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FEP – FACULDADE DE ECONOMIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO

Sebenta - GESTÃO
Direito Fiscal 1º Teste
Comissão 2º Ano 2015-16
Novembro

Esta sebenta é apenas um apoio ao estudo, é importante ter em conta a matéria lecionada nas
aulas bem como outros materiais de estudo. Como é elaborada por alunos também do 2º ano,
está sujeita a gralhas ou falta de informação.
I – O DIREITO FISCAL

1 – A atividade financeira, o direito financeiro, o direito tributário e o direito fiscal

O direito financeiro regula a atividade financeira. E esta é a atividade desenvolvida pelo Estado
e por outros entes públicos, de obtenção e gestão de receitas, e, também, realização das
despesas públicas. As finanças são meios ou instrumentos financeiros, como o dinheiro ou o
crédito, que servem para aquisição de produtos/serviços ou como reserva de valor. O objeto
das finanças públicas é o estudo da atividade do Estado e Outros Entes Públicos para a
obtenção de meios financeiros, com vista à satisfação das necessidades.

O cerne da atividade financeira do Estado é a obtenção de receitas para o pagamento de


despesas com determinadas necessidades. Que necessidades serão essas e de que meios
financeiros dispõe o Estado para as satisfazer?

As necessidades podem ser de 2 tipos:

 Individuais: este tipo de necessidades são geralmente de satisfação ativa, isto é, o


sujeito tem de desenvolver uma atividade para satisfazer a necessidade.
 Coletivas: estas necessidades são de satisfação passiva, bastando que o bem exista
para que o sujeito satisfaça a sua necessidade. São estas necessidades que colocam o
problema do financiamento.

Quais são as receitas que satisfazem estas necessidades?

 Receitas patrimoniais: o Estado pode vender património como forma de financiamento


 Preços
 Receitas coativas: o Estado usa o seu poder enquanto autoridade para cobrar coimas,
multas e tributos.
 Empréstimos

A atividade financeira do Estado é uma atividade heterogénea, regulada por um conjunto de


normas a que chamamos direito financeiro.Assim, este direito designa-se polo conjunto de
preceitos a disciplinar juridicamente a atividade financeira do Estado, a regular a obtenção das
suas receitas e a realização das respetivas despesas. Dentro do direito financeiro, temos 3
corpos de normas: as normas que dizem respeito às receitas, as normas que dizem respeito às
despesas e as que dizem respeito à administração fazendária. Dentro das normas que dizem
respeito às receitas, vamos destacar as que dizem respeito aos tributos, estando, assim, no
domínio do direito tributário, sendo este o direito que regula os tributos - impostos, taxas e
contribuições financeiras -, que tem como objeto. É o direito da generalidade das receitas
coativas de natureza tributária. Aprofundando o direito tributário, destacamos as normas
referentes ao imposto, sendo este último o tributo mais importante. Estamos perante o direito
fiscal, sendo este o conjunto de normas que regulam o nascimento, desenvolvimento e
extinção das relações jurídicas a que a perceção de imposto dá lugar. Esquematicamente:

Receitas Patrimoniais Coimas

Direito das Receitas Receitas Coativas Multas

Empréstimos Tributos Impostos


Direito Fiscal
Direito das Despesas Preços

Direito da Administração Fazendária


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2 – A natureza e a autonomia do Direito Fiscal

 Natureza:
o Direito público: o Estado intervém sendo um dos sujeitos da relação jurídica. O
direito fiscal é um direito público.
o Direito privado: regula a relação entre particulares
 Autonomia: a autonomia do direito fiscal tem fins e interesses próprios, como por
exemplo, o imposto.

3 - Relações do Direito fiscal com outros ramos o direito

O direito fiscal estabelece relações com:

1. Direito Civil: uma obrigação fiscal é estruturalmente igual à obrigação civil. Os


elementos da obrigação são:
a. Sujeito ativo e sujeito passivo
b. Objeto
i. Objeto imediato: é a entrega do dinheiro e da respetiva coisa (ex:
livro)
ii. Objeto mediato: é o dinheiro em si e o livro
c. Facto jurídico: é um facto da vida real a que o direito atribui importância e
consequências
d. Garantia
2. Direito Administrativo: quem exerce são funcionários públicos
3. Direito Penal: O crime é sancionado ou através de pena ou multa. A multa tem
carácter de sanção enão tem contrapartida. A contra-ordenação é sancionada com
coima (prestação pecuniária com natureza sancionatória).(87º a 129º RGIT).
4. Direito Processual (ou Adjetivo): destina-se a efetivar o direito material, o direito
substantivo. Segue-se ao direito substantivo, é o processo e procedimentos seguintes.
O direito substantivo é o facto de A ter direito ao livro e B ter direito à contrapartida
monetária estipulada.
5. Direito Internacional
6. Direito Comunitário
7. Direito Constitucional: é a principal fonte do direito fiscal. Quem cria os impostos,
onde são definidos os limites do poder tributário. Os impostos estão contemplados na
Constituição Portuguesa, daí o surgir do conceito de Constituição Fiscal (que
estabelece regras que servem de parâmetros à atuação da Assembleia de
República/Governo. Conjunto de preceitos jurídico-constitucionais que:
 Fixam os limites do poder tributário;
 Regulam o exercício do poder tributário;
 Definem garantias dos cidadãos;
 Indicam os fins a prosseguir pelo sistema fiscal e a sua estrutura essência

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II – O IMPOSTO

1 – Noção e característica do imposto

O imposto é a prestação patrimonial definitiva e unilateral estabelecida pela lei a favor duma
pessoa coletiva pública de direito público, para realização de fins públicos e a qual não
constitui sanção de um ato ilícito. Pode ser uma prestação, uma relação jurídica ou um
instituto jurídico.

2 – Os elementos essenciais do imposto

Considerando a relação jurídica de imposto, vêm as seguintes características:

1. Carácter obrigacional: o imposto é o objeto mediato da obrigação.


a. Incidência real
i. Real objetiva: sobre o que incide (art.1º do código do IRS)
ii. Real subjetiva: sobre quem incide (art13º do código do IRS)
b. Lançamento: comporta a liquidação propriamente dita e a liquidação em
estrito senso. Pode ser objetivo (o que é objeto de tributação) ou subjetivo
(quem está sujeito a tributação)
c. Não sujeição
d. Liquidação: aplicada a taxa à matéria coletada, obtenho a coleta.
i. Liquidação propriamente dita
ii. Liquidação em estrito senso
e. Isenção
f. Cobrança

2. Natureza patrimonial: o imposto é suscetível de avaliação pecuniária. Este pode ser


pago em dinheiro, pago com algum bem que valha dinheiro ou através de uma
prestação de facto.
3. Legalidade da obrigação, do imposto:o imposto nasce por força da lei e é estruturado
por esta, sendo a lei a lei da AR ou um decreto de lei autorizado pela AR. É esta lei que
cria o imposto e define elementos essenciais. Estes últimos são:
a. Incidência
b. Taxa
c. Benefícios fiscais
d. Garantias

Existem, ainda, elementos não essenciais:

a. Liquidação
b. Cobrança
- Cobrança Coerciva
- Pagamento voluntário

O pagamento é a perspetiva do devedor e a cobrança é a perspetiva do credor. Assim,


cobrança e pagamento são a mesma realidade, de perspetivas diferentes.

