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Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro


Décima Sexta Câmara Cível

Agravo de Instrumento nº: 0019886-87.2017.8.19.0000 FLS.1

Agravante: SANDRA MARTINS DE ARAÚJO


Agravado: ESPÓLIO DE SÉRGIO FERREIRA GRAÇA REP / S / INV / ANDREA
CRISTINA BASTOS GRAÇA
Agravado: ROSANE LEITE
Relator: Desembargador MARCO AURÉLIO BEZERRA DE MELO.

ACÓRDÃO

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE RESCISÃO DE


CONTRATO DE LOCAÇÃO CUMULADO COM
INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS EM
FASE DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. DECISÃO
QUE INDEFERIU O PEDIDO PARA QUE CONSTE NA
CARTA DE ARREMATAÇÃO A ORDEM PARA QUE SEJA
REGISTRADA A PROPRIEDADE PLENA EM NOME DA
ARREMATANTE E SEJA OFICIADO À PREFEITURA
PARA QUE, NO PRAZO MÁXIMO DE 48 HORAS,
RETIFIQUE A GUIA DO ITBI Nº 2093802, A FIM DE QUE
ONDE SE LÊ (NATUREZA: 102 – ARREMATAÇÃO DE
DIREITO E AÇÃO), LEIA-SE (NATUREZA: 013 –
ARREMATAÇÃO). INCONFORMISMO.
1- A arrematação em leilão constitui modo originário de
aquisição de propriedade, motivo pelo qual extingue os
ônus do imóvel arrematado que passa ao arrematante
livre e desembaraçado de qualquer ônus que incida
sobre o imóvel, não havendo que se falar, ainda, em
violação ao Princípio da Continuidade do Registro
Público, bem como de relação jurídica entre o
arrematante e o anterior proprietário do bem.
2- De acordo com os princípios da celeridade e da
economia processual, não é razoável que o agravante
seja obrigado a ajuizar demanda diversa para só então
te a propriedade plena sobre o imóvel arrematado.
3- No mais, compulsando os autos, verifica-se a
regularidade na cadeia sucessória, ainda que a
aquisição seja originária, tendo em vista que o imóvel
objeto da lide, na certidão atualizada do RGI, está
registrado em nome do Sr. Líbero Dário de Almeida
Agnesini, sendo certo que o mesmo deixou o referido
imóvel, através de testamento público, para a executada
Rosane Leite, ora 2ª Agravada.
4- Precedentes do STJ e do TJRJ. Reforma da decisão.
Provimento do recurso.

MARCO AURELIO BEZERRA DE MELO :000029872 Assinado em 25/10/2017 14:24:15


Local: GAB. DES MARCO AURELIO BEZERRA DE MELO
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Décima Sexta Câmara Cível

Agravo de Instrumento nº: 0019886-87.2017.8.19.0000 FLS.2

Vistos, relatados e discutidos estes autos do Agravo de Instrumento


nº 0019886087.2017.8.19.0000, onde figuram como Agravante e Agravados as
partes preambularmente epigrafadas,

A C O R D A M os Desembargadores que integram a Décima Sexta


Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por
unanimidade de votos, dar provimento ao recurso, nos termos do voto do
Desembargador Relator.

Agravo de Instrumento interposto por SANDRA MARTINS DE


ARAÚJO em face da decisão proferida pelo Juízo da 1ª Vara Cível da Regional
da Leopoldina, cuja cópia se encontra no anexo 1, doc. eletrônico 00011, que
indeferiu o pedido para que conste na carta de arrematação a ordem para que
seja registrada a propriedade plena em nome da arrematante e seja oficiado à
Prefeitura para que, no prazo máximo de 48 horas, retifique a guia do ITBI nº
2093802, a fim de que onde se lê (NATUREZA: 102 – ARREMATAÇÃO DE
DIRETO E AÇÃO), leia-se (NATUREZA: 013 – ARREMATAÇÃO).

Irresignada, alega a agravante que a arrematação judicial de imóvel


em hasta pública constitui um dos casos de aquisição originária da propriedade,
bem como que a transferência de propriedade plena de propriedade ao
arrematante independe do princípio da continuidade.

Contrarrazões não foram apresentadas, conforme certidão de fls. 21


– 000021.

