relativas
ao estabelecimento anteriores ao trespasse, a mesma não é automática. Tal
transmissão, consoante o art. 595º do CC, só pode ocorrer em caso de
convenção entre o trespassante e o trespassário com a ratificação do credor
ou através do acordo entre o trespassário e o credor, com ou sem o
consentimento do trespassante. Em qualquer dos casos, o nº 2 do mesmo
artigo exige uma declaração expressa do credor a favor da transmissão.
Relativamente a alínea A do ponto 3, está em causa a figura do logótipo. Esta
se encaixa no âmbito convencional da transmissão, não existindo problema
em sua exclusão. Já a alínea B faz referência a tábua que permite fazer “o
melhor sashimi do mundo”, a qual consiste em um utensílio utilizado no
estabelecimento. Quanto a este ponto, considera-se que apenas no silêncio
das partes que bens como máquinas, utensílios ou mobiliário, por exemplo,
são naturalmente transmitidos. Não é necessário para o estabelecimento
porque é fácil achar tábuas para comprar. No caso prático, as partes
convencionaram a não inclusão do referido utensílio, ficando este, portanto,
fora da transmissão.
Em relação a alínea C do ponto 3, as prestações laborais dos trabalhadores
fazem parte dos elementos empresariais na disponibilidade do trespassante a
título obrigacional. Consoante o art. 285º do CT, nos casos de transmissão
da titularidade de estabelecimento, é transmitida para o adquirente a posição
do empregador nos contratos de trabalho dos respectivos trabalhadores. Ela
só ficará excluída do trespasse se concordar com isto. Mas caso ela não
concorde, não poderiam força-la para fora do estabelecimento.
Por fim, quanto ao ponto 4 do contrato, diz o art. 44º/1 do Regime jurídico
do Registo Nacional de Pessoas Colectivas que o trespassário pode aditar à
sua própria firma a menção de haver sucedido na firma do anterior titular do
estabelecimento, se tiver autorização por escrito do mesmo. Pode juntar
também o logótipo a sua firma. Dessa forma, não há nada de errado com este
ponto.

2.Adalberto entretanto cedeu o direito a usar o nome “Verde e Amarelo”


em estabelecimentos comerciais à sua mulher, Carminda, nos
restaurantes em Lisboa que pretende abrir. Quid iuris?
Aqui está em causa a obrigação implícita de não concorrência. De acordo
com esta obrigação o trespassante fica obrigada a não iniciar uma atividade
parecida com a exercida em seu antigo estabelecimento num certo espaço e
durante certo tempo. O alienante conhece a forma de organização da empresa
e os financiadores, fornecedores e clientes. Portanto, se decidisse abrir outro
estabelecimento com atividade parecida ao antigo, sua concorrência poderia
ser diferencial e colocar em risco a substancia da coisa alienada. Assim, tal
obrigação tem como fundamento principal assegurar o gozo pleno e pacifico
da coisa alienada.
Nesta hipótese prática, quem pretende abrir outros estabelecimentos é a
mulher do trespassante. Porém, o conjugue também fica vinculado pela
obrigação implícita. Isto porque o conjugue também poderia normalmente
se beneficiar das informações relativas a organização, fornecedores e clientes
do estabelecimento antigo, além de que o trespassante poderia intervir no
novo estabelecimento.
Todavia, tal obrigação tem limites. Os sujeitos passivos da obrigação só
ficam proibidos de abrir uma atividade concorrente com a exercida no
estabelecimento trespassado. Além disso, só não podem iniciar tal atividade
dentro da área de atuação do estabelecimento e durante o tempo necessário
para o novo estabelecimento se consolidar.
Caso a obrigação seja violada, o trespassário, consoante o art. 798º do CC,
pode exigir indemnização por perdas e danos. Pode também resolver o
contrato (art. 801º/2) ou exigir que o novo estabelecimento seja encerrado
(art. 829º/1).

Art. 1112º/1 – Tutela da continuidade do estabelecimento comercial e


tutelar a posição do trespassante (tem o direito de receber a contra-prestação
por aquilo que ele começou do zero e trabalhou para). É desconsiderada a
posição do senhorio na medida em que estamos a tutelar o estabelecimento
comercial. Não havendo estabelecimento, não há trespasse e é necessária a
autorização do senhorio.
Art. 1112º/2 al. A – as partes a luz do art. 405º e da autonomia privada
podem escolher o que fica excluído do trespasse desde que não se trate de
elementos mínimos e necessários para identificar o estabelecimento.
Al. B – existem sinais que já há a intenção de mudar de atividade. No nº 5
a mudança de atividade ocorre apenas após a transmissão.

Aula 04/11/2021

Solidariedade passiva – em princípio todo as obrigações se presumem


conjuntas. Art. 100º do CCom. quanto aos atos mistos e aos não comerciantes
está disposição não se aplica.
Regime especial da fiança – art. 101º do CCom. – em princípio os credores
tem o benefício da excursão, porém no direito comercial tal benefício não
existe. Os fiadores são solidários, mesmo que não sejam comerciantes.
Responsabilidade dos conjugues por dívidas comerciais –
comunicabilidade. Art. 15º do CCom.
Prescrição presuntiva – presume-se que foram pagas as dívidas
corriqueiras. Art. 312º. Dispensa de prova de cumprimento da obrigação.
Pode ser ilidida.
Regime da contratação mitigada – compromissos nas fases das
negociações. Vincular a outra parte sem vincular a si próprio. Cartas de
Intenção – expressão da celebração de um contrato mas sem a intenção de
vinculação. Acordos de Base – já há acordo sobre as partes essenciais, mas
ainda não há contrato. Acordo de Quadro.

Aula Prática 05/11/2021

Limites temporais – tem suficiente para o trespassário se estabelecer


naquele estabelecimento. Limites materiais – a atividade tem de ser a mesma
e concorrente com o antigo o estabelecimento. Limites espaciais – até onde
a ação do antigo estabelecimento chega.
MC – as posições contratuais fazem parte do estabelecimento, podendo,
portanto, ser transmitidas, mas é necessário o consentimento de terceiros (art.
424º do CC). Uma parte da doutrina não concorda com a aplicação do art.
424º (argumentos: o art. 1112º é um regime especial).
Trespasse de dívidas – Interesse dos credores – vai mudar a pessoa com
quem contratou, é necessário seu com sentimento. Também é preciso o
consentimento do trespassante e do trespassário. Art. 595º do CC.
Firma – como o comerciante identifica seu comércio com tal. Art. 18º/al.
A do CCom. Logótipo – art. 281º e ss do CPI. Contribui para
descaracterização do estabelecimento ou não?
Cessão – 1088º/al. G e F, 1084º, 1083º/al. E

Aula 09/11/2021
Aula 11/11/2021

Aula Prática 12/11/2021

CASO PRÁTICO N.º 5


Adalberta e Joana decidem constituir uma empresa cujo objeto social é
a compra e venda de vinho, ao qual denominaram de BELAVISTA,
S.A.. Para essa via, adquirem um espaço na Avenida da Liberdade, um
terreno no Douro, celebram contratos com fornecedores e recorrem a
um empréstimo junto do BANCOTUDOEMPRESTA, S.A. A instituição
de crédito exigiu que, em caso de incumprimento das obrigações
adstritas, deveria uma hipoteca ser constituída sobre o terreno no
Douro.
Porém, volvidos quatro anos desde a abertura, a sociedade já não se
consegue suportar, não consegue pagar aos seus fornecedores, ao fisco
ou sequer aos seus trabalhadores. Os administradores da BELAVISTA,
S.A., aparentam preocupados com a situação, decidindo, apesar do
estado de deterioração da empresa, continuar a expandir o negócio.
Perante o incumprimento das obrigações, BANCOTUDOEMPRESTA,
S.A. exigiu o reforço da garantia prestada, pedido a que os
administradores da BELAVISTA, S.A. rapidamente aquiesceram.
1.Pode a Autoridade Tributária e Aduaneira defender-se de alguma
forma desta situação e recuperar os seus créditos? E os credores da
empresa?
Pode defender-se requerendo uma declaração de Insolvência. A insolvência
traduz a situação daquele que está impossibilitado de cumprir as suas
obrigações, normalmente por ausência da necessária liquidez naquele
momento, ou porque o total das responsabilidades (passivo) excede os bens
que poderia dispor para lhes fazer face (ativo).
A insolvência é, de facto, um processo que visa a satisfação do direito do
credor sobre o património do devedor. Apesar de neste processo existirem
várias ações declarativas, este é um processo executivo – a sua finalidade é
a obtenção da realização coativa de uma obrigação. Mais, é uma execução
coletiva, pois o seu fim é a satisfação de todos os credores de um devedor
(se fosse singular, não haveria um tratamento igualitário de todos os
credores).
A declaração de insolvência pode ser requerida pelos responsáveis legais das
dívidas, pelo credor ou pelo Ministério Público. A estes caberá produzir
prova relativa à sua condição de interessados na declaração, exigindo-se a
verificação de uma das circunstâncias do art. 20º. Estas circunstâncias são
índices da situação de insolvência, sendo qualquer uma delas condição
suficiente para a declaração de insolvência, se a presunção que a elas se
associa não for, entretanto, ilidida.
Durante a pendência do processo, desde logo, os credores apenas poderão
exercer os seus direitos no âmbito do mesmo (art. 90º), pelo que não podem
instaurar ações independentes ou continuar a prosseguir outros processos à
margem deste.
Mais, a declaração de insolvência gera o vencimento imediato de todas as
obrigações (inclui obrigações puras, obrigações a prazo e obrigações sujeitas
a cláusulas cum potuerit ou cum voluerit) do insolvente (art. 91º/1), com
exceção dos créditos tratados no art. 50º. Esta antecipação do vencimento
prende-se com a falta de confiança dos credores na solvabilidade do devedor.
Assim sendo, as obrigações passarão a vencer juros legais a partir do
momento da declaração.

Caracterizar os fins do processo de insolvência, dizer que S.A. era um sujeito


passivo (art. 2º/1 al. E), legitimidade para requerer insolvência (art. 20º),
Critério do fluxo de caixas – havia fundamento para considerar insolvente.
Dever do próprio devedor de apresentar a insolvência. Insolvência culposa e
suas consequências. Aplica-se o 228º do CP?

2.A ser declarada a insolvência da empresa, que créditos devem ser


primeiramente pagos?
Primeiramente devem ser satisfeitas as dívidas da massa insolvente, ou seja,
aquelas que resultam da própria situação de insolvência (art. 172º/1). O art.
51º CIRE procede a uma enumeração das dívidas consideradas dívidas da
massa insolvente. As dívidas da massa insolvente são sujeitas a um regime
mais favorável ao seu pagamento, uma vez que são satisfeitas antes da
satisfação dos créditos sobre a insolvência. Estas não estão sujeitas ao
processo de verificação e graduação de créditos, não tendo por isso de ser
reclamadas – arts. 128º e ss.
Posteriormente, deverão ser satisfeitos os Créditos sobre a Insolvência, que
consistem naqueles que impendem sobre o insolvente e que tenham natureza
patrimonial, ou sejam garantidos por bens integrantes da massa insolvente e
cujo fundamento seja anterior à declaração de insolvência ou surja no
decurso do processo. Tais créditos deverão ser satisfeitos na seguinte ordem:
Em primeiro lugar, de acordo com o art. 174º/1, paga-se os créditos
Garantidos – aqueles que beneficiam de uma garantia real ou de privilégios
especiais. Em causa estão, então, créditos que beneficiam de consignação de
rendimentos, penhor, hipoteca ou direito de retenção. As garantias pessoais
não relevam para esta classificação. O seu pagamento é feito depois de serem
pagas as dívidas da massa insolvente.
Depois, satisfazem os créditos Privilegiados (Art. 175º) – aqueles que
beneficiam de privilégios creditórios gerais, os quais não constituem
garantias reais por não incidirem sobre coisas determinadas. O seu
pagamento surge com base nos bens não afetos a garantias reais
prevalecentes, sendo feito com respeito pela prioridade e proporção.
De seguida, vem os créditos Comuns (art. 176º) – são aqueles que não
beneficiam de garantia real, nem de privilégio geral, e não são objeto de
subordinação. O seu pagamento surge depois da satisfação dos créditos
privilegiados, respeitando-se prioridade e proporção dos respetivos
montantes se a massa for insuficiente para o pagamento integral.
Por fim, pagam-se os créditos Subordinados (Art. 177º) – nova categoria,
presente no art. 48º, corresponde ao conjunto de créditos que são satisfeitos
depois dos restantes créditos sobre a insolvência. Serão pagos se ainda restar
saldo após o pagamento dos créditos comuns.
Empréstimo no banco, por ter como garantia a hipoteca do térreo em Douro,
constituiu um crédito garantido e deve ser pago primeiro. Depois os
trabalhadores devem ser pagos, pois este detém um Privilégio mobiliário
geral dos trabalhadores previsto no art. 333º CT. Por fim, devem ser pagos
os fornecedores, cujos créditos são comuns.
3.Poderia Adalberta responsabilizar os credores pelo pedido deduzido
de declaração de insolvência?
Do art. 22º do CIRE resulta a aplicação do regime da responsabilidade civil,
em caso de dolo, quando estiver em causa um pedido infundado de
declaração da insolvência. O pedido será infundado, quando não se verificar,
pelo menos um dos pressupostos reivindicados pelos artigos 3.º e 20.º, nº 1
do CIRE.
Porém, com os dados fornecidos pelo caso, é possível perceber que não
foram cumpridas as obrigações de pagamento das dívidas de contrato de
trabalho e de pagamento do empréstimo garantido com hipoteca. O
incumprimento de tais dívidas está previsto no art. 20º/1 al. G itens iii e iv,
consistindo tal incumprimento fundamento suficiente para ser requerida a
declaração de insolvência. Assim, pode-se dizer que o pedido dos credores
não foi infundado.
Dessa forma, consoante o art. 30º/3 da CIRE, cabe ao devedor ilidir os factos
presuntivos da insolvência estabelecidos nesse art. 20º, provando a
inexistência do facto em que se fundamenta o pedido, ou a inexistência da
situação de insolvência, não obstante a ocorrência do facto.
A norma do art. 22º ao limitar a “dolo” do devedor apresentante, ou do
requerente legitimado (art. 20º) a responsabilidade civil pelos prejuízos
causados, tem vindo a gerar uma discussão na doutrina. Parte da doutrina
entende que a responsabilização não é apenas aplicada aos casos de dolo, tal
como refere o art. 22º, mas também a situações de mera negligência.
O professor Menezes Leitão rejeita uma interpretação literal do artigo 22.º
do CIRE, por considerar que a restrição aí presente é desconforme com a
regra geral da responsabilidade civil em que, tanto se responde por
negligência como por dolo. Além disso, diz que a limitação a dolo no art. 22º
determinaria âmbito menor de responsabilização do autor de uma ação
bastante grave (processo de insolvência) do que é habitual em ações com
efeitos muito menos gravosos, o que estabeleceria um paradoxo “valorativo”
injustificável. Aceitando para tal aplicar a norma do art. 22º analogicamente
à negligência grosseira.
Já segundo Menezes Cordeiro, quanto ao art. 22º, o devedor é responsável
pelos prejuízos causados aos credores, mas apenas em caso de dolo, em
virtude do dever de apresentação à insolvência, previsto no artigo 18º do
CIRE, que impende sobre o devedor. Uma responsabilidade alargada poderia
obstar ao cumprimento daquela imposição legal.
Por outro lado, sustenta que o Credor é responsável pelos prejuízos que
causar ao devedor, nos termos do regime geral da responsabilidade civil,
prevista no artigo 483.º do CC. Isto porque, não se verifica qualquer razão
justificativa, no âmbito deste processo, para afastar o dever geral que recai
sobre o credor, actuante nas relações internas com o devedor. Nestes termos,
defende que o dever de agir com o cuidado exigido ao “bónus pater famílias”,
consagrado no nº 2 do artigo 487.º do CC, se aplica, sem qualquer limitação,
nestas situações, sendo, portanto, o credor responsabilizado em caso de dolo
e mera culpa.