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4. Caráter definitivo da prestação: uma vez pago, o imposto não é devolvido.
5. Titularidade de entidades públicas para satisfazer os fins próprios: o imposto
destina-se a fins públicos (art 103º nº1 da Constituição).
6. Unilateralidade e falta de carácter de sanção: o imposto não depende da vontade das
partes, tem natureza coativa

Finalidades do imposto:

- Financeira: o imposto tem como finalidade gerar receitas de modo a cobrir as despesas. Um
conceito importante é o de imposto neutro. A neutralidade de um imposto depende do
critério adotado. Um imposto diz-se neutro quando não provoca excessivas modificações no
rendimento dos contribuintes, quando não discrimina os circuitos económicos longos face aos
curtos.

- Social: sob a forma de impostos progressivos, isto é, maior percentagem de imposto a quem
tem maiores rendimentos. O Estado faz, assim, uma redistribuição secundária dos
rendimentos.

- Económica: para proteger a produção nacional cria-se o imposto aduaneiro.

- Ordenamento do território:o interior é mais despovoado e as empresas que se instalam aí


não pagam IRC ou pagam menos, assim como as pessoas individuais.

- Unilateralidade: o imposto é uma prestação que não tem contrapartida. Quem paga o
imposto não recebe nada em troca.

- Característica não sancionatória: contrapõe-se à coima, cujo carácter é de sanção.

3 – O imposto e algumas figuras afins

1. Taxas: Os impostos diferenciam-se das taxas devido maioritariamente a 3 fatores:

- As taxas têm carácter bilateral, enquanto que o imposto tem carácter unilateral. No caso das
taxas, estabelece-se uma relação sinalagmática, isto é, uma relação em que há prestações
entre as 2 partes e estas contrapartidas são o respetivo uma da outra. Assim, a sua
bilateralidade traduz-se numa equivalência jurídica (a taxa paga não deve ultrapassar o custo
da atividade).

- Pressupostos: A medida dos impostos é a capacidade de contributiva. As pessoas com maior


capacidade contributiva pagam mais impostos. As taxas assentam no princípio da
proporcionalidade; princípio este, que é entre a taxa e a prestação estadual e entre a taxa e o
custo específico causado à comunidade.

- Regime: enquanto que nas taxas o principio da legalidade se baseia na definição do regime
geral, em matéria de impostos, o principio da legalidade diz-nos que eles devem ser criados
por lei, e esta mesma lei deve definir os seus elementos essenciais (art 165º 1 i) da
Constituição e art 1º, 2º e 4º da Lei Geral tributária).

A taxa tem 3 modalidades: (Art. 4º/2 LGT):

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o Prestação de um serviço público;
o Utilização de bens do domínio público;
o Remoção de um limite jurídico à atividade dos particulares.

2. Tributos especiais – são prestações pecuniárias exigidas pelo estado e pagas pelo
contribuinte em virtude de uma vantagem patrimonial e concreta que este retira do
funcionamento de determinado serviço público ou da maior despesa que a sua
atividade provoca. Por vezes, o estado pretende satisfazer interesses gerais, mas vai
satisfazer os interesses concretos e individuais de determinados indivíduos (por
exemplo, ao constituir uma barragem, uma estrada…). Os tributos especiais
distinguem-se dos impostos pois é-lhes inerente uma utilização individual. Os tributos
especiais distinguem-se das taxas pois não lhes é inerente um direito de exigir e a
vantagem que se tem é meramente reflexiva. O seu regime é, no entanto, semelhante
ao dos impostos ( art.3º LGT). Os tributos podem assumir as seguintes formas:
a. Contribuição pela maior despesa ocasionada:por exemplo, o Estado constrói
estradas para todos circularem, com carros “normais”, não demasiado pesados
nem que provoquem estragos nas mesmas. Supondo que um particular tem um
carro muito pesado, tem que pagar mais pois provoca um desgaste anormal de
um bem público.
b. Contribuição de melhoria: Verifica-se naqueles casos em que é devida uma
prestação, em virtude de uma vantagem económica particular resultante do
exercício de uma atividade administrativa, por parte de todos aqueles que tal
atividade indistintamente beneficia. Ex: encargo de mais-valia – uma
contribuição especial incidente em geral sobre o aumento de valor de prédios
rústicos que, em virtude de obras de urbanização ou da construção de
infraestruturas, ficam aptos para a construção, encargo esse a liquidar aquando
da solicitação da respetiva licença de construção. 2) Tenho um terreno e só
tenho acesso para lá a pé demorando 2 horas de percurso. Mas, constrói-se
uma autoestrada para lá e o terreno tem uma valorização incrível. Então o
estado lança-me um tributo especial pelo aumento do valor do terreno. Note-
se que a vantagem aqui auferida é reflexa pois a estrada aparece para melhorar
a vida de todos, não é para beneficiar um indivíduo em especial. A estrada
passa perto de mim, mas não é dirigida a mim.
3. Tarifas: as tarifas são iguais ao preço do serviço, enquanto que as taxas são inferiores
ao preço do serviço. As tarifas são taxas economicamente equivalentes.
4. Empréstimos públicos forçados: é uma receita coativa sem carácter definitivo pois há
reembolso. Os impostos têm carácter definitivo pois não há reembolso.

4 – Algumas classificações do imposto

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 Impostos Diretos e indiretos: há critérios jurídicos e económicos para distinguir estes
dois tipos de impostos.

Critérios económicos:

o Critério financeiro: atende ao objeto do imposto. São diretos os impostos que


atingem manifestações imediatas da capacidade contributiva. São indiretos os
impostos que atingem manifestações mediatas da capacidade contributiva que
tributam a despesa e outras manifestações indiretas de capacidade contributiva.
o Critério económico sticto senso ou da contabilidade nacional: para este critério,
são diretos aqueles impostos que não constituem custos de produção das
empresas e indiretos que constituem custos de produção das empresas. Sendo o
rendimento nacional = produto nacional – impostos indiretos Então os impostos
indiretos neste sentido eram os impostos sobre o consumo. (art. 254º da
constituição)
o Critério da repercussão económica: para este critério, são indiretos se forem
impostos repercutíveis no consumidor final. São diretos os que forem
irrepercutíveis no consumidor final.