É o relatório. Passo ao Voto.

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Agravo de Instrumento nº: 0019886-87.2017.8.19.0000 FLS.3

Presentes os requisitos, conheço do recurso interposto.

Infere-se do detido exame dos autos que o pedido da Agravante foi


formulado visando à reforma da decisão que indeferiu o pedido para que conste
na carta de arrematação a ordem para que seja registrada a propriedade plena
em nome da arrematante e seja oficiado à Prefeitura para que, no prazo
máximo de 48 horas, retifique a guia do ITBI nº 2093802, a fim de que onde se
lê (NATUREZA: 102 – ARREMATAÇÃO DE DIRETO E AÇÃO), leia-se
(NATUREZA: 013 – ARREMATAÇÃO), sob o fundamento de que a penhora
recaiu sobre o direito e ação que a ré tinha sobre o imóvel, não podendo o
arrematante adquirir mais direitos do que tinha o devedor.

Razão socorre à agravante.

Isto porque a doutrina e a jurisprudência já se posicionaram no


sentido de que a arrematação em leilão constitui modo originário de aquisição
de propriedade, motivo pelo qual extingue os ônus do imóvel arrematado que
passa ao arrematante livre e desembaraçado de qualquer ônus que incida
sobre o imóvel, não havendo que se falar, ainda, em violação ao Princípio da
Continuidade do Registro Público, bem como de relação jurídica entre o
arrematante e o anterior proprietário do bem.

Ademais, de acordo com os princípios da celeridade processual e da


economia processual não é razoável que o agravante seja obrigado a ajuizar
demanda diversa para só então ter a propriedade plena sobre o imóvel
arrematado.

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Agravo de Instrumento nº: 0019886-87.2017.8.19.0000 FLS.4

No mais, compulsando os autos, verifica-se a regularidade na cadeia


sucessória, ainda que a aquisição seja originária, tendo em vista que o imóvel
objeto da lide, na certidão atualizada do RGI, está registrado em nome do Sr.
Líbero Dário de Almeida Agnesini, sendo certo que o mesmo deixou o referido
imóvel, através de testamento público, para a executada Rosane Leite, ora 2ª
Agravada, conforme se depreende dos documentos de fls. 76/77 – 000076 e
fls. 34/36 – 000025/000035 do anexo 1.

Neste sentido, o entendimento do STJ e deste Tribunal de


Justiça:
EXECUÇÃO FISCAL - IPTU - ARREMATAÇÃO DE BEM IMÓVEL -
AQUISIÇÃO ORIGINÁRIA - INEXISTÊNCIA DE
RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA DO ARREMATANTE -
APLICAÇÃO DO ART. 130, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CTN.
1. A arrematação de bem móvel ou imóvel em hasta pública é
considerada como aquisição originária, inexistindo relação jurídica
entre o arrematante e o anterior proprietário do bem, de maneira que
os débitos tributários anteriores à arrematação sub-rogam-se no
preço da hasta.
2. Agravo regimental não provido.
(AgRg no Ag 1225813/SP, Rel. Ministra ELIANA CALMON,
SEGUNDA TURMA, julgado em 23/03/2010, DJe 08/04/2010)

0005708-36.2017.8.19.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO - 1ª


Ementa - Des(a). HELENO RIBEIRO PEREIRA NUNES -
Julgamento: 13/06/2017 - QUINTA CÂMARA CÍVEL
AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO CIVIL. HASTA PÚBLICA
ENVOLVENDO DIREITO E AÇÃO SOBRE O IMÓVEL. DECISÃO
QUE INDEFERIU PEDIDO DE EXPEDIÇÃO DE NOVA CARTA
DE ARREMATAÇÃO COM EXPRESSA DETERMINAÇÃO PARA A
TRANSFERÊNCIA DA PROPRIEDADE DO IMÓVEL AO
ARREMATANTE. REFORMA. 1) De fato, a hasta se destinou a
alienar tão somente os direitos de ação sobre o imóvel, direitos estes
pertencentes à primeira ré/executada em razão de instrumento
particular de promessa de compra e venda celebrado com o segundo
réu. 2) Entretanto, é firme no âmbito do Superior Tribunal de Justiça o
entendimento no sentido de que a arrematação tem conteúdo de
aquisição originária, não havendo que se cogitar de ofensa
ao Princípio da Continuidade do Registro Público. 3) Nessa linha de
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Agravo de Instrumento nº: 0019886-87.2017.8.19.0000 FLS.5

