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Consulta
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Consulta-nos a empresa “X”, por meio de seu procurador, Dr. “W”, sobre a possibilidade
de executar-se sentença condenatória em que o pedido de “apuração de haveres de
sócio” fora feito com base em “balanço de determinação” e assim determinado na
sentença, tendo, a seu turno, o perito judicial, calculado com base em “balancete de
verificação”. Pergunta-se-nos, ainda, sobre a possibilidade de arguição pela parte após
prazo para manifestação sobre o laudo pericial e os efeitos do não acolhimento da
manifestação dessa parte prejudicada.
1. Quesitos
3.ª) O erro de cálculo do perito, em face da adoção de meio contábil não indicado na
sentença, pode ser arguido em momento posterior àquele fixado para as partes se
manifestarem sobre o laudo pericial?
2. Dos fatos
WIAS propôs contra WAAS, PAAF, IFC, FPF e empresa “X”, em 12.03.1991, ação de
apuração de haveres, processo n. xxx, junto à x Vara Cível do Foro Central da Cidade de
São Paulo.
Interpostos recursos de apelação, por parte dos demandados, negou-se provimento aos
mesmos no E. TJSP, mantendo-se a sentença.
Nomeado o perito contábil para a apuração dos haveres do sócio retirante, desviou-se
este profissional do comando sentencial e usou metodologia não indicada por normas
técnicas, sem considerar elementos como: bancos-contas movimento; títulos vinculados
ao mercado aberto; contas a receber de aluguéis; ativo imobilizado; obrigações com
empregados; obrigações previdenciárias e tributárias; passivos contingentes; patrimônio
líquido. Por outro lado, deixou de abater valores correspondentes a imposto de renda e
contribuições sociais.
Em síntese, todos os ajustes técnicos e avaliatórios, estes decorrentes dos ajustes dos
valores contábeis aos valores de mercado, aqueles originários de procedimentos técnicos
inadequados, fazem parte do balanço de determinação. Refletem ajustes extracontábeis,
ou seja, fora dos livros mercantis e, por isso, ausentes do balancete de verificação.
Podemos acrescentar que referida peça se presta, também, à verificação dos saldos das
contas em determinada data, bem como à verificação da natureza dos mesmos. Esta
característica permite ao profissional responsável pela contabilidade da organização
constatar eventuais erros de classificação ou escrituração contábil. Possibilita, ainda,
constatar-se a eventual ausência de lançamentos contumazes.
“– Receitas de aluguéis
“Conforme consta do Relatório, ‘os saldos das contas componentes do ativo imobilizado
não contemplavam os valores de correção monetária e de depreciação (nos casos
aplicáveis) correspondentes ao período de sete meses findo em 31.07.1990’.
“Ficou evidenciado no Relatório de Auditoria que ‘os registros contábeis da Empresa “X”
não contemplavam valores para provisão de férias (salários e encargos) e de 13.º salário
(salários e encargos) de competência do período’.
“Isto quer dizer que essas obrigações correntes da sociedade avalianda deixaram de ser
consideradas na apuração de haveres, já que não consignadas no balancete de
verificação.
“Do mesmo modo que no item anterior, essas obrigações correntes da sociedade
avalianda deixaram de ser consideradas na apuração de haveres, já que não
consignadas no balancete de verificação, por não ter atendimento ao regime de
competência.
“Conclui-se, portanto, que a apuração de haveres elaborada pelo Sr. Perito Judicial, com
base no balancete de verificação, o qual ‘foi elaborado sem observância dos critérios e
princípios contábeis usualmente adotados universalmente’, deixou de considerar valores
relevantes, tanto de resultados quanto de obrigações, e, por isso, não reflete com
propriedade o patrimônio líquido da sociedade avalianda na data-base de sua apuração.
“Posto isto, vejamos como deve tecnicamente ser elaborado o denominado balanço de
determinação.
“Para atender e ilustrar o primeiro estágio, preparou-se demonstração contábil que vai
sob a forma do anexo 1.
“Aí são relatados todos os ajustes técnicos necessários a evidenciar o patrimônio líquido
da sociedade avalianda a valores contábeis, em obediência a todos os preceitos técnicos
determinados pela legislação comercial e Normas Brasileiras de Contabilidade.
“Para completar o estágio sob comento, é necessário desenvolver estudo técnico para
evidenciar ou não se a sociedade avalianda tem capacidade de gerar o que os
comercialistas denominam de ‘sobrevalor’, isto é, se possui aviamento ou goodwill,
também denominado de Fundo de Comércio.