Critérios jurídicos:

o Critério do lançamento administrativo: segundo este critério, os impostos


diretos seriam aqueles em que há um lançamento administrativo ou um ato
tributário, o que não existiria nos indiretos.
o Rol nominativo: se for possível encontrar um rol de contribuintes de impostos,
então estes são diretos. Caso contrário, são indiretos.
o Critério do tipo de relação jurídica base do imposto: se a relação jurídica for
desencadeada por um facto ou ato isolado ou por factos ou aos isolados sem
continuidade, o imposto é indireto. Se a relação jurídica base do imposto tiver
na base situações estáveis, que se prolongam no tempo, mantendo-se ano
após ano, o imposto é direto. Com base nisto os diretos seriam periódicos e os
indiretos seriam de obrigação única.

A nossa lei usa o conceito de imposto direto e indireto na seguinte legislação: - 736º
nº1 no código civil - 254º nº1 da CRP - 92º e 93º do tratado de Roma - 6º nº1 e 2 da lei
geral tributária.
Em suma, os Impostos diretos incidem sobre o rendimento e património e os Impostos
indiretos – incidem sobre o consumo e despesa.

 Impostos periódicos ou de obrigação única:o imposto periódico tem na base uma


relação jurídica duradoura; enquanto que o imposto de obrigação única tem na sua
base uma relação esporádica. (art. 45º nº4 da LGT)
 Impostos pessoais e reais: os impostos pessoais correspondes aos impostos em que se
tem em conta a pessoa contribuinte; e os impostos reais são aqueles em que se tem
em consideração a matéria coletável.
 Impostos estaduais e não estaduais: Esta distinção tem em conta o beneficiário do
imposto. Impostos estaduais – beneficiário é o estado. Impostos não estaduais –
beneficiário é a autarquia local (município), região autónoma ou outro ente público.

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 Impostos de prestação fixa ou variável: os Impostos de prestação fixa são os em que o
valor a pagar é sempre o mesmo (ex: antiga taxa militar, que apesar de se chamar taxa
era um imposto). Os Impostos de prestação variável são todos os impostos, ainda que
a taxa de mantenha após a matéria coletável
 Impostos gerais e locais: Estão num âmbito de aplicação territorial. Exemplo de
impostos locais: IMI quanto à taxa (localidade é que escolhe taxas em função do
desenvolvimento da região). Os impostos gerais aplicam-se a todo o território.
 Impostos principais e acessórios: Os impostos principais são aqueles que existem por
si, não dependendo nem da sua existência nem dos seus elementos nem dos outros
impostos. Os impostos acessórios são aqueles que dependem na existência ou dos
seus elementos ou de outros impostos. Os impostos acessórios podem ser:
o Adicionais: incidem sobre a coleta,
o Adicionamentos: incidem sobre a matéria coletável do imposto principal.

Um exemplo de um imposto acessório é a derrama municipal, sendo estas receitas


lançadas anualmente e sendo 1,5% do lucro tributável. O seu beneficiário é a
autarquia.

 Impostos progressivos, proporcionais e regressivos:


o Os impostos proporcionais são aqueles em que a taxa é sempre a mesma
independentemente da matéria coletável. A título de exemplo, o IVA e as
taxas liberatórias (taxas que uma vez aplicadas e pago o respetivo imposto, o
contribuinte fica livre da obrigação principal e da obrigação acessória)
o Os impostos progressivos são aqueles cuja taxa aumenta à medida que
aumenta a matéria coletável.
o Os impostos regressivos são aqueles em que a taxa diminui à medida que
aumenta a matéria coletável.

 Impostos ordinários e extraordinários:


o Os impostos ordinários são aqueles em que o direito do sujeito ativo se
mantém enquanto se mantiver a situação que fez surgir o sujeito passivo; por
exemplo, direitos gerais e indiretos que fazem parte da receita ordinária do
estado.
o São extraordinários os impostos em que o direito do sujeito ativo apenas de
mantém enquanto durar o prazo previsto no diploma legal que o instituiu.
Situações excecionais determinam o recurso a impostos extraordinários, como
por exemplo, o fomento económico, defesa da ordem pública e o
cumprimento dos critérios de convergência.

 Impostos parcelares e impostos globais: o critério consiste em se o imposto incide ou


não sobre uma única fonte de rendimento ou várias. Se incidir sobre uma única fonte
de rendimento, o imposto é parcelar (exemplo: impostos do trabalho) e se incidir
sobre várias fontes de rendimento, é global (exemplo: impostos prediais, do trabalho,
pensões, empresariais, como o IRS).

 Impostos fiscais e extrafiscais: os impostos fiscais são aqueles em que a finalidade do


seu orçamento é somente financeira e conseguir gerar receita para cobrir despesas. Os
impostos extrafiscais têm finalidade económica e social. São utilizados pelo estado

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com a finalidade de promover ou obstar a certos comportamentos sociais e
económicos. São exemplos de impostos extrafiscais os impostos aduaneiros.

Existem 3 indícios reveladores da natureza extrafiscal:

1º - Prossegue uma finalidade não financeira

2º - Incidência deve basear-se em critérios extrafiscais

3º - O tributo deve na prática contribuir para a finalidade extrafiscal para a qual foi criado. São
impostos extrafiscais os chamados eco-impostos, que têm objetivos ambientais para uma
dupla via: primeira, limitando a verificação dos factos geradores do imposto, evitando que haja
poluição. Quando essa via falha (ou seja, quando há poluição) utilizam as receitas do imposto
para reparar os prejuízos da poluição, causados pela ocorrência do facto gerador.

 A extrafiscalidade designa os fenómenos de utilização dos impostos para prosseguir


finalidades económicas e sociais, aliadas ou não à obtenção de receitas.
 A parafiscalidade designa os fenómenos de cobrança de tributos para cobertura de
despesas de pessoas coletivas públicas não territoriais, correspondendo quase sempre
a situações de consignação subjetiva de receitas.

III – AS FONTES DO DIREITO FISCAL

1 – A Constituição, as convenções internacionais, o direito comunitário, as leis, os


regulamentos, os contratos, a jurisprudência, a doutrina e o costume

A expressão “Fontes” de direito tem vários sentidos.

