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Poder Judiciário da União

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS


TERRITÓRIOS

Órgão 7ª Turma Cível

Processo N. APELAÇÃO CÍVEL 0737830-52.2021.8.07.0001

APELANTE(S) AVANY CHAVES DA SILVA

APELADO(S) CONDOMINIO DO EDIFICIO LIDER FLAT SERVICE


Relator Desembargador FABRÍCIO FONTOURA BEZERRA

Acórdão Nº 1773391

EMENTA

APELAÇÃO. DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE COBRANÇA. CONEXÃO.


PRELIMINARES REJEITADAS. DESPESAS CONDOMINIAIS. POOL HOTELEIRO.
OBRIGAÇÃOPROPTER REM. RESPONSABILIDADE DO PROPRIETÁRIO DO IMÓVEL.

1. Rejeita-se a alegação de conexão se não há similitude entre as causas ou risco de decisões


conflitantes.

2.Para a cobrança de taxas condominiais o condomínio deve apresentar a convenção condominial, as


atas das assembleias que elegeu o síndico e aprovou a previsão orçamentária correspondente, a
comprovação da propriedade (ou da promessa de compra e venda) e a planilha atualizada de débitos.

3. As taxas condominiais, obrigações de natureza propter rem,são de responsabilidade do condômino,


proprietário ou promitente comprador ou cessionário, que esteja na posse do imóvel com justo título.

4. A assunção do encargo pelo sócio ostensivo não impede a repristinação da obrigação legal,
mormente se condicionada a existência de caixa.

5. Negou-se provimento ao recurso.

ACÓRDÃO
Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 7ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito
Federal e dos Territórios, FABRÍCIO FONTOURA BEZERRA - Relator, GETÚLIO MORAES
OLIVEIRA - 1º Vogal e ROBSON BARBOSA DE AZEVEDO - 2º Vogal, sob a Presidência do
Senhor Desembargador ROBSON BARBOSA DE AZEVEDO, em proferir a seguinte decisão:
CONHECIDO. DESPROVIDO. UNÂNIME., de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 25 de Outubro de 2023

Desembargador FABRÍCIO FONTOURA BEZERRA


Relator

RELATÓRIO

Cuida-se de apelação interposta por AVANY CHAVES DA SILVA, representada por seu curador
Edson Chaves da Silva, para ver reformada a sentença proferida na ação de cobrança que julgou
procedente o pedido do CONDOMÍNIO DO EDIFÍCIO LIDER FLAT CENTER, para condená-la ao
pagamento dos valores das taxas condominiais ordinárias vencidas entre os mesesde junho a
setembro/2021 e as vincendas.

A apelante arguiu, preliminarmente, a conexão com o PJen. 0734768-04.2021.8.07.0001, em curso na


1ª Vara Cível de Brasília, e a inépcia da inicial, por ausência de documentos essenciais para a
propositura da demanda.

No mérito, aduz que a responsabilidade pelo pagamento das taxas condominiais é da Hotelaria Accor
Brasil S.A., administradora do condomínio apelado e sócia ostensiva da sociedade em conta de
participação estabelecida com a apelante, sendo indevida a cobrança feita pelo condomínio apelado.

Assevera que não é representada pelo conselho de representantes que decidiu que as taxas seriam pagas
pelos proprietários, devendo ser mantido o acordo anterior, feito com a sócia ostensiva, como parte do
Pool Hoteleiro.

Requer que a sentença seja cassada, e que o feito seja encaminhado para o Juízo da 1ª Vara Cível de
Brasília, para julgamento em conjunto com os autos n. 0734768-04.2021.8.07.0001.

O recurso foi preparado.

As contrarrazões foram apresentadas.

A Procuradoria de justiça oficiou pela manutenção da sentença.

É o relatório.
VOTOS

O Senhor Desembargador FABRÍCIO FONTOURA BEZERRA - Relator

Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.

Cuida-se de apelação interposta por AVANY CHAVES DA SILVA, representada por seu curador,
para ver reformada a sentença que a condenou ao pagamento de taxas condominiais vencidasentre
osmeses de junho a setembro/2021 e as vincendas.

O cerne recursal consiste em estabelecer se o pagamento das taxas condominiais no período requerido
pelo autor é de responsabilidade da proprietária do imóvel ou de terceiros.

DAS PRELIMINARES

DA CONEXÃO

Nos termos do art. 55 do Código de Processo Civil, reputam-se conexas 2 (duas) ou mais ação quando
lhe forem comum o pedido ou a causa de pedir.

No caso, não há similitude entre as causas, pois naquela demanda, proposta por terceiro, busca-se a
cobrança de aportes extraordinários (cash call), proposta pela sociedade em conta de participação
criada para administrar o "pool" hoteleiro, em razão de supostos prejuízos sofridos, ao passo quenesta
a açãoo objeto é o pagamento das taxas condominiais.

Logo, não havendo identidade entre as partes, a causa de pedir e pedidos, não há se falar em conexão,
nem em risco de decisões conflitantes.

Ademais, mesmo se houvesse conexão, não caberia a reunião dos processos neste momento
processual, pois o presente feito já se encontra sentenciado (Súmula 235 do STJ: "A conexão não
determina a reunião se um deles já foi julgado").

DA AUSÊNCIA DE DOS DOCUMENTOS ESSENCIAIS À PROPOSITURA DA DEMANDA

A apelante suscita a inépcia da inicial, por falta de documento essencial à propositura da ação, pois a
apelada não teria juntado na exordial prova da sua responsabilidade pelo pagamento das taxas
cobradas.