“E, o custo do capital próprio corresponde à taxa máxima de juros permitida por lei que
os particulares podem ajustar em seus negócios; isso equivale ao máximo de 12% ao
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“Mais duas razões dão guarida à utilização da taxa de 12%. A primeira advém do próprio
contrato social no qual os contratantes (sócios), ao disporem sobre a forma de apuração
e pagamento dos haveres, ajustam, normalmente, essa taxa aplicada sobre o valor do
reembolso das quotas. A segunda decorre da própria sentença judicial que determina o
pagamento dos haveres acrescidos dos juros contratuais ou dos legais.
“O lucro gerado pelas operações (lucro operacional líquido) corresponde ao lucro líquido
do exercício, excluídas as receitas e despesas financeiras, deduzido das provisões
tributárias incidentes sobre referido lucro.
Não é, portanto, aleatória a escolha, mas vinculada a sólidos elementos que fazem o
balanço de determinação mais preciso e próximo da realidade social do que o balancete
de verificação, naturalmente fragmentário e frágil na representação do estado
econômico e financeiro da sociedade.
O STJ, do mesmo modo, tem reiteradamente insistido que a apuração dos bens deve ser
a mais detalhada possível por meio da “exata verificação física e contábil”, representada
pelo balanço de verificação, como expresso no voto do ilustre Min. Waldemar Zveiter,
que entende:
“Em casos tais, consoante iterativa jurisprudência, inobstante parcial a dissolução, deve
haver a apuração real e efetiva dos haveres dos sócios dissidentes, com o conhecimento
pleno do valor de mercado da universalidade dos bens que compunham o patrimônio da
sociedade, na época do fato (…) utilizando-se, para tanto, todos os meios de prova
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aplicáveis, não se limitando a apuração, pois, a mera perícia contábil”.
6. A coisa julgada
Ainda que não se tenha formado, no caso em tela, a coisa julgada, em face da pendência
de recurso especial, a ser ainda apreciado pelo STJ, a possibilidade de execução
provisória – em andamento – permite que se trate dessa “virtualidade” como algo
presente, intensificada pelo periculum que se acresce dos fatos descritos.
Os efeitos do decisum voltam-se para um resultado satisfativo. Por outro lado, é no ato
pelo qual o julgador exaure sua função jurisdicional – a sentença, o acórdão – que se
defere (ou não) o bem jurídico (pedido mediato) pretendido pelo autor e com o qual
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pretende ele se satisfazer. O decisum será – ou poderá ser – executado quando líquido
ou após a liquidação, se ilíquido.
O art. 467 do CPC define como “coisa julgada material a eficácia, que torna imutável e
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indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso ordinário ou extraordinário”.
Conforme a concisa expressão de Liebman, pode-se dizer que se dirige a coisa julgada à
“produção de certezas”. A rigor, essa qualidade de tornar imutável e indiscutível é
qualidade que se acrescenta a todos os efeitos da sentença ou ao seu comando, para
determinada situação fático-jurídica.
De qualquer modo, tal definitividade que vincula, para o futuro, qualquer juízo à decisão
já proferida, foi denominada em doutrina de função positiva.
Objetiva a coisa julgada, como se disse em outra sede, segundo a pretensão específica
do legislador, “conferir indiscutibilidade à decisão de mérito, da lide, relativamente à
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parte dispositiva da sentença”.
Desde já vale reprisar o que, desde muito, é sabido: em hipótese alguma a coisa julgada
poderá revestir uma decisão que não corresponda ao pedido da parte, pois é somente
sobre esse pedido que o juiz se poderá pronunciar.
No caso em exame, apesar de não se estar, ainda, em face de coisa julgada, tem-se que
atentar à circunstância de que aquilo que será decidido deve sê-lo nos estritos termos do
pedido, para que, oportunamente, se revista a decisão da autoridade de coisa julgada
material. Consequentemente, não há que se falar em impossibilidade de revisão do
“erro”, tendo em vista que a atuação do perito se deu fora dos limites fixados no pedido.
A revisão contábil pode ser feita, eis que não está acobertada pela imutabilidade da coisa
julgada. Ocorrendo a pretendida correção dos cálculos efetuados, em fase de liquidação,
nenhuma afronta sofrerá a coisa julgada; ao contrário, a revisão dos cálculos adequará a
execução ao que ficou efetivamente decidido na sentença sob o que recaiu os efeitos da
coisa julgada. Se consta da decisão exequenda que o critério deve ser por meio do
balanço de determinação, outro critério desobedece ao que foi decidido.