 Sentido sociológico: condições sociais que levam à formação da lei e do direito


 Sentido histórico: direito que já não vigora
 Sentido político: órgãos da sociedade vocacionados para a produção do direito
 Sentido jurídico: formas através das quais o direito se manifesta (doutrina,
jurisprudência…)
o Lei: em sentido genérico, a constituição é a lei mãe. Temos os princípios
tributários fundamentais na CRP:
 Princípio da legalidade
 Princípio da igualdade
 Princípio da autorização anual das cobranças
 Principio da não retroatividade dos impostos
 Princípio da eficiência e eficácia fiscal

Princípio da legalidade:

Consagrado na CRP (formal) e na Constituição material (conjunto de princípios e


normas que pelo enraizamento do pensamento dos povos tem uma relevância
supraconstitucional, impondo-se ao próprio legislador constitucional).
O princípio da legalidade traduz-se na reserva de lei para criação de impostos e
determinação dos elementos essenciais dos impostos (incidência, taxa, benefícios
fiscais e garantias dos contribuintes), não podendo quer a criação dos impostos quer

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a definição dos elementos essenciais deixar de constar da lei da Assembleia da
República ou de decreto de lei por ela autorizado. A lei de autorização deve obedecer
aos requisitos a definir o objeto, sentido, extensão e duração e sujeitar-se às demais
regras previstas nos artigos 2 a 5 do art 165º da CRP.
Isto implica uma tipicidade legal, devendo o imposto ser estabelecido na lei de forma
suficientemente determinada sem margem para desenvolvimento regulamentar ou
para discricionariedade administrativa ou margem de livre apreciação. Tendo em
consideração essa tipicidade legal dos impostos, não podem existir impostos que não
tenham sido criados pela lei e a lei não pode conter normas elásticas (de sentido
dúbio), devendo o conteúdo dessa lei ser especificado para não dar qualquer margem
de aplicação às autoridades administrativas que aplicam a lei.
Violaria o princípio da legalidade uma lei que determinasse que a taxa do imposto
seria entre 10 e 15% conforme a autoridade administrativa decidisse.
- Discricionariedade administrativa: é a margem deixada pelo legislador ao aplicador
do direito de escolher de entre várias soluções possíveis qual a mais adequada a
satisfazer interesses públicos.
- Margem de livre apreciação: margem deixada pelo legislador ao aplicador de
escolher e encontrar a única solução que satisfaça os interesses públicos.
No direito fiscal, não é permitido nem a discricionariedade administrativa nem a
margem de livre apreciação.

Do princípio da legalidade resulta o Princípio da Tipicidade. Este foca-se em 6 aspetos:


1. Origem legal – impostos criados pela lei que define elementos essenciais
2. Objeto –os factos estão presentes na previsão da norma e os efeitos estão
presentes na estatuição e têm de estar tipificados (art.8º LGT – previsão da
norma)
3. Seleção – de entre as manifestações de capacidade contributiva cabe ao
legislador selecionar aquelas que vão estar sujeitas a imposto.
4. Números cláusulos – fora dessas manifestações de capacidade contributiva
selecionada, ficam todas as outras manifestações, bastando a não verificação
de um elemento do tipo para que não haja tributação.
5. Exclusivismo – os elementos do tipo não são apenas necessários mas também
suficientes para que a produção do efeito jurídico em causa tenha lugar.
6. Determinação – as normas tributárias devem ser tao determinas e precisas na
sua formulação legal que não seja necessário ao órgão de aplicação do direito
introduzir qualquer critério subjetivo de apreciação.

Em suma, do princípio da tipicidade resulta que os impostos são apenas previstos na lei e que
as normas tributárias devam ter um grau de determinação conceitual tao elevada que não seja
possível introduzir quaisquer critérios subjetivos de interpretação para se proceder à respetiva
aplicação.

Do princípio da tipicidade decorre o Princípio da indisponibilidade da obrigação fiscal que se


traduz no facto de que os direitos e os deveres emergentes da obrigação fiscal são
indisponíveis (art.30º nº2 LGT), não podendo a autoridade tributária e aduaneira ou mesmo o
governo, sem autorização legislativa, perdoar impostos (art.36º nº3 LGT (não se permite
moratórias nem perdões)) (e art.85ºnº3 CPTT).

O princípio da legalidade no que toca às taxas – art. 165ºnº1 i) LGT

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Princípio da Igualdade (art. 13º e 35º CRP)

Este princípio traduz-se na generalidade e na uniformidade dos impostos.

 Generalidade – significa que todos estão obrigados ao pagamento dos impostos sem
qualquer distinção e raça, descendência, sexo, etc… (como disposto no art 13º da CRP)
 Uniformidade – todos devem pagar impostos segundo o mesmo critério, o critério da
capacidade contributiva. Esta capacidade é a capacidade de pagar, medida pela
capacidade de gastar. Esta última, por sua vez, mede-se pelo sacrifício que representa
para cada um o pagamento dos impostos.

Igualdade horizontal – contribuintes com a mesma capacidade contributiva devem pagar os


mesmos impostos em termos quantitativos e qualitativos.

Igualdade vertical – contribuintes com diferentes capacidades contributivas devem pagar


diferentes impostos em termos quantitativos e qualitativos.

Assim, o Princípio da igualdade traduz-se não só numa igualdade formal (formal no sentido de
sermos todos iguais perante a lei) mas sobretudo numa igualdade através da lei, isto é, a lei
tem de tratar de forma desigual o que é desigual para compensar as desigualdades fácticas. A
igualdade através da lei é tributar mais a quem ganha mais, com o intuito de uma
redistribuição secundária do rendimento.

Princípio da autorização anual das cobranças:

A cobrança dos impostos tem que ser anualmente autorizada pelo parlamento, para que o
imposto seja devido não basta que uma lei o tenha criado, é necessário também que a sua
cobrança tenha sido prevista no orçamento do ano respetivo, de acordo com o princípio da
autorização parlamentar anual da cobrança do imposto.

Não pode haver cobrança de impostos sem inscrição orçamental. Este princípio pertence à
constituição material. Na falta de inscrição orçamental dum imposto num certo ano, não
implica a revogação da lei que o criou, mas apenas a suspensão da sua eficácia. Igualmente, se
a lei criar um imposto, o mesmo não será eficaz enquanto não for inscrito no orçamento.

Princípio da não retroatividade dos impostos: (art.103ºnº3 CRP)

Este princípio só apareceu com a revisão constitucional de 1997. Em 1989 só o México é


que tinha este principio consagrado. Mas note-se que não é por não estar aqui que não
estava consagrado este princípio na constituição. Isto, porque por uma questão de
segurança jurídica estava consagrado no artigo 2º da CRP que nos diz que Portugal é um
estado de direito (é regido por lei). Uma lei retroativa viola a segurança jurídica. Note-se
que se o país estiver falido tem de ir buscar o dinheiro a algum lado. Este princípio, que é o
mais recente, é o primeiro a ser sacrificado. Estamos a salvaguardar a saúde das finanças
públicas e a única consequência da violação deste princípio é política. Não existem valores
absolutos. A retroatividade consiste, assim, na aplicação de uma lei a factos passados.

