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Direito Fiscal

Aula 13/09/2022

Os impostos consistem em receitas públicas, coativas, unilaterais (não há


um sinalagma jurídico; não existe uma contrapartida individualizada entre o
que pagamos e o que recebemos). Ex. IRS: não conseguimos perceber se o
montante que pago vai ser afeto a despesas de educação, saúde, despesas
com os funcionários públicos, etc.
No entanto, num Estado de Direito tem de haver publicidade, e esta
manifesta-se através do Orçamento, e a sua aprovação está sujeita a reserva
de lei- não há impostos sem votação. Os tributos não podem ter fins
sancionatórios. Trata-se de uma condição da existência do próprio estado.
Não há estado soberano e independente sem existirem impostos suficientes
para o seu financiamento. E esse é um dos desafios da atual economia aberta,
globalizada, com livres circulações.
É utopia falar neste momento de globalização no sentido em que se
sonhava nos anos 90. No entanto, em termos económicos, ainda temos uma
grande parte de livre circulação, em termos monetários- isto é, é muito difícil
captar os movimentos dos contribuintes com maior capacidade contributiva,
no sentido em que estes escolhem os territórios onde não vão ser tributados
ou onde vão sê-lo com uma carga baixa- o que se chamava antigamente de
paraísos fiscais.
Todos os estados competem para atrair os grandes investidores, como é o
caso português também, como por exemplo com o regime de residentes não
habituais. Isto mostra que os estados, devido às livres circulações, têm muita
dificuldade em captar receitas por parte de quem mais capacidade
contributiva tem e por isso descem os impostos, o que faz com que estes
recaiam com maior foco nos sujeitos contribuintes com menos mobilidade.
É muito difícil conseguir captar impostos numa lógica de justiça, de quem
mais capacidade tem. Consta da CRP que o princípio da igualdade rege a
tributação- quem mais tem, mais deve pagar.
O que exige a CRP é um princípio de capacidade contributiva que consta
do art. 3º e 104º e que tem de ser concretizado por lei- reserva de lei;
discricionariedade do legislador para concretizar o princípio da capacidade
contributiva.
Direito Fiscal para quê? O Direito Fiscal é um ramo de direito, já com
vários subramos. Implica uma relação de facto entre a autoridade tributária
e o contribuinte. O Direito Fiscal é um ramo autónomo, com as suas próprias
características, e estas advêm do facto de, apesar de ser um ramo de Direito
Público, a relação entre fisco e contribuinte reger-se por princípios
autónomos face aos outros ramos do Direito.
Tem de existir sempre uma ponderação entre segurança jurídica e princípio
da igualdade/ capacidade contributiva.
Segurança jurídica: legalidade + proibição de retroatividade. Tem de
estar tudo previsto na lei com densidade suficiente, para que o contribuinte
saiba o que vai pagar.
Justiça fiscal: capacidade contributiva. Tensão constante entre estes 2
princípios.
- Tributação direta: impostos sobre o rendimento- IRS, IRC
- Tributação indireta: IVA

Aula 15/09/2022

Existe a dificuldade em tributar a capacidade contributiva, devido à


quantidade de pessoas e capitais, e isto consiste num desafio muito
importante para que os estados se mantenham soberanos.
Direito fiscal: ligado ao conceito de imposto em Portugal; Direito
tributário: conceito mais amplo. Quando falamos em Direito Fiscal falamos
num estado que se sustenta maioritariamente através de impostos.
Tributos: receitas públicas que devem satisfazer necessidades públicas e
que não têm características sancionatórias. Este conceito está relacionado
com 3 áreas de fiscalidade stricto sensu, isto é:
1. Normas fiscais stricto sensu: são aquelas que dizem respeito a uma
finalidade de arrecadação de receitas, sejam primárias ou secundárias;
2. Parafiscalidade: surge com uma especialidade- as entidades que
criam os tributos não têm base territorial e não são entidades eleitas
democraticamente. Ex. segurança social e e suas contribuições dos
trabalhadores e empregadores- não são tributos criados através de uma
entidade diretamente relacionada com uma eleição; universidades e
instituições reguladores- criam tributos para financiamento de um grupo
homogéneo.
3. Extra fiscalidade: temos receitas públicas, cuja finalidade principal
não é a arrecadação de receitas, mas a orientação de comportamentos. Ex.
tributo sobre os sacos de plástico, que pretendem que deixemos de os
utilizar- pretendem mudar o nosso comportamento. E se o comportamento
não se alterou? Nesse caso, a finalidade não foi alcançada. E se houver uma
aparência de extra fiscalidade, mas na verdade o que a AR quer é arrecadar
impostos? Ex. impostos sobre o tabaco- é duvidoso que o estado esteja
preocupado com a nossa saúde.
O Direito Fiscal aparece no quadro do Estado de Direito. Surge em 1918
com a 1º lei geral tributária, na Alemanha, e dá origem ao Direito Fiscal
porque é a primeira vez que se regulam os direitos e deveres dos
contribuintes numa relação jurídica tributária.
Contribuintes como sujeitos passivos podem reclamar contra ilegalidades
do fisco.
Tributos: receitas cobradas por entidades públicas, de modo a satisfazer
necessidades públicas, seja a título principal ou secundário, e sem função
sancionatória. Esta ausência de função sancionatória é por vezes esquecida
pelo legislador. Ex. Na EU um limite na PAC à produção de leite- se
ultrapassarem a quota, sujeitos ao pagamento de determinado montante. Que
tipo de tributo é este? Vai para o orçamento da OE, é um tributo unilateral,
é um imposto, objetivo fiscal ou com função sancionatória (o que faria com
que saíssemos do campo do Direito Fiscal e aplicar-se-ia a dogmática do
Direito das contraordenações)?
No nosso ordenamento constitucional temos uma classificação tripartida
(art. 165º/1/g) da CRP.
1. Impostos – Características:
Unilateralidade, isto é, não existe um sinalagma jurídico nem
económico. Aquilo que pagamos a título de impostos tem de ser afeto a
necessidades públicas, este controlo é feito pelo OE, mas sem consignação.
Impostos consignados são a exceção. Ex. IRS, IRC, IVA, IMI- sabemos que
é para satisfação de necessidades públicas, mas não sabemos quais.
Quantificação ad valorem: sobre o valor do bem ou rendimento. Isto
surge devido ao princípio da capacidade contributiva (manifestação do
princípio da igualdade), e que nos diz que deve pagar mais impostos quem
mais capacidade contributiva tem, e a tributação incide sobre o rendimento,
património ou consumo. Se é assim quando vamos quantificar o montante a
pagar, este é relativa sempre ao bem, valor, património e revela-se pela taxa.
Classificações
Impostos reais: incidem sobre o valor dos bens e, na sua pureza, têm
objetivos de neutralidade, não tendo objetivos de entender, em concreto, qual
a capacidade contributiva dos sujeitos, através de elementos pessoais. Isto é,
não interessa qual o tamanho do agregado familiar, se vive em economia e
comum, etc. Pagos também por sujeitos passivos, bem como os restantes.
Exemplos em que a neutralidade não é assegurada: o IVA português tem
vários elementos pessoalizantes- ex. restauração ter taxa especial e não ser
submetida a uma taxa global- estabelece-se distorções ao funcionamento do
mercado, onde privilegiamos alguns setores e prejudicamos outros. Deve ser
neutro para o Estado não interferir com a eficiência empresarial. Outro
exemplo: os 6% do IVA sobre bens essenciais- elemento pessoalizante:
estamos a ter em conta a capacidade contributiva. IVA é a receita mais
importante para o Estado, pois todos somos consumidores- tem elementos
pessoalizantes e tipos de distorções. Quando se reduz a taxa destes impostos
Impostos pessoais: tem características que olham para elementos de
capacidade contributiva (art. 104º CRP). Prossegue objetivos de justiça e
têm-se em conta características mais individualizadas. Na legislação para a
identificação de contribuintes e de elementos pessoalizantes nunca podemos
ter em conta o indivíduo em concreto. Utiliza-se o tipo- categorias. Tentamos
identificar um conjunto de pessoas com aquelas características. O Direito
Fiscal tem de estabelecer tipos: quando existe uma taxa de IRC de 21% não
é individualizada, é por categorias de rendimentos com as características que
são tomadas em conta. Introduzem-se elementos pessoalizantes, mas por
tipos, não individualmente, e isso faz-se através de escalões, limites
máximos, etc.
2. Taxas:
3. Contribuições financeiras

