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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2017.0000713535

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº


1010123-17.2015.8.26.0066, da Comarca de Barretos, em que é apelante LUIZ MANOEL
GOMES JUNIOR, são apelados SONIA APARECIDA DE OLIVEIRA (ASSISTÊNCIA
JUDICIÁRIA) e MARIA IZABEL MARTINS DE OLIVEIRA.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 32ª Câmara de Direito Privado


do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Deram provimento em
parte ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores KIOITSI CHICUTA


(Presidente sem voto), CAIO MARCELO MENDES DE OLIVEIRA E RUY COPPOLA.

São Paulo, 20 de setembro de 2017.

Luis Fernando Nishi


Relator
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Voto nº 23835

Apelação Cível nº 1010123-17.2015.8.26.0066


Comarca: Barretos 1ª Vara Cível
Apelante: Luiz Manoel Gomes Júnior
Apeladas: Maria Izabel Martins de Oliveira; Sônia Aparecida de Oliveira
Juiz 1ª Inst.: Dr. Cláudio Bárbaro Vita
32ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo

APELAÇÃO LOCAÇÃO DE IMÓVEL AÇÃO DE


CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO Mudança de propriedade
do bem imóvel da qual a autora é locatária Dúvida fundada
sobre quem deva legitimamente receber o pagamento Aluguel
pago pela autora referente à posse direta do imóvel, cuja parte
ideal de 50% pertence ao seu ex-cônjuge, em razão da partilha
decidida na ação de divórcio Ex-marido que é devedor de
ambos os corréus Adjudicação do imóvel deferida na ação de
execução de título extrajudicial promovida pela corré, que,
contudo, não foi levada a registro, inoponível a terceiros
Penhora dos aluguéis incidentes sobre o imóvel efetuada na ação
declaratória de insolvência civil ajuizada pelo corréu Valores
consignados que deverão ser revertidos em favor do credor
corréu desde a data do auto de penhora até a lavratura e
assinatura do auto de adjudicação pelo juiz, momento em que a
providência se considera perfeita e acabada, com efetiva
mudança de propriedade do imóvel, tornando insubsistente a
penhora dos frutos e rendimentos que sobre ele recaía Com a
transferência de propriedade à corré, esta passa a ser credora
dos valores devidos pela autora a título de aluguel
PROCEDÊNCIA DA AÇÃO CONSIGNATÓRIA
SUCUMBÊNCIA QUE RECAI SOBRE OS CREDORES EM
FAVOR DO AUTOR RECURSO PARCIALMENTE
PROVIDO.

Vistos.

A r. sentença de fls. 184/191, nos autos da ação


de consignação em pagamento movida por SÔNIA APARECIDA DE OLIVEIRA
em face de LUIZ MANOEL GOMES JÚNIOR e MARIA IZABEL MARTINS DE
OLIVEIRA, julgou procedente o pedido, para declarar quitadas as obrigações da

Apelação nº 1010123-17.2015.8.26.0066 -Voto nº 23835 - cadh 2


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autora referente ao pagamento de aluguel proporcional a quota parte do imóvel,


objeto da matrícula nº 32.561 no Registro de Imóveis de Barretos, abrangendo a
quitação a data do primeiro depósito realizado no curso do feito até a
consolidação da integralidade da propriedade do imóvel na pessoa da
requerente. Declarou, ainda, a corré credora legitimada ao levantamento dos
valores depositados nos autos pela autora. Em razão da sucumbência,
condenou o corréu ao pagamento integral das custas, despesas processuais e
honorários advocatícios da autora e da corré, arbitrados em R$.1.500,00 para
cada uma das partes.

Irresignado, apela o corréu (fls. 194/202),


sustentando, em síntese, a inexistência de dúvida sobre quem deve
legitimamente receber o pagamento, sendo injustificada a demanda
consignatória. Aduz, ainda, que o seu crédito tem preferência sobre o da corré,
porquanto possui natureza trabalhista, oriundo de honorários advocatícios,
enquanto o crédito da corré é quirografário. Por fim, insurge-se contra a
imposição exclusiva dos ônus da sucumbência.

Houve contrariedade ao apelo (fls. 217/224;


233/239), em defesa do desate da controvérsia traduzido na sentença recorrida.

É o relatório, passo ao voto.

Segundo consta da exordial, nos autos da ação


declaratória de insolvência civil (processo nº 1005530-76.2014.8.26.0066),
movida pelo corréu Luiz Manoel Gomes Júnior em face de José Carlos Oliveira,
ex-marido da autora, foi intimada para promover o depósito do valor de
R$.255,00, referente ao aluguel pela utilização exclusiva da posse direta do
imóvel, cuja parte ideal de 50% pertence ao seu ex-cônjuge, em razão da
partilha decidida na ação de divórcio.

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Afirma que foi, no entanto, intimada verbalmente


pela corré Maria Izabel Martins de Oliveira a efetuar o pagamento dos aluguéis
em seu favor, em razão da adjudicação da cota parte do seu ex-marido, nos
autos da ação de execução de título extrajudicial (processo nº
0002088-27.2011.8.26.0066).

Diante da dúvida a quem deve efetivamente


pagar os aluguéis devidos ao seu ex-marido José Carlos Oliveira, executado por
ambos os corréus nos processos referidos.