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Existem 3 graus de retroatividade:

 1º Grau: lei nova aplica-se a um facto ocorrido na lei anterior e que esgotou no
domínio da lei anterior todos os seus efeitos (efeitos: liquidação e cobrança).
Ex: A paga imposto em 2008 e já foi liquidado. Em 2010 sai lei que diz que os
rendimentos de 2008 sofrem agravamento de taxa de 0,5%.
 2º Grau:lei nova vai aplicar-se aos factos que ocorreram no domínio da lei antiga
todavia os efeitos desse facto prolongaram-se pela vigência da lei nova.
Ex: IRC de 2009. A liquidação é até finais de Maio de 2010. Em Janeiro de 2010
aparece uma lei nova e manda alterar a taxa. O facto já ocorreu mas ainda não
houve liquidação, ainda não houve cobrança. Quando se faz a liquidação já está
em vigor a lei nova.
 3º Grau: O facto tributário ocorre no domínio da lei nova e da lei velha. Começa a
surgir no domínio da lei velha, mas só se forma completamente já no domínio da
lei nova. São factos tributários de formação sucessiva, como por exemplo, os
impostos periódicos.

(art.103nº1 da CRP) – eficácia do sistema fiscal

Notas importantes para teste

 O IRC é de formação sucessiva? Não. O facto tributário é que é de formação sucessiva e


não o imposto. O IRC não é de formação sucessiva; o facto tributário (rendimento que se
vai construindo) é que é.
 Nos impostos periódicos é comum falar de formação sucessiva
 Nas mais-valias imaginando que vendo determinadas ações em Março de 2010 (contrato
que estabeleço) e sai lei nova em Junho 2010, dizia-se no caso de admissão do grau 3 de
retroatividade que o facto só nasceu no fim de 2010 (fim do período) e dessa forma podia-
se aplicar a lei nova de Junho de 2010.

Princípio da eficácia tributária:

O sistema fiscal nos termos do artigo 103º nº1 da CRP visa a satisfação das necessidades
financeiras do estado e outras entidades públicas e uma repartição justa dos rendimentos e da
riqueza.

Os impostos têm todos uma componente extra fiscal, isto porque não podem existir impostos
extra fiscais puros (com a extra fiscalidade tenta-se adocicar o imposto).

A eficácia do sistema fiscal consiste na sua capacidade para atingir os fins que lhe estão
constitucionalmente destinados.

Estes fins são: o tradicional (obtenção de receitas para a actividade financeira do estado e
outras entidades públicas) e o fim extra fiscal.

O objectivo da obtenção de receitas é relativo, pois depende das necessidades financeiras do


estado. Por sua vez, o nível de despesas públicas não há-de ser o óptimo, mas o possível,

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tendo em consideração o nível possível das receitas públicas. O segundo objectivo do sistema
fiscal (objectivo igualitário) constitui uma das incumbências prioritárias do estado no âmbito
económico e social. (ver artigo 81 alínea B). Nos termos do artigo 67 nº 2 f incumbe ao Estado,
para protecção da família, regular os impostos e os benefícios sociais em harmonia com os
encargos familiares – ordens de conceito programáticas, ou seja, obrigam apenas o legislador e
a administração a desenvolver os meios para atingir estes fins.

Princípio da eficiência fiscal – pressupõe a racionalização dos meios a utilizar pelos serviços
(art 267º5 CRP). Tem em consideração os custos com a cobrança de impostos. Este princípio
baseia-se na comparação, por um lado, nas receitas arrecadas e os objetivos extra fiscais
prosseguidos, e por outro lado, na totalidade dos custos suportados para o efeito, custos esses
financeiros e não financeiros. Enquanto a eficácia respeita à capacidade do sistema fiscal para
alcançar objetivos fiscais e extra fiscais, a eficiência tem em consideração a relação entre os
subjetivos e os custos implicados pela prossecução desses objetivos. Os custos têm a ver não
só com aqueles suportados com o Estado, mas também pelos contribuintes. Um imposto é
ineficiente se os custos por ele implicados não forem compatíveis com os objetivos do sistema
fiscal.

Consequências da violação de um princípio fundamental:

Consequência da Violação do Princípio da Legalidade – inconstitucionalidade orgânica e/ou


formal. (...)

É orgânica porque deveria ser feita pela AR (ou Governo), e formal porque deveria ser lei da Ar
e é outro (regulamento, entre outros).

Poderá dar também uma Inconstitucionalidade Material? – Se incluirmos na


inconstitucionalidade material só as norma que ofendam a constituição por vícios de
conteúdo, então o princípio da legalidade não terá como consequência uma
Inconstitucionalidade Material. Contudo, se o critério for quaisquer ofensas aos direitos,
liberdades e garantias em si, também haverá uma inconstitucionalidade material.

Continuação da Fontes (internas) do Direito Fiscal

Lei – no sentido da AR, decreto de Lei e decretos legislativos regionais das assembleias
regionais.

Artigo 8º - Princípio da Legalidade Tributária (lei Geral Tributária)

Nº 1 – todas estas matérias são tributadas através de Lei da AR e Decreto de Lei autorizado.

Nº2 – Uma vez que não são elementos essenciais fiscais, podem ser tributárias através de um
decreto de lei não autorizado (no mínimo).

O princípio da legalidade, constitucionalmente consagrado, reserva à Lei da Ar ou ao decreto


de lei autorizado, a criação de impostos e a definição dos seus elementos essenciais. Por sua
vez, o princípio da legalidade constante na Lei Ordinária veda à esfera regulamentar as
matérias respeitantes aos elementos não essenciais do imposto (liquidação e cobrança), bem

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como todas as demais matérias previstas no artigo 8º nº2 da Lei geral Tributária. Quanto aos
decretos legislativos regionais, ver artigos 227º 1i), 166 nº 2 e 164 alínea r) da Constituição.

 Regulamentos – destinam-se a permitir a boa execução das leis. Nos regulamentos


decompreendem-se os decretos regulamentares, a regulação do conselho de
ministros, as portarias e os despachos normativos, sendo estes os regulamentos do
governo. Temos depois os regulamentos das autarquias e os das regiões autónomas.
Os regulamentos podem ou não ter carácter inovador. Se tiverem, não podem versar
sobre as matérias sujeitas ao princípio da legalidade tributária constitucionalmente e
legalmente consagrado. Os regulamentos, em todas as matérias exclusivas do artigo 8,
são fonte imediata.

