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APELAÇÃO CÍVEL N. 157967.07.2015.8.09.

0051 (PROJUDI)
COMARCA DE GOIÂNIA (9ª Vara Cível)
1ª APELANTE : CONSTRUTORA DA VINCI LTDA.
2os APELANTES : AFONSO VILLELA BONILLO FILHO e OUTRA
APELADA : MARIA JOSÉ ALVES RIBEIRO PIMENTA
RECURSO ADESIVO
RECORRENTE : MARIA JOSÉ ALVES RIBEIRO PIMENTA
RECORRIDOS : CONSTRUTORA DA VINCI LTDA. e OUTROS
RELATOR : DES. ZACARIAS NEVES COÊLHO

VOTO

Presentes os correspondentes pressupostos de admissibilidade, conheço dos


três recursos.

Consoante relatado, trata-se de dupla apelação cível e de recurso adesivo


interpostos da sentença vista no Evento 30, pela qual foi julgada procedente a
pretensão exordial, para declarar em favor da autora/apelada a aquisição, por
usucapião, do domínio dos imóveis identificados nos autos.

PRELIMINAR 1: ilegitimidade passiva ad causam da 1ª apelante e


os
legitimidade passiva ad causam dos 2 apelantes

Em proêmio, valendo-se da mesma premissa fática, a anterior compra e


venda do imóvel debatido nos autos, a 1ª apelante/vendedora sustenta não poder
os
figurar no polo passivo da ação, pois ali devem constar somente os nomes dos 2
apelantes/adquirentes, que no seu recurso desenvolvem pedido correlato.

A respeito, ensina a doutrina que:

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“Legitimidade ad causam é qualidade para estar em juízo, como
demandante ou demandado, em relação a determinado conflito trazido
ao exame do juiz. Ela depende sempre de uma necessária relação
entre o sujeito e a causa, e traduz-se na relevância que o resultado
desta virá a ter sobre sua esfera de direitos, seja para favorecê-la ou
para restringi-la. Sempre que a procedência de uma demanda seja
apta a melhorar o patrimônio ou a vida do autor, ele será parte
legítima; sempre que ela for apta a atuar sobre a vida ou patrimônio do
réu, também esse será parte legítima. Daí conceituar-se essa condição
da ação como relação de legítima adequação entre o sujeito e a
causa.” (DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito
processual civil. 4. ed. São Paulo: Malheiros, 2007. v. 2. p. 306).

Quanto à causa, acima referida, pontua o Superior Tribunal de Justiça sobre o


objeto aqui debatido que “(…) A usucapião é forma originária de aquisição da propriedade (art.
1.238 do Código Civil) e, por conseguinte, desde o momento em que implementadas as suas
condições, implica a perda para o então proprietário constante no registro imobiliário do direito à
fruição dos poderes inerentes ao domínio (uso, gozo e disposição – art. 1.228 do Código Civil), de
modo que não é possível impor a esse, que figura apenas como antigo dono, a sujeição passiva
do IPTU. (…).” (STJ, 1ª Turma, REsp n. 1490106/PR, Rel. Min. Gurgel de Faria, DJe de
24-5-2019).

Destarte, a legitimidade da parte requerida será auferida segundo a suposta


qualidade de titular do direito pretendido. Nesse toar, a jurisprudência pátria reconhece
como legitimado, no polo passivo das ações de usucapião, aquele em cujo nome
esteja registrado o imóvel. Nesse sentido:

“APELAÇÃO CÍVEL. USUCAPIÃO. (…) 1. A pretensão de aquisição da


propriedade por meio da usucapião somente pode ser exercida contra
quem a detêm formalmente, ou seja, aquele em cujo nome estiver
registrado o imóvel usucapiendo. (…).” (TJGO, 2ª Câmara Cível, AC n.
2804.39.2016.8.09.0038, Rel. Des. Leobino Valente Chaves, DJe de
22-4-2019).