4.O fornecedor de garrafas de vidro da empresa, ao tomar conhecimento


da nova garantia, pergunta-se que mecanismo legal poderá recorrer
para se defender a si, e a todos os outros credores. Indique qual o
regime(s) potencialmente aplicável(eis) in casu.
Resolução do negócio. Tal nova garantia pode ser prejudicial para a massa e
para a satisfação dos créditos já existentes. Art. 120º (Resolução
Condicional). Fundamentar porque o ato prejudica, mas deve haver a má fé
de terceiro (nº4). Requisito temporal (nº1).
Art. 121º - resolução incondicional, não tem de respeitar os mesmos
requisitos. É taxativo, só nos casos previstos. Este ato cabe no nº1 al. C.
contudo apenas o Administrador da insolvência pode resolver o negócio –
art. 123º.
Art. 610º do CC – pode ser exercido por qualquer credor. Art. 127º/1

O processo de Insolvência é especial e em que são tutelados os direitos dos


credores e do devedor insolvente. Tal processo está regulado no CIRE. Art.
1º - uma pessoa está insolvente quando não tem dinheiro para pagar suas
dívidas. Recuperação da empresa e afectação do património – fins. Art. 3º -
o que é estar insolvente. Pessoa singular – quando não consegue cumprir
suas obrigações. Pessoas Colectivas – quando o passivo é maior do que o
ativo.
As obrigações estarem vencidas é diferente da situação de liquidez do
património. O que se exige é a perda da possibilidade de cumprir suas
obrigações.
Um critério apenas aplicado a pessoas coletivas está no art. 3º/2. O passivo
deve ser manifestamente superior ao ativo.
Insolvência iminente – casos em que o próprio devedor prevê que vai estar
impossibilitado de cumprir suas obrigações a data do vencimento, podendo
adiantar a insolvência.
Art. 20º - outras pessoas que podem pedir a declaração de insolvência.
Quanto a pessoas coletivas os órgãos da administração podem fazer o pedido
(art. 19º).
Petição Inicial (art. 23º); legitimidade ativa (art. 20º/1) – Sentença da
declaração de Insolvência (art. 36º).
O Administrador da Massa Insolvência é muito importante, pois faz o
processo andar (art. 52º e seguintes). Assembleia de Credores (art. 66º e
seguinte e 72º).
Reclamação de créditos (art. 128º) – os credores dos créditos não
apresentados na petição inicial podem pedir a verificação de seus créditos.
Lista de créditos – feita pelo administrador (art. 129º)
Sentença de verificação – juiz vai decidir se concorda ou não com a
listagem e a ordem dos créditos feitos pelo administrador (art. 140º).
Rateio Final – também elaborado pelo administrador (art. 172º); explica a
ordem na qual determina qual montante vai para determinado credor.
Encerramento do Processo (art. 230º).
Se não houver dinheiro a maior parte dos credores não será paga. Para
pessoas singulares existe a possibilidade de exoneração do passivo restante
(art. 235º, forma do devedor se proteger).
No âmbito das pessoas coletivas existe um dever de apresentação da
insolvência (art. 185º e seguintes), pois tem todo um conjunto de
consequências negativas para os administradores que não apresentaram a
insolvência. É um crime grave (art. 228º ou 229º).
Créditos garantidos, privilegiados, comuns e subordinados. Art. 733º do
CC e 47º do CIRE. Art. 48º e 49º - créditos subordinados são pagos em
último lugar. Art. 172º e seguintes – ordem de pagamento.
Art. 46º e 51º - massa insolvente deve ser necessariamente paga em
primeiro lugar – art. 172º. O Administrador da Insolvência tem um trabalho
horrível e tem de ser pago. Se não houver dinheiro para pelo menos satisfazer
as dívidas da massa insolvente o processo é imediatamente encerrado.
Aula Prática 15/11/2021

Caso Prático 6
A Sociedade X-PETACULAR, Lda. após anos a contrair dívidas com a
Segurança Social, com os seus fornecedores, e bancos aos quais prestou
garantias, decide declarar-se insolvente.
Francisco, tendo sido nomeado como administrador de insolvência,
nunca tendo antes exercido funções nesse sentido, vê-se com um
conjunto de dúvidas na administração do património da sociedade.
Desde logo, existiam um conjunto de negócios que a X-PETACULAR,
Lda. já tinha dado início. Um contrato de promessa de compra e venda
de um imóvel, no qual se iria vender um armazém, um contrato de venda
de um carro, com reserva de propriedade, entre outros.
Ademais, um conjunto de credores enviam-lhe e-mails a “reclamar” que
têm créditos, sendo que Francisco foi informado que teria de elaborar
uma lista nesse sentido.
Posteriormente, o juiz ordenou-lhe que apresentasse. Assim, e em
completo desespero, apresentou um plano para liquidar a massa
insolvente, no qual se prevê o perdão da totalidade de juros e uma
distinção entre os créditos dos fornecedores, na qual metade dos mesmos
recebe a totalidade dos seus créditos, enquanto que a outra metade nada
recebe. Os credores pretendem reagir contra Francisco.
Quid Iuris?
Impende sobre o devedor o dever de requerer a declaração da sua insolvência
dentro dos 30 dias seguintes à data do conhecimento da situação de
insolvência (art. 18º/1). Se houver incumprimento deste dever de requerer a
declaração, a insolvência será declarada culposa (art.186º CIRE). Para além
disso, o devedor incorre em responsabilidade aquiliana, por violação de
disposição legal destinada a proteger interesses alheios. Os insolventes e os
seus administradores incorrem solidariamente na obrigação de indemnizar
os danos sofridos pelos credores, em consequência do atraso na apresentação
à insolvência. Referir o tipo de créditos. Art. 747º. Art. 97º/1-A. Efeitos da
declaração de insolvência.
É a figura central do processo de insolvência, tendo o seu estatuto regulado
no CIRE (arts. 52º e ss) e na Lei 22/2013 de 26 de fevereiro. O administrador
da insolvência é um administrador, autónomo do devedor, a quem é atribuída
competência para administrar a massa insolvente, sendo que os poderes de
administração são excluídos da esfera do devedor – art. 81º/1 CIRE.
A sua nomeação é feita pelo juiz – art. 36º/1 al. D 52º CIRE – de forma
aleatória (informática) de entre os administradores inscritos na lista oficial.
O administrador da insolvência pode, a todo o tempo, ser substituído pelo
juiz, se houver para isso justa causa. O conceito de justa causa é um conceito
vago e indeterminado, mas que abrangerá naturalmente quaisquer situações
de violação grave dos deveres do administrador, bem como quaisquer outras
circunstâncias que tornem insustentável a sua manutenção no cargo.
Administrador – como ocorre sua nomeação e suas funções (art. 55º).
Apreensão de bens. Relatório sobre inventário de bens. Faz uma lista dos
credores. Verificação de créditos.
A regra geral é a de garantir ao administrador da insolvência a possibilidade
de optar pela execução do negócio ou, antes, pela recusa do seu cumprimento
– art. 102º. O contrato deve ser sinalagmático. É preciso para aplicar este
artigo que não exista uma disposição específica regulando o negócio nos art.
103º e seguintes. Assim sendo, procede-se à suspensão dos contratos,
resultado da declaração de insolvência, até que o administrador da
insolvência comunique a sua opção. A outra parte reserva para si a
possibilidade de fixar um prazo, findo o qual a não comunicação se tem como
recusa ao cumprimento – art. 102º/2. Este regime é justificado pela
necessidade de adotar medidas de proteção dos credores, pois que forçar o
devedor a cumprir com todos os seus negócios faria com que este tivesse de
optar por cumprir uns negócios em detrimento de outros. Art. 106º. Art. 119º.
Quanto ao quarto parágrafo, de acordo com o art. 128º do CIRE, todos os
credores da insolvência, incluindo o credor requerente, que pretendam fazer
valer os seus direitos de crédito no âmbito do processo de insolvência, terão
que proceder à respetiva reclamação de créditos. A reclamação deverá ser
feita por meio de requerimento, acompanhado de todos os documentos
probatórios de que disponham, indicando os elementos referidos no art.
128º/1 alíneas A a E. Poderá ser feita por e-mail – nº 2. Além disso, cabe
referir que serão reclamáveis apenas os créditos sobre a insolvência que
sejam relativos a prestações patrimoniais.
Com relação a lista que Francisco deverá fazer, ela está prevista no art.
129º/1, que diz que nos 15 dias subsequentes ao prazo estipulado para a
reclamação de créditos, o Administrador deverá elaborar uma relação dos
créditos reconhecidos e outra dos não reconhecidos, ambas por ordem
alfabética, onde deverão constar os credores que tenham deduzido
reclamação e aqueles cujos direitos constem dos elementos da contabilidade
do devedor ou sejam por outra forma do seu conhecimento. Art. 36º/1. Al. J.
Nos termos do art. 129.º n.º 2, da lista dos credores reconhecidos deverá
então constar a identificação de cada credor, a natureza do crédito, o
montante de capital e juros à data do termo do prazo das reclamações, as
garantias pessoais e reais, os privilégios, a taxa de juros moratórios aplicável
e as eventuais condições suspensivas ou resolutivas e ainda o valor dos bens
integrantes da massa insolvente sobre os quais incidem garantias reais de
créditos pelos quais o devedor não responda pessoalmente. Art. 130º.
Caso o credor não reclame o seu crédito sobre a insolvência no prazo fixado
na sentença de declaração de insolvência, nem o seu crédito tenha sido
incluído na lista de credores reconhecidos pelo Administrador, o mesmo
ainda poderá lograr o seu reconhecimento, por via de uma ação de
verificação ulterior de créditos.
Para tal, consoante o art. 146º, deverá ser proposta uma ação contra o
devedor, a massa insolvente (representada pelo Administrador) e os
credores, no prazo de 6 meses após o trânsito em julgado da sentença ou,
caso termine depois, no prazo de 3 meses seguintes à constituição (art.º
146.º/2, al. B), efetuando-se a citação dos credores por via de edital
eletrônico publicado no portal CITIUS.
Quanto ao último parágrafo, parece estar em causa a figura do plano de
insolvência prevista nos art. 192º e seguintes do CIRE. Consoante o art.
193º/1, o Administrador tem legitimidade para apresentar uma proposta de
plano de insolvência. Definição de plano e sua finalidade. A aplicação desse
plano pressupõe a insolvência do devedor.
Planos de liquidação (em que termos tem de ser feita a venda dos bens e sua
repartição pelos credores). A apresentação do plano pressupõe a situação de
insolvência do devedor e o trânsito em julgado da sentença. Art. 193º, 195º
Relativamente ao perdão da totalidade dos juros, este não apresenta
problemas visto que o art. 196º/1 al. A prevê que o plano de insolvência pode
conter o perdão de juros. Art. 192º/2 – todos tem de consentir com as
alterações em sua esfera jurídica.
Por fim, com relação a diferenciação dos redores, o art. 194º/1 do CIRE
consagra o princípio da igualdade dos credores da insolvência, sem prejuízo
das diferenciações justificadas por razões objetivas. De acordo com este
princípio, cada credor tem o direito de ter um tratamento semelhante ao que
é dado a outros credores que estejam consigo em igualdade de circunstâncias.
A justificação para o tratamento desigual não pode ser arbitrária, antes tem
de se poder considerar razoável e relevante. Dessa forma, o administrador
não poderia, sem justificação, decidir quais dos credores terão seus créditos
satisfeitos e quais não receberão o pagamento, visto que tais credores
parecem ter créditos semelhantes.
Art. 207º. Art. 209º e 212º. Art. 216 – proteção das minorias no processo da
insolvência. Efeitos do plano – art. 217º. Mencionar a possível destituição
do administrador (art. 56º).

Aula 18/11/2021

Aula Prática 19/11/2021

Subhipótese: imagine que os administradores da X-PETACULAR, Lda.


pretendem dirigir o seu próprio património?
A administração da massa insolvente pelo devedor encontra-se regulada no
Título X, nos art. 81º/1 e 223º a 229º do CIRE. O art. 223º confere-nos um
primeiro requisito e diz que a administração pelo devedor apenas pode ser
decretada nos casos em que exista uma empresa na massa insolvente.
Contudo, a definição de empresa não é pacífica na doutrina. Por um lado,
temos autores que defendem a visão de “empresa-atividade”, de outro lado
temos autores que defendem a “empresa-organização”.
Todavia, não obstante toda a discussão existente em volta do conceito de
empresa e da diferenciação e exclusões feitas pelo art. 230º do CCom, para
efeitos do CIRE, o que releva é o facto de existir uma “organização de capital
e de trabalho” que dê origem a uma “atividade económica”. Dessa forma,
parece-nos que a Sociedade X-PETACULAR, pode ser considerada como
sendo uma empresa. Cabe agora verificar os pressupostos do art. 224º do
CIRE.
O primeiro pressuposto decorre do nº2 al. A do art. 224º, que diz que a
administração da massa insolvente tem de partir da vontade do devedor e só
lhe é atribuída se este a tiver requerido. Essa vontade é expressa no pedido.
Se for o devedor a apresentar-se à insolvência, deve constar da petição inicial
o pedido para administrar a massa insolvente. Se, por outro lado, o processo
resultar por iniciativa de outrem, então o devedor deve requerer a
administração na contestação. É imprescindível que o devedor queira
assumir a administração da massa insolvente, essa decisão não lhe deve ser
imposta. O devedor deve ter consciência da tarefa que terá em sua posse, já
que lhe será confiada a recuperação da sua empresa.
Decorre do art. 224º/2 al. B que é imprescindível que o devedor já tenha
apresentado ou se comprometa a apresentar um plano de continuação e
exploração da empresa por si próprio, no prazo de 30 dias depois da sentença
de declaração da insolvência.
O art. 224º/2 al. C refere que só é conferida esta administração se não houver
“razões para recear atrasos na marcha do processo ou outras desvantagens
para os credores”. Embora se perceba que é intenção do legislador dar
continuidade ou recuperar a empresa, esta norma não é totalmente clara e dá
azo a várias interpretações. A autora Catarina Serra afirma que a norma nem
sequer indica que terá que ser um “fundado receio” ou um “justificado
receio” ou um “risco sério”. A indeterminação é tanta que nem estes
conceitos indeterminados, a que no Direito estamos mais habituados,
existem na norma. Daí que se conclua que o juiz só pode aceitar o pedido
quando não exista qualquer razão para receios, o que leva maioritariamente
ao indeferimento dos pedidos já que se torna quase impossível prever que
não vão haver receios nenhuns, nomeadamente atrasos no processo e
desvantagens diversas que atinjam os interesses dos credores.
Por fim, ainda no nº 2 do art. 224º, estabelece a al d) que quando o requerente
da insolvência não for o devedor, tem que existir o acordo de quem a pediu
para que seja concedida a administração da massa insolvente ao devedor.
Catarina Serra concluí que, à luz do anterior requisito, o juiz deve, ao abrigo
dos seus poderes de investigação, ouvir o requerente precisamente para
indagar sobre os riscos que possam existir no caso de a administração ser
dada ao devedor, percebendo-se, nesse momento, se o requerente dá o seu
acordo ou não. Art. 227º.
De notar também que os credores têm legitimidade para conceder a
administração ao devedor, tal como refere o nº 3 do art 224º. Têm que se
verificar da mesma forma os requisitos das als a) e b) do nº 2, sendo que o
prazo de 30 dias da al b) se conta “a partir da deliberação dos credores” “na
assembleia de apreciação de relatório ou em assembleia que a preceda”36.
Nesta hipótese, as als c) e d) do nº 2 da mesma norma, não necessitam de se
verificar. Aqui o pedido é feito depois da declaração de insolvência e antes
da reunião da assembleia de credores, sendo, neste caso, a decisão da
atribuição da administração ao devedor, mais tardia.
Quanto a esta hipótese CARVALHO FERNANDES e JOÃO LABAREDA
levantam uma dúvida acerca da possibilidade de o devedor requerer a
administração por ele próprio, após a sentença que decreta a situação de
insolvência, diretamente à assembleia de credores, sem o ter feito, em tempo,
ao tribunal. Explicam os Autores que, apesar de a letra da lei não ser clara, o
nº 3, do art. 224º, não coloca nenhum entrave a esta situação, sendo suficiente
que o devedor tenha requerido que a administração da massa seja feita por
ele. Referem também que não há “um momento próprio” para esse pedido,
que deve apenas ser feito a tempo da realização da referida assembleia.

