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PODER JUDICIÁRIO

APELAÇÃO CÍVEL Nº 470411-31.2008.8.09.0152 (200894704117)


Comarca de Uruaçu
Apelante: Mozair Geraldo dos Santos
Apelados: João Martins Pereira e Alice Alves Martins
Relator: Des. KISLEU DIAS MACIEL FILHO

RELATÓRIO

Cuida-se de Apelação Cível interposta por Mozair Geraldo dos


Santos em face da a sentença de fls. 80/83, a qual foi prolatada pelo MM. Juiz de
Direito da 1ª Vara Cível da Comarca de Uruaçu, Dr. José Ribeiro Cândido Araújo,
cujo decisum foi proferido nos autos da ação de usucapião proposta pelo
recorrente contra João Martins Pereira e Alice Alves Martins, ora apelados,
tendo o magistrado singular reconhecido a carência de ação do autor, para
declarar “extinto o processo, conforme prevê o art. 267, IV, VI, 1ª
figura, do CPC; sem despesas processuais e sem H.A., pois o Requerente

litiga pela assistência judiciária” (fls. 83).

Ao bem lançado relatório da sentença em referência (fls. 80/83),


aqui adotado e a este incorporado, acrescento que o requerente na relação
processual originária, Mozair Geraldo dos Santos, interpôs o recurso de apelação
às fls. 89, apresentando, na sequência, suas respectivas razões recursais (fls.
90/97), em cuja sede o apelante irresigna-se com o aludido julgado que, nos
termos do art. 267, incisos IV e VI, do Código de Processo Civil, indeferiu a petição
inicial e declarou extinto o feito, sem resolução de mérito, discorrendo, logo de
início, sobre os fatos que deram ensejo à pendência judicial em questão.
Adiante, argumenta que é possuidor, desde 12.05.1992, de um
lote urbano de terra, número 09, quadra 01, medindo 15 (quinze) metros de frente

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para a Rua Benedito Martins Pereira; 15 (quinze) metros de fundo, confrontando


com o lote número 08; 30 (trinta) metros de lateral pela direita para a Rua 21 de
Abril, e 30 (trinta) metros de lateral esquerda, asseverando, pois, ter adquirido o
referido imóvel através de Escritura Pública de Compra e Venda, lavrada no
Cartório do 2º Ofício da Comarca de Uruaçu - GO, livro de notas nº 127, fls. 83/84
verso.
Em continuidade aos seus argumentos, o apelante aduz ter a
posse do referido imóvel de forma exclusiva, delimitada, mansa, pacífica, contínua,
ininterrupta, sem oposição e com animus domini, separada dos demais
condôminos, contendo benfeitorias, há mais de 18 (dezoito) anos, não justificando
cogitar-se a falta de interesse processual na espécie, verberando ainda, que
embora conste na matrícula primitiva do imóvel, como sendo ele de natureza rural,
não restam dúvidas de que se trata de imóvel urbano, conforme denota-se da
averbação realizada, afirmando, para tanto, que o referido lote foi adquirido dentro
da área registrada na matrícula imobiliária de nº R-35-4.532, e não dentro de todo
o imóvel rural, conforme certidão acostada nos autos, não havendo, assim, que se
falar em nulidade processual por falta de citação de todos os condôminos,
tampouco em carência de ação.
Ao final, a parte recorrente propugna pelo conhecimento e
provimento do presente apelo, a fim de que a sentença vergastada seja reformada,
de modo que seja julgado “totalmente procedente a presente ação em
conformidade com artigo 515, § 3º do CPC, para que se declare, nos
termos da lei (art. 941), o domínio do imóvel objeto da presente

perlenga em favor do Apelante” (fls. 97), nos exatos moldes de suas razões

recursais.
Preparo dispensado, por ser o apelante beneficiário da
assistência judiciária gratuita, conforme se extrai do despacho exarado às fls. 21,
destes autos.

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Recebido o recurso perante o juízo a quo, nos termos do


despacho lançado às fls. 102, não se tem notícia da apresentação de
contrarrazões ofertadas pelo Sr. Curador Especial nomeado, motivo pelo qual os
autos foram encaminhados para este egrégio Tribunal de Justiça.
Aportados perante este Sodalício, os autos foram enviados com
vistas à digna Procuradoria-Geral de Justiça, a qual, através da cota de fls.
110/111, bateu pela conversão do julgamento em diligência, com o objetivo de
possibilitar a manifestação de mérito pelo órgão ministerial de primeiro grau, o que,
devidamente atendido (fls. 112), deu ensejo à apresentação do respectivo parecer
de fls. 115/119.
Retornando com vistas ao órgão ministerial de cúpula, a douta
Procuradoria-Geral de Justiça ofertou o parecer meritório de fls. 124/127, opinando
pelo conhecimento e provimento do apelo, “para que seja reconhecida a
propriedade do imóvel em questão, por usucapião, ao apelante” (fls. 127).

Eis o sucinto relatório, que ora submeto à douta revisão.


Goiânia, 17 de dezembro de 2012.