In casu, como visto, assenta-se a alegação de ilegitimidade passiva da 1ª


apelante na premissa de que os lotes objeto da ação de usucapião não lhe pertencem,
posto que foram vendidos a terceiros (2os apelantes), sem, contudo, a providência do
registro.

De igual modo, baliza-se a defesa da legitimidade passiva ad causam dos 2os


apelantes na circunstância de que adquiriram da 1ª apelante os imóveis em debate,
ainda que os instrumentos contratuais correspondentes não tenham sido levados a
registro no Cartório de Registro de Imóveis.

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Ocorre que justamente por conta de tal omissão, resta inviabilizado o
acolhimento dessas teses recursais, afinal, os compromissos particulares de compra e
venda apresentados no Evento 3, anexo 22, conquanto válidos entre as partes
contratantes, são inoponíveis a terceiros, remanescendo, portanto, com eficácia erga
omnes, a indicação constante no registro imobiliário, dando conta de que a
CONTRUTORA DA VINCI LTDA. é proprietária dos lotes 20, 21, 22 e 23 da quadra 37
da Rua Nossa Senhora do Carmo, no loteamento denominado Acréscimo do Parque
das Laranjeiras, nesta Capital (Evento 3, anexo 3, p. 22/25). A respeito:

“DIREITO DAS COISAS. RECURSO ESPECIAL. USUCAPIÃO.


IMÓVEL OBJETO DE PROMESSA DE COMPRA E VENDA. (…)
INEXISTÊNCIA DE RESISTÊNCIA À POSSE DO AUTOR
USUCAPIENTE. HIPOTECA CONSTITUÍDA PELO VENDEDOR EM
GARANTIA DO FINANCIAMENTO DA OBRA. NÃO PREVALÊNCIA
DIANTE DA AQUISIÇÃO ORIGINÁRIA DA PROPRIEDADE. (…) 4. A
declaração de usucapião é forma de aquisição originária da
propriedade ou de outros direitos reais, modo que se opõe à aquisição
derivada, a qual se opera mediante a sucessão da propriedade, seja
de forma singular, seja de forma universal. Vale dizer que, na
usucapião, a propriedade não é adquirida do anterior proprietário, mas,
em boa verdade, contra ele. A propriedade é absolutamente nova e
não nasce da antiga. É adquirida a partir da objetiva situação de fato
consubstanciada na posse ad usucapionem pelo interregno temporal
exigido por lei. Aliás, é até mesmo desimportante que existisse antigo
proprietário. (…).” (STJ, 4ª Câmara Cível, REsp n. 941464/SC, Rel.
Min. Luis Felipe Salomão, DJe de 29-6-2012).

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE USUCAPIÃO. ILEGITIMIDADE


PASSIVA E IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO. IMÓVEL
DOADO (…) AUSÊNCIA DE PROVA. (…) 1. A Escritura Pública de
Doação representa existência de título translativo de propriedade,
válida entre as partes ali indicadas. Ausente o registro, na matrícula do
imóvel, não houve transferência efetivada, sendo que os primitivos
doadores continuam sendo proprietários do bem e estão legitimados
para responderem a ação, mostrando-se o pedido de reconhecimento
de usucapião extraordinária, juridicamente possível. (…).” (TJGO, 5ª
Câmara Cível, AC n. 148919.97.2010.8.09.0051, Rel. Des. Francisco
Vildon José Valente, DJe de 12-11-2018).

Assim, não há falar em ilegitimidade passiva ad causam da 1ª apelante,


tampouco em legitimidade passiva dos 2os apelantes.

PRELIMINAR 2: suspensão do fluxo do prazo da prescrição aquisitiva

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Novamente valendo-se de argumentos correlatos, a 1ª apelante e os 2os
apelantes defendem que como eram os adquirentes, ao tempo da compra e venda,
menores (absolutamente incapazes – CC, art. 3º), contra eles não correu a prescrição
enquanto perdurou a menoridade (cf. CC, art. 198, I).

