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EXERCÍCIO 1 DE PROCESSO LEGISLATIVO (VALOR: 10,0 PONTOS)

Prof. Luciano Oliveira

GABARITO

O Senador Fulano apresentou um projeto de lei que regulamenta a exploração econômica


de florestas nativas brasileiras, prevê regras de respeito às populações indígenas que
porventura habitem a região e criminaliza as condutas que desrespeitem as regras
previstas no texto. Diante disso, responda as questões abaixo (1,0 ponto cada).

 Obs.: salvo disposição em contrário, os dispositivos citados nas respostas são do Regimento
Interno do Senado Federal (RISF).

1) Quais comissões do Senado devem apreciar o projeto?

Comissão de Assuntos Sociais – CAS (art. 100, I); Comissão de Constituição, Justiça e
Cidadania – CCJ (art. 101, II, d); Comissão de Assuntos Econômicos – CAE (art. 99, I); e
Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle – CMA (art.
102-A, II, a).

2) O projeto pode ter rito abreviado? Em caso afirmativo, qual comissão deve ter a decisão
terminativa? Justifique ambas as respostas.

Sim, pois é projeto de lei ordinária de autoria de Senador (art. 91, I). A decisão terminativa deve
ser da CMA*, comissão de maior pertinência temática (art. 49, I), por se tratar de utilização do
meio ambiente.

* Admite-se também o entendimento de que a comissão terminativa deva ser a CAE, por se
tratar de exploração econômica.

3) Caso seja adotado o rito abreviado, os senadores que não são membros das comissões que
analisam o projeto podem apresentar emendas à matéria? Em qual comissão? E quanto aos
senadores membros dessas comissões?

No rito abreviado, qualquer senador (inclusive os membros das comissões que analisarão a
matéria) podem apresentar emendas ao projeto (art. 122, II, c) perante a primeira comissão (art.
170, § 3º; e analogia com art. 375, I), no prazo regimental de cinco dias úteis (art. 122, § 1º).
Além disso, os membros das comissões pelas quais passará a matéria podem apresentar
emendas perante suas respectivas comissões (art. 122, I), durante a discussão do projeto na
comissão (analogia com art. 282, § 2º).

4) No rito abreviado, qual a diferença entre as emendas apresentadas por qualquer senador no
prazo regimental e as apresentadas pelos membros das comissões, nessa qualidade?

As emendas apresentadas por qualquer senador no prazo regimental inicial de cinco dias úteis
(chamadas de emendas “T”, em alusão ao rito terminativo) são apresentadas perante a primeira
comissão do despacho (ver questão 3) e devem, mesmo que alguma comissão opine por sua
rejeição, ser obrigatoriamente apreciadas por todas as comissões, especialmente pela última, a
chamada comissão terminativa, que substitui o Plenário, decidindo efetivamente (não apenas
opinando) sobre a matéria, e cujo pronunciamento sobre as emendas “T” (e sobre o próprio
projeto) será final (art. 124, IV), salvo recurso ao Plenário (ver questão 5). Já as emendas
apresentadas pelos membros das comissões, nessa qualidade (que podemos chamar de emendas
“comuns”), são apresentadas perante a respectiva comissão e, se não adotadas por esta, são
consideradas inexistentes (art. 124, I), podendo, contudo, ser renovadas nas comissões
seguintes (art. 232 combinado com art. 92); já se adotadas pela comissão, serão consideradas
emendas desta (art. 123), caso em que, assim como ocorre com as emendas “T”, serão
obrigatoriamente apreciadas pelas comissões seguintes.

5) Caso um senador fique insatisfeito com a decisão da comissão terminativa, o que ele pode
fazer para reverter essa decisão?

Interpor, no prazo de cinco dias úteis a partir da publicação da decisão da comissão terminativa
no avulso eletrônico da Ordem do Dia da sessão seguinte, recurso ao Presidente da Casa,
assinado por nove senadores (um décimo dos membros do Senado), para que a matéria seja
apreciada pelo Plenário (art. 91, §§ 3º e 4º).

6) Caso o projeto sofra emendas de Plenário, quais comissões devem apreciar as emendas? Em
que ordem as comissões as apreciarão?

Apreciarão as emendas as mesmas comissões que apreciaram a matéria principal (art. 277), de
forma simultânea (art. 118, § 1º, RISF).

7) Aprovado pelo Senado, o projeto foi à Câmara dos Deputados, onde sofreu algumas emendas
de mérito, voltando, por isso, ao Senado. Neste caso, o Senado pode rejeitar as emendas da
Câmara? E propor novas emendas ao texto por ele anteriormente aprovado? Qual o destino do
projeto, após essa nova deliberação do Senado?