Des. Kisleu Dias Maciel Filho


Relator

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Comarca de Uruaçu
Apelante: Mozair Geraldo dos Santos
Apelados: João Martins Pereira e Alice Alves Martins
Relator: Des. KISLEU DIAS MACIEL FILHO

VOTO DO RELATOR

Presentes os pressupostos de admissibilidade, hei por bem em


conhecer do recurso interposto na hipótese vertente.
Conforme relatado, trata-se de apelação cível interposta por
Mozair Geraldo dos Santos, devidamente qualificado nos autos da ação de
usucapião originária intentada por ele próprio contra os apelados, João Martins
Pereira e Alice Alves Martins, cujo apelo denota a irresignação do
recorrente/autor com os termos da sentença proferida no âmbito da instância
singela (fls. 80/83), ocasião na qual o magistrado singular reconheceu a carência
de ação do requerente, para declarar “extinto o processo, conforme prevê o
art. 267, IV, VI, 1ª figura, do CPC; sem despesas processuais e sem

H.A., pois o Requerente litiga pela assistência judiciária” (fls. 83).

Antes de mais nada, pondero que conforme se extrai do


documento de fls. 14/15, que instruiu a peça vestibular da ação originária, o
demandante/apelante firmou contrato de promessa de compra e venda de bem
imóvel com os réus/apelados, mediante escritura pública devidamente lavrada em
12.05.1992, sendo que a celebração do negócio em testilha, refere-se à aquisição
pelo recorrente de um terreno condizente ao “lote urbano de terras número 09

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(nove), da quadra número 01, medindo 15,00 metros de frente para a Rua
Benedito Martins Pereira (…), provindo do Loteamento Vila São José” (fls. 14 vº),
cujo bem foi deixado por herança aos réus/recorridos, pelo falecimento de Cândida
Fernandes de Carvalho.
Ao meu sentir, razão assiste ao apelante, pois existe o interesse
de agir na presente ação de usucapião, consubstanciado na adequação, na
necessidade e na utilidade do provimento jurisdicional escolhido para ver
reconhecida a prescrição aquisitiva pretendida na espécie, não havendo que se
cogitar a dúvida referente à natureza do imóvel usucapiendo, ou seja, se se trata
de área urbana ou rural, decorrente da irregularidade do loteamento no qual está
inserido o bem imóvel (lote nº 09) objeto do pedido inicial de usucapião formulado
perante o primeiro grau.
Isso porque, se a legislação de regência atinente à nossa Carta
Magna, ao Código Civil de 2002 e ao Código Civil de 1916, não impôs qualquer
óbice à usucapião de imóvel localizado em loteamento irregular, parte-se do
princípio que o ajuizamento do pleito em casos que tais deve ficar restrito aos
requisitos para a propositura da respectiva ação, insertos no art. 942, do CPC,
senão vejamos, in verbis:

“Art. 942. O autor, expondo na petição inicial o fundamento do pedido


e juntando planta do imóvel, requererá a citação daquele em cujo nome
estiver registrado o imóvel usucapiendo, bem como dos confinantes e, por
edital, dos réus em lugar incerto e dos eventuais interessados, observado
quanto ao prazo o disposto no inciso IV do art. 232.” (sublinhei).

A esse respeito, diga-se a propósito, invoco a substanciosa


manifestação ministerial de primeiro grau verificada no curso da ação de usucapião
originária (fls. 115/119), levada a efeito por sua digna representante (Promotora de
Justiça), a Drª. Alessandra Silva Caldas Gonçalves, tal como se extrai da
transcrição a seguir colacionada, in verbis:

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“(…)
Inicialmente, pode-se constatar que o processo em questão teve
tramitação regular e está devidamente instruído, e tendo sido respeitados os
cânones da ampla defesa e do devido processo legal, apto está para julgamento,
quando também preenchidos os requisitos de admissibilidade recursal, merece a
irresignação ser conhecida.
Quanto ao mérito, salienta-se que durante a instrução processual,
restou demonstrado que o requerente por mais de dez anos, detendo junto título e
boa fé, é possuidor de imóvel sito no perímetro urbano desta urbe.
Assim, a pendência maior acerca do caso sub judice pertine ao fato de
que o imóvel usucapiendo é proveniente de loteamento não registrado, que
lamentavelmente ao longo do tempo tem sido realidade em grande parte dos Municípios
deste país, resultando pois em significar se a pretensão teria cabimento diante
destas peculiaridades, pois que uma vez ultrapassada esta restrição, não haveria
dúvida acerca da evidenciação dos requisitos da usucapião.
Destarte, fazendo uma breve consulta sobre a matéria, pôde-se colher
da jurisprudência nacional e aqui especificamente citando acórdão dos Tribunais de
São Paulo e Minas Gerais, que sendo a usucapião forma de aquisição originária da
propriedade, a inserção do imóvel usucapiendo em loteamento irregular ou
clandestino não implica em óbice para que seja efetivada aquela, citando-se:

'0028152-32.2004.8.26.0224 Apelação
Relator(a): Percival Nogueira
Comarca: Guarulhos
Órgão julgador: 6ª Câmara de Direito Privado
Data do julgamento: 27/10/2011
Data de registro: 08/11/2011
Outros números: 00281523220048260224
Ementa: USUCAPIÃO - LOTEAMENTO IRREGULAR OU CLANDESTINO - Alegada
impossibilidade de registro -Inadmissibilidade - Modo originário de
aquisição da propriedade, que implicará em abertura de nova matrícula,
a tudo regularizando - Precedente da Corte e da Câmara - Sentença
reformada ?? Apelo provido.