Nada obstante, tal circunstância, como anotam os próprios insurgentes, é


acessório do pleito acima (principal), que uma vez rejeitado, conduz a idêntico destinto
a pretensão subsidiária.

Explico. Como o intento de ver reconhecido o sobrestamento do fluxo do


prazo da prescrição aquisitiva depende, antes, do reconhecimento da legitimidade
passiva ad causam dos 2os apelantes, o afastamento dessa circunstância (tendo em
vista não figurarem no registro imobiliário como proprietários dos imóveis), conduz
inevitavelmente à inviabilidade do segundo.

PRELIMINAR 3: ilegitimidade ativa ad causam da autora

Em derradeira prejudicial, aduz a 1ª apelante que a autora carece de


legitimidade ativa na espécie porque a ocupação da edificação realizada em um dos
lotes foi realizado por terceiro (cunhado dela).

Tal assertiva, contudo, ostenta evidente conotação meritória, motivo por que
nessa condição será adiante analisada.

MÉRITO: não preenchimento dos requisitos necessários ao usucapião

Balizados, primordialmente, em incongruências que apontam entre as


informações constantes na exordial e aquelas colhidas no curso da instrução,
notadamente a partir da produção da prova oral, a 1ª e os 2os apelantes pedem seja
promovida a inversão do julgado.

Ocorre que tais “incongruências”, ao contrário do que se sugere, não são


perceptíveis a partir da cuidadosa análise do substrato fático probatório.

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A mais relevante, segundo os recursantes, seria a discrepância entre as datas
informadas de construção do muro, se em 1993 ou em 1999, como se esse fosse o
parâmetro único de caracterização da posse usucapionem.

De todo modo, restou evidenciado, a partir do cômputo da prova documental


(Evento 3, anexo 3) com a prova oral (Evento 4), que 1993 foi o ano do início da
ocupação dos quatro lotes pela autora/apelada, que ali deu início ao cultivo de plantas
com finalidade comercial (viveiro de mudas e plantas), promovendo a instalação de
cerca de arame nas divisas correspondentes, mas depois de alguns anos, diante do
furto dos arames e dos próprios postes de sustentação da cerca, foi ela substituída por
muro que no local construiu, fechando todos os lotes em cotejo, seguindo-se a
construção de uma casa, onde residia o cunhado da recorrida (Pedro Pereira
Pimenta), que cuidava da plantação, e de um barracão, de apoio à atividade de cultivo.

Particularmente, quanto à circunstância de na casa residir interposta pessoa,


trata-se de informação de somenos importância na espécie, tendo em vista a
sobejante demonstração de que a posse global dos lotes era exercida pela
autora/recorrida, que apenas cedeu em comodato o direito de residência no local ao
cunhado, que ali auxiliava na atividade de cultivo, tratando-se, portanto, de ato de
mera tolerância.

Igualmente írrito ao resultado ora discutido foi a juntada da documentação


alusiva ao registro de boletim de ocorrência policial por esbulho possessório, realizado
em 15-4-2005, pois nenhum comprovante foi trazido que acerca de seu teor foi
cientificada a autora/apelada (Evento 3, anexo 22, p. 36/37).

O único evento materializador de oposição ao exercício possessório pela


autora/recorrida sobreveio apenas em 29-8-2013, quando foi proposta em seu
desfavor ação de reintegração de posse (processo n. 201303085652), a qual restou
julgada improcedente.

A esse tempo, porém, a propriedade dos imóveis em cotejo já havia sido


originariamente adquirida pela autora/apelada por força da consumação da prescrição
consumativa da usucapião.

Isso porque, como cediço, dispunha o artigo 550 do Código Civil/1916 (já
revogado), que “Aquele que, por vinte anos sem interrupção, nem oposição, possuir como seu,
um imóvel, adquirir-lhe-á o domínio independentemente de título de boa fé que, em tal caso, se
presume, podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual lhe servirá de título
para a transcrição no registro de imóveis.”