Citado, o corréu ofertou contestação (fls. 35/39),


aduzindo, em síntese, que a autora foi intimada por ordem judicial a efetivar o
depósito nos autos do processo nº 1005530-76.2014.8.26.0066, no qual corréu é
credor de seu ex-cônjuge, em razão do deferimento do pedido de penhora dos
aluguéis, não havendo dúvida que justifique o ajuizamento da presente demanda
consignatória.

Por sua vez, em sua contestação (fls. 81/84), a


corré sustenta o deferimento da adjudicação do bem imóvel em seu favor, não
registrada na matrícula do imóvel por ter se ausentado da Comarca de Barretos,
no entanto, informa que sua advogada está providenciando tal efetivação.

Posteriormente, noticiou a autora que, em


procedimento de reclamação pré-processual no CEJUSC, celebrou acordo com
a corré Maria Izabel para adquirir a parte ideal de 50% do imóvel, por esta
adjudicada no feito executivo em face do ex-cônjuge da autora, cujos aluguéis
estão sendo consignados nestes autos (fls. 95/100).

O recurso comporta parcial provimento.

Inicialmente, cumpre consignar que o instituto

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processual da consignação em pagamento é meio hábil conferido ao devedor


que busca a extinção da obrigação, quando há fundada dúvida sobre quem deva
legitimamente receber o pagamento, possibilitando o depósito da oferta judicial
ou extrajudicialmente.

Na hipótese dos autos, a dúvida da autora é


suficientemente fundada, diante da existência de mudança de titularidade sobre
o bem imóvel do qual é locatária da parte ideal equivalente a 50%.

Embora, de fato, como consignado pelo MM.


Juízo a quo, a questão não seja de concurso de credores, a fim de que sejam
avaliadas as naturezas dos créditos como forma de verificar quem faz jus ao
recebimento dos locatícios consignados, a r. sentença merece ser parcialmente
reformada.

Isso porque, verifica-se que, nada obstante a


adjudicação do imóvel, objeto da locação pela autora decorrente da meação, ter
sido deferida em 31.10.2013 (fls. 15) na ação de execução de título extrajudicial
(processo nº 0002088-27.2011.8.26.0066) promovida pela corré, tal fato não foi
levado a registro, não sendo, portanto, oponível a terceiros, com notícia de
expedição da carta de adjudicação tão somente em 19.05.2016 (fls. 240).

Realizada, por sua vez, nos autos da ação


declaratória de insolvência civil (processo nº 1005530-76.2014.8.26.0066)
ajuizada pelo corréu, a penhora dos aluguéis incidentes sobre o imóvel em
28.10.2015 (fls. 10), cujo auto de penhora e depósito data de 23.11.2015,
nomeada depositária a autora Sônia Aparecida de Oliveira (fls. 11).

Delineada a situação, os valores consignados,


referentes aos locatícios objeto da penhora, reverter-se-ão em favor do credor
Luiz Manoel Gomes Júnior, ora apelante, desde a data do auto de penhora
até a lavratura e assinatura do auto de adjudicação pelo juiz (fls. 242),

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momento em que a adjudicação se considera perfeita e acabada, nos termos do


§1º do art. 877 do CPC/2015, com a efetiva mudança de titularidade e
propriedade sobre o imóvel, tornando insubsistente a penhora dos frutos e
rendimentos que sobre ele recaía.

Não há falar, portanto, em penhora sobre os


aluguéis incidentes após a assinatura do auto de adjudicação, ocorrida em
27.04.2016 (fls 242), porquanto não é mais proprietário do imóvel, objeto da
locação, que passou a ser de titularidade da corré Maria Izabel Marins de
Oliveira.

Consequentemente, com a transferência da


propriedade do imóvel à corré Maria Izabel, esta passa a ser credora dos valores
devidos pela autora, a título de aluguel, ressalvada a extinção da relação
locatícia com a compra e venda da cota parte firmada entre elas, conforme
escritura de fls. 243/246.

De rigor, portanto, o parcial provimento do apelo,


para reconhecer a legitimidade do corréu Luiz Manoel Gomes Júnior ao
recebimento dos créditos locatícios devidos consignados pela autora, desde a
data do auto de penhora (23.11.2015 fls. 11) até a assinatura do auto de
adjudicação (27.04.2016 fls. 242), sendo, após esse período, devido em favor
da corré Maria Izabel até ulterior compra e venda da sua cota parte à autora.

Resolvida a titularidade do crédito consignado,


com a procedência da ação consignatória, a sucumbência recai sobre os
credores em favor do autor, assim, devem os corréus arcar, cada um, com
metade das custas e das despesas processuais, além dos honorários
advocatícios do autor, que fixo em R$.1.000,00 (mil reais) para cada um, já
considerado o trabalho adicional do patrono da autora em grau recursal, visto se
tratar de recurso interposto contra decisão publicada a partir de 18.03.2016
(Enunciado Administrativo nº 7 do STJ), nos termos do §§8º e 11 do art. 85 do

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CPC/2015.

Ante o exposto, e pelo meu voto, DOU PARCIAL


PROVIMENTO ao recurso, nos termos acima alinhavados.

LUIS FERNANDO NISHI


Relator

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