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Introdução

UNIDADE 1: Fundamentos da Fiscalidade

Introdução
Em qualquer canto do mundo, os Estados necessitam de recursos para
garantirem a satisfação das necessidades coletivas. São varias as fontes de
recursos que os Estados dispõem quer seja nos países Desenvolvidos ou nos
países em vias de desenvolvimento, no entanto o tributo é a fonte de recurso
mais importante.
A ciência fiscal tem em vista garantir as normas tributarias de coleta de
imposto com vista a promover a justiça social e proteger os direitos básicos
dos cidadãos.
Nesta unidade abordar-se as os aspetos relativos ao direito fiscal e aos
fundamentos do imposto com vista a dar a conhecer aos discentes as bases que
formam o nosso sistema tributário

Objectivos da unidade
.
 Definir a fiscalidade
 Enquadrar a fiscalidade nos 2 ramos de direito
 Identificar os princípios constitucionais que regem a fiscalidade
 Identificar os intervenientes a relação jurídico fiscal
 Descrever o papel de cada interveniente da relação jurídico fiscal
 Relacionar o imposto e a actividade financeira do estado
 Definir impostos e taxas
 Diferenciar os impostos das taxas
 Identificar os objetivos dos impostos
 Caracterizar os impostos
 Descrever as fases ou momentos dos impostos
 Descrever o sistema fiscal moçambicano

Recurso de aprendizagem

Enquadramento da FISCALIDAE

Definição
Fiscalidade é:

 Conjunto de normas que disciplinam as relações que se estabelecem


entre o Estado e os outros entes públicos por um lado e os cidadãos pelo
outro, por via do Imposto.
 Conjunto de normas que regulam o imposto nas suas várias fases.

 o conjunto das leis reguladoras da arrecadação dos tributos bem como


de sua fiscalização. Regula as relações jurídicas estabelecidas entre o
Estado e contribuinte no que se refere à arrecadação dos tributos.
 Cuida dos princípios e normas relativas à imposição e a arrecadação dos
tributos, analisando a relação jurídica (tributária), em que são partes os
entes públicos e os contribuintes, e o fato jurídico (gerador) dos tributos.
O objeto é a obrigação tributária, que pode consistir numa obrigação de
dar (levar o dinheiro aos cofres públicos) ou uma obrigação de fazer ou
não fazer (ex. prencher livros obrigatorios, etc.)

Os intervenientes da relação Jurídico Fiscal são por um lado o estado (o


sujeito activo) e, por outro o contribuinte como sujeito passivo (pessoas
coletivas e singulares)

Natureza
A fiscalidade se enquadra no direito público pelas seguintes características:

 Tutela Fundamentalmente interesses Coletivos (destina-se à satisfação


de necessidades da comunidade
 Nas obrigações tributárias um dos intervenientes é um ente público
 O ente público está em posição de supremacia
 Dispõe de princípios jurídicos próprios

 DIREITO PRIVADO – é o conjunto de regras jurídicas que regem as


relações dos indivíduos entre si ou pessoas jurídicas de Direito Público,
quando agem como particulares; inclui: direito civil, comercial,
internacional privado.
 DIREITO PÚBLICO – é o conjunto de regras jurídicas relativas à
actividade financeira das entidades públicas.

Princípios Gerais

A tributação visa a satisfação das necessidades financeiras do Estado e de outras


entidades públicas e promove a justiça social, a igualdade de oportunidades e a
necessária redistribuição da riqueza e do rendimento. A tributação respeita os
seguintes princípios:

 Princípio da Legalidade Tributária

O princípio da legalidade consiste, portanto, em pertencer á lei formal o


estabelecimento dos impostos. No caso concreto de Moçambique, a
constituição estabelece, no seu artigo 50º. Que “os impostos são criados ou
alterados por lei, que os fixa segundo o critério de justiça social. O princípio
de Legalidade implícito na Lei Constitucional no nosso entender, não se
esgota na ideia de que o código dos Impostos, só podem ser estabelecidos
por lei. A Lei tende a regular os chamados elementos essenciais do imposto,
ou seja, determinar a incidência, fixar a taxa e enunciar o âmbito das
isenções. Caso um imposto seja criado por outro diploma que não seja a lei,
estaremos perante uma inconstitucionalidade.