0092451-45.2003.8.26.0000 Apelação
Relator(a): Pedro Baccarat
Comarca: São Carlos
Órgão julgador: 7ª Câmara de Direito Privado
Data do julgamento: 23/03/2011
Data de registro: 28/03/2011

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Outros números: 994030924510


Ementa: Usucapião ordinário. Loteamento não regularizado.
Irrelevância. Desnecessidade de prova pericial quando o imóvel está
precisamente descrito na petição inicial instruída com planta e
memorial descritivo assinados por engenheiro. Nulidade de citação que
só pode ser alegada pelo interessado. Recurso desprovido.

0010161-54.2009.8.26.0099 Apelação
Relator(a): Beretta da Silveira
Comarca: Bragança Paulista
Órgão julgador: 3ª Câmara de Direito Privado
Data do julgamento: 08/02/2011
Data de registro: 08/02/2011
Outros números: 101615420098260099
Ementa: *Apelação ? Usucapião ordinário ? Carência da ação reconhecida
em virtude de se tratar de gleba situada em loteamento irregular e,
ainda, com área inferior ao módulo rural ? Cuidando-se de forma de
aquisição originária da propriedade, tornam-se irrelevantes as
limitações administrativas alçadas, pelo n. magistrado a quo, à
condição de razão de decidir ? Firme posicionamento da jurisprudência
desta Corte ? Recurso provido, determinando-se a devolução do feito a
Primeira Instância, para retomada da marcha processual.*

9184757-06.2005.8.26.0000 Apelação
Relator(a): Adilson de Andrade
Comarca: Atibaia
Órgão julgador: 3ª Câmara de Direito Privado
Data do julgamento: 08/02/2011
Data de registro: 08/02/2011
Outros números: 3823944900
Ementa: Usucapião extraordinária Área inserida em loteamento irregular
Irrelevância Aquisição de imóvel por usucapião rural com medida
inferior ao módulo Possibilidade de usucapir Requisitos necessários
para a aquisição da propriedade já reconhecidos na sentença Pedido
acolhido para declarar o domínio dos apelantes sobre o imóvel
usucapiendo Recurso PROVIDO.

USUCAPIAO ESPECIAL URBANO – LOTEAMENTO IRREGULAR – ARTIGO 183 DA CR –


PROIBIÇÃO – AUSÊNCIA – ARTIGO 942, DO CPC – REQUISITOS PREENCHIDOS –
EXTINÇÃO DO PROCESSO POR AUSÊNCIA DE PRESSUPOSTO DE DESENVOLVIMENTO
VÁLIDO E REGULAR – DESCABIMENTO – SENTENÇA CASSADA – Se o artigo 183

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da Constituição da República não obsta ao usucapião especial de imóvel


localizado em loteamento irregular e se os requisitos para o
ajuizamento da ação de usucapião, insertos no artigo 942, do CPC,
foram devidamente preenchidos, a sentença que extinguiu o feito, sem
julgamento de mérito, por ausência de pressuposto de desenvolvimento
válido e regular do processo, deve ser cassada. – Preliminar de
nulidade acolhida e sentença cassada. (TAMG – AP 0334490-5 (50865) –
Canápolis – 2ª C. Cív. – Rel. Juiz Edgard Penna Amorim – j.
26.02.2002)

USUCAPIÃO ESPECIAL – IMÓVEL URBANO – ART. 183 DA CONSTIUIÇÃO FEDERAL –


LOTEAMENTO IRREGULAR – ART. 942 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL –
REQUISITOS – EXTINÇÃO DO PROCESSO – NÃO-CABIMENTO – Se o art. 183 da
Constituição da República não obsta ao usucapião especial de imóvel
localizado em loteamento irregular e se os requisitos para o
ajuizamento da cão de usucapião, insertos no art. 942 do CPC, foram
devidamente preenchidos, a sentença que extinguiu o feito, sem
julgamento de mérito, por ausência de pressuposto de desenvolvimento
válido e regular do processo, deve ser cassada. (TAMG – AC 334.490-5 –
Rel. Juiz Edgard Penna Amorim – j. 26.02.2002).” (fls. 116/119).

A propósito, a controvérsia versada nesta seara recursal restou


satisfatoriamente elucidada no parecer ministerial de cúpula declinado pelo
eminente Procurador de Justiça oficiante no presente feito, Dr. Wellington de
Oliveira Costa, o qual, em percuciente manifestação (fls. 124/127), bem assinalou
o caminho a ser perfilhado para a resolução da contenda em apreço.
Daí porque, autorizado que estou pelo art. 210, § único, do RITJGO,
apoio-me nos fundamentos do judicioso parecer adrede referenciado, dele
transcrevendo, com a devida vênia de seu prolator, os seguintes fragmentos,
ipsis verbis:

“Pretende o autor ver declarado o domínio do imóvel, descrito na


petição inicial, afirmando exercício de posse por mais de dezoito anos, de forma
mansa, pacífica, ininterrupta e com ânimo de dono, bem como que ali instalou sua
residência, preenchendo os requisitos para a declaração da propriedade usucapione.
Conforme bem pontuado pela representante ministerial de primeiro grau,
os requisitos do usucapião ordinário foram demonstrados ao longo do processo, sendo