raciocínio, forçoso concluir inexistir relação jurídica ou negocial entre


o arrematante e o anterior promitente cessionário do bem, o qual
deve ser passado ao primeiro livre de qualquer ônus que
obstaculizam a propriedade plena. 4) Registre-se que o imóvel foi
arrematado por valor superior ao da avaliação. 5) Embora vacilante o
comportamento dos arrematantes quanto aos termos que devem
compor a carta de arrematação para que esta opere como título
formal apto ao registro da propriedade, não há que se cogitar de
venire contra factum proprium. 6) Primeiro, porque tal instabilidade se
justifica em razão da insegurança gerada pela exigência apresentada
pelo Oficial do 5º Registro de Imóveis quando da primeira tentativa de
registro do título no sentido de que o documento fosse aditado para
fazer constar que a arrematação teria sido "de direto e ação" sobre o
bem, em desalinho com a orientação jurisprudencial prevalente no
sentido de que a arrematação judicial de imóvel em hasta pública
constitui modalidade de aquisição originária da propriedade. 7)
Segundo, porque da expedição da carta de arrematação, sejam quais
foram os seus termos, não se origina qualquer expectativa para os
agravados fundada em boa-fé objetiva ou no princípio da confiança,
porquanto rompido, com a arrematação, qualquer vínculo jurídico
anterior dos executados com o bem arrematado. 8) Diante desse
contexto, não há razão para se negar aos agravantes o direito de ver
registrado o seu título aquisitivo. Precedentes do TJRJ. 6) Recurso ao
qual se dá provimento para determinar a expedição de nova carta
de arrematação com expressa determinação para a transferência da
propriedade do imóvel descrito no auto de arrematação perante o
Registro de Imóveis competente.

0017219-65.2016.8.19.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO - 1ª


Ementa – Des (a). MARIO GUIMARÃES NETO - Julgamento:
05/07/2016 - DÉCIMA SEGUNDA CÂMARA CÍVEL

Agravo de Instrumento. Processo Civil. Ação de cobrança de cotas


condominiais em fase de cumprimento de sentença. Arrematação.
Entendimento remansoso do Superior Tribunal de Justiça no sentido
de que ¿a arrematação de bem móvel ou imóvel em hasta pública é
considerada como aquisição originária, inexistindo relação jurídica
entre o arrematante e o anterior proprietário do bem, de maneira que
os débitos tributários anteriores à arrematação sub-rogam-se no
preço da hasta. Ausência de violação ao princípio da continuidade
registral. Tratando-se a arrematação de aquisição originária da
propriedade, desnecessária a propositura de nova demanda, visando
à adjudicação do imóvel, em observância aos princípios da
celeridade e economia processual. Menção do edital da hasta pública
à ¿direito e ação¿ sobre o bem penhorado, que não tem o condão de
desnaturar a natureza jurídica da arrematação. Imperiosa a
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Décima Sexta Câmara Cível

Agravo de Instrumento nº: 0019886-87.2017.8.19.0000 FLS.6

expedição de carta de arrematação, com expressa determinação


para transferência da propriedade plena do imóvel arrematado.
Provimento monocrático do recurso.

0011151-02.2016.8.19.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO - 1ª


Ementa - Des(a). JOSÉ CARLOS MALDONADO DE CARVALHO -
Julgamento: 31/05/2016 - PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL

ACÓRDÃO AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE COBRANÇA


DE COTAS CONDOMINIAIS. IMÓVEL ALIENADO EM HASTA
PÚBLICA POR CONTA DE DÉBITOS CONDOMINIAIS.
AGRAVANTE QUE ARREMATOU O "DIREITO E AÇÃO" SOBRE O
REFERIDO IMÓVEL. DECISÃO QUE INDEFERIU O PEDIDO DE
EXPEDIÇÃO DE NOVA CARTA DE ARREMATAÇÃO, COM
EXPRESSA DETERMINAÇÃO PARA A TRANSFERÊNCIA DA
PROPRIEDADE DO IMÓVEL AO ARREMATANTE. PRECEDENTES
DA CORTE SUPERIOR E DESTE TRIBUNAL DE JUSTIÇA NO
SENTIDO DE QUE A ARRAMATAÇÃO É MODALIDADE DE
AQUISIÇÃO ORIGINÁRIA DA PROPRIEDADE. DECISÃO QUE SE
REFORMA. RECURSO PROVIDO