 Princípio da Igualdade Tributária

Este princípio concretiza-se através de duas características de generalidade e


uniformidade, isto é, a nossa constituição estabelece no seu artigo 66 um
princípio fundamental que consubstancia a igualdade: “Todos os cidadãos são
iguais perante a Lei, gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos aos mesmos
deveres, independentemente da cor, raça, sexo, origem étnica”.

 Princípio de autorização anual de cobrança

Neste princípio resulta que os impostos hão-de ser votados anualmente


pelos parlamentos. No caso concreto de Moçambique este princípio está
contemplado na alínea h) do nº2 do artigo 135 da constituição.

 Actos ilícitos

O caráter ilícito da obtenção de rendimentos, da aquisição, titularidade ou


transmissão de bens ou de outro qualquer ato não obsta á sua tributação
quando tais atos preencham os pressupostos das normas de incidência
aplicáveis.

 Benefícios Fiscais

Os benefícios fiscais são de caráter excecional e tendencialmente


temporário, que impedem ou reduzem a tributação de manifestações da
capacidade contributiva e prosseguem objetivos extrafiscais de interesse
público relevante, nomeadamente de orientação da economia. Os benefícios
fiscais podem revestir a forma de isenções, reduções de taxas, deduções á
matéria coletável e á coleta.

Interpretação das Normas Fiscais

 In Dubio Contra Fiscum

Pertence a época imperial Romana. Tinha como base o princípio de que o


interprete quando não tiver o sentido exato das normas deveriam em a
dúvida optar pela solução que fosse mais favorável ao contribuinte ou seja
na dúvida contra o fisco; Posição Crítica: Esta doutrina é afetada com o
argumento de no moderno estado de direito, o Princípio da legalidade
constitui uma garantia do contribuinte contra as arbitrariedades do fisco.
 In Dúbio Pro Fisco

Esta doutrina defendia que na dúvida devia-se decidir a favor do fisco porque
assentava no princípio de interesses coletivos de obtenção de receitas para a
satisfação das necessidades públicas que deviam sobrepor aos interesses
individuais. Posição crítica: esta doutrina não encontra consenso porque se
entende que ao interpretar deve interessar apenas a determinação do exacto
sentido da lei.

 Interpretação Literal

De acordo com esta corrente as normas fiscais devem interpretar-se de acordo


com o sentido estrito e literal das palavras da lei, não sendo permitido a
interpretação extensiva e analogias.

 Interpretação Funcional

Segundo esta corrente o sentido exacto e alcance da norma fiscal só se aprende


se tiver presente diversos aspetos do fenómeno tributário abaixo enumerado, ou
seja, a lei fiscal deve ser interpretada tendo em atenção o fim do Direito Fiscal
que é a satisfação das necessidades públicas.

Relações do Direito Fiscal com Outros Ramos de Direito

 Direito Fiscal, ciência Fiscal e Ciência Técnica Fiscal:

Nuno Sá Gomes citador por Ibrahimo ibrahimo Pag. 23 Defende que enquanto
disciplina jurídica o Direito Fiscal é uma ciência de normatividade, pois, o seu
objecto está nas normas Jurídico-fiscais, pelo que encara o fenómeno fiscal não
como uma realidade social deontológica, mas sim como dever abstrato que tem
um sentido de um dever efetivo.

Trata-se, portanto, de um ramo de direito que integra regras que assumem todas
as características das normas jurídicas em geral, isto é, generalidade, abstração.
Por sua vez a ciência Fiscal é um aspeto da Ciência das finanças, que encara,
portanto, o fenómeno fiscal, o imposto na ótica económica. A ciência técnica
fiscal é dada como nova estruturação do saber teórico da fiscalidade.

 Direito Fiscal e Direito Constitucional:

Relação de Dependência: direito fiscal subordina-se tal como todas as normas


e outros ramos de direito, em relação ao direito constitucional as ligações são
tão estreitas que é inteiramente justificado falar do direito constitucional fiscal,
integrado por aquelas normas respeitantes á disciplina jurídica dos impostos.

 Direito Fiscal e Direito Administrativo

Relação de Complementaridade: o direito fiscal goza de autonomia, como já se


referiu, relativamente ao direito Administrativo, o que não significa que não
sejam estreitos em múltiplos aspetos, a ligação entre os dois ramos de Direito,
em especial no que se refere ao chamado Direito Fiscal Formal. De facto, todas
as atividades de lançamento, liquidação e cobrança dos impostos seguem um
processo administrativo que é conduzido por órgão da administração pública.

