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Direitos fundamentais e principio da proporcionalidade* PROF. DOUTOR ROBERT ALEXY™ SumAnio: 1, Condes neesiia contingents, 2. Tera des prinpas e propoconalidde: « primeira tse da necsiade: 2.1. Reuse prncpcs; 2.2. O prin da propoionaliade: 1A otimizacio quanto ds possiblidades defacto eds psstbiidade de dita; b) A adequao; 4A meceeidade;d) A propoionalidade em sentido esto; 2.3. Duasconexesnecesrias, 24, Duas ojgies& primeta tse da neesidade. 3. Diritsfundamentase proponiona ade a segunda tee da neesidade: 3.1. Contngbnciaeposividde; 3.2. dupa notreza dos diitosfandamentis 3.3. Os dicts fundamentals ea pretensio de conmo. Resumo: Existem duas perspetivas bisicas quanto 3 relagio entre os dititos funda menais¢ 0 exame da proporcionalidade. A primeira consitera que hé uma conex secessiria entre ditetos fondamentais e proporcionaidace, 2 segunda argumenta que uma conexio entre ditetos fandamentais e proporcioralidade depende daquilo ue for decidido pelo legislador constituinte, ou sea, depende do dizeto postivo. primeira ese pode ser designada como "tese da necesidade” segunda como “tese 4a contingéncia". De acordo com a tese da necessidade, 2 legtimidade do exame da proporcionalidade ¢ uma questi relativa 3 natureza dos direitos fundamentas. De acordo com a tee da contingéncia, & uma questio de interpretacio. Este artigo defende a tese da necesidade, PALAVRAS-CHAVE: direitos tundamentais;teoria dos prncipios; principio da propor- cionalidade; conexio necessiia; dupla natureza do Direito; pretensio de correcio. Anstaact: There are two basic views concerning the relationship between constitutional rights and proportionality analysis. The fist maintains that there exits a necessary connection between constitutional right and proportionality, the second argues tat the question of whether constitutional sights and proportionality "Tadao de Paulo Pereira Gouveia. Original: "Grandeechte und VshalnismaBghei’ in Urz Scieskv/Cunsrian ERnst/SONKE ScHUrz (ed), Die Feit des Menscen in Kommune, Saat tind Esra, Fess fir Edeard Scie Jog, Heidelberg, C.F. Miller, 201, pp. 3-15. Profesor da Universidade Chrisisn Albrechts, Kiel, Alemanha © Die 14672014, 1 97-858 B18 Robert Alesy are connected depends on what the framers ofthe constitution have actually decided, ‘hats, on positive aw. The frst thesis may be termed ‘necessity thesis the second, “contingency thesis. According tothe necesty thesis, the legitimacy of proportionality analysis isa question ofthe nature of constitutional rights, according tothe contingency thesis, i is a question of interpretation. The article defends the necessity thesis Kevwoans: constitutional rights; principles theory: proportionality analysis; necessary connection; dual nature of law; intent to correctness. 1. Conexées necessarias e contingentes A relacio entre direitos fundamentais ea proporcionalidade € um dos temas centrais do debate consttucional contemporineo. Relativamente a esta relasio, hh dus teses em conflito:a tere que afirma a exsténcia de algum tipo de conexio nnecessria entre 0s direitos fandamentaise a anise da proporcionalidade, ea tese aque considers que nio existe qualquer conexio necesita entre os direitos Funda ‘mentais ¢ 0 principio da proporcionalidade. De acordo com a segunda posigio, 4 questdo de saber se os dite fandamentaise o principio da proporcionali- dade extio ou nao ligados depende da lei postva, isto é, depende daquilo que © legislador consticuinte, defacto, decidiu. Por esta ratio, uma conexio entre 0s direitos fundamentais eo principio da proporcionalidade seri apenas uma possi- bilidade ou contingéncia! ‘Aquela primeira tese pode ser chamada de “tese da necessidade” ea segunda de “tese da contingéncia”. Veu defender aqui a ese da necessidade. 2. Teoria dos principios proporcionalidade: a primeira tese da neces- sidade 2A, Regras e pri ‘A forma mais elaborada da tese da necessidade 6 a que se baseia na Teoria «dos Principios. © fundamento da Teoria dos Principios & a distingao teorético— normativa entre normas-regras ¢ normas-principios?, " & fil conceber uma terceira tes que suttente que a conexto entre direitos fundamen € roporcionalidade & impossvel. Esta tese, no entant,nio er considerada gu Ela no tem um papelimportante no debate sobre aelio entre or dteitos fundamentais ea proporionaidede * Rosser Avex, Theorie der Grohe (1985), 62 Ea, Frankfurt, Suhtkatip, 201, pp. 73-77 [A Theory of Constitutions! Rights, eradugdo para @ inglés de Julian Rives, Oxford, Oxford "University Press, 2002, pp. 47-49}, "© Dein 196°(2009, 11 917-834 Dirts fundamentals e principio da propoionaldade 819 [As regras sio normas que exigem algo de modo definitivo. Sd0, portanto, comandos definitivos [definitive Gebote; definitive commands). A sua forma de apli- cagio é a subsungio, Se uma regra € vslida e estio reunidas as condigdes para a sua aplieaglo, entio deve ser (ity exatanennte U yuc ela Exige. Se iso for feito, regra é cumprida; se isso nlo for feito, aregra é violada Pelo contrario, os principios sio mandados de otimizagao [Optimierungsgebote; optimization requirement. Como tal, eles exigem que algo seja feito «na maxima «extensio possvel de acordo com as possbilidades defacto e de direito existentes” Regras aparte, as possibilidades de direito so essencialmente determinadas pelos principios opostos. Por ese motivo, cada norma-principio contém sempre e apenas, tum mandado de otimizacio. A determinagao do grau adequado de satisfagio ow de realizagio de um principio, relativamente aos mandados de outros principio, é conseguida através da pondera¢ao [sopesamento ~ n.t]. Portanto, a ponderacio a forma especifica de aplicacio dos principios. 