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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2023.0000127735

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº


3006382-89.2022.8.26.0000, da Comarca de Santos, em que é agravante FAZENDA
PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO, é agravada CONDOMINIO EDIFICIO
MILAO.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 33ª Câmara de Direito


Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram
provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto da Relatora, que integra
este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores LUIZ EURICO


(Presidente) E SÁ DUARTE.

São Paulo, 24 de fevereiro de 2023.

ANA LUCIA ROMANHOLE MARTUCCI


Relatora
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Voto nº 30639
Agravo de Instrumento 3006382-89.2022.8.26.0000
Agravante: Fazenda Pública do Estado de São Paulo
Agravado: Condominio Edificio Milao
Interessados: Leopoldo Manoel Rodrigues Duarte, MARIA LUCIA DA
COSTA, INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS,
Procuradoria Seccional da União Em Santos, Agenor Rodrigues Duarte e
Estado de São Paulo
Comarca: Santos

Agravo de instrumento. Cumprimento de sentença.


Débitos condominiais. Decisão que indeferiu o
levantamento da penhora sobre o imóvel gerador
dos débitos condominiais. Alegação de
impenhorabilidade do bem público. Descabimento.
Decisão que não comporta reparo. Natureza propter
rem da obrigação. Possiblidade de penhora sobre o
próprio imóvel que gerou a dívida.
Impenhorabilidade não reconhecida. Decisão
mantida. Recurso não provido.

Trata-se de recurso de agravo de instrumento interposto contra a


respeitável decisão que, em cumprimento de sentença, indeferiu o pleito de
levantamento da penhora que recaiu sobre o imóvel gerador dos débitos
condominiais discutidos (fls. 577/579 dos autos em primeiro grau).

Agrava a Fazenda Pública do Estado de São Paulo. Sustenta, em


síntese, que, em se tratando de imóvel pertencente ao IPESP, impõe-se o
reconhecimento da impenhorabilidade por se tratar de bem público. Destaca que o
compromisso de compra e venda em relação ao imóvel não foi integralmente quitado,
de modo que o imóvel pertence ao Estado de São Paulo, sucessor do IPESP,
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impedindo a penhora. Ressalta que não houve transmissão da propriedade ao


adquirente, salientando que no máximo o que poderia ser penhorado pelo credor é o
direito aquisitivo do executado. Requer a concessão de efeito suspensivo (fls. 01/09).

O pedido liminar foi indeferido (fls. 14/15).

Houve resposta (fls. 20/23).

A Douta Procuradoria Geral de Justiça ofereceu parecer pelo não


provimento do recurso (fls. 460/463).

É o relatório.

O recurso não comporta provimento.

Cuida-se de ação de cobrança de despesas condominiais, ora em


fase de cumprimento de sentença, na qual fora determinada a penhora que recaiu
sobre o imóvel gerador do débito discutido.

Insurge-se a agravante contra a decisão que manteve a penhora


sobre o imóvel, sustentando que, embora compromissado à venda, o imóvel é de
propriedade do IPESP, sendo, portanto, impenhorável por se tratar de bem público.

Sem razão.

Com efeito, tratando-se as cotas condominiais de obrigação


propter rem, a penhora pode recair sobre o próprio bem gerador da dívida, que
responde com tal força pelos débitos pelo qual se vincula, independentemente do seu
valor ou até mesmo de cláusulas de impenhorabilidade, inalienabilidade, ou de tratar-
se de bem público, beneficiando a coletividade condominial em desfavor do devedor.

É dizer: a natureza propter rem da obrigação condominial é


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suficiente para autorizar a penhora sobre o imóvel que gerou a dívida, ainda que se
trate de bem público.

Nesse sentido:

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO


REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.
EMBARGOS DE TERCEIRO. IMÓVEL ADQUIRIDO
JUNTO AO IPESP. DESPESAS CONDOMINIAIS.
PENHORA. POSSIBILIDADE. 1. As despesas
condominiais são consideradas dívidas propter rem, de
modo que podem ensejar a penhora da unidade
autônoma devedora, não prevalecendo contra o
condomínio cláusulas de impenhorabilidade e
inalienabilidade em contratos celebrados com
terceiros. 2. Agravo regimental a que se nega
provimento. (AgRg no Resp 650570/SP, Rel. Min.
Maria Isabel Gallotti, 4ªTurma, j. 7.8.2012)

EMBARGOS DE TERCEIRO - EXECUÇÃO -


DESPESAS CONDOMINIAIS - PENHORA DE
IMÓVEL COMPROMISSADO À VENDA PELO IPESP
- POSSIBILIDADE. A responsabilidade pelas dívidas
condominiais tem caráter propter rem, descabendo a
alegada impenhorabilidade da unidade condominial
com base no Decreto- Lei 7379/45 e na Lei 8009/90.
RECURSO IMPROVIDO. (TJSP; Apelação Com
Revisão 9201649-87.2005.8.26.0000;
Relator: Emanuel Oliveira; Órgão Julgador: 34ª
Câmara do D.SÉTIMO Grupo (Ext. 2° TAC); Foro
Central Cível - 14ª V.CÍVEL; Data do Julgamento:
11/04/2007; Data de Registro: 25/04/2007)
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Embargos de terceiro. Despesas condominiais.


Penhora da unidade condominial. Alegação de
impenhorabilidade do bem público. Inadmissibilidade.
A natureza 'propter rem' da obrigação condominial é
suficiente para permitir a penhora sobre o próprio
imóvel que gerou a dívida, ainda que sobre ele recaia
impenhorabilidade legal ou voluntária. Recurso
desprovido. (TJSP; Apelação Cível
0077115-43.2013.8.26.0002; Relator: Pedro
Baccarat; Órgão Julgador: 36ª Câmara de Direito
Privado; Foro Regional II - Santo Amaro - 7ª Vara
Cível; Data do Julgamento: 22/05/2014; Data de
Registro: 22/05/2014)

Ante o exposto, nega-se provimento ao recurso

ANA LUCIA ROMANHOLE MARTUCCI


Relatora

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