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A seu turno, previa o artigo 551 daquele mesmo diploma que “Adquire também
o domínio do imóvel aquele que, por dez anos entre presentes, ou quinze entre ausentes, o
possuir como seu, contínua e incontestadamente, com justo título e boa fé.”

A citação de artigos do Código revogado justifica-se em razão do disposto no


artigo 2.028 do vigente Código Civil, que estabelece serem os da lei anterior os prazos
reduzidos pelo Código atual, quando na data de sua entrada em vigor já houver
transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada, o que, em tese,
ocorre no presente caso.

Ocorre que como se confere pelo artigo 1.238 do atual Código Civil, o prazo
para a usucapião ordinário foi reduzido para quinze anos, enquanto o lapso para a
usucapião extraordinário, nos casos em que o possuidor houver estabelecido no
imóvel sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo,
é reduzido a dez anos, considerando-se, contudo, a regra especial de aumento de dois
anos desse prazo, nos termos do disposto no art. 2.029 do CC/2002, assim:

“Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem
oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade,
independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que
assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no
Cartório de Registro de Imóveis.

Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez


anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia
habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo. (…)

Art. 2.028. Serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por


este Código, e se, na data de sua entrada em vigor, já houver
transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada.

Art. 2.029. Até dois anos após a entrada em vigor deste Código, os
prazos estabelecidos no parágrafo único do art. 1.238 e no parágrafo
único do art. 1.242 serão acrescidos de dois anos, qualquer que seja o
tempo transcorrido na vigência do anterior, Lei nº 3.071, de 1º de
janeiro de 1916.” (Código Civil de 2002).

In casu, como antecipado, a parte autora/apelada, comprovadamente, iniciou

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o exercício possessório com animus domini em 1993, realizando nos imóveis atividade
produtiva (“posse-trabalho”), de forma que, com o acréscimo de dois anos ao prazo
disciplinado no parágrafo único do artigo 1.238 do CC/2002 (10a. + 2a. = 12 a.), em
2005 operou-se a consumação da prescrição aquisitiva pela usucapião, muito antes,
portanto, da propositura da presente ação (6-5-2015) ou mesmo da formalização de
oposição à posse da autora pelos adquirentes por meio da propositura da
retromencionada ação de reintegração de posse (2os apelantes - 29-8-2013).

Sobre o tema:

“RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. USUCAPIÃO


EXTRAORDINÁRIA COM POSSE QUALIFICADA PELA MORADIA.
DIREITO INTERTEMPORAL. REGRA DE TRANSIÇÃO APLICÁVEL.
APLICAÇÃO IMEDIATA DO ART. 1.238, PARÁGRAFO ÚNICO, DO
CÓDIGO CIVIL DE 2002. INCIDÊNCIA DO ART. 2.029 E NÃO DO
ART. 2.028 DO CCB. 1. Controvérsia em torno da incidência da regra
de transição do art. 2.028 do Código Civil às hipóteses de usucapião
extraordinária ou ordinária, qualificadas pela moradia ou pelo trabalho,
disciplinadas nos parágrafos únicos dos arts. 1.238 e 1.242 do CCB. 2.
À usucapião extraordinária qualificada pela ‘posse-trabalho’, prevista
no parágrafo único do art. 1.238 do Código Civil de 2002 (o mesmo
ocorrendo com a usucapião ordinária qualificada pela posse trabalho
do parágrafo único do art. 1.242 do CCB), a regra de transição
aplicável não é a prevista no art. 2.028 (regra geral), mas aquela
especificamente prescrita no art. 2.029 do CCB. Precedentes da 3ª e
4ª Turmas. 3. Tendo em vista o caráter social da propriedade, quis o
legislador, com a regra de transição específica, estabelecer imediata
aplicabilidade ao parágrafo único do art. 1.238 do CC/02, que reduzira
sobremaneira o período de posse ‘ad usucapionem’, determinando que
se considere para o cômputo do prazo legal qualquer período ocorrido
na vigência do CC/16. 4. Necessário, apenas, para evitar surpresas
aos proprietários dos imóveis observar o acréscimo de dois anos ao
decênio, nos dois primeiros anos contados da entrada em vigor do
Código Civil de 2002. 5. Caso concreto em que o autor teve no mínimo
16 anos de posse mansa, contínua e pacífica, tendo
incontroversamente firmado residência no imóvel, razão da
procedência do pedido formulado na ação de usucapião. 6. RECURSO
ESPECIAL PARCIALMENTE CONHECIDO E PROVIDO.” (STJ, 3ª
Turma, REsp n. 1253767/PR, Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJe
de 26-2-2016).

“CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE USUCAPIÃO


EXTRAORDINÁRIA. REQUISITOS. DISCUSSÃO RESTRITA À
NATUREZA DA POSSE. (…) OPOSIÇÃO. NÃO DEMONSTRAÇÃO.
EXERCÍCIO COM ÂNIMO DE DONO EXTERIORIZADO. AQUISIÇÃO
DO DOMÍNIO PELA PRESCRIÇÃO AQUISITIVA. 1. O fato de o
proprietário do imóvel ter celebrado negócio com instituição financeira

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e dado o bem em garantia, depois baixada, não configura verdadeira
oposição à posse exercida por terceiros que nenhuma relação têm
com aquele negócio, já que não foi adotada nenhuma providência hábil
a interromper o lapso prescricional hábil a autorizar o reconhecimento
da aquisição do domínio pela usucapião. 2. Exerce a posse com ânimo
de dono aquele que passa a residir no imóvel por autorização de quem
acreditava ser o dono e com a promessa de que o bem lhe seria
doado, passando a pagar os respectivos impostos, a conservar as
respectivas benfeitorias, ali recebendo correspondências particulares,
tudo por mais de vinte anos, sem ser molestado por quem quer que
seja. A exteriorização da posse reforça que ela é exercida com ânimo
de dono. 3. Preenchidos os requisitos legais, deve-se reconhecer a
aquisição do domínio pela usucapião. (…).” (STJ, 3ª Turma, REsp n.
1253767/PR, Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJe de 26-2-2016).

Estribado nesses precedentes e atento ao cotejo analítico dos fatos descritos


no caderno processual, constato a correção da sentença pela qual se julgou
procedente a pretensão inicial de usucapião.

DA LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ

Superado o intento recursal de inversão do julgado (1ª e 2ª apelações), resta


o pedido de condenação por litigância de má-fé, que a apelada, nas contrarrazões
(Evento 41, anexo 1), formulou com relação à 1ª apelante.

Nada obstante, deixo de conhecer desse pedido formulado em razão da


inadequação da via eleita, posto que não foi objeto de decisão anterior na instância de
piso (cf. TJGO, Súmula 27).

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS SUCUMBENCIAIS

Finalmente, constitui objeto único do recurso adesivo (Evento 42) a pretensão


de ver majorada a condenação sucumbencial, mediante a correção do critério de
cálculo adotado, pois, segundo a autora/recorrente adesiva, não teria cabimento, na
espécie, a fixação por apreciação equitativa.

Sem delongas, tem razão a recorrente adesiva, afinal, é de clareza solar a

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regra processual preconizada no art. 85, § 2º, do Código de Processo Civil, segundo a
qual “Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez e o máximo de vinte por cento sobre o
valor da condenação, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o
valor atualizado da causa...”.