2.2. O prinetpio da proporcionalidade 4) A otimizagdo quanto as posiiidades de facto e As posbiidades de drito ‘A definigio dos principios como mandados de otimizagio conduz-nosimedia- tamente para uma conexo necessiria entre os principios e a proporcionalidade [erkalnismpigheitsgnandstz principio [ou mixima metédica ~ n.t] da proporcionalidade, que nas lkimas décadas obteve grande teconhecimento na teoria ena prtica do controlo da constitucionalidade', consiste em trés subprincipios: a adequacio, a necessi~ dade e a proporcionalidade em sentido estrito, Fstas tée miximas exprimem a ideia de otimizacio. (Os prineipios como mandados de otimizagio requerem a otimizagio rela- tivamente iquilo que seja factual ¢ juridicamente possvel. Os subprincipios da adequacio ¢ da necessidade referem-se 3 otimizagio quanto as possibilidades factuais existentes. O subprincipio da proporcionalidade em sentido estrito refere-se & otimizagio quanto is possiblidades juridicas existentes ‘Aaa, Thai der Grad 78 [4 Tony of Citation Rig, p47) + Por exemplo, Davio M. Bearry, The Ultinate Rule of Lav, Oxford, Oxford University Prest, 2004; Attic StoNE Swest/Jop MarHEws, “Proportionality Balancing 2nd Global ‘Conscuionalism’, in Calan Joumal of Tiannational Law, n° 47, 2008, p. 72-164 0 Dine 1462014, 14, 17.884 820 Robert Alexy b) A adequagae © primeiro subprincipio, 0 da adequagio, exclui a adoglo de meios que impegam a realizacio de pelo menos um principio, sem promoverem qualquer ‘outro principio ou fim, Seo meio M, adotado para promover o principio P,, no é adequado para “conseguir a realiza¢io desse principio P; mas impede a realizagio do principio P, entio nao ha custos para P; ou P; se M for omitido; mas ja haverd custes para P, se M for adotado. Portanto, P,P, considerados em conjunto, podem ser reali- -zados ou satisfeitosnum grau mais elevado relaivamente aquilo que é factualmente ‘possivel se M for sbandonado. P, e P:, quando considerados em conjunto, isto +, como elementos de um sistema Ginico, afastam a utilizacio de M, Isto mostra que 0 subprincipio da adequacio é uma expressio da ideia do “timo de Pareto”. ‘Unna dada posigie pode ser melhorada sem prejudicar uma outra, Um exemplo de violagio do subprincipio da adequacio pode ser encontrado na decisio do Tribanal Constitucional Federal alemdo relativamence a uma lei que -exigia a aprovagio num exame de tiro, ndo apenas As pessoas que pretendiam uma ticenga de caga geral, mas também para aguelas que solictassem uma licenga para falcoaria. O Tribunal considerou que o exame de tiro para a licenca de falcoaria rio era adequado 4 epromogio de um exercicio apropriado da respetva ativi- dade como preterdido pelo legislador» [vom Gesetageber gewolte(n)sachgerehte(n) Ausfhning dieser Tatigheiten zu forder|. Portanto, eno havia nenhuma razio ‘objetivamente plausiveo {kein sachlicheileuchtender Grund)’ para afetaraliberdade _geral de ago dos flcoeiros, como garantida no artigo 2°-1 da Lei Fundamental Por isso, a lei foi considerada desproporcionads’ e, portanto, inconsttucional. ©) A neeesidade Casos em que uma lei é declarada inconstitucional por causa da sua inido— neidade ou inadequagio sio raros. Normalmente, os meios adotades pelo legis lador atingem o seu objetivo até certo grau, Isto é suficiente para superar o teste da adequagio. Por esta razio, a relevancia pritica do subprincipio da adequago 4 bastante baixa, Completamente diferente & 0 que se passa com o segundo subprincipio da proporcionalidade, ou seja, a necessidade. Este subprincipio exige que, entre dois Decisdes do Teibunal Consttucional Federal (Enticledangen des Bundesefsinggerichs: BVEHIGE) 55, p. 159%. (p. 190) © BVedGE55, pp. 159 (p. 167) 7 BVer(GE 55, pp. 159. (p. 166) 0 Dine 1462019, 11, 17.34 Divs fndamentase principio ds proporinalade 821 _neiosigualmente aptos ou adequados a promover P,, se adoteaquele que é menos rnocivo em relacio a P,. Se existr um meio igualmente adequado e menos nocivo para Ps, emia a posicio de P, pode ser otimizada sem custos para P;*. Sob estas ‘condigies,P, e Pz, considerados em conjunto, exigem que se adote o meio que ‘tema intereréncia menos intensa Isto &, de novo, um caso do “timo de Pareto” ‘Um exemplo pode ser encontrado na decisio do Tritunal Constitucional Federal alenio sobre doces, especificamente em relagio aes doces com a forma de Coelho da Piscoa e de Pai Natal, feitos com arroz tufado. A fim de proteger os consumidores contra a confusio entre aqueles doces, feitos com arroz tufado, € os, doce feitos com chocolate, legislador deci proibir os doces com arroztufido. (© Tribunal considerou que a protegio dos consumidores poderia ser alcangada de forma igualmente eficaz, mas menos restritiva, com a obrigacio de publi citar» se 0 doce fora feito com chocolate ou com arroz tufado [in gleich wirksamer, aber weniger einschneidender Weise rch ein KennzeichnungsgebnP. Por este motivo, a proibigio legal foi considerada uma violagio do subprincipio da necessidade e, consequentemente, contriria & maxima da proporcionalidade. ) A proporconalidade em sentido estrito Tal como com o subprincipio da adequacio, o subprincipio da necessidade refere-se & ocimizagio das possibilidades factuais. A otimizacio das possibili- dades ficticas consiste em evitar 0s custos que podem ser evitados, No entanto,, bs easton witain-se inevilivels quando os Paine ipios est a ponderacio & necessiria. A ponderagio & objeto do terceiro subprincipio da proporcioralidade, ou seja, da proporcionalidade em sentido estrito, Este subprin~ Cipio exprime a ponderagiio sobre as possibilidades juridicas. Corresponde a uma maxima que pode ser designada como “Lei da Pondera¢io"’. Esta maxima diz: «Quarto maior for 0 grau de nio realizagio ou de afetacio de um principio, maior deve ser a importincia da tealizacio do principio colidente conflita,Por isso, * © principio ds proporcionsidade prestupoe que € ndferente para op outros prinfpon ou is a questo de saber ese deve adotr uma medida que imefere com mator 04 menor intensidade ‘Se, ndo obstante, exstse um erceio principio ou fim, P, que foseafetadonegatvamente pela _adogio dos meios que intrfrsiem menos em P2,entioo cso no poderia ser resovide através ‘do rim de Pateto. Quande os estos io inevtives, &necessria