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Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão

PJe - Processo Judicial Eletrônico

25/03/2024

Número: 0804474-39.2023.8.10.0060
Classe: IMISSÃO NA POSSE
Órgão julgador: 1ª Vara Cível de Timon
Última distribuição : 13/05/2023
Valor da causa: R$ 18.000,00
Assuntos: Imissão, Imissão na Posse, Liminar
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes
Procurador/Terceiro vinculado JONAS IVO BEZERRA (AUTOR)
JONAS IVO BEZERRA (AUTOR) RODRIGO EMANUEL RABELO DOS SANTOS PEREIRA
(ADVOGADO)
CLERISMAR ROCHA CARVALHO (REU) CLERISMAR ROCHA CARVALHO (REU)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
11509 21/03/2024 09:01 Sentença Sentença
5688
JUÍZO DA 1ª VARA CÍVEL DE TIMON

IMISSÃO NA POSSE (113)

PROCESSO: 0804474-39.2023.8.10.0060

AUTOR: JONAS IVO BEZERRA

Advogado do(a) AUTOR: RODRIGO EMANUEL RABELO DOS SANTOS PEREIRA - DF48444

REU: CLERISMAR ROCHA CARVALHO

Advogado do(a) REU: ERNIVALDO OLIVEIRA DE AZEVEDO SILVA - PI9454-A

SENTENÇA

JONAS IVO BEZERRA, devidamente qualificado nos autos, ingressou perante este juízo com a
presente AÇÃO DE IMISSÃO DE POSSE COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA em desfavor
de CLERISMAR ROCHA CARVALHO, também qualificada, alegando, em síntese, que adquiriu o
imóvel por meio de venda online junto à Caixa Econômica Federal, sendo este situado à Rua 18,
quadra 40, lote 01, nº 369, Bairro Boa vista, Timon/MA - CEP: 65.630-000.

Informa que, muito embora tenha notificado a demandada, foi impedido pela parte requerida de
adentrar no imóvel. Requer a concessão de tutela de urgência e a determinação para a parte
demandada desocupar o imóvel e ser imitido na posse em caráter definitivo, além de aluguel de
1% sobre o valor do imóvel ocupado, tendo como marco inicial a consolidação do imóvel e final a
data da desocupação.

A peça vestibular veio instruída com os documentos.

Determinada a comprovação dos requisitos legais da gratuidade da justiça, ID 92213830.

Manifestação da parte autora em ID 93700018, requerendo, entre outras coisas, a juntada do


comprovante de pagamento da primeira parcela de custas processuais iniciais. E em petição de
ID 9535485 informa o pagamento integral das custas.

Decisão de ID 95694939, deferindo a tutela de urgência pleiteada, sendo designada audiência de


conciliação.

Não foi possível a composição amigável da lide, ID 101486010.

Contestação apresentada pela demandada, em ID 103200863.

Em ID 103877166, certidão do Oficial de Justiça, informando que deixou de proceder com o


cumprimento do mandado, vez que a requerida não permitiu, ao passo em que requereu apoio
policial para cumprimento do mandado.

O autor apresentou réplica à contestação, em ID 104585361.

Intimadas as partes para indicarem a este juízo, de maneira clara e objetiva, as questões de fato
e de direito que entendem pertinentes ao julgamento da lide, bem como especificar as provas que
pretendem produzir, justifi-cando sua necessidade, apenas a parte autora se manifestou,
requerendo o julgamento antecipado da lide (ID 106163095).

Número do documento: 24032010342203900000106920040


https://pje.tjma.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=24032010342203900000106920040
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Em ID 113058540, juntada de procuração do advogado da parte demandada regularizando a
habilitação.

É O RELATÓRIO. PASSO À FUNDAMENTAÇÃO.

Não havendo questões processuais pendentes, passo ao exame do mérito.

Nas ações de imissão de posse se busca o resguardo do direito material, que deve ser amparado
em documento hábil. Com efeito, a natureza jurídica da presente ação é petitória, tendo como
objetivo principal conferir posse, ou seja, é destinada à aquisição da posse por quem ainda não a
obteve.

Nesse sentido, a ação de imissão deve ser movida pela parte que objetiva receber o domínio do
imóvel contra quem tem a obrigação de lhe transmitir a posse, ou seja, aquele que exerce a
posse de forma indevida.

O direito à propriedade, erigido ao patamar constitucional (art. 5°, XXII, CF), é o mais amplo e
complexo do rol dos direitos reais sobre a coisa, compreendido pelas faculdades reais de usar,
gozar, fruir, dispor, bem como reivindicá-la de quem injustamente a possua ou detenha, segundo
a sua função social.

Além disso, o Código Civil garante ao proprietário de um bem o direito ao seu uso e gozo,
vejamos:

Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la
do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha.

No presente caso, o imóvel objeto da presente demanda foi adquirido pelo autor, por meio do
CONTRATO DE COMPRA E VENDA (online) celebrado com a CAIXA ECONÔMICA FEDERAL,
referente ao imóvel de matrícula nº 29678.2.0014706-49, às fls. 06, do Livro 02-AX, contrato de
compra e venda fls. 159-160, livro de notas n. 158, do Cartório do 1º Ofício Extrajudicial desta
Comarca, tudo conforme documentação juntada na inicial (ID 92166381).

