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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA _____ VARA CÍVEL DA


COMARCA DE SÃO BERNARDO DO CAMPO – SP

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1014404-35.2019.8.26.0564 e código 6D27ECB.
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por LUIZA HELENA GALVAO, protocolado em 06/06/2019 às 10:08 , sob o número 10144043520198260564.
ANDERSON DA SILVA CANTEIRO, brasileiro, solteiro, operador de
máquinas, portador da Cédula de Identidade RG nº 35.216.026-3, inscrito no CPF/MF sob
o nº 348.550.868-35, residente e domiciliado na Rua Augusta L. Bisognini Bechelli, 230 –
Jardim Lavínia – São Bernardo – SP – CEP 09811-200, vem, respeitosamente, ante V. Exa.,
por sua advogada, propor a presente

AÇÃO DECLARATÓRIA DE RESCISÃO CONTRATUAL CUMULADA COM INDENIZAÇÃO


POR DANOS MATERIAIS, RESTITUIÇÃO DE VALORES E DANOS MORAIS

em face de LUCIANO HESPPORTE IWAMOTO, brasileiro, casado, contador, portador da


Cédula de Identidade RG nº 32.987.604-1, inscrito no CPF/MF sob o nº 216.215.158-85,
residente e domiciliado na Rua Romildo Cervelatti, 211 – Jardim Bela Vista – Birigui – SP
– CEP 16200-719 e E-BIT INTERMEDIAÇÃO S/A, pessoa jurídica de direito privado,
regularmente inscrita no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas do Ministério da Fazenda
– CNPJ/MF sob o nº 31.207.193/0001-80, com sede à Avenida Brasília, 2121, sala 320 –
Jardim Nova Yorque – Araçatuba – SP – CEP 16018-000, pelos relevantes motivos de fato
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e de direito a seguir expostos.

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I. DA SÍNTESE DA DEMANDA

O autor firmou contrato de prestação de serviços de assessoria e

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interveniência em corretoras de valores com o primeiro-réu, por meio do qual este
assumiu a obrigação de intermediar investimentos no valor de R$ 20.000,00 (vinte mil

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reais) em bolsas de mercados futuros e outros negócios, estabelecendo-se rendimento
mensal de 50% (cinquenta por cento) ao mês, com possibilidade de retirada mensal, total
ou parcial, sendo certo que em 11 de junho de 2018, o autor integralizou o aporte na
plataforma disponibilizada pelos réus, qual seja, E-BIT FX.

Como parte do ajuste formalizado entre as partes, o primeiro-réu


formalizou pessoa jurídica, ora segunda-ré, para gerir a referida intermediação de
negócios.

No primeiro mês, a ré disponibilizou os rendimentos ao autor, que optou


por reinvestir totalmente, aumentando o capital integralizado de R$ 20.000,00 para R$
30.000,00 (trinta mil reais).

Entretanto, passados aproximadamente 2 (dois) meses do aporte inicial, os


réus suspenderam a operação da plataforma, informando que a empresa se encontrava
em processo de auditoria e que não poderia haver movimentação de valores. Ao revés,
sempre se posicionavam no sentido de que a situação em breve seria resolvida e que o
autor não sofreria nenhum tipo de prejuízo.

Neste passo, em que pese os inúmeros contatos do autor para com os réus,
até a presente data não houve a disponibilização dos valores à esta.

Ora, Excelência. O autor é pessoa humilde, que não dispõe de altos


recursos financeiros e valeu-se de economias de uma vida inteira para realizar o
investimento oferecido pelos réus, ante as promessas de retorno imediato de seu
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patrimônio. Neste momento, inclusive, encontra-se desempregado e sem poder usufruir


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de suas economias para sua manutenção e sustento, porquanto retidas pelos réus.

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Ao passo que a promessa realizada pelos réus e, inclusive, expressamente


estabelecida no ajuste contratual firmado entre as partes não restou cumprida, o autor
viu-se sem o valor que lhe pertence e, por óbvio, sem a rentabilidade que lhe foi

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prometida, causando-lhe imensa angústia.

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Desta feita, é evidente que os réus, de forma indevida e arbitrária,
deixaram de descumprir o contrato, dando azo, por culpa exclusiva, à rescisão do contrato
ora em comento. Não suficiente, a ausência de pagamento da rentabilidade e, pior, a
retenção dos valores que incontroversamente pertencem ao autor, de rigor que se
determine o pagamento destes valores em favor deste.

