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GALLOTTI & MARTINS


Rua do Lavradio, nº106, apartamento 305, CEP 20230-070, Centro, Rio de Janeiro, RJ. (21)98338-3788

EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE


GUAPIMIRIM - RJ

Processo Nº: 0002938-11.2018.8.19.0073

TJRJ GUA 1VARA 202208249106 14/11/22 13:22:37135992 PROGER-VIRTUAL


Marie Heléne Holmqvist Van Der Elst, representante e sucessora do espólio de
Gabriel Joseph barão van de Elst e Ariane Geanni Christine Coletti Marie Elizabeth, vêm, por
seus advogados ao final assinado, a presença de V. Exa, requerer e informar o que segue:

1 – DA POSSE PRECÁRIA

O Código Civil no artigo 1.200 dispõe que "é justa a posse que não for violenta,
clandestina ou precária".
Assim, a ausência de violência, clandestinidade e precariedade referidas no
dispositivo citado dão ensejo ao conceito de posse justa e a presença delas, por derradeiro,
perfazem os chamados vícios da posse.
Atenhamo-nos, aqui, à posse precária. É precária a posse daquele que, tendo recebido
a coisa para depois devolvê-la, indevidamente a retém, quando a mesma lhe é pedida ou
solicitada. Segundo o entendimento majoritário, o vício possessório decorrente da precariedade
não convalesce, de forma que o comodatário, em qualquer hipótese, não poderá adquirir o bem
por usucapião.
Ressalta-se que o objeto da demanda foi alvo de diversos litígios judiciais:
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• Processo nº 2490.452/72, na 1º Vara Cível da Comarca de Magé


• Processo Nº 0000156-56.2003.8.19.0073, 1ª Vara Cível da Comarca de Guapimirim
• Processo nº 0002332-37.2005.8.19.0073, 1º Vara Cível da Comarca de Nova
Iguaçu
• Processo nº 0000851-05.2006.8.19.0073, 1ª Vara Cível da Comarca de Nova Iguaçu

Dessa forma, a posse originada de um contrato de comodato inviabiliza a posse ad


usucapionem. Trata-se de posse precária, isto é, por mera tolerância do proprietário que permite
o uso do bem, sem, todavia, se dispor do seu domínio. Não gera direito algum e é revogável a
qualquer momento.

2 – COMODATO VERBAL. PROVAS (CARTAS ARIANE FLS. 524-530)

O comodato é tratado no Código Civil, no art. 579 e constitui empréstimo gratuito de


coisa infungível. Como se sabe, trata-se apenas de uma permissão de utilização de imóvel por
determinado período de tempo, podendo ser onerosa ou gratuita, e permanecerá inequívoco o
dever de restituição do imóvel.
Conforme provas anexadas pela parte Autora (cartas enviadas pela baronesa Ariane),
resta comprovado que existia um contrato verbal de COMODATO. Nesse sentido, tratando-se
de contrato de comodato, mesmo verbal, não dá azo a aquisição de propriedade por prazo
aquisitivo, isso porque trata-se de posse precária, por mera tolerância do proprietário que
permite o uso do bem, sem, todavia, se dispor do seu domínio.
Dessa forma, esclareça-se que atos de mera tolerância em momento algum induzem a
posse com o eventual animus domini, que supostamente, motivaria o pedido de usucapião, mas
apenas a posse precária. Dessa forma, descabe por completo o pedido de usucapião em face do
proprietário do imóvel, de acordo com entendimento, inclusive, devidamente corroborado pela
jurisprudência pátria, IN VERBIS:
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“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÕES DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE E USUCAPIÃO


