Você está na página 1de 4

Comarca de Porto Alegre

11ª Vara Cível do Foro Central


Rua Márcio Veras Vidor (antiga Rua Celeste Gobato), 10
____________________________________________________________________
_____

Processo nº: 001/1.07.0197271-1 (CNJ:.1972711-55.2007.8.21.0001)

Natureza: Usucapião

Autor: Aida da Silva Cardoso

Réu: Espólio de Ruy Vitorino da Silva


Ruimar Rui da Silva
Helenita Silva de Souza

Juiz Prolator: Juiz de Direito - Dr. Luiz Menegat

Data: 03/07/2013

Vistos.
Aida da Silva Cardoso, qualificada nos autos, promoveu
Ação de Usucapião, contra o Espólio de Ruy Vitorino da Silva, Ruimar
Rui da Silva e Helenita Silva de Souza, também qualificados, alegando
que reside no imóvel usucapiendo há 27 anos de forma ininterrupta, com
posse mansa e pacífica sem oposição, com ânimo de dono, constituindo sua
residência e domicílio, tendo o mesmo 10,00 metros de frente por 30,00
metros de frente/fundos sobre ele existentes duas construções dstinadas à
moradia da família com as seguintes características: “ Um terreno lotado
sob número 50, na rua Antônio Ângelo Carraro, constituído do lote número 5,
da quadra 30, fazendo frente com a rua Antônio Ângelo Carraro, medindo
10,00m de frente a Sudoeste de dita rua, lado par, distanciando 41,00 m da
esquina da rua Leopoldo Bettiol, por 30,00 m da frente ao fundo, em ambos
os lados, tendo nos fundos a mesma largura da frente, onde entesta com o
lote número 32, dividindo-se por um lado, com o lote número 4, e, pelo outro
lado, com o lote número 6, todos que são ou foram da Imobiliária Pampa
Ltda. Título aquisitivo: transcrito sob número 9.389, folhas 83, do livro 3-f, em
data de 06/09/1966, desta Zona” não possuindo ainda o devido registro o
que faz perdurar incerteza sobre a propriedade, tendo promovido medida de
manutenção de posse julgada procedente em grau recursal, pedindo seja
declarado domínio da demandante sobre o imóvel e consequente
transcrição, juntando documentos (fls. 02/35).

64-1-
Interveio o Ministério Público(fls.37/38,50,74,128/129,
136,146) e determinada diligência(fls.39) atendida(fls.41/48).
Determinada citação(fls.51), cumprida (fls.77/78,88,112,
139/141), tendo a autora juntado documentos, inclusive de trânsito em
julgado da decisão da Ação de Manutenção de Posse(fls.67/72)
Manifestou-se o Município (fls. 66V, 76), a Procuradoria
Geral do Estado (fls.79v,82), o Advocacia-Geral da União (fl.66V,83/84).
Os demandados ofereceram contestação(fls.113/115)
alegando preliminarmente cerceamento de defesa por ter o procurador da
autora retirado em carga a Ação de Manutenção de Posse impedindo busca
de provas e de outro lado falta a autora com a verdade como o caso da
origem da posse ser contrato mantido com o de cujus em 1981, quando
nunca existiu dito contrato, sendo a posse decorrente de abuso de confiança
entre o titular do imóvel e a autora, através de permissividade baseada na
boa-fé e respeito que não foram atendidos por ela, inexistindo posse mansa
e pacífica sobre o imóvel pela autora, pois do comodato houve intenção de
dar fim ao contrato, pelo que pretendem a improcedência da ação.
Replicou a autora(fls.117/121) instados às provas
(fls.122,126) e determinada prova emprestada(fls.147) tendo a autora
juntado depoimentos colhidos na Ação antes referida(fls.149/165).
Convertido o julgamento em diligência(fls.166) com
apensação de processos referidos, intimados(fls.169), tendo vista o
Ministério Público(fls.173), que se manifestou pela não intervenção(fls.174) .
Breve relato. Decido.
A ação é de Usucapião, onde a Autora afirma possuir
posse mansa e pacífica sobre o imóvel usucapiendo há mais de 27 (vinte e
sete) anos, sem oposição, constituindo sua residência e domicílio.
Efetivada a citação houve contestação com preliminar de
cerceamento de defesa por ter o procurador da autora retirado em carga a
Ação de Manutenção de Posse impedindo busca de provas e faltar a autora
com a verdade com a origem da posse, esta que decorre de abuso de
confiança entre o titular do imóvel e a autora, através de permissividade
baseada na boa-fé e respeito que não foram atendidos por ela, inexistindo
posse mansa e pacífica sobre o imóvel pela autora, pois do comodato
houve intenção de dar fim ao contrato.
A Autora juntou com a inicial decisão em Ação de
Manutenção de Posse(fls.09/31) registro imobiliário e planta de situação do
imóvel (fls. 44/48), estando na posse mansa e pacífica sem oposição e, de
outro lado, houve oposição pelos citados, com contestação.
Encontram-se apensos a Ação de Manutenção de Posse
nº 001/1.05.2287271-2, envolvendo mesmas partes e Reintegração de