Aula 20/09/2022
Quer os impostos reais como os pessoais, têm um objeto e um sujeito.
Como objeto (incidem sobre) pode ser um bem, o consumo ou o rendimento
e temos sempre um sujeito passivo, em que o termo mais comum real é o do
contribuinte. Isto significa que a diferença entre impostos reais e pessoais
não está relacionada com a presença ou ausência de um destes elementos; a
diferença assenta na configuração do imposto e quais os elementos nessa
configuração mais relevantes. Ex. IVA- imposto à partida real, que o objetivo
é haver uma neutralidade do imposto- não haver distinções entre o objeto de
tributação. Se o IVA fosse um imposto real em sentido strito haveria uma
única taxa e seria um imposto neutro pois não haveria distinções relacionadas
com eventuais capacidades contributivas dos sujeitos passivos/ contribuinte.
Vão sempre introduzidas especificidades que acabam por distorcer o que
seria o ideal- atividade legislativa. Quanto mais se cumprir os princípios sem
diferenciações, mais coerente o sistema- se não estamos a introduzir
distorções- tentar que haja legislação coerente de acordo com os princípios
estudados para o imposto.
Impostos pessoais: no sec. XX e ainda no séc. XXI incidem sobre o
rendimento e incidem sobre o rendimento global em termos de princípios e
tal como configurados no início do séc. XX. Ou seja, para serem coerentes,
os impostos pessoais não deveriam distinguir entre diferentes categorias de
rendimentos. Ou seja, por exemplo, o imposto que recai sobre rendimentos
de trabalho dependente deveria ser calculado da mesma forma que o imposto
que recai sobre os rendimentos de capitais- não deveria haver uma distinção
entre categorias. O IRS temos várias categorias- ex. trabalho dependente,
trabalho independente. Quando falamos de rendimento, o que conta é o
acréscimo patrimonial- faz-se atualmente- é uma ficção legal e corresponde
ao ano legal do OE. Global- independentemente do Estado que os
rendimentos são gerado, ou seja, independentemente do estado da fonte. Isto
faz-se através da residência, que nos indica o grau de conexão mais fiável no
séc. XX.
A troca de utilidades é o que justifica a existência do imposto- o imposto
serve para fazer face a despesas públicas. Logo, há uma troca de utilidades,
mesmo que não consignadas.
Impostos pessoais: direito fiscal é uma das áreas da tipificação, isto é, não
podemos dizer (lei, fisco, tribunais) caso a caso as pequenas distinções entre
contribuintes. O princípio da igualdade é dado pela capacidade contributiva,
pelo acréscimo patrimonial. Elementos pessoalizantes entram depois de
apurar a coleta- a aplicação da alipta do imposto à matéria tributável.
Abatimentos- elementos pessoalizantes que vão introduzir diferenças de
acordo com uma lógica de Estado social. Abatimentos relacionados com
despesas de saúde, educação etc- há um máximo até ao qual o sujeito pode
deduzir essas despesas.
Imposto pessoal: sempre sobre a pessoal singular, pessoa física.
Crise do imposto social: com a mobilidade dos sujeitos passivos, quer a
nível global quer a nível da UE, e com a mobilidade dos rendimentos de
capitais, passou a ser muito difícil englobar todo o rendimento. Isto é, os
rendimentos com maior mobilidade, como os juros, dividendos, mais-valias,
etc, facilmente são deslocados para países de baixa tributação. Como os
impostos assentam na soberania estadual- cada estado aprova os seus
impostos de acordo com a reserva de lei- isso significa que o desenho dos
impostos também é nacional. Isto coloca em crise o princípio da tributação
global: embora seja mais justo não distinguir entre categorias de
rendimentos, os rendimentos de capitais são tributados de forma muito mais
favorável do que os rendimentos de trabalho, e conseguem escapar à
tributação.
Taxas progressivas: elemento relacionado com a pessoalidade. Até agora
3 tipos de elementos: tributação de rendimento global e universal (não
distinção entre categorias), abatimentos pessoalizantes (juros, despesas de
saúde) e progressividade- legislada através de escalões.
Se houvesse uma taxa proporcional, isso já assegura a capacidade
contributiva- quem tem mais, paga mais. O que justifica a progressividade é
o princípio redistributivo- quem ganha mais, paga mais em termos relativos
e absolutos.

Aula 22/09/2022

As várias classificações interagem. O imposto pessoal é o imposto sobre o


rendimento das pessoas singulares – é progressivo. A crise do imposto
pessoa a propósito da mobilidade. A lógica da capacidade contributiva
também está em crise.
A progressividade justifica-se pela redistribuição.
Impostos sobre o património – o Estado procura receita em outras fontes,
sendo que as fontes imóveis são mais fáceis de tributar. O IMI tem vários
elementos pessoalizantes. Não é o ideal, pois o imposto pessoal é o IRS, mas
acontece porque é difícil tributar os rendimentos móveis.
Proporcional significa uma taxa única e quem ganha mais paga mais.
Impostos regressivos são proibidos.
Impostos diretos e indiretos – manifestações mediatas e imediatas de
riqueza.
Impostos periódicos e de obrigação única: renovação do facto
tributário/nascimento extinção.
Taxas – sinalagma jurídico. EX: propinas. Temos que ter bens divisíveis
com utilidades individualizáveis. Quantificação pelo benefício. Para saber se
estamos perante uma taxa o benefício que recebemos tem de ter equivalência
com o montante que devemos pagar – princípio da proporcionalidade
alcançado através do princípio do custo/benefício. O bem deve ser presente
e não futuro.

Aula 27/09/2022

CRP, Coletânea Fiscal


Art. 103º da CRP (o que é o sistema fiscal, os princípios estruturantes), nº2
– princípio da legalidade, nº3 – princípio da proibição da retroatividade. Art.
104º - propósito de cada imposto em particular. Art. 165º/1 al. I e 2 -
Competência relativa da AR.
LGT – estrutura do sistema fiscal, mais uma lei geral dos impostos do que
dos tributos. Art. 3º - classificação dos tributos. Art. 4º - pressupostos. Art.
5º - finalidade. Temos um conjunto de normas que contribuem para a
definição de tributos.
Critério objetivo, subjetivo e finalista teleológico – para definir tributos.
Elemento objetivo se trata de uma prestação de natureza obrigacional
pecuniária e coativa (resulta de um instrumento legal), visando a arrecada de
receitas. O elemento subjetivo – temos um sujeito ativo (tem direito ao
pagamento de uma prestação resultante da lei) e um sujeito passivo.
Elemento finalista teleológico – satisfação das necessidades financeiras do
Estado, todos os tributos conjuntamente precisam atender a uma
necessidade, um tributo não precisa atender uma finalidade em específico.
Finalidades de direção de comportamentos – poluição, tabaco, álcool.
Finalidade extrafiscal. Também há a finalidade da igualdade social –
orientação da distribuição das riquezas – extrafiscal.
Tributos fiscais e parafiscais – ambos prosseguem finalidades públicos.
Nos tributos parafiscais encontra-se consignado a entidades diferentes do
Estado – EX: contribuição audiovisual (imposto, tributo ad valorem, não há
correlação direta ou difusa com um determinado grupo, todos pagam).

Aula 27/09/2022

Ainda não foi criado na CRP o regime geral das taxas.


Licenças fiscais – até determinado momento o TC entendeu que se tratava
de um imposto oculto.
Contribuições financeiras – introduzida na revisão de 1997, residual, tem
importância de facto elevada. Não são unilaterais e nem bilaterais. São
cobradas em benefício de um grupo homogêneo. Bilateralidade de grupo e
não individualizada. São a favor de entidades públicas sem base territorial.
Sinalagma difuso ou de grupo. Parafiscalidade.
Prosseguem finalidade extrafiscais com consignação – não tem só o
objetivo de arrecadar receitas, mas também regularizar um determinado
setor. Provocam externalidade, pois como o bem não é divisível dentro do
grupo quem contribui provoca externalidades positivas em relação aos
restantes.
No caso das taxas e das contribuições financeiras, elas não devem ser
calculadas ad valorem, pois a capacidade contributiva deve ser decidida pela
AR (discricionariedade do legislador). Não é legítimo crias tributos ad
valorem. Devem calcular a contribuição através da utilidade de grupo. Deve-
se ver quais são os gastos máximos das entidades reguladoras e dividi-los
pelas entidades reguladas. Os regulamentos destas entidades têm criado
qualificações ad valorem e o TC não os tem advertido sobre isto.
Os benefícios fiscais são exemplos de extra fiscalidade pois quando eles
são conferidos reduzem, eliminam ou adiam o pagamento dos impostos. Os
sujeitos ou o objeto tributário cai na norma regra, mas depois há uma outra
norma que vai excepcionar aquela situação. Para eles serem compatíveis com
a CRP eles não podem ser privilégios fiscais, pois estes são incompatíveis
com o princípio da igualdade. O benefício deve ser para toda a comunidade
e superior a violação da capacidade contributiva.
Princípio do bem-estar social, princípio da proporcionalidade (necessidade
económica das famílias e repercussão em toda a comunidade), princípio do
ganho. Finalidade económica, cultural e política/diplomática.
O tatbestand de imposto – aparece dividido em o an (incidência objetiva e
subjetiva) e o quantum. O objeto também pode ser designado com facto
tributário. A incidência em sentido amplo implica também a quantificação
da matéria tributável. Deduções ao rendimento bruto – gastos dedutíveis para
depois aplicar o ad valorem, a taxa. Quando aplicamos a taxa temos a coleta.
Depois disso, no caso do IRS, temos abatimentos que não estão relacionados
com o apuramento do rendimento líquido, mas sim com elementos
pessoalizantes e eliminação de duplas tributações (deduções a coleta).

Aula 30/09/2022

Critério de interesse tutelado – se for interesse público a ser tutelado há


uma taxa. Art. 4º/2. Não necessariamente precisa ser domínio público, basta
que tenha a possibilidade de impactar o interesse público.
Elementos dos impostos: unilateralidade, ad valorem (capacidade
contributiva, baseada numa manifestação de riqueza e de património),
diretos ou indiretos, finalidade de arrecadação de receitas é a principal,
fiscais ou parafiscais, reserva de lei (art. 165º/1 al. I), relação de natureza
obrigacional (prestação pecuniária normalmente efetuada em dinheiro),
coatividade (resultam de lei).

Aula Prática 03/10/2022

1.Espécies de Tributos
Farto dos garridos reclamos e anúncios luminosos na cobertura de
prédios lisboetas, que segundo o presidente da CML desarmonizavam a
estética da cidade e afastavam os turistas, o executivo camarário de
Lisboa apresentou à respetiva Assembleia Municipal uma proposta de
criação de uma Taxa Especial a incidir sobre todo e qualquer objeto e
estrutura publicitária colocado na cobertura ou telhado dos imóveis
sitos nos bairros históricos do Castelo, Mouraria, Príncipe Real e
Chiado. Ainda de acordo com a proposta, o tributo deveria assentar
sobre (i) o valor tributário dos prédios e, sempre que este valor se revele
manifestamente desatualizado, (ii) sobre uma ponderação da média dos
rendimentos sujeitos a IRS declarados pelos proprietários desses
imóveis. A referida proposta propunha também a criação de isenções
específicas para (i) os imóveis cujo valor patrimonial não excedesse os €
2.500 e para (ii) as sedes dos partidos políticos.
Quid iuris?
A taxa no nosso ordenamento jurídico-constitucional é caracterizada como
sendo um tributo sinalagmático ou bilateral, deve poder prosseguir
finalidades fiscais ou extra-fiscais, tal como os impostos, e compreende três
tipos de situações como está consagrado no art. 4º/1 LGT: 1. A contrapartida
pela utilização de serviços públicos; 2. A contrapartida pela utilização de um
bem público ou semipúblico ou de um bem do domínio público; 3. A
contrapartida pela remoção de um obstáculo jurídico ao exercício de uma
atividade por parte dos particulares.
No caso é uma taxa de publicidade: qual é o problema da publicidade?
Alguém tem de regular o que é aceitável em termos de publicidade, e à
medida que alguém paga, cobre-se os custos de regulação, mas pode
penalizar quem faz publicidade e anúncios luminosos. Lógica de poluidor-
pagador.
Não sabemos quem paga: falta a incidência subjetiva (artigo 103.º/2 CRP);
não se consegue pôr este tributo em prática, nem fazer equivalência sem esta
característica da incidência subjetiva, pois não se sabe quem paga.
valor tributário dos prédios: princípio da capacidade contributiva; mas não
faz sentido que seja o proprietário a custear um anúncio que é um terceiro a
colocar no prédio. –
ponderação média dos rendimentos sujeitos a IRS declarados pelos
proprietários desses imóveis: absurdo- isenções: critério do valor patrimonial
cujo valor patrimonial não excedesse os € 2500;
isenções para as sedes dos partidos políticos: artigo 13.º CRP; princípio da
igualdade no sentido mas formal. Inconstitucionalidade.
Elementos que nos levam a concluir que é uma taxa: bilateridade (remoção
de um obstáculo jurídico)
Elementos que nos levam a concluir que é um imposto: assenta na
capacidade contributiva e no critério ad valorem (mede a riqueza). É um
imposto que está em causa.
Reserva relativa da AR – regime geral das taxas e contribuições financeiras.
Controlo constitucional das taxas, não encontramos para a generalidade das
taxas – fraco. Princípio da cultura de custos – referência para o sinalagma
jurídica, não se sabe o quanto está associado a um serviço ou remoção do
obstáculo jurídico (não tem critérios para determinar o sinalagma
económico). Tribunais usam o critério da manifesta desproporcionalidade,
mas a sua quantificação não é determinada. Critério de choque.
Benefícios fiscais. Art. 2º EBF. Medidas extrafiscais. Desagravamentos e
isenções. Tem conteúdo e tempo limitado. Sujeito a reserva de lei. Excepção
das Autarquias Locais – poder originado, poder de prossecução da política
fiscal definida por lei, podem criar sempre e somente que os benefícios
fiscais relacionados com imposto cuja receita lhe é atribuída.
Com relação aos imóveis com valor patrimonial até 2500 – imóveis deste
tipo são quase inexistentes. Não faz sentido, não tem aplicação prática.
Com relação aos partidos políticos – o benefício faz sentido, pois estes
contribuem para a democracia – princípio do ganho e do mérito.