a ponderacio » BVerfGE 33, pp. 135. (P 146). "© Acaxy, Theorie der Grune, p. 196 [4 Theory of Constitutional Rights, p. 102 origens desta “Ii”, deve ainda consular-s,além da jurspradénciaconsicucional snot de 1950 s,, E. Grant, “Der Grondaste der VerhieniamaXigheit n der Rebepeechang des Bundenverfanangterichs in ASR, 2°98, 1973, pp. 580. me] 0 Dini 1667 (2009, 1 17.854 822 Robert Alexy [A Lei da Ponderagio exclu, entre outras, uma interferénciaintensa no prin ‘pio P, que sea justificada apenas pela pequena importincia atribuida 3 tatisfigio do principio colidente P Tal solugao nao seria uma otimizacio de P, emconjunto ‘com P,. A Lei da Ponderacio pode ser encontrada com formulagSes diferentes ‘em praticamente todas as areas da jurisprudéncia constitucional. Ela exprime ‘uma caracterstica central da ponderagio ¢ tem grande importincia pritica. Se se quiser atingir uma andlise precisa e abrangente da estrutura da ponderacio, € necessirio aprofurdar a Lei da Ponderago. O resultado é a “Formula do Peso” ‘A Férmula do Peso define o peso de um principio P, num caso conereto, 08 seja, define o peso concreto de P, relativamente a um principio colidene P, isto PCy, como sendo 0 quociente resutante (1) do produto da “intensdade da ‘nterferéncia em P." (2, do “peso abstrato de 2” (PA) ¢ do “grau de fubilidade ‘das premissas empircas elativamente 20 significado da medida em questi para a nio satisfagao de P.” (F), pelo (2°) produto dos valores correspondentes relati- ‘vamente a, 3 satisfagio de B, Isto & expresso como se segue: ‘Mas falar de quocientese produtos sé posivel na presenga de nimeros. Este 0 problema da graduacio. Em Theorie der Grundrechte considerei apenas uma ‘scala continua projetada num niimero infinito de pontos entre 0 € 1, © conclui que eraimpossivel rabalhar com essa escala na argumentagio juridica®, Continuo a pensar que isto esti correto. No entanto,«s coisas so diferentes quando se consideram nio s escalas ‘continuas ou infinitesimais, mas também escals discretas. As escals discretas sdefinem-se pelo facto de, entre os respetivos pontos, no existirem outtes Pontos. ‘A ponderacio pode ser levada a cabo logo que se tenha uma escala com dois valores, digamos, “leve" e "grave". Em Direito consitucional éfrequentemente susada uma escala wiica, que funciona com os valores de leve (), moderado fm) + grave (@) Existem virias possibilidades de representagio destes valores através de niimeros™ Atex “On Balancing an Subsumption, in Rati Juris, n° 16,2003, pp. 433-448; Atexy, “Die Gewichsformel” in ficxeai/Kasurz/REurEn (8), Gedahiicf fir fgerSonrenchen, 2003, yp. 771-792 [The Weigh Formula, on Jey Stetacn/Dasrasz Brozex/ Wosciten Zauosts (ed), Fonts of Economie Analy of Law ~ Suds in the Phish ef Lav, 3, Cracow, Jhgielonian Universiy Pres, 2007, pp. 9-27} ® Ay, Theorie der Grund, pp. 139-182 (A They of Consttatonal Rights, wp. 97-9]. Sobre este ponto, LEXY, "Die Gewichtsfomal”, pp. 783.78 ["The Weight Formula’ pp. 20-25, 0 Dine 146204), 10, 817-856 Dirt fundamen e principio da proporionalidade 823 Se seescolher uma progressio geométrica como 2°, 2! e 2%, orna-se posivel representzro facto de a forca dos principios aumentar sobreproporcionalmente ‘com o aumento da intensidade da interferéncia. Isto constitui a base para responder 3 objeco de que ateoria do prineipios conduiria a um enffaquecimento inacei- ‘vel dos direitos fandamentais. Seo peso conereto de P, (PC) for maior do que 1, P:tem precedéncia sobre Py masse formenor do que 1, ent3o P, em precedéncia sobre P. Isto liga a Férmula do Peso-e com isso Lei da Ponderacio — i “Lei dos Principios Colidentes” [que diz: as condigdes sob as quais um principio tem prevaléncia sobre outro consti- ‘eyem o fundamento de uma regra que express a consequeéncia juridica do prin- -ipio prevalecente ~n.t}", Se, no entanto, 0 peso concreto (PC, for igual a1, ‘ocorreri um empate, Neste caso, € permitido adotar 0 meio em causa ou nio o adotar. [sto significa que o Estado, especialmente o legislador, tem discriciona~ riedade. Isto & de grande importincia para responder & objegio de que a teoria dos principios conduziria a uma sobreconstitucionalizacio™ ‘Uma objegio Formula do Peso poder sera de que 0 raciocinio juridico no pode ser reduzido a célculos. $6 que isso seria um mal-entendido sobre o papel da Formula do Peso. Os niimeros que tém de ser substituidos pelas suas variiveis representam proposigaes. Por exemplo, a proposigdo «a interferéncia na liberdade de expressio é graves; esta proposicio tem de ser justificada e isso apenas pode ser feito através da argumentagio, Neste sentido, a Férmula do Peso estéintrinseca- ‘mente ligada ao discurso juridico. Ela exprime uma forma argumentativa bi do discurso juridico”” ° user, Toi der Grd, pp. 83-84 [A Theory of Cnstuional Righs, pp 53-54) ™ Auzxy,"Verbssungsrecund enfches Rech —-Verfasunggericharkei und Fachgerichts- bark, Primi und Sekunditrechsichite im Ofetichen Recht, in Bere und Dissionen sf der Teun der Venu der Deiche Satreserern Wish sm 3. bs 6. Ober 2001, WWDSIRLereinigung der Detchen Statiechsleher, n° 61,2002, pp. 22-26 [A Theory of CConcintonlRghepA0R, 410-41) Ww Sobre it, ERNst-WOLFoANG BOckENFORDE, “Grondrcchte als Grundsatenormen. Zoe ‘Gegenwarige Lage dee Grundrechtsdogmacik, in Bikey, Stan, Verfasmg, Dewara Sbekamp, Fankfuream Main, 191, pp. 188-190 "Em Tore de jistien Argunenton 197), 62 Ed, Frankfurt asa Main, Subekamp, 2008, pp. 275-283 [A Theory of Lgl Anunentatin, ado para o inglés de Ruth Aler/Nei ‘MacCotniek, Oxord, Clarendon Pres, 1989, pp. 221-230), apesentea Formula da Subsunglo ‘como a Gna forma srgumentatvsbisia do discus juridico Em “On Balancing nd Subumption’ pp 443-448, aes Fo forma argr rls de Peso como uma segunda eatva bi wo or Three, x Manin Boxowstt (ed), On the Nate of Lal Prine, Aries fr Peleephy of Law and Sada Plphy, vel yp. 118, Franz Steiner & Nomio, 2010, Finalmente, em (0 Dine 462 2014, 1 #17436 B24 Robert Alexy De nove, pode ser itil utilizar um caso