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que a única pendência residiria no fato do imóvel em questão ser proveniente de


loteamento não registrado.
Pois bem. Por evidente, que o exercício de posse do autor e sua
moradia são situações consolidadas e, ainda, que irregular o loteamento ao início,
certo é que não se mostra impossível a volta ao status quo ante, pois, as pessoas
não deixarão de residir naquele local, tampouco suas casas serão dali retiradas e o
Bairro desfeito, Então, a eventual irregularidade deste loteamento, que não resta
provada, insisto, não tem como impedir a regularização da propriedade da autora.
Desta feita, a regularização da titularidade do imóvel usucapiendo, em
havendo irregularidade no loteamento, não impedirá que tais vícios sejam sanados.
Neste sentido vem se posicionando a jurisprudência pátria, in verbis:

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIO. LAPSO TEMPORAL


COMPROVADO. Pretensão usucapienda calcada no art. 1.238, parágrafo único, do Código
Civil. Comprovado o exercício de posse por período superior a dez anos, de modo
pacífico, ininterrupto e com ânimo de dono e com finalidade residencial, importa a
procedência da ação. O só fato de o imóvel usucapiendo integrar loteamento
irregular, não impede a regularização da titularidade da sua propriedade pela
usucapião. A pretensão da autora não é a regularização do loteamento, mas somente a
declaração de domínio do imóvel onde exerce posse. APELO NÃO PROVIDO. UNÂNIME.
(Apelação Cível Nº 70044269264, Décima Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do
RS, Relator: Bernadete Coutinho Friedrich, Julgado em 20/10/2011).” (fls. 126/127).

Destarte, resta evidenciado no caso dos autos o patente interesse


de agir do autor/apelante, não havendo como prevalecer a sentença de extinção
do processo, impondo-se, assim, a devida reforma do decisum extintivo, devendo
o mérito do pedido formulado na ação de usucapião ser submetido à devida
apreciação jurisdicional.
Com efeito, o art. 515, § 3º, do Código de Processo Civil, dispõe
que, caso a matéria de fundo não seja decidida perante a instância singela, em
face da extinção do processo sem julgamento de mérito, ao Tribunal é permitido,
desde logo, julgar a lide, posto que a causa versa unicamente sobre questão de
direito, encontrando-se madura e, portanto, em condições de imediato julgamento,
reclamando a incidência do aludido preceito legal.
Acerca da matéria em debate, eis o relevante posicionamento

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jurisprudencial que se extrai do seguinte julgamento plural levando a efeito perante


este egrégio Tribunal de Justiça, verbum ad verbum:

“APELACAO CIVEL. ACAO DE USUCAPIAO. INTERESSE DE AGIR. REQUISITOS


DO USUCAPIAO. MERITO. I - CONFIGURA-SE O INTERESSE DE AGIR, NA ACAO DE
USUCAPIAO, FRENTE A ADEQUACAO, A NECESSIDADE E A UTILIDADE DO
PROVIMENTO JURISDICIONAL ESCOLHIDO PARA VER RECONHECIDA A PRESCRICAO
AQUISITIVA SOBRE DETERMINADO IMOVEL. A ANALISE DOS REQUISITOS DO
USUCAPIAO ADENTRAM NA SEARA DO MERITO DO PEDIDO. II - EXTINCAO DO
FEITO SEM RESOLUCAO DE MERITO MATERIA UNICAMENTE DE DIREITO. APLICACAO
DO ART. 515, PARAGRAFO 3º DO CPC. EM FACE DA EXTINCAO DO PROCESSO SEM
JULGAMENTO DO MERITO, QUANDO A CAUSA VERSAR SOBRE MATERIA UNICAMENTE
DE DIREITO, E PERMITIDO AO TRIBUNAL, DESDE LOGO, JULGAR A LIDE, NOS
TERMOS DO ART. 515, PARAGRAFO 3º, DO CPC. (...) RECURSO CONHECIDO E
DESPROVIDO.” (2ª Câm. Cív., AC nº 139172-0/188, Rel. Dr. Paulo César
Alves das Neves, D.J. nº 454 de 06.11.2009. Disponível em:
<www.tjgo.jus.br>) (sublinhei).

Trata-se a ação de usucapião de uma espécie aquisitiva de direito


de propriedade, mediante o preenchimento dos requisitos expressamente
estabelecidos em lei.
Na espécie, a questão sub judice deve ser examinada sob à
ótica do instituto da usucapião ordinária, haja vista que o caso dos autos reclama a
prescrição aquisitiva fundada em justo título e boa-fé, tal como se extrai da
escritura pública de compra e venda de bem imóvel datada de 12.05.1992,
reproduzida às fls. 14/15, destes autos, defendendo o requerente/apelante, por
ocasião da propositura da ação de usucapião, que exerceu a posse do suso
descrito lote nº 09, por mais de 16 (dezesseis) anos, com animus domini e de
maneira mansa, pacífica, contínua e ininterrupta.
Pois bem, in casu a demanda deve ser efetivamente apreciada
à luz dos comandos normativos do Código Civil de 1916 (Lei Federal nº 3.071, de
01.01.1916), por força da previsão do art. 2.028, do vigente Código Civil de 2002
(Lei Federal nº 10.406, de 10.01.2002), o qual dispõe sistematicamente que serão