JULGAMENTO CONJUNTO A FIM DE SE EVITAR DECISÕES CONFLITANTES.
AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE. SENTENÇA QUE EXTINGUIU O FEITO
SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO DIANTE DO PEDIDO DE DESISTÊNCIA FEITO
PELA PARTE AUTORA. VIOLAÇÃO AO ARTIGO 485, § 4º DO CPC. RÉU QUE SE
INSURGIU CONTRA O PEDIDO DE DESISTÊNCIA. INTERESSE NO
JULGAMENTO DE MÉRITO DA LIDE. EXTINÇÃO EQUIVOCADA DO
PROCESSO. SENTENÇA CASSADA. APLICAÇÃO DA TEORIA DA CAUSA
MADURA. ARTIGO 1.013, § 3º, I, DO CPC. PRELIMINARES DE ILEGITIMIDADE
AD CAUSAM. MATÉRIA QUE SE CONFUNDE COM O MÉRITO DA QUESTÃO.
PRETENSÃO DE REINTEGRAÇÃO DA POSSE. ALEGAÇÃO DE ESBULHO.
CONTRATO DE LOCAÇÃO ANTERIOR FIRMADO ENTRE O PROPRIETÁRIO
DO IMÓVEL E O LOCADOR QUE SUBLOCOU PARTES DO IMÓVEL A
TERCEIROS, INCLUINDO A AUTORA. VEDAÇÃO CONTRATUAL EXPRESSA
DE SUBLOCAÇÃO. CARACTERIZAÇÃO DE POSSE PRECÁRIA. ATOS DE
MERA PERMISSÃO OU TOLERÂNCIA PELO PROPRIETÁRIO QUE NÃO
INDUZEM A POSSE. PRETENSÃO IMPROCEDENTE. RECURSO CONHECIDO E
PROVIDO. AÇÃO DE USUCAPIÃO. SENTENÇA QUE EXTINGUIU O FEITO SEM
RESOLUÇÃO DO MÉRITO DIANTE DO PEDIDO DE DESISTÊNCIA FEITO PELA
PARTE AUTORA. VIOLAÇÃO AO ARTIGO 485, § 4º DO CPC. RÉU QUE SE
INSURGIU CONTRA O PEDIDO DE DESISTÊNCIA. INTERESSE NO
JULGAMENTO DE MÉRITO DA LIDE. EXTINÇÃO EQUIVOCADA DO
PROCESSO. SENTENÇA CASSADA. APLICAÇÃO DA TEORIA DA CAUSA
MADURA. ARTIGO 1.013, § 3º, I, DO CPC. PRETENSÃO DE
RECONHECIMENTO DA PRESCRIÇÃO AQUISITIVA. DESCABIMENTO.
POSSE PRECÁRIA. COMODATO VERBAL. AUSÊNCIA DE ANIMUS
DOMINI. IMPROCEDÊNCIA DA PRETENSÃO. RECURSO CONHECIDO E
PROVIDO. (TJPR - 18ª C.Cível - 0036603-63.2014.8.16.0001 - Curitiba - Rel.: JUIZ
DE DIREITO SUBSTITUTO EM SEGUNDO GRAU KENNEDY JOSUE GRECA DE
MATTOS - J. 21.07.2021)” (grifou-se)
….………...….………………..………………………………………….
“AÇÃO DE USUCAPIÃO DE BEM IMÓVEL – AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO
DO ANIMUS DOMINI (…) O exercício de posse em razão de contrato de parceria
agrícola impede o reconhecimento da usucapião, pois inexistente animus domini por
parte do possuidor que utiliza do imóvel a este título (…)” (TJMG – proc. Nº
1.0009.06.007287-4/001, Rel. Des. Corrêa Camargo, DJ de 17/06/2013).
…………………………………………………………………………………………...
“AÇÃO DE USUCAPIÃO (…) AUSÊNCIA DE ‘ANIMUS DOMINI’ – REQUISITO
INDISPENSÁVEL AO RECONHECIMENTO DA PRETENSÃO – EXISTÊNCIA DE
CONTRATO DE PARCERIA AGRÍCOLA – ART. 1.208 DO CÓDIGO CIVIL. (…) A
aquisição do imóvel através da usucapião exige ânimo de dono, que é incompatível com o
contrato de parceria agrícola” (TJMG, proc. Nº 1.0428.09.015267-2/001, Rel. Des. Valdez
Leite Machado, DJ de 12/04/2013).
…………………………………………..………………………………………………..
“a posse oriunda de contrato de comodato impede a caracterização de 'animus domini', não
podendo o período de vigência do contrato ser computado para aferição de usucapião”
(AgRg no AREsp 133.028/MS, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA,
julgado em 24/04/2012, DJe 08/05/2012).
…………………………………………………………………………………………….
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE USUCAPIÃO. REQUISITOS NÃO COMPROVADOS.
ATOS DE MERA PERMISSÃO, OU TOLERÂNCIA, DOS PROPRIETÁRIOS. ANIMUS
DOMINI. NÃO EVIDENCIADO. POSSE PRECÁRIA. SENTENÇA MANTIDA. 1. Nos
termos do artigo 1.238 do Código Civil, a usucapião extraordinária constitui meio de
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aquisição originária da propriedade, pela posse contínua, durante o período mínimo de 15