Tipos de plano de Insolvência – Planos de liquidação (em que termos tem


de ser feita a venda dos bens e sua repartição pelos credores), plano de
recuperação (visa recuperar a empresa) e plano de saneamento. Aplica-se a
pessoas jurídicas detentores e titulares de uma empresa.
Exoneração do passivo restante – art. 235º e seguintes – é aplicável apenas
a pessoas singulares. Créditos não abrangidos – art. 245º/2.

Aula 23/11/2021

Aula Prática 23/11/2021

CASO PRÁTICO N.º 7


Miguel andava de livraria em livraria, na zona oeste do país, durante 5
anos, a promover a venda de livros da marca Jurídica Editora, cuja
sociedade se denominava JURÍDICA EDITORA, LDA. A referida
sociedade possuía um manual de boas práticas bastante pormenorizado.
De acordo com o manual, entregue a todos os distribuidores no início da
sua atividade com a JURÍDICA EDITORA, LDA., os distribuidores
deveriam simplesmente explicar aos donos das livrarias as qualidades e
especificidades do produto da sociedade, face à competição. Ainda
constava do manual de instruções diretas e específicas quanto a
encomendas e pagamentos: não podiam “aceitar” encomendas ou
pagamentos, mas apenas “transmitir” internamente os pedidos dos
clientes, a processar pelo departamento operacional. Mais se estabelecia
no manual que quanto à apresentação do distribuidor, este deveria
sempre usar uma camisa, acompanhado de uma gravata vermelha e
cabelo curto e penteado. Não poderiam utilizar usar brincos, piercings
ou outros adereços que a sociedade entendesse que “mancharia” a
imagem da prévia. Deviam apresentar-se com um cartão de visita da
empresa e não podiam usar, nos seus contactos com os clientes, outro
endereço de e-mail que não o da empresa.
Do contrato assinado por Miguel em 2013 constava (i) uma obrigação de
não concorrência por um prazo de 5 anos após a cessação do contrato;
(ii) um direito de exclusivo na zona oeste do país, (iii) que a sua
remuneração se resumiria à comissão de 10% do preço de cada produto
vendido pela JURÍDICA EDITORA, LDA às livrarias contactadas por
Miguel, incluindo esta comissão a compensação pela clientela criada
pelo que, findo o contrato, nada mais terá a haver da empresa; e (iv) um
prazo de 2 anos.
Em janeiro de 2017, Miguel teve uma epifania e dedicou-se ao budismo.
Rapou o cabelo e apenas utilizava uma veste. Os donos das livrarias com
quem interagia começaram a olhá-lo com desconfiança.
Miguel começou também a espalhar ensinamentos asiáticos aos donos
das livrarias, apenas apresentando como livros da JURÍDICA
EDITORA, LDA. contos budistas.
1.Em julho de 2017, a JURÍDICA EDITORA, LDA. escreveu a Miguel,
pondo fim imediato ao contrato. Miguel, referiu que a sociedade não
tinha fundamento para tanto, sendo que pretendia continuar a
trabalhar e a receber as comissões devidas.
Contrato de agência – art. 1° do DL 178/86. Aplica-se o DL.
As partes até findo o prazo contratual continuaram a executá-lo (contrato em
2013, 2 anos, agr é 2017). Tempo indeterminado – Art. 27º/2 (doutrina:
renovação do contrato, as partes observaram os direitos e obrigações do
antigo contrato como se este não tivesse caducado).
Pode denunciar um contrato indeterminado. Art. 28º - duração do pré-aviso
(tempo para se preparar pra uma nova realidade e evitar rupturas bruscas).
Exercício abusivo do pré aviso – figura do abuso do direito.
Não observação do art. 28º - aplica-se o art. 29º.
Ou pode resolver o contrato – art. 30º/al. B. (circunstâncias objetivas, não há
incumprimento por nenhuma das partes).
A alínea A poderia ser suscitada. Poderia estar em causa o art. 6º e 7º. Miguel
desrespeitou as instruções do principal e o fez de forma reiterada. É grave
suficiente para acabar com o contrato?
Art. 31º - declaração da resolução deve ser feita por escrito no prazo de um
mês.
Autonomia do agente não é absoluta, deve adequar-se a empresa.

2.Segundo Miguel, mesmo que o contrato ficasse sem efeito, ele teria de
ser compensado pela clientela que criou, considerando que os clientes
continuaram a efetuar encomendas à JURÍDICA EDITORA, LDA.
Art. 33º/1 – não é uma verdadeira indemnização. É uma compensação devida
após a cessação do contrata, independentemente da forma que o contrato
acabou. O principal continua a se beneficiar da atividade do agente. Não há
informações suficientes para preencher as alíneas. Devemos presumir o
preenchimento de uma delas. Cálculo – art. 34º. Discussão sobre a natureza
desta figura.
Ou art. 33º/3

Contratos de Agência – DL 178/86. Requisitos art. 1º: existência de uma


obrigação essencial, existência de estabilidade, de autonomia e autuação por
conta da outra parte. É um contrato de distribuição. Um intermediário que
convence uma parte a celebrar contrato com a outra.
O agente age por conta de outra parte – no exercício de sua atividade o
agente deve atuar sempre por conta do principal, e os efeitos jurídicos de sua
atuação devem reverter-se na esfera jurídica do principal. É colaborador e
representa-o economicamente. O agente tem um número infinito de
operações em que atua de forma estável.
O contrato de agência é típico, está previsto na lei. Tem de fundamentar a
aplicação analógica.

Aula 25/11/2021
Aula Prática 01/12/2021

3.Miguel sustentou ainda que este deveria reclamar à JURÍDICA


EDITORA, LDA. a comissão contratualmente prevista por cada
produto vendido por esta às livrarias do oeste do país através da loja
online criada em 2016.
Ao agente é conferido o direito à comissão após o término da relação de
agência. Este direito dependerá, no entanto, da verificação de dois
pressupostos cumulativos.
O primeiro prende-se com a negociação ou a preparação do contrato final
ainda no decurso da vigência do contrato de agência. Importante aqui, será
saber se o agente teve intervenção preponderante na conclusão do contrato
entre o cliente e o principal.
Uma vez verificada esta condição, cumprirá averiguar da existência do
segundo pressuposto, ou seja, se o contrato foi celebrado num prazo razoável
subsequente ao termo da relação de agência. A prova destas factualidades
caberá inteiramente ao agente.
Segundo o preceito legal, o direito à comissão (por parte do agente) torna-se
sempre exigível, não podendo nunca ser derrogado pelas partes, quando o
terceiro haja cumprido o contrato ou devesse tê-lo cumprido na sequência do
cumprimento do principal.
Consoante o art. 16º/2, o agente exclusivo tem direito à comissão de qualquer
contrato celebrado com clientes pertencentes à sua zona reservada ou ao
círculo que lhe foi confiado, mesmo que nos mesmos não tenha tido qualquer
tipo de intervenção.
Problema de exclusividade. Tem de existir um acordo escrito no sentido da
exclusividade (art. 4º). O próprio principal está a exercer concorrência com
o agente. Portanto, o art. 4º não se aplica. Tem sempre direito a comissão –
art. 16º/2. Art. 12º.

4.Em agosto de 2017, a JURÍDICA EDITORA, LDA. reclamou um


pagamento em atraso à LIVRARIA BELA, LDA.. Esta afirmou que já
pagou a Miguel em maio desse ano, pelo que nada deve à empresa.
De acordo com o art. 3º/1 do DL 178/86, a cobrança de créditos só pode ser
realizada pelo agente se a outra parte o autorizar, sendo que o nº2 ainda
estabelece uma presunção de autorização para os casos em que o agente seja
dotado de poderes de representação.
Na hipótese prática em questão, do acordo entre as partes resultava que o
agente não tinha poderes de representação e que não poderia receber
pagamentos, apenas transmitir os pedidos dos clientes.
Além disso, o art. 21º estabelece um dever de informação ao agente, baseado
nos princípios da tutela da confiança (de terceiros) e da segurança nas
transacções comerciais. Consoante este dever, O agente, nas relações
negociais com pretensos clientes, deverá ostentar uma imagem fiel dos
poderes de representação que lhe foram conferidos pelo principal. Assim, o
agente encontra-se legalmente obrigado a demonstrar, de forma clara e
objectiva, se dispõe ou não, de poderes suficientes para celebrar contratos e
efectuar cobranças em nome e por conta do principal.
Assim, considera-se que a obrigação não foi extinta – art. 3º/3 (art. 770º do
CC).
Art. 23º - susceptível de ser aplicável. Requisitos objetivos e subjetivos –
não estão preenchidos.

5.Na sua carta de resposta, a LIVRARIA BELA, LDA.. reclamou ainda


uma compensação pelo facto de a JURÍDICA EDITORA, LDA. não ter
entregado os produtos por si encomendados 4 meses antes e que Miguel
garantiu que seriam entregues no mês seguinte.
Miguel não possuía poderes de representação. Assim, tal obrigação só será
oponível ao principal se estiver em causa a figura da representação aparente,
prevista no art. 23º. Este artigo prende-se directamente com a defesa dos
princípios gerais da boa fé e da tutela de terceiros, visando proteger, no seio
do contrato de agência, tanto o cliente de boa fé, como o principal, em cuja
esfera jurídica os efeitos do negócio se irão reflectir.
Porém os requisitos da mesma não se encontram preenchidos.
Não há nenhum acordo escrito que confira poderes de representação – art.
2º. Art. 22º - só é eficaz se o principal ratificar o contrato. Caso não se
preencha os requisitos do art. 22º, devemos considerar a aplicação do art.
23º. Porém, os requisitos deste também não se encontram preenchidos.
Aula Prática 04/12/2021

6. Em setembro de 2017, Miguel decidiu montar o seu próprio negócio,


aproveitando um contacto da MELHOR EDITORA, S.A. que queria
introduzir os seus produtos no mercado português, aproveitando os
contactos que Miguel tinha nas livrarias do oeste do país. Para o efeito,
Miguel deveria comprar os produtos à MELHOR EDITORA, S.A. e
depois revendê-los pelas livrarias. Usaria para o efeito as marcas, os
materiais publicitários e as amostras da MELHOR EDITORA, S.A..
Miguel estava na dúvida sobre esta possibilidade, visto que se recorda
de uma tal obrigação de não concorrência no contrato com a JURÍDICA
EDITORA, LDA.
Em primeiro lugar, é preciso referir que entre Miguel e a MELHOR
EDITORA,S.A., parece ter sido celebrado um contrato de concessão
comercial, que consiste no contrato pelo qual o concedente se obriga a
vender certos produtos ao concessionário, ficando este último obrigado a
comprar tais produtos para revenda em nome e por conta própria numa
determinada zona geográfica. É um contrato atípico, ou seja, que não esta
previsto na lei, mas é de ocorrência bastante comum. O concessionário deve
escoar os produtos da concedente de forma a promover os produtos do
mesmo. Se estabelece uma relação jurídica estável e duradoura, em
semelhança ao contrato de agência.
Quanto a obrigação de não concorrência, apesar de não configurar um
elemento natural do contrato de agência, as partes poderão convencionar
uma restrição das actividades profissionais do agente após a cessão do
contrato, a qual, no entanto, deverá obedecer a determinadas condições e
limites. Não pode o novo contrato ter o mesmo objeto e os mesmos produtos.
Consoante o art. 9º/1 do DL 178/86, o pacto de não concorrência deverá, sob
pena de nulidade, ser reduzido a escrito. Além disso, de acordo com o nº 2
do mesmo artigo, tal obrigação deverá circunscrever-se a uma determinada
zona ou círculo de clientes, não podendo exceder os dois anos de duração.
Dessa forma, o prazo de 5 anos previsto no contrato não é permitido. Porém,
aqui pode aplicar-se a redução do negócio, prevista no art. 292º do CC,
ficando, portanto, a obrigação de não concorrência com a duração de 2 anos
(princípio da aproveitamento do negócio jurídico). Assim, como ainda não
decorreu este prazo desde a cessação do contrato de agência, Miguel não
pode celebrar o contrato com a MELHOR EDITORA.
Ademais, em virtude da celebração desta convenção, terá o agente direito a
uma compensação, nos termos do art. 13º/al. G do Decreto-Lei nº 178/86,
sendo que o montante se deverá calcular, por analogia, com base no disposto
no artigo 15º, ou seja, segundo os usos ou, na falta destes, de acordo com o
princípio da equidade.

7.Durante pouco mais de um ano, Miguel e a MELHOR EDITORA, S.A.


mantiveram uma relação negocial bem-sucedida. Não obstante, no final
de outubro de 2018, a MELHOR EDITORA, S.A. enviou uma carta a
Miguel denunciando o contrato com uma antecedência de 10 dias.
Miguel ficou estupefacto: efetuou investimentos avultadíssimos na
promoção dos produtos da MELHOR EDITORA, S.A e na constituição
de stocks, de acordo com o plano de negócios desenhado em conjunto
com a MELHOR EDITORA, S.A.
A concessão comercial se trata de um contrato atípico, ou seja, que não está
previsto na lei. Assim, a este tipo de contrato aplicam-se os princípios
estabelecidos na lei para a generalidade dos contratos e, analogicamente, o
regime jurídico do contrato de agência, com as necessárias adaptações.
Ambos são contratos de distribuição com características semelhantes, não se
justificando a não aplicação do DL, de forma a deixar o concessionário
desprotegido.
Dessa forma, a denúncia está prevista no art. 24º/al. C do DL 178/86 e
consiste em uma declaração unilateral do termo de uma relação contratual
ilimitada no tempo, que se torna eficaz quando chega ao conhecimento da
outra parte (artigo 224º/1 do CC). Esta figura possui três limitações, que
decorrem do art. 28º/1.
Em primeiro lugar, a denúncia só se aplica nos contratos celebrados por
tempo indeterminado. Em segundo lugar, ela deve ser celebrada por escrito.
E por fim, deve respeitar os prazos de pré-aviso fixados na lei. O primeiro e
segundo requisito parecem estar preenchidos, visto que no contrato
celebrado não foi estabelecido um prazo para seu término e que a denúncia
foi feita através de uma carta.
Porém, quanto ao prazo do pré-aviso, este não parece ter sido respeitado,
uma vez que, consoante o art. 28º/1 al. B, quando o contrato dura há mais de
um ano, o pré-aviso deve ser de 2 meses.
O desrespeito desta norma causa a ilicitude da denúncia e, em conformidade
com o art. 29º/1, fica o denunciante obrigado a indemnizar o outro
contraente, pelos danos causados com a falta de pré-aviso.
Todavia, ao invés da indemnização, Miguel tem a possibilidade de exigir
uma quantia calculada, com base na remuneração média mensal, auferida no
decurso do ano precedente, multiplicada pelo tempo em falta, de acordo com
o disposto no n.º 2, do artigo 29.
A questão dos stocks. No âmbito da agência, necessariamente existe uma
obrigação de restituição dos bens, pois não existe uma obrigação de adquirir
para depois revender os bens (art. 36º). Na concessão, ocorre o contrário,
pois o concessionário compra para a revenda os produtos do principal. Uma
jurisprudência diz que não tem obrigação de restituição, outra doutrina diz
que isto não é consoante o princípio da boa fé.