Ademais, toda a situação gerada pela retenção dos valores e não


pagamento das quantias devidas ao autor, por evidente, ocasionou-lhe lesão a direitos de
ordem extrapatrimonial, que devem ser ressarcidos.

II. DO DIREITO

II.I. DA RELAÇÃO DE CONSUMO

Antes de tratar das questões de direito que respaldam a tutela aqui


pretendida, para que não pairem dúvidas acerca da relação existente nos presentes
autos, convém mencionar que, na forma do Código de Defesa do Consumidor, as partes
envolvidas neste litígio se caracterizam como consumidor e fornecedor.

Desta feita, consoante prevê o artigo 2º da Lei nº 8.078/90, “consumidor é


toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário
final”.

O conceito legal de fornecedor, esculpido no artigo 3º do Código de Defesa


do Consumidor, o define como “toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional
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ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de


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produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação,


distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços”.

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Nesta seara, insta salientar que os réus, na medida em que ofertam seus
serviços à um indeterminado número de pessoas, assumem o papel de fornecedores.

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Assim, ante a existência de típica relação de consumo em que a ré é
fornecedora, destaca-se o disposto no artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor.

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da


existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem
como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição
e riscos.

O artigo em referência trata da responsabilidade objetiva dos fornecedores


de serviços, que, em razão do risco da atividade desenvolvida, por si só, é suficiente para
caracterizar tal responsabilidade em razão do ato ilícito perpetrado contra o autor, qual
seja: o descumprimento contratual e a retenção do investimento realizado pelo autor.

Demonstrando-se a plena aplicação do Código de Defesa do Consumidor


ao caso concreto, pugna o autor pela garantia dos direitos aludidos no artigo 6º da Lei nº
8.078/90, ainda que não expressamente mencionados.

Com efeito, o artigo 6º, VI do mesmo diploma legal é claro ao listar como
direito básico do consumidor a efetiva reparação por danos morais, de modo que o
presente pleito possui integral acolhida.

Ademais, nos termos do artigo 6º, VIII do Código de Defesa do Consumidor,


é dada ao magistrado a possibilidade de verificada a hipossuficiência e vulnerabilidade do
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consumidor, inverter o ônus da prova em seu favor. No caso em apreço, muito embora
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toda a pretensão do autor esteja documentalmente comprovada, impõe-se a aplicação

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da inversão do ônus da prova em seu favor por ser notavelmente hipossuficiente e


vulnerável em comparação com a ré.

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Por fim, não é despiciendo consignar que não há no presente caso qualquer
excludente de responsabilidade que afaste o dever de indenizar por parte da ré,

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notadamente pelo fato de que a ré descumpriu o contrato firmado, impedindo que o
autor resgate o valor investido na plataforma.

II.II. DA RESCISÃO DO CONTRATO

As partes entabularam contrato de prestação de serviços de assessoria e


interveniência em corretas de valores. Os documentos que instruem a presente exordial
denotam que, deliberadamente, os réus deixaram de cumprir com o ajuste contratual,
deixando de disponibilizar paro autor os rendimentos de seu capital e, ainda pior, o
próprio capital.

Apesar das inúmeras tentativas de contato que realizou, os valores não


foram disponibilizados a este até a presente data, dando azo a rescisão contratual por
culpa exclusiva dos réus.

Desta feita, considerando o inadimplemento contratual dos réus, inviável


a continuidade do negócio entabulado entre as partes, sendo de rigor a rescisão
contratual, nos termos a seguir expostos.

II.III. DA DEVOLUÇÃO DA TOTALIDADE DOS VALORES PAGOS

De acordo com o que se extrai com os documentos colacionados nos autos,


o autor aportou R$ 20.000,00 (vinte mil reais) a título de recursos próprios para a
intermediação dos réus, com a perspectiva de remuneração mensal de 50% (cinquenta
por cento) deste capital, reinvestindo o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) no mês
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seguinte, somando a quantia de R$ 30.000,00 (trinta mil reais) de investimento,


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aumentando sua perspectiva de remuneração.

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Sem qualquer motivo justificável, os réus deixaram de cumprir com o


pactuado, retendo os valores depositados pelo autor e retirando, por completo, o acesso

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a este. É dizer que, ao revés do que restou estabelecido no instrumento firmado entre as
partes, o autor não tem acesso e tampouco poder de movimentar o valor que aportou na

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plataforma.