 Regulamentos Internos (ou normas Internas) da Administração Fiscal (as chamadas


orientações administrativas) – por exemplo, as instruções, circulares, ofícios de
circulares, ofícios circulados, pareceres – vinculam pelo poder de autoridade de quem
a emita e no dever de obediência para quem se dirige. Estas normas estão sujeitas a
publicação, no prazo de trinta dias (artigo 59 3B da lei geral tributária. Estas normas
não vinculam os tribunais (nem sequer são dirigias ao particulares), mas é pelos
critérios nelas inseridas que se decide o caso concreto de cada um. Estas não são fonte
imediata, são mediata.

 Jurisprudência: apenas podemos considerar fonte mediata de direito as declarações de


ilegalidade e de inconstitucionalidade com força obrigatória geral de determinadas
normas jurídicas. (ver artigos 281 e 282 da Constituição). Por sua vez, ver ainda artigo
72 do CPTA – código de processos dos tribunais administrativos.

 Doutrina – a doutrina vale pela autoridade de quem profere essas opiniões. Por
exemplo, a doutrina dos manuais de direito fiscal, aquela que imana da própria
jurisprudência – valem pela razão de ciência de quem as profere. A doutrina é uma
fonte mediata (não tem relevância no Direito Fiscal).

Orientações genéricas – (art 68º A do LGT) - A administração tributária está vinculada às


orientações genéricas constantes de circulares, regulamentos ou instrumentos de idêntica
natureza, independentemente da sua forma de comunicação, visando a uniformização da
interpretação e da aplicação das normas tributárias. Podem assumir as seguintes formas:

 Instruções
 Circulares
 Oficio circulares
 Despaches normativos
 Regulamentos
 Pareceres

Fontes do Direito Internacional

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 Direito Internacional Geral ou comum – faz parte da lei portuguesa, não necessita de
retificação.
 Direito Internacional Convencional – depende de prévia retificação e publicação no
Diário da república. Assume especial importância as convenções internacionais em
matéria da dupla tributação económica.
 Direito Comunitário
o Fiscal Próprio – disciplina os impostos comunitários próprios, em que temos a
tributação que suporta a união aduaneira concretizada na pauta aduaneira
comum (PAC); os impostos niveladores agrícolas, a tributação anti-dumping, e
a tributação compensadora. Temos ainda os impostos sobre os funcionários
europeus.
o Fiscal Interestadual
 A disciplina dos impostos indiretos, baseada nos artigos 92 e 93.
 A disciplina de alguns impostos de alguns aspetos avulsos da
tributação direta das empresas baseada no artigo 94.

No âmbito da tributação indireta, temos o caso do IVA – por exemplo, não há harmonização
quanto à dedução do IVA. No entanto, há harmonização total quanto à incidência pessoal e
incidência reais.
Por fim, os contratos fiscais/acordos não são fonte de direito – ver estatutos dos benefícios
fiscais: art. 36; 41.

IV – INTERPRETAÇAO E INTEGRAÇÃO DA LEI FISCAL

1 – A interpretação da Lei fiscal

Regras de Interpretação (interpretar uma lei é procurar o sentido com que ela deve ser feita
valer). Para interpretar as normas tributárias (art. 11º LGT) temos que ir buscar o sentido das
normas ao código civil, e se persistir a dúvida sibe o sentido das normas de incidência a aplicar,
deve atender-se à substância económica dos factos tributários.

 Modalidades:
o Interpretação autêntica: Feita pelo legislador para complementar/esclarecer
(através da lei) – força vinculativa total;
o Interpretação jurisprudencial: Feita pelos juízes, com força vinculativa limitada
para as partes envolvidas;
o Interpretação doutrinal: Não tem força vinculativa.
 Resultados:
o Interpretação declarativa: O sentido literal coincide com o espírito de lei;
o Interpretação extensiva: Sentido literal ≠ Espírito de lei – o legislador disse
menos do que aquilo que queria dizer

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Regras:

1ª) Atualmente, as leis fiscais aplicam-se conforme uma lei geral – artigo 9º do código civil –
valem os princípios gerais de interpretação.

2ª) Quando a lei fiscal utilize conceitos próprios de outros ramos de direito, qual é o sentido
que valem no direito fiscal? – Valem com o sentido que tiverem nesse outro ramo de direito, a
não ser que outro resulte da lei. Exemplo: Conceito de Venda vale como no direito civil, exceto
quando o direito fiscal mencione: em direito fiscal, venda significa.

3ª) Substância económica só mesmo quando existirem dúvidas.

2 – A integração das Lacunas da Lei Fiscal

 Problema: O legislador não consegue regular certas situações, mas que deveriam
estar, daí surgem as lacunas.
 Lacunas: Não há regras jurídicas para certas situações do quotidiano.
o A necessidade de preenchimento da lacuna – Art. 8º CC.
 Resolução do problema: Art. 10º 1/3 CC
 A analogia está excluída em matérias de criação de impostos e
definição de elementos essenciais, ou seja, aqueles em que existe
reserva de competência legislativa da Assembleia da Republica –
artigo 8 nº 16 da LGT e artigos da Constituição. Princípio da proibição
da analogia (Art. 11º/4 LGT).
 Norma ad hoc – Criada pelo intérprete como se a criasse para a legislação.
 As cláusulas antiabuso: Previnem e reprimem práticas evasivas.

V – APLICAÇÃO DA LEI FISCAL NO TEMPO

1 – O início e o termo de vigência da Lei Fiscal

Aplicação da lei tributária no tempo (art 12º LGT)

As normas tributárias aplicam-se aos factos posteriores à sua entrada em vigor, não podendo
ser criados impostos retroativos. Se o facto tributário for de formação sucessiva (caso dos
impostos periódicos que se formam aos bocados), a lei nova só se aplica ao período decorrido
da sua entrada em vigor.

Aplicação da lei tributária no espaço (art 13º LGT)

O artigo 13º nº1 consagra o princípio da territorialidade das leis fiscais. Pode ser entendido
este princípio em sentido:

Positivo, que significa que as leis tributárias portuguesas se aplicam ao território


português, inclusive aos que não são portugueses.

Negativo, que significa que as leis fiscais estrangeiras não se aplicam no território
português.

Os ordenamentos jurídicos utilizam argumentos de conexão subjetivos, como é o caso da sede


do domicílio ou residência do contribuinte e elementos de conexão objetivos, como é o caso
do local da situação dos bens, a fonte de produção, os pagamentos dos rendimentos, o local

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de estabelecimento permanente, etc. Temos, assim, uma territorialidade em sentido pessoal
ou em sentido real.

O princípio da territorialidade em sentido formal significa que as leis tributárias portuguesas só


são suscetíveis de execução coerciva (pela força) em território português.