64-1-
Posse nº 001/1.05.2310603-7, invertidas, logrando a ora autora procedência
da primeira, em grau de recurso, consoante ementa(fls.173/178):
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE MANUTENÇÃO DE POSSE. AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE
POSSE AJUIZADA POSTERIORMENTE. NEGÓCIO DE COMPRA E VENDA NÃO FORMALIZADO.
POSSE SUPERIOR A 20 ANOS, QUALIFICADA PELA BOA-FÉ. AUSÊNCIA DE INTERRUPÇÃO E
OPOSIÇÃO. INÉRCIA DOS PROPRIETÁRIOS. PROTEÇÃO POSSESSÓRIA. No caso concreto, não colhe
o argumento lançado pela douta decisão fustigada, segundo o qual teria ocorrido comodato verbal e que a
posse da apelante foi mansa pela permissividade dos propretários até a notificação extrajudicial. Logo, os
direitos possessórios devem ser respeitados na medida em que o exercício da posse do terreno, por mais
de vinte anos, resta caracterizado pela prática de atos que não resultam de mera tolerância ou uso advindo
de comodato verbal, senão pelo propósito da possuidora em atuar como dona do imóvel. Evidente a inércia
e desinteresse dos propritérios por mais de 20 anos. Incidência do art. 333, I, do CPC. APELO PROVIDO.
(Apelação Cível Nº 70019389394, Vigésima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Glênio José
Wasserstein Hekman, Julgado em 09/05/2007)
A prova colhida nos autos se limita à emprestada
(fls.150/165) da Ação de Manutenção de Posse que teve a decisão
acima transcrita garantindo à ora autora o direito de posse.
Não bastasse, no corpo do Acórdão(fls.175,4º,5º,6º
§§) refere:
Tenho que, a matéria posta em exame desta c. Câmara exige especial atenção destes Julgadores.
Primeiro, porque se trata de posse de mais de 20 (vinte) anos e depois, porque a prova carreada aos autos,
resume-se, a matrícula do imóvel em nome de Ruy Vitorino da Silva e, de resto, tão somente, prova
testemunhal e depoimento das partes.
Duas teses foram apresentadas nos autos: A primeira, existência de comodato verbal sustentada
pelos autores. A segunda, realização de negócio de compra e venda verbal celebrado entre entre familiares
apresentada pelos recorrentes. Não vingam, nenhuma nem outra, porquanto as provas e argumentos,
mostram-se frágeis e inconsistentes diante da situação fática delineada nos autos.
Inicialmente, em relação as provas, convém salientar que, em que pese o sistema processual
brasileiro contemplar o depoimento pessoal, em razão do evidente interesse que têm as partes no
resultado do processo, suas afirmações e declarações não fazem prova a seu favor. Todavia, qualquer das
partes pode ter interesse em ouvir seu adversário com o evidente propósito de provocar confissão.
Segue mesma decisão(fls.176, 1º, 2º,5º, §§):
Todavia, não é crível que a possuidora tenha permanecido no imóvel por mais de vinte anos, sem
qualquer insurgência ou oposição das partes quanto ao inadimplemento do preço avençado, a ocupação e
edificações erguidas no terreno. Relativamente a ausência de pagamento, tenho que, aplicável na espécie
o disposto no art. 177 do Código Civil/1916, pelo que, dito argumento não serve para afastar o exercício da
posse pela apelante.
Assim, mesmo que, a demandada não tivesse adimplido com as obrigações originárias do negócio
do acordo firmado entre as partes, o certo é que, decorreram mais de vinte anos, sem, contudo, tivessem
os apelados realizado qualquer diligência no sentido de descaracterizar a posse da apelante, porquanto,
permaneceram inertes e desinteressados pelo imóvel. Este ônus pesa sobre o imóvel dos recorridos.
….......
Na hipótese, restou provada a posse da apelante por mais de 20 (vinte) anos, a teor do que dispõe
o art. 927 do Código de Processo Civil, conforme se colhe do depoimento pessoal dos autores e da prova
testemunhal.
Complementa(fls.177,2º §):
É cediço que, tratando-se de ação de reintegração de posse incumbe à parte autora a prova da
posse e de sua perda em decorrência do esbulho praticado pelo réu, nos termos dos arts. 927 c/c 333, I, do
CPC.
Conclui(fls.177v,2º,§):
Nessa linha, não obstante a propriedade do terreno ser dos apelados, segundo demonstra o
documento de fl.51, há que se deferir a proteção possessória a apelada. Isso porque, a posse da
demandada dista de largo espaço de tempo – mais de vinte anos-, está amparada em negócio jurídico de
compra e venda não formalizado. Pelo que, presume-se de boa-fé e, à evidência, a apelante usa, frui e
dispõe do bem, sem nenhum obstáculo e oposição. Mais que isso, é justa, não derivando de
clandestinidade, violência ou precariedade.

64-1-
A prova se resumem nas afirmações das partes e prova
colhida nas Ações apensas onde os demandados não lograram comprovar
suas assertivas sendo reconhecido o direito da autora, inclusive da boa-fé,
uso, fruição e disposição, sem obstáculo, não derivando de clandestinidade,
violência ou precariedade, resultando posse mansa e pacífica e inconteste,
por largo tempo, superior a vinte(20) anos.
Resta certa, assim, a posse mansa e pacífica da Autora
sobre dito imóvel, sem oposição, estando apta a lograr decreto de domínio.
Em face do exposto, JULGO PROCEDENTE a Ação
de Usucapião e declaro o domínio da Autora Aida da Silva Cardoso,
sobre o imóvel acima descrito.
Transitada em julgado, extraia-se mandado ao Ofício
competente para os devidos fins, certificando-se o trânsito em julgado
e cumpram-se os demais atos.
Publique-se. Registre-se. Intimem-se.
Porto Alegre, 03 de julho de 2013.

Luiz Menegat,
Juiz de Direito

64-1-

Você também pode gostar