 Direito Fiscal e Direito Privado

Relação de Subsidiariedade: São muito intensas as relações entre direito fiscal


e direito privado, nas suas várias componentes, em especial o direito civil, o
direito comercial e o direito da contabilidade. O direito fiscal, algumas das
vezes, acolhe conceitos de direito privado, com o sentido técnico- jurídico que
aí possuem.

 Direito Fiscal e Direito Público

Com o direito público tem uma Relação de Paternidade.

 Direito Fiscal e Direito Criminal

Com o Direito Criminal tem uma relação de Interdependência. Isto é, o não


cumprimento das obrigações fiscais está sujeito á sanções.
 Direito Fiscal e Direito Internacional

Com o direito Internacional tem uma relação de coordenação.

 Fontes do Direito Fiscal

A expressão “fontes de direito “não se apresenta com um significado único,


com efeito, pode falar-se de fontes de direito em diversos sentidos: histórico,
instrumental, orgânico, sociólogo ou material. As fontes de direito que
tradicionalmente se enumeram são:

 A Lei

A lei designa toda e qualquer norma jurídica criada por decisão e imposição de
uma autoridade competente para tal; A Lei Constitucional: é na lei
constitucional que encontramos os princípios fundamentais, porque deve reger-
se o direito fiscal, tais princípios fundamentais são entre outros, princípios da
legalidade e da autorização anual de cobrança, portanto, a lei é considerada
como sendo fonte do direito fiscal;

 O Regulamento: os regulamentos são normas jurídicas de órgãos


administrativos, no desempenho da função administrativa, excluem se
aqui os regulamentos internos que sob forma de ofícios, circulares,
instruções á administração, pois este tipo de regulamento não é
considerado como fonte de direito fiscal.
 O costume não pode ser fonte de direito fiscal, no domínio dos
elementos essenciais dos impostos, como decorre do principio da
legalidade;
 A Doutrina regra geral não é fonte do direito fiscal, pois ela não produz
comandos normativos, mas é fonte mediata, auxilia a sua revelação e
não a criação.
 A Jurisprudência: não é considerada fonte do direito fiscal;
 Os Tratados Internacionais: é fonte a partir da sua ratificação pela AR.
Aplicação das Normas Fiscais

 Aplicação no Tempo

Três problemas distintos se colocam em matéria de aplicação das normas fiscais


no tempo: os problemas do início da vigência das normas, da cessação da
vigência (término da vigência) e de direito transitório ou de conflitos das
normas fiscais no tempo.

 Início da Vigência

A vigência jurídica dos diplomas fiscais depende da sua publicação em BR e o


começo da vigência do diploma é o dia nele fixado ou na sua falta o décimo
quinto dia apôs a sua aplicação.

 Término da Vigência

Como quaisquer outras normas, as normas fiscais podem ser objeto de


caducidade quer no decurso do prazo fixado para a sua vigência, quer pela sua
revogação parcial ou total expressa ou tácita por parte de uma lei posterior que
regula de modo diverso a mesma matéria, quer ainda por suspensão por diploma
de valor igual ou superior.

Aplicação no Espaço

 O principio da territoriedade

Da territoriedade do imposto resulta a delimitação do âmbito de aplicação no


espaço das normas fiscais. Estas, em princípio, só se aplicam no território do
Estado de que emanam, ou mesmo apenas num espaço delimitado desse
território, quando, pela extensão e diversidade de características das parcelas
de um Estado, os regimes tributários se aplicam apenas a um dos espaços.

Excepções ao Princípio

Ao princípio da territoriedade cabem exceções, situações específicas existem


em que o poder do Estado é exercido além do seu território. Em função da
extraterritoriedade, a validade de normas jurídicas estatais pode alcançar
cidadãos localizados fora do território do Estado soberano. Por exemplo, navios
e aeronaves que possuírem registro em determinado Estado serão considerados
extensões territoriais deste Estado, mesmo que estejam localizados
geograficamente fora dele.

Ainda quanto às excepções ao princípio da territoriedade, acrescentamos as


imunidades diplomáticas em que os chefes de Estado e os representantes de
governo estrangeiro estão excluídos da jurisdição criminal dos países em que
exercerem as suas funções. A imunidade diplomática alcança também a família
do agente diplomático e o corpo funcional das representações, excepcionando
os empregados particulares residentes, domiciliados e contratados no território
em que se localiza a missão diplomática.