O princípio da territorialidade em sentido material significa que de entre as situações


tributárias com ligação com mais de um ordenamento significa que são escolhidas algumas,
determinadas pelos elementos de conexão indicados, que estão sujeitos a ordenamento
jurídico do território em causa. A progressiva internacionalização da economia e a acentuada
circulação de pessoas levaram a que os estados tivessem que cooperar e se entender para
evitar situações de tributação.

3 - A Convenção-Modelo O.C.D.E. destinada a evitar as duplas tributações em matéria


de impostos sobre o rendimento e o capital

Dupla tributação – existe dupla tributação quando o mesmo facto se integra na previsão de
duas ou mais normas de imposto (normas fiscais) distintas, dando origem a mais do que uma
obrigação de imposto. Se as normas tributárias pertencerem ao mesmo ordenamento, a dupla
tributação é interna. Se pertencerem a ordenamentos tributários distintos, a dupla tributação
é internacional.

A dupla tributação económica ocorre quando o facto, no seu elemento objetivo, integra a
previsão de normas fiscais distintas, mas a identidade do facto já não se verifica quanto ao
elemento subjetivo.
Na dupla tributação jurídica exige-se cumulativamente com a identidade do facto na
dimensão objetiva a identidade do facto na dimensão subjetiva, isto é, tem que existir
identidade do facto e identidade do contribuinte. Já na dupla tributação económica,
apenas é necessária a identidade do facto quanto ao elemento objetivo, ainda que o
subjetivo não se mantenha. Haverá dupla tributação ainda que o mesmo facto seja
tributado por impostos diversos, quer quanto à designação, quer quanto à origem, quer
quanto à estrutura, quer quanto ao objeto.

A dupla tributação distingue-se da duplicação da coleta, por quanto, nesta última, não
existe uma pluralidade de normas, mas antes uma pluralidade de aplicações da mesma
norma. A duplicação da coleta está consagrada, em termos conceptuais, no artigo 205 do
CPPT.

Exemplos de dupla tributação:

– Importação de um veículo automóvel. Facto: importação. Impostos devidos: ISU/IA. Esta


tributação é jurídica.

– A empresa A SA tem como sócios B e C SA, que por sua vez B tem como sócios D e E SA,
e C F e G SA. Se A obtiver um rendimento de 1000€, pagará imposto (a título de exemplo, a
um a taxa de 10%) 100€. Por sua vez, os 900€ iriam ser distribuídos a B e C, (cada uma
receberia 450€), que novamente iriam ser tributados, e assim sucessivamente – dupla
tributação económica. Para que exista Duplicação da Coleta é necessário que exista:
identidade do facto, do imposto e do período.

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Dupla tributação Internacional: resulta de todos os Estados quererem tributar. Se fosse
aplicado o princípio da territorialidade, não haveria problemas de dupla tributação. No
entanto, existe um confronto entre: O país de residência (capitalista) e o país de origem
(em vias de desenvolvimento).A dupla tributação internacional prejudica o movimento
internacional de capitais e pessoas. A remuneração do investimento, tal como a do
trabalho, depende também do imposto que for pago após a obtenção dos ganhos e
remunerações. Ora, sendo dupla tributação nociva a esses movimentos, importa que a
mesma seja eliminada. O ónus da eliminação cabe ao estado da residência, devendo o
estado da fonte limitar-se a cumprir o princípio da territorialidade, no sentido de
territorialidade real, tributando apenas os rendimentos aí gerados.

Composto Positivo de Normas – o mesmo facto tem duas ou mais normas distintas.
Composto Negativo de Normas – quando o facto não se integra em nenhuma norma onde
se devia integrar – surge invasão fiscal – não existe norma para a tributação do
rendimento. Assim, o País de Residência invoca o Princípio da igualdade.

Métodos para eliminar a dupla tributação:


1. Método da Isenção: como o próprio nome indica, este método consiste em isentar do
imposto devido no país de residência os rendimentos de fonte estrangeira. É suscetível
de duas modalidades:
a. Isenção integral: o rendimento de fonte estrangeira não é tido em conta seja
para eu efeito for.
b. Isenção com progressividade: neste caso, o rendimento de fonte estrangeira,
apesar de não ser tributado no estado da residência é levado em conta
conjuntamente com os rendimentos de produção interna, para o efeito de
determinar a taxa progressiva aplicável ao rendimento global de fonte interna.
2. Método da Imputação: o rendimento de fonte estrangeira não é isento, de tal modo
que o estado de residência tributa o rendimento global do contribuinte, seja qual for a
sua origem. Todavia, do montante do imposto assim apurado, deduz ou credita o
imposto pago no país de origem. É suscetível de duas modalidades:
a. Imputação Integral: se o estado de residência deduz o montante total do
imposto efetivamente pago no país de origem.
b. Imputação ordinária: sucede quando o estado da residência não deduz o
montante total do imposto total do estado da fonte, antes sujeitando essa
dedução a um limite máximo; limite esse, correspondente à fração do próprio
imposto correspondente aos rendimentos provenientes do país de origem. Na
imputação ordinária, existe apenas uma redução parcial do imposto
estrangeiro se esse for superior ao imposto que o Estado da residência aplica
aos mesmos rendimentos. Ou seja, o desconto só é outorgado, concedido, até
ao limite do mais baixo dos impostos em concurso.

Apreciação dos métodos de eliminação da dupla tributação – através de uma tripla


perspetiva:

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Ponto de vista da eficácia – o método da isenção permite eliminar a dupla tributação de forma
mais completa e eficaz que o método da imputação. Este último tem a desvantagem de que o
imposto pago num Estado só poder ser imputado no outro estado num Imposto similar, o que
acarreta vários inconvenientes quando os sistemas fiscais são muito diferentes. O método da
imputação, quando o imposto estrangeiro excede o montante imposto nacional em que é
imputado, mantém a dupla tributação (em regra geral, este não costuma acontecer).

Ponto de vista do custo – o método da isenção é o mais simples, quer para a administração
fiscal, quer para o contribuinte, mas é o mais oneroso para o estado de residência, pois implica
uma maior perda de receitas. No entanto, quando os fluxos de pessoas e bens forem idênticos
nos dois sentidos, os sacrifícios financeiros suportados por ambos os estados são semelhantes.
Quando assim não acontece, os sacrifícios fiscais do estado da fonte (subdesenvolvido)
convertem-se em fonte de receita do estado de residência.Para evitar que as finanças do
estado da fonte fiquem ao dispor das taxas do estado de residência, quando é utilizado este
método, utilizam-se outros métodos que estabelecem montante de imputação superiores ao
imposto efetivamente pago no Estado de Residência.