Nesta fase, o Senado pode apenas deliberar sobre as emendas da Câmara (art. 137, Regimento
Comum do Congresso Nacional – RCCN, primeira parte; costume decorrente do art. 58 da
Constituição Federal de 1969 – CF/69* e do art. 69 da CF/46**; e decisão do STF na ADI
2182/DF***), aprovando ou rejeitando tais emendas, não as podendo modificar (art. 286, RISF;
e art. 137, RCCN, parte final), nem propor novas emendas ao texto por ele anteriormente
aprovado, salvo se forem emendas apenas de redação, isto é, que não alterem o mérito (analogia
com art. 135, RCCN; e decisão do STF na ADI 2238 MC/DF****). Como, neste momento,
cabe ao Senado deliberar apenas sobre as emendas da Câmara, concluída tal fase, o projeto irá
à deliberação (sanção ou veto) do Presidente da República, seja como inicialmente aprovado
pela Casa iniciadora, se rejeitadas as emendas da Casa revisora; seja com a incorporação das
emendas da Câmara, se aceitas pelo Senado (decisão do STF na ADI 2182/DF*** e costume
decorrente do art. 69 da CF/46**).

* CF/69: “Art. 58. O projeto de lei aprovado por uma Câmara será revisto pela outra, em um só turno
de discussão e votação. § 1º Se a Câmara revisora o aprovar, o projeto será enviado a sanção ou a
promulgação; se o emendar, volverá à Casa iniciadora, para que aprecie a emenda; se o rejeitar, será
arquivado.” (grifos nossos)
** CF/46: “Art 69. Se o projeto de uma Câmara for emendado na outra, volverá à primeira para que
se pronuncie acerca da modificação, aprovando-a ou não. Parágrafo único. Nos termos da votação
final, será o projeto enviado à sanção.” (grifos nossos)
*** ADI 2182/DF: “Iniciado o projeto de lei na Câmara de Deputados, cabia a esta o encaminhamento
à sanção do Presidente da República depois de examinada a emenda apresentada pelo Senado da
República.” (grifos nossos)
**** ADI 2228 MC/DF: “O parágrafo único do art. 65 da Constituição Federal só determina o retorno
do projeto de lei à Casa iniciadora se a emenda parlamentar introduzida acarretar modificação no
sentido da proposição jurídica.”

8) Que medidas o Presidente da República pode tomar ao receber um projeto de lei aprovado
pelo Congresso Nacional? Em que prazo? O que acontece se ele nada decidir nesse prazo?

O Presidente da República pode sancionar (art. 66, caput, CF/88) ou vetar total ou parcialmente
o projeto, no prazo de quinze dias úteis do recebimento da matéria (art. 66, § 1º, CF/88). Se ele
nada decidir nesse prazo, o projeto é considerado sancionado tacitamente (art. 66, § 3º, CF/88).

9) Caso o Presidente da República vete o projeto de lei, como se dá a apreciação do veto pelo
Congresso Nacional? Alguma comissão aprecia o veto antes de ele ir a Plenário? Qual a Casa
que delibera sobre o veto primeiramente?

A apreciação do veto ocorre em sessão conjunta do Congresso Nacional, dentro de trinta dias a
contar de seu recebimento, só podendo ser rejeitado pelo voto aberto* e nominal (art. 106-B,
RCCN) da maioria absoluta dos Deputados e Senadores (art. 66, § 4º, CF/88). É preciso que
tanto a maioria da Câmara como a maioria do Senado rejeitem o veto para que ele seja
derrubado. Após os trinta dias, caso não haja tal deliberação, a pauta do Congresso fica trancada
até a apreciação do veto (art. 66, § 6º, CF/88; e art. 106, § 3º, RCCN). Nenhuma comissão
aprecia o veto** antes de ele ir a Plenário (art. 106, RCCN). O veto é deliberado em primeiro
lugar pela Casa de origem da matéria vetada (art. 43, § 2º, RCCN).

* Interpretação do art. 66, § 4º, CF/88, com a redação dada pela Emenda Constitucional 76/2013, que
suprimiu a previsão de escrutínio secreto para a apreciação de vetos.
** O art. 104 do RCCN (hoje revogado) previa a apreciação do veto por uma comissão mista de três
senadores e três deputados, antes de a matéria ir ao Plenário do Congresso Nacional, mas essa previsão
foi suprimida, tendo em vista que se tratava de regra puramente regimental (isto é, sem previsão
constitucional) e a comissão mista raramente era instalada.

10) Caso o Presidente da República vete o projeto de lei, ele pode expedir uma medida
provisória sobre o mesmo tema? E antes de vetar o projeto? Há alguma parte do projeto do
enunciado que não pode ser objeto de medida provisória?

O Presidente da República pode expedir medida provisória sobre o mesmo tema de projeto já
vetado*, mas não antes de opor o veto (art. 62, § 1º, IV, CF/88). Não obstante, a medida
provisória não poderá versar sobre a parte da criminalização das condutas do projeto do
enunciado, pois é vedado à medida provisória tratar de matéria de Direito Penal (art. 62, § 1º,
I, b, CF/88).

* Exemplo: veto parcial à Lei 12.651/2012 (Novo Código Florestal). Imediatamente após o veto, foi
editada a MPV 571/2012, a fim de, segundo o governo, corrigir falhas do texto vetado.

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