Reconhecendo o seu ilícito, os réus sugeriram a devolução dos valores


aportados, sem quaisquer juros ou correção monetária, e em parcelas, o que não se
sustenta. Pelo contrário. A sugestão de devolução proposta pela ré encontra vedação no
ordenamento jurídico pátrio, por constituir verdadeiro confisco e enriquecimento sem
causa1 das rés, além de infringir o disposto nos artigos 51, IV2 e 533 do Código de Defesa
do Consumidor.

De rigor registrar que o dinheiro aplicado pelo autor foi utilizado pelos réus
para financiar os seus negócios, ou seja, os réus usaram o dinheiro do autor em seu
proveito, obtendo vantagem econômica, e mesmo assim, recusam-se a restituir a
totalidade da quantia paga pelo autor.

Convém anotar que, nos termos do contrato entabulado entre as partes, o


atraso no pagamento das parcelas implicam a incidência de multa de 10% (dez por cento)
e juros de 2% (dois por cento) ao mês, o que desde logo se requer.

A este despeito, importa destacar que a jurisprudência firmada pelo E. TJ-


SP é uníssona em consignar que, havendo a rescisão do contrato por culpa exclusiva da
contratada, a devolução integral dos valores, acrescidos de correção monetária desde a
data do desembolso, na forma do artigo 405 do Código Civil, é medida que se impõe.

1 Art. 884. Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será obrigado a restituir o indevidamente auferido, feita a

atualização dos valores monetários.


Parágrafo único. Se o enriquecimento tiver por objeto coisa determinada, quem a recebeu é obrigado a restituí-la, e, se a coisa não
mais subsistir, a restituição se fará pelo valor do bem na época em que foi exigido.
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Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam
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incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade;


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Art. 53. Nos contratos de compra e venda de móveis ou imóveis mediante pagamento em prestações, bem como nas alienações
fiduciárias em garantia, consideram-se nulas de pleno direito as cláusulas que estabeleçam a perda total das prestações pagas em
benefício do credor que, em razão do inadimplemento, pleitear a resolução do contrato e a retomada do produto alienado.

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Ação de resolução contratual cumulada com devolução de quantias


pagas - Cooperativa - Rescisão contratual - Culpa da promitente

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vendedora pelo atraso das obras - Devolução integral e imediata das
parcelas - Retenção de parte do montante recebido inadmitida -

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Cláusula que autoriza a retenção ofensiva às normas de ordem
pública do CDC - Aplicação da Súmula 2 deste Tribunal de Justiça -
Sentença mantida - Recurso desprovido.
(TJ-SP - APL: 00505711820138260002 SP 0050571-
18.2013.8.26.0002, Relator: J.B. Paula Lima, Data de Julgamento:
27/10/2015, 10ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação:
03/11/2015)

Desta feita, pugna o autor pela devolução da integralidade dos valores


aportados na plataforma administrada pelos réus, acrescidos de correção monetária
desde a data do desembolso, juros de 2% (dois por cento) ao mês e multa de 10% (dez
por cento), tendo em vista que a pretendida rescisão contratual tem culpa exclusiva dos
réus, que é inadimplente quanto ao objeto do contrato em voga.

II.IV. DA INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS: LUCROS CESSANTES

De acordo com a narrativa dos fatos, por meio do contrato que se


vincularam as partes, os réus obrigaram-se a pagar rendimento de 50% (cinquenta por
cento) ao mês sobre os investimentos constantes da plataforma, até o 30 (trinta) dias
após o investimento.

Como se verifica dos documentos adjuntos, os réus adimpliram os


rendimentos apenas 1 (um) mês após o aporte inicial, sendo certo que, apesar da
manutenção dos valores na plataforma e reinvestimento dos valores, deixou de
possibilitar a retirada tanto do aporte, quanto dos rendimentos.
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É evidente que o autor, além dos danos de ordem extrapatrimonial,


também experimenta prejuízo patrimonial, porquanto não pode usufruir de seu aporte e
tampouco dos rendimentos prometidos.

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Destaque-se, ainda, o próprio instrumento contratual entabulado entre as

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partes que é obrigação dos réus “efetuar o pagamento pontualmente”, considerando-se
antecipadamente vencida a dívida “se houver atraso superior a 30 (trinta) dias no
pagamento de qualquer das parcelas”.