Há até mesmo a proteção que se dá à sentença das alterações do próprio juiz que a
prolata. Salvo a rara exceção do art. 296 do CPC (introduzida pela Lei 8.952/1994
(LGL\1994\79)), mesmo ao juiz é vedada a “retratação” de suas manifestações,
concluindo o seu mister com a publicação da sentença (art. 463), a não ser que se trate
de matérias que de ofício pode decidir, para as quais o único limite temporal será o
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exaurimento da função jurisdicional.
julgada, porque fixa a dimensão jurídica da condenação (e assim também dos demais
efeitos presentes na sentença) para todas as consequências e atos posteriores, não
podendo, salvo a revisão pela ação rescisória, ser alterada.
Mesmo que não exista ainda a coisa julgada, neste caso, eis que pendente o recurso
especial, a execução provisória funda-se em um título executivo judicial que determinou
a apuração dos haveres do sócio retirante de um modo e não de outro. Essa forma de
apuração é o limite da atuação também do juiz na liquidação.
Todavia, mesmo antes do trânsito em julgado, a sentença (ou o acórdão) só poderá ser
alterada por acórdão que venha substituí-la(o) (ou por meio de ação rescisória).
Assim, o título executivo judicial não pode ser modificado pelo Juízo da Execução.
Isso deve ser ressaltado porque, neste caso, de forma espantosa, partiu precisamente
do auxiliar do juízo, do perito oficial (perito contador), a desobediência à decisão já
prolatada.
Para que se tenha claro o caso, convém reprisar a sucessão dos acontecimentos que
revelam a espécie e o nível da agressão perpetrada:
“a) Balanço real, com atualização do ativo, tendo em vista os valores correntes de
mercado. (…)
Requereu, ainda, o mesmo autor, logo a seguir, como forma de explicitar o que pedira
no item precedente:
(…)
d) A declaração de que o valor das cotas do suplicante, a ser apurado nas condições aqui
mencionadas, constitui seu crédito junto à sociedade aqui suplicada, revestido de
execução aparelhada, na forma da lei”.
Este foi o bem jurídico pedido pelo autor, e único bem jurídico que poderia vir a ser
deferido (total ou parcialmente) em caso de procedência da ação, definitivamente.
“Isto posto, julgo procedente a ação para determinar a apuração na forma do pedido,
servindo de título executivo a homologação das perícias que hão de ser feitas, mas
observadas, se cabíveis, as datas das prestações a vencer. Arcarão os réus,
solidariamente, com as custas e as despesas processuais, devidamente corrigidas, bem
assim com os honorários advocatícios, que arbitro em 10% (dez por cento) sobre o valor
do resultado a que se chegar na liquidação.”
Ou seja, aquele bem jurídico pedido pelo autor era deferido como requerido.
Desse modo, restou, para todos os efeitos, e para qualquer das partes ou intervenientes,
e também para os auxiliares do juízo, circunscrito e determinado o bem jurídico deferido
pela sentença ao sócio retirante e, do mesmo modo, estabeleceu-se o dever a que fica
sujeita a sociedade.
Se a decisão se mantém congruente com o pedido (arts. 2.º e 128 do CPC), como
ocorreu no caso concreto, à medida que o acolheu em toda a sua amplitude, as etapas
posteriores a essa declaração e destinadas à sua satisfação ou realização do direito do
autor se devem manter, por óbvio, em obediência ao que nela (na sentença ou acórdão)
foi determinado.
Assim, se o autor pediu balanço real, inclusive para atualização do ativo – e balanço de
determinação – para a constatação objetiva do estado patrimonial da sociedade e para a
fixação do valor das cotas, e se assim foi determinado na sentença, somente assim pode
ser apurado pelo auxiliar do Juízo e somente desse modo pode ser cumprido o julgado.
Ainda mais, como alertado pelas normas técnicas, asseverado pela doutrina jurídica e
assentado na mais ampla jurisprudência, esta é a forma segura e adequada de auscultar
a verdadeira situação econômico-financeira da sociedade em qualquer momento.
O decisum tem o poder de irradiar-se por todo o âmbito objetivo do que foi decidido e,
também, por todo o espectro subjetivo envolvido, ou seja, àqueles que foram partes.
Deste modo ficam vinculados o juiz e o judiciário (função negativa da coisa julgada).
Não poderiam ter outra sorte os auxiliares do juízo, entre os quais se encontram os
peritos. Define o art. 139 do CPC que o perito judicial é órgão auxiliar do juízo, com
deveres determinados pelas normas de organização judiciária.
É dever do perito judicial empregar, para a consecução dos deveres que lhe são
atribuídos, toda a sua diligência, na qual se inclui a capacidade técnica de discernir entre
adequação ou não de caminhos metodológicos que deve seguir.