concreto para ilustrar a explanagio abstrata do subprincipio da proporcionalidade em sentido estrito. Trata-ie de uma decisio do Tribunal Constitucional Federal alemio relativa a0 cléssico confito ‘entre liberdade de expressio e direito 4 honra e a0 bom nome, ‘Uma revista satirica muito popular, “Titanic” escreveu sobre um oficial para- plégico na reserva, que tinha desempenhado com sucesso os seus deveres quando fora chamado para 0 servigo militar ative. Descreveu-o primeiro como «ssas~ sino natos (seb. Morder e, numa publicacio posterior, como saleijados [Krippel] ‘O Tribunal Superior Regional de Diiseldorf condenow a revista a pagarao militar ‘uma indemnizagio de 12.000 marcos. ‘A “Titanic” recorreu a0 Tribunal Constitucional Federal. O tribural adotou 2 chamada “ponderacio especifica de caso” [fllezogene(n) Abugung® entee a liberdade de expressio da revista (Pj: artigo 5°-1-1 da Lei Fundamental) e os direitos de personalidade do oficial (P;: artigo 2°-1, conjugado com o artigo 1° sda Lei Fundamental) Para iss, o Tribunal determinou a intensidade da interfe- réncia nos direitos referidos ¢ colocou-os em relagio reciproca. Quanto & indemnizag2o por danos, o tribunal considerou que havia na ssentenga recorrida uma interferéncia wduradoura»”, ou grave (na liberdade de expresso (Ij. Esta conclusio fi justificada, principalmente, com o argumento de que a compensacao poderia reduzir a disposicZo fatura da revista em levar por diante o seu trabalho como 0 fazia normalmente. A expressio easasino nator fi, assim, interpretada no contexto das sitiras geralmente publicados pela revista Nesta, viras pessoas haviam sido descritas com um apelido de uma maneira reco rnhecidamente humoristica, com jogos de palavras ¢ até tolices lerkennber unemste, durch Wortwiz bis hin 2u Albershete®. Este contexto tornou impossvel consderar a expressio atiizada pela revista como um preconceito ilegal ou grave contra 0 direito de personalidades". A interferéncia no dieito de personalidade ([,) foi, assim, considerada como moderada (nm), talvez mesmo de intensidade leve () Estas conclusdes sobre a intensidade consticuiram a primeira parte da decisio. Para justficaraatrbuigio de uma indemaizagao, que é uma interferénca grave (@) no direito& iberdade de expressio (Py, a interferéncia no direto de personalidade (P2), compensivel pela indemnizacio, teria de ser pelo menos tio grave (@) quanto pp. 9-18 (pp. 7-18), tents fecharo stems, actescentando uma terceica forma argumenativa ‘lsca:aanilgia ou comparago de coe sas tes formas agumentativas biscsligam-se, respetivamene, aos conceit de repr, pincpio © BVerIGE 8, pp. 15. tp. © BVErIGE 8, Pp. 15. 1P.10, ® Ber(GE 86 pp. 1s. 1p. 1), % Beri GE 8¢ pp. 1s. 1p. 12) 0 Dine 46" 2014, 1H, 8:7.434 Divito imdaments prin de pponionlidaie. 825 a interferéncia (g) no direto liberdade de expressio (P,). Mas, de acordo coma avaliagio do tribunal, nio era. Quanto muito, era moderada (n), talvez mesmo apenas eve (). Ito significou que a interferéncia na liberdade de expressio, com a indemnizagio, era, de acordo com a Lei da Ponderagio — e, através desta, de acordo com a Férmula do Peso — desproporcionada e, por isso, inconstitucional. ‘As coisas, no entanto, seriam diferentes na parte relativa&designario do oficial ‘como um saleijados. De acordo com o juizo do tribunal, isso representou uma «afetagio grave do seu direito de personalidade>”. Esta conclusio foi justificada como facto de que descrever publicamente como aleijada uma pessoa com uma deficiéncia grave € geralmente considerado, nos dias de hoje, algo de humilhante e uma expressio de falta de respeito”. Assim, a interferéncia (I) grave (@) na liberdade de expressio (P,) era contrariada pela grande (g) importincia (f) dada 4 protegio dos direitos de personalidade (P. Este € um caso tipico de empate. Consequentemente, o tribunal chegou 4 conclusio de que nio se descortinava, 1a decisio recorrida do Tribunal Superior Regional de Diiseldorf, enenhuma falha na ponderagio em detrimento da liberdade de expressiow™ (O recurso da “Titanic” fei, portanto, procedente quanto & questio da indem- nizagio pelo uso da expressio easassino nator, Quanto & questio da indemni- 2acio pela uilizagio da expresso saleijados,o recurso foi considerado infundado. 2.3, Duas conexes necessévias [A agora, as minhas consderagdesrefeiram-se 4 conexdo exstente entre 2 Teoria dos Pincpios e a proporcionalidade, Esta conexio ndo pode set mais estteta, De acordo com a Teoria dos rincpis, este sio mandados de timi- zaco, Pos bem, a méxima da proporeionalidade com os seus ts subprinepios (adequagio, necessdade e proporeionalidade em sentido exrito)dedua-selogi- Camente da natura dos principios como mandados de otimizagio e natureza dos principios como mandados de otimizagio deduz-e lgicamente, por sua vez, da méxima da proporcionalidade®, Esta equivaléncia é necessiria, ‘Nese precio pont, & exsencil fier uma dstingto a dstngio entre uma “conexao necesita entre «Teoria dos Principios a proporcionalade” por um lado, e ua “conexdo necesria entre a Teoria dos Princpios, com a propor- cionalidade inclu ~ seu coresptivo~¢ os drcns fandamentais” por outro. © BVeefGE 86, p. 11. (p13) [Tatouse damodsldade deafeasiodesignada como “interven restrivas 4 outa parece sera “resrigio narmativa” ~ ne] © BVerfGE 86, pp. 158 (p13. 2% BVerfGE 86, pp. 155. (p13. 