No caso em apreço, portanto, não ocorrendo o fortuito externo ou


qualquer justificativa para o descumprimento contratual, é certo que deve-se considerar
que a ré está em mora desde agosto de 2018, condenando-a ao pagamento de
indenização por danos materiais equivalentes a 50% (cinquenta por cento) ao mês do
valor do aporte, em razão dos lucros cessantes experimentados pelo autor, até a data em
que declarada a rescisão do contrato, em valor a ser oportunamente apurado.

II.V. DA INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS

A injustificada ausência do pagamento dos rendimentos ao capital do autor


e a própria indisponibilidade deste, além de prejudicar o planejamento financeiro
realizado pelo autor, também ocasionou danos de ordem extrapatrimonial, mormente no
que tange a frustração das expectativas do autor, abalo de seu estado de paz etc.

Neste diapasão, com vistas a evitar arbitrariedades, o artigo 5º, X da


Constituição Federal estabelece a inviolabilidade da intimidade, vida privada, honra e
imagem, assegurando-se o direito a competente indenização pelos danos oriundos da
indigitada violação.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
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no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à


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segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

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X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem


das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material
ou moral decorrente de sua violação;

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O objeto da norma constitucional colacionada é assegurar ao lesado a

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devida reparação por lesões que afetem diretamente seus direitos da personalidade, vale
dizer, direitos de ordem extrapatrimonial.

No caso em apreço, a ré violou de forma flagrante os direitos do autor,


porquanto não cumpriu com a obrigação contratualmente assumida, não pagando a
rentabilidade prometida e, ainda, retendo ilicitamente o valor que pertence ao autor.

Os fatos ilícitos perpetrados pela ré causaram, sem dúvidas, danos aos


direitos da personalidade do autor, abalando o seu estado de paz e frustrando suas
expectativas.

É cediço que para que se caracterize a responsabilidade civil e se obtenha


a consequente reparação por danos eventualmente sofridos, faz-se necessária a
existência de um ato ilícito, bem como, a ocorrência cumulativa de três pressupostos, a
saber, (i) conduta ou atividade; (ii) nexo de causalidade; e (iii) dano.

A conduta pressupõe uma ação ou omissão do agente e poderá se


exteriorizar por dolo ou culpa, acarretando numa infração a um dever previamente
estabelecido. De outro lado, a atividade está relacionada à teoria do risco do desempenho
da atividade, o que por si obriga o agente a indenizar quando verificados os demais
pressupostos.

O nexo de causalidade é a relação direta de causa e efeito entre a


ação/omissão/atividade e o dano causado. Por fim, o dano, que é o resultado do evento
danoso causado pelo agente, que tenha repercussão na órbita patrimonial ou
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extrapatrimonial da vítima.
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O ato ilícito por parte dos réus resta flagrantemente configurado em razão
da retenção dos valores que pertencem ao autor e a ausência de pagamento dos
rendimentos a que faz jus, nos exatos termos do que foi firmado entre as partes, que por

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si, demonstra o dever de indenizar.

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Ainda, as condutas dos réus evidenciam nada mais do que o descaso para
com o autor, engendrando reflexos que transbordam o ordinário, adentrando na esfera
íntima do consumidor.

De igual modo, necessário salientar que é cristalino o nexo de causalidade


entre a conduta dos réus e o dano sofrido pelo autor. Isto porque, a injustificada e
arbitrária retenção do aporte do autor e também dos rendimentos prometidos por parte
dos réus, por si só, foi a causa direta e imediata ao dano moral sofrido pelo autor.

Ademais, não pairam dúvidas acerca do dano sofrido pelo autor, que, nas
lições da doutrina e jurisprudência prescinde de prova e ocorre in re ipsa, ou seja, o dano
é vinculado à própria existência do ato/fato ilícito, cujos resultados são presumidos.

É certo que muito embora não exista qualquer previsão constitucional ou


infraconstitucional acerca do quantum indenizatório a ser estabelecido nas sentenças
condenatórias por danos morais, cabendo tão somente ao Poder Judiciário, fixar, de
forma proporcional e razoável, valores que satisfaçam a pretensão do lesado, levando
sempre em consideração as situações fático-probatórias de cada caso concreto, de modo
que a repercussão econômica da indenização se converta em enriquecimento ilícito de
uma das partes, ou ainda, que o valor seja tão ínfimo, que se torne inexpressivo.