(quinze) anos, desde que não resistida, ininterrupta e com ânimo de dono. 2. Conforme se
infere do art. 1.208 do Código Civil de 2002, os atos de mera permissão ou tolerância, sem
o “animus domini”, não induzem posse, portanto, não geram o direito à aquisição da
propriedade, por meio de usucapião, nos termos do art. 1.238 do Código Civil. 3. Uma vez
comprovado, nos autos que a Autora, durante o tempo em que permaneceu no imóvel,
estava ali por permissão da proprietária, sua nora (comodato verbal), resta inadmitida a
aquisição da propriedade, por meio da usucapião, haja vista a precariedade da posse.
APELO CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJGO, APELACAO CIVEL 113552-
12.2010.8.09.0051, Rel. DES. FRANCISCO VILDON JOSE VALENTE, 5A CAMARA
CIVEL, julgado em 09/02/2017, DJe 2214 de 20/02/2017)
……………………………………………………………………………………………….
EMBARGOS INFRINGENTES. APELAÇÃO CÍVEL EM AÇÃO DE INDENIZAÇÃO.
REFORMA DA SENTENÇA POR MAIORIA. ART. 530 DO CÓDIGO DE PROCESSO
CIVIL. USUCAPIÃO. CONTRATO VERBAL DE COMODATO. POSSE PRECÁRIA.
ANIMUS DOMINI NÃO CARACTERIZADO. 1. Segundo o disposto no art. 530 do
Código de Processo Civil, cabem embargos infringentes quando o acórdão não unânime
houver reformado, em grau de apelação, a sentença de mérito. 2. A posse, como
pressuposto para configuração da prescrição aquisitiva, deve ser ininterrupta e sem
oposição, além de exercida com ânimo de dono. 3. Cuidando-se de posse decorrente de
comodato verbal, não faz jus o autor ao reconhecimento da usucapião, porque o
comodatário não exerce atos de posse com animus domini. Embargos Infringentes
conhecidos e desprovidos. (TJGO, EMBARGOS INFRINGENTES 381856-
62.2015.8.09.0000, Rel. DR(A). FERNANDO DE CASTRO MESQUITA, 1A SECAO
CIVEL, julgado em 02/03/2016, DJe 1985 de 09/03/2016)
………………………………………………………………………………………………
AÇÃO DE USUCAPIÃO. SENTENÇA QUE ACOLHEU O PLEITO AUTORAL.
REQUISITOS ENSEJADORES NÃO CONFIGURADOS. COMODATO VERBAL.
ANIMUS DOMINI NÃO CARACTERIZADO. DOAÇÃO DO IMÓVEL. NOVA
PROPRIETÁRIA QUE COMUNICOU, FORMALMENTE, ATRAVÉS DE
NOTIFICAÇÃO ESPECÍFICA, NÃO MAIS HAVER INTERESSE NA SITUAÇÃO,
DESCONSTITUINDO A EXISTÊNCIA DE POSSE MANSA E PACÍFICA. DECISUM
QUE ENSEJA MODIFICAÇÃO. APELAÇÃO CONHECIDA E PROVIDA. ATO
JUDICIAL MAGNO REFORMADO. (TJGO, APELACAO CIVEL 231450-
51.2010.8.09.0017, Rel. DES. FAUSTO MOREIRA DINIZ, 6A CAMARA CIVEL, julgado
em 07/07/2015, DJe 1829 de 20/07/2015)

Conforme demonstrado em contestação, a parte Ré ingressou com duas ações de


Reintegração de Posse, o que afasta a tese de posse mansa e pacífica do imóvel usucapiendo,
aduzida pelo requerido.
Nesse toar, tendo em vista que para a declaração da usucapião é necessária a
demonstração inequívoca da posse mansa, pacífica e ininterrupta durante o período temporal
legalmente exigido, além do animus domini, revela-se que o autor não consegue comprovar suas
alegações. Dessa forma, torna-se inviável o acolhimento da pretensão autoral.
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Nestes termos,
Pede deferimento.

Rio de Janeiro 14 de novembro de 2022

DANIELA DE QUEIROZ MARTINS WANDER GALLOTTI DE OLIVEIRA


OAB/RJ200.560 OAB/RJ 185.236

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