Todavia, e este é o ponto nodal deste caso, deve o perito restringir-se ao que foi
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Não pode o perito, jamais, sob qualquer fundamento, arvorar-se em órgão decisor, a
substituir a força do decidido pela sua vontade, ou mesmo pelo seu equivocado
desiderato. Sua função está, exclusivamente, adstrita ao julgado, de obediência à
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decisão, conforme já se notou na jurisprudência.
Nem mesmo ao juiz da liquidação é permitido rever a forma de cálculo, pois esta foi
pedida e concedida na decisão liquidanda.
A escolha de outro meio para o cálculo dos haveres do sócio retirante, nesse sítio e
desse modo, equivaleria a verdadeiro “novo julgamento de mérito” – se isso fosse
possível. Seria teratológico permitir-se ao perito que novamente “julgasse” mérito, na
medida em que se lhe facultasse calcular de modo diverso do modo expressamente
determinado, na sequência harmônica de decisões jurisdicionais.
“Uma vez apenas se vai tornar líquido o ilíquido, não seria possível pensar-se em
modificação ou qualquer aumento, ou decréscimo da sentença, transformando-se a ação
constitutiva integrativa, a despeito da coisa julgada formal, em embargos infringentes do
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julgado, ou algo semelhante à ação rescisória da sentença”.
Todavia, o que de bizarro contém este caso é que, sem o pedido da parte, na fase de
execução provisória, por iniciativa e ato do auxiliar do juízo (perito contador-oficial) é
que se chegou à “rescisão indireta” da decisão, e ofensa ao decidido, como resultado de
cálculo elaborado de modo diverso daquele determinado na referida sentença,
confirmada pelo acórdão.
Não se pode, contudo, confundir três patologias típicas dessa fase processual, que são:
(a) escolha equivocada de metodologia de cálculo; (b) erro material de cálculo e (c)
desrespeito ao comando sentencial.
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Assim foi perfeitamente demarcado pela jurisprudência do E. STJ.
Nesta hipótese, em que não há determinação expressa, o perito escolhe o caminho que
sua técnica recomenda.
Já o erro material de cálculo, assim como qualquer outro erro material (erro do nome de
partes, incorreções gramaticais) que não desafia frontalmente a decisão, é sanável e
pode ser corrigido a qualquer tempo, não se podendo nunca falar em trânsito em
julgado.
Há, nessa posição dos Tribunais, uma extensão do preceito contido no art. 463, I, do
CPC, que permite a correção de erros de cálculos e inexatidões materiais, mesmo sem
provocação das partes.
Nesse caso não há liberdade de forma ou caminho para o desenvolvimento dessa tarefa
auxiliar do juízo, sendo essa “forma” parte da decisão que não pode ser modificada
(salvo por ação rescisória), sob pena de infringi-la.
Ainda:
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sentença, sob pena de ofensa à coisa julgada”.
Com esse modus operandi, excluiu deliberadamente elementos que deviam e devem
integrar a apuração dos bens sociais, como forma de captar a verdadeira situação
patrimonial da sociedade, na data estabelecida.
Quando o juiz julgou procedente o pedido, como fora requerido, ficaram pré-traçados,
delineados na sentença, a margem para a atuação do perito e os limites substanciais do
resultado desse trabalho.
Pode-se dizer, com segurança, que aquilo que venha a confirmar-se na sentença de
liquidação estava já presente na decisão liquidanda. A essência lá estava,
originariamente.
Isto porque, na lide de liquidação, não impera com todo o seu poder o princípio
dispositivo e o princípio da demanda, arts. 2.º e 128 do CPC.
Mas esse atuar será sempre adstrito e em severa obediência ao já decidido limite da
atuação de todos.
Como observa com percuciência a doutrina, o direito positivo tem por desiderato, “adeq
uar o pedido de liquidação, aos limites reais e efetivos do que pode e deve ser liquidado,
evitando, com a sentença de liquidação, a possibilidade de haver desbordamento dos
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limites do julgado anterior”.
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Com o mesmo sentido, e com a mesma liberdade, mas sob outro fundamento, está o
juiz desvinculado do laudo do perito para vetar o “desborde” da decisão contida na
sentença e estabilizada pela coisa julgada, com base no princípio do livre
convencimento.
Do mesmo modo que o juiz está livre para julgar de modo diverso daquele “sugerido” na
perícia realizada no processo de conhecimento, aqui também, pelo mesmo
princípio-guia, pode desconsiderar a perícia que, neste caso, afronta a decisão original.
É o nosso parecer.
2 Dispositivo revogado pela Lei 11.232/2005; o conteúdo deste artigo foi, todavia,
reproduzido no art. 475-G do CPC, que integra a disciplina da fase de cumprimento de
sentença (antigo processo autônomo de execução).