Na falta de critérios objetivos predeterminados em lei, tem a doutrina e


jurisprudência elencado algumas regras a serem seguidas pelo órgão jurisdicional quando
do momento do arbitramento, para que se atinja de forma justa, proporcional e razoável
o caráter dúplice desejado pela norma constitucional que assegura a reparação por dano
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moral, qual seja, (i) atenuar o sofrimento da vítima; e (ii) atuar concomitantemente como
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sanção ao ofensor de modo a desestimular condutas ilícitas à direitos de ordem


extrapatrimonial.

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No que diz respeito às circunstâncias do caso, torna-se curial colacionar
brilhante trecho do voto proferido pelo Exmo. Min. Paulo de Tarso Sanseverino nos autos

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do REsp nº 959.780-ES (2007/0055491-9), verbis.

(...)
No IX Encontro dos Tribunais de Alçada, realizado em 1997, foi
aprovada proposição no sentido de que, no arbitramento da
indenização por dano moral, “o juiz ... deverá levar em conta critérios
de proporcionalidade e razoabilidade na apuração do quantum,
atendidas as condições do ofensor, do ofendido e do bem jurídico
lesado”.
Maria Celina Bodin de Moraes catalagou como “aceites os seguintes
dados para a avaliação do dano moral”: o grau de culpa e a
intensidade do dolo (grau de culpa); a situação econômica do
ofensor; a natureza a gravidade e a repercussão da ofensa (a
amplitude do dano); as condições pessoais da vítima (posição social,
política, econômica); a intensidade do seu sofrimento (MORAES,
Maria Celina Bodin de. Danos à Pessoa Humana. Rio de
Janeiro:Renovar, 2003, p. 29).
Assim, as principais circunstâncias a serem consideradas como
elementos objetivos e subjetivos de concreção são:
a) a gravidade do fato em si e suas conseqüências para a vítima
(dimensão do dano);
b) a intensidade do dolo ou o grau de culpa do agente (culpabilidade
do agente);
c) a eventual participação culposa do ofendido (culpa concorrente da
vítima);
11

d) a condição econômica do ofensor;


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e) as condições pessoais da vítima (posição política, social e


econômica).
No exame da gravidade do fato em si (dimensão do dano) e de suas

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conseqüências para o ofendido (intensidade do sofrimento). O juiz
deve avaliar a maior ou menor gravidade do fato em si e a

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intensidade do sofrimento Documento: 1056109 - Inteiro Teor do
Acórdão - Site certificado - DJe: 06/05/2011 Página 1 3 de 32 Superior
Tribunal de Justiça padecido pela vítima em decorrência do evento
danoso.
Na análise da intensidade do dolo ou do grau de culpa, estampa-se a
função punitiva da indenização do dano moral, pois a situação passa
a ser analisada na perspectiva do ofensor, valorando-se o elemento
subjetivo que norteou sua conduta para elevação (dolo intenso) ou
atenuação (culpa leve) do seu valor, evidenciando-se claramente a
sua natureza penal, em face da maior ou menor reprovação de sua
conduta ilícita.
Na situação econômica do ofensor, manifestam-se as funções
preventiva e punitiva da indenização por dano moral, pois, ao mesmo
tempo em que se busca desestimular o autor do dano para a prática
de novos fatos semelhantes, pune-se o responsável com maior ou
menor rigor, conforme sua condição financeira. Assim, se o agente
ofensor é uma grande empresa que pratica reiteradamente o mesmo
tipo de evento danoso, eleva-se o valor da indenização para que
sejam tomadas providências no sentido de evitar a reiteração do fato.
Em sentido oposto, se o ofensor é uma pequena empresa, a
indenização deve ser reduzida para evitar a sua quebra.
As condições pessoais da vítima constituem também circunstâncias
relevantes, podendo o juiz valorar a sua posição social, política e
econômica.
A valoração da situação econômica do ofendido constitui matéria
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controvertida, pois parte da doutrina e da jurisprudência entende que


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se deve evitar que uma indenização elevada conduza a um

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enriquecimento injustificado, aparecendo como um prêmio ao


ofendido.

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Nos termos do acórdão retrodestacado, as principais circunstâncias a
serem consideradas como elementos objetivos e subjetivos para mensuração do dano

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moral são (i) a gravidade do fato em si (dimensão do dano); (ii) a intensidade do dolo ou
o grau de culpa do agente (culpabilidade do agente); (iii) a eventual participação culposa
do ofendido (culpa concorrente da vítima); (iv) a condição econômica do ofensor; (v) as
condições pessoais da vítima (posição política, social e econômica).