8. Miguel, cansado de todos os problemas com as editoras, decide abrir


o primeiríssimo Wendy’s em Portugal. Porém, não sabe que contrato
deve celebrar para o efeito.
Pode celebrar um contrato de franquia, no qual o franquiador concede ao
franquiado o direito de exploração e fruição de sua imagem empresarial e
respectivos bens imateriais de suporte (como a marca), no âmbito da rede de
distribuição do primeiro, de forma estável e a troco de uma retribuição. É
muito mais complexo. É um contrato-quadro, atípico, consensual e oneroso.
Neste caso em concreto, se tal contrato fosse celebrado, se trataria de
uma franquia de serviços (franqueado oferece um serviço sob a
insígnia, nome comercial ou marca do franqueador, conforme diretrizes
deste).
Entre seus elementos essenciais estão a fruição da imagem empresarial do
franquiador, a transmissão do know-how e assistência técnica, o controlo e
fiscalização do franquiado, e a onerosidade.
Também é um contrato atípico, mas admite-se a aplicação analógica, com as
necessárias adaptações do regime jurídico do contrato de agência.
Não se reduz a um contrato de distribuição, pois trata-se de um
contrato pela qual alguém autoriza e possibilita que outrem,
mediante contrapartidas, atue comercialmente, de modo estável, com a
formula de sucesso do primeiro e surja aos olhos do público com a sua
imagem empresarial, obrigando-se a atuar segundo esses termos, as respeitar
as indicações que lhe forem dadas e a aceitar controlo e a fiscalização a que
for sujeito.

Contratos de franquia de serviços – o franqueado oferece um serviço sob a


insígnia, o nome comercial ou mesmo a marca do franqueador,
conformando-se com as diretrizes deste último.
Contratos de franquia de produção – o próprio franqueado fabrica, segundo
as indicações do franqueador, produtos que ele vende sob a marca deste. Ex:
coca cola – a casa mãe autoriza, mediante contratos de franquia, que fábricas
que estão em todo o mundo produzam e comercializem esse produto.
Contratos de franquia de comercialização – o franqueado limita-se a
vender certos produtos num armazém, que usa a insígnia do franqueador. Ex:
Mc. Donalds.
No acórdão de unificação de jurisprudência há uma discussão se pode ou
não aplicar a alínea C do art. 33º do DL 178/86 ao contrato de concessão
comercial. Neste contrato o concessionário age em nome e por conta própria,
ficam os riscos da comercialização por sua conta. Porém, o concessionário
não é totalmente passivo na relação do produto e do consumidor e com sua
relação com este último consegue vender o produto. Por isso, merece ser
indemnizado.

Aula de Dúvidas

Após classificar uma pessoa como semelhante a comerciante dizemos que


pode-se considerar a aplicação analógica do regime dos comerciantes
mediante o caso concreto. As normas a ser aplicadas analogicamente vão
depender das informações do caso, podendo tal ser justificado ou não.
Art. 120º - resolução em benefício da massa insolvente. Interferir na
autonomia privada e em um negócio que não celebrei. Tem de existir má fé
(nº 4 e 5). Condicional, tem de observar certos requisitos. Incondicional –
art. 121º - taxativo, não tem requisitos.

2º Semestre
Aula 25/02/2022

O que é uma Sociedade? > o que é o que comporta? Estamos a falar de


uma pessoa coletiva, ou seja, de uma pessoa diferentes das outras que
integram e compõe esta sociedade comercial.
Nesta sociedade comercial que, por natureza, não tem vontade, precisa de
pessoas humanas que materializem essa vontade. O certo é que a sociedade
comercial tem uma personalidade jurídica e própria, diferente das pessoas
que a integram.
Elementos: Duas ou mais pessoas; Contribuição para essa atividade:
objetivo lucrativo, com vista na repartição de lucros.
Para prosseguir um determinado objeto, preciso de uma administração, ou
seja, uma gestão, que decida – decisões de gestão (podem ser em larga ou
pequena escala)> como vou prosseguir a minha atividade comercial? Esse
alguém que irá decidir e tomar as decisões de gestão designa-se por Conselho
de Administração.
Mas de onde provém o dinheiro para tomar essas decisões? Aí aparecem
os sócios, que podem aparecer em dois momentos.
Sócios fundadores: estão na sociedade desde a sua fundação, aportando
uma vantagem patrimonial para a mesma, no sentido da obtenção de lucros.
Quem são os donos do capital social? São os acionistas. O capital social
não é o património da sociedade, correspondendo ao valor das entradas de
cada um dos sócios. Todavia, nem sempre p capital social corresponde ao
património de forma igualitária (ex.: entro com um imóvel cujo valor
patrimonial é maior que o capital da sociedade; o inverso não deve suceder;
não posso entrar com algo de valor inútil, como uma pastilha, esperando
retornos elevados).
Sociedade – elemento pessoal + elemento patrimonial > prossecução do
objetivo teleológico com vista à repartição de lucros.
Desta forma, tipicamente há mais do que um socio, bens e valores a entrar,
estando uma atividade económico-comercial a ser exercida.
As sociedades civis puras – Não são propriamente um tipo societário –
princípio da tipicidade -, isto é, não estão expressamente previstas pelo
legislador. Um exemplo delas serão as sociedades de advogados. Então, qual
é a sua utilidade? Nelas afloram vetores essenciais para se perceber o que é
uma sociedade comercial, isto é, revelam características próprias das
sociedades comercial, cujo regime está presente no art. 980º CC.
Contrato de Sociedade, noção prevista no art. 980.º CC: Todas as partes
têm que aportar valor à sociedade, resultante em vantagens patrimoniais;
Exercício em comum; Repartição dos lucros – normalmente pensamos em
dividendos, mas estamos a falar de todo o escopo lucrativo; Não está sujeito
a forma especial, mas quando os bens aportados à mesma estão sujeitos a
formalidades, então, o contrato de sociedade em causa deve revestir a mesma
forma. Praticidade reduzida, mas com pontos pedagógicos interessantes.
Princípio do Direito das Sociedades:
Autonomia privada – Como opera e se constitui.
Propriedade privada – Modos de gerir património alheio
Boa fé e tutela da confiança – Exigência crescida de tutelar a aparência
das decisões que se têm
Igualdade e tutela das maiorias e minorias
O que difere a Galp da Janelas LDA? Galp: Vários colaboradores;
Presença internacional; Estrutura de governo; Estrutura super complexa:
capitais próprios e alheios, cotação em bolsa. Janelas LDA: Estrutura mais
simples e até familiar.
Mas têm coisas em comum: estruturas de governo com vista à prossecução
da atividade comercial, personalidade jurídica própria, intuito lucrativo,
governance adequada à atividade comercial, objeto mediato (lucro) e
imediato (objeto social), elemento teleológico.
Todavia, numa justifica-se umas coisas, noutra não se justifica. Tal é
particularmente notório no âmbito fiscal: um pode ter um conselho fiscal que
não se justifica ter numa sociedade cuja estrutura é mais pequena.
Quid iuris se encontrar a solução para um problema previsto para um tipo
societário distinto do meu? A primeira resposta seria não, mas nem sempre.
Alguns temas que estão na parte geral e não estão especial é evidente, mas o
inverso também pode suceder. Defende-se a a aplicação analógica de normas
de outro tipo societário.
Quem são as partes das sociedades? Os sócios.
Nos estatutos encontro a vida da sociedade: quantas vezes se reúnem os
conselhos, qual a estrutura adotada em termos fiscais, etc.
Consequências da personificação da Sociedade:
Autonomia de imputação de atos materiais e jurídicos – quem compra
e vende é a sociedade, quem comete o ilícito é a sociedade per si > este é o
juízo primeiro, ainda que se afira a licitude dos seus decisores – quem vai ser
réu é a sociedades
Pelas dívidas da sociedade respondem as dívidas da sociedade – os
bens dos sócios não respondem por elas.
Então, os sócios podem agir pela sociedade visando libertarem-se da sua
responsabilidade? Estes são casos de fraude, que nos permitem perceber
estas consequências.

Aula 02/03/2022

Aula Prática 04/03/2022

Paulo Olavo Cunha, Menezes Cordeiro, Coutinho de Abreu, Código


Anotado de Coimbra.
Analisar o Artigo Pedro Maia para a Próxima Aula. Distinguir claramente os
diferentes tipos de sociedade. Casos Práticos.

As Sociedades Comerciais são aquelas que tem por objeto a prática de atos
comerciais (art. 1º do CSC).
Art. 1º a 196º - é a parte geral, pois este é o regime que se aplica a todo
tipo de sociedade. Depois se começa a detalhar as características de cada
tipo. Por quotas – art. 197º. Coletivo – art. 175º. Anónima – art. 271º.
Comandita – art. 465º.
Anónima, Coletiva e Por Quotas – se distinguem pelo critério da
responsabilidade.
As sociedades se caracterizam pelo fato de eu comerciante não quero eu
próprio incorrer em todos os danos do meu património, do meu negócio. Se
eu incumprir as minhas obrigações o banco pode vir até minha casa e exigir
dinheiro. Com uma Sociedade, com personalidade e capacidade própria, eu
não poderei ser responsabilizado, cria-se uma ficção jurídica. Uma pessoa
coletiva necessita que alguém aja por ela, precisa de sócios e representantes
para executar atividades materiais que só conseguem ser feitas por seres
humanos.
Tem um património autónimo e pode ser titular de direitos e deveres. Mas
aqueles que tem caráter iminentemente pessoal não se aplicam.
A Sociedade nasce com o registo (art. 5º)

Aula 04/03/2022

Contrato de sociedade – art. 980º do Código Civil. Abrange duas ou mais


pessoas – art. 7º/2 do CSC.
A sociedades eram vistas como uma forma de o comerciante transfere o
risco da sua atividade para os credores sociais. Posteriormente, o fato de uma
Sociedade ser unipessoal contrariou isto. Art. 104º. Art. 84º do CSC. Art.
491º e 501º a 503º).
Sociedade Unipessoais por quotas – art. 270º-A a 270º-G.
O CC modernizou a sociedade civil e abrange também a matéria comercial.
A sociedade civil não está sujeita a forma escrita. Há apenas a situação das
entradas – art. 983º. Direitos dos sócios – art. 989º a 999º. Regras dos lucros
e das perdas – supletivas. Organização simples – administração conjunta.
Deliberação conjunta ou maioritária. Representação – o administrador
também é o representante. Dissolução e liquidação – não há uma dissolução
automática, representa o início de um processo extintivo.
As sociedades civis não são tratadas, no CC, como meros contratos. Apesar
disso, a sociedade tem sido vista como forma de aplicação de certas regras
aos fenómenos sociais, ainda que não tenham sido constituídas com este
intuito.
Problema da personalidade jurídica das sociedades civis
Capacidade de gozo das sociedades comerciais – a SC só tem
personalidade a partir da data do registo definitivo do contrato pelo qual se
constituem. As pessoas coletivas se regem pelo princípio da especialidade –
art. 160º do CC. Art. 6º/1 – capacidade das SC.
O problema coloca-se com o art. 6º/2 e 3. Teoria da Eliminação.
Se um contrato for celebrado pelo órgão social a sociedade ficará
vinculada.