Impostos diretos e indiretos. Critério económico de repercussão. Os diretos


incidem sobre manifestações diretas da riqueza. Os indiretos incidem sobre
manifestações indiretas da riqueza e da capacidade contributiva, ausência de
repercussão.
Impostos reais e pessoais – tributam manifestações da riqueza e do
património. Reais – não consideram a capacidade contributiva. Pessoais –
consideram a capacidade contributiva, elementos pessoalizantes (EX:
impostos sobre o rendimento – progressividade, imposto único,
englobamento ao juntar todos os rendimentos recebidos).
Classificações são estruturais, mas não vamos conseguir arrumar todos os
impostos em cada uma das classificações.
Impostos sobre o consumo tributam manifestações gerais do consumo.
Impostos sobre o rendimento tributam manifestações sobre o rendimento
organizados no sistema fiscal. O imposto sobre o património tributam o
património mobiliário.
Impostos proporcionais – taxa fixa com referência a determinado
montante. Progressivos – quanto maior o rendimento maior a taxa.
Regressivos – quanto menor o rendimento menor a taxa, são
inconstitucionais porque violam o princípio da igualdade, sendo que os
impostos devem sempre ter em conta a capacidade contributiva.
Os impostos visam a repartição da riqueza e dos rendimentos – finalidade
parafiscal.
Obrigação única – nasce e se extingue com um ato jurídico ou momento
concreto e individualizado no tempo (EX: consumo). Obrigação periódica –
factos tributários que se formando continuamente durante um período de
tempo (EX: IRS e IRC), renovação em termos de período fiscal. Distinção
importante para a aplicação do princípio da proibição da retroatividade no
tempo.

Aula 04/10/2022

Substituição tributária aparece como retenção na fonte. Só os sujeitos


passivos com contabilidade organizada que estão obrigadas a retenção da
fonte. Só assim a autoridade tributária consegue controlar e verificar se os
deveres foram cumpridos.
Responsabilidade tributária por parte do substituto. Pode haver juros e
coimas se houver infração tributária. A responsabilidade é no direito fiscal é
uma figura autónoma da responsabilidade criminal e civil, porque é sempre
uma responsabilidade pela dívida tributária de outrem.
Responsabilidade subsidiária por parte do substituto.
A responsabilidade tributária não é objetiva, todavia o substituto está a
lidar com montantes que não são dele e. portanto, para que ele não seja
efetivamente responsável terá de haver uma situação em que ele não tem que
assumir o risco.
Relação Jurídica Tributária – art. 36º/1 da LGT tem os pressupostos legais.
Nº2 – indisponibilidade do crédito e relaciona-se com o nº 3 que faz
referência a proibição de moratórias (princípio da igualdade). Não é possível
ao fisco dispor do crédito através de um acordo com um contribuinte.
Regimes Excepcionais de Regularização das Dívidas Tributárias – perdões
fiscais. São inconstitucionais e o TC devia tomar medidas. Um pode ser
aceite se for um caso de poupança trazida de volta, mas não pode ocorrer de
forma seguida como tem ocorrido.

Aula 06/10/2022

Princípio da Legalidade – é um princípio formal, pois é baseado numa ideia


de segurança jurídica, garantia da relação entre o contribuinte e o Estado.
Previsibilidade e calculabilidade das leis fiscais. Assegurar a discussão
pública das leis, ou seja, as ideias devem ser discutidas quer seus prós quer
seus contras. Proteção do património dos sujeitos passivos. Expressão do
Estado de Direito Democrático.
Manifestação do PL – art. 165º/1 al. I e 2, 103º/2, 227º/1 al. I, 232º/1 e
338º/4.
4 vertentes do PL: Perspectiva da competência dos órgãos – AR ou
Governo, Assembleias Legislativas Regionais e Autarquias Locais. Objeto
da Reserva de Lei – que aspectos devem estar sujeitos a lei. Princípio da
tipicidade – densidade exigida nas leis. Precedência de lei – consagra um
direito de resistência a tributação se o PL for violado.
Competência primordial é da AR. Os impostos são criados por lei, que
deve ser entendida em seu sentido formal. Outros tributos também estão
sujeitos a reserva de lei, princípio da equivalência. Cada imposto deve ser
criado pela AR ou pelo Governo autorizado.
Tripla vertente nas leis de autorização legislativa – conteúdo material
bastante, que contenha a linha de orientação dada pelo legislador e a lei deve
ter as novidades que vão ser introduzidas. Devem conter os elementos do nº
2 do art. 165º.
Dimensão material – concretizada no princípio da tipicidade. Nem todas
as normas fiscais estão sujeitas ao PL. Art. 103º/2 – concretização material
do art. 165º/1 al. I. Incidência (vista em sentido amplo, abrange o an e o
quanto, objetiva – factos tributárias que vão onerar, subjetivas – quem vai
pagar, territorial – âmbito de aplicação, momento da tributação). Reserva de
Lei.
Benefícios Fiscais – normas com finalidade extrafiscais. Flexibilização.
Sempre que os benefícios tenham impactos nos elementos dos impostos
devem estar sujeitos a reserva de lei.
As leis ficais podem não prever todas as alterações. O PL não implica que
não possa haver um certo grau de indeterminação. Conceitos indeterminados
não significam inconstitucionalidade, mas sim necessidade de densificação.

Aula Prática 07/10/2022

Benefícios fiscais. Art. 2º EBF. Medidas extrafiscais. Desagravamentos e


isenções. Tem conteúdo e tempo limitado. Sujeito a reserva de lei. Tem de
ser superior a violação do princípio da igualdade. Princípio do bem-estar
social, princípio do ganho e do mérito, princípio da proporcionalidade.
Excepção das Autarquias Locais – poder originado, poder de prossecução
da política fiscal definida por lei, podem criar sempre e somente que os
benefícios fiscais relacionados com imposto cuja receita lhe é atribuída. Art.
15º e 16 da Lei das Finanças Locais.
Relação Jurídica tributária – temos um sujeito ativo e passivo, relação de
direito público que atribui direito e deveres para ambas as partes. Regulada
na LGT, a partir do art. 15º.
Sujeito ativo – art. 18º - entidade pública, Estado, RA, entidades
descentralizadas.
Sujeito passivo – conceito amplo, contribuinte (originário, tem
primariamente a obrigação de pagamento dos impostos; contribuinte de
facto), substituto (art. 20º, por imposição da lei possa ter um conjunto de
obrigações fiscais, a forma primordial é através da retenção da fonte, EX:
contribuição para o audiovisual, retenções a título definitivo).

2.Substituição e responsabilidade tributária


Deolinda Nunes, gerente da empresa “Lagoas e Mares, Lda”, com sede
em Faro, está muito apreensiva relativamente aos meses de setembro e
outubro, já que a empresa suportou um valor elevado de juros para
financiar a sua sucursal em Loulé e pagou diversas coimas por infrações
cometidas no trânsito com as viaturas da empresa. Nesse período, o
departamento financeiro da empresa não efetuou sequer as retenções na
fonte aos trabalhadores da empresa em relação aos seus salários. E, por
outro lado, em face das graves dificuldades financeiras da empresa, não
foram entregues as quotizações dos trabalhadores para a Segurança
Social.
Quid iuris?
1ª parte: A empresa “Lagoas e Mares, Lda” é o substituto tributário, na
medida em que é um sujeito que tem obrigações estabelecidas por lei e que
estão relacionadas com a retenção do I do contribuinte e que tem de ser
entregue ao fisco.
Sujeito ativo: E.
Sujeito passivo, que por imposição da lei, está obrigado a cumprir prestações
materiais e formais da obrigação tributária em lugar do contribuinte, art.
20º/1 LGT.
É sujeito passivo, mas não é contribuinte, ele não está a ser tributado, ele
apenas auxilia a tributação do contribuinte, substituição esta que é efetivada
através do mecanismo de retenção na fonte, art. 20º/2 LGT.
Neste caso a empresa não procedeu à retenção na fonte do imposto devido
pelos salários dos trabalhadores, o que significa que o substituído recebeu o
montante bruto do salário pelo que é sobre este último que vai recair a
obrigação de imposto.
Pelo que se o mesmo não for pago cabe ao substituído a responsabilidade
originária pelo I não retido e ao substituto a responsabilidade subsidiária, art.
28º/2 LGT.
Ficando ainda o substituto sujeito aos juros compensatórios devidos desde
o termo do prazo de entrega até ao termo do prazo para apresentação
da declaração pelo responsável originário ou até à data da entrega do I
retido, se anterior. + art. 35º LGT.
2ª parte: Face às graves dificuldades financeiras da empresa não foram
entregues as quotizações dos trabalhadores para a Segurança Social, neste
caso houve uma situação de retenção do I na fonte, no entanto o mesmo não
foi entregue (art. 20/2º o mecanismo de retenção na fonte é efetivado através
da obrigação de retenção na fonte e sua subsequente entrega).
Aqui a responsabilidade é do substituto, sendo este o único responsável, art.
28º/1.
O substituído fica liberto de quaisquer obrigações relacionadas com a
retenção, na medida em que há a presunção de que o substituído não sabe
nem tem a possibilidade de saber se o montante retido foi ou não entregue
ao fisco, pois este sabe que apenas foi retido.
Temos de ver o artigo 24.º: quem era a pessoa que efetivamente tinha de
cumprir com a obrigação tributária. Em regra, é o gerente. 24.º/1, b), a pessoa
tem de provar que não lhe é imputável a falta de pagamento.
Terá de se aferir no âmbito do art. 24º a culpa, mas só neste âmbito.