2% . Augxy, Theo der Grade, p. 100 [A Theory of Costatonal Rights, p. 66} 0 Dine 146204) 14 817.834 826 Rober Alexy A tese que afitma que hi uma conexo necessiria entre a Teoria dos Principios, 4 proporcionalidade pode ser desigrada como “a primeira tese da necessidade”. ‘A tese que afitma a existéncia de uma conexio necessiria entre os direitos, fandamentais ¢ a Teoria dos Principios ou a andlise da proporcionalidade sera designada como “a segunda tese da necessidade”” Martin Borowski elaborou uma distngio entre a Teoria dos Principios como tal, ou seja, “a teoria dos principios como uma tese teorético-normativa", © a aplicagio da Teoria dos Principios aos diteitos fundamentais, a saber, “a teoria dos principios como uma interpretagio dos direitos fundamentais”™*, A primeira tese seria teorético-normativa, enquanto a segunda seria, pelo contririo, uma tese interpretativa, 2.4. Duas objesies d primeira tese de necessidade AA primeira tee da necessidade recebeu menos objegSes do que a segunda Nio obstante, iso io significa que ela nio tenha sido crticada, Duas dessas -objegdes serdo aqui consideradas. ‘A primeira oi colocada por Kai Mélle. Meller afirma que atexe de que anati~ reza dos principios envolveo principio da proporcionalidade éeerréneas"”. O seu ‘principal argumento $ o de que a clausula “na maior extensio possivel”, incluida na definigdo de principio apresentada em Theorie der Grundredie (Kap. 3, 32; ou A Theory of Constitutional Rights, p. 47], efor compreendida coreetamente,n30 se refere apenas 20 sopesamento, mas também i corzegio. Significaria ena medida scorretar™. A medida correta por sua vez, dependeria de eum argumento moral Esta objegd0 confronta a ponderacio com dois conceitos: 0 conceito de -corregio e do conceito de moralidade. A minha resposta a esta objegio afirma -que ambos os conceitasexigem uma ponderasio sempre que hé uma interferéncia rom direito fundamental ‘A corregio de uma interéréncia num direito fundamental depende de a ‘imterferéncia estar justficada. Em casos de inadequagio ou de desnecessidade, nio existe qualquer nzio a exigit a interfréncia. A inerferéncia, portanto, no se jusifica, Isto most-a-nos que a deeerminagio da extensio ou medida correta ppressupde, necessariamente, a adequagio e a necessidade. Com isto, a otimizagao quanto as posibilidades de fcto est ligada corres 2% Manrin Bonowsx, Gua al Prinspen,2*Bal, Baden-Baden, Nomos, 2007, pp, 68-70, ® Kar Mouse, “Balancing and the Srserre of Constitutional Right" in Isematonl Jour _f Contona Law, m8, 2007, pp. 453-468 (p. 459 Movten, "Balancing and the Seractue of Consitaronal Righsp. 459, ® Moutan, "Balancing and the Structure of Consutional Right" p 461 (© Dito 146208), 11, 87.834 a Dine fundamentaiseprindpo da proporionalidade. 827 ‘A questio decisiva, relativa a0 subprincipio ch proporcionalidade em sentido cstrito,consiste em verificar se a determinagio da extensio correta de um direito depende ou nio da intensidade da interferéncia (1) nesse dircito (P) e da inten sidade da interferéncia (J) no direito ou fim oposto (P), através da omissio de interferéncia no primeiro direito (P), juntamen:e com os outros elementos da Férmula do Peso. Eu considero que sim. Nao pode ser correto que uma interfe- réncia grave (g) em certo principio sejajustificada apenas porque se Ihe aribui ‘uma importincia leve () na realizaglo do outro principio, mantendo-se iguais os restantes fatores, Em sintese, a corregao depende da ponderagio. ‘O segundo ponto de Miller éa necessidade do argumento moral. Determinar aintensidade da interferéncia no diteito de personslidade do oficial paraplégico, a0 ‘chami-lo de ealeljado,baseia-se, como j mencionado, na consideragio dese eptero como humilhante ¢ como uma expressio de desrespeito. Estes sio argumentos morais Sem tais argumentos morais, a Formula do Peso nao seria aplicivel a0 caso “Titanic” Isto é suficiente para comprovar que os argumentos morais so indispen- siveis na aplicagio da Formula do Peso”, A Férmula do Peso no é uma alterna ‘iva 20 argumento moral, mas uma estrutura de argumentacio juridica e moral” ‘Uma outra objegio & primeira tese da necesidade, ou sej, contra a tese de que existe uma conexio necessiria entre otimizagio € proporeionalidade, foi levantada por Ralf Poscher. Poscher argumenta que +0 principio da proporcio- nalidade nao deve ser tratado como um mandaéo de otimiza¢io»®. Considera que existem outas alternativas 3 otimizagio como, por exemplo, a eproibicio da Aesproporcionalidade graves [Verbtgrober Disproportionate a «garantia de uma posigio minima» [Garantie einer Mindestposition|™ A proibigio da desproporcionalidade vem z ser mesmo que © mandado da proporcionalidade, e este, por sua vez, torna-se 0 mesmo que o mandado de ™ "Takyras critica © exame da proporcionalidade devido 3 sua pretensio de ser totalmente cstranho a qualquer argumentacio moral: Sravaos Tsakyaanis,“Propostonality;An Adult on Human Right?" in Intemational foumal of Cnataanal Lav, n° 7,200, pp. 468-493 (p47), lito ‘lo €aplicvelao exame da proporcionalidade aqui apresenado, Na verdad, 0 correto 0 0p0so Maller arguments ainda que podem exe casos mn ques ponderado eta exis: Balancing snd Consituconal Rights, pp. 460-61, 465-467. Do pone de vista da teoria dos princpios, ais casos podem ser constuidos como casos em que 0 pesoabstato de um principio & 29, so &, come casos com razdes excludes, ou eno como cats er que peso abitrato de um principio € infnito, © que tem como efeito 0 se pesos tornar em norma absolta ou eategric. Sobre ‘to, ALEXY, "Thirteen Replies, ie GEORGE PAVLAKOS (el), Law, Rights and Dice, Oxford, Hare Publishing, 2007, pp. 33-366 (pp. 340-348). © Rats Posciitn, “Einsichten, lertimer und Selbsinisestindnise der Prinzipientheore”, Jn eR. SIECKMANN (ed), Die Prtzpentere der Grade, Baden-Baden, Nomos, 2007, Pp. 59-79 (p. 7, "posite, “Eischten, Irrmer und Selbsamitverstndnisse der Prnsipientheore . 