Por conseguinte, tem o titular do registro do imóvel o direito de reaver o bem em face daqueles
que injustamente o possua, decorrente de lesão a direito subjetivo que lhe assiste (art. 1.228,
CC).

Regularmente citada, a demandada, atual possuidora do imóvel, para se manifestar nos autos,
esta contestou a demanda argumentando apenas que no registro na Matrícula do Imóvel não
mostra valores, o que afirma pressupor fraude. Ainda, aduz que agiu de boa-fé, tal qual zelou
pelo bem durante todos esses anos, sendo que nunca houve interrupção e nem oposição de
ninguém e, por motivos de força maior, enfrentou algumas dificuldades e deixou de pagar as
parcelas, mas que tem direito à moradia.

Ocorre que, em que pesem as alegações aduzidas pela parte demandada, destaca-se, carecem
de amparo legal, ficou evidenciado nos autos que a requerida realizou um contrato de alienação
fiduciária com a Caixa Econômica Federal, contudo se tornou inadimplente sobre a alienação
fiduciária, o que ocasionou posteriormente a consolidação da propriedade pela Instituição
Financeira, em 02.01.2017.

O autor adquiriu o imóvel objeto da lide, em procedimento de venda online, tornando-se o legítimo
proprietário do imóvel (ID 92166381).

Conforme determina o Código de Processo Civil, nas ações possessórias se faz necessário o
preenchimento dos seguintes requisitos, vejamos:

Número do documento: 24032010342203900000106920040


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Art. 561. Incumbe ao autor provar:

I - a sua posse;

II - a turbação ou o esbulho praticado pelo réu;

III - a data da turbação ou do esbulho;

IV - a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção, ou a perda da posse, na


ação de reintegração.

No caso dos autos, NÃO EXISTE PROVA QUE JUSTIFIQUE A PERMANÊNCIA da demandada
no domínio do imóvel objeto da presente ação, UMA VEZ QUE NÃO É PROPRIETÁRIA DO
IMÓVEL. Ademais, a parte demandada não provou nos autos qualquer direito sobre o bem.

A ação de imissão de posse tem natureza petitória, protegendo o direito à posse do titular do
domínio, que jamais a exerceu, com base no direito de sequela previsto no art. 1.228 do Código
Civil.

O caso concreto retrata situação em que o comprador-mutuário não paga o financiamento do


imóvel, dando azo à instauração do processo de retomada pelo agente financeiro, através da
execução extrajudicial prevista na Lei 9.514/97, no art. 26, a saber:

" Vencida e não paga, no todo ou em parte, a dívida e constituído em mora o fiduciante,
consolidar- se-á, nos termos deste artigo, a propriedade do imóvel em nome do fiduciário. "

A recusa do inadimplente em sair do imóvel causa prejuízo direto ao novo adquirente, ora
demandante, terceiro de boa-fé, que, após ter depositado suas economias na aquisição do
imóvel, fica injustamente impedido de usufruir do bem.

A parte demandante tem título aquisitivo de propriedade que lhe garante o direito de ser imitido na
posse do bem descrito na inicial, restando demonstrada a posse injusta por parte do demandado,
por ter sido considerado válida a venda extrajudicial do citado bem.

A jurisprudência aponta que:

POSSE. BENS IMÓVEIS. AÇÃO DE IMISSÃO DE POSSE.IMISSÃO DE POSSE. REQUISITOS.


A ação de imissão de posse é ação de natureza real e petitória em que amparado por justo título
de propriedade o autor pretende a imissão na posse do bem adquirido. ? Circunstância dos autos
em que presente os requisitos e se impõe manter a sentença de procedência da ação.RECURSO
DESPROVIDO.(Apelação Cível, Nº 70083609768, Décima Oitava Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: João Moreno Pomar, Julgado em: 29-01-2020)

IMISSÃO DE POSSE Procedência - Aquisição do imóvel pelos autores, através de


financiamento pela CEF(contemplação junto ao programa 'Minha Casa, Minha Vida') -
Imissão de posse como consequência da referida aquisição. Cabível o ajuizamento de
ação de imissão de posse visando a outorga da posse direta do bem em favor dos apelados
Apelantes que ocupam o bem de forma injustificada Inscrição junto ao referido programa
habitacional sem a devida contemplação e sem qualquer relação com o imóvel que
ocupam, portanto, de forma irregular Procedência mantida Recurso improvido (TJSP, Apelação
Cível nº: 1002049-27.2014, Rel. SALLES ROSSI, j. 231/11/17)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE IMISSÃO DE POSSE. IMÓVEL ARREMATADO EM LEILÃO


PROMOVIDO PELA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. CONTRATO DE COMPRA E VENDA
DEVIDAMENTE REGISTRADO. PROPRIEDADE COMPROVADA. DIREITO DO ADQUIRENTE