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os da lei anterior os prazos, quando reduzidos pelo código atual, e se, na data de
sua entrada em vigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo
estabelecido na lei revogada.
Portanto, tratando-se de usucapião ordinária o art. 551, caput,
do Código Civil de 1916, dispunha que a referida prescrição aquisitiva, mediante a
apresentação de justo título e boa-fé, seria de 15 (quinze) anos entre ausentes,
passando a dispor o atual Diploma Civil, por sua vez, que, nas mesmas condições,
adquire a propriedade de bem imóvel aquele que o possuir por 10 (dez) anos.
Ora, constata-se, pois, que foram implementadas as duas
situações exigidas pelo art. 2.028, do Código Civil de 2002, quais sejam, o prazo
da prescrição aquisitiva ordinária em testilha foi reduzida de 15 (quinze) para 10
(dez) anos, e nada data de sua entrada em vigor (11.01.2003) transcorreu mais da
metade do prazo da lei anterior, posto que sendo de 15 (quinze) anos o lapso
temporal previsto no caput, do art. 551, do Código Civil de 1916, e iniciando a
contagem da data contante no justo título (fls. 14/15), qual seja, 12.05.1992,
conclui-se que até 11.01.2003, decorreram mais de 10 (dez) anos.
Enfim, definida que a apreciação do pedido de usucapião deve
ser levada a efeito nos moldes do que dispõe o art. 551, caput, do Código Civil de
1916, passa a transcrevê-lo, ipsis litteris:

“Art. 551. Adquire também o domínio do imóvel aquele que, por dez anos
entre presentes, ou quinze entre ausentes, o possuir como seu, contínua e
incontestadamente, com justo título e boa fé.” (sublinhei).

Observando o disposto no artigo supracitado e compulsando os


autos em análise, mormente no tocante às provas produzidas durante a instrução
probatória produzida na origem, concluo, desde logo, que a pretensão do
autor/apelante merece prosperar.
E assim entendo, porque se me apresentam suficientemente

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satisfeitos os requisitos essenciais ao reconhecimento da prescrição aquisitiva


invocada (usucapião ordinária), quais sejam, o lapso temporal de 15 (quinze) anos
de posse mansa, ininterrupta e pacífica do requerente e de sua família, com
animus domini, sobre o bem imóvel apontado na peça exordial da ação ajuizada
originariamente.
E tal ilação pode ser perfeitamente alcançada com lastro no
substrato probatório coligido aos autos, primeiramente aqueles de natureza
documental (fls. 14/17, 24/27 e 98/101), e depois frente aos depoimentos colhidos
na audiência instrutória, os quais merecem ser aqui reavivados com a devida
importância que lhes impõe atribuir, senão vejamos:

“(…) desde 1993, depoente mora na vizinhança do autor, lembra que


quando passou a morar ali o requerente já ocupava o lote objeto da ação e começava
a construir uma casa que depois terminou; além (sic) da construção o autor fez
outras benfeitorias; nunca abandonou o imóvel e nem os alienantes, terceiros ou
entes públicos reclamaram a posse do requerente; atualmente o terreno é servido de
água, energia e rede de esgoto; segundo consta no local foi iniciado um loteamento
que acabou não se finalizando e a situação do depoente é parecida com a do
requerente; o depoente conseguiu registrar a escritura pública e não sabe explicar
porque o requente não o fez; o depoente sabe que o autor adquiriu o terreno dos
requeridos, que seriam os legítimos proprietários da gleba; (…) pelo que sabe o
autor vem pagando os impostos inerentes ao imóvel, seja antes dou depois da
construção; nunca ouviu dizer que o autor fixasse algum vínculo em torno do terreno
como contrato de aluguel ou que alguém teria permitido que ele ocupasse o lote de
forma provisória; (…) pelo que sabe várias são as pessoas que se encontram na
situação de posseiro tentando regularizar o terreno, tem também informações que
alguns moradores conseguiram regularizar a documentação; o local onde está o imóvel
objeto da querela é considerado urbanizado; (…).” (Testemunha Enéias Lustosa de
Melo - fls. 75);

“(…) a depoente é vizinha (sic) do autor e mora perto do terreno


objeto da querela há mais ou menos vinte e dois anos; dois anos depois de ali
residir o autor passou a ocupar o bem disputado, segundo consta o requerente
adquiriu da mesma forma da depoente o lote em questão; segundo consta o terreno foi
doado do demandado e depois foram vendidos, mas não sabe explicar porque a venda não
se deu de forma regular fazendo o registro da transmissão do bem; quando o

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requerente adquiriu o imóvel não existia construção ou benfeitorias, ele edificou a


casa onde mora e diversas benfeitorias; acredita que o requerente ocupa o terreno
descrito na inicial há mais ou menos dezoito anos sem interrupção e sem oposição de
quem quer que seja, até mesmo dos entes públicos; (…) atualmente o imóvel conta com
água, energia, rede de esgoto e asfalto; para a depoente não há loteamento irregular
no local onde está localizado o terreno objeto desta ação, tratas de uma fazenda em
que o proprietário foi vendendo, cedendo ou doando parte do imóvel (…).” (Testemunha
Sebastiana da Silva Ferreira - fls. 76).