3 Rubens Requião, Curso de direito comercial, 17. ed., São Paulo: Saraiva, 1986, vol. 1,
p. 357-358 n. 271. “Este, [o sócio] contrariado em seu interesse pela alteração da
sociedade, tem o direito de recesso, recebendo os seus haveres – capital e lucros
verificados no último balanço aprovado.
Se o balanço não tiver sido aprovado, se os valores contábeis do ativo, sobretudo do
imobilizado, forem desatualizados, de forma a empobrecer indevidamente o sócio
retirante, os tribunais têm entendido dever apurar-se esses haveres num balanço de
determinação, atualizando-se aquele ativo, de forma a proceder-se uma justa apuração
dos haveres.”
4 Fábio Ulhoa Coelho, Manual de direito comercial, 8. ed., São Paulo: Saraiva, 1997, p.
146, cap. 13, n. 4. “Para se aferir o valor patrimonial da cota do dissidente, deverá ser
levantado um balanço específico, denominado ‘balanço de determinação’, posto que o
balanço anual pode estar defasado, seja em favor do sócio, seja em favor da sociedade.
Para que não ocorra o enriquecimento ilícito de qualquer uma das partes, não poderá ser
adotado um levantamento contábil que eventualmente não corresponda à situação
patrimonial efetiva no momento da retirada.”
6 A coisa julgada, em razão de sua importância, encontra-se garantida até mesmo pela
própria Constituição Federal, que no art. 5.º, XXXVI, dispõe: “(…) a lei não prejudicará o
direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”, não podendo, assim, ser
atingida por lei posterior”.
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7 Ver nosso Manual de direito processual civil – Processo de conhecimento, 6. ed., São
Paulo: Ed. RT, vol. 2, p. 130, n. 47.
8 “A eficácia preclusiva da coisa julgada, como visto, é meio para se atingir um fim
último, que é o de resguardar a autoridade da coisa julgada material, como exigência de
ordem pública, estabilizando-se as relações jurídicas” (Eduardo Arruda Alvim, Curso de
direito processual civil, São Paulo: Ed. RT, 1999, vol. 1, p. 671).
9 Com a alteração implementada no caput do art. 463 do CPC pela Lei 11.232/2005, não
se alude mais ao exaurimento da função jurisdicional com a sentença – haja vista a
possibilidade de prosseguimento do processo na fase de cumprimento –, mas permanece
a vedação ao juiz de alterar a própria sentença, ressalvados os casos dispostos nos incs.
I e II, do art. 463 do CPC, bem como a hipótese acima referida, de indeferimento liminar
da inicial (arts. 296 e 297 do CPC). Acresce, ainda, o juízo de retratação atualmente
previsto no art. 285-A, § 1.º (sentença liminar de mérito), inserido no Código de
Processo Civil pela Lei 11.277/2006, que segue a lógica do disposto no referido art. 297
do CPC.
11 Cândido Rangel Dinamarco, Execução civil, 3. ed., São Paulo: Malheiros, 1993, p.
546, n. 375; Araken de Assis, Comentários ao código de processo civil, Rio de Janeiro:
Forense, 2000, vol. 6, p. 296, n. 130, art. 610.
13 Idem, p. 545.
14 ROMS 3.011/RS, 5.ª T., rel. Min. Gilson Dipp, DJ 31.05.1999, p. 154; REsp
201.137/AL, 5.ª T., rel. Min. Félix Fischer, DJ 28.06.1999, p. 143.
15 REsp 120.679/SP, 1.ª T., rel. Min. José Delgado, DJ 19.10.1998, p. 23.
“Processual civil. Embargos de declaração. Contradição ocasionada por erro material.
Correção a qualquer tempo. Provimento. Modificação conclusiva do acórdão. Efeito
modificativo. (…)
16 REsp 209.742/SP, 6.ª T., rel. Min. Vicente Leal, DJ 28.06.1999, p. 182.
17 REsp 209.742/SP, 6.ª T., rel. Min. Vicente Leal, DJ 28.06.1999, p. 182 (por
unanimidade).
18 REsp 159.592/RN (JRP\1998\1809), 6.ª T., rel. Min. Vicente Leal, DJ 14.06.1999, p.
239 (por unanimidade).
19 Antonio Carlos Matteis de Arruda, Liquidação de sentença, São Paulo: Ed. RT, 1981,
p. 90, parte II, 3, G.
20 Antonio Carlos Matteis de Arruda, op. cit., p. 79, parte 2, E, discorre amplamente
sobre a mitigação do princípio dispositivo.
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