74 (0 Dino 196" 2086, 1, 817-834 B28 Robert Alexy ‘otimizagio. A proibigio da desproporcionalidade grave apresentada por Poscher, pportanto, nada mais € do que uma conexio entre o terceiro subprincipio da proporcionalidade, entendido como um mandado de otimizagio com discricio- mariedade nos casos em que a desproporcionalidade nio seja grave. Este nio € 0 ‘ugar para tomar posigio sobre a questio de saber se a concessio de tal disericio- mnariedade pode se justficada ou nlo, por exemplo, através de principios formas. (© que importa neste contexto & que tal construgio mantém-se completamente dentro dos limites da Teoria dos Principios. ‘Jindo é assim relativamente 4 garantia de uma posigio minima. A garantia de um standard minimo, se no for determinada através do sopesamento, ni0 seri, de facto, o mesmo que otimizagio. Mas também seria diferente da propor cionalidade. Ela nio constituiria uma interpretagio alternativa ao subprincipio da proporcionalidade. Em vez disso, seria uma alternativa incompativel com a proporcionalidade. Quem se prope substituir 0 subprincipio da proporciona~ lidade em sentido estrito pela garantia de uma posigio minima estéa propor a supressio daquele subprincipio. A questio de aferir se tal proposta ¢justificavel gita em toro da questio de saber se uma afirmacio como 2 seguinte pode ser ddefendida: 6A interferéncia grave contra um direito fundamental, baseada em razies de pequena importincia do ponto de vista da Constituiglo,seré consttu- cional desde que garanta que a posi¢io minima é protegidae. Considero que esta posicio nao pode ser defendida. [Até este ponto, as nossas reflexdes estiveram concentradas& volta da primeira tese da necessidade, ou seja, em torno de uma questio teorética-normativa, Uma conexio necessiria entre a Teoria dos Principios e o prineipio da proporciona lidace, 20 nivel teorético-normativo, nao implica, no entanto, urra conexio necessiria entre a proporcionalidade ou a Teoria dos Principios e os direitos fandamentais ao nivel da interpretagao dos direitos fundamentais como direito postivado, Portanto, & necessirio justificar a segunda tese da conexio necessiria [queafirma a existéncia de uma conexio necessiria entre os direitos fundamen tais ea Teoria dos Principios - nt} 3. Direitos fundamentais e principio da proporcionalidade: a segunda tese da necessidade 3.4. Contingéncia epositvidade [A.questio de saber se existe uma ligagio necessiria entre os direitos fundamen- {ais ¢a proporcionalidade ou a Teoria dos Principios, ou seja, a questio de saber se asegunda tese da necessidade é verdadeira tem sido intensamente discutida 0 Dino 146° 2014, 1 817434 Dirt fundamentas e principio da proporionalidade 829 {A principal objeco argumenta que a teoria dos direitos fundamentais como principios nfo pode ser vista, na formulagio de Matthias Jestaedt, como uma steotia universal dos direitos fundamentaise™. Ela seria apenas euma teoria com tum objeto especifico (.), que € 0 de analisar 0 processo de colisio de principios ‘como parte da estutura dos direitos fundamentais?®, Como tal, ela nfo teria evalor cexplicativo universal», Ea falharia como steoria tinica, central, compreensva ¢ concludente da anilisee apicacio dos ditetos fundamentaise”. Por esta razio, como diz Peter Lerche, no campo dos direitos fundamentas existriam apenas algumaseilhas de mandados de otimizagios". Assim, os direitos fandamentais, usando palavras de Jan Henrik Klement, nio sio principios sdevido a raxdes da sua propria essénciar [Wesensmifig)”. «Eles nio sio principios em razio da sua natureza(,.), eles sio-no apenas quando e na medida em que a decisio juridica positiva do legislador consttucional Ihes dé essa natureza e cariter distintivos™ Consequentemente, a questio de como os direitos fundamentaise o principio da proporcionalidade se relacionam entre si tem de ser sujeita a um “teste de posi- tividade” [Positivierangstes" iltimo ponto é crucial para compreendera tese da contingéncia, a contra- parte da tese da necessidade. A tese da contingéncia afirma que a questio de saber s¢08 direitos fundamentais estio ou nao ligados ao principio da proporcionalidade depende apenas de decisdes inseridas na lei positiva, no caso de uma Constituicio, Marinas Jesrasnr, "Die Abwigungslehre ~ shre Seirken und ihre Schwachen”, in O, Derewseven eal. (ed), Stason Wt. esc fr Jonf lense, C.F. Miller Verlag, Heidebers, 2007, p. 275 {°The Doctine of Balancing- ie Steegthe and Wesknewe’, in Matas KLATE ), Initio! Reason, Oxford, Oxford University Pres, 20:2, m. 28] Jesraznr, "Die Abwigungslete~ ihre Sitken und ihre Schwichen” . 260 [*The Doctrine is Stengel and Weaknesses. 10) ‘Die Abwagungslchre~ ihe Sirken und hee Sehwchen . 260 "The Doctrine it Strengrhs and Weaknesses, 2. 10) Jesrauor, “Die Abwagungslchre~ ihe Sirken und hee Seawchen p.260 "The Doctrine of Balancing its Strengths and Weakneses” m. 10} © paren Lance, "Die Verisongals Quelle von Optimierangaehoten”, inJoncere BURMasTaR (cd), Venger. Festefr Klee Str, Minchen, Beck, 197, p. 197-209 (p. 207) * Jan Husnie Kieenr, "Von Noteen einer Theorie, die alles Eka" in Jurors, n° 63, 2008, pp. 750-703 (p. 700) © Jeszatar, “Die Abwigungslie~ ihre Strken und ihre Schwichen" p. 263 ["The Doctrine ofBalancing- its Stengths and Weakneses"m. 13] * Jestasor, “Die Abwigungsehre~ ihr Strken und ihre Schwichen”, p. 263 ["The Doctrine of Balancing’ its Stengehs and Weaknesses", m. 13 0 Dini 146° 2014, 14, 17.434 830 Robert Alexy de decisdes do leysladorconstcuinte™. A tes da contingénca, portanto, também ppode ser referida como “a tse da positividade”. ‘Omeu argumento contra tese da contingéncia ou postividade desenvolve-se vem duas etapas. A primeira diz respeito & natureza dos direitos fundamentais; segunda reere-se & pretensio de correcio como estando necessariamente ligada 208 diteitos fundamentaise ao Direito em geri 3.2. A dupla natureza dos direitos fundamentais Os direitos fundamentais so, na verdade, direitos positivados, ou sea, direito ‘positivo ao nivel da Constituigio, No entanto isto ndo € suficiente para explicara ssa natureza A positivago representa apenas uma fice dos direitos fundamentais, ‘ou sea, 0 seu lado real ou factual. Além disso, les possuem uma dimensio ideal ‘A razio para isto € que os direitos fandamentais sio direitos que esto consa- grados na Constituigio com a intencio de transformar os direitos humanos em direito psitivo ~ é a intengio, por outras palavrs, de positivar ditetos humanos (Menschemedite zu pestvieren}®. Esta intengio & muitas vezes assumida, objetiva ou subjtivamente, pelo legislador constituints. Além diss, esta intengio & uma reivindicagdo daqueles que estbeleceram um catdlogo de direitos