Leituras Obrigatórias
 O Direito e a Fiscalidade: um contributo para o Direito Fiscal
Moçambicano, de Ibraimo Ibraimo;
 Waty, Teodoro Andrade, Introdução ao Direito Fiscal, W & W Editora,
Maputo, 2004
Resumo da Unidade
A Fiscalidade é o ramo de direito que estuda a relação entre o Estado e as
pessoas por via do Impostos
Na relação Jurídico Fiscal, o Estado é denominado Sujeito activo, enquanto que
as pessoas são denominadas sujeitos passivos.
Os princípios constitucionais que regem a fiscalidade são: o da igualdade,
legalidade e autorização anual
A fiscalidade enquadra-se nos ramos de direito, pois um dos intervenientes é o
Estado que age em posição suprema.
As fontes fiscais de captação de recursos financeiros pelo Estado são o imposto
e a taxa. A diferença entre o imposto e a taxa é a contraprestação
individualizada que é característico da taxa e não do imposto, isto é, quando
pagamentos os impostos, não esperamos nada em troca diretamente para o
sujeito passivo do imposto, enquanto que quando se paga uma taxa, em troca o
Estado presta um serviço ao sujeito passivo.
O principal objetivo do imposto é a satisfação das necessidades coletivas, no
entanto, com o mesmo imposto podem ser perseguidos outros objetivos
extrafiscais.
Os impostos podem ser classificados quanto a taxa (proporcionais,
progressivos, regressivos e degressivos) e quanto a forma de incidência
(directos e indiretos)
As fases ou momentos do imposto são: incidência lançamento liquidação e
pagamento ou cobrança.

Unidade II. Teoria Geral do Imposto

Para a realização dos fins que se propõe, e que se traduzem na realização de


despesas orientadas fundamentalmente à satisfação de necessidades públicas
(necessidades coletivas da sociedade organizada politicamente), o Estado
necessita de obter receitas (Conforme Vimos nas aulas anteriores). Tais
receitas provêm prioritariamente da cobrança de tributos (prestações
compulsivas, pecuniárias ou em espécie) que podem revestir a natureza de
impostos ou de taxas, ou da venda e exploração de bens do património público
(receitas patrimoniais - não constituem objeto da nossa cadeira).
Impostos e taxas são definidos como se segue:

O imposto
(Ex: IRPS, IRPC e IVA) define-se como uma prestação pecuniária
compulsiva de carácter unilateral, cujo objetivo é gerar recursos
orientados prioritariamente para o financiamento da prestação de
serviços que visem a satisfação de necessidades públicas;

Os impostos são as prestações obrigatórias, avaliáveis em dinheiro, exigidas


por uma entidade pública para a prossecução de fins públicos, sem
contraprestação individualizada, e cujo facto tributário assenta em
manifestações de capacidade contributiva;

As taxas
por sua vez, definem-se como prestações pecuniárias compulsivas que:

— Correspondem à obrigação que o Estado assume de prestar


determinados serviços específicos virados à satisfação de
necessidades públicas ou semipúblicos, ou alternativamente
colocá-los à disposição da população (Ex: taxas de aterragem,
taxa de lixo, taxa de rádio); ou,

— Surgem como contrapartida de uma actividade específica da


administração em resposta a uma solicitação explícita do
contribuinte (licenças de caça, licença de exploração de minas,
licença de corte de florestas).
As taxas designam prestações avaliáveis em dinheiro, exigidas por uma
entidade pública como contrapartida individualizada pela utilização de um
bem do domínio público, ou de um serviço público, ou pela remoção de
um limite jurídico à actividade dos particulares;

Ao contrário do imposto, no conceito de taxa está ausente o carácter


unilateral, pois existe, neste caso, uma contraprestação específica do lado da
administração (só paga a taxa aquele que solicita a prestação do
correspondente serviço, licença ou outro acto administrativo).