Aula Prática 08/03/2022

Sociedade em nome Coletivo – sócios respondem perante a sociedade


pela sua obrigação de entrada e perante os credores da sociedade pelas
obrigações desta. Responsabilidade por dívidas é subsidiária em relação à
sociedade e solidária perante os sócios (art. 175º/1).
Art. 182º/1 – a parte de um sócio só pode ser transmitida com o
expresso consentimento dos outros sócios. Se for recusado o sócio poderá
exonerar-se da sociedade recebendo o valor de sua parte (art. 185º/1 al. A e
105º/2).
Art. 7º/2 – nº mínimo de 2 sócios.
Sociedade por quotas – sócios solidariamente responsáveis por todas as
entradas convencionadas no contrato social, respondendo perante a
sociedade. Não responde perante os credores (limitada). Art. 197º/1 e 3. Art.
198º - pode ser estabelecido que um ou mais sócios respondam perante
credores até determinado montante, podendo ter natureza subsidiária ou
solidária (traço-regra supletivo).
Art. 228º/2 – carece do consentimento da sociedade, excepto se for
entre conjugues, ascendentes, descendentes ou entre sócios. Regime pode ser
derrogado no contrato. Art. 231º/1 – se a sociedade recusar deve oferecer ao
sócio (de + de 3 anos) uma proposta de amortização ou de aquisição da sua
quota, sob pena de a cessão se tornar livre (art. 231º/2 al. A).
Art. 7º/2 – nº mínimo de 2 sócios. Unipessoal – art. 270º-A.
Sociedade Anónima – sócios só respondem por suas próprias entradas e
não pelas obrigações assumidas por seus consócios, e não respondem pelas
dívidas da sociedade (duplamente limitada). Art. 271º.
Art. 328º/1 – em princípio, a transmissão das ações é livre, mas o
contrato pode limitar (nunca excluir) a transmissão das ações nominativas e
não das acções ao portador. As limitações devem constar do próprio título
das ações (art. 328º/4), sob pena de serem inoponíveis a terceiros de boa fé.
Art. 329º/ 3 al. A e B - prazo de 60 dias para recusar ou conceder, sob pena
da transmissão se tornar livre.
Art. 273º/1 e 2 – nº mínimo de 5 sócios ou, se o Estado, empresas
públicas ou outras entidades de equiparadas por lei para este efeito,
detiverem a maioria do capital, pode a sociedade ser composta por 2 sócios.
Pode ser unipessoal (art. 488º/1), desde que seja constituída por uma
sociedade por quotas, sociedade anónima ou comandita por acções (art.
481º/1.
Sociedade em comandita simples – Sócios Comanditados –
responsabilidade igual a da sociedade em nome coletivo. Sócios
comanditários – respondem apenas por suas próprias entradas. Art. 465º/1.
Sócios Comanditados – art. 469º/1 – necessidade de deliberação dos
sócios, sob pena de ineficácia da transmissão, excepto se o contrato for
diverso. Sócios comanditários – art. 475º, mesmo regime das sociedades por
quotas.
Art. 7º/2 – nº mínimo de 2 sócios.
Sociedade em comandita por ações – a responsabilidade é igual a
comandita simples.
Sócios Comanditados – mesmo regime da comandita simples. Sócios
Comanditários – mesmo regime das sociedades anónimas (art. 478º).
Art. 479º - nº mínimo de 6 sócios, 1 comanditado e 5 comanditários.
Sociedade de pessoas – importância da pessoa do sócio no exercício da
atividade comercial. Ex: sociedade em nome coletivo.
Sociedade de capitais – o que importa é a participação de capital do sócio,
seu contributo patrimonial para o exercício da atividade comercial. Ex:
sociedade anónima.
A tipicidade é uma forma do legislador proteger a segurança jurídica e os
interesses de terceiros que contratam com a sociedade. Também protege o
interesse dos sócios, principalmente os minoritários na comandita por acções
e anónima. Há um acréscimo de segurança e certeza em sua relação jurídica
com a sociedade. Proteção do interesse público, pois as sociedades são
instrumentos fundamentais na economia, tornando o tráfico jurídico mais
estável e certo.
Quando se constitui uma sociedade temos um novo ente autónomo com
personalidade jurídica. Vertente ativa – capacidade de gozo e de exercício
de direitos. Vertente negativa: se eu posso ter bens, posso ser responsável
pelo pagamento de dívidas.
Elemento pessoal: reunião voluntária de duas ou mais pessoas. Elemento
patrimonial. Exercício comum de uma atividade económica. Há uma partilha
dos lucros.
Há uma determinada autonomia patrimonial. Um ente autônomo que corre
os riscos do comercio que não os sócios. É a sociedade que tem os bens e o
capital e incorre nos riscos.
Como a pessoa coletiva é autônoma, os bens da sociedade se diferem dos
bens dos sócios.
A sociedade como pessoa coletiva nasce mediante a celebração de um
contrato entre seus sócios. Através do cumprimento dos sócios de sua
obrigação de entrada a sociedade terá um património para que posso começar
a exercer a atividade. A partir do momento que existe esta obrigação de
entrada e a mesma é cumprida, esta se transfere automaticamente para a
esfera do património da sociedade. O sócio recebe em troca um títula a dizer
que faz parte da sociedade e que tem direito aos lucros.
Eu sou obrigada imperativamente a se eu celebrar um contrato de
sociedade comercial observar um dos tipos que estão no art. 1º/3. Cada tipo
é dotado de características distintas e imperativas. Isso acontece por virtude
da segurança jurídica e interesse de terceiros, pelo interesse dos sócios
minoritários e pelo interesse público.
Os credores tem de saber com o que contam. O banco tem de saber se pode
ou não contar com o património dos sócios ou se terá apenas de contar com
o património da sociedade. Além disso, as sociedades comerciais têm uma
grande importância, muitas pessoas contratam com elas. Tem de ser regulado
com certeza, estabilidade e de forma imperativa.
Em nome coletivo – art. 275º, pessoal e ilimitadamente pelas dívidas da
sociedade perante os credores, respondendo também perante a sociedade
pela sua obrigação de entrada. Por quotas, art. 197º, respondem perante a
sociedade pelas obrigações de entrada dos sócios, mas pode vincular um ou
mais sócios a pagar até determinado montante para os credores
(responsabilidade limitada). Anónima, os sócios não se vinculam as dívidas
da sociedade, respondem apenas pela sua própria entrada.
Em nome coletivo, para transmitir tem de obter o consentimento dos outros
sócios (expresso). Por quotas, exigida a maioria dos sócios, excepto se
transmitir para pessoas próximas. Anónima, a regra geral é a liberdade de
transmissão, mas no contrato pode-se limitar a transferência, mas nunca
excluir.
Uma pessoa coletiva é uma ficção jurídica que precisa de pessoas para
formar sua vontade. Sua vontade é formada através dos órgãos.
Em nome coletivo, assembleia de sócios e gerente (qualquer sócio pode ser
gerente, podem agir de forma autónoma e podem vincular a sociedade sem
o consentimento dos outros). Por quotas, assembleia de sócios (art. 246º é
imperativo), gerência (tem de haver uma reunião colegial para decidir se a
sociedade vai se vincular ou não), pode ter conselho fiscal. Anónima,
assembleia (menos competências, tudo o que não for resolvido pelo conselho
de administração pode ser resolvido na assembleia).
Anónima, tem diferentes tipos de organização. É uma estrutura mais
complexa.
Órgãos deliberativos, administrativos, representativos e fiscalizadores. Os
primeiros formam a vontade jurídica da pessoa coletiva, se define o destino
da sociedade. Os segundos gerem a sociedade (seu cotidiano) e representam
a sociedade. Os terceiros fiscalizam a atuação dos outros órgãos e o
cumprimento das regras.
Livro do professor José Ingracia Antunes.

Aula Prática 11/03/2022

CASO PRÁTICO N.º 1 (Constituição de Sociedades Comerciais e


Desconsideração da Personalidade Coletiva)
Adalberto, Baltasar, Caetana e Jorge pretendem constituir uma
sociedade. Discutiram vários aspetos, em particular, o tipo da sociedade,
as atividades que iriam exercer, e o local onde ficariam sediados, que
reduziram a escrito. Foram posteriormente ao registo comercial para
finalizar a constituição da sociedade, que denominaram Grandes
Construções, S.A..
Durante um período inicial a sociedade efetuou grandes empreitadas,
porém, meses depois, alterou o seu ramo de atividade para a venda de
brinquedos, da marca “LEGO”.
Adicionalmente, quando começou a obter lucros, a Grandes
Construções, S.A. passou a doar avultados montantes a hospitais, no
rescaldo da pandemia COVID 19, e a prestar gratificações aos seus
trabalhadores. Em junho de 2020, face às dificuldades financeiras do seu
principal fornecedor, afiança o prévio no âmbito de um financiamento
bancário fundamental para a sua sobrevivência
1.Analise o procedimento adotado por Adalberto, Baltasar, Caetana e
Jorge para constituir a Grandes Construções, S.A. .
De acordo com a regra geral do art. 7º/2 do CSC, o número mínimo de sócios
para se constituir uma sociedade comercial é 2. Porém, por se tratar de uma
Sociedade Anónima, existe uma excepção. Consoante o art. 273º/1, para
constituir uma Sociedade Anónima são necessários 5 sócios. O número
mínimo de sócios não foi atingindo, não podendo, portanto, a sociedade ter
sido constituída. Uma sociedade anónimo só poderia ser constituída com um
número inferior a 5 sócios se o Estado detivesse a maioria do capinal (art.
273º/2). O contrato de sociedade poderá ser declarado nulo, conforme o art.
42º/1 al. A.
Ademais, o contrato de sociedade deverá conter todos os elementos previstos
no art. 9º e 272º. A ausência de um dos elementos obrigatórios conduz à
invalidade do contrato, nos termos do art. 42º/1.
Segundo o CRC, estão sujeitos a registo, logo pelo art. 3º, vinte e um grupos
de atos relativos a sociedades comerciais e civis sob forma comercial, que
poderemos ordenar da forma seguinte: o contrato de sociedade e, em geral,
as suas modificações.
Nº mínimo de sócios não foi respeitado, consequências disto, a doutrina
entende que é uma consequência muito gravosa para o caso (142º/1 al. A).
Processo de formação não estava completo, não respeitar a forma escrita gera
nulidade. O processo é importante para tutelar os interesses dos credores.
Objeto da sociedade, é preciso estar definido no momento do registo. Sede
social. Capital mínimo, art. 276º/5 (remissão art. 42º). É preciso respeitar o
art. 272º e 9º, caso contrário é nulo.

2.A Grandes Construções, S.A. poderia ter mudado de ramo de


atividade? Quais as consequências desta mudança?
A atividade económica exercida por uma sociedade comercial consiste no
objeto social da mesma. Tal como dispõe o artigo 9.º/1 al. D do CSC, o objeto
social constitui um elemento essencial do contrato de sociedade, pelo que a
falta da sua estipulação no pacto, constitui a nulidade do mesmo, nos termos
do artigo 42.º/1 al. B do CSC.
O ramo de atividade econômica, como objeto social, poderá ser modificado.
Para realizar esta alteração, nos termos dos artigos 85º e 265º do CSC, os
sócios, e apenas estes, devem alterar o pacto social, o que terá de ser feito
com a maioria de três quartos dos votos correspondentes ao capital social ou
por número ainda mais elevado de votos exigido pelo contrato de sociedade.
Art. 373º.
Como o objeto social caracteriza e individualiza a sociedade e está associado
a sua imagem e reputação, a questão que se coloca aqui é a de saber se a
alteração da atividade econômica poderá ou não configurar a constituição de
uma nova sociedade, ainda que de forma dissimulada.
Neste caso em específico, como houve uma significativa mudança de
atividade, visto que a sociedade se deslocou do ramo das construções para o
ramo da venda de brinquedos, pode-se dizer que, de certa forma, se
constituiu uma nova sociedade.
Prova disto está no art. 240º/1 al. A, o qual afirma que os sócios têm a
faculdade de se exonerar da sociedade, caso tenham votado expressamente
contra aquela deliberação e a mudança de objeto comporte uma alteração
substancial das condições iniciais de investimento.
Cabe ainda ressaltar que uma mudança tão expressiva quanto esta, implicará
também uma alteração na firma da sociedade, uma vez que a firma deve
sempre se adequar ao objeto social por imposição dos artigos 10º/1 e 275º/3
do CSC.
A mudança de atividade se relaciona com o objeto da sociedade. Uma coisa
é o que a sociedade faz outra coisa é a sua susceptibilidade a prosseguir um
determinado fim. Diferença entre capacidade e objeto social. O professor
Menezes Cordeiro diz que não devemos seguir o princípio da especialidade
(este não pode estar meramente associado a prossecução de um fim). No
contrato deve constar o objeto da mesma, de forma a proteger os interesses
dos credores (art. 11º). Art. 6º/1 e 4, a sociedade não se encontra limitada ao
seu fim, tenho de atuar de forma a prosseguir o objeto social. Art. 409º.
Consequências para os administradores.

3.Poderia a Grandes Construções, S.A. ter doado a hospitais, prestado


gratificações aos seus trabalhadores e ser fiadora do seu fornecedor?
A doação e as gratificações parecem ser uma forma de redução do capital
social da sociedade. O capital social consiste no valor que resulta entrada dos
sócios na sociedade.
Resulta do art. 94º/1 al. A do CSC que a redução do capital social pode visar
a “cobertura de prejuízos, a libertação de excesso de capital ou uma
finalidade especial. As finalidades especiais possuem o seguinte elenco
taxativo: redução para extinção da obrigação de entrada (art. 27.º, n.º 1), para
a realização da operação de cisão (art. 123.º, n.º 1, a)), para a amortização de
participações sociais (arts. 232.º ss e 374.º), para a anulação de acções
próprias (art. 323.º, n.º 3)23 e, por extinção de acções próprias (art. 463.º).
As possibilidades de redução do capital são poucas porque tal operação pode
afetar os direitos dos credores e as expectativas de terceiros.
Como as doações e as gratificações não se encaixam em nenhuma das
possíveis finalidades de redução do capital as mesmas não poderiam ter sido
feitas.
Divergência doutrinária com relação ao art. 6º

4. Considere que Adalberto, Baltasar, Caetana e Jorge se juntam a


Delfina, para constituir a Grandes Construções, S.A., efetuando e
reduzindo a escrito o contrato, mas sem se dirigirem ao registo
comercial. Lançadíssimos, arrendam um espaço para a sociedade e
contraem empréstimos junto do Banco de Empréstimos, S.A. para dar
início à atividade.
Quid Juris?
O registo tem o efeito de atribuir personalidade jurídica à sociedade
constituída naquele ato constituinte- art.5º CSC. Todavia, a personalidade só
pode ser invocada após o registo definitivo do ato constituinte (registo
constitutivo). A eficácia constitutiva do registo não significa que sem ele o
ato constituinte não produz qualquer efeito, pois a sociedade existe ainda
antes do registo e há disposições legais de natureza societária que lhe são
aplicáveis.
Neste caso, estamos perante uma situação de Sociedade Irregular pelo fato
de o processo de formação não ter sido concluído por falta de registo. Nessas
situações, aplicam-se os art. 37º e seguintes do CSC.
Com relação aos negócios celebrados em nome da sociedade, por ser uma
sociedade anónima, em princípio, sócios seriam responsáveis apenas por
suas próprias entradas, não respondendo pelas dívidas da sociedade
(duplamente limitada – art. 271º). Porém, pelo fato de o processo de
formação da sociedade estar incompleto, aplica-se aqui o art. 40º, o qual
dispõe que os sócios que participaram ou autorizaram o negócio serão
ilimitada e solidariamente responsáveis pelas dívidas da sociedade, enquanto
que os restantes sócios apenas devem responder por suas próprias entradas.
Assim, poderá o Banco exigir o pagamento integral da dívida a qualquer um
dos sócios que participaram do empréstimo.

5. Imagine que os sócios, e os seus cônjuges, começavam a utilizar o


património da sociedade de forma pessoal, utilizando-o para pagar
dívidas próprias. Poderiam os credores da Grandes Construções, S.A.
defender-se de alguma forma?

Aula 29/03/2022

CASO PRÁTICO N.º 2


O estatuto do sócio e capital social
Afonso, Barnabé, Carolina, Diogo e Elisa constituíram a Tecno, S.A.,
sociedade que procederia à venda de computadores. Após alguma
discussão, decidiram fixar o capital social da Tecno, S.A. em
100.000,00€.
Cada um contribuiu conforme podia. Afonso e Barnabé, investiram,
respetivamente, 20.000,00 € e 10.000,00 €. Carolina, entrou com o seu
iate, que valia, segundo esta, muito dinheiro!
Diogo, afirmou que podia contribuir com os seus conhecimentos
tecnológicos. Por último, Elisa afirmou que ainda que não pudesse
investir naquele momento, no futuro certamente o iria fazer.
Perante o investimento avultado de Afonso, este declarou expressamente
que (i) receberia 50% dos lucros da sociedade, e que (ii) não participaria
nas perdas da Tecno, S.A. Os demais sócios, ainda que chocados,
aquiesceram por escrito às exigências de Afonso, no contrato de
sociedade.
1.Poderiam Afonso, Barnabé, Carolina, Diogo e Elisa cumprir as suas
obrigações de entrada na Tecno, S.A. nos termos expostos?
Entrada de Diogo – entrada em espécie ou em serviços. Se for em
serviço ele não poderia entrar, pois entradas em indústria não são
permitidas nas sociedades anónimas e por quotas. Se for em espécie,
não vale por virtude das dificuldades associadas, pois é difícil afirmar
uma autonomia da entrada, de forma que ela seja indissociável do
sócio. Será difícil uma avaliação nos termos do art. 28º.
Entrada de Elisa – o momento em que devem ser realizadas as
entradas. Em dinheiro – podem ser deferidas no tempo, art. 26º/3. Em
espécie – tem de ser realizadas até o momento da constituição da
sociedade.
Art. 42º/1 al. B, nulidade sanável nº 2. Consequências para a mora e
incumprimento das entradas – é uma obrigação fundamental, se não
for feita não tem direito ao lucro. Vencimento automático das
prestações em dívidas, pode perder o direito a participação na
sociedade. Quanto aos credores, art. 30º.