fundamentais Neste sentido, & uma intencao objeciva. Pois bem, os direitos humanos so, em primeiro lugar, morais, em segundo, tiversus, em terceiro lugar, fundamentais,e em quarto, direitos abstratos que, em quinto lugar, ém prioridade sobre os outros tipos de normas". Aqui inte- ressam apenas duas daqueles cinco propriedades: a sua navureza moral ¢ a sua natureza absteata (Os direitos 6 existem se forem vélidos. A validade dos direitos humanos, enquanto direitos moras, depende unicamente da sua justifcabilifade. O que quero dizer & que os direitos humanos se justificam com base num teoria do discurso. O Leitmotiv desta conse na praxis de afirmar, de perguntare de argu- rmentar, 0 que pressupde necessriamente a existéncia de regras que expressem © Um exemplo de uma deciso que ura a postvago da properconalidade&o artigo 52° da (Cara dos Diets Fundimentis ds Unido Europe, © Auexy, "Discourse Theory and Fundamental Rights", in Acustix Mantwos2/Eanx (Opovan Enonsen (ed), Aming Fundamental Rigs, Dordrecht, Springer, 2006, p. 13-29 p17) ['Grundrechte”, i Sawoxtuer (ed), Ensyblpide Pix, 2" Ed, 2010, 1, p 950) “ auaxy, “Die Insituionalisierung der Menichenrechte im demokratschen Verfsungstat”, Sn Goseesr/Lonni 68), Poplist Monahan 1999, pp, 246-254, Ausay,"Dicoune ‘Theory and Fundsmental Right, p17 0 Dine 146° 2014, 1, 817.854 Dirt fundamentais e rinapio da roporonalidade 831 autonomia ¢igualdade [dos parsicipantes~ nut], Nada dito pode ser desenvol- YYido aqui. Para os fins que nos ocupam agora, © que interessa é que os direitos hnumanos, como direitos fundamentais, pertencem 3 dimensio ideal do Direto ‘Asegunda propriedade defintéra relevante € a naturezaabsrata dos direitos hhumanos. Os direitos humanos rferem-sesimplesmente a objetos como aliber- dade ea igualdade, a vida e a propriedade, e a liberdade de expressio e a protecio sda honta. Conio direitos abstatos, os direitos humanos colidem inevitavel- rmente com outros direitos humanos e com bens coletivos como a protecio do sneio ambiente ou a seguranga piblica. Os dieitos humanos, portant, exigem ponder Pode-se objetar que isso nlo serve como argumento para demonstar exis- téncia de uma conexio necessiria entre a ponderagZo ou a proporcionalidade e os direitos fundamentas. Uma vee positivados, os direivos humanos tornam-se isso mesmo e nada mais Isto, no entanto, seria uma concegio errada da dupla aatureza dos direitos fandamentais. A natureza ideal dos dieitos humanos nio se desvanece quando eles si transformados em lei positiva. Ao invés, 0s direitos hhumanos permanecem ligados as direitos fundamentais como razdes favor ou contra 0 contetido que fo estabelecido através da postvasio ainda como razBes exigidas pela textura aberta dos direitos fundamentais. Portanto, a dimensio ideal dos direitos humanos sobrevive, apesar de sia positivagio. Em resposta a iso, podara ser levantada a objeso de que a presenga da dimensio ideal detest a natureza de direto postivado dos direitos fundamentais. Mas nio & assim ‘A tess da dupla natureza do Direto precisa que levemos a sério tanto a dlimensioideal como a dimensio ral do Dieito. Ela também exige que ej dada prioridade pra facia dimensio positiva ou de autoridade do Direito*. Quando 6 legsladr consttuinte decdiu uma questio de ponderagio, 20 estabelecer uma regr,oireérprete da Consitucio fica obrigado aaplicar esa regra”. Um exemplo de uma regra de direitos fundamentaisconsta do 102° da Lei Fundamental alema, ‘que afiria: a pena de morte éabolidas. Outros exemplos de decisSes tomadat pelo legisador consttuinte sab a forma de regra jutidicasio: a restrigio da iber- dade de teunifo mediante o dizeto a ereunit-te pacificamente e sem armas, no artigo 8°-1 da Lei Fundamental; ¢ os detalhes da regulagio mito tomplexa quanto a adogio de meios técnicos para vigilincia acdstica de habitagdeé onde suspeitos de crime supostamente residam, constante do artigo 13°-3-6. © Aupxy Diskurtheorie und Menschenreete in Re, Vemma, Diss, 195, pp. 127-164 [PDiscoune Theory and Homan Right, ir Rati Jur, 0” 9, 1996, pp. 209-238) © Auay, “The Dual Natre of Law in atin 23, 2010, pp. 167-182, 173-174, 179 "Die Dopplnatur des Rech" in Der Stat, 50,2011) "Aue, Theo der Grande. 121 [A Theory of Consiaonl Rights. 83. 0 Dino 6" 2009, 10, 817-434 832 Rober Alexy No entanto, as prioridades do legislador constiuinte nio estio sempre livres de critica. Um exemplo disso é 0 artigo 12°-1-1 da Lei Fundamental alemd, segundo o qual a “liberdade de escolher uma profissio” nio esti sujeita 4 qualquer limitagio, a0 contririo da “Iiberdade de exercicio de uma profissio" Se tomarmos isto como uma regra estritamente vinculativa, imune a qualquer tipo de ponderagio, as pesoas que nko fizeram o curso de Direito teriam o direito fundamental a ser admitidas na Ordem dos Advogados. O Tribunal Consttu- cional Federal declarou tal resultado interpretative como sendo sjuridicamente implausivele [reckich nicht enleuhtendfen]}® e, corsetamente, utilizou o exame da proporcionalidade®. ‘Estes exemplos ilustram o sentido em que se pode falar de uma conexio neces sicia entre os direitos fandamentais ¢o principio da proporcionalidade. (Os principios estioligados a todas as normas de direitos fundamentais, inde pendentemente de elas, como tal, terem a natureza de regras ou de principios. Seo legislador constituinte resolveu uma colisio entre principios, emitindo uma regra, entio o principio formal da “autoridade da Constituigio” exige que sta regra seja respeitada. Mas, e essa regra for ambigua, vaga ou valorativamente aberta, entrario em ago os princfpios substantivos ou materiais que estio por detrés da regra. Isto também ocorte quando a regra & incompativel com prin- cipios contidos na Constituigio que tenham, pelo menos nalguns casos, maicr peso do que o principio formal da “zutoridade da Constituigio” em conjunto com os principios substanciais que sustentem a regra juridica. A existéncia destas variadas constelagées remeté para uma conexio necessiria porencial