Não lhe assiste razão.

Para a cobrança de taxas condominiais, o condomínio deve apresentar a convenção condominial, as


atas das assembleias que elegeu o síndico e aprovou a previsão orçamentária correspondente, a
comprovação da propriedade (ou da promessa de compra e venda) e a planilha atualizada de débitos,
todos juntados pelo autor.

Logo, não é possível falar em inépcia da inicial.

Com efeito, a apelante defende falta de documento essencial, porque entende que não teria
responsabilidade pelo débito condominial, porém tal argumento está afeto ao mérito da sua defesa, e
não às alegações iniciais, que pressupõe apenas a demonstração da relação do devedor com a coisa.

Sendo assim, rejeito as preliminares.

DO MÉRITO

Na origem, cuida-se de ação de cobrança proposta por CONDOMINIO DO EDIFICIO LIDER FLAT
SERVICE em face de AVANY CHAVES DA SILVA, para o recebimento de taxas condominiais
vencidas de junho a setembro de 2021 e as vincendas no curso do processo.

De início, cumpre observar que é incontroverso que a ré é proprietária do imóvel situado no SHN
Quadra 05, Projeção I, sem número, aptº 304 - CEP: 70.705-912, Brasília – DF, conforme registro na
matrícula do imóvel n. 706170, do 2º Ofício do Registro de Imóveis do Distrito Federal (ID 45949131
– Pág. 1/4), que se encontra em débito com as taxas condominiais, conforme planilha que instruiu a
inicial (ID 45949132 – Pág. 1/4 e ID 45949132 – Pág.1).

A discussão reside sobre a responsabilidade por este débito, pois, segundo a ré,caberia à Hotelaria
Accor Brasil S.A., sócia ostensiva da Sociedade em Conta de Participação (SCP), criada para
administrar o pool hoteleiro do qual participa o imóvel objeto da ação, e também administradora do
condomínio autor, arcar com este ônus, pois assim assumido desde 2011.

DA RESPONSABILIDADE PELAS TAXAS CONDOMINIAIS

As taxas condominiais, obrigações de natureza propter rem, são de responsabilidade do condômino,


proprietário ou promitente comprador ou cessionário, que esteja na posse do imóvel com justo título,
conforme preveem os artigos 1.315 e 1.336, I, Código Civil e os artigos 9º e 12 da Lei 4.591/64.

Tal ônus pode ser transferido aterceiros, a exemplo do locatário, conforme expressa autorização legal,
ou outro, mediante convenção entre as partes.

No caso, os proprietários das unidades imobiliárias do condomínio autor transferiram o referido


encargo à Hotelaria ACCOR Brasil S.A., sócia ostensiva da SCP criada para administrar o pool
hoteleiro (ID 45949322 e 45949323).

No entanto, em razão dos resultados negativos enfrentados, a SCP decidiu, em reunião com o
Conselho dos Representantes dos sócios ocultos, devolver a obrigação aos proprietários, visando
mitigar os prejuízos no empreendimento e evitar futuras solicitações de aporte de capital para o
patrimônio especial (ID 45949328 e 45949331).

Com isso, encerrou-se o ajuste havido entre partes, retomando a obrigação ao titular do imóvel.

A apelante argumenta, no entanto, que tal repristinação viola os princípios da boa-fé contratual, pois a
obrigação era assumida pela administradora desde 2011, e que, de qualquer forma, a alteração não
poderia lhe atingir, pois não anuiu com a representação pelo Conselho.

Os institutos da supressio e da surrectio não se aplicam à hipótese, porque a obrigação assumida pela
SCP de pagar as taxas condominiais e IPTU era condicionada a existência de caixa (ID 45949329), de
modo que, alterada a situação, possível a revisão, até mesmo para se evitar a necessidade de
sucessivos aportes e, em última análise, o encerramento do negócio.

Além disso, na SCP, compete ao sócio ostensivo promover a celebração dos negócios relativos ao
objeto social, cabendo aos demais apenas a participação dos resultados (CC, art. 991).

Depois, é indubitável que o Conselho representa todos os sócios ocultos e participantes do pool, não
podendo a ré optar por anuir apenas com as decisões que entende lhe favoráveis.

Também não há razões para se exigir o assentimento expresso a representação e a decisão se a própria
apelante assevera que a constituição da SCP foi informal, nos termos do art. 992 do CC.

Dessarte, havendo o grupo decidido que os proprietários das unidades deverão responder pelos
encargos individuais de suas unidades, a ré deve responder pelas despesas ordinárias do seu bem,
desde o termo fixado, no caso, junho/2021.

Além disso, deve arcar com as parcelas vincendas, enquanto durar a obrigação até a satisfação integral
do crédito, conforme inteligência do art. 323 do CPC.

Por outro lado, poderá, se entender pertinente, e em demanda própria, requerer a exibição de contas,
para apurar a situação da sociedade e eventuais danos.

Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao recurso.

Por conta da sucumbência recursal, majoro a verba honorária em 1% (um por cento).

É como voto.

O Senhor Desembargador GETÚLIO MORAES OLIVEIRA - 1º Vogal


Com o relator
O Senhor Desembargador ROBSON BARBOSA DE AZEVEDO - 2º Vogal
Com o relator

DECISÃO

CONHECIDO. DESPROVIDO. UNÂNIME.

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