Aula Prática 14/10/2022

Art. 28º - Responsabilidade Tributária em caso de Substituição (ocorre por


retenção da fonte).
Nº 1 – retido, mas não entregue, retenção na fonte por conta ou
definitiva/liberatória, responsabilidade do substituto e exoneração do
substituído, não há responsabilidade subsidiária do substituído.
Nº 2 – não retido e não entregue, retenção da fonte por conta do imposto
final, responsabilidade do originária e subsidiária do substituído.
Nº 3 – não retido e não entregue, retenção na fonte definitiva/liberatório,
responsabilidade originária do substituto e subsidiária do substituído.
Quanto ao nº 3 a professora Ana Paula prevê a possibilidade de uma
responsabilidade solidária.
Art. 24º - RT Subsidiária face a empresa, gerentes/corpos sociais. Entre os
gerentes a reponsabilidade é solidária.
Al. A – vencimento da dívida após o exercício do cargo; ônus da prova
é da Administração Fiscal.
Al. B – vencimento da dívida durante o exercício do cargo; inversão
do ônus da prova, quem tem que provar é o gerente (presunção de culpa).
Se há imputação por crime de contraordenação há a prova da culpa.

Aula Prática 18/10/2022

Art. 24º da LGT – nº2 - responsabilidade de órgãos com competência


específica (órgão de fiscalização e revisores oficiais de contas), violação das
suas funções previstas na lei. Nº3 – responsabilidade dos contabilistas
certificados (tem um conjunto de deveres em termos de sistema e orçamento,
sobre a vida da empresa), é necessário que haja dolo, pois sua função é
meramente instrumental.
Formas de extinção da relação jurídica tributária – pagamento da dívida
tributária relativamente aquela dívida fiscal; caducidade (art. 45º) e
prescrição (art. 48º).
Jus compensatório vs Jus indenizatório

Aula Prática 21/10/2022

3.Tributos e princípio da legalidade


Visando aproveitar o crescente afluxo de turistas ao país, o Governo
cria, através de decreto lei simples, uma “Taxa sobre Turismo de Luxo”,
que incide sobre o preço das refeições e das estadias, respetivamente, em
restaurantes e estabelecimentos hoteleiros de luxo.
Poucos dias depois, uma Portaria:
i) define os critérios para a classificação de restaurantes e
estabelecimentos hoteleiros como “de luxo”, para efeitos da “Taxa sobre
Turismo de Luxo”; e
ii) isenta da aludida taxa as refeições em restaurantes que se revistam
de “manifesto interesse para a preservação do património gastronómico
português”.
Quid iuris?
Não estamos perante um serviço público, ou seja, a restauração é um serviço
privado (art.º 4 /2LGT), o que significa que estamos perante um imposto
oculto, tendo em conta que não se verifica aqui a bilateralidade resultante da
existência de uma contraprestação, pois o valor da taxa acaba por ser superior
ao da utilidade prestada, e porque aqui existe um elemento ad valorem, que
é o preço das refeições e das estadias.
Se estivéssemos perante uma taxa , não haveria qualquer problema no que
respeita ao desrespeito pelo princípio da legalidade, contudo, estamos
perante um imposto oculto, imposto esse que está sujeito ao princípio da
legalidade e que só pode ser criado por lei da AR ou Decreto-lei do Governo
autorizado ( art.º 165/1/ alínea i). Convém, a este respeito, fazer referencia
ao art.º 165/2 CRP, que refere a necessidade de a autorização legislativa
definir o objeto, a extensão , a duração e o sentido da mesma, ou seja, as leis
de autorização legislativa devem ter uma determinação mínima, sob pena de
não se passar um “ cheque em branco “ ao Governo.
No caso em análise, nada disto é cumprido: não existe autorização legislativa
por parte da AR, porque o decreto-lei não é autorizado, mas simples, o que
se consubstancia numa inconstitucionalidade orgânica.
O facto de ter sido posteriormente emitida uma portaria onde se definem os
critérios para a classificação de restaurantes e estabelecimentos hoteleiros
como de “luxo”, para efeitos da “ Taxa sobre Turismo de Luxo “levanta a
questão do principio da tipicidade fiscal.
O relevante a saber é se os órgãos que aplicam estes conceitos vagos e
indeterminados exercem uma função de interpretação, ou se vão mais longe,
e exercem uma verdadeira função de inovação. O principio da tipicidade
fiscal não é violado com a vaguidade da lei, desde que a orientação política
quanto aos elementos essenciais do imposto seja dada pela AR, e o Governo-
legislador concretizes as autorizações parlamentares quanto a esses
elementos essenciais: mais uma vez, no caso em concreto, não é isso que
sucede. Efetivamente, os elementos essenciais do imposto não foram dados
pela AR, uma vez que o Governo nem sequer pediu autorização à AR para
legislar sobre esta matéria.
Diga-se, contudo, que densificar por portaria ou regulamento um conceito
vago e abstrato que conste de uma lei fiscal não viola o principio da
legalidade quando está em causa uma densificação progressiva dos
elementos que constem da lei/ decreto-lei. No caso em análise, em abstrato,
era possível que a densificação do conceito vago e indeterminado fosse feita
por portaria, regulamento, etc, sem violar o principio da legalidade. É
consensual na doutrina e na jurisprudência que a mera densificação de
conceitos vagos e indeterminados não viola a reserva de lei nem o principio
da tipicidade fiscal.
Tudo o que tenha um caráter meramente técnico não viola a reserva de lei e
pode constar de portaria, regulamento, ou decreto-lei simples. Por outro lado,
tudo o que contribua para a quantificação do imposto ou tenha caráter
material viola a reserva de lei.
O facto de se isentar da taxa em causa as refeições nos restaurantes que se
revistam de “manifesto interesse para a preservação do património
gastronómico português”, constitui um benefício fiscal, que é uma norma
extrafiscal, não prosseguindo o objetivo primário ou secundário de arrecadar
receita. Os benefícios fiscais constituem exceções às normas de incidência (
art.º 2/1 EBF). Os benefícios fiscais procedem de acordo com o art.º 2/2 EBF
(através de isenções).
A CRP submete os benefícios fiscais a reserva de lei no art.º 103/2 CRP, por
opção do legislador constituinte: tal justifica-se, uma vez que a reserva de lei
nos estados sociais de Direito não se deve limitar à administração ablativa,
mas também evitar equívocos ou dificuldades de interpretação, sobretudo se
se tiver em contra que os benefícios fiscais são, em regra, medidas
extrafiscais, às quais se recusa a aplicação pura e simples da constituição
fiscal. No caso em análise, o beneficio fiscal não foi criado por lei ou decreto-
lei autorizado, mas sim por portaria.
Concluindo, no caso em análise, não foi respeitada a reserva de lei da AR
que consta no art.º 103/2 CRP. Para além disso, a existência deste benefício
constitui uma violação ao princípio da igualdade, tendo em conta que os
princípios que poderiam ser superiores a este princípio, tais como o princípio
do bem-estar social, o princípio da proporcionalidade em sentido amplo
(princípio da necessidade, adequação e proporcionalidade) e o princípio do
ganho ou do mérito- não se encontram aqui preenchidos.

4.Princípio da legalidade
Após a outorga, por parte da Assembleia da República, de uma lei de
autorização legislativa, onde se permitia ao Governo «tributar em IRS
todos os rendimentos pessoais que decorram de uma relação de trabalho
dependente», é aprovado um decreto-lei que prevê:
«1 – As prestações a que o trabalhador tenha direito por efeito da lei ou do
contrato de trabalho, assim como as despesas cujo encargo a entidade
patronal assuma no predominante interesse daquele, serão tributadas em
IRS.
2 – O valor tributável das prestações e despesas a que se refere o número
anterior será o seu valor nominal ou, na falta deste, o valor mais próximo
das condições normais de mercado.
3 – As despesas do n.º 1 não serão dedutíveis para efeitos do apuramento
do lucro tributável em IRC e, acaso se mostrem excessivas, serão
tributadas autonomamente à taxa de 42%.
4 – Será fixada, por Portaria, a lista das prestações a que referem os n. os
1, 2 e 3, bem como os critérios concretos para apuramento do seu valor.
5 – São isentados do pagamento do imposto os trabalhadores da
construção naval.»
O Governo aprovou finalmente o decreto-lei que procede à alteração do
imposto sobre a venda de imóveis, pondo termo à imensa fraude que se
tinha instalado no sector da construção civil.
O imposto passa a ser calculado de acordo com o “valor objetivo” de
cada imóvel, um valor a fixar pelos serviços de finanças atendendo à sua
“localização”, “equipamentos” e “antiguidade”, bem como a “outros
fatores relevantes” que a lei em si mesma não especifica. Por portaria
do Ministro das Finanças haver-se-ia de precisar melhor estes elementos
e o peso relativo de cada um no cálculo do valor tributável.
Ao valor assim determinado aplicar-se-ia uma taxa única de 2% nas
grandes cidades, podendo, fora delas, oscilar a taxa entre os 0,8% e 1%,
consoante deliberação das assembleias municipais, uma solução que a
Federação dos Municípios Portugueses sustenta ser inconstitucional por
comprimir em demasia a autonomia financeira local.
A proposta da Federação era antes a de que na generalidade dos
municípios a taxa pudesse oscilar entre os 0,5% e os 5% e que por
deliberação das assembleias municipais se pudessem isentar de imposto
todos os imóveis situados em “zonas degradadas”, tal como os próprios
municípios as definissem
Quid iuris?
O art.º 165/2 CRP refere a necessidade de a autorização legislativa definir o
objeto, a extensão, a duração e o sentido da mesma, ou seja, as leis de
autorização legislativa devem ter uma determinação mínima.
Quanto a estas exigências relativamente à autorização legislativa, é
pertinente dar nota do acórdão do TC n.º 358/92, que considerou
inconstitucional a autorização legislativa dada ao Governo para este aprovar
o Código das Avaliações da Contribuição Autárquica. O TC considerou que,
dado que a matéria que ia ser regulada era especialmente sensível aos
particulares, justificava-se plenamente que a lei de autorização legislativa
fosse mais rigorosa e precisa na determinação do seu sentido. De outra
forma, estaríamos perante uma autorização legislativa em branco,
esvaziando-se a função habilitante que à AR cabe assumir num processo
legislativo especial como é o das autorizações legislativas (art.º 169 CRP).
Tripla vertente (conteúdo material bastante, matriz orientadora e
informações genéricas sobre a matéria introduzida ou alterada).
Falta densificar, objeto vago, ausência de duração da autorização, falta de
orientação. Violação do princípio da legalidade. Necessário os elementos
essenciais dos impostos.
Relação de trabalho dependente – normalmente vai resultar de um contrato
de trabalho. Despesas a cargo do empregador – existem gastos que vão além
da relação com o trabalhador.
Conceito indeterminado não garante previsibilidade.
O valor tributável é um elemento essencial do imposto.
Fora do âmbito da lei da autorização legislativa, pois só tributa pessoas
singulares. Tributação autônoma.
Critérios tem de ser definidos por lei formal da AR ou pelo GOV autorizado.
Inconstitucionalidade.
Fora da autorização. Benefícios fiscais sujeitos a reserva de lei. Fazer o juízo
do princípio da igualdade. Há interesse público superior? Não se justifica a
isenção a todos os rendimentos. Viola princípio da proporcionalidade.