Número do documento: 24032010342203900000106920040


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À POSSE DO BEM CONFIGURADO. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. 1. A
ação de imissão de posse é própria àquele que detém título de domínio e pretende haver a posse
do bem de sua propriedade contra quem o detenha. 2. A prova da propriedade do bem imóvel
constitui requisito suficiente para autorizar a imissão de posse pretendida, sobretudo diante da
ausência de qualquer elemento capaz de provar eventual irregularidade no processo de leilão,
através do qual o imóvel objeto do litígio foi arrematado. 3. Preenchidos os requisitos do art. 273
do CPC, o proprietário tem direito de ser imitido na posse no imóvel, adquirido de forma legítima,
conforme dispõe o art. 1228 do Código Civil, não constituindo óbice a esse direito a eventual
ocupação a título precário, mesmo que por longo lapso temporal. 4. Recurso desprovido. Decisão
unânime.(TJ-PE - APL: 3286977 PE, Relator: Evandro Sérgio Netto de Magalhães Melo, Data de
Julgamento: 31/03/2015, 6ª Câmara Cível, Data de Publicação: 13/04/2015)

Nos autos, resta demonstrada a obrigação da parte demandada de entregar para a parte autora o
imóvel objeto da presente, considerando que esta é a PROPRIETÁRIA DO CITADO BEM, pois o
adquiriu por meio justo.

À luz da documentação que instruiu a inicial, CONSTATA-SE QUE A PARTE DEMANDANTE


COMPROVOU NOS AUTOS SER LEGÍTIMO PROPRIETÁRIA DO IMÓVEL OBJETO DA
PRESENTE LIDE, cabendo, assim, ser imitida na posse do citado bem que comprou legalmente
da Caixa Econômica.

Assim, merece prosperar o pleito da parte demandante, pois a parte demandada não pode se
apoderar do bem SEM COMPROVAR QUE SUA OCUPAÇÃO É REGULAR, preenchendo, assim,
os requisitos da Imissão de Posse.

DECIDO.

Face ao exposto, restando demonstrada a injustiça na posse no imóvel exercida pelo


demandado, comprovada a aquisição do imóvel, JULGO PROCEDENTE O PEDIDO INICIAL,
confirmando a antecipação dos efeitos da tutela na sentença, garantido que o autor seja imitido,
de forma definitiva, na posse do imóvel de matrícula nº 29678.2.0014706-49, às fis. 06, do Livro
02-AX, contrato de compra e venda fls. 159-160, livro de notas n. 158, do Cartório do 1º Ofício
Extrajudicial desta Comarca, localizado à Rua 18, quadra 40, lote 01, Nº 369, Bairro Boa vista,
Timon/MA - CEP: 65.630-000.

Determino que a demandada pague ao demandante valor correspondente ao aluguel do imóvel,


que fixo em R$ 180,00 (cento e oitenta reais) mensais, correspondendo a 1% do valor do
despendido para a aquisição do imóvel, conforme certidão de inteiro teor, a contar da data da
efetiva citação no presente feito ao cumprimento efetivo do mandado de imissão de posse, sob
pena de enriquecimento sem causa e relativizando, neste caso, a regra contida no art. 37-A da
Lei nº 9.514/97. Sobre o valor deverão incidir juros moratórios no percentual de 1 % (um por
cento) ao mês somado à correção monetária pelos índices oficiais, para a espécie.

Condeno a demandada nas custas processuais e honorários da sucumbência, que fixo em 10%
(dez por cento) sobre o valor da causa, nos termos do art. 85, do Código de Processo Civil. No
entanto, suspendo sua exigibilidade em decorrência dos benefícios da justiça gratuita que ora lhe
concedo.

Previamente, expeça-se mandado de diligência a ser cumprido pela central de mandados, NO


PRAZO DE 05 (CINCO) DIAS, no sentido de verificar e informar fundamentadamente acerca da
necessidade de apoio policial para cumprimento da ordem de reintegração, inclusive com a
anexação de registros fotográficos do local e quaisquer outros documentos pertinentes.

O oficial de justiça, informando a desnecessidade de apoio policial, expeça-se a secretaria, COM

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URGÊNCIA, o Mandado de Imissão na Posse determinado nos autos.

Todavia, constatada pelo oficial de justiça a necessidade de acompanhamento da polícia militar


para o cumprimento da ordem de reintegração, OFICIE-SE ao 11º Batalhão da Polícia Militar do
Maranhão, localizado nesta comarca, para, NO PRAZO DE ATÉ 60 (SESSENTA) DIAS, tomar as
providências necessárias para o fornecimento do apoio policial, nos termos do Boletim Geral n.º
113, expedido pelo Comando Geral da Polícia Militar do Maranhão.

Com a resposta do Comando da Polícia acerca da autorização da diligência, expeça-se o


respectivo Mandado de Imissão, intimando-se a parte autora e notificando o Oficial de Justiça
responsável para comparecimento à reunião preparatória, caso seja designada pelo batalhão.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

Cumpridas as formalidades legais, arquive-se.

Timon/MA, 20 de março de 2024.

Raquel Araújo Castro Teles de Menezes

Juíza de Direito

Número do documento: 24032010342203900000106920040


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