2. Considere que pouco tempo após a sua constituição, a Tecno, S.A.


adquire a Barnabé o seu Rolls Royce. Quid Juris?
Consequência direta da personalização das sociedades é a separação
patrimonial: os bens da sociedade não se confundem com os dos sócios.
Assim, os sócios têm no seu conjunto o controlo da sociedade: poderão
entender, dentro da sua autonomia privada, que a sociedade não necessita de
determinados bens ou que, de todo o modo, eles ficariam melhor nas mão
dos diversos sócios. Ora, estes não poderão, ainda assim, deliberar uma
distribuição, mais ou menos importante, de bens aos sócios, dada a proteção
necessária ao interesse dos credores da sociedade (para os quais não é
indiferente a consistência do património da sociedade e os bens que no
mesmo se encontrem) e a própria confiança do público na estabilidade dos
entes coletivos (não se compreenderia que os bens circulassem, sem mais,
entre a sociedade e os sócios).
Os bens indevidamente recebidos pelos sócios devem ser restituídos à
sociedade – art. 34º. Todavia, fica protegida a posição dos sócios de boa fé
(art. 34º/1) sendo o todo aplicável aos transmissários dos direitos dos sócios
(nº 2). Os credores podem propor ação para restituição, à sociedade, das
importâncias em causa, tendo ainda ação contra os administradores (art.
34º/3). O nº 4 regula o ónus da prova, enquanto o nº 5 alarga o dispositivo
da restituição a “qualquer facto que faça beneficiar o património das
referidas pessoas dos valores indevidamente atribuídos”. Temos, aqui,
manifestações do instituto da repetição do indevido (art. 476º CC).
Estão preenchidos os âmbitos do art. 29º? Âmbito material – exclui:
aquisição em bolsa, processo judicial executivo ou compreendidas no âmbito
do objeto da sociedade. Art. 29º/4 ou 5 e 71º/3.

Eu tenho um crédito para com a sociedade, posso entrar com este crédito?
Estamos perante uma Compensação de crédito. Art. 27º/4 e 5.

3.Pronuncie-se sobre a validade das exigências de Afonso.


Quanto ao fato de ele receber 50% dos lucros - Direitos Especiais:
atribuídos no contrato social a certos sócios ou a sócios titulares de ações
de certa categoria, conferindo-lhes uma posição privilegiada que não
pode em princípio ser suprimida ou limitada sem o consentimento dos
respetivos titulares. Art. 24º - só por estipulação no contrato que podem
ser criados.
Proibição dos pactos leoninos – não pode se isentar das perdas. Art. 22º/3
do CSC. Para o professor MC, ainda antes de justificar a invalidade dos
pactos leoninos, afirma que devemos afirmar a unidade do instituto: o
sócio que abdique de lucros vai sujeitar-se a eventuais prejuízos e o que
aceite todos os prejuízos vai submeter-se, eventualmente, aos que
ocorram. Sendo assim, o professor justifica a proibição, pois entende que
esta envolve um misto de renúncia antecipada aos direitos e de doação do
que (ainda) não se tem.

4.Na sequência do início da atividade da Tecno, S.A., e a existência de


um património líquido de 40.000,00 €, a assembleia geral deliberou a
distribuição da totalidade dos lucros obtidos pela Tecno, S.A. aos seus
sócios. Poderá fazê-lo?
Todo o sócio tem direito a quinhoar nos lucros (art. 21º/1 a)); isto é, cada
sócio tem o poder de exigir parte dos lucros (em regra, na proporção do valor
da respetiva participação no capital social: art. 22º/1), quando os mesmos
sejam (ou tenham de ser) distribuídos.
Não quer dizer que, quando haja lucros distribuíveis, cada sócio pode exigir
da sociedade, a todo o tempo, o seu quinhão ou quota parte na totalidade
desses lucros. Só pode exigi-lo se e quando os lucros forem (ou devam ser)
distribuídos (normalmente por força da deliberação dos sócios) e tendo em
conta a medida da distribuição.
Porém a distribuição dos lucros deve respeitar determinados limites. O art.
33º/1 dispõe uma proibição de distribuição de lucros do exercício que se
mostrem necessários para cobrir prejuízos transitados ou para formar ou
reconstituir reservas obrigatórias, por lei ou pelos estatutos. A contrario, cabe
distribuição de lucros quando os prejuízos transitados possam, legalmente,
ser cobertos de outra forma.
Além disso, o art. 33º/2 veda a distribuição de lucros de exercício, enquanto
as despesas de constituição, de investigação e de desenvolvimento não
estiverem completamente amortizadas. Isto porque trata-se de despesas de
lançamento de sociedade; se ainda não estiverem cobertas, não há, em bom
rigor, lucros a referenciar.
Também deve-se observar o art. 32º que contém uma norma básica para a
tutela dos credores. No fundo, esta norma pretende que apenas possam ser
distribuídos aos sócios valores que, tecnicamente, se devam considerar
lucros. Em princípio, no que a situação líquida ultrapasse o capital e as
reservas não distribuíveis, há lucro.

5. Os sócios, repensando a dimensão da sociedade, decidem proceder à


redução do capital social da Tecno, S.A. Qual o procedimento que
deverão observar?
A redução do capital social pode consubstanciar-se numa redução nominal
ou real, consoante exista ou não a libertação de bens do património líquido
social. Assim, na redução real ou efectiva, há uma libertação de bens do
património da sociedade que deixam de estar vinculados à função de
cobertura do capital social e de reservas indisponíveis e que, como tal, podem
ser devolvidos aos sócios, imediatamente ou no futuro. Contrariamente, na
redução nominal há apenas uma alteração da cifra do capital com o objectivo
de adequá-la ao montante do património líquido da sociedade, não existindo
qualquer devolução de bens patrimoniais aos sócios.
A redução do capital social pode visar a “cobertura de prejuízos, a libertação
de excesso de capital ou uma finalidade especial”. As finalidades especiais
de redução do capital social consagradas no nosso CSC são a redução para
extinção da obrigação de entrada (art. 27.º, n.º 1), para a realização da
operação de cisão (art. 123.º, n.º 1, a)), para a amortização de participações
sociais (arts. 232.º ss e 374.º), para a anulação de acções próprias (art. 323.º,
n.º 3)23 e, por extinção de acções próprias (art. 463.º). Todos os casos de
redução do capital social especialmente previstos no CSC consubstanciam
reduções reais do capital social, pois há uma diminuição efectiva do
património da sociedade e uma devolução dos bens que o constituíam aos
respectivos sócios.
Além disso, a redução poderá ser realizada mediante três formas de
execução: a diminuição do valor nominal das participações sociais, o seu
reagrupamento ou a sua extinção (art. 94º/1 al. B).
Um dos primeiros pressupostos comuns e essenciais a ser respeitado na
deliberação de redução do capital social tem que ver com a convocação dos
sócios. O poder de convocar a assembleia geral é, em regra, atribuído ao
órgão de administração (arts. 248.º, n.º 3 e 375.º, n.º 1 CSC) e aos sócios que
possuam participações sociais correspondentes, pelo menos, a 5% do capital
social (arts. 248.º, n.º 2 e 375.º, n.º 2 CSC). Quanto ao conteúdo, a
convocatória da deliberação deve indicar a finalidade da redução, a
modalidade da redução e, se for caso disso, as participações sobre que
incidirá (art. 94.º CSC). A convocatória deve ainda conter as menções
obrigatórias gerais estabelecidas para qualquer tipo de convocatória (arts.
171.º e 377.º, n.º 5, a) CSC).
O primeiro requisito especial para a deliberação da redução do capital social
encontra-se previsto no art. 95.º, n.º 1 CSC, no qual se impõe que a redução
não possa ser deliberada se “a situação líquida da sociedade não ficar a
exceder o novo capital em, pelo menos, 20%”. Por fim, a deliberação deverá
ser “reduzida a escrito” (art. 85.º, n.º 3 CSC), sendo suficiente para esse
efeito a acta da respectiva deliberação.
Uma das funções atribuídas ao capital social é a de garantia dos interesses
dos credores sociais. Deste modo, qualquer operação que tenha como
objectivo a redução da cifra do capital social, independentemente de visar a
libertação de capital excessivo ou a compensação de perdas, poderá resultar
numa diminuição da sua garantia. O principal mecanismo que tutela os
interesses dos credores sociais face à redução do capital da sociedade
encontra-se actualmente previsto no art. 96.º CSC. De acordo com este
preceito, qualquer credor pode requerer ao tribunal a proibição ou a limitação
da distribuição de reservas disponíveis ou dos lucros de exercício sociais.
No art. 96.º CSC, o legislador societário reconhece a “qualquer credor
social” o direito de se opor judicialmente à distribuição de reservas
disponíveis ou dos lucros de exercício sociais. Contudo, apenas podem
deduzir oposição judicial os credores titulares de créditos (contratuais ou
extracontratuais) ainda não vencidos ou já exigíveis (arts. 96.º, n.º 1 CSC).
Os credores sociais dispõem apenas de um mês para formularem o pedido de
oposição judicial, uma vez publicada a deliberação da redução do capital
social (art. 96.º, n.º 1 CSC). Além do mais, para que a oposição judicial possa
ser realizada, é igualmente fundamental que o credor tenha requerido, há
pelo menos quinze dias, o pagamento do seu crédito ou a prestação de
garantia adequada por parte da sociedade e o seu pedido não tenha sido
atendido (art. 96.º, n.º 2 CSC).

6. Barnabé, Carolina e Elisa, pretendem injetar capital na sociedade, e


discutem formas de financiamento da mesma, de forma a assegurar a
situação financeira da Tecno, S.A. a longo prazo. Distinga
fundamentadamente as alternativas de financiamento à disposição da
sociedade.
O aumento do capital, que implica, formalmente, a substituição da cifra (do
capital) por um número de montante superior, e substancialmente, uma maior
responsabilidade da sociedade perante terceiros e o acréscimo dos meios de
que dispõe para prosseguir a sua actividade.
O aumento de capital social por novas entradas em dinheiro é a modalidade
mais frequente de aumento de capital, na medida em que proporciona à
sociedade os meios financeiros de que ela não dispunha. Todavia, esta
modalidade só poderá ser deliberada quando já estiver definitivamente
registado um aumento anterior e se já estiverem vencidas todas as prestações
de capital, inicial ou proveniente de anterior aumento (artigo 87.º, n.º 3,
CSC).
Tendo-se em conta que o capital social é um dos elementos obrigatórios do
pacto social, a sua modificação só pode dar-se através de alteração
contratual, ou seja, deverá resultar de uma deliberação dos sócios. Nas
sociedades anónimas, a maioria será de dois terços dos votos emitidos,
necessitando que, em primeira convocação, esteja presente ou representado
um terço do capital social (artigos 383.º, n.º 2 e 386.º, n.º 3, ambos do CSC).
Contrato de Suprimento, que caracteriza-se por ser um negócio jurídico em
que um ou vários sócios, emprestam à sociedade dinheiro ou outra coisa
fungível, ficando esta obrigada a devolver outro tanto do mesmo género ou
qualidade, ou pelo qual o sócio convenciona com a sociedade o diferimento
do vencimento de créditos seus sobre ela, desde que em qualquer dos casos,
o crédito fique a ter caráter de permanência.
Um dos instrumentos possíveis de constituição da obrigação de efectuar
suprimentos é o próprio contrato social (artigo 244º, nº 1 do C.S.C),
aplicando-se, nesse caso, o disposto no artigo 209º do C.S.C., respeitante a
prestações acessórias. A obrigação de efectuar suprimento pode ser
„imposta‟ através do contrato de sociedade a todos ou apenas alguns sócios;
esta „imposição‟ só é válida caso o próprio contrato de sociedade fixe os
elementos essenciais dessa obrigação, bem como especifique se a obrigação
deve ser efectuada onerosa ou gratuitamente.
A constituição da obrigação de efectuar suprimentos pode também advir da
deliberação dos sócios votada por aqueles que assumam essa mesma
obrigação (vide nº 2 do artigo 244º do C.S.C.). A lei não impõe qualquer
exigência relativamente a esta deliberação, apenas que a mesma seja votada
por aqueles sócios que assumam essa obrigação.

Aula Prática 20/04/2022

Caso prático n.º 3


Deliberações sociais
António, Belarmino, Carlota, Dâmaso e Eliana constituíram a sociedade
TPK, SA., com sede na Avenida da Liberdade, cujo objeto social
corresponde à venda de telemóveis.
Eliana, perante as dificuldades financeiras da sua sociedade HER,
Sociedade Unipessoal, Lda. envia uma carta a todos os acionistas
solicitando uma reunião no café “Nicola”, a ser realizado no dia
22.03.2020, no qual seriam deliberados “variadíssimos assuntos”.
No dia indicado, todos os acionistas compareceram, e foram
confrontados com as seguintes propostas:
(i) a TPK, S.A. celebrar um contrato de mútuo com a Eliana, com
o efeito de financiar a HER, Sociedade Unipessoal, Lda., sem
taxa de juro associada, e que esta pagaria de volta quando
“pudesse”;
(ii) a alteração do contrato de sociedade;
(iii) a supressão do direito especial de Belarmino;
(iv) a venda do único bem imóvel da TPK, S.A. ao primo de Eliana,
pelo preço simbólico de 500€.
Todos os presentes aprovavam, por unanimidade, as propostas (i), (ii) e
(iv), e por maioria a proposta (iii). Belarmino não se pronunciou quanto
à proposta (iii).
1. Foi a convocatória para a assembleia geral realizada em termos
adequados?
Deliberação em Assembleia - . Há uma assembleia quando entra as diversas
manifestações de vontade não haja um lapso de tempo juridicamente
relevante.
A assembleia geral de accionistas deve reunir sempre que a lei ou o contrato
o determinem, ou o conselho de administração, a direcção, o fiscal único ou
conselho fiscal e o conselho geral o entendam conveniente. A assembleia
geral deve ainda ser convocada a requerimento de accionista ou accionistas
que possuam acções correspondentes a, pelo menos, 5% do capital social.
Neste caso, não temos informações suficientes para determinar se Eliana faz
parte de um destes órgãos ou se possui 5% do capital, portanto, presume-se
que este requisito foi cumprido (art. 375º/1).
No caso de ser um acionista a requerer a convocatória, este deverá enviar o
requerimento por escrito ao presidente da mesa, o qual deverá publicar a
convocatória nos 15 dias posteriores a recepção do requerimento. A
assembleia deverá ser reunida nos 45 dias posteriores a publicação (art.
375º/3 e 4).
Embora a iniciativa possa pertencer a outros órgãos é ao presidente da mesa
da assembleia geral que, em princípio, compete a convocação.
Subsidiariamente, a assembleia geral pode ser convocada pelo fiscal único
ou conselho fiscal, pelo conselho geral, se o houver, ou pelo tribunal (art.
377º/1 e 7).
A convocatória deve ser publicada. O contrato de sociedade pode, porém,
substituir a publicação por cartas registadas, quando sejam nominativas
todas as acções da sociedade (art. 377º/2 e 3). Tal requisito não parece ter
sido observado.
O art. 377º/5 determina os elementos mínimos que a convocatória deve
conter. O aviso convocatório deve mencionar claramente o assunto sobre o
qual a deliberação será tomada. Neste caso, este artigo não foi respeitado,
visto que não foi especificado o objeto da reunião ou a ordem do dia.
Além disso, como um dos assuntos é a alteração do contrato, a convocatória
deveria ter mencionado as cláusulas a modificar, suprimir ou aditar, o texto
integral das cláusulas propostas ou a indicação de que tal texto fica à
disposição dos sócios/accionistas na sede social, a partir da data da
publicação (art. 377º/8).
Assim, as deliberações tomadas serão anuláveis pelo fato de não terem sido
precedidas dos elementos de informação mínimos (art. 58º/1 al. C e 4 al. A).
Todavia, caso todos os sócios estejam presente e manifestem vontade no
sentido da constituição da assembleia e da deliberação de determinado
assunto, pode ser dispensada a observância das formalidades prévias. Art.
54º/1.
Art. 377º/6.
Foram todos os sócios chamados devidamente? Assembleia geral ou
universal. Art. 377º/1. O Presidente da Mesa que deve convocar, a Eliana
não detinha a competência. Nulidade. Não consta a hora. Nulidade – Art.
56º/2. Falta as informações mínimas, falar o que vai ser deliberado.
Anulabilidade – art. 58º/1 al. C e 4 al. A. Art. 377º6 al. A – ponderar se o
local era ou não apropriado. Independentemente de todos os vícios de
procedimento apontados, se todos os sócios estiverem presente e estiverem
de acordo com a ordem do dia os vícios de procedimento ficam sanados –
art. 54º/1.
Imaginem que com esses vícios todos, alguém não concordava com a
deliberação de um dos assuntos? Art. 58º/1 al. A – violação do art. 54º. Não
se aplica o art. 55º.