Assim, vislumbra-se que diante do acervo probatório que instrui o


processamento em referência, restou efetivamente demonstrado por ocasião do
ajuizamento da ação de usucapião perante a instância singela a implementação do
transcurso do prazo de mais de 16 (dezesseis) anos com vistas a declaração da
pretendida prescrição aquisitiva, posto que restou patentemente demonstrada a
aludida posse com animus domini do imóvel descrito nos autos desde
12.05.1992, sem interrupção ou oposição, portanto de modo manso e pacífico.
Nesse passo, vislumbro das provas produzidas perante o primeiro
grau de jurisdição, especialmente dos depoimentos colhidos em juízo, que o
comportamento de proprietário externado pelo apelante/autor e confirmado pela
vizinhança, denota o real aspecto de dono do bem, tanto que zelou do referido
imóvel com diligência e responsabilidade, pelo que edificou uma casa e construiu
várias benfeitorias, imperando asseverar que não há vício na posse, já que não
restou configurada qualquer circunstância que viesse a transparecer qualquer
dúvida quanto à cabal verificação de todos os pressupostos da usucapião
pretendida, tal como dispõe o texto legal aplicável ao caso dos autos (caput, do
art. 551, do Código Civil de 1916).
A esse respeito, a jurisprudência oriunda desta Corte de Justiça
posiciona-se nos moldes do seguinte precedente, verbum ad verbum:

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA. DEMANDA


POSSESSÓRIA JULGADA IMPROCEDENTE. NÃO INTERRUPÇÃO DO PRAZO DE AQUISIÇÃO
DA PROPRIEDADE. CONTESTAÇÃO. MATÉRIA DE DEFESA. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO

1/CM/ac470411-31.2008-rv e ementa 10
PODER JUDICIÁRIO

ESPECÍFICA. I- De acordo com precedentes do STJ, a ação possessória


julgada improcedente não interrompe o prazo para a aquisição da
propriedade pelo usucapião. II- A falta de impugnação específica das
alegações iniciais, já que a defesa dos réus limitou-se a indicar a
propositura de ação de reintegração de posse como causa interruptiva do
prazo prescricional do usucapião, somada a outras provas anexadas aos
autos, acabou por resultar no reconhecimento dos fatos alegados pelos
autores, vale lembrar: o termo inicial da posse (1983), e a sua
qualidade de ser mansa, ininterrupta e pacífica. III- Não tendo, pois,
os requeridos demonstrado a existência dos fatos impeditivos ao direito
à prescrição aquisitiva perseguido pelos autores/apelantes, e, restando
atendidos os requisitos que autorizam o reconhecimento do domínio,
mister o provimento do presente apelo, com o reconhecimento da
prescrição aquisitiva apontada na inicial. RECURSO DE APELAÇÃO CONHECIDO
E PROVIDO.” (1ª Câm. Cív., AC nº 399734-67.2005.8.09.0091, Rel. Des.
Luiz Eduardo de Sousa, D.J.e. nº 741 de 19.01.2011. Disponível em:
<www.tjgo.jus.br);

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIO ESPECIAL.


ART. 1.238, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CC. ILEGITIMIDADE ATIVA AFASTADA. CAUSA
MADURA. REQUISITOS DA PRESCRIÇÃO AQUISITIVA EVIDENCIADOS. 1. Nas ações
de usucapião a legitimidade para sua propositura é ampla, consoante se
extrai do caput do art. 1.238, bem como do art. 1.196, ambos do Código
Civil, considerando possuidor todo aquele que tem de fato o exercício
pleno ou não de algum dos poderes inerentes à propriedade; 2. Nos casos
de extinção do processo sem resolução do mérito o Tribunal pode julgar
desde logo a lide se a causa estiver madura, ou seja, pronta para
receber pronunciamento definitivo. Inteligência do art. 515, § 3º, do
CPC; 3. Para que ocorra a aquisição originária da propriedade tem-se por
necessário o preenchimento dos seguintes requisitos: a) posse; b) lapso
temporal; c) ausência de interrupção ou oposição; d) sentença, que sirva
de título e e) transcrição no registro de imóveis; 4. A usucapião
previsto no parágrafo único do art. 1.238 do CC/02 possui regra de
transição própria (art. 2.029), no sentido de se aplicar imediatamente
qualquer que seja o tempo transcorrido na vigência do Código anterior,
devendo apenas ser acrescidos dois anos ao novo prazo após a entrada em
vigor do Codex atual. Apelo conhecido e provido. Sentença reformada.”
(3ª Câm. Cív., AC nº 215743-57.2007.8.09.0111, Rel. Des. Floriano Gomes,
D.J.e. nº 869 de 28.07.2011. Disponível em: <www.tjgo.jus.br);

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE USUCAPIÃO CONSTITUCIONAL. POSSE

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PODER JUDICIÁRIO

CONTÍNUA COM ANIMUS DOMINI POR MAIS DE CINCO ANOS. PERMISSÃO DE USO NÃO
RECONHECIDO. I - Não prospera a alegação de cessão de uso do imóvel
emanado de quem não é dono e nem detém o poder de sua administração. II
- Impõe-se reconhecer o domínio em favor de quem exerce a posse
contínua, mansa, pacífica e sem oposição, por mais de cinco anos, sobre
imóvel urbano, com 200m² de área, e não seja detentor nenhum outro,
urbano ou rural, nos termos do artigo 183, da Constituição Federal.
APELAÇÃO CONHECIDA E PROVIDA.” (6ª Câm. Cív., AC nº 338351-
05.2000.8.09.0143, Red. Des. Jeová Sardinha de Moraes, D.J.e. nº 1.075
de 04.06.2012. Disponível em: <www.tjgo.jus.br).