Daí que, para a fixação fora desses limites, vale dizer, por meio da apreciação
equitativa, seria necessária a caracterização de circunstâncias não verificadas na
espécie. A respeito:

“APELAÇÃO CÍVEL. (…) HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. 1. No caso,


houve divergência em relação aos honorários advocatícios, mantendo.
2. Entende-se como correto fixar a verba honorária, no mínimo legal de
10% (dez por cento) sobre o valor da causa, trilhando o entendimento
que aplica o valor equitativo, apenas, na majoração de verba honorária
em valor irrisório, conf. intelecção expressa do § 8º do art. 85 do CPC e
o Enunciado nº 06 da I Jornada de Direito Processual Civil do CJF: ‘a
fixação dos honorários de sucumbência por apreciação equitativa só é
cabível nas hipóteses previstas no § 8º do art. 85 do CPC.’; 3. A regra
é clara no art. 85, § 2º, do CPC, na definição dos parâmetros mínimos
e máximos de percentual e da indicação da base de cálculo para
apuração do quantum de honorários: ‘Os honorários são fixados entre
o mínimo de dez e o máximo de vinte por cento sobre o valor da
condenação, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível
mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa (…)’. 4. Concluindo,
mister ressaltar que, por ora, verifica-se que a regra para a aplicação
da verba honorária é o percentual entre 10% a 20%, podendo haver
mudança desse patamar, em valor equitativo, quando ocorrer valor
irrisório. Situação não evidenciada, neste. Apelo conhecido e
desprovido.” (TJGO, 5ª Câmara Cível, AC n.
5448028.39.2017.8.09.0093, Rel. Des. Alan Sebastião de Sena
Conceição, Red. Des. Olavo Junqueira de Andrade, DJe de 15-10-
2019).

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA DE


IMÓVEL URBANO. (…) REQUISITOS PREENCHIDOS. AQUISIÇÃO
DA PROPRIEDADE. FORMA DE FIXAÇÃO DOS HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. REFORMA. (…) 2. Constatado que (…) restam
preenchidos os requisitos estabelecidos no artigo 1.238 e seu
parágrafo único do CC/02, necessários para a configuração da
usucapião extraordinária. (…) 4. O julgador a quo deve se limitar a
observar os critérios estabelecidos no § 2º do artigo 85 do CPC,
devendo o valor da causa ser utilizado como parâmetro para fixação
dos honorários advocatícios, vez que não inserida a hipótese naquelas
arroladas pelo §8º do mesmo diploma legal. APELO CONHECIDO
PARCIALMENTE E, NESTA PARTE, DESPROVIDO. RECURSO
ADESIVO CONHECIDO E PROVIDO.” (TJGO, 3ª Câmara Cível, AC n.
273200.21.2015.8.09.0126, Rel. Des. Itamar de Lima, DJe de 6-11-

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Portanto, devem os honorários advocatícios sucumbenciais ser retificados


para o estabelecimento do percentual mínimo legal, de 10% montante que se mostra
suficiente e razoável, adequado às peculiaridades da causa, valor que adito de 2% à
conta do manejo recursal (CPC, art. 85, § 11), tornando-o definitivo dem 12% do valor
atualizado da causa.

Ao teor de todo o exposto, nego provimento às apelações cíveis e dou


provimento ao recurso adesivo, para retificar o critério de arbitramento dos
honorários advocatícios sucumbenciais, nos moldes acima, mantida, de resto, por seus
jurídicos termos, a sentença objurgada.

É como voto.

Goiânia, 04 de fevereiro de 2020.

DES. ZACARIAS NEVES COÊLHO


Relator

RS

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RECORRIDOS : CONSTRUTORA DA VINCI LTDA. e OUTROS
RELATOR : DES. ZACARIAS NEVES COÊLHO

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE USUCAPIÃO.


