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Acórdão Nº 1773391
EMENTA
4. A assunção do encargo pelo sócio ostensivo não impede a repristinação da obrigação legal,
mormente se condicionada a existência de caixa.
ACÓRDÃO
Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 7ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito
Federal e dos Territórios, FABRÍCIO FONTOURA BEZERRA - Relator, GETÚLIO MORAES
OLIVEIRA - 1º Vogal e ROBSON BARBOSA DE AZEVEDO - 2º Vogal, sob a Presidência do
Senhor Desembargador ROBSON BARBOSA DE AZEVEDO, em proferir a seguinte decisão:
CONHECIDO. DESPROVIDO. UNÂNIME., de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.
RELATÓRIO
Cuida-se de apelação interposta por AVANY CHAVES DA SILVA, representada por seu curador
Edson Chaves da Silva, para ver reformada a sentença proferida na ação de cobrança que julgou
procedente o pedido do CONDOMÍNIO DO EDIFÍCIO LIDER FLAT CENTER, para condená-la ao
pagamento dos valores das taxas condominiais ordinárias vencidas entre os mesesde junho a
setembro/2021 e as vincendas.
No mérito, aduz que a responsabilidade pelo pagamento das taxas condominiais é da Hotelaria Accor
Brasil S.A., administradora do condomínio apelado e sócia ostensiva da sociedade em conta de
participação estabelecida com a apelante, sendo indevida a cobrança feita pelo condomínio apelado.
Assevera que não é representada pelo conselho de representantes que decidiu que as taxas seriam pagas
pelos proprietários, devendo ser mantido o acordo anterior, feito com a sócia ostensiva, como parte do
Pool Hoteleiro.
Requer que a sentença seja cassada, e que o feito seja encaminhado para o Juízo da 1ª Vara Cível de
Brasília, para julgamento em conjunto com os autos n. 0734768-04.2021.8.07.0001.
É o relatório.
VOTOS
Cuida-se de apelação interposta por AVANY CHAVES DA SILVA, representada por seu curador,
para ver reformada a sentença que a condenou ao pagamento de taxas condominiais vencidasentre
osmeses de junho a setembro/2021 e as vincendas.
O cerne recursal consiste em estabelecer se o pagamento das taxas condominiais no período requerido
pelo autor é de responsabilidade da proprietária do imóvel ou de terceiros.
DAS PRELIMINARES
DA CONEXÃO
Nos termos do art. 55 do Código de Processo Civil, reputam-se conexas 2 (duas) ou mais ação quando
lhe forem comum o pedido ou a causa de pedir.
No caso, não há similitude entre as causas, pois naquela demanda, proposta por terceiro, busca-se a
cobrança de aportes extraordinários (cash call), proposta pela sociedade em conta de participação
criada para administrar o "pool" hoteleiro, em razão de supostos prejuízos sofridos, ao passo quenesta
a açãoo objeto é o pagamento das taxas condominiais.
Logo, não havendo identidade entre as partes, a causa de pedir e pedidos, não há se falar em conexão,
nem em risco de decisões conflitantes.
Ademais, mesmo se houvesse conexão, não caberia a reunião dos processos neste momento
processual, pois o presente feito já se encontra sentenciado (Súmula 235 do STJ: "A conexão não
determina a reunião se um deles já foi julgado").
A apelante suscita a inépcia da inicial, por falta de documento essencial à propositura da ação, pois a
apelada não teria juntado na exordial prova da sua responsabilidade pelo pagamento das taxas
cobradas.
Com efeito, a apelante defende falta de documento essencial, porque entende que não teria
responsabilidade pelo débito condominial, porém tal argumento está afeto ao mérito da sua defesa, e
não às alegações iniciais, que pressupõe apenas a demonstração da relação do devedor com a coisa.
DO MÉRITO
Na origem, cuida-se de ação de cobrança proposta por CONDOMINIO DO EDIFICIO LIDER FLAT
SERVICE em face de AVANY CHAVES DA SILVA, para o recebimento de taxas condominiais
vencidas de junho a setembro de 2021 e as vincendas no curso do processo.
De início, cumpre observar que é incontroverso que a ré é proprietária do imóvel situado no SHN
Quadra 05, Projeção I, sem número, aptº 304 - CEP: 70.705-912, Brasília – DF, conforme registro na
matrícula do imóvel n. 706170, do 2º Ofício do Registro de Imóveis do Distrito Federal (ID 45949131
– Pág. 1/4), que se encontra em débito com as taxas condominiais, conforme planilha que instruiu a
inicial (ID 45949132 – Pág. 1/4 e ID 45949132 – Pág.1).
A discussão reside sobre a responsabilidade por este débito, pois, segundo a ré,caberia à Hotelaria
Accor Brasil S.A., sócia ostensiva da Sociedade em Conta de Participação (SCP), criada para
administrar o pool hoteleiro do qual participa o imóvel objeto da ação, e também administradora do
condomínio autor, arcar com este ônus, pois assim assumido desde 2011.
Tal ônus pode ser transferido aterceiros, a exemplo do locatário, conforme expressa autorização legal,
ou outro, mediante convenção entre as partes.
No entanto, em razão dos resultados negativos enfrentados, a SCP decidiu, em reunião com o
Conselho dos Representantes dos sócios ocultos, devolver a obrigação aos proprietários, visando
mitigar os prejuízos no empreendimento e evitar futuras solicitações de aporte de capital para o
patrimônio especial (ID 45949328 e 45949331).
Com isso, encerrou-se o ajuste havido entre partes, retomando a obrigação ao titular do imóvel.
A apelante argumenta, no entanto, que tal repristinação viola os princípios da boa-fé contratual, pois a
obrigação era assumida pela administradora desde 2011, e que, de qualquer forma, a alteração não
poderia lhe atingir, pois não anuiu com a representação pelo Conselho.
Os institutos da supressio e da surrectio não se aplicam à hipótese, porque a obrigação assumida pela
SCP de pagar as taxas condominiais e IPTU era condicionada a existência de caixa (ID 45949329), de
modo que, alterada a situação, possível a revisão, até mesmo para se evitar a necessidade de
sucessivos aportes e, em última análise, o encerramento do negócio.
Além disso, na SCP, compete ao sócio ostensivo promover a celebração dos negócios relativos ao
objeto social, cabendo aos demais apenas a participação dos resultados (CC, art. 991).
Depois, é indubitável que o Conselho representa todos os sócios ocultos e participantes do pool, não
podendo a ré optar por anuir apenas com as decisões que entende lhe favoráveis.
Também não há razões para se exigir o assentimento expresso a representação e a decisão se a própria
apelante assevera que a constituição da SCP foi informal, nos termos do art. 992 do CC.
Dessarte, havendo o grupo decidido que os proprietários das unidades deverão responder pelos
encargos individuais de suas unidades, a ré deve responder pelas despesas ordinárias do seu bem,
desde o termo fixado, no caso, junho/2021.
Além disso, deve arcar com as parcelas vincendas, enquanto durar a obrigação até a satisfação integral
do crédito, conforme inteligência do art. 323 do CPC.
Por outro lado, poderá, se entender pertinente, e em demanda própria, requerer a exibição de contas,
para apurar a situação da sociedade e eventuais danos.
Por conta da sucumbência recursal, majoro a verba honorária em 1% (um por cento).
É como voto.
DECISÃO