2. Imagine que Dâmaso não comparecia. Tem este facto relevância?


Os accionistas que tenham direito a pelo menos um voto tem o direito de
participar na assembleia geral (art. 379º/1). Assim, caso Dâmaso não tiver
direito de voto sua ausência não será relevante.
De acordo com o art. 383º, em primeira convocação, pode existir
deliberação independentemente do número de accionistas presentes ou
representados. Porém, como um dos assuntos é a alteração do contrato de
sociedade, aplica-se o nº 2 do mesmo artigo, e deverão estar presentes ou
representados todos os accionistas que detenham ações que correspondam a
pelo menos um terço do capital social. Assim, caso Damaso tenha ações no
referido montante, a sua ausencia fará com que as deliberações ejam
anuláveis nos termos do art. 58º/1 al. A.
Além, disso, caso um sócio tenha estado ausente porque foi impedido de
participar da assembleia, quando tinha direito, ou porque não foi convocado
devidamente, as deliberações tomadas serão anuláveis nos termos do art.
58º/1 al. A.
Anulabilidade art. 58º/1 al. A por violação do art. 54º/1 e 2. A convocatória
não foi apropriada. Nulidade, porém esta é sanável. Realizar outra
deliberação que não padece dos mesmos vícios, com efeitos para o passado
– art. 62º/1.

Aula Prática 22/04/2022

3. Pondere a validade das deliberações efetuadas e sobre a


possibilidade de os sócios reagirem contra as prévias.
Com relação as propostas I e IV, estas podem ser consideradas deliberações
abusivas, previstas no art. 58º/1 al. B, visto que parecem revelar a intenção
do sócio de obter vantagens especiais para si, no caso da primeira proposta,
ou para terceiros, no caso da quarta proposta, em prejuízo da sociedade e/ou
dos outros sócios.
Quanto a este ponto, a lei fixa um requisito objectivo, em que é obrigatório
que a deliberação seja apropriada para satisfazer os propósitos mencionados.
Se esta não for objetivamente adequada a concretizar os propósitos dos
sócios deixa de ser considerada abusiva. A deliberação deve, por isso, ter
condições de concretizar a intenção de conseguir vantagens especiais em
prejuízo da sociedade ou de outros sócios.
Também exige-se um requisito subjetivo, que consiste na intenção ou
vontade de obter vantagens especiais, que podem ser materiais ou de outra
natureza. Ainda neste aspecto, será suficiente o dolo eventual, ou seja, basta
que se prove que um ou mais sócios, ao votarem, previram como possível a
vantagem especial para si ou para outrem.
Neste caso, ambos requisitos se verificam. A deliberação de celebrar um
mútuo sem um taxa de juros e sem um prazo para o pagamento e vender o
único imóvel da sociedade por um preço tão baixo, de fato é apropriada para
garantir vantagens a um sócio ou terceiro em prejuízo da sociedade. Tais
medidas são manifestamente desproporcionais, ficando a sociedade em
grave prejuízo com a diminuição de seu património social, e o sócio e o
terceiro em benefício.
As deliberações abusivas são anuláveis (art. 58º/1 al. B). Segundo o art.
59º/1, o órgão de fiscalização ou o sócio que não tenha votado no sentido da
deliberação abusiva podem arguir a anulabilidade no prazo de 30 dias
contados a partir das datas previstas no nº2. Todavia, caso se prove que sem
o voto abusivos a deliberação teria sido igualmente adotada, a deliberação
não será anulada.
Proposta I – atos que contrariam o fim lucrativo estão fora da capacidade das
sociedades. Este é um ato gratuito que não visa o lucro. A deliberação do
ponto I é nula (art. 56º/1 al. C). Art. 431º - celebração do contrato é matéria
de gestão da sociedade, não compete aos sócios, mas sim a administração
(art. 56º/1 al. C ou D, divergência doutrinária). Deliberação que favorece
especialmente um determinado sócio, prejudicando a sociedade - deliberação
abusiva – anulabilidade (art. 58º/1 al. B). Proveitos patrimoniais dados aos
sócios por deliberação, que não teriam sido obtidos sem esta. O dano deve
ser por causa da vantagem especial (CA – basta dolo eventual). Prova de
resistência – a deliberação não é anulável. Nulidade consome a
anulabilidade.
Quanto a proposta e deliberação da alteração do contrato de sociedade, a
mesma não parece violar nenhuma disposição legal, visto que foi deliberada
pelos sócios nos termos do art. 85º e adquiriu a maioria qualificada exigida
pelo art. 386º/3.
Quanto a proposta III, sobre a supressão de um direito especial, tal
deliberação não poderá ser tomada sem consentimento expresso ou tácito do
sócio titular do direito especial (art. 24º/5 e 55º). Caso falte o acordo do
interessado, a deliberação será ineficaz, não produzindo os efeitos a que
tendia. Poderá propor a ação de ineficácia qualquer interessado ou o órgão
de fiscalização, aplicando-se analogicamente o art. 57º. Ineficácia
total/absoluta.
Ponto IV – bons costumes - contrariedade com uma moral social. Nulidade
– art. 56º/1 al. D.

Aula Prática 26/04/2022

4. Poderia Carlota reagir contra as deliberações tomadas?


Em princípio, Carlota poderia requerer a anulabilidade das deliberações
abusivas sobre as propostas I e IV. Porém, segundo o art. 59º do CSC, a
anulabilidade só pode ser requerida pelo órgão de fiscalização e pelos sócios
que não tenham votado no sentido do vencimento nem, posteriormente,
tenham aprovado a deliberação, expressa ou tacitamente. Como Carlota
votou a favor das propostas, não poderá requer sua anulação.
Art. 286º CC, art. 57º - pode ser invocada a todo tempo pelos interessados.
Órgão de fiscalização tem o dever especial de fiscalizar e deve dar a
conhecer aos sócios sobre a nulidade. Qualquer interessado afetado pode
arguir e a todo tempo. O tribunal pode espontaneamente declarar a
deliberação nula. O réu deve ser a sociedade – art. 60º.
Reponsabilidade dos órgãos.

5. Poderia Eliana pronunciar-se em sede de assembleia geral sobre a


proposta (i), e votar a favor ou contra a proposta?
O direito de voto é um direito inerente à posição de sócio. No entanto,
existem casos específicos na lei que excluem o exercício deste direito a
determinados sócios. Quanto as sociedades anónimas, os impedimentos ao
exercício do direito de voto estão previstos no artigo 384.°/6 do Código das
Sociedades Comercias. Neste caso, a proposta de celebrar um contrato
mútuo entre a sociedade e Eliana se enquadra no impedimento previsto na
alínea D deste mesmo artigo, uma vez que a relação jurídica que se pretende
estabelecer é estranha ao contrato de sociedade e gera uma situação de
incompatibilidade de interesses, que pode vir a prejudicar a património
social.
Tal estatuição normativa configura uma proibição imperativa do exercício
do direito de voto, que não pode ser afastada em contrato de sociedade (n.°
7) e que se justifica pela necessidade de proteger o interesse social. Assim,
Eliana não pode exercer seu direito de voto quanto a proposta I.
A sua finalidade é evitar que o sócio vote sempre que os seus interesses
particulares possam encontrar-se em conflito de interesse com os da
sociedade, pois levado pelos seus interesses particulares, ele votará de
acordo com estes, sacrificando os da sociedade a que pertence. Portanto, o
sócio com o seu voto, em situação de conflito, pode afetar negativamente o
património social.
O direito de estar numa assembleia geral é diferente do direito de participar
e votar. Art. 21º. O direito de voto não é absoluto, ainda mais quando vai
atentar contra o interesse social. Nulidade – art. 294º do CC. Nada impede
de participar, mas será de forma limitada. Por quotas – participação é um
direito absoluto e não alienável. Anónimas – a participação é condicionada,
só podem participar quem tem um voto.

6. Equacione agora que a proposta (ii) tinha sido aprovada pelos votos
favoráveis de António, Carlota e Eliana. Quid Juris?
Consoante o art. 386º/3, a deliberação sobre a alteração do contrato de
sociedade deve ser aprovada por 2/3 dos votos emitidos. Tal maioria não
parece ter sido atingida visto que 3 dos 5 sócios aprovaram a alteração,
quando era necessária a aprovação de 4 sócios. Porém, se estiverem
presentes sócios detentores de metade do capital não é exigida maioria
qualifica (nº4).
Porém, tal alteração do contrato não poderá ter um efeito retroativo, visto
que para isto seria necessário a aprovação unanime da alteração (art. 86º/1).
Quórum é diferente de exigir maiorias. Tem de estar presente 1/3 do capital
social. A maioria não foi atingida. Vício de anulabilidade – vício de
procedimento – art. 58º/1 al. A. Não cabe na al. A ou B do art. 56º/1. Art.
406º do CC – no direito civil para alterar o contrato todos devem concordar.

Vício de procedimento tomado na deliberação caem no art. 58º/1 al. A

Aula Prática 29/04/2022

Art. 384º/8 – a forma de exercício de voto pode ser determinada pelo


contrato, pode ser por gestos, por escrito ou pode ser voto secreto.
Art. 55º - ineficácia absoluta da deliberação. Art. 24º, 221º/7, 328º/3,
133º/2. “Salvo disposição da lei em contrário” articula-se com o art. 86º/2.
Neste caso, há uma ineficácia relativa, só é ineficaz para aqueles que não
consentem.
Revogação das deliberações sociais – não é regulada pelo CSC. Regulada
pelo direito civil.
A sociedade age por intermédio de órgãos sociais. Um órgão que forma a
vontade jurídica da sociedade, age em nome e por conta desta.
Órgão de administração – poder de gestão (praticar os atos necessários ou
convenientes para prosseguir o objeto social; tomar decisões que prossigam
os fins da sociedade; art. 259º, 405º/2) e poder de representação.
Órgãos de fiscalização – fiscalizam a atividade de outros órgãos, controlam
a conformidade legal da atuação das sociedades e regulam o capital social.
Art. 420º, 413º.
Sem os órgãos a sociedade não agiria. Uma deliberação que diz que não
existe mais órgãos de administração ou fiscalização, é nula nos termos do
art. 56º/1 al. D. Art. 142º.
Art. 6º/4 – os órgãos tem o dever de não exceder o objeto da sociedade.
Art. 35º, 65º.
Poderes do órgão de fiscalização – Poder de controlo administrativo
(fiscalizar a atividade dos gerentes e administradores, podem se informar,
fazendo perguntas e pedindo os documentos), contabilístico (escrituração,
art. 420º/1 al. C) e autocontrolo social (certificar que a sociedade está a seguir
a lei).
Art. 64º - deveres gerais de cuidado e de lealdade (fundamentais). Há
muitas condutas dos administradores que podem ser ilícitas, ainda que não
exista uma norma expressa que proíba, por recair nestes conceitos
indeterminados.

Aula Prática 03/05/2022

Deveres de cuidado – manifestam-se em obrigações de acompanhamento


e vigilância dos negócios, observância dos processos adequados para a
tomada de decisões (tem de conhecer a atividade da sociedade). Sendo um
dever geral que deduz o modo como o administrador deve agir, só pode se
concretizar caso a caso. Deve agir da forma de um gestor preterioso e
ordenado, o que difere quanto ao tipo de sociedade, dimensão e setor da
sociedade (padrão de diligência).
Deveres de lealdade – tem de observar o interesse dos sócios e da
sociedade, dos clientes, dos credores (essa decisão prossegue os interesses
destes?). Não pode agir em conflito de interesses, não posso agir no meu
interesse em detrimento do interesse da sociedade. Não há discricionariedade
neste dever, ele é único: deve sempre seguir o interesse da sociedade. Não
podem concorrer diretamente com a sociedade (art. 397º e 398º/3).
Órgãos de fiscalização também tem deveres gerais de conduta (art. 64º/2)
– tem de observar normas nacionais e internacionais, normas mais
específicas e com uma tecnicidade diferente.
Interesse da sociedade – divergência doutrinária.
Relação do administrador com a sociedade – contrato sui generis, que
incorpora a representação e gestão da sociedade, podendo ou não ser
remunerado (MC). Responsabilidade contratual – Tem de violar a lei ou o
contrato por via de uma ação ou omissão, ilicitude, tem de agir
culposamente, tem de haver um dano que tem de se repercutir na esfera
jurídica da sociedade, e tem de existir nexo de causalidade.
Responsabilizado perante a sociedade – art. 71º (atos ilícitos durante a
constituição da sociedade) e 72º (atos durante a vida da sociedade).
Se os órgãos de fiscalização violarem seus deveres, o art. 81º remete para
os artigos sobre a responsabilidade dos administradores.
Business judgement rule – art. 72º/2 – parte do princípio da
insidicabilidade das decisões judiciais nas matérias de gestão da sociedade.
Impede o controlo e a decisão de mérito das decisões de gestão por parte dos
juízes. Só pode aplicar este artigo quando está em causa a violação de
deveres de cuidado, pois este implica a discricionariedade da ação. Não se
aplica quanto aos deveres de lealdade, pois abarca as situações em que não
há conflito de interesses, abarca condutas livres. Este artigo é uma cláusula
de exclusão.
Pode ser a sociedade (R. contratual), os credores (R. delitual civil, art. 78º
CSC, dano reflexo ou indireto) ou os sócios ou terceiros (R. delitual civil,
art. 79º) a responsabilizar o administrador.
Ação social uti-universo – art. 65º e 66º. Ação uti-singule – art. 77º.
Aula Prática 06/05/2022