Aula Prática 04/11/2022

Princípio de Proibição da Retroatividade – ponto de partida é sempre a


segurança jurídica. Frusta as expectativas legitimas e fundadas dos cidadãos.
Mesmo quando não constava da lei era entendido do TC e do princípio do
Estado de Direito Democrático sua proibição. Função de ordenação do
comportamento dos contribuintes.
TC verifica se estamos realmente perante uma retroatividade. Aplicação de
uma lei nova a um facto que se iniciou e terminou no passado – retroatividade
autentica – proibida. A aplicação de uma lei nova a um facto tributário
iniciado anterior a LN, mas com suas consequências que ainda decorrem no
presente – retrospectividade, não é uma verdadeira retroatividade.
Primeiro passo: é a lei novo oneradora (apresenta consequências negativas
para o contribuinte? Segundo passo: qual imposto se está em causa? Terceiro
passo: qual o tipo de facto tributário – obrigação única ou sucessiva?
Impostos sucessivos e periódicos representam casos de retrospectividade,
não viola o art. 103º/3, mas em alguns casos pode violar o princípio da
segurança jurídica (art. 2º da CRP), o TC precisa estabelecer critérios para
que ocorra violação. Nos impostos de obrigação única que pensamos em
retroatividade (art. 103º/3 é uma regra).
Tributação autónoma – podem ser de obrigação única mesmo nos impostos
periódicos. Discute-se se as mais-valias são de obrigação única ou
periódicas.
Art. 12º/1 – corresponde ao art. 103º/3 da CRP. Nº2 – LGT não tem valor
reforçado, pode ser derrogada.

Aula Prática 08/11/2022

5.Aplicação da Lei no Tempo


O Governo, na sequência da grave crise financeira, e tendo em vista
cumprir as obrigações de redução do défice público constantes no
Programa de Estabilidade e Crescimento para o período de 2019 2022,
propõe, no dia 1 de abril de 2022, à Assembleia da República, as
seguintes medidas legislativas:
1. Aumentar a taxa do IVA para 25% com efeitos a partir do dia 1
de maio de 2022;
2. Aumentar a taxa máxima de IRS para as duas categorias mais
elevadas em 5% com efeitos nos rendimentos pessoais de 2022;
3. Aumentar a taxa de IRC para 27% para os rendimentos das
pessoas coletivas com efeitos no lucro tributável de 2022, e agravando a
tributação autónoma das despesas com veículos automóveis para 60%;
4. Estabelecer um adicional de 6% ao IRS apurado e liquidado em
2021;
5. Eliminar, com efeitos ao dia 1 de janeiro de 2021, os benefícios
fiscais relativos à contratação de jovens desempregados;
6. Prever a tributação imediata em IRS de todas as mais valias
mobiliárias, independentemente do momento da aquisição das ações e
do período de detenção.
Quid iuris?
Ponto 1 - Estamos perante uma norma oneradora. Imposto IVA. Obrigação
única. Estamos aqui perante problemas de aplicação da lei no tempo, o que
nos leva a referir o princípio da não retroatividade da lei fiscal, segundo o
qual a lei nova só se aplica para o futuro, ou seja, a aplicação da lei nova a
factos passados é proibida nos termos do art. 103º/3 CRP.
No quadro do IVA o sujeito passivo não coincide com o consumidor final.
Enquanto para o consumidor final, o IVA é um imposto de obrigação única,
para o sujeito passivo ele é um facto tributário de formação sucessiva. Como
o IVA é suportada pelo consumidor final, a aplicação da lei nova no tempo,
em matéria de IVA, não pode colocar em causa o imposto já pago pelo
consumidor final.
Assim, o aumento do IVA a meio do ano fiscal só se pode aplicar aos factos
tributários (consumo, prestação de serviços ou importação) futuros (que
ocorram após a entrada em vigor da lei nova), sob pena de se colocar em
causa o montante de IVA cobrado anteriormente em cada elo da cadeia.
No caso em apreço, uma vez que apenas se aplicaria a partir do dia 1 de
Maio, isto é para factos futuros, não se coloca a questão da sua aplicação
retroativa, que seria proibida pelo art. 12.o/1 da LGT, não existindo qualquer
inconstitucionalidade material.
Ponto 2 – O IRS trata-se de um imposto periódico, cujo facto tributário tem
normalmente inicio no primeiro dia do ano ou período fiscal e que só está
concluído no último dia desse ano ou periódico (factos tributários de
formação sucessiva).
No caso dos IMPOSTOS PERIÓDICOS (EX: IRS e IRC quando se trate de
residentes tributados sobre o rendimento acréscimo) a proibição da
retroatividade assume contornos próprios relacionados com a formação
sucessiva do facto tributário e com a existência de anos ou períodos fiscais
que separam as obrigações tributárias por períodos. A existência de factos
tributários de formação sucessiva, que só estão incluídos quando termina o
ano ou período fiscal, faz do ano ou período fiscal o parâmetro para ferirmos
o próprio conceito de retroatividade.
Assim, desde que o ano fiscal esteja em curso, a entrada em vigor de lei nova
aplica-se desde 1 de Janeiro.
Assim o sendo, neste caso não se coloca um problema de proibição da
retroatividade autêntica do art. 13.o/1, pois a proibição da retroatividade não
abrange aquelas situações em que a lei é aplicada a factos passados mas cujos
efeitos ainda perduram no presente, como sucede quando a lei é aprovada até
ao final do ano a que corresponde o imposto e mesmo que se aplique a todo
o ano ou período fiscal em curso (ac. TC no399/2010)- neste caso estamos
perante a retrospetividade, uma vez que esta determina a sua aplicação desde
o início do ano de 2005, ou seja o ano em curso.
O art. 13º/2 determina que se o facto com inicio no passado, ainda estiver a
decorrer, fala-se em retrospetividade, e esta será também proibida se for
violada a proteção da confiança.
Nestes termos carece de averiguação se neste caso a aplicação da Lei Nova
ao início do ano de 2005 violaria o princípio da confiança.
Dado que os factos tributários de formação sucessiva só estão concluídos no
final de um ano ou período tributário, cabe saber se as expectativas de que
leis novas mais gravosas só entrem em vigor depois de o período fiscal em
curso estar concluído são protegidas constitucionalmente.
Para analisar esta questão, o TC recorre ao principio da proteção da
confiança, o qual parecia indicar que as referidas expectativas dos
contribuintes estariam protegidas por este princípio da proteção da
confiança.
Segundo o TC, para que o princípio da proteção da confiança seja tutelado,
na ponderação da eventual inconstitucionalidade de NORMAS DOTADAS
DE RETROATIVIDADE INAUTÊNTICA, é necessário que se reúnam dois
PRESSUPOSTOS ESSENCIAIS E CUMULATIVOS:
- A afetação de expectativas, em sentido desfavorável, a qual será
inadmissível quando constitua uma mutação da ordem jurídica com que,
razoavelmente, os destinatários das normas dela constantes não possam
contar;
- Quando a alteração não for ditada pela necessidade de salvaguarda de
direitos ou interesses constitucionalmente protegidos que devam considerar-
se prevalecentes: aqui deve recorrer-se ao princípio da proporcionalidade,
explicitamente consagrado, a propósito de direitos, liberdades e garantias no
art. 18o/2CRP.
Ponto 3 - neste caso não se coloca um problema de proibição da
retroatividade autêntica do art. 13.o/1, pois a proibição da retroatividade não
abrange aquelas situações em que a lei é aplicada a factos passados mas cujos
efeitos ainda perduram no presente, como sucede quando a lei é aprovada até
ao final do ano a que corresponde o imposto e mesmo que se aplique a todo
o ano ou período fiscal em curso (ac. TC no399/2010)- neste caso estamos
perante a retrospetividade, uma vez que esta determina a sua aplicação desde
o início do ano de 2005, ou seja o ano em curso.
O art. 13.o/2 determina que se o facto com inicio no passado, ainda estiver a
decorrer, fala-se em retrospetividade, e esta será também proibida se for
violada a proteção da confiança. Nestes termos carece de averiguação se
neste caso a aplicação da Lei Nova ao início do ano de 2005 violaria o
princípio da confiança, o que não ocorre.
AGRAVAMENTO DA TRIBUTAÇÃO AUTÓNOMA. De difícil
caracterização e qualificação. Para efeitos da aplicação da lei no tempo, deve
entender-se que os factos tributários objeto de tributação autónoma
constituem factos tributários de obrigação única, pois a tributação autónoma
incide sobre despesas avulsas que não se prendem diretamente com a
obtenção do rendimento acréscimo, apesar de contribuírem para a
concorrência da determinação do rendimento acréscimo. Isto significa que
uma lei nova só pode ser aplicada a factos tributários que ocorram após a sua
entrada em vigor, sob pena de ser retroativa e, por conseguinte,
inconstitucional- proibição da retroatividade e, neste caso a retrospetividade-
13.o/2.
Ponto 4 - neste caso, pretende-se aplicar ao ano de 2014, ou seja não se trata
da retrospetividade permitida pelo art. 13.º/2 aos impostos periódicos, mas
sim uma retroatividade autêntica proibida por lei nos termos do art. 13.º/1 e
103.º/3 CRP.
Será que para esta retroatividade existe algum juízo valorativo? Tribunal diz
que não. Mas a APD diz que o TC ao considerar a retroatividade autêntica
mais gravosa, verdadeiramente já esta a fazer o juízo valorativo que noa faz,
e em casos mais difíceis continua-se a recorrer ao princípio da confiança.
A posição da regente é diferente da do TC, que afirma em jurisprudência
constante que o art. 103º/3CRP introduziu novidades, argumentando que a
proibição da retroatividade está isenta de quaisquer análises valorativas e
aproveitou essa alteração constitucional para construir uma jurisprudência
mais sistematizada sobre o assunto.
No ac. 129/09 do TC, o tribunal estabeleceu uma dicotomia entre a
retroatividade autêntica ou própria de normas fiscais novas mais gravosas e
a retrospetividade. A interpretação constante do TC é a de que o art.
103º/3CRP apenas consagrou a proibição da retroatividade autêntica ou
própria da lei fiscal (retroatividade forte). Como o TC entende que a
retroatividade autêntica é proibida pela constituição, sem ser necessário
avaliar se a proteção da confiança foi ou não violada, a análise da proteção
da confiança é relegada para as situações de retrospetividade.
Neste sentido, existe uma inconstitucionalidade material por violação do
princípio da não retroatividade autentica do art 103.º/3 CRP e 12.º/1 LGT.
Ponto 5 – a proibição da retroatividade visa proteger a segurança jurídica e
a confiança do sujeito passivo, assim apenas as normas fiscais oneradas do
sujeito passivo é que não podem ser retroativas. As normas desoneradas, por
serem mais favoráveis, não podem, por definição, colocar questões de
proteção da confiança. Isto é, se a lei nova desoneradora não era esperada, a
confiança existente não precisa de ser protegida, as razões subjacentes aos
princípios da proteção da confiança e proibição da retroatividade não se
aplicam.
Todavia, neste caso está em causa a extinção de um benefício fiscal, o que
consubstancia um agravamento para os sujeitos passivos em questão. Neste
sentido, por estarmos perante uma oneração, a lei nova só pode produzir
efeitos para o futuro. Por remeter seus efeitos para o ano de 2021, estamos
perante uma retroatividade autentica, sendo, portanto, uma medida
inconstitucional por via do artigo 103º/3CRP e 12º/1LGT.
Temos de diferenciar BF puramente futuros (a mera expectativa de um BF
futuro não é protegida) de BF de caráter temporário (a sua frustação não pode
ser tolerada, retroatividade não pode ser tolerada sem mais– acórdão 1995).
Art. 19º do EBF.
Ponto 6 –