IMÓVEIS OBJETO DE ANTERIOR CONTRATO DE COMPRA
E VENDA NÃO REGISTRADO NO CARTÓRIO DE REGISTRO
DE IMÓVEIS. LEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM
DAQUELE QUE FIGURA NO REGISTRO COMO
PROPRIETÁRIO. MENORIDADE DOS ADQUIRENTES.
SUSPENSÃO DO CURSO DO PRAZO DA PRESCRIÇÃO
AQUISITIVA. NÃO VERIFICAÇÃO. CASUÍSTICA.
USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA COM POSSE
QUALIFICADA PELO CARÁTER PRODUTIVO. DIREITO
INTERTEMPORAL. REGRA DE TRANSIÇÃO APLICÁVEL.
APLICAÇÃO IMEDIATA DO ART. 1.238, PARÁGRAFO ÚNICO,
DO CÓDIGO CIVIL DE 2002. PRESCRIÇÃO AQUISITIVA
CONFIGURADA. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. CONDENAÇÃO
REQUERIDA EM CONTRARRAZÕES. INADEQUAÇÃO DA VIA
ELEITA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. RETIFICAÇÃO
NECESSÁRIA. 1. A pretensão de aquisição da propriedade por
meio da usucapião somente pode ser exercida contra quem a
detém formalmente, ou seja, aquele em cujo nome estiver
registrado o imóvel usucapiendo. Precedentes. 2. Tendo em
vista que o contrato de compra e venda jamais foi levado a
registro, não possuem os adquirentes legitimidade passiva ad
causam para figurar no polo passivo da ação de usucapião, não
se aplicando na espécie, por consequência, a suspensão do
prazo da prescrição aquisitiva, decorrente da menoridade
desses terceiros. 3. À usucapião extraordinária qualificada pela
‘posse-trabalho’, prevista no parágrafo único do art. 1.238 do
Código Civil de 2002, a regra de transição aplicável não é a
geral, prevista no art. 2.028, mas aquela especificamente
prescrita no art. 2.029 daquele codex. Precedentes do Superior
Tribunal de Justiça. 4. Tendo em vista o caráter social da
propriedade, quis o legislador, com a regra de transição
específica, estabelecer imediata aplicabilidade ao parágrafo
único do art. 1.238 do CC/02, que reduzira sobremaneira o
período de posse ad usucapionem, determinando que se
considere para o cômputo do prazo legal qualquer período
ocorrido na vigência do CC/16, observado, nos dois primeiros
anos contados da entrada em vigor do CC/2002, o acréscimo
de dois anos ao decênio, medida justificável para evitar
surpresas ao proprietário dos imóveis. 5. In casu, foi
comprovado que a autora/apelada iniciou o exercício
possessório com animus domini em 1993, realizando nos
imóveis atividade produtiva (“posse-trabalho”), de forma que,
com o acréscimo de dois anos ao prazo disciplinado no
parágrafo único do artigo 1.238 do CC/2002, em 2005 operou-

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se a consumação da prescrição aquisitiva pela usucapião. 6.
Não merece ser conhecido o pedido de condenação da parte
contrária por litigância de má-fé quando não foi objeto de
decisão anterior à sentença, ante a inadequação da via eleita.
Inteligência da Súmula 27 desta Corte Estadual. 7. A regra para
a aplicação da verba honorária é o percentual entre 10% e
20%, podendo haver mudança desse critério (pelo do valor
equitativo) somente quando ocorrer valor irrisório, situação não
evidenciada neste feito. Inteligência do art. 85, §§ 2º e 8º, do
CPC. Apelações cíveis desprovidas. Recurso adesivo
provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os integrantes da 2ª


Turma Julgadora da 2ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás,
POR UNANIMIDADE DE VOTOS, EM CONHECER DE TODOS OS RECURSOS,
NEGAR PROVIMENTO ÀS APELAÇÕES CÍVEIS E DAR PROVIMENTO AO
RECURSO ADESIVO, nos termos do voto do RELATOR.

VOTARAM com o RELATOR, os Desem-bargadores CARLOS ALBERTO


FRANÇA e AMARAL WILSON DE OLIVEIRA, que presidiu a sessão.

PRESENTE o Procurador de Justiça, Dr. JOSÉ CARLOS MENDONÇA.

Custas de lei.

Goiânia, 04 de fevereiro de 2020.

DES. ZACARIAS NEVES COÊLHO


Relator

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