0032374-45.2015.8.19.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO - 1ª


Ementa - Des(a). RENATA MACHADO COTTA - Julgamento:
27/08/2015 - TERCEIRA CÂMARA CÍVEL

AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROCESSUAL CIVIL. DECISÃO


QUE INDEFERIU O PEDIDO DE EXPEDIÇÃO DE CARTA DE
ARREMATAÇÃO. AQUISIÇÃO DE "DIREITO E AÇÃO" SOBRE O
IMÓVEL. DÍVIDA REFERENTE A DÉBITOS DE COTAS
CONDOMINIAIS. NATUREZA PROPTER REM. ARREMATAÇÃO
QUE É MODO ORIGINÁRIO DE AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE.
AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE
REGISTRAL. REFORMA DA DECISÃO. A arrematação consiste no
ato judicial que encerra o procedimento de alienação judicial do
patrimônio do executado para terceiro. Trata-se de ato último do
processo de execução, consistindo na realização da execução,
mediante a conversão em dinheiro para a satisfação do credito
exequendo. Em relação à aquisição da propriedade, o Colendo
Superior Tribunal de Justiça entende que "a arrematação de bem
móvel ou imóvel em hasta pública é considerada como aquisição
originária, inexistindo relação jurídica entre o arrematante e o anterior
proprietário do bem, de maneira que os débitos tributários anteriores
à arrematação sub-rogam-se no preço da hasta" (AgRg no Ag
1225813/SP, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA,
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Agravo de Instrumento nº: 0019886-87.2017.8.19.0000 FLS.7

julgado em 23/03/2010, DJe 08/04/2010), não havendo, assim,


qualquer violação ao princípio da continuidade registral. No caso dos
autos, o imóvel foi levado a hasta pública em virtude da execução de
dívida referente a cotas condominiais, que possui natureza propter
rem. Logo, mostra-se notória a legitimidade da averbação pretendida
pelo arrematante. Nesse sentido, em se tratando de atos registrais
decorrentes de processo de cobrança de cotas de condomínio, não
há que se falar em continuidade registral, até mesmo porque a
transmissão da propriedade ocorre por via judicial. É bem verdade
que constou no edital da hasta que o agravante estava adquirindo
"direito e ação" sobre o imóvel penhorado. Nada obstante, a
jurisprudência deste Tribunal orienta-se no sentido de que não há
qualquer impedimento para transferência da plena propriedade, em
obediência aos princípios da celeridade e economia processual,
sendo certo que o arrematante adquire o bem livre de qualquer ônus.
Não se mostra razoável, diante da natureza da obrigação
condominial, exigir-se do arrematante que promova uma nova ação
de adjudicação compulsória para consolidar a propriedade, arcando
com novas despesas processuais, além de nova tributação, apenas
para obter a carta de arrematação. Ademais, não subsiste relação
jurídica entre o arrematante e o antigo proprietário do bem,
mostrando-se imperiosa a imediata expedição da carta de
arrematação. Por fim, no que se refere à exigência do pagamento do
ITBI, certo é que tal fato não pode obstaculizar o deferimento da
carta de arrematação, até mesmo porque o registro apenas será
efetuado após o pagamento do tributo. Recurso a que se dá
provimento.

À conta de tais fundamentos, voto no sentido de dar provimento ao


recurso para determinar que conste na carta de arrematação a ordem para que
seja registrada a propriedade plena em nome da arrematante e seja oficiado à
Prefeitura para que, no prazo máximo de 48 horas, retifique a guia do ITBI nº
2093802, a fim de que onde se lê (NATUREZA: 102 – ARREMATAÇÃO DE
DIRETO E AÇÃO), leia-se (NATUREZA: 013 – ARREMATAÇÃO).
Rio de Janeiro, 24 de outubro de 2017.

Desembargador MARCO AURÉLIO BEZERRA DE MELO


Relator

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