Na acepção ainda destas definições, são bens ou serviços públicos aqueles


cuja existência permite à coletividade usufruírem de um benefício ou
utilidade imediata, não suscetível de individualização (requisito indispensável
para que possa haver a divisibilidade dos respetivos custos, e a correspondente
imposição de uma taxa), motivo pelo qual não podem ser cobertos por
contraprestações determinadas.
São exemplos de serviços desta natureza a existência de uma força policial, a
construção de uma nova estrada, a iluminação pública nas cidades, etc., os
quais se destinam a satisfazer necessidades comuns dos membros da
comunidade, sem que se possa, contudo (ou não seja prático ou politicamente
aceitável) determinar em que medida beneficiam individualmente cada um
deles.
Tais serviços são normalmente financiados por recursos arrecadados pelo
“ente público” (Estado, Município, etc.) na base de critérios diferentes do da
contraprestação (ou preço pela utilização do serviço), uma vez que tal
contraprestação não é determinável.

O critério geralmente aceite é o da repartição dos custos – carga tributária –


segundo a capacidade contributiva dos cidadãos ou empresas, avaliada pela
riqueza possuída ou obtida, consumo e venda de bens, transferências de
propriedade e outras manifestações – factos tributários – que permitam
presumir que os contribuintes estão em condições económicas e financeiras
de pagar o que lhes é exigido – o imposto.
Seja qual for a respetiva base de incidência, o imposto dirige-se sempre, em
última análise, a atingir directa ou indiretamente o rendimento do
contribuinte, obtido num certo período (o “exercício fiscal”), ou acumulado
na forma de património ou riqueza.

Classificação dos Impostos


Os impostos são classificados como:
 Impostos directos, que incidem diretamente no rendimento ou na
riqueza (IRPC e IRPS e Imposto Especial sobre o Jogo);

 Impostos Indirectos, que atingem rendimento do consumidor final


através do respectivo nível de despesa (IVA).

Em função do tipo de taxas aplicáveis, os impostos (em particular os impostos


directos) classificam-se ainda em:
 Proporcional – quando a respectiva taxa permanece fixa, qualquer que
seja o montante da matéria colectável (é exemplo o IRPC);

 Progressivos – quando a respectiva taxa é tanto mais elevada quanto


maior seja o montante da matéria coletável (é exemplo o IRPS);

 Degressivos – quando o imposto é essencialmente de taxa


proporcional, mas se estabelecem taxas mais suaves aplicáveis no
patamar inferior da pirâmide dos rendimentos coletáveis (constituiu
exemplo em Moçambique o antigo Imposto Profissional);

 Regressivos – quando a respetiva taxa varie em função inversa do


rendimento coletável (o Imposto Pessoal Autárquico e o Imposto de
Reconstrução Nacional, com as suas taxas de quantitativo fixo.

Durante muito tempo a doutrina clássica considerou os impostos directos e,


em particular, o imposto progressivo, como os mais adequados à aplicação e
realização de critérios e objetivos de justiça social. E se examinado a esta luz,
o actual sistema tributário moçambicano teria de classificar-se como
profundamente injusto, pois que cerca de 75% das receitas fiscais totais do
Estado provêm dos impostos indiretos (IVA, ICE, direitos de importação,
etc.), representando o imposto progressivo (IRPS) pouco mais de 10% das
mesmas receitas.
Esta doutrina vem porém a ser progressivamente questionada desde ainda os
anos 80, designadamente à luz de critérios de eficácia fiscal, apontando-se a
grande ineficiência na aplicação do princípio do imposto progressivo (em
particular no que respeita à tributação dos rendimentos de capital, pela
progressiva sofisticação que os mesmos podem revestir), a crescente
mobilidade dos capitais no quadro da globalização da economia, a debilidade
dos serviços de administração tributária face aos níveis de evasão verificados
em todos os casos em que não tem aplicabilidade o princípio da retenção na
fonte, entre outros factores.

Por outro lado, sublinha-se a maior eficácia de formas de tributação tipo IVA,
bem como as virtualidades da tributação selectiva de certo tipo de consumos,
indiciadores de determinadas formas de riqueza.

Objectivos do Imposto
De referir ainda que, embora a obtenção de recursos financeiros pelo Estado
seja a razão de ser do imposto, através do mesmo podem ser prosseguidos
importantes objetivos extrafiscais, como por exemplo:
 Objetivos de redistribuição do rendimento e da riqueza nacional,
através do imposto progressivo (apesar dos fatores negativos que
acima apontados);

 Orientação de consumos, através de formas de tributação seletiva tipo


ICE;

 (tributação fortemente gravosa do tabaco e do álcool);


 Incentivo de determinadas actividades económicas, sujeitando a taxas
efetivas mais favoráveis os correspondentes rendimentos, e bem assim
a orientação de investimentos para zonas menos desenvolvidas do
território nacional.