CASO PRÁTICO N.º 4


Da administração e fiscalização
Em 2008, António e Bernardo, jovens empreendedores, viviam num
período de inocência em que acreditavam que tudo era possível. Tinham
um projeto empresarial que, na sua perspetiva, tinha um futuro muito
promissor. Para dar forma jurídica ao projeto, constituíram uma
sociedade anónima juntamente com quatro investidores, com a firma
“Vai dar tudo certo, S.A.”. Pediram a um contabilista, Eduardo, umas
dicas sobre os estatutos e escolheram o modelo de governo previsto no
art. 278.º/1, a) CSC, (que modelo de funcionamento está aqui em apreço)
o único cujo funcionamento prático o contabilista conhecia. Um amigo
do contabilista, que era ROC (Filipe), ficou como fiscal único. António e
Bernardo ficaram como administradores executivos e dois dos
investidores (Carlos e Diogo) ficaram como não executivos.
Bernardo assumiu a presidência do conselho.
Apesar de aparentemente os negócios da sociedade estarem a correr
bem, a verdade é que esta não apresentava resultados positivos. Em
2012, os quatro investidores começaram a ficar desconfortáveis. Carlos
e Diogo pediram então mais informações sobre alguns contratos
celebrados pela sociedade que apareciam de forma obscura nas contas
da sociedade. António e Bernardo responderam que eles deviam confiar
na informação que lhes tinha sido prestada e que a insistência no assunto
consubstanciava uma manifestação de deslealdade que, colocando em
causa o trabalho de equipa, era inadmissível. Carlos e Diogo escreveram
então ao contabilista da sociedade, Eduardo, a pedir pormenores sobre
as contas, tendo este respondido que não o podia fazer sem o
consentimento de António e Bernardo.
Por portas travessas, os investidores acabaram por perceber que
António e Bernardo tinham celebrado um contrato com a sociedade, nos
termos do qual esta lhes pagava uma “comissão de gestão”, consumindo
esta praticamente todos os resultados positivos da atividade da
sociedade. Perante isto, os investidores pretendem levar a questão aos
tribunais, retirando todas as consequências, incluindo a
responsabilização de António e Bernardo pelos prejuízos sofridos.
António e Bernardo, quando se apercebem da intenção daqueles,
escrevem-lhes uma carta onde explicam que atuaram no contexto da sua
discricionariedade empresarial, por entenderem que esta era a solução
que melhor servia os interesses da sociedade. Não podem, portanto, ser
responsabilizados.
Entretanto, os investidores não compreendem o silêncio de Filipe: nunca
disse nada sobre o que se passava, os seus relatórios anuais como fiscal
único nunca referiram a “comissão de gestão” e as certificações legais
de contas eram omissas quanto à “obscuridade” das contas...
1. Em que consiste um modelo de governo de uma sociedade
comercial? Quais as principais vantagens e inconvenientes de
cada um dos modelos previstos no art. 278.º/1 CSC?
O Governo de uma sociedade é o conjunto de regras, instrumentos e questões
que dizem respeito a administração e controlo da sociedade, e que regulam
a relação dos órgãos e dos acionistas (Coutinho de Abreu). Os princípios e
normas de governo das sociedades são importantes para a promoção de
eficiência, transparência e de responsabilidade entre sociedades.
Na alínea A do art. 278º/1, temos o modelo de governo clássico, constituído
por uma Assembleia Geral, um Conselho de Administração e um Conselho
Fiscal ou Fiscal Único.
Na alínea B do art. 278º/1, está previsto o modelo anglo-saxônico, que é
composto por uma Assembleia Geral, um Conselho de Administração com
uma Comissão de Auditoria integrada, e um Revisor Oficial de Contas. A
principal vantagem é a é a facilidade de obter informação para o órgão
fiscalizador. Os membros da Comissão de Auditoria não podem ser
removidos por simples decisão da Assembleia Geral, sendo necessário reunir
três condições: justa causa; resolução da Assembleia Geral; e aprovação pelo
tribunal da resolução da Assembleia Geral. Independência entre o órgão
fiscalizador e o gestor.
Na alínea C, temos o modelo Dualista, que a é composto por uma Assembleia
Geral, por um Conselho Geral de Supervisão, por um Conselho de
Administração Executivo e por um Revisor Oficial de Contas. Neste modelo
existe uma maior separação entre a gestão e os detentores da empresa, porque
os membros do Conselho Executivo podem não ser diretamente nomeados
pela Assembleia Geral.
Modelo Clássico – pode ter um conselho de administração (com ou sem
comissão executiva ou administrador delegado) ou um Administrador único
(278º/2 e 390º/2). Pode ter um conselho fiscal e um ROC que não seja
membro daquele órgão ou um fiscal único (tem de ter um ROC
obrigatoriamente). Art. 413º.

Aula Prática 18/05/2022

Art. 278º - al. A e B – art. 390 e 413º e ss. Al. C – art. 424º e ss.
Modelo anglo-saxónico – Comissão de auditoria faz parte do conselho de
administração. Pode haver menos independência. ROC separadamente que
avalia as contas. Art. 423º e ss. A CA não tem poderes de reação próprios.
Modelo dualista – Conselho de administração executivo (art. 431º e ss).
Tese professor Ferreira Gomes.

2. Qual o sentido da qualificação dos administradores como


“executivos” e “não- executivos” e qual o reflexo no seu status?
Os administradores executivos são aqueles responsáveis pela gestão corrente
da sociedade. Nas sociedades anónimas de tipo monista, pode o estatuto
social autorizar o conselho de administração a delegar tais poderes a um ou
mais administradores, indicando os respetivos limites e respeitando as
matérias que não podem ser objeto de delegação (art. 407º/3 e 4).
Já os administradores não executivos são os responsáveis pela vigilância e
fiscalização geral (e não de todo e qualquer acto concreto) da actuação do
administrador ou administradores delegados ou da comissão executiva
(artigo 407.º, n.º 8).
A relevância desta distinção se prende com o fato de a responsabilidade
atribuída a cada tipo de administrador ser diferente. Os administradores
executivos respondem por atos ilícitos, culposos e causadores de danos à
sociedade, sendo a responsabilidade solidária e presumindo-se esta
responsabilidade igual.
Por outro lado, cada administrador não executivo responde pelos seus atos
ou omissões, não tendo de responder solidariamente por danos causados à
sociedade pelos administradores executivos, decorrentes da violação de
deveres legais ou contratuais.
Estes só respondem solidariamente por culpa própria, quando incorrem em
culpa in vigilando da atuação dos administradores delegados ou da comissão
executiva. A culpa in vigilando se dá na situação em que são informados por
parte do presidente da comissão executiva ou dos administradores delegados
de atos ou omissões prejudiciais, ou mesmo não sendo informados, sabem
do propósito da sua prática e não tomam as medidas necessárias para evitar
ou atenuar os seus efeitos negativos, incumprindo, desta forma, o seu dever
de impedir a concretização de situações (quer por ações ou omissões)
prejudiciais.
O conjunto dos administradores tem que se organizar internamente de
forma eficaz, dividindo o trabalho. Quanto maior a sociedade, maior a
necessidade de delegar poderes. Na delegação imprópria os administradores
não deixam de ter seus poderes próprios, mas é atribuído a um conjunto de
administradores poderes que eles não tinham e sem onerar os poderes de
outros administradores. Na delegação própria, os administradores não
delegados têm menos poderes (seus poderes originais são diminuídos), e
ficam responsáveis pela vigilância dos administradores delegados. A certas
competências que não podem ser incluídas (art. 407º/4). Nº 8 – não ficam
obrigados a participar das reuniões onde se discutem matérias dos poderes
delegados. Princípio de mútua vigilância.
Qual a diferença da comissão executiva e administrador delegado?

3. Podiam Carlos e Diogo exigir as informações referidas a António


e Bernardo, por um lado, e ao ROC, por outro?
Dever de mútua vigilância. Art. 446º. Art. 21º/al. C – também para os órgãos.
O direito do acionista à informação constitui incontestavelmente um direito
fundamental deste, na vida das sociedades comerciais em que participa.
Trata-se de um direito que aproxima o acionista à realidade social da
sociedade, possibilitando desta forma, conhecer a sua situação atual e,
consequentemente, tomar decisões acertadas, que vão ao encontro do seu
interesse e do interesse da própria sociedade. Este direito encontra-se
previsto de uma forma geral no artigo 21º/1 al. C do CSC, tendo, contudo, o
legislador o cuidado de o regular de uma forma especial para cada tipo social.
No caso das sociedades anónimas, o direito mínimo de informação dos
sócios está previsto no art. 288º. Para que Carlos e Diogo possam consultar
os documentos requeridos (previstos na al. A) terão de alegar um motivo
justificativo, para além de ser necessário que sejam detentores de, no
mínimo, 1% do capital social.
Também podem obter informações sobre os assuntos sociais através do
direito coletivo à informação, previsto no art. 291º, deste que suas ações
atinjam 10% do capital social e que a solicitação seja feita por escrito. A
recusa das informações só pode ocorrer nos termos do nº 4.
Para a recusa ilícita de informações solicitadas fora de assembleia geral (art.
288º e 291º CSC), a lei atribui ao acionista o direito de requerer inquérito
judicial (art. 292º CSC). O processo de inquérito judicial pode ser instaurado
pelo acionista titular do direito à informação (sujeito ativo), que solicitou
informação à sociedade, e a sociedade negou a sua prestação.
Os principais efeitos de inquérito judicial são a prestação da informação
negada; a destituição de órgão sociais; a dissolução da sociedade se forem
apurados factos, que de acordo com a lei ou o contrato constituem causa de
dissolução (art. 292º/2).

4.Têm razão Carlos e Diogo ao considerar que a celebração do contrato,


do qual resulta a “comissão de gestão” para António e Bernardo,
constitui uma violação dos deveres destes?
Os administradores assumem um papel crucial nas sociedades e exercem
funções de elevada complexidade e exigência técnica. Como tal, a política
remuneratória destes profissionais tem de ser definida de forma adequada à
sua competência e à sua motivação. Para além disto, importa mencionar que
as práticas remuneratórias devem, por um lado, ser consistentes e, por outro,
constituir um incentivo à prossecução dos interesses de médio e longo prazo
da sociedade e, consequentemente, à criação de valor.
De acordo com o art. 399º, a remuneração é fixada, administrador a
administrador, pela assembleia geral ou por uma comissão de remuneração,
por ela nomeada. Para se estabelecer o montante da remuneração devem ter-
se em consideração as funções desempenhadas pelo administrador e a
situação económica da sociedade. O que está estipulado neste preceito tem
natureza imperativa, pelo que não é lícito fixar a remuneração de cada
administrador por outras vias que não as previstas na lei. Como este artigo
não foi respeitado, a obrigação de fixar e pagar a retribuição devida ao
administrador é nulo por via do art. 56º/1 al. D.
Art. 397º - o negócio celebrado com a sociedade carece de prévia autorização
do conselho de administração. Conflito de interesses. Nulidade. Art. 31º.
Além disso, António e Bernardo, ao estabelecerem para si mesmo uma
remuneração que consumia praticamente todos os resultados positivos da
atividade da sociedade, violaram os deveres de lealdade a que estavam
sujeitos como administradores (art. 64º/1 al. B). O dever de lealdade traduz-
se no dever de o administrador atuar exclusivamente no interesse da
sociedade, pondo de lado os seus próprios interesses, não assumindo
comportamentos que lhe poderão ser vantajosos a si, mas ruinosos para a
sociedade. Assim, podem ser responsabilizados por via do art. 72º/1. Ilícito,
culpa.

Aula Prática 20/05/2022

Ver 260º. Tese professor Espírito Santo.


Direito a Informação – art. 21º/1 al. C do CSC – Por quotas – art. 214º. S.
Anónimas – art. 288º e ss – não é tão livre.
Art. 25º/4 – 9º/H e I.
Elenco do art. 42º é taxativo.

5.Analise a pretensão dos investidores na ação que pretendem intentar,


bem como a resposta de António e Bernardo quanto à sua
responsabilização.
A business judgement rule, que surge no n.º 2 do mesmo preceito legal, é
uma regra que exclui a responsabilidade, mediante a observância de três
requisitos. Assim, para que seja ilidida a presunção de culpa, o administrador
ou gerente terá de provar que atuou de maneira informada, livre de qualquer
interesse pessoal, e de acordo com critérios de racionalidade empresarial.
Como regra de direito substantivo, atua de forma a proteger os
administradores e gerentes na tomada de decisões, exceto se se provar que
não agiram ao abrigo do dever de cuidado. Por conseguinte, a aplicação
business judgment rule está excluída no caso da violação de normas legais
ou estatutárias, ou quando as decisões sejam contrárias ao dever de lealdade,
cabendo apenas nos espaços em que seja permitido atuar no interesse da
sociedade usando de autonomia e discricionariedade.
É possível um sócio minoritário instaurar uma ação – art. 77º. Tem de estar
cumpridos os pressupostos do art. 72º. Ilicitude, dano, culpa.
Não é aplicável o art. 72º/2, não pode haver conflito de interesses, não vale
a pena aplicar quando há omissão. Não se aplica quando violados deveres de
lealdade, pois não há discricionariedade. É uma questão de conflito de
interesses.

6.Qual o papel do fiscal único e do ROC na sociedade? Poderia Filipe


ser responsabilizado pelos danos sofridos pela sociedade em virtude da
“comissão de gestão”?
Compete ao fiscal único o conjunto de atos constantes do art. 420º do CSC,
que podem ser resumidos e agrupados nas seguintes categorias: garantes da
legalidade administrativa, garantes do rigor contabilístico e garantes da
informação à assembleia geral. O ROC, neste caso, como fiscal único, além
de ter as funções previstas no mencionado artigo, tem o dever de proceder a
todos os exames e verificações necessários à revisão e certificação legais das
contas (nº4).
A responsabilidade dos titulares dos órgãos de fiscalização depende da
verificação de uma conduta ilícita e culposa da qual tenha resultado um dano
(art. 72º/1 e 81º/1). Esta ilicitude afere-se em função da violação dos deveres
fundamentais e dos elevados padrões de diligência profissional exigidos aos
fiscalizadores, exercidos necessariamente no interesse da sociedade. Assim,
visto que Felipe, ao omitir de seus relatórios anuais a “comissão de gestão”
e a obscuridade das contas, incumpriu com seus deveres previstos no art.
420º/1 al. A, B e C, podendo ser responsabilizado pelos danos causados a
sociedades.
Além disso, tendo em conta que os administradores da sociedade também
poderão ser responsabilizados, Felipe pode ainda responder solidariamente
em conjunto com os administradores da sociedades, uma vez que se tivesse
cumprido com seu dever de fiscalização os danos não teriam se verificado
(art. 81º/2).

Aula de dúvidas
Imagine que tem 50000 euros de capital social. Tem um lucro de 20 000
euros no primeiro exercício económico. 20% do capital social é 10000. Já
ultrapassa o valor da reserva e pode distribuir no próximo ano.
Tenho um capital social de 10000 euros. No primeiro ano tenho um lucro
de exercício de 7 mil euros. Posso distribuir os lucros? Não pode ser
distribuído, art. 32º.
No ano 2 a sociedade teve lucros de 8000 euros. No ano 3 o lucro é de
11000 euros. No ano 4 é de 13000. Quanto tenho que retirar da reserva legal?
De cada ano retiro 500.
CS – 10000 euros. 1º ano – capital próprio de 7000 euros. Balanço e
Exercício: - 3000. 2º ano – 8000. Exercício: 1000. Balanço: - 2000. Não pode
distribuir os lucros.
CS – 10000 euros. 1º ano – 7000 euros. 2º ano – 8000 euros. 3º ano – 11000
euros. Lucro de exercício face ao ano 2: 1000 euros. Perdas no valor de 2000.
Ano 3 tiveram lucros, mas temos que tirar os 2000 euros do ano passado que
perdi menos as reservas.
Ver artigos 214º e 288º. Código Anotado de Coimbra.

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