Acórdão 399/10 – alteração das regras do IRS no meio do ano fiscal. A


nova lei vai se aplicar para todo ano fiscal, pois o facto tributário apenas se
consolida no final do ano fiscal (IRS é um imposto periódico de formação
sucessiva). Retrospectividade. Inconstitucional por violação do princípio da
segurança jurídica.
Art. 2º da CRP – princípio da segurança jurídica. Expectativas legítimas e
fundadas, susceptíveis de afetar os planos de vida dos contribuintes, Não
verificação de um interesse público superior (requisito negativa, se existir
este interesse não aplica-se os outros requisitos). Cumulativos.
Acórdão 5/2017 – as tributações autônomas servem para tributar
determinadas despesas, e são de certa forma contrárias ao princípio da
tributação do rendimento real, não está a considerar a capacidade
contributiva.
Acórdão Mais-valias – Posição do STA – art. 10º/1 B e nº3 (regra de
incidência). Art. 43º (mera regra de cálculo/determinação da matéria
coletável). Facto nasce e esgota-se num único momento (facto tributário de
formação instantâneo).
Posição regente – facto tributário de formação sucessiva (Ac.
399/2012). Art. 57º - declaração anual. IRS – periódico e anual. Facto
tributário consolidado no final do ano (31/12). Art. 43º/1 – saldo anual entre
as + e – valias.

Aula Prática 10/11/2022

Art. 13º - princípio da igualdade fiscal – generalidade/universalidade


(todos somos destinatários) e uniformidade (repartição do encargo
tributário). Princípio da capacidade contributiva – igual imposto para os que
tem capacidade igual; concretizações: Consagração de uma base de
incidência ampla, adoção rendimento-acréscimo (acréscimo patrimonial) vs
rendimento-produto, personalização (elemento pessoal), mínimo de
existência.
Taxas liberatórias vs taxas especiais – ambas fixas e proporcionais.
Liberatórias sujeitas a RF a título definitivo.
Deduções específicas (ocorrem num momento inicial) vs deduções à coleta
(apenas possíveis no final do apuramento do IRS).
Progressividade e proporcionalidade.
Fase analítica (cedular): autonomização de categorias de rendimentos;
apuramento do rendimento líquido por categoria (regras específicas) e
comunicabilidade de perdas.
Fase sintética (único): Determinação do rendimento líquido global;
personalização/deduções; taxas; liquidação e pagamento.
IRS – sobre o rendimento (de base cedular), direto e pessoal, periódico,
único e progressivo.
Art. 2º e 25º e ss – categoria A (trabalho dependente). Art. 3º e 28º e ss –
categoria B (empresariais e profissionais). Art. 5º e 40º e ss – categoria E
(capitais). Art. 8º e 41º ess – categoria F (prediais). Art. 9º e 42º ess –
categoria G (incrementos patrimoniais). Art. 11º e 53º e ss – categoria H
(pensões). Rendimento bruto de cada categoria – deduções específicas =
redimento líquido por categorias.
Englobamento – art. 22º - junção de todos os rendimentos líquidos por
categoria – rendimento coletável (exclusão dos rendimentos sujeitos a taxas
especiais -72º - ou liberatórias – 71º).
Junta-se os rendimentos dos dois sujeitos passivos e divide-se por 2 (se
aplicável art. 69º - tributação conjunta). O produto disto multiplica-se por 2.
Com isso temos a coleta. Menos deduções a coleta (art. 78º e ss). Com isso
temos o imposto apurado – retenções na fonte = IRS.
Incidência pessoal – âmbito de sujeição (art. 13º e 15º). Sujeitos passivos
e agregado familiar.
Regra da tributação separada (art. 13º/2 e 3) – quando exista agregado
familiar, o imposto é apurado individualmente em relação a cada cônjuge ou
unido de facto.
Residentes ficais – o IRS incide sobre a totalidade de rendimentos que os
obtidos em território português ou no estrangeiro – rendimento mundial (art.
13º/1 e 15º/1 + 16º). Não residentes fiscais – o IRS apenas incide sobre os
rendimentos obtido em Portugal (art. 18º).
Art. 18º - princípio da territorialidade. Critério da fonte de rendimentos.
Base do imposto do IRS – art. 1º - sujeição dos rendimentos: mesmo
provenientes de atos ilícitos, quer em dinheiro quer em espécie (art. 24º), seja
qual for o local onde se obtenham, a moeda e a forma porque sejam
auferidos. Deduções – deduções específicas existentes em todas as categorias
à excepção da categoria E (na categoria G apenas nas mais-valias).
Categoria A – art. 2º - princípio da substâncias sobre a forma.

Aula Prática 22/11/2022

7.IRS, rendimentos ativos, rendimentos passivos


No ano transato, António e Maria tiveram os seguintes rendimentos:
i) O salário dele e os rendimentos que ela obtém enquanto advogada.
Contudo, relativamente a este último rendimento, houve que contar com
variadas despesas;
ii) Juros de um depósito a prazo e dividendos de ações da ‘PT’ que
compraram há alguns anos;
iii) Uma pequena mais-valia relativamente a algumas das ações, que
venderam.
Contudo, a vida não é fácil. Foram elevadas as despesas de saúde e de
educação dos três filhos, e ainda tiveram a seu cargo o pai de António,
que vive com eles e recebe apenas a pensão mínima.
Quid iuris?
“A” e “M” são sujeitos passivos de IRS, presumindo-se que são residentes
em territórioportuguês e que aí auferem os rendimentos, art. 13º/1 + 16º/1
alínea a) + art. 18º CIRS. Sendo que, ao residirem em território português, o
IRS vai incidir sobre a totalidade dos seus rendimentos, incluindo os obtidos
fora desse território, pelo que são tributadossegundo o princípio da tributação
universal art. 15º/1 CIRS.
“A” e “M” integram o mesmo agregado familiar, art. 13º/4 alínea a) CIRS.
Sendo que os seus três filhos em princípio também integram o
agregado familiar,segundo o disposto no art. 13º/5 e suas alíneas CIRS.
Quanto ao pai de António, apesar de viver com eles, não integra o conceito
de agregadofamiliar do art. 13º do CIRS uma vez que não integra o
agregado familiar em si,disposto no nº4 do art. 13º CIRS, nem é considerado
como “dependente” pelo nº 5 doart. 13º CIRS. O IRS em princípio é
apurado individualmente, salvo se se optar pela tributação conjunta,
art. 13º/2/3 + art. 69º CIRS.
Incidencial real objetiva. Salário – categoria A, art. 25º e 27º, estão sujeitos
a englobamento obrigatório – art. 22º e 68º. Advogado – categoria B, Portaria
12/2010, Portaria 1011/2010, art. 28º a 39º, art. 68º (englobamento
obrigatório) – taxa de retenção da fonte – art. 101º.
Juros e dividendos – art. 5º/1 al. B e H, categoria E – não tem deduções
específicas, mas não são sujeitas a englobamento obrigatório, art. 22º/1 e 3
a contrario e 71º/1 e 8. 35 e 38 CAT
3- Quanto às mais-valias decorrentes da venda de ações, trata-se de um
rendimento de categoria G, nos termos do artigo 9º/1al. a) e 10º/1 al. b).
Segundo a definição legal, constituem mais-valias os ganhos obtidos que não
são considerados rendimentos empresariais e profissionais, e que constem
desta enumeração.
Quanto a deduções, nos incrementos patrimoniais, a regrar geral, é não
existirem, nos termos do artigo 42.º do CIRS. Teremos, no entanto, de
atender ao regime do artigo 43º. O nº 1 determina que o valor tributável dos
rendimentos qualificados como mais-valias é o correspondente ao saldo
apurado entre as mais-valias e as menos-valias realizadas no mesmo ano. Se
estiver em causa micro e pequenas empresas não cotadas nos mercados
regulamentado ou não regulamentado da bolsa de valores, o saldo, quando
positivo será considerado em 50% do seu valor (art. 43º/3).
Não há englobamento obrigatório, art. 22º/3. Em termos de taxa aplicável, o
art. 72º/1 al. c) consagra uma taxa especial, verificando-se a aplicação de
uma taxa autónoma de 28%. Contudo, de acordo com o disposto no artigo
72.º/13 do CIRS, os sujeitos passivos podem optar por englobar as mais
valias.
Com relação a parte final do caso, os 3 filhos de António e Maria, à partida,
fazem parte do Agregado Familiar, segundo o disposto no artigo 13.º/4 e
13.º/5 CIRS. Os ascendentes, ou seja, o pai de António, não fazem parte do
agregado familiar (interpretação a contrário do artigo 13º/5 do CIRS).
Os art. 78º/1 al. a) e 78º-A/1 al. a), dispõem será deduzido à coleta devida
pelos sujeitos passivos residentes em território português o montante fixo de
600 euros por cada filho, salvo o disposto na alínea b) do mesmo artigo.
Também quanto ao pai de A, o artigo 78.º/1/ alínea a) do CIRS refere que
podem ser deduzidas à coleta as despesas com os ascendentes que vivam em
comunhão de habitação com o sujeito passivo. Portanto, embora os
ascendentes não pertençam ao agregado familiar (artigo 13.º do CIRS), as
regras constantes do CIRS sobre deduções à coleta permitem deduzir as
despesas de um ascendente não pertencente ao agregado familiar, se este não
auferir um rendimento superior à pensão mínima (artigo 78.º - A/ 1 al. c) do
CIRS). Logo, tendo em conta que o pai de António apenas recebe a pensão
mínima, é deduzível à coleta o montante fixo de 525 euros.
Quanto às despesas de saúde dos filhos, estas podem ser deduzidas à coleta,
nos termos do artigo 78.º/1 al. c). Contudo, é apenas dedutível um montante
correspondente a 15% do valor suportado por qualquer membro do agregado
familiar, com o limite global de 1000, art. 78.º - C/ 1.
Por fim, no que diz respeito às despesas de educação dos filhos, estas
também podem ser deduzidas à coleta, nos termos do artigo 78.º/1 al. d).
Todavia, é apenas dedutível 30% do valor suportado por qualquer membro
do agregado familiar, com limite global de 800 euros, art. 78º-D/1.