Um outro objetivo extrafiscal tradicionalmente associado aos direitos de


importação (que em muito justificava a própria razão de ser dos mesmos) era
a proteção da indústria nacional. As políticas de progressiva liberalização das
trocas comerciais e de “desarmamento” aduaneiro afetam de forma
irreversível a realização de tal objetivo.

Momentos (fases) do imposto


Os momentos que cronologicamente se sucedem, desde a ocorrência do facto
gerador do imposto até à sua cobrança, são frequentemente designados por
fases do imposto, que podem ser:

- A incidência:
Define os pressupostos tributários que fazem nascer a obrigação de imposto,
em que se define a matéria coletável do imposto e identificam os sujeitos
passivos da relação jurídica fiscal a que o mesmo dará lugar
Em abstrato, se definem os pressupostos tributários que fazem nascer a
obrigação de imposto, em que se define a matéria coletável do imposto e
identificam os sujeitos passivos da relação jurídica fiscal a que o mesmo dará
lugar. É a fase em que a lei determina o que vai estar sujeito a
imposto (incidência real) e quem vai estar sujeito a imposto (incidência
pessoal).
Como elemento essencial do imposto que é a incidência está sujeita ao
princípio da legalidade fiscal.
A par da incidência positiva (definida pelas chamadas normas de incidência,
reais e pessoais), temos que considerar uma incidência negativa, integrada
pelas normas que estabelecem isenções de imposto, quer excluindo da
tributação situações que, a não ser a norma de isenção, caberiam no âmbito de
previsão da norma real impositiva (incidência real negativa), quer excluindo
do universo dos contribuintes, sujeitos que, sem a norma de isenção, se
constituiriam normalmente como devedores do imposto (incidência pessoal
negativa).

- O lançamento: corresponde ao momento do início da aplicação da lei. É a


fase em que, do geral e abstrato da incidência, se passa ao individual e
concreto; é a fase em que se processam as operações conducentes à
identificação particular dos sujeitos passivos e à determinação concreta da
matéria coletável sobre que vai incidir o imposto.
Nos principais impostos que compõem atualmente o sistema fiscal
Moçambicano (IRPS, IRPC, IVA), as operações de lançamento são efetuadas
pelo próprio contribuinte, por isso se falando, a este propósito, em auto
lançamento do imposto.

A liquidação: é a operação aritmética de aplicação de uma taxa à matéria


coletável apurada na fase do lançamento, para determinação do montante
exato de imposto devido pelo sujeito passivo (coleta). Naqueles impostos em
que a lei prevê a possibilidade de deduções à coleta, a liquidação abrange
também os cálculos decorrentes destas deduções.
Hoje generaliza-se a tendência para agrupar sob a mesma designação
"liquidação", quer as operações de liquidação propriamente ditas que
acabámos de referir, quer as operações de lançamento mencionadas no ponto
anterior. Ao usarmos agora a expressão "liquidação", temos, pois, que
distinguir entre uma liquidação em sentido estrito (a operação aritmética de
aplicação de uma taxa à matéria coletável) e uma liquidação em sentido
amplo, que abarca tanto a dita operação aritmética, a liquidação em sentido
estrito, como todas as outras operações de lançamento.
Em sentido restrito, a liquidação é uma mera operação aritmética de aplicação
da taxa à matéria coletável, a fim de se apurar a coleta do imposto.

Contudo é comum a utilização do sentido lato do vocábulo liquidação


subsumindo nele as operações de lançamento e liquidação em sentido restrito.
A cobrança (pagamento): cobrança e pagamento são expressões que
traduzem a mesma realidade jurídica. A primeira assumida do ponto de vista
da administração fiscal, que cobra o imposto; a segunda encarada do ponto de
vista do contribuinte, que o paga. É a fase final da vida do imposto, para que
tende toda a relação jurídica fiscal. Com a cobrança (pagamento) os valores
correspondentes ao imposto vão dar entrada nos cofres do Estado e com isso
a relação jurídica fiscal, normalmente, extinguir-se-á.

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