Neste compasso, necessário destacar que no caso em apreço, (i) a


dimensão do dano é relevante, uma vez que o autor foi lesada em seus direitos
personalíssimos, sendo privada de seus investimentos; (ii) a culpa dos réus é flagrante e
considerada de forma grave, mostrando a sua desatenção em relação aos direitos
consumeristas; e (iii) não houve qualquer concorrência do autor para o evento danoso,
vale dizer, o fato ilícito teve por causa exclusiva as condutas da ré; e (iv) a condição
econômica da vítima é ínfima e, em contrapartida, a ré é empresa de grande porte e
pratica reiteradamente o mesmo tipo de evento danoso.

Ademais, faz-se necessário destacar que o dano moral tem caráter dúplice,
ou seja, (i) compensatório para a vítima; e (ii) punitivo para o ofensor. Neste sentido, a
indenização por dano moral no presente caso, além de objetiva compensação para o
sofrimento causado ao autor, possui também a finalidade de inibir novas condutas desse
viés por parte dos réus.

É certo que ante a flagrante existência de danos morais ocorridos em razão


de condutas exclusivas e ilícitas dos réus, o pagamento da indenização por danos de
ordem extrapatrimonial é flagrante, razão pela qual o presente pleito merece
acolhimento.
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Neste sentido, para que seja fixada indenização condizente com os


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parâmetros da razoabilidade e proporcionalidade, requer a condenação dos réus, de

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forma solidária, ao pagamento de indenização por danos morais em importe não inferior
a R$ 10.000,00 (dez mil reais).

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IV. DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS

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Diante de todo o exposto, é a presente para requerer que este D. Juízo se
digne a julgar procedentes os pedidos ora deduzidos para:

a) Declarar a rescisão contrato de prestação de serviços de assessoria e


interveniência em corretoras de valores firmado entre o primeiro-réu
e o autor;
b) Condenar os réus, solidariamente, a devolução dos R$ 30.000,00 (trinta
mil reais), acrescidos de correção monetária desde a data do
pagamento, 10 de julho de 2018, além de multa de 10% (dez por cento)
e juros de 2% (dois por cento) ao mês, em consonância com os termos
contratuais.
c) Condenar os réus, solidariamente, ao pagamento de indenização por
danos materiais – lucros cessantes – no percentual de 50% (cinquenta
por cento) ao mês, do valor atualizado de seu aporte, tendo-se como
marco inicial agosto de 2018 e termo final a data em que declarada a
rescisão deste contrato, a ser oportunamente apurado.
d) Condenar os réus, solidariamente, ao pagamento de indenização por
danos morais em valor não inferior a R$ 10.000,00 (dez mil reais) em
favor do autor, ante aos danos de ordem extrapatrimonial causados
pelas condutas arbitrárias e irresponsáveis dos réus.

Com a procedência dos pedidos, requerem, ainda, que os valores


mencionados acima sejam acrescidos de juros legais e correção monetária a partir da data
do desembolso, bem como a condenação dos réus ao pagamento de despesas
processuais e honorários de sucumbência, na forma da legislação processual vigente.
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Requer a citação dos réus nos endereços declinado na exordial para que,
querendo, apresente resposta no prazo legal, sob pena de confissão e revelia.

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Em atendimento ao disposto no artigo 319, VII do Código de Processo Civil,
informa o autor que não tem interesse na designação de audiência de conciliação a que

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se refere o artigo 334 do mesmo diploma processual.

Tendo em vista que o autor é pessoa pobre na acepção jurídica do termo e


que não tem condições de arcar com as custas e despesas processuais sem prejuízo de
seu sustento e de sua família, requer sejam concedidos os benefícios da justiça gratuita.

Por fim, requer a produção de todas as provas em direito admitidas, bem


como o deferimento da inversão do ônus da prova em favor do autor.

Informa que todas as publicações e intimações por meio da Imprensa


Oficial devem ser realizadas exclusivamente em nome da advogada Luiza Helena Galvão
(OAB/SP 345.066 – contato@lgalvao.com.br), sob pena de nulidade.

Dá à causa o valor de R$ 40.000,00 (quarenta mil reais).

Termos em que,
Pede deferimento.
São Bernardo do Campo, 05 de junho de 2019.

LUIZA HELENA GALVÃO


OAB/SP 345.066
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