entre os direitos fandamentaise a proporcionalidade ‘A contraparte da natureza potencial &a conexio real existente entre direitos fundamentais ¢ principios. Existe essa conexio real em todos os casos em que as normas de direitos fandamentais, como determinadas pela Constituigio, devam ser interpretadas diretamente como prineipios Esta combinacio de conexbes reais e potenciais", que decorre da dupla natu- reza do Direito, serve para apoiar a segunda tese da necessidade™ * Auexy, There er Grande, p.122 [4 Then of Contin Rights, pp. 83-84) BVerfGE 7, pp. 5775. (p40) 5° BerfGE 7, pp. 377 (pp. 404-405), % Sobre isto, ALsxy, Theorie der Grundrahe, pp. 187-125 [A Theory of Constutonl Rights, pp. 80-86 "0 aigumento ds duplanaturera do Diteito pode ser concebido como uima reconstugio da ‘ese do Tubunal Censtitacional Federal slemo de que o principio ds proporionilidade “emerge Dasieamente ds propria natarers dos dieitor fundamen” [in Grande berets on de Hein der Grune lb: BVer{GE 19, pp. 342. (p.3495; 6, pp. 1 (p44), 76, pps 1 (PP 50-5) Dino 145208) 1H 817.834 Dirt fundamenss principio da proporionalidade 833 53. Os direitos fundamentais e a pretensio de correcio ‘A existéncia de uma razio suficiente para uma rese nlo exclui a existéncia de mais razBes para essa tese. A segunda razio para a segunda tese da nesessidade _ssenta na pretensio de corregio, necessariamente ligada aos direitos fundamen tais¢ 20 Direito em geral. A pretensio de corregio foi explicada e defendida em outros textos. Aqui interessa-nos apenas um ponto, A pretensio de corregio, necessariamente ligada 20 controlo da constitucionalidade, exige que as decisdes, da jurisicio constivucional sejam o mais racionais possvel ‘Muitos autores tém afirmado que a ponderagao € irracional™. Esta objecio pode sr referida como “a objer3o de irracionalidade”. Nio € possvel esponder-Ihe aqui®®. No entanto, algumas criticasdirigidas a esta objegio podem ser-nos it! ‘Um dos principais argumentos da objegio de irracionalidade & o de que a Formula do Peso nio especifica scomo € que os pesos concretos a inserir na {Srmula si identificados, medidos e comparados". Ora, é verdade que a Formula do Peso nfo nos diz qual o quid que pode ser uma interferéneia num direito funda mental (I, I), nem quando se deve utilizar a escalade leve (), moderado (im) € grave (g). Também no nos diz qual & 0 peso abstrato (PA, PA) de cada um dos principios em colisio, Finalmente, ela nao diz nada sobre a fiabilidade (F, F) dos pressupostos empiricos "Nada daquilo, no entanto, em a ver com racionaldade, Precisamente 0 oposto é que € verdadeiro, Os valores numéricos que substituem as variveis epresentam proposigdes Assim, exemplo, a proposigio: +A restrivdo do direito de personali- dade & moderaday; esta declaragio pode ser fundamentada, ¢, de facto, deve ser 1 © Avex, Begriff wad Geng des Recs (1992), 4" Ed, 2008, pp. 64-70 (The Argument fom Injustice. A Reply © Leal Psion, wadur3o para o inglés de Bonnie Litschewski Paulson/ Stanley C. Paulson, Oxford, Clarendon Pres, 2002, pp. 35-39} Ausey, "The Dual Nature of Law", pp 168-172, ™ Pocesempl, JORGEN HamERMas, Flliitiund Galo ~ Bela Disab des Rs und es deolaschen Rehtstaas (1992), 4 Ed, Frankfurt am Mai, Subskarp Verag, 1994, p. 315 1d Nem Conrbutions o « Dione Theory of Law and Dena, auc pra © ta Rely, Canibidge- Masahunes, The MIT Pies, 196), Danan Semin, “Der Grundaat der Verhsltniinigket” n Prvs® BADURA/ToRST Duster (ed), Fest $0 Jahre Bundesverissingeit, Tubingen, Mohr Sibeck, 200, p. 445-465 (p 460) ima resposta recent pode ser enconteada emt ALY, “Die Konsruktion der Grandreche" jn Cuico/Sisceans (ed). Grantee, Prinzpien und Angmeriaton~ Staten zur Recto Robert Ales, 2009, pp. 13-19 fem portugués: "A construgio dos direitos fandamentas, in Dito & Polica/Law & Politics, n° 6, Lares, 2014, pp. 38-48 (pp. 4-48) % Jesrator, “Die Abwigungdehre~ ihre Seiken und ire Schwichen", p. 267 [“The Doctrine of Balancing ~ is Stengths and Weaknesses", m. 18]; ambén: Poscne, “Binsicheen,leeumer und Selbsmisverstindnisse der Prinzipentheore" p. 76; ALExawbeR SoM, Recliches Wisen, Feankfueeam Main, Sobekamp, 2006, pp. 135-136. 0 Dini 1465 (2014, 11, 17-836 834 Robert Alexy fandamentada®. Isto pode ser feito apenas através da argumentagao. Assim, a Férmula do Peso é um argumento pertencente ao dissurso juridico racional®. Deste modo, é indispensive! & introdugao de «ordem 10 raciocinio juridicov”®. Fica assim claro quais os aspetos decisivos e como & que tis aspetos se relacionam uns com os outros®, Uma estrutura de discurso jusfundamental que nos assegure maior racionalidade do que esta nio é possivel Isto é suficiente para demonstrar que o exame da proporcionalidade é exigido no sé pela natureza dos direitos fundamentais, como também pela pretensio de correco necessariamente presente no controlo da constitucionalidade. © Tal fandamentacio pode alangatnives grandes de elaboraco; por exemplo, BVeH(GE 115, pp. 3205s, (pp. 347-357), pelo que a fundamentagio da vsloraco daintensdade de imurferéncia thega ater dex piginas 5 ALsxy, "Die Konsraktion der Grundrecht", p. 19 fem portugués “A constragio dos direitos andamenesi, in Dio & Politica Law & Palit n° 6, p48) 2 AwaKON Bana, The jadgin Demy, Princeton, Princeton University Press, 2006, p 173 © £ frequentementelevantida 2 objecdo de que os elementos ou fatoresrepresentidospelas -vaiveis numérica na Férmila do Peso no slo suscetiveis de medi, por exemplo, Jorn Abten, "The Sublime and the Beausful: Incommensurabilty 2nd Human Righs, i Pubic Law, 2006, pp. 697-721 (pp. 717-718. A resposta aa objedo &a de que 2 mensuabilidade dis aaliagdes ‘em ambos o adot da balanga &reconhecida a partir de um ponto de vista comm, o ponte de vise da Consitsigo, Deste ponto de vss, 2 "incomensorabiidade”ndo & outa cos endo um -desacordo: ALSXY, "Die Gewichtsformel” p. 781s, ["The Weight Formols, pp. 18s]. (0 Dino 462019, 1, 817.634 ARTIGOS DOUTRINAIS

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