Aula prática 29/11/2022

8.Categorias de rendimentos de IRS, gastos empresariais, substituição e


responsabilidade tributária
Joaquim, administrador de uma empresa de contabilidade, utilizava
para uso pessoal um carro que a sua entidade patronal, a sociedade Átila
& Irmãos, lhe havia disponibilizado, bem como recebia subsídio de
almoço e subsídio de residência. A entidade patronal pagou ainda uma
viagem de férias ao Dubai a Joaquim e a toda a sua família. Contudo, e
na sequência da epidemia que se abateu sobre o País e estando a Átila &
Irmãos com dificuldades financeiras, decidiu deixar de entregar os
montantes retidos aos seus funcionários aquando do pagamento dos
salários junto das Autoridades Fiscais Portuguesas.
Quid iuris?
Art. 15º e 16º.
Remuneração – categoria A, art. 2º.
Carro para uso pessoal – rendimento dependente, categoria A, art. 2º e 24º.
Art. 23º/1 – professora Tania. Três teoria. Business Purpuse Test, Ac 799/12.
Temos uma cláusula aberta. O art. 23º-A nos dá uma limitação negativa. O
carro cabe no 23º/1 do CIRC. Art. 88º/3 e 6 al. b) – não há tributação
autónoma. Porém se utilizasse para fins profissionais ou se não tivesse
acordo em sede de IRS, haveria tributação autónoma.
Sociedade – sujeito passivo do IRC, art. 3º IRC. Rendimento real.

Art. 2º do CIRC – sujeitos passivos. Residentes (nº1 al. b)) vs não


residentes (nº1 al. c)).

Aula Prática 02/12/2022


6.IRS e IRC: capacidade contributiva, coleta mínima e sinais exteriores
de riqueza, finalidade do imposto, confisco, dedutibilidade de gastos
Por entre mais uma “crise das instituições democráticas”, a Assembleia
da República aprova um novo pacote de medidas de luta contra a fraude
e a evasão fiscais.
Antes do mais, todas as empresas passam a estar sujeitas a uma coleta
mínima no valor anual de mil euros, a aplicar já relativamente ao ano
em curso e independentemente dos lucros que resultem da sua atividade.
Trata se de uma medida com um propósito elementar de moralização a
que se soma a eliminação de todos os benefícios fiscais relativos a
cooperativas, fundações e instituições de utilidade pública, dados os
abusos que nesta matéria têm vindo a ser constatados pela
Administração.
Depois, estabelece se que sempre que os contribuintes singulares
possuam determinados sinais exteriores de riqueza se presuma, para
efeitos de IRS, que são titulares de um determinado rendimento, a
menos que façam prova do contrário. A tabela a usar para o cálculo
deste rendimento presumido é a seguinte:
Viagens ---------------------10 vezes o valor
Cartões de crédito --------- 20 vezes o plafond
Telemóvel ------------------ 20 vezes o valor
Despesas em discotecas -- 10 vezes o consumo mensal
Enfim, por modo a reforçar a moralização do sistema, determina se que
todos os rendimentos provenientes de práticas ilícitas fiquem sujeitos a
uma taxa agravada de IRS ou de IRC de 60% e que as despesas
suportadas com práticas ilícitas não sejam dedutíveis ao rendimento de
empresas e profissionais.
Quid iuris?
Quanto ao primeiro parágrafo do caso, de acordo com o art. 165º/1 al. i) da
CRP, a Assembleia tem competência para legislar sobre os impostos e o
sistema fiscal, podendo realizar tais alterações. Não há aqui nenhuma
ilegalidade ou inconstitucionalidade.
Com relação ao segundo parágrafo, consoante o disposto no art. 104º/2 da
CRP, a tributação das empresas incide fundamentalmente sobre o seu
rendimento real. O rendimento real resulta da diferença entre proveitos e
gastos, sendo apurado segundo métodos diretos, com base na contabilidade
e outros deveres de declaração do sujeito passivo. A tributação do
rendimento real surge como uma expressão do princípio da capacidade
contributiva e do direito de propriedade e iniciativa privada.
O art. 17º/1 do CIRC, que é uma concretização do artigo 104º/2 da CRP, que
refere que o lucro tributável é constituído pela soma algébrica do resultado
líquido do período e das variações patrimoniais positivas e negativas não
refletidas naquele resultado.
Porém, no caso em apreço, há uma tributação de rendimento presumido, que
pode levar a tributos confiscatórios, isto porque, ao presumir-se um valor
anual de 1000 euros, independentemente dos lucros que resultem da
atividade das empresas, pode levar a um tributo que não tenha em
consideração a capacidade contributiva. Além disso, quanto a questão da
coleta mínima, estamos perante um valor fixo igual e a pagar por todas as
empresas, o qual não tributa o rendimento real. Assim, tal tributação é
inconstitucional, por violação do art. 104º/2 da CRP.
Quanto à questão da aplicação da lei ao ano em curso, o IRC é um imposto
de formação sucessiva, e portanto, uma obrigação periódica, que tem como
parâmetro o ano fiscal que termina em 31 de dezembro. Assim, neste caso
estaríamos perante uma retrospectividade. Segundo a jurisprudência do
artigo 103º/3 da CRP, apenas é proibida a retroatividade autêntica. A
retrospectividade será inconstitucional quando violar o princípio da proteção
da confiança, sendo que o TC estabeleceu para a norma ser inconstitucional
é necessário que se reúnam dois pressupostos essenciais e cumulativos: a
afetação de expectativas em sentido desfavorável e a alteração tem de ser
ditada pela necessidade de salvaguardar direitos e interesses
constitucionalmente protegidos que devam considerar-se prevalecentes,
atendendo ao princípio da proporcionalidade (art.º 18/2 CRP). Porém, neste
caso, não temos dados suficientes para determinar se esta retrospectividade
é ou não inconstitucional.
Neste mesmo parágrafo também há a extinção de um benefício fiscal, o que
consubstancia um agravamento para as entidades em questão, que iriam
passar a pagar impostos. Neste sentido, por estarmos perante uma oneração,
em princípio a lei nova só pode produzir efeitos para o futuro, sob pena de
ser inconstitucional nos termos do art. 103º/3CRP e 12º/1LGT. Todavia, tal
inconstitucionalidade só se verifica se estivermos perante um benefício fiscal
de caráter temporário, pois se estiver em causa um benefício fiscal puramente
futuro, a mera expectativa deste não é protegida.
Quanto ao terceiro parágrafo e a tabela, estamos perante um método indireto
de determinação da matéria tributável. O artigo 81.º LGT refere que a
matéria coletável é avaliada ou calculada diretamente segundo os critérios
de cada tributo. A avaliação indireta por parte da Autoridade Tributária só
deve ocorrer nos casos e condições expressamente previstos na lei. Além
disso, o art. 85º estabelece que a avaliação indireta é subsidiária. A
determinação da matéria coletável segundo métodos indiretos é feita com
base em critérios fixados na lei e que correspondem ao tipo médio de
rendimentos por sujeitos passivos que estão em situação comparável
No caso em concreto, quanto aos rendimentos da tabela, parece estar em
causa as manifestações de fortuna, previstas nos artigos 87.º/1/ alíneas d) e
f) e 89-A LGT). Tais manifestações se enquadram na categoria G do IRS
segundo o art. 9º/1 al. d) do CIRS. A princípio as manifestações de fortuna
podem dar lugar a aplicação de métodos indiretos porque estas e os desvios
do rendimento padrão são indícios legais que há uma ocultação material de
informações sobre o rendimento efetivamente obtido. A tabela não apresenta
verdadeiras manifestações de riquezas, e não constituem um padrão
relevante para determinar através de critérios objetivos o rendimento do
sujeito passivo. Há aqui uma violação do princípio da tributação do
rendimento real.
Além disso, a aplicação do artigo 89.º- A LGT não pode ocorrer sempre que
os contribuintes possuam determinados sinais exteriores de riqueza, só se
pode recorrer ao rendimento presumido quando não seja possível recorrer à
avaliação direta. Para além do mais, é necessário que exista uma falta de
declaração de rendimentos e uma violação dos deveres formais e de
cooperação. Assim, a utilização de métodos indiretos neste caso seria ilegal.
Quanto ao último parágrafo, com a taxa agravada de IRS ou IRC, pode estar
em causa temática do confisco, por violação do disposto nos artigos 61.º e
62.º da CRP (violação da livre iniciativa económica e da propriedade
privada). A professora Ana Paula Dourado considera que a aplicação do
princípio da igualdade fiscal com os limites da propriedade e iniciativa
privadas levaria à conclusão que os impostos acima de 50%, limitados a uma
categoria de contribuintes, e sem prosseguir finalidades extrafiscais, são
discriminatórias e confiscatórias. É o que resulta também do Acórdão do
Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, Gáll vs. Hungary, em que estava
em causa a criação de um imposto que recaía sobre indemnizações salariais
de funcionários públicos que cessavam contratos de trabalho no âmbito de
medidas de reestruturação da administração. No conjunto, o imposto anual
atingia os 60% e era mais do que o triplo da taxa geral do imposto sobre as
pessoas singulares. O TEDH considerou que os 60% tornavam o imposto
confiscatório, porque levavam a uma privação injustificada da propriedade
privada.
Quanto à questão das despesas ilícitas, o caso não acrescenta nada de novo,
pois as despesas ilícitas já não são dedutíveis, conforme resulta do artigo 23º-
A/1/d do CIRC.