Somado aos depoimentos suso transcritos e demais elementos


probatórios de natureza documental, verifica-se ainda, o fato de que o
requerente/recorrente, ao longo dos anos, vem pagando o IPTU do aludido bem
imóvel, qual seja, do lote nº 09, quadra 01, da Rua 21 de Abril com a Rua Benedito
Martins, Uruaçu - GO, conforme se vê às fls. 98/101, reforçando, assim, a prova do
comportamento de proprietário da autor.
Demais disso, uma vez mais, valho-me do judicioso parecer
ministerial de primeiro grau (fls. 115/119), apresentado por sua digna
representante, Promotora de Justiça, a Drª. Alessandra Silva Caldas Gonçalves,
pelo que passo a colacionar os seguintes excertos pertinentes à conclusão
alcançada pelo Ministério Público do Estado de Goiás, in verbis:

“(…)
Ademais, presentes os pressupostos ou requisitos previstos em lei, deve
o usucapião ser reconhecido como meio legítimo e apto à obtenção de direito
dominial,neste sentido as observações de TINAMBÁ MIGUEL DO NASCIMENTO, IN USUCAPIÃO
COMUM E ESPECIAL, AIDE, 5ª EDIÇÃO, P. 77/78:

“Para que haja possibilidade, numa ação de usucapião, de se declarar o


domínio de alguém pela posse prolongada, exige-se a comprovação de determinadas
circunstâncias, que são os elementos característicos deste tipo de prescrição. Mais
do que isto a constitutividade dominical não se dá na sentença; esta simplesmente
declara a constitutividade, que é anterior. Por isso, antes que comprovados, todos
os requisitos da lei, somados entre si, devem ter ocorrido para que se constitua a
aquisição do domínio pretendida. Assim, fundamental é se saber e se examinar,

1/CM/ac470411-31.2008-rv e ementa 12
PODER JUDICIÁRIO

equacionando, todos os elementos geradores da prescrição aquisitiva. Em se tratando


de usucapião ordinário, que é o objeto do presente capítulo, o essencial é o fato
da posse, a duração mínima prevista em lei, o justo título e a boa fé. É o que,
substancialmente, diz o artigo 551 do Código Civil. Desta forma, o usucapião
ordinário tem, como elementos básicos: a posse, o prazo, o justo título e a boa
fé.”

Isto posto pois, entendo que os requisitos da usucapião ordinária


foram devidamente comprovados, o Ministério Público atuando como custos legis,
manifesta pelo provimento do recurso interposto.” (fls. 119).

Nesse panorama, ante a constatação de que o julgador a quo


prolator da sentença fustigada (fls. 80/83) não andou bem, é de se impor a reforma
do aludido julgamento que extinguiu o feito originário sem resolução de mérito, e
em observância ao que dispõe o art. 515, § 3º, do Código de Processo Civil, uma
vez sopesadas todas as provas constantes dos autos, deve ser acolhido o pedido
usucapiendo declinado na inicial da ação intentada perante o primeiro grau de
jurisdição, como melhor medida de justiça na hipótese vertente.
Ao teor de tais considerações e acolhido o parecer ministerial de
cúpula ofertado nestes autos, hei por bem em conhecer do apelo interposto, para
dar-lhe provimento, determinando, pois, a devida reforma da sentença objurgada
(fls. 80/83), a fim de que seja afastada a carência de ação que deu ensejo à
extinção do processo sem julgamento de mérito, e aplicar, desde logo, o disposto
no art. 515, § 3º, do Código de Processo Civil, julgando-se procedente o pedido de
usucapião formulado na petição inicial da ação intentada na origem, declarando,
pois, a prescrição aquisitiva postulada, para decretar a propriedade do
autor/apelante, Mozair Geraldo dos Santos, sobre o bem imóvel usucapiendo
descrito nos autos, ressalvado o direito de eventuais terceiros não citados,
devendo este julgamento colegiado servir de título para o devido registro no
Cartório Imobiliário da Comarca de Uruaçu, cabendo ao juízo de primeiro grau
determinar a expedição do respectivo mandado, para integral e fiel cumprimento

1/CM/ac470411-31.2008-rv e ementa 13
PODER JUDICIÁRIO

de tudo quanto restou decidido em linhas volvidas.


Em atenção ao princípio da sucumbência, destaco ainda, a
condenação dos réus/apelados ao pagamento das custas processuais e
honorários advocatícios, ficando a referida verba honorária arbitrada no importe
equivalente a R$ 2.000,00 (dois mil reais), com fulcro no que dispõe o § 4°, do art.
20, do Diploma Instrumental Civil, levando-se em linha de conta o trabalho do
causídico, o tempo de seu desempenho, o zelo profissional e o lugar da prestação
do serviço.
É o meu voto.
Goiânia, 31 de janeiro de 2013.

Des. Kisleu Dias Maciel Filho


Relator

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APELAÇÃO CÍVEL Nº 470411-31.2008.8.09.0152 (200894704117)


Comarca de Uruaçu
Apelante: Mozair Geraldo dos Santos
Apelados: João Martins Pereira e Alice Alves Martins
Relator: Des. KISLEU DIAS MACIEL FILHO

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE USUCAPIÃO.