Ponto de vista da equidade - o método da imputação concede uma absoluta em termos de


tributação entre residentes só com rendimentos de fonte interna e residentes com
rendimentos de fonte interna e externa, pagando sempre o mesmo, neste método. Contra
esta ideia de equidade baseada unicamente no valor aritmético da tributação, invoca-se que a
capacidade contributiva do rendimento de fonte externa é menor do que do que a dos
rendimentos de fonte interna, e portanto a capacidade de pagar impostos de um rendimento e
do outro não é a mesma. Os rendimentos de fonte externa envolvem geralmente maiores
custos de produção e gestão e maiores riscos que os rendimentos de fonte interna. Por isso,
em prol de uma verdadeira igualdade, impõe-se que o método da imputação seja corrigido de
forma a evitar que os sacrifícios fiscais do país menos desenvolvido se convertam em fonte de
receita do país mais desenvolvido (país de residência, geralmente).

Formas de corrigir a dupla tributação:

 Crédito de imposto presumido (MatchingCredit): O estado de residência concede


crédito de imposto a uma taxa fixa maior (presume que a pessoa pagou na fonte
externa mais do que 10%; por exemplo presume que pagou 20% na fonte externa).
Assim o imposto pago pelo individuo na residência (fonte interna) = 12 000 – (20 000 *
20%) = 12 000 – 4000 = 8000 e
 paga 2000 na fonte externa.
 Taxsparing:O crédito de imposto não é uma taxa fixa, mas uma taxa variável. O estado
de residência ficciona qual o imposto que a fonte externa obrigava a pagar se não
quisesse incentivar importação de capitais. Imaginando que era de 25%. A lógica é: Se
a fonte não incentivasse importação de capitais qual a taxa que escolheria? É assim
que se determina a taxa variável. Imaginando que era de 25% essa taxa. Então na
residência pagava = 12 000 – (20 000*25%) = 7000 e na fonte pagava 2000

Convenção do Modelo da OCDE

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As convenções destinadas a evitar a dupla tributação de rendimento e do património
celebradas segundo o modelo da OCDE elegem como elementos de conexão subjetivos a
nacionalidade, a residência, o domicílio e o estabelecimento permanente. E como elementos
de conexão objetivos elegem a fonte do rendimento e a situação do bem. Quanto aos
elementos de conexão subjetivos, a nacionalidade tem pouca relevância, sendo a maior
relevância dada ao elemento residência (referente a pessoas singulares) e ao elemento
sede/estabelecimento estável/permanente (referente a pessoas coletivas). Se uma pessoa for
considerada residente simultaneamente em 2 países, utilizam-se os seguintes critérios
subsidiários:

1º - habitação permanente

2º - centro de interesses vitais

3º - permanência habitual

4º - nacionalidade

A convenção atribui o direito de tributar a um ou ambos os estados. Neste última caso, para
evitar/eliminar a tributação, as convenções celebradas segundo o modelo da OCDE consagram
métodos para eliminação dessa dupla tributação.

O que é preciso para ser Residente?

 Quem aqui permanecer mais do que um determinado nº de dias – 183 pelo código do
IRS – artigo 16º.

Tributação do Rendimento – o que fazer?


 Rendimentos de Bens imóveis – artigo 6º – são tributados no estado onde estão
situados os bens.
 Lucros das empresas – artigo 7º - uma empresa portuguesa que desenvolve uma
atividade noutro país só podem ser tributado no estado da sede, a não ser que
desenvolva a sua atividade noutro país através de um EE. Nesse caso, os Lucros do EE
podem ser tributados nesse outro Estado, mas só nessa exata medida.
 Rendimentos da Navegação Marítima interior e aérea – artigo 8 – uma empresa
portuguesa trabalha o seu navio, faz transporte entre Argentina e o Brasil, e tem um
rendimento desse contrato de transporte – são tributados na sede efetiva da empresa,
ou seja, em Portugal. No entanto, se a sede efetiva da empresa estiver a bordo de um
navio ou dum barco, o Estado que irá tributar será o da bandeira do navio. Na falta de
matrícula (se o navio for pirata), considera-se o Estado de residência do proprietário.
 Dividendos – artigo 10º - (regra residência) – Estabelece regras quanto à tributação de
dividendos pagos por uma sociedade residente num estado contratante a um
residente noutro estado: a regra é que os dividendos são tributados no estado de
residência, contudo o estado da fonte também pode tributar, mas se quem recebe (o
beneficiário efetivo dos dividendos) for um residente de outro estado contratante, o
imposto não pose exceder 5% do montante bruto dos dividendos se o seu beneficiário
efetivo for uma sociedade e esta tiver pelo menos 25% do capital da sociedade que
paga os dividendos. Nos restantes casos é 15%.

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 Juros – são tributados no Estado da Residência, mas o estado da fonte também pode
tributar, mas se quem os recebe for o beneficiário efetivo, o Estado da fonte só pode
tributar até 10%.
 Royalites – artigo 12º - são tributados no estado de residência.
 Regra comum aos dividendos, os juros e às Royalites - se quem recebe os dividendos,
os juros ou as Royalites exercer no Estado contratante donde provêem esses
rendimentos actividade comercial ou industrial através de EE aí situado, e o crédito
gerador desses rendimentos estiver ligado a esse EE, são aplicadas as regras do artigo
7º.

Análise da convenção Modelo da OCDE


Nos artigos 23A e 23 B estabelecem-se mos métodos para a eliminação da dupla tributação.
Reportam-se estes métodos à chamada dupla tributação jurídica internacional, que acontece
quando a mesma pessoa é tributada pelo mesmo rendimento ou património por mais de um
estado.
Como vimos na dupla tributação económica, duas pessoas são tributadas a título do mesmo
rendimento ou património. Quando, nos termos na convenção celebrada, for atribuído o
direito de tributar o rendimento ou património apenas a um dos Estados, a dupla tributação é
eliminada por essa forma.
Quando assim não acontecer, e o artigo correspondente declara que o rendimento ou
património podem ser tributados no Estado contratante de que o contribuinte não é residente
nos termos do artigo 4, o Estado da residência deve conceder um desagravamento por forma a
evitar a dupla tributação. O artigo 23A e 23 B visam possibilitar esse desagravamento, e
aplicam-se à situação em que um residente recebe rendimentos de outro Estado, ou que ai
tem património, e esse rendimento ou património podem ser tributados nesse outro Estado.
Esses artigos só de aplicam, pois, ao Estado de Residência.
O artigo 22 é o único que se refere à tributação do património e prevê que os imóveis ou
móveis que um residente dum Estado tenha num outro Estado podem ser tributados nesse
outro Estado que não na Residência. O património constituído por barcos, aeronaves, etc, é
sempre tributado onde estiver a direção efetiva da empresa.

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