Fraude ou evasão fiscal – atividades ilícitas contrárias a lei, a conduta


viola uma disposição da lei.
Elisão fiscal – é o que motiva a criação das regras de anti-abuso, a conduta
é contrária a lógica da aplicação da lei, são contra sistemáticas,
comportamentos extra legem.
Planeamento fiscal – pode ou não abranger situações de elisão fiscal,
aproveitamento de lacunas ou disparidades entre um ou outro ordenamento
jurídico ou de particularidades fiscais, para pessoas que tem rendimentos em
mais de um Estado. É necessário balizar melhor as normas internas.

Aula Prática 16/12/2022

9.Métodos diretos e métodos indiretos de avaliação


A sociedade anónima H, que vende veículos automóveis, recebeu a visita
de uma equipa de inspeção tributária.
A equipa fez as seguintes correções ao balanço fiscal, que apresentava
um resultado líquido positivo de 10 milhões de euros no ano de 2021 e
um valor bruto de vendas de 100 milhões de euros:
– desconsideração, como custo, das multas pagas por
contra-ordenação rodoviária, no valor de 50 mil euros;
– desconsideração, como custo, das rendas pagas ao senhorio no
valor de 500 mil euros, por não existir fatura, mas um mero recibo;
– desconsideração de uma despesa de 1 milhão de euros, apenas
identificada por um talão justificativo que dizia “luvas e subornos”;
– tributação autónoma a 50% das verbas por “luvas e subornos”
– desconsideração de 50 mil euros em almoços e jantares suportados
pela sociedade, relativos à representação da empresa junto de clientes e
fornecedores, por ser considerado um valor excessivo.
A equipa de inspecção defende ainda a desconsideração da
contabilidade por (a) ser inviável em face do número de correcções
detectadas, (b) por haver sociedades concorrente no mesmo sector de
actividade a facturar 50% mais do que a sociedade H e (c) por ter ocorrido
uma redução em 35% do volume de receitas face ao ano anterior.
Por conseguinte, a equipa decidiu-se pela aplicação de uma margem de
30% sobre o valor bruto das vendas registado em empresas
concorrentes nesse ano – que se situavam, em média, em 200 milhões de
euros. Apurou-se, assim, um resultado líquido de 60 milhões e a
subsequente liquidação de IRC no valor de 12 milhões de euros.
Quid iuris?
De acordo com o disposto nos artigos 1.º e 2.º/1/ alínea a) do CIRC, a
sociedade H é sujeito passivo de IRC. No enunciado não se refere onde é a
sede da sociedade H. Portanto, se a sociedade H tiver sede ou direção efetiva
em território português, o IRC incide sobre a totalidade dos seus
rendimentos, incluindo os obtidos fora desse território, de acordo com o
disposto no artigo 4.º/1 do CIRC. Caso contrário, se a sociedade H não tiver
sede ou direção efetiva em território português, o IRC incide apenas quanto
aos obtidos em Portugal (artigo 4.º/2 do CIRC).
Consoante o art.17º/1 do CIRC, a determinação do lucro tributável vai ser
aferido através da soma algébrica do resultado líquido do período e das
variações patrimoniais positivas e negativas verificadas no mesmo período e
não refletidas naquele resultado, sendo que este artigo concretiza o princípio
da tributação sobre o rendimento real disposto no artigo 104.º/2 da CRP.
Relativamente à desconsideração do custo das multas, de acordo com o
plasmado no artigo 23.º - A /1/ alínea e), as multas, coimas e demais encargos
não são dedutíveis para efeitos da determinação do lucro tributável. Não há
tributação autónoma, nos termos do artigo 88º.
Relativamente à desconsideração, como custo, das rendas pagas ao senhorio
no valor de 500 mil euros, por não existir fatura, mas um mero recibo, à
partida, as mesmas seriam dedutíveis, de acordo com o disposto no artigo
23.º/2/ alínea d) do CIRC. Contudo, o artigo 23.º/3 do CIRC refere que os
gastos dedutíveis nos termos dos números anteriores devem estar
comprovados documentalmente, independentemente da natureza ou suporte
dos documentos utilizados para esse feito. Além disso, no caso de gastos
incorridos ou suportados pelo sujeito passivo com a aquisição de bens e
serviços, o documento comprovativo a que se refere o número anterior deve
conter ainda os elementos previsto no art. 23º/4.
O nº 6 do mesmo artigo refere ainda que quando o fornecedor de serviços ou
prestador dos serviços esteja obrigado à emissão de fatura ou documento
legalmente equiparado nos termos do Código do IVA, o documento
comprovativo das aquisições de bens ou serviços previstos no número 4 deve
obrigatoriamente assumir essa forma. Todavia, o recibo é uma quitação, nos
termos do artigo 787.º do CC. Nesse artigo, não são previstos requisitos
nenhuns, tais como o NIF, data em que as rendas foram pagas, etc. Portanto,
o recibo só será suficiente para efeitos de dedutibilidade, se tiver os
elementos previstos nos artigos 23.º/ 3 e 4 do CIRC.
Relativamente à desconsideração de uma despesa de 1 milhão de euros,
apenas identificada por um talão justificativo que dizia “luvas e subornos”,
a mesma se trata de uma despesa ilícita, não sendo, portanto, dedutível
segundo o disposto no artigo 23.º - A /1/ alínea d) do CIRC.
Quanto à tributação autónoma a 50% das verbas por “luvas e subornos “, as
mesmas tinham de ser tributadas autonomamente à taxa de 50% de acordo
com o disposto no artigo 88.º/1 do CIRC.
Relativamente as despesas com a representação da empresa, estas despesas
não se encontram expressamente prevista no artigo 23º ou 23º-A. No entanto,
parece enquadrar-se na disposição geral do artigo 23º/1, quando este diz que
são dedutíveis todos os gastos incorridos ou suportados pelo sujeito passivo
para obter ou garantir os rendimentos sujeitos a IRC. Porém, estas são
tributadas autonomamente à taxa de 10%, de acordo com o disposto no artigo
88.º/7 do CIRC. Assim sendo, não são dedutíveis (os tais 10%/), para efeitos
da determinação do lucro tributável.
Quanto ao valor restante, os 45 mil euros, poderão ser dedutíveis, de acordo
com o disposto no artigo 23º/1 do CIRC. As despesas só serão dedutíveis se
as mesmas tiverem em conta o interesse da Sociedade H. Este interesse é
concretizado através dos critérios da essencialidade e da indispensabilidade.
Por fim, a Autoridade Tributária não pode considerar o valor excessivo, não
pode realizar este tipo de juízos de mérito, sob pena de se intrometer na
autonomia de gestão da sociedade.
Quanto à desconsideração da contabilidade da Sociedade H, há que referir
que, em regra, a matéria coletável é determinada com base em declaração do
sujeito fiscal sem prejuízo do controlo pela administração fiscal, de acordo
com o disposto no artigo 16.º/1 do CIRC. De acordo com o disposto no artigo
16.º/4 do CIRC, a determinação do lucro por métodos indiretos só pode
efetuar-se nos termos e condições referidos na secção V. O artigo 57.º/1 do
CIRC refere que a aplicação de métodos indiretos efetua-se nos casos e
condições previstos nos artigos 87.º a 89.º da LGT.
Tendo em conta os elementos do caso, poderia aplicar-se o disposto nos
artigos 87.º/1/ alínea b) e 88.º/1/ alínea a) do CIRC, em virtude do número
de correções detetadas, o que nos remeteria para a determinação da matéria
tributável por métodos indiretos previsto no artigo 90.º da LGT. Também se
poderia aplicar os artigos 87.º/1/ alínea c) e 89.º da LGT, uma vez que a
matéria tributável do sujeito passivo se afasta, sem razão justificada, mais de
30% para menos do volume de receitas face ao ano anterior.
Quanto à aplicação da margem de 30%, de acordo com o disposto no artigo
87.º/1/ alínea b) da LGT, a Autoridade Tributária pode recorrer aos métodos
indiretos para determinar a matéria tributável, nos casos de impossibilidade
de comprovação e quantificação direta da matéria tributável. Essa
impossibilidade de determinação direta e exata da matéria tributável, no caso
em concreto, resulta do disposto no artigo 88.º/ alínea a) da LGT. Assim,
poderia eventualmente aplicar-se o artigo 90.º/1/ alínea a) da LGT, para
efeitos da determinação da matéria tributável por métodos indiretos.
Todavia, a margem aplicada pela AT corresponde a 30% sobre o valor bruto
das vendas registadas em empresas concorrentes nesse ano, que se situavam,
em média, em 200 milhões de euros. Se a margem da Sociedade H for,
efetivamente, 30% e o seu resultado líquido corresponder a 60 milhões de
euros não há qualquer ilegalidade. Contudo, se a margem for maximalista,
estaremos perante uma situação de confisco, passível de pedido de revisão
da matéria tributável, nos termos dos artigos 91.º e seguintes da LGT. Pelo
contrário, se a margem for minimalista, estaremos perante uma violação do
princípio da igualdade.

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