SENTENÇA SINGULAR. EXTINÇÃO DO PROCESSO POR
CARÊNCIA DE AÇÃO DO AUTOR. IRREGULARIDADE DO
LOTEAMENTO ONDE FICA O IMÓVEL USUCAPIENDO.
IMPOSSIBILIDADE. INTERESSE DE AGIR DO AUTOR
CARACTERIZADO NOS AUTOS. ÓBICE NÃO IMPOSTO PELA
LEGISLAÇÃO DE REGÊNCIA. APLICAÇÃO DO ART. 515, §
3º, do CPC. JULGAMENTO DO MÉRITO PELO JUÍZO AD
QUEM. APRECIAÇÃO DA DEMANDA À LUZ DO CC DE 1916,
POR FORÇA DO DISPOSTO NO ART. 2.028, DO CC DE 2002.
USUCAPIÃO ORDINÁRIA. ART. 551, CAPUT, DO CC DE
1916. JUSTO TÍTULO E BOA-FÉ. REQUISITOS ESSENCIAIS
SUFICIENTEMENTE SATISFEITOS. RECURSO PROVIDO.
JULGAMENTO A QUO REFORMADO. PEDIDO USUCAPIENDO
JULGADO PROCEDENTE. 1 – Denota-se caracterizado o
interesse de agir do autor da ação de usucapião,
consubstanciado na adequação, na necessidade e na
utilidade do provimento jurisdicional escolhido para ver
reconhecida a prescrição aquisitiva pretendida na espécie,
não havendo que se cogitar a dúvida referente à natureza
do imóvel usucapiendo, ou seja, se se trata de área

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PODER JUDICIÁRIO

urbana ou rural, decorrente da irregularidade do


loteamento no qual está inserido o bem objeto do pedido.
2 - A legislação de regência que disciplina o instituto da
usucapião, relativamente à nossa Carta Magna, ao Código
Civil de 2002 e ao Código Civil de 1916, não impôs
qualquer óbice à usucapião de imóvel localizado em
loteamento irregular, partindo-se do princípio, pois, que o
ajuizamento do pleito em casos que tais deve ficar restrito
aos requisitos da respectiva ação, insertos no art. 942, do
CPC. 3 - Com efeito, o art. 515, § 3º, do Código de
Processo Civil, dispõe que, caso a matéria de fundo não
seja decidida perante a instância singela, em face da
extinção do processo sem julgamento de mérito, ao
Tribunal é permitido, desde logo, julgar a lide, posto que a
causa versa unicamente sobre questão de direito,
encontrando-se madura e, portanto, em condições de
imediato julgamento, reclamando a incidência do aludido
preceito legal. 4 - In casu a demanda deve ser
efetivamente apreciada à luz dos comandos normativos do
Código Civil de 1916 (Lei Federal nº 3.071, de
01.01.1916), por força da previsão do art. 2.028, do
vigente Código Civil de 2002 (Lei Federal nº 10.406, de
10.01.2002), o qual dispõe sistematicamente que serão os
da lei anterior os prazos, quando reduzidos pelo Código
Civil atual, e se, na data de sua entrada em vigor, já
houver transcorrido mais da metade do tempo
estabelecido na lei revogada. 5 - A apreciação do pedido
inicial deve ser levada a efeito nos moldes do que dispõe o
art. 551, caput, do Código Civil de 1916, uma vez que a

1/CM/ac470411-31.2008-rv e ementa 2
PODER JUDICIÁRIO

questão sub judice gravita em torno do instituto da


usucapião ordinária, haja vista que o caso dos autos
reclama o reconhecimento da prescrição aquisitiva
fundada em justo título e boa-fé, tal como se extrai da
escritura pública de compra e venda de bem imóvel
carreada aos autos. 6 - Apresentando-se suficientemente
satisfeitos os requisitos essenciais ao reconhecimento da
prescrição aquisitiva invocada (usucapião ordinária),
quais sejam, o lapso temporal de 15 (quinze) anos de
posse mansa, ininterrupta e pacífica do apelante, com
animus domini, sobre o bem imóvel apontado na peça
exordial da ação ajuizada originariamente, é de se impor a
procedência do pleito, decretando-se, assim, a
propriedade almejada pelo autor/recorrente. APELO
CONHECIDO E PROVIDO. SENTENÇA REFORMADA. PEDIDO
INICIAL JULGADO PROCEDENTE.

ACÓRDÃO

VISTOS, relatados e discutidos os presentes autos de


Apelação Cível nº 470411-31.2008.8.09.0152 (200894704117) da Comarca de
Uruaçu.
ACORDAM os integrantes da Terceira Turma Julgadora da Quarta
Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, à unanimidade
de votos, em conhecer e prover o apelo, nos termos do voto do Relator.
VOTARAM, além do relator, a Desembargadora Elizabeth Maria da
Silva e o Desembargador Gilberto Marques Filho.
PRESIDIU a sessão o Desembargador Kisleu Dias Maciel Filho.

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PODER JUDICIÁRIO

PRESENTE o ilustre Procurador de Justiça, Dr. Osvaldo Nascente


Borges
Custas de lei.
Goiânia, 31 de janeiro de 2013.

Des. Kisleu Dias Maciel Filho


Relator

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